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Resumo: O presente texto procura mostrar as possibilidades de se pensar nas várias estéticas do(s) rock(s)
brasileiro(s) nos anos 1970. Para tal discussão, parte-se das considerações de Jean Molino (1975), Bruce
Baugh (1994), Jorge Cardoso Filho (2010) e dos autores Bernardo Alfredo Mayta Sakamoto e Rosa de
Lourdes Aguilar Verástegui (2013). Foram tomados, como exemplo, alguns artistas dos anos 1970, que
apresentam sonoridades características ou próximas do rock. A hipótese testada neste trabalho é a de
que não só a performance, o ritmo ou a altura do som, conforme defende Bruce Baugh, configuram uma
estética do rock, mas todos os possíveis elementos que constituem qualquer fazer musical, em determi-
nado período e lugar, conforme aponta Jean Molino com o conceito de fato musical.
Palavras-chave: estética, rock brasileiro, fato musical.
Abstract: The present text searches for the possibilities of thinking about several aesthetics of Brazilian
rock in the 1970’s. For such discussion, we start from the considerations of Jean Molino (1975), Bruce
Baugh (1994), Jorge Cardoso Filho (2010) and the authors Bernardo Alfredo Mayta Sakamoto and Rosa de
Lourdes Aguilar Verástegui (2013). Some artists of the 70’s were taken as examples, as they show typical
sonorities approaching rock music. The hypothesis tested in this work is that, not only the performance,
the rhythm or the height of the sound, as Bruce Baugh advocates, represent the rock aesthetic, but also
all the possible elements constituents of making music at a certain time and place, as Jean Molino points
out in the musical fact concept.
Keywords: aestheticism, Brazilian rock, musical fact.
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Por sua vez, Jorge Cardoso Filho (2010) questiona os pressupostos estéticos de
Bruce Baugh. Para Filho, é necessário mostrar os elementos técnicos, culturais e
econômicos das produções de rock. O autor afirma que se deve considerar a estética
nas variadas experiências humanas, levando-se em conta a expressão e a experiência
musical de cada artista ou grupo e não apenas a performance dos tons, o volume e
o ritmo conforme aponta Baugh.
Também para os autores Bernardo Alfredo Mayta Sakamoto e Rosa de Lourdes Aguilar
Verástegui (2013), o rock pode ser objeto de fruição estética. Sakamoto e Verástegui
contrapõe, em seu artigo, a visão pessimista de Theodor W. Adorno ao pensamento
de Friedrich Schiller. Para os autores, Adorno nega uma arte e uma estética maiores
após os horrores do nazismo, enquanto Schiller, em sua obra A educação estética do
homem numa série de cartas (2002), defende o projeto de se pensar numa educação
estética para o indivíduo. Importante ressaltar que embora Sakamoto e Verástegui
deixem de contemplar certos aspectos do trabalho de Adorno sobre filosofia e música,
que seriam pertinentes para se pensar a música em seu contexto social e de produção
para além do conceito de indústria cultural e de todas as suas implicações negativas,
eles propõem um questionamento válido para este trabalho: é o rock uma arte de
expressão ou uma regressão do gosto da audição?
