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VITÓRIA-ES
2011
PABLO DA CONCEIÇÃO MOURENTE
VITÓRIA-ES
2011
Ao meu pai, pela educação de esmero que me deu;
À minha mãe, pelo carinho e pelo amor de mãe;
Aos meus avós, que, mesmo à distância, sempre me apoiaram;
À minha namorada, que sempre me incentivou.
AGRADECIMENTOS
INTRODUÇÃO............................................................................................................7
1 RESPONSABILIDADE PATRIMONIAL................................................................10
1.1 HISTÓRICO........................................................................................................11
1.2 NATUREZA E CARACTERÍSTICAS...................................................................20
CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................65
REFERÊNCIAS..........................................................................................................69
7
INTRODUÇÃO
Toda essa temática tem relevância prática extraordinária, visto que é na execução
que o jurisdicionado tem de fato satisfeita a sua pretensão. E, infelizmente, no Brasil,
é muito comum o uso dos ardis dos dois tipos de fraude supramencionados, com o
fito de se enganar a justiça e se obter vantagem. E os tribunais, até mesmo os
superiores, ainda vacilam no tratamento desses institutos, não os utilizando sempre
que se faz necessário, e, mesmo quando os utilizam, o fazem, muitas vezes, de
1
Mais à frente explicaremos qual seria o referencial aos adjetivos “presente” e “futuro” aqui
empregados, segundo as teorias existentes.
2
Também posteriormente é que explicaremos melhor a definição e os limites dessa conduta dolosa
ou culposa aqui exigida.
8
forma errônea. Tudo isso contribui para a insegurança jurídica e descrença no Poder
Judiciário.
Com base em nossa pouca vivência jurídica, e também nos testemunhos de
advogados e magistrados que conhecemos, podemos afirmar com propriedade que
as problemáticas da Fraude contra Credores e da Fraude à Execução são, hoje, no
Brasil, o maior problema da eficácia executiva das Justiças Civil e Trabalhista.
Diríamos, inclusive, que, na cultura social brasileira, a Fraude contra Credores tem
sido mais danosa do que a Fraude à Execução, pois, ardilosamente, os devedores,
para se esquivarem de suas obrigações, alienam seus bens fraudulentamente muito
antes do início de qualquer processo3 (e até mesmo antes de contrair obrigações),
justamente pelo conhecimento de que assim se torna mais difícil o credor atacar
aquela alienação.
Mesmo no que concerne à Fraude contra Credores, não pretendemos esgotar tal
assunto, mas tratar tão somente dos pontos em que há divergências doutrinária e
jurisprudencial, e que obstaculizam a plena eficácia social de tais institutos. E
pretendemos fazê-lo de maneira bastante profunda, indo ao cerne das questões, e
qual o desdobramento delas na prática. Para tanto, o presente trabalho se divide em
dois capítulos.
3
RODRIGUES, Marcelo Abelha. Manual de execução civil. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense
Universitária, 2009, p. 76.
9
1. RESPONSABILIDADE PATRIMONIAL
4
DINAMARCO, Cândido Rangel. Execução Civil. 7 ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2000, p. 32.
5
SILVA PEREIRA, Caio Mário da. Instituições de direito civil. 21. ed. Rio de Janeiro: Forense,
2008, v. II, p. 10-12.
6
DINAMARCO, Cândido Rangel. Op. cit., p. 60.
7
LIEBMAN, Enrico Tullio apud ibidem, p. 62.
11
E é nesta última idéia que repousa o art. 391 do Código Civil Brasileiro de 2002, que
reza o seguinte: “Pelo inadimplemento das obrigações respondem todos os bens do
devedor”. No nosso atual Código de Processo Civil também há prescrição
semelhante, no art. 591: “O devedor responde, para o cumprimento de suas
obrigações, com todos os seus bens presentes e futuros, salvo as restrições
estabelecidas em lei.”.
1.1 HISTÓRICO
8
DANTAS, Rodrigo Emanuel de Araújo. Execução civil após as leis 11.232/05 e 11.386/06: enfoque
sobre a nova sistemática da penhora na perspectiva constitucional. Disponível em:
<http://www.esmarn.org.br/ojs/index.php/revista_teste1/article/viewFile/65/57>. Acesso em: 11 de
Junho de 2011.
9
ASSIS, Araken de. Comentários ao Código de Processo Civil. 2 ed. Rio de Janeiro: Forense,
2004, v. VI, p. 224.
10
LIEBMAN, Enrico Tullio. Processo de execução. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 1986, p. 33, nota de
rodapé 23.
11
RODRIGUES, Marcelo Abelha. Manual de execução civil. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense
Universitária, 2009, p. 68.
12
CORREIA, Alexandre; SCIASCIA, Gaetano. Manual de Direito Romano. 5 ed. Rio de Janeiro:
Cadernos Didáticos., [198?], v. I, p. 76.
12
Apesar dessa prática executiva do Direito Romano Arcaico que certamente seria,
nos dias de hoje e na maioria dos países do mundo, tida como brutal e totalmente
inaceitável frente ao Princípio Constitucional da Dignidade da Pessoa Humana, o
patrimônio do executado, naquele mesmo sistema, era intocável.
Por meio do raciocínio “Cui licet quod est plus, licet utique quod est minus” (“quem
pode o mais, pode o menos”, em tradução livre), poderíamos pensar que, sendo
permitida ao credor a execução corporal (mais gravosa, sob a ótica contemporânea)
também seria permitida a execução patrimonial (menos gravosa, portanto). Todavia,
não era o que ocorria, pois não podia o exequente retirar do patrimônio do
executado a coisa ou a importância devida16. “Só depois da morte do devedor seria
possível (provavelmente) apoderar-se de seu patrimônio”.17
13
DINAMARCO, Cândido Rangel. Execução Civil. 7 ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2000, p. 32.
14
CUENCA, Humberto apud ibidem, p. 32.
15
BETTI, Emilio apud ibidem, p. 34.
16
DINAMARCO, Cândido Rangel, op.cit., p. 39.
17
CUENCA, Humberto apud ibidem, p.39.
13
Um pouco menos antiga do que a manus injectio é a pignoris capio, que, junto com a
primeira, eram as duas únicas relativas ao processo executivo das legis actiones19.
Por meio da pignoris capio, a execução se dava sobre o patrimônio do devedor, e
não mais sobre a pessoa deste. Todavia, além de ser restrita “especificamente ao
cumprimento de certas obrigações públicas ou sacras previstas em lei ou
designadas pelos costumes”20, a pignoris capio ainda possuía um viés de castigo,
pois o procedimento era o seguinte21:
18
DINAMARCO, Cândido Rangel, op. cit., p.39.
19
CORREIA, Alexandre; SCIASCIA, Gaetano. Manual de Direito Romano. 5 ed. Rio de Janeiro:
Cadernos Didáticos, [198?], v. I, p. 77.
20
DINAMARCO, Cândido Rangel, op. cit., p.41.
21
DINAMARCO, Cândido Rangel, op. cit., p.42.
22
CORREIA, Alexandre; SCIASCIA, Gaetano, op. cit., v. I, p. 59.
