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QUADRO 21
(O espetáculo retoma de onde parou. Aparece a noiva e os convidados. Vem com um vestido
preto da moda de mil e novecentos.)
Texto
Subtexto
MULHER — Venha comigo. Já não agüento mais! Por que me olha assim? Você tem um
espinho em cada olho. Só sei de uma coisa: me jogaram fora. Mas tenho um filho. E outro que
vem.
LEONARDO (levantando-se) — Vamos.
MULHER — Mas comigo!
LEONARDO — É. (Pausa.) Ande, vá! (Saem.)
QUADRO 19
(Entra Yerma com incensos.)
(Música)
Subtexto
QUADRO 20
(Entram Bernarda, as filhas e La Poncia).
Texto
Subtexto
Texto
MARTÍRIO - Será que não posso fazer uma brincadeira com minha irmã? Para que o ia
querer?
ADELA (Saltando cheia de ciúmes.) – Não foi brincadeira, porque não gostaste nunca de
brincar. Foi outra coisa que te oprimia o peito querendo sair. Dize francamente.
MARTÍRIO - Cala-te e não me faças falar. Se falo, vão-se unir as paredes umas com as outras
de vergonha.
ANGÚSTIAS - Não tenho culpa de que Pepe Romano me tenha preferido.
ADELA - Pelo teu dinheiro!
ANGÚSTIAS - Mãe!
BERNARDA - Silêncio!
Subtexto
BERNARDA - Eu via tormenta chegar, mas não acreditava que estivesse tão perto. Ai, que
saraiva de ódio deitaram sobre meu coração! Fora daqui! (As filhas saem, fica La Poncia.
Bernarda se sente desolada. Bernarda reage, dá uma pancada no chão.) Terei de submetê-las.
Bernarda, lembra-te que esta é tua obrigação.
QUADRO 22
Texto
QUADRO 23
Texto
QUADRO 24
Texto
QUADRO 25
Texto
Trecho inicial de Adela e Martírio foi transferido para o início do quadro 29.
(Ao fundo, cruza a cena uma mulher sendo arrastada por homens enquanto grita e pede
socorro).
QUADRO 26
(Começa a tocar uma música, de tempos em tempos ouvem-se conversas e gargalhadas
vindas de fora. A noiva permanece sozinha em cena, parada, sem expressão, seu sofrimento
cresce conforme as pessoas vão surgindo).
Texto
MÃE (Entra e fala no ouvido da noiva, andando ao redor dela) — As bênçãos pesam muito.
Mas não devem pesar. Você tem que ser leve como uma pomba.
(Mãe se coloca no fundo, à esquerda, virada pra direita. A noiva permanece no meio).
MULHER (Entrando) — Espero que seja feliz, minha prima! Os dois, aqui; sem sair nunca e
construindo a casa. Bem que eu queria viver longe assim!
(Vai para o fundo e se coloca à direita, na frente da mãe, olhando pra ela).
CRIADA (Entrando, dando um abraço e um beijo na noiva) - Olhe: lá para a meia-noite, como
vocês não vão dormir mesmo, vou deixar umas fatias de presunto e uns copos grandes de
vinho velho. Na despensa, embaixo. Se precisarem...
(Sai e se coloca atrás da mulher, olhando também para a esquerda)
PAI (Entrando) - Gosto de ver tudo isso. Que mudança para esta casa!
(Vai pra trás da mãe do noivo, de frente para a criada).
(Temos portando um corredor com dois personagens de cada lado, a noiva mais à frente está
no meio dele).
(O noivo entra e passa pelo meio do corredor e vai até a noiva que permanece imóvel).
(O noivo, muito devagar, abraça a noiva por trás, beija seu pescoço e passa a mão por seu
corpo. Ela continua imóvel).
(O noivo sai e se coloca na frente da mãe, virado para a direta).
(Entra Leonardo, rapidamente e abraça a noiva pro trás, repete os mesmos movimentos do
noivo, mas agora a noiva se deixa levar, fecha os olhos, sente prazer).
(Leonardo sai e se coloca do lado esquerdo, de frente para o noivo).
(A música volta a tocar, dessa vez uma percussão intensa se inicia)
(A noiva sai correndo)
(O que antes era um corredor se transforma em uma roda, os atores tiram suas roupas de
casamento e as deixam jogadas no chão, por baixo, vestem roupas cor da pele).
(Entram mais atores para compor a cena)
(Surge Yerma).
QUADRO 28
Texto
(Da roda sai a Velha, a roda avança em Yerma e tira suas roupas, por baixo, também tem
roupas cor de pele).
(Permanece a música alta)
(A Velha anda ao redor de Yerma, passa as mãos por ela, como quem faz uma reza).
(A música para de repente)
VELHA - Agora terás um filho. Podes ter certeza.
YERMA - Hei de tê-lo, por força. Ou não entendo o mundo.
