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No direito Romano a ciência jurídica era dividida em: i) direito civil; ii) direito
penal. E era civil tudo o que não era penal.
O direito civil era tudo, e quem quer ser tudo talvez não consiga ser
rigorosamente nada. Este era o grande problema do direito civil, pois ele
englobava todas as matérias que não eram penais. E por conta disto, o direito
civil apresentava-se com uma grande feição, apresentando-se dentro do direito
civil: o direito do trabalho, o direito processual civil, o direito empresarial, o
direito administrativo.
Toda esta concatenação tem como limite a Revolução Francesa, que tinha por
ideais a igualdade, liberdade e fraternidade, haja vista que instaurou uma nova
ordem social.
Napoleão queria garantir à burguesia tudo que se entregou a ele, para derrubar
o absolutismo estatal (causou a queda da bastilha). Napoleão garantiu a
propriedade privada, a autonomia privada contratual (que se chamava pacta
sunt servanda).
Devemos lembrar que todo o Código traz consigo certos valores. Quais eram
os valores deste Código? O Código da França era:
i) Patrimonialista;
ii) Individualista.
O direito civil construiu-se a partir da referência da propriedade privada e do
pacta sunt servanda. Portanto, o direito civil quis garantir a liberdade no campo
privado, mas sem violar a supremacia do interesse público sobre o privado.
Temos uma grande comparação quase que idílica (figurado) entre um jardim e
uma praça. Esta é uma metáfora apresentada pelo grande professor Nelson
Saldanha de Pernambuco. Nelson Saldanha compara o público vs. Privado
com um jardim e uma praça. A praça é o espaço do público, ao passo quo
jardim é o espaço privado. Na praça só posso fazer o que a lei permite. Já no
jardim posso fazer tudo, exceto o que a lei proíbe.
Para o nosso Código de 1916 onde estava o direito público não poderia estar o
privado, ou seja, não poderíamos ter a um só tempo um “mix” entre público e
privado. E naturalmente o Código de 1916, trazendo essa feição entre público e
privado, cuidava somente de relações patrimoniais (para garantir a propriedade
privada, o pacta sunt servanda). Este Código não admitia interferência do
Estado nas relações privadas. Onde estava o Poder Público não poderia estar
o particular, pois havia supremacia do público sobre o privado.
Esta preocupação com o “ser” faz com que direito adapte-se a isso. E teremos
com isso no direito civil um movimento de (re)personalização, sendo que o
direito civil passa a se preocupar com a pessoa humana. Não quer dizer que o
direito civil deixou de proteger o patrimônio. Continua-se protegendo-se o
patrimônio (a propriedade continua privada, o contrato continua submetido ao
pacta sunt servanda). Ele apenas agora tem como proteção precípua
(fundamental) a dignidade humana.
Esse movimento inaugura uma nova era denominada de: Direito Civil Mínimo,
que significa intervenção mínima do Estado na relação privada. O Estado só
deve intervir na relação privada quando for necessário para garantir: dignidade,
igualdade, solidariedade e liberdade. Se não há necessidade de preservar
estes valores, vale a autonomia das partes (autonomia privada).
É esse movimento de Direito Civil Mínimo, que faz com que o Estado
intervenha para proteger a pessoa.
O direito civil é, foi e será para sempre ramo do direito privado. O direito civil
cuida das relações privadas, indiscutivelmente. E a relação privada é
propriedade, contrato e família. O que o direito civil sofreu foi uma modificação
valorativa e não estruturante (a estrutura é a mesma, mas os valores foram
modificados). Se os valores do Código de 1916 eram patrimonialismo e
individualismo, a Constituição estabeleceu novos valores (liberdade, igualdade
e solidariedade), passamos com isso a ter uma incompatibilidade no sistema. O
Código Civil era incompatível com a Constituição. Assim, percebeu-se a
necessidade da criação de um novo Código Civil (CC/2002).
Ética não se confunde com a moral. Ética é coletiva, é aquilo que se espera de
todos (não tem uma conotação moral). Exemplo de eticidade: boa-fé objetiva.
Se um dia os contratos foram interpretados pelo pacta sunt servanda (contratou
tem que cumprir! Morra, mas cumpra!), agora tem que ser interpretado
conforme a ética (boa-fé objetiva – é a ética que se espera das relações
contratuais).