14
com sua própria cultura), ainda havia uma grande dose de autonomia e autotutela, e
o Estado ainda não havia monopolizado a execução. E a responsabilidade do
devedor pelas obrigações ainda não havia evoluído para a patrimonialidade, ainda
incidindo sobre o próprio corpo do devedor27.
27
ibidem, p.52-53.
28
ibidem, p.60.
29
ibidem, p.61.
30
LIEBMAN, Enrico Tullio apud ibidem, p. 62.
31
O Corpus Juris Civilis foi uma codificação empreendida por Justiniano, Imperador do Império
Romano do Oriente (Império Bizantino), no século VI d.C, que reúnia uma compilação e
reorganização das leis romanas, com o intuito de salvaguardar a herança do Direito Romano. Era
composto por quatro partes: Institutas, Digesto, Código, e Novelas. Na verdade, tal conjunto só
recebeu a denominação de Corpus Juris Civilis por Dionísio Godofredo, romanista francês, já no
século XVI. (CORREIA, Alexandre; SCIASCIA, Gaetano, op. cit., v. I, p. 303-314).
32
SIMÕES, Fernando José Corte Real Cunha. História de Portugal de 1097-2005. Disponível em:
<http://www.cunhasimoes.net>. Acesso em: 12 de Junho de 2011.
33
DINAMARCO, Cândido Rangel, op. cit., p.63
16
Com a Independência do Brasil, em 1822, de início não havia, por óbvio, leis
nacionais que pudessem tratar a respeito de todos os assuntos, e, por outro lado,
34
Ibidem, p.64.
35
ARENHART, Sérgio Cruz. A prisão civil como meio coercitivo. Disponível em:
<http://ufpr.academia.edu/SergioCruzArenhart/Papers/143282/A_PRISAO_CIVIL_COMO_MEIO_CO
ERCITIVO >. Acesso em: 12 de Junho de 2011.
36
ARENHART, Sérgio Cruz. A prisão civil como meio coercitivo. Disponível em:
<http://ufpr.academia.edu/SergioCruzArenhart/Papers/143282/A_PRISAO_CIVIL_COMO_MEIO_CO
ERCITIVO >. Acesso em: 12 de Junho de 2011.
37
DINAMARCO, Cândido Rangel, op. cit., p.68.
38
Ibidem, p.69.
17
não podia ter-se como revogadas todas as leis portuguesas que até então vigiam,
pois haveria assim uma total anarquia. “Dessa forma, as Ordenações Filipinas e a
legislação portuguesa subsequente continuaram em vigor no Brasil mesmo após a
Independência”39. Assim, à falta de um Código de Processo Civil, as Ordenações
Filipinas ainda vigeram, no campo processual civil, até 1850, quando foi então
editado o famoso Regulamento n. 737 (Decreto 737/1850), que fez às vezes de um
código processual40. Tal regulamento tratava, contudo, somente do processo
comercial.
39
Ibidem, p.70.
40
LOPES, José Reinaldo de Lima. In: WOLKMER, Antonio Carlos (Org.). Fundamentos de história
do direito. 3 ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2006, p. 375.
41
BRASIL. Regulamento n. 737. Decreto nº 737 de 25 de Novembro de 1850. Determina a ordem do
Juizo no Processo Commercial. Rio de Janeiro, 1850. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1800-1850/D737.htm>. Acesso em: 12 de Junho de
2011.
42
BRASIL. Regulamento n. 737. Decreto nº 737 de 25 de Novembro de 1850. Determina a ordem do
Juizo no Processo Commercial. Rio de Janeiro, 1850. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1800-1850/D737.htm>. Acesso em: 12 de Junho de
2011.
18
Diante de tal lacunosidade, sobreveio a Lei nº 2.033/1871. Tal lei teve papel
determinante na disciplina do processo civil no Brasil, pois:
Mais tarde, em 1.890, foi editado o Decreto 763/1890, que mandava observar, nas
causas cíveis em geral, o disposto no Decreto 737/1850.
43
OLIVEIRA, José Sebastião de apud CLEMENTEL, Fabiano Kingeski. O marco inicial da fraude à
execução: um aspecto polêmico. Disponível em:
<http://www.pucrs.br/direito/graduacao/tc/tccII/trabalhos2007_1/fabiano_kingeski.pdf>. Acesso em: 12
de Junho de 2011.
44
GRECO, Leonardo. O processo de execução. 1. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 1999, v. I, p. 42.
45
LOPES, José Reinaldo de Lima. In: WOLKMER, Antonio Carlos (Org.). Fundamentos de história
do direito. 3 ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2006, p. 377.
46
DINAMARCO, Cândido Rangel, op. cit., p. 74.
47
GRECO, Leonardo. op. cit., v. I, p. 45.
19
Em 1973 foi editado o novo Código de Processo Civil, que é o que vigora
atualmente. Tal código não trouxe inovações consideráveis no que tange à
Responsabilidade Patrimonial, apenas ampliando, originalmente e por meio das
pequenas reformas que sofreu, o rol dos bens impenhoráveis, limitando ainda mais a
Responsabilidade Patrimonial do devedor. Foi mantido o instituto da Fraude de
Execução.
48
Ibidem, p. 45.
49
Ibidem, p. 46.
50
DINAMARCO, Cândido Rangel, op. cit., p. 78-79.
20
(...)
Como já foi exposto, da irracional e desumana execução corporal evoluiu o
sistema executivo romano no sentido da mínima agressão patrimonial
possível, através da bonorum venditio, que cedeu passo à bonorum
distractio e esta ao pignus in causa judicati captum. Este veio a dar na
execução moderna, em que existem bens fora da responsabilidade pelas
obrigações do devedor (impenhoráveis), em que os bens penhorados são
avaliados, em que se procura evitar uma alienação a preço vil e ruinoso
para o executado, em que os familiares deste podem evitar a perda do bem,
mediante a remição etc.”
51
Aderem a ele Washington de Barros Monteiro, César Fiuza, e Maria Helena Diniz. Orlando Gomes,
entretanto, defende haver ainda como elementos estruturais da relação obrigacional, além dos já
citados, o conteúdo e a causa (GOMES, Orlando. Obrigações. 17. ed. Rio de Janeiro: Editora
Forense, 2008, p. 21)
52
DIDIER, Fredie. Curso de direito processual civil. 2. ed. Salvador: Jus Podivm, 2010, p. 250.
53
VARELA, João de Matos Antunes apud ibidem, p. 252.
54
SILVA PEREIRA, Caio Mário da. Instituições de direito civil. 21. ed. Rio de Janeiro: Forense,
2008, v. II, p. 29.
55
GOMES, Orlando. Obrigações. 17. ed. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2008, p. 18-20.
56
DIDIER, Fredie. Op. cit., p. 251.
21
57
SILVA PEREIRA, Caio Mário da. Op. cit.., p. 30.
58
Ibidem, p. 30.
59
Ibidem, p. 30.
60
Ibidem, p. 30-31.
22
Outro ponto importante a se destacar é que nem sempre os dois elementos – Schuld
e Haftung – andam juntos, visto que, por exemplo, o segundo elemento pode nascer
com autonomia, posteriormente ao primeiro, como no caso em que se garante uma
dívida preexistente, por meio de uma fiança, ou de uma hipoteca. Nesse caso, nasce
uma nova61 responsabilidade posteriormente, no momento em que se contrata a
garantia.
