(Há pouco celebrou os cinqüent’anos) Passou a ficar nostálgico, Recear solidão, doença e morte; Seus cabelos mudaram de textura E começaram a embranquecer; Doem-lhe as pernas, latejam-lhe os pés, E embora um sulco em sua face esquerda Confira-lhe um vago ar de sabedoria, Ele reflete na mudança e sofre. Está maduro e sente-se ainda forte, Mas quando o sino toca, à meia-noite, Ele escuta um pássaro sinistro Ironizar, indiscreto, a sua sorte.
Hoje, entretanto, sentiu-se mais feliz,
Na manhã de sol, cheia de luz, Ao descobrir-se no bairro suburbano, De ingênuos jardins de lírios e gerânios E muros a guardar velhos quintais. Ante o canto de tantos passarinhos, Sobretudo curiós, em gaiolas De bojo, pendidas dos beirais, Num recuo de mais de quarent’anos, A memória saltou como relâmpago Ao seu tempo de ainda ser menino No casarão de pedra dos seus pais; E durante alguns minutos ele riu Dos seus medos inúteis, pois readquiriu O ímpeto de viver, e sentiu-se eterno.