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CRIMES CONTA A HONRA

CALÚNIA – imputar fato criminoso falsamente. É o mais grave.


Imputar (atribuir) à alguém Fato (conduta) definido como crime
(típico) Falsamente (não ocorreu, ou aquela pessoa não era o autor) .
ATENÇÃO – mera qualidade negativa é INJÚRIA, ainda que o adjetivo seja
relacionado a um crime.
Observação I: Se o agente apenas atribuir uma qualidade negativa (“exemplo:
ela é uma prostituta, ele é ladrão”) o crime será de injúria.
Observação II: Se o fato corresponder a uma conduta meramente imoral ou
tipificada como contravenção (“ele tem um caso com a secretária”) o crime será
de difamação.
Observação III: Se o fato imputado for verdadeiro quem o imputou não pratica
crime algum.
Observação IV: Se o agente imputa fato falso mas acredita que é verdadeiro
haverá erro de tipo Erro de Tipo exclui o dolo. Como esse crime não tem previsão
de forma culposa a conduta será atípica.
O sujeito passivo na calúnia – é possível contra mortos, inimputáveis e para PJ,
se for imputado crime ambiental.
Consumação e tentativa da calúnia – se consuma quando a notícia do crime
chega à conhecimento de terceiros.
A tentativa é possível quando praticada por escrito.
A retratação é desmentir os fatos imputados. Ela extingue a punibilidade. A
retratação não precisa da aceitação do ofendido. Ainda, pode o réu provar a
existência do crime, extinguindo-se a punibilidade da calúnia.

Exceção da Verdade: (oportunidade para provar que o fato é verdade)


Injúria: nunca admite Exceção da Verdade.
Difamação: não admite Exceção da Verdade, salvo quando o ofendido é
funcionário público e a ofensa é relacionada ao exercício da função (neste caso
há o interesse público).
Calúnia: em regra admite Exceção da Verdade, salvo em três situações:
. Ofendido é Presidente da República ou Chefe de Governo Estrangeiro
. Quando já houve sentença absolutória definitiva pelo crime imputado
. Se o crime imputado é de ação privada e ainda não houve condenação
DIFAMAÇÃO – Imputar (atribuir) um fato (conduta/fazer) desabonador
(prejudicial à reputação)
O fato não precisa ser falso.
Consuma quando aquela notícia chega à conhecimento de terceiros.
Observação I: Se o agente imputar mera qualidade negativa o crime será de
injúria (“ele é”)
Observação II: Se o fato desabonador for tipificado como crime o delito será de
calúnia (“falaram que empresa estava cometendo crime ambiental colocando em
risco a segurança da região e fizeram reportagem caluniosa”).
Observação III: não é necessário que o fato seja falso. (Mesmo que o fato seja
verdadeiro pode ser constituído a difamação)
Exemplo: publicar vídeo de tal menina fazendo sexo que repercutiu fato na
faculdade.

INJÚRIA: Ofender (xingar) a dignidade ou o decoro .


Exemplo: “ele é” e para nesta expressão.
É consumada quando chega à conhecimento da própria vítima.
C.1) Injúria Real: (ofensa física) quando para ofender usa-se violência (lesão
corporal) ou vias de fato (contato físico sem que haja lesão).
Observação I: Se a injúria real provocar Lesão corporal as penas serão
somadas, ou seja, o agente responderá por Injúria Real e Lesão Corporal
em Concurso Material (para não caracterizar a concussão).
c.2) Injúria Racial: Racismo é crime de segregação de uma parcela da
população e não uma conduta contra uma determinada pessoa.
Exemplo: botar placa para pessoas baixas não entrarem na sala de aula
Injúria Preconceituosa: quando você utiliza de um dos requisitos acima para
ofender uma determinada pessoa.
Exemplo: não vender roupa para uma determinada pessoa negra com intuito de
ofende-la

CRIMES CONTRA A LIBERDADE INDIVIDUAL


Art. 146 – Constrangimento ilegal
O bem jurídico tutelado é a liberdade individual. Os sujeitos ativo e passivo
podem ser qualquer pessoa. O elemento objetivo se dá em “constranger”,
forçando alguém a fazer algo que a lei não manda, ou impedindo que faça o
que a lei permite, mediante violência, grave ameaça ou redução da capacidade
de resistência da vítima.