61
Diz-se “nova” pois é claro que, em se tratando de obrigações civis, há, necessariamente, um
nascimento de um Haftung simultaneamente com o Schuld. O que se quis explicar e exemplificar,
nesse trecho, foi o nascimento de uma nova responsabilidade posteriormente, com a contratação de
uma garantia, em que não haveria o nascimento de um novo débito, mas sim somente se
acrescentaria uma nova garantia ao débito já existente (que já possuia também uma garantia
preexistente).
23
Para tal escola, o fator “responsabilidade” da noção de vínculo jurídico não pertence
ao direito privado, ao direito subjetivo material. Implicaria então, tal fator, uma
realidade processual, pois importaria a susceptibilidade do patrimônio do devedor à
execução, para satisfação da dívida, típica relação de direito processual 63.
Washington de Barros Monteiro explica muito bem essa posição dos
processualistas, embora não seja a ela aderente64:
62
Ibidem, p. 32.
63
DIDIER, Fredie. Op. cit., p. 250.
64
MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de Direito Civil, v. 4: Direito das Obrigações, 2ª
parte: das modalidades das obrigações, da transmissão das obrigações, do adimplemento e
da extinção das obrigações, do inadimplemento das obrigações. 32. ed. São Paulo: Saraiva,
2003, p. 27.
24
Liebman aduz que a Haftung não pode estar no âmbito do direito privado, visto que
não cabe ao credor, e sim ao Estado, se utilizar do poder de coerção para invadir o
patrimônio do devedor. Desde muito tempo, segundo ele, é o Estado, por meio de
sua soberania, o único autorizado a afetar o patrimônio alheio. O direito que caberia
ao credor, seria, nesse sentido, unicamente o direito de ação para provocar a
65
coação necessária por meio do órgão público competente .
65
LIEBMAN, Enrico Tullio. Processo de execução. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 1986, p. 36-37.
66
Ibidem, p. 37.
67
MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Execução. 2. ed. São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 2008, p. 256.
68
CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de direito processual civil. 15. ed. Rio de Janeiro: Editora
Lumen Juris, 2008, v. II, p. 192.
25
Não fosse assim, entendemos, todos os direitos potestativos que devam ser
exercidos mediante atuação do Poder Judiciário seriam de natureza processual, e
não material. Por exemplo: os direitos de requerer o despejo do inquilino
inadimplente, e de requerer o levantamento da quantia depositada no pagamento
por consignação73, embora sejam potestativos e só possam ser exercidos por meio
da via processual, são incontroversamente materiais. Por outro lado, fosse a
responsabilidade patrimonial instituto de direito processual, não haveria substrato
jurídico para se discutir a pertinência dos bens alienados em fraude contra credores
ao patrimônio penhorável, pois seriam anteriores a tal responsabilidade.
69
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil: processo de execução e
processo cautelar. 30. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2000, p. 95.
70
MARQUES, José Frederico. Manual de Direito Processual Civil. 1. ed. Campinas: Bookseller,
1997, p. 69-71.
71
Ibidem, p. 70.
72
Ibidem, p. 70.
73
AMARAL, Francisco. Direito civil: introdução. 5. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2003, p. 201-202.
26
Também está expresso no art. 591 do Código de Processo Civil 77: “Art. 591. O
devedor responde, para o cumprimento de suas obrigações, com todos os seus
bens presentes e futuros, salvo as restrições estabelecidas em lei.”
74
LIEBMAN, Enrico Tullio. Op. cit., p. 26.
75
MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de Direito Civil, v. 4: Direito das Obrigações, 2ª
parte: das modalidades das obrigações, da transmissão das obrigações, do adimplemento e
da extinção das obrigações, do inadimplemento das obrigações. 32. ed. São Paulo: Saraiva,
2003, p. 26.
76
BRASIL. Novo Código Civil. Lei nº 10.403 de 10 de janeiro de 2002. Aprova o novo código civil
brasileiro. Brasília, DF, 2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil/leis/2002/L10406.htm>.
Acesso em: 13 de Junho de 2011.
27
Desde uma primeira análise do citado art. 591, já podemos inferir que, assim como
já se esboçava desde o período clássico romano, não era ilimitada a
responsabilidade patrimonial. O próprio dispositivo em comento já alude a possíveis
restrições, desde que estabelecidas em lei.
Como a própria parte final do art. 591 do CPC diz, nem todos os bens do
responsável patrimonialmente são garantia da execução. O art. 649 de tal diploma
apresenta um extenso rol de bens, que por opção legislativa, foram tidos como
impenhoráveis. Opção essa, diga-se de passagem, não meramente discricionária,
mas que realmente tem importância para dar coerência a todo o ordenamento
jurídico.
77
BRASIL. Código de Processo Civil. Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973. Institui o Código de
Processo Civil. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil/leis/L5869.htm>. Acesso em: 13 de
Junho de 2011.
28
Vale destacar também que, no projeto de lei original do Código Civil de 2002, Projeto
634/1975, havia presente, no que acabou se transformando no art. 391 de tal
diploma, a expressão “presentes e futuros” para se referir aos bens do devedor que
respondiam pelo inadimplemento das obrigações. Todavia, por força de emenda no
projeto, proposta pelo Deputado Fernando Cunha, foi suprimida tal expressão, sob a
alegação de que:
78
CÂMARA, Alexandre Freitas. Op. cit., v. II, p. 193.
79
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil: processo de execução e
processo cautelar. 30. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2000, § 112, 726.
80
RODRIGUES, Marcelo Abelha. Manual de execução civil. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense
Universitária, 2009, p. 72.
29
“SUBSECÇÃO III
Impugnação pauliana
Artigo 610.º
(Requisitos gerais)
Os actos que envolvam diminuição da garantia patrimonial do crédito e não
sejam de natureza pessoal podem ser impugnados pelo credor, se
concorrerem as circunstâncias seguintes:
a) Ser o crédito anterior ao acto ou, sendo posterior, ter sido o acto
realizado dolosamente com o fim de impedir a satisfação do direito do
futuro credor;‖
(grifo nosso)
Também o Código Civil Italiano, em seu art. 2.901, 1, prevê tal responsabilidade de
bens anteriores, no mesmo caso previsto no Código Civil Português.
81
DA SILVA, Regina Beatriz Tavares (org.). Novo Código Civil Comentado. 7. ed. São Paulo:
Saraiva, 2007.
82
PORTUGAL. Código Civil. Decreto-Lei nº 47.344, de 25 de Novembro de 1966. Aprova o Código
Civil e regula a sua aplicação - Revoga, a partir da data da entrada em vigor do novo Código Civil,
toda a legislação civil relativa às matérias que o mesmo abrange. Lisboa, Ministério da Justiça, 25 de
Novembro de 1966. Disponível em: <http://www.portolegal.com/CodigoCivil.html>. Acesso em: 13 de
Junho de 2011.
