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Doença de Chagas

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Fotomicrografia do Trypanosoma cruzi


CID-10 B57
CID-9 086
MedlinePlus 001372

A doença de Chagas, mal de Chagas ou chaguismo, também chamada


tripanossomíase americana, é uma infecção causada pelo protozoário cinetoplástida
flagelado Trypanosoma cruzi[1], e transmitida por insetos, conhecidos no Brasil como
barbeiros, ou ainda, chupança, fincão, bicudo, chupão, procotó, (da família dos
Reduvídeos (Reduviidae), pertencentes aos gêneros Triatoma, Rhodnius e
Panstrongylus. Trypanosoma cruzi é um membro do mesmo gênero do agente
infeccioso africano da doença do sono e da mesma ordem que o agente infeccioso da
leishmaniose, mas as suas manifestações clínicas, distribuição geográfica, ciclo de vida
e de insetos vetores são bastante diferentes.

Os sintomas da doença de Chagas podem variar durante o curso da infecção. No início


dos anos, na fase aguda, os sintomas são geralmente ligeiros, não mais do que inchaço
nos locais de infecção. À medida que a doença progride, durante até vinte anos, os
sintomas tornam-se crônicos e graves, tais como doença cardíaca e de intestino. Se não
tratada, a doença crônica é muitas vezes fatal. Os tratamentos medicamentosos atuais
para o tratamento desta doença são pouco satisfatórios, com os medicamentos com
significativo efeito colateral, muitas vezes, ineficazes, em especial na fase crônica da
doença.

Índice
[esconder]

• 1 História
• 2 Epidemiologia e distribuição geográfica
• 3 Transmissão
• 4 Sinais e sintomas
• 5 Diagnóstico
• 6 Tratamento
• 7 Prevenção ou Profilaxia
• 8 Referências
• 9 Bibliografia
• 10 Leituras

• 11 Ligações externas

[editar] História
A história da descoberta da doença de Chagas tem início em 1902[2], quando o jovem
estudante da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, Carlos Chagas, foi interpelado
por Miguel Couto a frequentar o órgão de pesquisa Instituto Soroterápico, criado em
1900 pelo Barão de Pedro Afonso[2].

No ano de 1907, Carlos Chagas, solicitado agora por Oswaldo Cruz, segue para Estrada
de Ferro Central do Brasil, em um pequeno vilarejo chamado Lassance, localizado ao
norte de Minas Gerais, para controlar o surto de malária entre operários[2]. Em 1903,
escolhera "These Inaugural", com o tema "Estudos hematológicos no impaludismo" e
uma monografia, em 1906, "Prophylaxia do Impaludismo"[2], em que já alertava a
"destruição domiciliária dos culicídios alados" como medida para controlar a malária[2].

Descoberta em 1909 pelo médico brasileiro Carlos Chagas, a doença não foi vista como
problema até à década de '60. Estudos desenvolvidos pelo Instituto Oswaldo Cruz no
município de Bambuí, Minas Gerais, possibilitaram dimensionar a moléstia como
problema de saúde pública. O nome de Tripanossoma cruzi ao agente causador foi dado
por Chagas em homenagem ao epidemiologista Oswaldo Cruz.

Na Argentina, a doença é chamada oficialmente Mal de Chagas-Mazza, em homenagem


ao médico argentino Salvador Mazza, que em 1926 começou a estudar a enfermidade e
com os anos transformou-se no principal estudioso da doença naquele país.

Uma passagem do diário de Charles Darwin levou à suposição de que ele sofresse da
doença de Chagas, em consequência da picada de um inseto, e esta seria a causa do
declínio de sua saúde depois da viagem no Beagle. Testes feitos com técnicas PCR em
seus restos mortais foram improfícuos.