Se se pensar sob a ótica dos textos sobre música de Adorno, sobretudo seus escritos
dos anos 1930-1940,1 o rock estaria inserido em mais uma forma de produção de
mercadoria de entretenimento (e alienação) das massas. E, de fato, o rock surge como
produto da indústria cultural. Mas tal fato não nega seu caráter de música e de por-
tadora de significados dentro de um contexto histórico. Para tanto, é necessário, para
diluir o ranço dos escritos de Adorno e de várias de suas interpretações, tomar como
exemplo sua obra seminal de 1966, Dialética Negativa. É o que faz, por exemplo, o autor
Mário Vieira de Carvalho em seu artigo A música como expressão e cognição: a propósito
do conceito de crítica imanente do material em Adorno (2000). Nesse texto, Mário Vieira
de Carvalho mostra como Adorno propõe pensar o não-pensado, contra o atomismo e
o fetichismo na sociedade (tardio) moderna. Segundo Carvalho, a grandeza dos textos
de Adorno está em suas análises sobre o processo de criação, encontrado em Dialética
Negativa, onde o não-pensado ou o não-idêntico na filosofia e nas artes pode auxiliar no
estabelecimento de construções de identidades numa obra e num artista: “o conceito
de material, que, para Adorno, não é dado pela natureza, mas sim socialmente pré-for-
mado [...] material sonoro (Tonmaterial) e tudo isso é já sociedade codificada, produto e
agente de socialização” (CARVALHO, 2000, p. 17). Ao propor uma sociologia da música,
Mário Vieira de Carvalho analisa, em seu texto, as possiblidades de se pensar a música
a partir das considerações de Adorno. Para o autor, nessa crítica imanente do material
1 A situação social da música (1932), Sobre o jazz (1936), O caráter fetichista da música e a regressão da audição
(1938) e Sobre música popular (1941) (PUCCI, 2003).
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2 LP Passado, Presente & Futuro, MOFB 3710, Odeon, 1972. Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=gIJleFMa85E>.
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Figura 1. Cifragem descritiva da música Primeira canção da estrada do trio Sá, Rodrix & Guarabyra. Em
destaque, trechos da letra com acordes menores, sugerindo uma ênfase maior de sentimento melancó-
lico e de tensões do cantor.
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Figura 2. Contracapa e capa do segundo LP do trio Sá, Rodrix & Guarabyra, Terra, 1973. Estética
urbano-rural dos artistas e seu trânsito constante entre campo e cidade.
3 Sobre as capas de discos do trio Sá, Rodrix & Guarabyra ver RESENDE, Victor H. de. Iconografia, ico-
nologia e fato musical: análise das capas de disco do trio Sá, Rodrix & Guarabyra. Revista Música Hodie,
Goiânia, v. 15, n. 1, 2015, p. 71-86.
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Figura 3. Solo inicial da música Segunda canção da estrada, executado no violão. Presença
de intervalos de terças, característico da música caipira.
Quero ir pra casa não vejo minhas coisas desde o começo de abril / Um
relógio velho me espera parado desde o começo de abril / Tem uma menina
que eu encontrei na estrada dizendo que volta comigo / Pra descansar um
pouco da vida que a gente escolheu / Tuturuei, areia na varanda e conta de
vidro na mão / Tuturuei, comida na mesa, lençol, travesseiro e colchão (e
colchão) / Já chegou pra mim o dia em que você levanta e acha que fez / A
primeira parte de tudo o que queria e agora chegou sua vez / De plantar
raízes na terra de onde veio / Tirando vida nova do chão / E logo depois
você volta pra estrada pra ver o que ainda não viu.
Os músicos vivem na cidade, em seu cotidiano urbano, mas não perdem seu contato
com o meio rural ou com cidades do interior. Conforme comentário dos compositores,
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Um tipo de som parecido com o do trio Sá, Rodrix & Guarabyra foi o da banda Recor-
dando o Vale das Maçãs (LP As Crianças da Nova Floresta, 1977), que juntou violões
e guitarras, trazendo ideias bucólicas em suas músicas. É o caso da composição
Rancho, filhos e mulher:6
Eu quero ter minha casa cheia de amigos bons / Com bichos de toda maneira
e com muito som / Eu quero dezenas de filhos que saibam cantar / Você
na rede balançando, cantando prô nenê naná / Eu quero ter uma charrete
como condução / Eu quero respirar ar puro sem poluição / Eu quero com os
passarinhos aprender cantar / Um mundo de céu limpo e flores é a vida /
que eu quero levar / Aí eu posso pegar minha viola e tocar o que eu quiser
/ À tarde levantar da rede prá tomar café / Um dia vou ter tudo isso ai se
Deus quiser / Vou encontrar a paz perfeita / Um rancho, filhos e mulher.