30
Podemos citar ainda acórdão do TJRS acolhendo tal posicionamento, afirmando que
a anterioridade do crédito: 84
83
CARVALHO SANTOS apud CAHALI, Yussef Said. Fraudes Contra Credores. 3. ed. São Paulo:
Editora Revista dos Tribunais, 2002, p. 158-159.
84
BRASIL. Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. 1ª CC, 26.11.1980, RJTJRS 90/258. No mesmo
sentido: BRASIL. Tribunal de Justiça de São Paulo. 6ª CC do TJSP, 09.11.1989, maioria, RJTJSP
124/33.
85
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial 1.092.134-SP; Relatora Ministra Nancy
Andrighi. Órgão Julgador: Terceira Turma. Data do julgamento: 05/08/2010. Data da publicação/fonte:
DJe 18/11/2010. Disponível em: <www.stj.jus.br>. Acesso em: 29 de Maio de 2011.
31
86
GOMES, Orlando. Op. cit., p. 277.
87
GRECO, Leonardo. O processo de execução. 1. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 1999, v. I, p. 93.
32
A Fraude Contra Credores é, segundo doutrina de Caio Mário da Silva Pereira 88,
uma espécie de defeito do negócio jurídico, mais precisamente um vício social 89.
Para entender o que seria um vício social, é necessário entender a definição de
negócio jurídico. Tal seria, segundo o citado autor, “toda declaração de vontade,
emitida de acordo com o ordenamento legal, e geradora de efeitos jurídicos
pretendidos.”90
“É que pode ter ocorrido uma declaração de vontade, mas em circunstâncias tais
que não traduza a verdadeira atitude volitiva do agente, ou persiga um resultado em
divórcio das prescrições legais.”91. Em ambos os casos temos um negócio jurídico
defeituoso. Quando ocorre o primeiro caso (relativo à atitude volitiva), temos um
vício do consentimento. Já no segundo caso, é que temos um vício social, de que é
espécie a Fraude contra Credores.
88
A doutrina nacional é unânime em tal assertiva, que, na verdade, apenas interpreta o modo como a
questão é posta , tanto no Código Civil de 2002, como no anterior. Apesar disso, de lege ferenda,
alguns defendem que o instituto deveria ter sido posicionado em outra categoria jurídica, pois não se
alinha com os demais defeitos do negócio jurídico. Reconhecem tratar-se, do modo como está
desenhado no atual Código Civil, de defeito do negócio jurídico, entre outros: MONTEIRO,
Washington de Barros. Curso de Direito Civil, v. I: Parte Geral. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 1966,
18; RODRIGUES, Silvio. Direito civil: Parte Geral. 34. ed. São Paulo: Saraiva, 2003, v. 1, p. 183;
FIUZA, Cesar. Direito Civil – Curso Completo. 6 ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2003, 175.
89
SILVA PEREIRA, Caio Mário da. Instituições de direito civil. 20. ed. Rio de Janeiro: Forense,
2004, v. I, p. 536.
90
Ibidem, p. 478.
91
Ibidem, p. 513.
33
ordenamento jurídico. E por que a Fraude contra Credores seria condenável pelo
Direito?
É porque tal vício prejudica terceiros, quais sejam, credores. Para Silvio Rodrigues,
“diz-se haver fraude contra credores, quando o devedor insolvente, ou na iminência
de tornar-se tal, pratica atos suscetíveis de diminuir seu patrimônio, reduzindo,
desse modo, a garantia que este representa para resgate de suas dívidas.”92
Não obstante ser, no Brasil, matéria de processo e não de direito material, a Fraude
à Execução é definida por muitos como sendo uma “especialização” da Fraude
contra Credores94. Trata-se de instituto sem similar no direito estrangeiro95,
92
RODRIGUES, Silvio. Direito civil: Parte Geral. 34. ed. São Paulo: Saraiva, 2003, v. 1, p. 228.
93
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Fraude contra credores: a natureza da sentença pauliana. 2.
ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2001, p. 124-125; CAHALI, Yussef Said. op. cit., p. 52;
94
RODRIGUES, Marcelo Abelha. op. cit., p. 83; THEODORO JÚNIOR, Humberto. Fraude contra
credores: a natureza da sentença pauliana. 2. ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2001, p. 132;
CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de direito processual civil. 15. ed. Rio de Janeiro: Editora
Lumen Juris, 2008, v. II, p. 200-201; CAHALI. Yussef Said. op. cit, p. 79-81.
95
DIAS, Ronaldo Brêtas de Carvalho. Fraude no processo civil. 3. ed. Belo Horizonte: Del Rey,
2001, p. 100.
96
PUGLIA, Ferdinando apud CAHALI. Yussef Said. op. cit, p. 85.
34
97
LIEBMAN, Enrico Tullio. op. cit., p. 108.
98
CAHALI. Yussef Said. op. cit, p. 558.
99
Temos como exemplo de demanda constitutiva em desfavor da qual pode ocorrer Fraude à
Execução a demanda de divórcio, em que muitas vezes um dos cônjuges aliena bens a terceiros com
o propósito de excluí-los da meação. Também nas demandas constitutivas ou declaratórias, pode
haver condenação em pedidos acessórios, como custas, perícias, dano processual e honorários
advocatícios, que têm como lastro os bens de uma das partes. Demandas cautelares preparatórias,
como o arresto, também devem ser consideradas suficientes para preencher o requisito da existência
de demanda em curso para configuração da Fraude à Execução. Já quanto à Ação Penal, sua
existência não é, para a maioria da doutrina e da jurisprudência, requisito suficiente. Nesse caso,
seria necessário o trânsito em julgado de tal ação para que se considerasse uma alienação feita pelo
réu como Fraude à Execução. Há, porém, posicionamento doutrinário contrário, com o qual
concordamos, entendendo que bastaria o recebimento da denúncia para preencher o requisito de
demanda em curso capaz de ensejar o referido instituto fraudatório. Defendendo este último
posicionamento e com texto magistral a respeito da natureza do processo em curso quando da
alienação, ver CAHALI, Yussef Said. Fraudes Contra Credores. 4. ed. São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais, 2008, p. 422-429.
35
2.1 HISTÓRICO
Foi já no direito justinianeu – em que foi compilado o já citado Corpus Juris Civilis –
que se fundiram o primeiro remédio – a actio pauliana poenalis – e o segundo – o
interdictum fraudatorium, conformando a Ação Pauliana que conhecemos no Direito
Contemporâneo. Tal nome se deveu ao fato de haver sido criada pelo Pretor Paulus,
por meio de um édito romano104.
100
CAHALI, Yussef Said. Fraudes Contra Credores. 3. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais,
2002, p. 82-83.
101
CORREIA, Alexandre; SCIASCIA, Gaetano. Op. cit.., v. I, p. 227.
102
SILVA PEREIRA, Caio Mário da. Instituições de direito civil. 20. ed. Rio de Janeiro: Forense,
2004, v. I, p. 540.
103
FERNANDES, Roberta Silva Melo. Breves Comentários sobre a Impugnação Pauliana no Direito
Luso-Brasileiro. Disponível em: <
http://www.cmpadvogados.com.br/artigos/privado/10/a_impugnaaao_pauliana_nos_ordenamentos_jur
adicos_brasileiro_e_portuguas >. Acesso em: 23 de Maio de 2011.