Um dos centros de excelência da pesquisa médica em doença de Chagas é a Faculdade


de Medicina da USP em Ribeirão Preto, onde nos anos 50 o Dr. Fritz Köberle
demonstrou que os amastigotos destroem os neurônios do sistema nervoso autônomo no
intestino e no coração.

[editar] Epidemiologia e distribuição geográfica


Mapa da incidência da doença de Chagas

Estima-se que existam até 18 milhões de pessoas com esta doença, entre os 100 milhões
que constituem a população de risco, distribuída por 18 países americanos. Dos
infectados, cerca de 20 000 morrem a cada ano.

A doença de Chagas crônica é um problema epidemiológico apenas em alguns países da


América Latina, mas a migração crescente de populações aumentou o risco de
transmissão por transfusão de sangue até mesmo nos EUA, e têm surgido casos da
doença em animais silvestres até à Carolina do Norte.

Distribuída pelas Américas desde os EUA até a Argentina, atinge principalmente as


populações rurais pobres. As casas pobres, com reboco defeituoso e sem forro, são
habitat para o inseto barbeiro, que dorme de dia nas rachaduras das paredes e sai à noite
para sugar o sangue da pessoas que dormem, geralmente no rosto ou onde a pele é mais
fina. Os casos nos EUA de origem endémica (e não em imigrantes) são raríssimos,
devido ao maior afastamento das casas dos animais e do menor número de locais dentro
das casas onde os insectos possam se reproduzir.

A doença afecta muitos outros vertebrados além do Homem: cães, gatos, roedores, tatus
e gambás podem ser infectados e servir de reservatório do parasita.

[editar] Transmissão

Triatoma infestans, um dos insectos barbeiros transmissores da doença de Chagas

O barbeiro se infecta ao sugar o sangue de um organismo infectado. No intestino do


vetor, o tripomastigoto se transforma em epimastigoto que então se reproduz. O
tripomastigoto não se reproduz. O homem por sua vez, é afectado pelas fezes ou urina
contaminadas do Triatomíneo (barbeiro no Brasil) pois enquanto suga o sangue defeca
nesse mesmo local.

A infestação também pode ser por transfusão de sangue ou transplante de órgãos, ou por
via placentária.

Notícia de março de 2005 relatava uma forma alternativa, oral, de infecção, abre um
campo de pesquisa ainda não explorado sobre novas formas de infestação. No entanto
esta forma de transmissão é, quase certamente, rara. Embora exista uma descrição de
megaesôfago por T. cruzi em Santa Catarina em 2003[3], não há evidência de infestação
oral. Em SC, o T. cruzi, apesar de encontrado na proporção de 21 a 45% em um de seus
reservatórios naturais, o gambá (Didelphis marsupialis), existe nesta espécie sob uma
forma menos infectante que a encontrada em Minas Gerais, onde a doença de Chagas é
endêmica. Há ainda casos recentes no Pará que podem estar ligados ao consumo de açaí,
estão sendo pesquisados para comprovar essa ligação, pois a fruta pode ser tirada junto
com o inseto transmissor e o preparo do alimento talvez não seja seguro[4].

O coito é uma forma de transmissão nunca comprovada na espécie humana. Já foram


encontrados tripomastigotas em menstruação de mulheres com chagas e esperma de
cobaios infectados.[5]

[editar] Sinais e sintomas

Criança com chagoma característico no olho direito e edema da pálpebra: o sinal de


Romaña

A doença tem uma fase aguda, de curta duração, que em alguns doentes progride para
uma fase crônica.

A fase aguda é geralmente assintomática, e tem uma incubação de uma semana a um


mês após a picada. No local da picada pode-se desenvolver uma lesão volumosa, o
chagoma, local eritematosa (vermelha) e edematosa (inchada). Se a picada for perto do
olho é frequente a conjuntivite com edema da pálpebra, também conhecido por sinal de
Romaña. Outros sintomas possíveis são febre, linfadenopatia, anorexia,
hepatoesplenomegalia, miocardite brandas e mais raramente também
meningoencefalite. Entre 20 a 60% dos casos agudos se transformam, em 2 a 3 meses,
em portadores com parasitas sanguíneos continuamente, curando-se os restantes. No
entanto, em todos os casos param os sintomas após cerca de dois meses. Muitos mas
não todos os portadores do parasita desenvolvem sintomas devido à doença crônica.