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Parte C – O caminho:
Por uma planície encantada / cercada de montes azuis / por onde circulam na
estrada florida / crianças felizes / perdidas num mundo de sonhos / seguras
de um modo de vida / mergulham felizes nas águas de um lago de luz intensa
/ e correm / e riem / e cantam / e dançam / e vivem a vida verdadeira.
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7 Sobre performances encontradas em capas de discos ver RESENDE, Victor H. de. Performances musicais
no rock brasileiro dos anos 1970, por meio de análises de capas de discos. Revista Vórtex, Curitiba, v. 4,
n. 1, 2016, p. 1-13.
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Já o conjunto Matuskela (LP Matuskela, 1973) surgiu com uma sonoridade folk e
psicodélica,8 combinada com samba, baião, bossa nova, guitarras, violões, flautas e
percussão, com destaque para letras que expressavam bucolismo. Na música Raízes,9
por exemplo, a banda combina guitarra elétrica com os instrumentos de percussão
triângulo e zabumba, típicos do baião. Os músicos, vindos do Centro-Oeste (o
grupo foi formado em Brasília, no ano de 1966), utilizam a escala do modo popular
mixolídio no solo de guitarra (Figura 5), muito presente nas produções de artistas
do Nordeste, como Luiz Gonzaga.
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Sobre os arranjos para instrumentos de cordas, feitos por Pepeu Gomes, vale citar o
estudo de Afonso Celso de Miranda Neto (2006). Nas figuras abaixo, percebem-se as
técnicas e as aproximações com os aspectos do baião e do choro de que fala Herom
Vargas, combinados com escalas utilizadas no rock. Na figura 6, conforme aponta
Neto, há o predomínio de “harmonia simples em dois acordes maiores no modo de ré
mixolídio (I-bVII), uma escala bastante usada por guitarristas de rock e blues”. (NETO,
2006, p. 105). E na figura 7, Afonso Celso de Miranda Neto aponta as junções entre
“frases de blues através da escala pentatônica sobre o acorde de D7 (no desenho de Bm)
aliada à articulação rítmica sincopada do choro e do samba” (NETO, 2006, p. 107).
Figura 6. Ex. Musical 8: Introdução de Tinindo, trincando. Fonte: NETO, 2006, p. 105.
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Figura 7. Ex. Musical 12: Improviso de Preta pretinha. Fonte: NETO, 2006, p. 107.
Cabe destacar, conforme o autor Carlos Alberto Messeder Pereira (1992) que, nos
anos 1960, entre os jovens e a intelectualidade, em diversos países do globo, surge
um tipo de mobilização e contestação social diferente do engajamento político das
esquerdas denominado, pelos meios de comunicação, de Contracultura. Seus sujeitos
históricos se opuseram ao modo burguês de vida, questionando a racionalidade da
modernização capitalista representada pelo Estado. No caso brasileiro, a juventude,
sobretudo das classes médias, procurou alternativas e espaços de convívio dentro
da modernização capitalista conservadora fomentada pelo governo civil-militar.
Os jovens deram ênfase à subjetividade, ao retorno à natureza, à vida em comuni-
dade, abrindo até mesmo a possibilidade de diálogos extraterrenos! Encontrava-se
em evidência o respeito às diferenças culturais, à liberdade sexual, numa crítica ao
consumismo e ao intelectualismo vigente, além da ideia de abandono das cidades e
o retorno ao campo, trocar o asfalto quente pela estrada de chão, rumo ao mato, ao
meio natural. Dessa forma, a contracultura foi um movimento vivido em diversas
partes do mundo e teve suas apropriações no Brasil. E a expressão musical desse
movimento, com seus vários artistas, foi principalmente o rock. Nesse caso, os grupos
aqui trabalhados têm, também, algumas características contraculturais.