104
FERNANDES, Roberta Silva Melo. Breves Comentários sobre a Impugnação Pauliana no Direito
Luso-Brasileiro. Disponível em: <
http://www.cmpadvogados.com.br/artigos/privado/10/a_impugnaaao_pauliana_nos_ordenamentos_jur
adicos_brasileiro_e_portuguas >. Acesso em: 23 de Maio de 2011.
36
105
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Fraude contra credores: a natureza da sentença pauliana. 2.
ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2001, p. 75.
106
CAHALI, Yussef Said. Op. cit., p. 111.
107
Tal expressão diz respeito à legislação local das cidades italianas, ainda não unificadas em um
Estado Nacional, à época.
108
CAHALI, Yussef Said. Op. cit., p. 111.
109
CAHALI, Yussef Said. Op. cit., p. 121.
37
Por sua topologia, contudo, tal instituto ainda era, à época, restrito às relações
comerciais, não abrangendo as relações civis comuns.
110
LUBE, Rodrigo. Fraude contra credores. Monografia (Graduação) - Curso de Direito,
Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória. 2005.
111
BRASIL. Regulamento n. 737. Decreto nº 737 de 25 de Novembro de 1850. Determina a ordem
do Juizo no Processo Commercial. Rio de Janeiro, 1850. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1800-1850/D737.htm>. Acesso em: 12 de Junho de
2011.
112
BRASIL. Código Comercial. Lei nº 556, de 25 de Junho de 1850. Rio de Janeiro, 1850. Disponível
em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil/leis/L0556-1850.htm>. Acesso em: 23 de Maio de 2011.
38
Foi em 1917, com a entrada em vigor do Código Civil, que se teve inovações na
matéria, pois tal Código tratou da Fraude contra Credores, nos arts. 106 a 113.
Todavia, deixou a descoberto a disciplina da Fraude à Execução113, que continuou
tendo sua aplicação restrita às relações comerciais, pois ainda era previsto somente
no Código Comercial.
Foi em 1939, já de novo competente a União para legislar em matéria de Processo
Civil – por força da Constituição de 1937 - que foi editado o Código de Processo
Civil, que tratou da Fraude à Execução em seu art. 895.
113
AMERICANO, Jorge apud CAHALI, Yussef Said. Op. cit., p. 88.
114
LIEBMAN, Enrico Tullio. Op. cit., p. 105-107; LIMA, Alvino. A fraude no direito civil. São Paulo:
Saraiva, 1965, n. 20, p. 144; n, 55, p. 183-186; CAHALI. Yussef Said. Op. cit, p. 102-103; GAGLIANO,
Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo Curso de Direito Civil. 12. Ed, São Paulo: Saraiva,
2010, v. I, p. 425.
115
Revista de Jurisprudência do Tribunal de Justiça de São Paulo, n. 10, Julho de 1969, pág. 50;
39
“Em embargos de terceiro não se anula ato jurídico, por fraude contra
credores”
116
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Súmula 185; Órgão Julgador: Corte Especial. Data do
julgamento: 01/10/1997. Data da publicação/fonte: DJ 09/10/1997. Disponível em: <www.stf.jus.br>.
Acesso em: 31 de Maio de 2011.
117
GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Op. cit., p. 426.
118
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. REsp 506312-MS; Relator: Min. Teori Albino Zavacski.
Órgão Julgador: Primeira Turma. Data do julgamento: 15/08/2006. Data da publicação/fonte: DJ
31/08/2006. Disponível em: <www.stf.jus.br>. Acesso em: 31 de Maio de 2011.
40
Tal vício é claramente distinto do outro vício social existente no ordenamento jurídico
brasileiro, qual seja, a simulação. Difere deste, pois na Fraude contra Credores a
declaração de vontade do agente alinha-se com o seu querer íntimo, e causa um
119
CAHALI, Yussef Said. Op. cit., p. 102.
120
PONTES DE MIRANDA, F. C. Tratado de Direito Privado. 4. Ed, São Paulo: RT, 1974, t. IV, §
503, p. 485.
121
MARQUES, José Frederico. Instituições de direito processual civil. Rio de Janeiro: Forense,
1960, V, n. 1.345, p. 448.
122
LIMA, Alcides de Mendonça. Comentários ao Código de Processo Civil. Rio de Janeiro:
Forense, 1974, n. 1.103, p. 495.
123
CAHALI, Yussef Said. Op. cit., p. 102-103.
41
124
RUGGIERO, Roberto; MAROI, Fulvio apud SILVA PEREIRA, Caio Mário da. Instituições de
direito civil. 20. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2004, v. I, p. 537.
125
Ibidem, p. 537.
126
BRASIL. Novo Código Civil. Lei nº 10.403 de 10 de janeiro de 2002. Aprova o novo código civil
brasileiro. Brasília, DF, 2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil/leis/2002/L10406.htm>.
Acesso em: 13 de Junho de 2011.
42
pois almeja fingir uma relação jurídica que não existe, ao contrário da simulação
relativa, que pretende encobrir uma relação jurídica diversa da declarada127.
“Como exemplo, ilustre-se a situação em que um pai doa imóvel para filho,
com o devido registro no Cartório de Registro de Imóveis, mas continua
usufruindo do mesmo, exercendo os poderes do domínio sobre a coisa.
Mesmo o ato sendo praticado com intuito de fraude contra credores,
prevalece a simulação, por envolver ordem pública, sendo nulo de pleno
direito.”
127
SILVA PEREIRA, Caio Mário da. Instituições de direito civil. 20. ed. Rio de Janeiro: Forense,
2004, v. I, p. 636-637.
128
LIMA, Alcides de Mendonça apud CAHALI, Yussef Said. Fraudes Contra Credores. 3. ed. São
Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2002, p. 55-56.
129
TARTUCE, Flávio. Direito Civil – Lei de Introdução e Parte Geral. 6. ed. São Paulo: Método,
2010, p. 403-404
43
130
Revista Trimestral de Jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, vol. 70, Outubro de 1974, pág.
124.
131
Mais à frente trataremos mais pormenorizadamente desse remédio contra a Fraude contra
Credores.
132
CAHALI, Yussef Said. Op. cit., p. 64.
44
2.3 ELEMENTOS
133
Revista de Jurisprudência do Tribunal de Justiça de São Paulo, n. 323, Dezembro de 1960, pág.
112.
134
BRASIL. Tribunal de Justiça de Santa Catarina. Apelação Cível 185167; Relator: Des. Dionizio
Jenczak. Órgão Julgador: Terceira Câmara de Direito Civil. Data do julgamento: 15/07/2005. Data da
publicação/fonte: DJe 29/07/2005. Disponível em: <http://www.tj.sc.gov.br>. Acesso em: 13de Junho
de 2011.
135
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário 24444; Relator: Min. Abner de
Vasconcelos. Órgão Julgador: Segunda Turma. Data do julgamento: 27/09/1956. Data da
publicação/fonte: DJ 01/01/1970. Disponível em: <http://www.stf.jus.br>. Acesso em: 13de Junho de
2011.