É um crime que se apresenta apenas da modalidade dolosa, não havendo dolo
específico, uma vez que o agente não precisa agir com propósito especial:
basta que tão somente tolha a liberdade alheia, em desacordo com a
determinação legal, para que pratique o fato típico incriminador.
É um crime comum, material, de forma livre, comissivo (em regra), instantâneo,
de dano, unissubjetivo e plurissubsistente (admitindo a forma tentada e se
consumando com a efetiva inibição da vítima a fazer ou deixar de fazer algo).
Como causa de aumento (§ 1º), as penas privativa de liberdade e de multa são
aplicadas cumulativamente e em dobro se o crime é cometido por mais de três
pessoas reunidamente ou com emprego de armas (próprias ou impróprias).
É um tipo subsidiário, pois, se o fato puder ser enquadrado em outro mais grave
(como estupro), assim será considerado, e, por ser secundário, se a violência
empregada resultar em lesão, responderá o agente também pelo que causar
(§ 2º).
Há exclusão da tipicidade (§ 3º) se a “coação” se der por motivo médico-
cirúrgico, a fim de resguardar a vida de sujeito em iminente perigo, ou se for
exercida para impedir suicídio.
Art. 147 – Ameaça
Bem jurídico tutelado: liberdade individual. Sujeito ativo: qualquer pessoa.
Sujeito passivo: qualquer pessoa que entenda mal injusto e grave no que lhe é
anunciado. O elemento objetivo é “ameaçar”, por meio de palavra, escrito,
gesto ou outro ato simbólico, intimidando alguém com promessa de mal futuro
ou próximo, que seja penalmente relevante. A ameaça de mal imediato
descaracteriza o tipo, enquadrando o agente em ato preparatório ou executório
de fato mais grave, como tentativa de lesão corporal. Pena: detenção de 1 a 6
meses, ou multa.
É um crime somente com modalidade dolosa, comum, formal, de forma livre,
comissivo, instantâneo, unissubjetivo, que pode ser uni ou plurissubsistente
(sendo a tentativa de difícil configuração, e se consumando no ato ameaçador,
independente de resultado naturalístico).
Art. 148 – Sequestro e cárcere privado
Bem jurídico tutelado: liberdade individual. Sujeitos ativo e passivo: qualquer
pessoa. Elemento objetivo: “privar” a liberdade de alguém mediante sequestro
(retirar da pessoa a liberdade, mesmo não mantendo-a presa em local fechado)
ou cárcere privado (o aprisionamento em si, promovido por particular) de modo
permanente ou por tempo razoável (a consumação do crime se prolonga no
tempo, uma vez que na conduta instantânea o fato será configurado como
constrangimento ilegal). A diferenciação entre sequestro e cárcere é importante
na fixação da pena-base. Elemento subjetivo: dolo, mas sem finalidade
específica. Pena: reclusão de 1 a 3 anos, na forma simples.
É um crime comum, material, de forma livre, comissivo, permanente,
unissubjetivo e plurissubsistente (admitindo tentativa e consumando-se com a
perda da liberdade de ir e vir da vítima).
Possui duas formas qualificadas, com penas de 2 a 5 anos (§ 1º) se a vítima
for ascendente, descendente, cônjuge ou companheiro do agente, se for maior
de 60 ou menor de 18 anos, se o crime é praticado mediante internação da
vítima em casa de saúde ou hospital, com fins libidinosos ou se a privação de
liberdade dura mais de 15 dias, e pena de 2 a 8 anos (§ 2º) se em razão de
maus tratos ou da natureza da detenção a vítima foi submetida a grave
sofrimento físico ou moral.
Se após o sequestro o agente estuprar a vítima, responderá por concurso
material.
Rapto – apenas mulheres e honestas (prostitutas não) podiam ser sujeito
passivo, ação em regra privada, finalidade libidinosa era elementar
Se na prática deste crime houver emprego de violência contra a pessoa os
agentes poderão responder por ele e pelas lesões causadas.
Art. 149 – Redução à condição análoga à de escravo
Bem jurídico tutelado: liberdade individual. O sujeito ativo pode ser qualquer
pessoa, mas na prática é geralmente um empregador ou seu preposto, e o
sujeito passivo é o empregado ou pessoa subjugada em qualquer relação de
trabalho. Este artigo foi modificado em 2003, pois considerava-se estar em
desacordo com o princípio constitucional da taxatividade, e a partir de então
tornou-se claramente um tipo fechado, tendo como elemento objetivo “reduzir
alguém à condição análoga à de escravo”, materializado em submeter alguém
a trabalhos forçados ou jornada exaustiva, sujeita-lo a condições degradantes
de trabalho ou restringir, por qualquer meio, sua locomoção em razão de dívida
contraída com empregador ou seu preposto. A pena é de reclusão de 2 a 8
anos e multa, além da pena correspondente se houver violência contra a vítima,
e da expropriação da propriedade rural, conforme o art. 243 da Constituição
Federal.