Outro grupo do período foi o Casa das Máquinas que trouxe um som mais hard rock
(discos Casa das Máquinas, 1974 e Casa de Rock, 1976) e também progressivo (LP
Lar de Maravilhas, 1975), com visuais extravagantes e performances ousadas para o
contexto de repressão social e cultural do regime ditatorial brasileiro nos anos 1970.
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Figura 9. Performance e estilo andrógino do vocalista Simbas no videoclipe Vou morar no ar.
A música apresenta uma sonoridade hard rock, com guitarras com efeitos de distorção
e escala típica do blues (Figura 10).
Por sua vez, a banda O Terço apresentou, em sua produção musical, composições
com influências do rock rural (LPs Criaturas da Noite, 1975, Casa Encantada, 1976, e
Mudança de Tempo, 1978), do rock progressivo (LPs Terço, 1973, Criaturas da Noite,
1975, e Casa Encantada, 1976), do rock and roll e do hard rock (LP Terço, 1973). Os
músicos cantaram sobre o campo e a vida no interior, sobre suas experiências na
modernidade e combinaram diversos instrumentos como guitarras, violas, violões,
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Gosto de gente do interior / do jeito que essa gente / diz que sente amor
/ é amor pra sempre / e pra nunca mais / pois não se esquece / o que não
se desfaz. / Quem tem o sol das manhãs / e os pés descalços no chão /
conhece a hora certa / na luz da porta aberta / tem sempre aberto o coração.
Em Rock do Elvis16 encontram-se influências do rock and roll e do blues (Figura 11).
Os instrumentos presentes na música são o saxofone, o piano, a bateria, o contrabaixo
elétrico e a guitarra. A seção rítmica é por conta da guitarra, com o predomínio de
pulsos quaternários, solos com efeitos de distorção e bicordes com os graus I, IV e V,
típicos do blues e do rock and roll clássico.17 A música segue a progressão harmônica
I[7], IV7 e V7, com os acodes em Sol maior (podendo também ser executado com a
sétima), Dó maior com sétima e Ré maior com sétima (G[7], C7 e D7). Estes, quando
tocados rapidamente, no ritmo do rock and roll, e com as distorções da guitarra,
apresentam uma sonoridade próxima do estilo ou subgênero hard rock (ROSA, 2007,
p. 79). O vocal é extrovertido e alegre. A letra apresenta uma narrativa pessoal cuja
temática é típica do rock and roll dos anos 1950-1960: namoro, curtição, som e dança.
A estrutura da letra segue a forma A-B-A-B-B com cada seção intercalada por um
pequeno refrão (Figura 11). O estilo do vocal, no último refrão, é do tipo chamado
e resposta (vocalização entre parênteses, na palavra norte-americana baby, que tem
significado bem íntimo para quem a pronuncia), também característico do rock.
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Figura 11. Solo inicial e cifragem descritiva da música Rock do Elvis. Presença de bicordes e harmonia
do rock clássico e do blues.
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O próprio Flávio Venturini também relata sobre suas influências para a banda:
Em Casa Encantada, Flávio Venturini faz também a voz principal. A música inicia-
se com uma introdução na flauta, seguindo a mesma linha melódica da voz solo de
Venturini. A base harmônica fica por conta das violas e do violão, com inversões e
sonoridades dissonantes (Figura 12). Além do vocal de Venturini há também a uti-
lização de vozes em falsete, com timbres agudos e com intervalos de terça ou sexta.
Essas características estão presentes em diversas composições da banda O Terço,
constituindo-se em marca sonora expressiva dos artistas.
19 Entrevista concedida ao Museu do Clube da Esquina entre os anos de 2004 e 2007. Disponível em:
http://www.museuclubedaesquina.org.br/mu seu/depoimentos/sergio-magrao/. Acesso em: 4 mar.2015.
20 Entrevista concedida ao Museu do Clube da Esquina entre os anos de 2004 e 2007. Disponível em:
<http://www.museuclubedaesquina.org.br/museu/depoimentos/flavio-venturini/>. Acesso em: 4 mar. 2015.