136
BRASIL. Novo Código Civil. Lei nº 10.403 de 10 de janeiro de 2002. Aprova o novo código civil
brasileiro. Brasília, DF, 2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil/leis/2002/L10406.htm>.
Acesso em: 13 de Junho de 2011.
45
Art. 160. Se o adquirente dos bens do devedor insolvente ainda não tiver
pago o preço e este for, aproximadamente, o corrente, desobrigar-se-á
depositando-o em juízo, com a citação de todos os interessados.
Parágrafo único. Se inferior, o adquirente, para conservar os bens, poderá
depositar o preço que lhes corresponda ao valor real.
Art. 161. A ação, nos casos dos arts. 158 e 159, poderá ser intentada contra
o devedor insolvente, a pessoa que com ele celebrou a estipulação
considerada fraudulenta, ou terceiros adquirentes que hajam procedido de
má-fé.
Parágrafo único. Se esses negócios tinham por único objeto atribuir direitos
preferenciais, mediante hipoteca, penhor ou anticrese, sua invalidade
importará somente na anulação da preferência ajustada.”
Via de regra, para que alguém possa atribuir a um negócio jurídico praticado por
outrem o defeito da Fraude contra Credores, é preciso que essa pessoa que se
sente prejudicada possua um direito de crédito anterior à realização do negócio
jurídico atacado.
46
Tradicionalmente dizia-se que só poderia ser prejudicado por tal vício o credor
quirografário. Isso porque um credor com garantia real não poderia ser prejudicado
pela alienação do bem gravado com o ônus real, pois, pelo direito de seqüela,
poderia ele alcançar esse bem na execução não importa quem fosse o proprietário.
Mas o que ocorre é que a garantia real pode não ser suficiente para satisfazer o
crédito do credor beneficiário dessa garantia, tendo que se valer tal credor da
garantia patrimonial geral. Nesse caso, tal credor poderia atacar um negócio jurídico
praticado pelo devedor em Fraude contra Credores com um bem não gravado com
ônus real137. Estaria esse credor, quanto a esse bem, na posição de um credor
quirografário qualquer. Sem essa previsão expressa no Código Civil de 1916,
discutia a doutrina e a jurisprudência essa possibilidade. Já àquela época, havia
entendimentos de que poderia o credor com garantia real valer-se da Ação Pauliana
contra fraude intentada por devedor seu, caso a garantia não fosse suficiente. Nesse
sentido, acórdão do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul à época138:
“o ajuizamento da ação pauliana pelo credor com garantia real (art. 158,
§1º) prescinde de prévio reconhecimento judicial da insuficiência da
garantia”.
137
CAHALI, Yussef Said. Fraudes Contra Credores. 3. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais,
2002, p. 130-141. Também nesse sentido, SILVA PEREIRA, Caio Mário da. Instituições de direito
civil. 20. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2004, v. I, p. 542.
138
Revista de Jurisprudência do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, n. 202, Outubro de 2000,
pág. 376.
139
BRASIL. Conselho da Justiça Federal. Enunciado 151. Aprovado na III Jornada de Direito Civil.
Disponível em: <http://daleth.cjf.jus.br/revista/enunciados/IIIJornada.pdf>. Acesso em: 09 de Junho de
2011.
47
O que se pode ter como regra geral para todos os tipos de crédito é que, em
primeiro lugar, mesmo o crédito não reconhecido judicialmente, ou liquidado, pode
se enquadrar como um crédito que dá ao credor o cumprimento de um dos
requisitos para se ter como lesado por aquele vício 144. Em segundo lugar, a doutrina
e jurisprudência majoritárias entendem que o crédito precisa somente existir, ter
nascido, e não necessitando, desse modo, ser exigível145.
Portanto, um credor de título ainda não vencido pode ser lesado por Fraude contra
Credores. É muito comum, inclusive, que, antecipando-se, um devedor malicioso
desfaça-se dos seus bens antes mesmo do vencimento da obrigação que já sabe
que não vai cumprir.
140
CAHALI, Yussef Said. Fraudes Contra Credores. 3. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais,
2002, p. 150.
141
Ibidem, p. 150-152
142
Ibidem, p 152-155.
143
BRASIL. Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. Apelação Cível 700.039.206.34; Relator Des.
José Carlos Teixeira Giorgis. Órgão Julgador: Sétima Câmara Cível. Data do julgamento: 12/06/2002.
Data da publicação/fonte: DJ 19/06/2002. Disponível em: <http://www3.tjrs.jus.br/servicos/revistas/rj-
indicegeral22.pdf>. Acesso em: 09 de Junho de 2011.
144
CAHALI, Yussef Said. op cit., p. 146.
145
Ibidem, p. 149
48
146
Revista de Jurisprudência do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, n. 146, Novembro de 1988
pág. 327.
147
Revista de Jurisprudência do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, n. 151, Dezembro de 1990,
pág. 635.
148
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial 1.092.134-SP; Relatora Ministra Nancy
Andrighi. Órgão Julgador: Terceira Turma. Data do julgamento: 05/08/2010. Data da publicação/fonte:
DJe 18/11/2010. Disponível em: <www.stj.jus.br>. Acesso em: 29 de Maio de 2011.
149
GOMES, Orlando. Obrigações. 17. ed. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2008, p. 277.
49
Foi a lacuna legislativa que fez com que parte da jurisprudência tivesse que fazer
construções no sentido de que se pudesse atacar negócios fraudulentos
preordenados a atingir credores futuros150.
Conforme já mencionado no capítulo referente à Responsabilidade Patrimonial, em
outros países, como em Portugal, em seu art. 610, a, de seu Código Civil, e na Itália,
em seu art. 2.901, 1, é prevista na própria legislação a Fraude contra Credores
futuros.
150
FERNANDES, Roberta Silva Melo. Breves Comentários sobre a Impugnação Pauliana no Direito
Luso-Brasileiro. Disponível em: <
http://www.cmpadvogados.com.br/artigos/privado/10/a_impugnaaao_pauliana_nos_ordenamentos_jur
adicos_brasileiro_e_portuguas >. Acesso em: 23 de Maio de 2011.
50
limitação ao direito constitucional do art. 5º, XXII, qual seja, o direito de propriedade.
Isso porque não poderá o devedor dispor de seus bens de maneira totalmente livre,
devendo manter um mínimo de seu patrimônio para garantir seus débitos151.
Embora não aceito majoritariamente pela doutrina, tal posicionamento chegou a ser
aceito em alguns julgados, como o que segue, do Tribunal de Justiça de São Paulo:
151
RODRIGUES, Marcelo Abelha. Manual de execução civil. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense
Universitária, 2009, p. 72-73
152
CAHALI, Yussef Said. Op. cit., p. 150.
153
AMERICANO, Jorge apud CAHALI, Yussef Said. Op. cit., p. 183.
154
CAHALI, Yussef Said. Op. cit, p. 184.