O § 1º ainda estabelece outras hipóteses que tipificam o crime, com mesma
pena: cerceamento do uso de qualquer meio de transporte pelo trabalhador,
manutenção de vigilância ostensiva ou apossamento de documentos ou
objetos pessoais do trabalhador, a fim de retê-lo no local de trabalho.
É um crime doloso, comum, material, de forma vinculada, comissivo,
permanente, de dano, unissubjetivo e plurissubsistente. A pena pode ser
aumentada pela metade (§ 2º) se o crime for cometido contra menor, ou por
motivo de preconceito de raça, cor, etnia, religião ou origem.
Art. 150 – Violação de domicílio
Bem jurídico tutelado: a inviolabilidade do domicílio. O sujeito ativo é qualquer
pessoa, e o passivo qualquer pessoa que tenha autoridade de comandar quem
entra, sai ou permanece no local. Elemento objetivo: “entrar” ou “permanecer”
clandestina ou astuciosamente ou contra a vontade do responsável em “casa”
alheia ou suas dependências. Pena: detenção de 1 a 3 meses, ou multa.
É um crime doloso, comum, de mera conduta, de forma livre, comissivo ou
omissivo, instantâneo na forma “entrar” e permanente na forma “permanecer”,
unissubjetivo, uni ou plurissubsistente (com tentativa admitida nas formas
comissiva e plurissubsistente, e que se consuma no momento que a conduta
de entrar ou permanecer é praticada, independente de resultado naturalístico).
Tem forma qualificada, com pena de 6 meses a 2 anos, além da pena
correspondente se houver violência contra a pessoa, se o crime é cometido à
noite, em lugar ermo, com emprego de violência ou arma, ou por dois ou mais
agentes. A pena ainda pode ser aumentada em 1/3 se o agente for funcionário
público e o pratica fora dos casos legais, sem observar as formalidades, ou
com abuso de poder, mas muitos consideram esse aumento não aplicável por
a conduta estar prevista na Lei de Abuso de Autoridade (Lei 4.9898/65), que,
por ser especial, é a que se aplica ao caso.
Excludentes de ilicitude (§ 3º): se o fato ocorre durante o dia, observadas as
formalidades legais, para efetuar prisão ou diligência; ou, se ocorre a qualquer
hora, quando um crime está sendo cometido no local (flagrante delito) ou na
iminência de ser (a fim de prestar socorro à vítima).
O § 4º define como “casa” qualquer lugar habitado, aposentos coletivos (como
hotéis e “repúblicas”) e lugar não aberto ao público, onde alguém exerce
profissão ou atividade (como escritório ou consultório), bem como seu quintal
ou garagem. O § 4º exclui deste conceito locais abertos ao público, como o hall
de hotéis, e tavernas, casas de jogos ou locais do gênero.

CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO

Furto
Art. 155. Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
§ 1º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é praticado durante o repouso
noturno.
§ 2º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa furtada, o juiz
pode substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois
terços, ou aplicar somente a pena de multa.
§ 3º - Equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou qualquer outra que tenha
valor econômico.
Furto qualificado
§ 4º - A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, se o crime é cometido:
I - com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa;
II - com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza;
III - com emprego de chave falsa;
IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas.
§ 5º - A pena é de reclusão de 3 (três) a 8 (oito) anos, se a subtração for de
veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para o
exterior. (Incluído pela Lei nº 9.426, de 1996)
1. Classificação Doutrinária
Crime comum, material, doloso, de dano, de forma livre, comissivo em regra,
instantâneo ou permanente, unissubjetivo, plurrisubsistente, não transeunte e
admite tentativa. Entendemos exequível o cometimento de furto por omissão.
2. Sujeito Ativo: Qualquer pessoa, salvo o proprietário ou possuidor da coisa.
3. Sujeito Passivo: É a pessoa física ou jurídica que detenha a posse ou
propriedade da coisa.