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Figura 12. Melodia da voz principal, com harmonia, da música Casa Encantada.
Entre os muros que me cercam / sempre posso ver / outras terras, outros
mundos / sol ou mar / entre os quartos onde moro / passa um corredor /
onde o teto tem estrelas / pra me guiar / uma luz sempre acesa / esperando
chegar / um amor na varanda / um amigo na mesa / qualquer um viajante
/ que se queira encantar / pelos quartos vazios / pelas salas do mar.
Há um convite para aqueles que queiram compartilhar do meio natural e que desejam
viver em amizade, em harmonia. Espera-se, na varanda, um amigo ou um amor.
Trata-se de um desejo de vida bucólica, longe da cidade. O cantor, nos versos “entre
os muros que me cercam / sempre posso ver / outras terras, outros mundos / sol
ou mar”, mostra sua transcendência com relação aos limites do próprio corpo, à sua
percepção e aos limites da própria casa, para ver e experimentar outras possibilida-
des de vida.Sem desconsiderar, também, o momento de repressão que a sociedade
brasileira vivia, em letra o cantor não deixa de expressar seu desejo de liberdade.
A sonoridade da banda O Terço parece ilustrar bem essa multiplicidade estética, apre-
sentando, em momentos diversos, composições com guitarras, pianos e violões – uma
sonoridade resultante da combinação desses e de outros vários instrumentos, ou
produzida a partir da ênfase dos efeitos sonoros de um instrumento sobre os demais.
De acordo, ainda, com as várias estéticas musicais dos grupos mostrados neste estudo,
é importante destacar as relações desses artistas com a indústria fonográfica brasileira
do período. Atesta-se, conforme o autor Renato Ortiz, que nos anos 1970 a venda
de toca-discos, entre os anos de 1970-1976, cresce em 813% e o faturamento das
empresas fonográficas, no mesmo período, chega a 1375% (ORTIZ, 2001, p. 113-148).
É na década de 1970 que se consolida uma indústria cultural no Brasil, fruto da
combinação de iniciativa privada e governo civil-ditatorial. Conforme aponta Mar-
celo Ridenti:
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Em reportagens de revistas sobre rock, publicadas no país, é possível ver algumas das
relações dos artistas com a indústria de discos. Na revista Música, de novembro de
1977, o cantor e guitarrista Sérgio Hinds, d’O Terço, relata sobre a relação da banda
com a gravadora Copacabana:
21 Arquivos Edgard Leuenroth, UNICAMP, gentilmente cedidos pela Professora Dra. Silvia M. Jardim
Brügger, digitalizados para sua pesquisa O Canto do Brasil Mestiço: Clara Nunes e o popular na cultura
brasileira. Nos arquivos constam as pesquisas do IBOPE, com as seções: Long-playings, Fitas, Compacto
simples, Compacto Duplo. A pesquisa de vendagem de discos compreende os Estados de Recife, Rio de
Janeiro e São Paulo.
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Esses dados são importantes para mostrar a relação e a inserção desses artistas na
indústria cultural de discos e apontar que suas produções musicais, próximas aos
diversos tipos de rock,estavam presentes no consumo e nas escutas de vários brasileiros.
(In) conclusões
Portanto, como demonstrado, não se pode pensar apenas nas proposições estéticas de
Bruce Baugh (que compreendem, é claro, um excelente ponto de partida para se pes-
quisar as sonoridades dos diversos rocks). Os grupos citados combinaram vários sons,
mostrando não um, mas vários rocks brasileiros. Conforme visto, não só os aspectos
sonoros – como escalas, solos, harmonias, ritmos entre outros – e organológicos são
importantes para o entendimento das sonoridades produzidas por um grupo. As capas
de discos, os discursos dos próprios músicos, as performances, as letras e as relações
com a indústria fonográfica, entre tantos outros elementos, são fundamentais para
se pesquisar e compreender as produções musicais de qualquer artista.
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