51
Tema dos mais conturbados e que causam grande parte das controvérsias na
aplicação da Fraude contra Credores é a questão da prova da insolvência e a quem
tal prova compete (ônus probatório). Nesse sentido, por se tratar de prova negativa –
da AUSÊNCIA de bens do devedor, normalmente tal questão é resolvida com base
em presunções legais. E um dos casos mais comuns de presunção é a que se tem
com o raciocínio seguinte: Iniciada uma execução, faculta-se ao exeqüente indicar
bens do executado à penhora. Não conhecendo bens do executado, ou por qualquer
motivo não ocorrendo essa indicação por parte do exeqüente, passa o executado a
ter o ônus de indicar bens seus à penhora, por força do art. 652, § 3º, do CPC156, in
verbis:
“Art. 652. O executado será citado para, no prazo de 3 (três) dias, efetuar o
pagamento da dívida.
(...)
§ 3o O juiz poderá, de ofício ou a requerimento do exeqüente, determinar, a
qualquer tempo, a intimação do executado para indicar bens passíveis de
penhora.”
Caso, ocorrendo tal intimação do executado para indicar bens à penhora, ele não
indique, passa a operar uma presunção relativa de insolvência do mesmo, por força
do art. 750, I, do diploma processual brasileiro157, in verbis:
Assim decidiu em vários casos o Tribunal de Justiça de São Paulo 158. Em outra
decisão, o referido Tribunal acolheu exatamente o raciocínio aqui aclarado, que
155
Revista de Jurisprudência do Tribunal de Justiça de São Paulo, n. 80, Setembro de 1982, pág. 106.
156
BRASIL. Código de Processo Civil. Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973. Institui o Código de
Processo Civil.
157
Ibidem.
158
Revista de Jurisprudência do Tribunal de Justiça de São Paulo, n. 66, Abril de 1980, pág. 258; Op.
cit., n. 84, pág. 38;
52
combina os arts. 652 e 750, do CPC. Tal decisão foi transcrita pelo STJ no Recurso
Especial 867.502-SP, in verbis159:
(grifo nosso)
Também o mesmo tribunal já decidiu ser possível provar tal insolvência até mesmo
por indícios160, visto que, não havendo norma jurídica dispondo forma especial para
a prova da insolvência, vale o art. 212 do Código Civil Brasileiro 161.
159
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial 867.502-SP; Relatora Ministra Nancy
Andrighi. Órgão Julgador: Terceira Turma. Data do julgamento: 09/08/2007. Data da publicação/fonte:
DJe 20/08/2007. Disponível em: <www.stj.jus.br>. Acesso em: 29 de Maio de 2011.
160
Revista de Jurisprudência do Tribunal de Justiça de São Paulo, n. 31, Setembro de 1974, pág. 80.
161
BRASIL. Novo Código Civil. Lei nº 10.403 de 10 de janeiro de 2002. Aprova o novo código civil
brasileiro. Brasília, DF, 2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil/leis/2002/L10406.htm>.
Acesso em: 13 de Junho de 2011.
162
ASSIS, Araken de. Manual da Execução. 12. ed. rev., ampl. e atual. São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais, 2009, p. 279-280.
53
“Artigo 611º
(Prova)
Incumbe ao credor a prova do montante das dívidas, e ao devedor ou a
terceiro interessado na manutenção do acto a prova de que o obrigado
possui bens penhoráveis de igual ou maior valor.”
163
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário 71368-SP; Relator Ministro Xavier de
Albuquerque. Órgão Julgador: Segunda Turma. Data do julgamento: 10/09/1973. Data da
publicação/fonte: DJ 19/20/1973. Disponível em: <www.stf.jus.br>. Acesso em: 29 de Maio de 2011.
164
PORTUGAL. Código Civil. Decreto-Lei nº 47.344, de 25 de Novembro de 1966. Aprova o Código
Civil e regula a sua aplicação - Revoga, a partir da data da entrada em vigor do novo Código Civil,
toda a legislação civil relativa às matérias que o mesmo abrange. Lisboa, Ministério da Justiça, 25 de
Novembro de 1966.
54
“Impugnação pauliana
Artigo 610.º
(Requisitos gerais)
Os actos que envolvam diminuição da garantia patrimonial do crédito e não
sejam de natureza pessoal podem ser impugnados pelo credor, se
concorrerem as circunstâncias seguintes:
(...)
b) Resultar do acto a impossibilidade, para o credor, de obter a
satisfação integral do seu crédito, ou agravamento dessa
impossibilidade.‖
(grifo nosso)
Desse modo, a análise do patrimônio do devedor passa a ser feita “em função de
sua capacidade prática de realização do direito do credor, o que se convencionou
chamar de substância patrimonial”166.
Nos Estados Unidos da América, o Uniform Fraudulent Transfer Act (UFTA), adotado
por muitos dos estados federados, prevê a anulabilidade de alienações por parte de
credores futuros em seu §4º, que prevê um vasto leque de casos, especificamente
desenhados naquela lei, não só quando a alienação provoca ou agrava a insolvência
do devedor, mas também em certos casos em que o devedor tenha a intenção de
obstruir, postergar, ou fraudar credores, OU efetue uma alienação de bens por
valores abaixo do razoável, e: a) os ativos restantes do devedor não sejam
compatíveis em relação ao contexto econômicos dos negócios em que o devedor
estava inserido; ou b) tenha conhecimento, ou razoavelmente devesse ter, de que o
165
PORTUGAL. Código Civil. Decreto-Lei nº 47.344, de 25 de Novembro de 1966. Aprova o Código
Civil e regula a sua aplicação - Revoga, a partir da data da entrada em vigor do novo Código Civil,
toda a legislação civil relativa às matérias que o mesmo abrange. Lisboa, Ministério da Justiça, 25 de
Novembro de 1966.
166
FERNANDES, Roberta Silva Melo. Breves Comentários sobre a Impugnação Pauliana no Direito
Luso-Brasileiro. Disponível em: <
http://www.cmpadvogados.com.br/artigos/privado/10/a_impugnaaao_pauliana_nos_ordenamentos_jur
adicos_brasileiro_e_portuguas >. Acesso em: 23 de Maio de 2011.
55
seus débitos seriam superiores à sua capacidade de adimpli-los à medida que eles
vencessem167.
Observe-se que mesmo as alienações cujo objetivo do devedor seja tão somente
obstruir (tornando mais dificultosa, embora ainda possível) ou retardar a satisfação
dos credores são passíveis de anulação em tal ordenamento jurídico.
167
ALCES, Peter A; DORR, Luther M. A Critical Analysis of the New Uniform Fraudulent Transfer Act.
Disponível em: <http://scholarship.law.wm.edu/facpubs/300>. Acesso em: 06 de Junho de 2011.
168
CAHALI, Yussef Said. Op. cit., p. 217.
56
169
SILVA PEREIRA, Caio Mário da. Instituições de direito civil. 20. ed. Rio de Janeiro: Forense,
2004, v. I, p. 537.
170
CAHALI, Yussef Said. Op. cit., p. 219..
171
Ibidem, p. 221.
172
LIMA, Alvino apud CAHALI, Yussef Said. Op. cit., p. 223.
57
“No Código Civil, arts. 106-113, não aludiu ao consilium fraudis; no Decreto-
Lei nº 7.661, de 21 de junho de 1945, fala-se de “intenção de prejudicar
credores”, acrescentando-se “provando-se a fraude do devedor e do terceiro
que com ele contratar”. “Fraude, aí, está por intenção, consilium; e,
referindo-se ao terceiro, por scientia fraudis (...)”