O caso crônico permanece assintomático durante dez a vinte anos. No entanto neste
período de bem-estar geral, o parasita está a reproduzir-se continuamente em baixos
números, causando danos irreversíveis em órgãos como o sistema nervoso e o coração.
O fígado também é afectado mas como é capaz de regeneração, os problemas são raros.
O resultado é apenas aparente após uma ou duas décadas de progressão, com
aparecimento gradual de demência (3% dos casos iniciais), cardiomiopatia (em 30% dos
casos), ou dilatação do trato digestivo (megaesófago ou megacólon (6%), devido à
destruição da inervação e das células musculares destes órgãos, responsável pelo seu
tónus muscular. No cérebro há frequentemente formação de granulomas. Neste estágio a
doença é frequentemente fatal, mesmo com tratamento, geralmente devido à
cardiomiopatia (insuficiência cardíaca). No entanto o tratamento pode aumentar a
esperança e qualidade de vida (ver mais abaixo secção sobre tratamento).

Há ainda infrequentemente casos de morte súbita, quer em doentes agudos quer em


crónicos, devido à destruição pelo parasita do sistema condutor dos batimentos no
coração ou danos cerebrais em áreas críticas.

[editar] Diagnóstico
O diagnóstico pode ser:

1. Microscópico, buscando o parasita no sangue do paciente, o que é possível


apenas na fase aguda após cerca de 2 semanas depois da picada. Detecta mais de
60% dos casos nesta fase.
2. Xenodiagnóstico, onde o paciente é intencionalmente picado por barbeiros não
contaminados e, quatro semanas depois, seu intestino é examinado em busca de
parasitas; ou pela inoculação de sangue do doente em animais de laboratório e
verificação se desenvolvem a doença aguda.
3. Detecção do DNA do parasita por PCR (reação em cadeia da polimerase).
4. Detecção de anticorpos específicos contra o parasita no sangue. É útil nos casos
crónicos mas a distinção entre estes e as curas é difícil.

[editar] Tratamento
Na fase inicial aguda, a administração de fármacos como nifurtimox, alopurinol e
Benzonidazol curam completamente ou diminuem a probabilidade de cronicidade em
mais de 80% dos casos.

A fase crônica é incurável, já que os danos em órgãos como o coração e o sistema


nervoso são irreversíveis. Tratamento paliativo pode ser usado.
Segundo a DNDi, o mal de Chagas, juntamente com a doença do sono e a leishmaniose,
está entre as doenças "extremamente negligenciadas", basicamente em razão da extrema
pobreza dos pacientes - que, assim, estão fora do mercado da indústria farmacêutica.

[editar] Prevenção ou Profilaxia


Ainda não há vacina para a prevenção da doença[6]. A prevenção está centrada no
combate ao vetor, o barbeiro, principalmente através da melhoria das moradias rurais a
fim de impedir que lhe sirvam de abrigo. A melhoria das condições de higiene, o
afastamento dos animais das casas e a limpeza frequente das palhas e roupas são
eficazes.

Basicamente, a prevenção se dá pela eliminação do vetor, o barbeiro, por meio de


medidas que tornem menos propício o convívio deste próximo aos humanos, como a
construção de melhores habitações, pois este inseto vive nas frestas das casas de pau-a-
pique, ninhos de pássaros, tocas de animais, casca de troncos e sob pedras. Existem
também bloqueadores para o parasita, ao ir a lugares que possam possuir o barbeiro,
tome um banho de gelatina sem sabor ainda mole. Isso impedirá o protozoário de entrar
na corrente sanguínea, assim não contrairá a doença, ficado imune a mesma durante um
período de tempo razoável, cerca de 2 dias.