4. Objeto Material
A conduta criminosa recai sobre a coisa alheia móvel, que são considerados
os animais, aeronaves, os navios, os títulos de crédito, os talões de cheques,
os frutos, as árvores, etc. O furto de gado é conhecido como abigeato. As
coisas de uso comum também podem ser objeto de furto como a água e luz. A
coisa abandonada (rês derelicta) e a coisa de ninguém (rês nullius) não podem
ser objeto material de furto, pois não são coisas alheias. Se o agente pensou
que se tratava de coisa abandonada e dela se apoderou haverá erro de tipo
que excluirá o dolo.
Quanto a cadáver, se a subtração for com intuito de lucro haverá caso de furto,
caso contrário, o crime será de subtração de cadáver, previsto no
art. 211 do CP. Quem subtrair cadáver de faculdade de medicina com o fim de
retirar o ouro existente na arcada dentaria incorrerá em crime de furto.
5. Objeto Jurídico: Tutela-se a posse e a propriedade.
6. Tipo objetivo
Subtrair significa retirar, pegar coisa alheia móvel, ou seja, qualquer objeto ou
substância corpórea que tenha valor econômico e que possa ser removida,
destacada ou deslocada de um lugar para o outro.
Coisa alheia para os juristas não é só a pertencente a outrem, mas também a
que se acha legitimamente na posse de terceiro.
O tipo exige o ânimo do agente em assenhorar-se da coisa alheia. Doutrina e
jurisprudência admitem o furto cometido por ladrão contra outro ladrão,
reconhecendo, contudo, como sujeito passivo, o proprietário original da coisa.
7. Tipo Subjetivo
O tipo requer dois elementos subjetivos: o primeiro dolo do agente é genérico,
a vontade livre e consciente de subtrair coisa alheia móvel. O segundo exige
uma finalidade especial, o dolo específico, o fim de assenhorar-se da coisa em
definitivo, contido na expressão "para si ou para outrem" (animus furandi)
O furto de uso, ou seja, a fruição da coisa momentaneamente sem efetivo
prejuízo ao ofendido, com restituição da coisa no estado em que antes se
encontrava não é contemplado pela norma penal em estudo. O furto de uso
somente será reconhecido se não era exigível outra conduta do agente a não
ser sacrificar direito alheio, como subtrair o veículo da vítima para socorrer o
filho ao hospital, por exemplo.
Será excluído o dolo e, consequentemente, o fato será considerado atípico se
o agente subtrair coisa alheia pensando ser própria (erro de tipo).
É pacífico na jurisprudência o reconhecimento do estado de necessidade em
caso de furto famélico. É imperativo que a conduta do agente se realize com o
único objetivo de saciar a fome, num estado de extrema penúria, não podendo
esperar mais, por ser a situação insuportável e que somente por meio do ato
ilícito consiga resolver o problema de falta de alimentação.
8. Consumação
Ocorre no momento em que o agente tem a posse tranquila da coisa, ainda que
por pouco tempo. Consuma-se quando a coisa sai da esfera de disponibilidade
e de proteção da vítima e ingressa na disponibilidade do sujeito ativo.
Para a jurisprudência do STF, para a consumação dos crimes de furto e de
roubo basta a posse do bem em poder do agente, independentemente de
vigilância da vítima ou posse tranquila, de modo que a fuga logo após o furto
caracteriza a inversão da posse, e o furto está consumado mesmo havendo
perseguição imediata e consequente retomada do objeto (teoria do amotio).
Sendo crime instantâneo, a consumação se verifica no exato instante em que
o delito é cometido. O crime também restará consumado quando a coisa estiver
ocultada, mesmo encontrando-se perto da vítima.
9. Tentativa
Crime material, exigindo assim o resultado naturalístico, a tentativa é
perfeitamente admissível na hipótese de o agente não conseguir subtrair a
coisa por circunstâncias alheias à sua vontade. Também caracteriza a tentativa
na hipótese de ser perseguido pela polícia e preso logo após a subtração, pois
a coisa não saiu da esfera de proteção e disponibilidade da vítima.
10. Furto e a desistência voluntária, arrependimento eficaz, arrependimento
posterior e crime impossível
Diferentemente da tentativa em que a não consumação ocorre por
circunstâncias alheias à vontade do agente, na desistência voluntária e no
arrependimento eficaz (art. 15), a execução é interrompida pela própria vontade
do agente (medo, remorso, baixa qualidade do objeto material, dor de barriga).
