Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Os acidentes que interessam aqui são involuntários o que exclui atos de insanidade, de
sabotagem, de terrorismo ou de guerra.
Segundo a publicação "Lessons from Dam Incidents, USA" (USCOLD, 1975), como se
vê na tabela 2.1, 11,2% (1 em cada 11) das 2531 barragens construídas entre 1900 e
1960 ficaram expostas a acidentes dos quais 2,3% (1 em cada 43), foram desastres. No
Japão (Takase, 1967) a incidência de acidentes em barragens grandes no mesmo
período foi de cerca de 10%, semelhantes portanto à americana.
A tabela 2.1 mostra ainda que as incidências caem em cerca de 4 vezes no período
1960 a 1970 no qual, 2128 barragens foram construídas nos EUA E 2,8% (1 em cada
35) acidentes foram registrados, dos quais 0,5% (1 em cada 193) foram desastres.
No Brasil, para um total aproximado de 700 barragens grandes (isto é, com mais do que
15 metros de altura) construídas até 1990, registram-se 7 desastres, listados na tabela
2.3. A incidência seria, assim, de 1% (1 em cada 100). Há ainda o catastrófico acidente
por galgamento em Orós, durante a construção e o acidente de ruptura de fundação no
dique de Boa Esperança do sistema da Hidroelétrica de Furnas (citado por Mello,
1981).
Peck (1980) sugere que atualmente ocorre um desastre a cada 10.000 anos de
C/SS/BARRAGENS:2 ACIDENTES 2006.doc 2
exposição em barragens grandes projetadas e construídas por pessoal qualificado e
corretamente operadas e conservadas. Este nível de risco está comparado com outras
atividades humanas na tabela 2.4 supondo (grosseiramente) que cada desastre em
barragem causa uma média de 50 óbitos. Portanto, pode-se dizer que estar a jusante
de uma barragem bem construída e mantida é, hoje em dia, bastante mais seguro do
que diversas atividades rotineiras do ser humano.
Por este motivo, os estudos de conjunto dos acidentes costumam apelar para
categorias ou tipos de acidentes que não se reportam aos detalhes dos mecanismos
que atuaram. Evidentemente, interessa entrar no mérito dos detalhes dos acidentes e
isto está feito ao longo do texto para alguns casos particularmente ilustrativos.
Outros estudos (Justin, 19332; Middlebrooks, 1953; Sowers, 1967; Blind, 1983; Charles
& Boden, 1985) optaram por agrupar os acidentes segundo a FORMA externa ou
MODO de ocorrência. Sowers (1967), por exemplo, depois de definir ruptura (failure)
como "qualquer entrave à função da barragem" estabeleceu as seguintes três formas
de "ruptura":
¾ Rupturas Hidráulicas, erosão superficial da estrutura incluindo erosão por
galgamento, erosão por ondas no talude de montante, erosão fluvial e erosão a
jusante de descarga;
¾ Rupturas por Percolação, percolação excessiva ou incapacidade de resistir à
percolação através da barragem ou de suas fundações;
¾ Rupturas Estruturais, deslizamento ou colapso estrutural da barragem ou de suas
fundações.
No presente escrito foi adotado um agrupamento que utiliza tanto a FASE da obra em
que se deu o acidente como o MODO de ocorrência (percolação, instabilidade, erosão
e outros) o qual, por sua vez, é dividido em TIPOS de acidente. As categorias adotadas
estão mostradas na tabela 2.7. Os TIPOS merecem alguma explicação:
¾ no modo PERCOLAÇÃO os tipos definem a trajetória da água. Assim, são
distinguidos os casos em que a água percola por dentro do aterro, em interfaces
(aterro-fundação, aterro-estruturas) ou através das fundações. Ocorrem casos em
que a trajetória da água passa pelo aterro e pela fundação e por uma interface, etc.