173
PONTES DE MIRANDA, F. C. Tratado de Direito Privado. 4. Ed, São Paulo: RT, 1974, t. IV, §
494, p. 458-459.
174
DINIZ, Maria Helena apud GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo Curso
de Direito Civil. 12. Ed, São Paulo: Saraiva, 2010, v. I, p. 425.
175
Dizemos principais pois, a par dos negócios jurídicos de transmissão de bens, há também outros
negócios, menos freqüentes, que podem ser inquinados pela Fraude contra Credores, como
constituições de garantia, remissão de dívida, renúncia a herança, etc.
176
BRASIL. Novo Código Civil. Lei nº 10.403 de 10 de janeiro de 2002. Aprova o novo código civil
brasileiro. Brasília, DF, 2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil/leis/2002/L10406.htm>.
Acesso em: 13 de Junho de 2011.
58
177
PLANIOL, Marcel. apud CAHALI, Yussef Said. Op. cit., p. 226.
178
CAHALI, Yussef Said. Op. cit., p. 231-232.
59
Assim, a prova dessa notoriedade pode se dar por diversas formas, em que as mais
eficazes e comuns são: a existência de diversas ações judiciais em que o devedor
seja réu; e/ou a existência de diversos títulos protestados. Isso porque, a
notoriedade aqui exigida não significa o conhecimento amplo de toda a população,
mas o conhecimento de quem realiza negócios financeiros182, e que deve, não por
obrigação legal, mas por cautela, obter certidões negativas de distribuidores cíveis e
179
PONTES DE MIRANDA, F. C. op. cit., t. IV, § 494, p. 458-459.
180
BRASIL. Novo Código Civil. Lei nº 10.403 de 10 de janeiro de 2002. Aprova o novo código civil
brasileiro. Brasília, DF, 2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil/leis/2002/L10406.htm>.
Acesso em: 13 de Junho de 2011.
181
MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de Direito Civil, v. I: Parte Geral. 5. ed. São Paulo:
Saraiva, 1966, p. 218.
182
Revista de Jurisprudência do Tribunal de Justiça de São Paulo, n. 65, Dezembro de 1979, pág. 29.
60
183
BRASIL. Tribunal de Justiça do Paraná. Apelação Cível 531.921-7; Relator Juiz de Direito
Substituto em Segundo Grau Fábio Haick Dalla Vecchia. Órgão Julgador: 15ª Câmara Cível. Data do
julgamento: 10/12/2008. Data da publicação/fonte: DJ 81 – 10/12/2008. Disponível em:
<www.tj.pr.gov.br>. Acesso em: 07 de Junho de 2011.
184
BRASIL. Tribunal de Alçada de Minas Gerais. Apelação Cível 296.769-9; Relator Juíza Jurema
Brasil Marins. Órgão Julgador: 3ª Câmara Cível. Data do julgamento: 25/10/2000. Data da
publicação/fonte: DJ 07/11/2000. Disponível em: <www.tjmg.jus.br>. Acesso em: 07 de Junho de
2011.
61
185
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial 710.810-RS; Relator Ministro João Otávio
de Noronha. Órgão Julgador: Quarta Turma. Data do julgamento: 19/02/2008. Data da
publicação/fonte: DJe 10/03/2008. Disponível em: <www.stj.jus.br>. Acesso em: 07 de Junho de
2011.
186
CAHALI. Yussef Said. Op. cit, p. 237.
62
Tratando-se, como dito, de presunção relativa 189, pode ser sempre elidida por prova
em contrário do adquirente.
187
AMERICANO, Jorge apud RODRIGUES, Silvio. Op. cit., v. 1, p. 233.
188
BUTERA, Antonio apud CAHALI, Yussef Said. Op. cit., p. 243.
189
TARTUCE, Flávio. Op. cit., p. 393.
63
190
ALCES, Peter A; DORR, Luther M. A Critical Analysis of the New Uniform Fraudulent Transfer Act.
Disponível em: <http://scholarship.law.wm.edu/facpubs/300>. Acesso em: 06 de Junho de 2011.
191
TERRIL, John A.. Preventing Fraudulent Transfers. Disponível em: <http://files.ali-
aba.org/thumbs/datastorage/skoob/articles/Chapter%2004_BK64_thumb.pdf>. Acesso em: 08 de
Junho de 2011.
192
BEVILÁQUA, Clóvis apud CAHALI, Yussef Said. Op. cit., p. 228.
64
desde que haja insolvência”193. Também Humberto Theodoro Júnior trilha por esse
caminho194:
Além disso, poderíamos chegar a esse entendimento com o seguinte raciocínio: se,
de acordo com o art. 159 do Código Civil, o elemento subjetivo do terceiro
adquirente se considera preenchido se a insolvência for notória ou haja motivos para
que seja conhecida do outro contratante, como poderá o devedor, para afastar o seu
elemento subjetivo, alegar que desconhecia o estado de seu próprio patrimônio? 195
193
AMERICANO, Jorge apud CAHALI, Yussef Said. Op. cit., p. 228.
194
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Fraude contra credores: a natureza da sentença pauliana. 2.
ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2001, p. 169.
195
PALÚ, Oswaldo Luiz. A fraude contra credores e as ações pauliana e revocatória. Disponível em:
<http://bdjur.stj.gov.br/xmlui/bitstream/handle/2011/23235/fraude_contra_credores_acoes.pdf?sequen
ce=1>. Acesso em: 08 de Junho de 2011.
65
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após isso, definimos sua abrangência, que defendemos conter, em regra, todos os
bens do devedor no momento da avença da obrigação, e os adquiridos
posteriormente a tal momento. Dissemos em regra, pois, como vimos, e
defendemos, há o caso específico da fraude predeterminada para atingir credores
futuros.
196
MARQUES, José Frederico. Manual de Direito Processual Civil. 1. ed. Campinas: Bookseller,
1997, p. 69-71.
66
Outro ponto que mereceu destaque foi a comparação entre o instituto em estudo e a
Simulação Fraudulenta. Pugnamos pela tese de que, muitas vezes em que se pensa
estar diante de Fraude contra Credores, se está lidando com verdadeira simulação.
Aduzimos que seria muito valioso aferir com precisão a definição de qual instituto se
trata os casos com que nos deparamos, visto que o tratamento reservado à
simulação pelo ordenamento jurídico é muito mais benéfico à parte lesada do que o
tratamento dado àquele outro instituto.
67
Por fim, último – e mais importante e decisivo, na prática – dos elementos requisitos
da Fraude contra Credores é o elemento subjetivo, ou consilium fraudis. Trata-se,
segundo doutrina majoritária, e com a qual concordamos, tão somente da
consciência do devedor, e, por vezes, do terceiro adquirente, do dano causado pelo
ato. Para esse elemento, cruciais para a sua prova são a notoriedade e/ou
presunção de conhecimento da insolvência do devedor por parte do terceiro
adquirente. Chega-se a tal presunção – relativa, diga-se de passagem – por meio de
indícios, que no Direito Americano são muito bem explorados sob a rubrica de
badges of fraud.
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