O uso do insecticida extremamente eficaz mas tóxico DDT está indicado em zonas
endémicas, já que o perigo dos insectos transmissores é muito maior.

Referências
1. ↑ Fundação Oswaldo Cruz Acessado em 2 de maio de 2008
2. ↑ a b c d e NEVES, BRENER, Zigman. A descoberta (Homenagem aos 80 anos da
descoberta da Doença de Chagas). Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, Rio de
Janeiro, v.84, p.1-6, nov. 1989.
3. ↑ [1]
4. ↑ Jornal O Liberal 22.08.2007
5. ↑ NEVES. David Pereira. Parasitologia Humana. São Paulo:Atheneu, 2000.
6. ↑ Claudia Antonia Ussui, Rubens Antonio da Silva (2001). Doença de Chagas.
Página visitada em 2008-01-09.

[editar] Bibliografia
• Autochthonous Chagas' disease in Santa Catarina State, Brazil: report of the first
case of digestive tract involvement
• Doença de Chagas: 90 anos da descoberta

[editar] Leituras
• Brener, Z., Andrade, Z. e M Barral-Neto (eds.). Trypanosoma cruzi e doença
de Chagas, 2.ª edição. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan Ed., 2000.
• Dias, J.C.P. & Coura, J.R. (eds.). Clínica e Terapêutica da Doença de Chagas:
um manual para o clínico geral. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 1997.
• Gontijo, E.D. e Rocha, M.°C. (eds.).Manejo clínico em doença de Chagas.
Brasília: Fundação Nacional de Saúde, Ministério da Saúde, 1998.
• Storino, R. & Milei, J. (eds.).Enfermedad de Chagas. Buenos Aires: Doyma
Argentina, 1994.

[editar] Ligações externas


• Médicos sem Fronteiras. A descoberta da doença de Chagas está fazendo 100
anos.
• Antimicrob. Agents Chemother. 49: 1521-1528 Garcia, S., Ramos, C. O., Senra,
J. F. V., Vilas-Boas, F., Rodrigues, M. M., Campos-de-Carvalho, A. C., Ribeiro-
dos-Santos, R., Soares, M. B. P. (2005). Treatment with Benznidazole during the
Chronic Phase of Experimental Chagas' Disease Decreases Cardiac Alterations.
• Arquivos Brasileiros de Cardiologia, 82(2):185-7, 2004. Vilas-Boas F., Feitosa
G.S., Soares M. B. P., Pinho Filho J.A., Almeida A., Mota A., Carvalho H. G.,
Oliveira A. D. D. Ribeiro-dos-Santos R. Bone marrow cell transplantation to the
myocardium of a patient with heart failure due to Chagas cardiomyopathy. A
case report.
• Programa Integrado da Doença de Chagas
• "Doença de Chagas" material do curso de Medicina da Universidade Federal
Fluminense
• Doença de Chagas é tão antiga nas Américas quanto a presença humana (em
português) UOL, 10/07/2009 .
• Biblioteca Virtual Carlos Chagas. A doença de Chagas Acessado em 21 de
outubro de 2009.
• Exposição Virtual Carlos Chagas | A doença de Chagas

[Esconder]
v•e

Doenças causadas por protozoários (A06-A07, B50-B64)


Coccidiasina (Criptosporidiose, Isosporíase, Ciclosporíase, Toxoplasmose) -
Apicomplexa
Malária (Blackwater fever) - Babesiose
Giardíase - Tripanossomíase (Doença do sono, Doença de Chagas) -
Excavata Leishmaniose (Leishmaniose cutânea, Leishmaniose visceral) -
Tricomoníase
Amebíase - Blastocistose - Dientamebíase - Microsporidiose -
Outras
Meningoencefalite amebiana primária

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