VELHA - Yerma! (Repetindo o tom dos chamados anteriores.)
YERMA - Sei que os filhos nascem do homem e da mulher. Ai, se os pudesse ter sozinha!
VELHA - Pensa que teu marido também sofre.
YERMA - Não sofre, não. O que acontece é que ele não deseja filhos. Vejo-lhe isso nos olhos.
E, como os não deseja, não mos dá. Não o quero, não o quero, e, no entanto, é a minha única
salvação. Por honra e por casta. Minha única salvação.
(Entra João)
JOÃO -. Que fazes neste lugar? Agüento tudo, menos isso. Desde o próprio dia da boda que o
está fazendo. Mirando-me com duas agulhas, passando as noites em claro, com os olhos
abertos, a meu lado, e enchendo de maus suspiros os meus travesseiros.
YERMA - Cala-te!
JOÃO - E eu não posso mais. Porque é preciso ser de bronze para ver-se ao lado de uma
mulher que te quer enterrar os dedos no coração; e que sai de sua casa, em busca de quê?
Dizeme! Procurando o quê? As ruas estão cheias de machos. Nas ruas não há flores para
cortar.
YERMA - Não te deixo falar nem mais uma palavra. Nem mais uma. Sabes que a minha casta
não teve nunca nada que ocultar. Anda. Chega perto de mim e cheira os meus vestidos: vem!
Vê se encontras um cheiro que não seja o teu, que não seja o do teu corpo. Põe-me nua no
meio da praça e cospe-me. Faz comigo o que quiseres, já que sou tua mulher; mas livra-te de
pôr nome de homem em cima dos meus peitos!
JOÃO - Não sou eu quem o põe: és tu, com a tua conduta. E eu não sei o que busca uma
mulher a toda hora fora de casa.
YERMA (Num arranco, abraçando-se ao marido.) – Busco-te a ti. Busco-te a ti, – é a ti que
busco dia e noite, sem encontrar sombra onde respirar. É teu sangue e teu amparo o que
desejo.
JOÃO - Afasta-te!
YERMA - Não me afastes, e une ao meu o teu querer!
JOÃO - (Fita-a e afasta-a bruscamente.) – Deixa-me de uma vez!
(Yerma cai no chão.)
YERMA - (Aos gritos.) – Maldito seja meu pai, que me deixou seu sangue de pai de cem filhos!
Maldito seja meu sangue que os busca aos trancos pelas paredes!
JOÃO - Cala-te, já disse!
YERMA - Deixe-me livre ao menos a voz, agora que vou entrando no mais
escuro do poço. Deixe que do meu corpo saia ao menos essa coisa bela – e que encha os
ares!
JOÃO - Cala-te! (Chuta Yerma que ainda está no chão)
(João sai)
(A roda mais uma vez avança em direção à Yerma e a levanta do chão).
(A música aumenta).
Música
1ª MULHER –
Senhor, que a rosa floresça!
Não fique na sombra presa.
2ª MULHER –
Nesse corpo que se engelha,
floresça a rosa amarela!
No ventre das tuas servas,
a chama escura da terra.
CORO DE MULHERES –
Senhor, que a rosa floresça!
Não fique na sombra presa.
(Ajoelham-se.)
VELHA – A culpa é de teu marido. Mas tu tens pés para abandonares a casa.
YERMA - Abandoná-la? Nunca o faria. Achas que posso conhecer outro homem? Onde pões a
minha honra?
VELHA (Forte.) – Pois continua assim. É do teu gosto. Como os cardos das terras secas,
espinhosa, murcha.
YERMA (Forte.) – Murcha, sim, já sei. Murcha! Não é preciso que me esfregues isso na boca.
(Yerma sai com raiva)
(A música volta. Todos saem).
QUADRO 29
Texto
QUADRO 30
Texto
QUADRO 31
Texto
(Enquanto Yerma fala, entra Adela no fundo carregando uma cadeira, sobe nela, amarra uma
corda em seu pescoço).
(A luz se apaga, ouve-se o barulho de uma cadeira caindo).
(Todos saem)
Quadro 32 cortado.
QUADRO 33
(Entram, a mãe do noivo, Yerma e Bernarda Alba ajoelhadas no chão, mexem em bacias com
água. Os movimentos vão aumentando e ficando mais violentos com o decorrer da música. A
água se transforma em sangue. Ao fundo, entram todos os atores com roupas pretas e velas
nas mãos, formando uma meia lua).
YERMA — Ai, há quatro rapazes chegando de ombros cansados!
MÃE — Ai, que vêm quatro moços trazendo a morte pelo ar!
TODAS —
Doces cravos,
doce cruz,
doce nome
de Jesus.
BERNARDA — Que esta cruz ampare a mortos e vivos.
(Continuam mexendo no sangue da bacia, até que as luzes se apaguem por completo).
FIM