Ocorre desistência voluntária, por exemplo, se A ingressa na residência de B,
mas por qualquer motivo, desde que voluntário, desiste de prosseguir e foge
sem nada levar. Responde por invasão de domicílio. Arrependimento é
considerado eficaz se A subtrai um livro de B e antes de ter sua posse tranquila
devolve o objeto. Sua conduta foi de encontro com à continuidade do processo
de execução de uma típica iniciada.
Desistência voluntária e arrependimento eficaz
Art. 15. O agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir na execução ou
impede que o resultado se produza, só responde pelos atos já praticados.
Arrependimento posterior
Art. 16. Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa,
reparado o dano ou restituída a coisa, até o recebimento da denúncia ou da
queixa, por ato voluntário do agente, a pena será reduzida de um a dois terços.
O arrependimento posterior é uma causa especial de diminuição de pena e só
tem aplicação nos crimes materiais, pois seu reconhecimento se verifica com a
reparação do dano ou a restituição da coisa. O indivíduo que, voluntariamente,
decorrido de alguns dias após o furto de um veículo, arrepende-se e comunica
à vítima o local onde o mesmo se encontra será beneficiado por esta entidade
criminal.
11. Repouso Noturno
É o período em que as pessoas descansam de acordo com os costumes de
cada região do País, a vítima encontra-se mais vulnerável e por isso a pena
será aumentada de um terço. Doutrina e jurisprudência são pacíficas ao
admitirem sua aplicação apenas ao furto simples.
12. Furto de Pequeno Valor e Criminoso Primário
Se o criminoso é primário e é de pequeno valor a coisa furtada o juiz pode
substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços
ou aplicar somente a pena de multa. Primário é o sujeito que não é reincidente,
isto é, aquele que mesmo cometendo outros crimes ainda não foi
definitivamente condenando. Pequeno valor é aquele em que a coisa furtada
não ultrapassa o valor equivalente ao salário mínimo vigente à época do fato
criminoso.
13. O Privilégio e o Furto Qualificado
Segundo reiterada jurisprudência do STJ, não se aplica ao crime de furto
qualificado o beneficio previsto no parágrafo 2º do art. 155 do CP, uma vez que
a existência da qualificadora inibe a aplicação do privilégio, não obstante a
primariedade e o pequeno valor ou pequeno prejuízo, em razão da flagrante
incompatibilidade.
14. Furto de Energia Elétrica
Equipara-se a coisa móvel a energia elétrica ou qualquer outra que tenha valor
econômico.
Captar energia antes de sua passagem pelo aparelho medidor configura o
delito, considerado permanente, possibilitando, assim, a prisão em flagrante do
agente enquanto perdurar seu efeito. Se o agente, porém, alegrar o relógio de
luz e passar a pagar metade da energia elétrica consumida, o crime será de
estelionato.
A ligação clandestina para a utilização de TV por assinatura, conhecida como
"gato", para nós, não pode ser equiparada a furto de energia elétrica. O fato é
ilícito, mas não chega a ser típico. A conduta deve ser apurada na esfera cível.
A energia elétrica quando subtraída depois e armazenada, causa perda
patrimonial, diferentemente do sinal de TV a cabo, em que sua utilização não
gera dano, isto é, não há perda de energia de valor econômico, mas ausência
de ganho por parte da empresa.
15. Furto Qualificado
A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, se o crime é cometido:
I - com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa;
A violência aqui é empregada contra obstáculo que está impedindo a subtração
da coisa.
II - com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza;
Abuso de confiança é a quebra da fidelidade, do vínculo de amizade existente
entre algumas pessoas. Emerge de uma condição particular de lealdade. É
preciso gozar absolutamente de confiança para incidir na qualificadora.
Fraude é o ardil na prática do crime, o engodo, a mentira, o embuste, utilizados
para facilitar a subtração da coisa. A conduta do agente nesta espécie de furto
é no sentido de subtrair os bens da vítima iludindo-a momentaneamente, o
delito é cometido sempre sobre a vigilância da vítima. A qualificadora também
se aplica quando a vítima não tem capacidade de entender o caráter ilícito do
fato, como o doente mental ou uma criança.
Difere do estelionato, pois neste a vítima é enganada, seu consentimento é
viciado pelo erro. A própria vítima faz a entrega da vantagem ilícita ao agente.