O quarto tipo, fugas, refere-se aos casos especiais em que ocorrem perdas
C/SS/BARRAGENS:2 ACIDENTES 2006.doc 4
significativas de água do lado em pontos afastados do sistema de barramento, um
fenômeno que pode ocorrer em áreas de rochas solúveis;
¾ o modo INSTABILIDADE engloba todos os tipos de acidentes nos quais as cargas
solicitantes superam as cargas resistentes. No caso de aterros, o modo instabilidade
enfeixa essencialmente os deslizamentos seja através do aterro ou do contínuo
aterro-fundação. No caso de estruturas incluem-se os deslizamentos, os
tombamentos e os casos de subpressões excessivas, tanto os que afetam
exclusivamente a estrutura como os que atingem o conjunto estrutura-fundação. O
tipo "encostas e cortes" refere-se aos deslizamentos e outros movimentos de massa
que afetem as imediações do sistema de barramento e as margens de seu lago;
¾ o modo EROSÃO contêm três tipos básicos. A erosão na crista, que ocorre quando
as águas passam por cima da barragem (utiliza-se a denominação galgamento para
este acidente, que é grave e quase sempre desastroso em barragens de terra). A
erosão dos taludes, que pode ser causada por ondas, no caso do talude de
montante, ou pelas águas de chuvas, no caso do talude de jusante. E, finalmente, a
erosão de estruturas e de suas fundações, em geral causada pela velocidade ou
pelo impacto das águas que se escoam para jusante.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BLIND, H. (1983), "The Safety of Dams", Water Power & Dam Construction, may 1983;
CHARLES, J.A. & BODEN, J.B. (1985), "The Failure of Embankment Dams in the
United Kingdom", Simp. Failure in Earthworks, Ed. Telford (London).
GOUBET, A. (1979), "Risques Associes aux barragens", La Houille Blanche, no 8.
GRILLO, O. (1964), "Acidentes em Barragens", II SNGB, Rio de Janeiro, in Sanevia Ano
18, no 26, DNOS.
JUSTIN, J.D. (1932), Capítulo I do livro "Earth Dam Projects", John Wiley & Sons.
MIDDLEBROOKS, T.A. (1983), "Earth dam Practice in the United states", Transactions,
ASCE, Centennial Volume, pág.697.
MELLO, F. MIGUEZ DE (1981), "Segurança de Barragens", XVI Seminário Nacional de
Grandes Barragens, Recife.
PECK, R.B. (1980), "Where has all the Judgement Gone?", Fifth Laurits Bjerrum
Memorial Lecture, ASCE.
SOWERS, G.H. (1977), "Earth Dam Failures", Institute for Foundation Engineering, Soil
Mechanics, Rock Mechanics and Water Ways Construction, Aachen, RFA, vol. 4
English Edition, pg.178.
TAKASE, K. (1967), "Statistic Study on Failure, Damage and Deterioration of Earth
Dams in Japan", IX ICOLD, Q. 34 R. 1, Stambul.
USCOLD (1975), "Lessons from Dam Incidents USA", Ed. ASCE (New York).
Nota : Os dados desta tabela excluem barragens não convencionais (cerca de 250).
TABELA 2.2
ACIDENTES EM BARRAGENS
PERÍODO CONSTRUÍDAS CONSTRUÍDAS NO PERÍODO
NO PERÍODO ANORMALIDADES DESASTRES
E DESASTRES
Euclides da Cunha São José do rio Pardo, 1960 19 janeiro 19777 Galgamento
(e Limoeiro) SP
TABELA 2.5
TEMPO DESDE A
CONSTRUÇÃO (ANOS) ACIDENTES DESASTRES
0a1 11 5
1a2 4 4
2a5 2 2
5 a 20 2 -
Mais que 20 4 -
TOTAL 23 11
TABELA 2.9
ACIDENTES DE INTERESSE GEOTÉCNICO EM BARRAGENS CONSTRUÍDAS
NAS DÉCADAS DE 20 A 60 NOS EUA, COM RESERVATÓRIO CHEIO
Nota: Não foram considerados, na elaboração desta tabela, os acidentes dos modos
“Outros” (basicamente: deterioração, defeitos nos equipamentos e anacronismo ou
superação de conceitos) e “Acidentes no Reservatório”.