O sujeito, mediante fraude, cria no espírito da vítima um sentimento distorcido
da realidade. No furto com fraude haverá sempre subtração como a ladra
profissional que se finge de doméstica para furtar a casa que se empregou.
Escalada é a qualificadora que se caracteriza pelo ingresso no local pretendido
por via anormal demandando um esforço incomum do agente para vencer o
obstáculo existente, como numa residência subindo uma árvore ou um muro
alto, ou ainda escavando um túnel etc.
Destreza é a habilidade manual do agente, por exemplo, o batedor de carteira.
III - com emprego de chave falsa;
Considera-se chave falsa todo e qualquer instrumento, com ou sem forma de
chave como a gazua, moca, alfinete, arame etc. Capaz de abrir fechadura ou
dispositivo análogo. Se a verdadeira chave encontra-se na fechadura haverá o
furto simples, pois "porta fechada com chave na fechadura é porta aberta", mas
se for conseguida ardilosamente para o cometimento do delito, como, por
exemplo, subtraí-la da bolsa da vítima para depois adentrar sua residência,
qualificadora será fraude.
IV - Mediante concurso de duas ou mais pessoas.
A norma busca impedir a somatória de forças para o cometimento do crime,
enfraquecendo, assim, a resistência do ofendido. Basta que apenas um dos
agentes seja culpável. Desse modo, nada impede para a sua configuração a
participação de inimputáveis.
16. Furto e o Concurso de Crimes: Ao furto nos demais crimes contra o
patrimônio aplicam-se as regras do concurso material, formal e do crime
continuado.
17. Parágrafo 5º do art. 155
§ 5º - A pena é de reclusão de três a oito anos, se a subtração for de veículo
automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior.
Requer o tipo penal o elemento subjetivo especial (dolo específico), ou seja,
deve o agente ter consciência de que está ultrapassando os limites de um
Estado ou país com o objeto material. É necessário, portanto, para a
consumação do delito, que o veículo tenha transportado as fronteiras do Estado
ou do território nacional.
O crime de subtração de veículo que venha a ser transportado para outro
Estado ou para o exterior só se consuma após o seu exaurimento.
18. Concurso de Qualificadoras
Incidindo duas ou mais qualificadoras no furto o entendimento prevalente é de
que apenas uma será aplicada, servindo aos demais como agravantes
genéricas. Há, todavia, quem entenda que a pluralidade de qualificadoras
interfere na dosagem da pena como circunstância judicial.
FURTO DE COISA COMUM
Art. 156. Subtrair o condômino, coerdeiro ou sócio, para si ou para outrem, a
quem legitimamente a detém, a coisa comum:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.
§ 1º - Somente se procede mediante representação.
§ 2º - Não é punível a subtração de coisa comum fungível, cujo valor não
excede a quota a que tem direito o agente.
1. Classificação Doutrinária
Crime próprio, de dano, material, não transeunte, instantâneo, comissivo ou
omissão impróprio, unissubjetivo, plurissubsistente, de forma livre e admite
tentativa.
2. Sujeito Ativo: É somente o condômino, coerdeiro ou sócio. Trata-se de crime
próprio que se comunica em caso de concurso de pessoas.
3. Sujeito Passivo: Pode ser o condômino, o coerdeiro, o sócio, ou ainda um
terceiro quem detém legitimamente a coisa
4. Objeto Material:
A conduta recai sobre a coisa subtraída. É o que incide, por exemplo, o
proprietário de um apartamento que subtrai da área comum de um prédio um
relógio de parede.
5. Objeto Jurídico: Tutela-se a propriedade ou a posse legítima.
6. Tipo Objetivo
A conduta consiste em subtrair, que tem o significado de retirar, pegar coisa
comum de quem legitimamente a detém, isto é, a coisa que pertence não
apenas ao agente, mas também a outras pessoas. Condômino é o proprietário
que divide o domínio da mesma coisa com outras pessoas. Herdeiro é o
sucessor que concorre a uma herança (patrimônio falecido que transmite aos
herdeiros) deixada pelo de cujus. Sócio é o membro de uma sociedade (reunião
de duas ou mais pessoas que mediante contrato se obriga, a combinar seus
esforços ou bens para a consecução de fins comuns).
7. Tipo Subjetivo
É o elemento específico do tipo, dolo específico dos clássicos, consubstanciado
na expressão para si ou para outrem, qual seja, a finalidade de
assenhoraremos da coisa comum.
8. Consumação
Ocorre quando a coisa comum sai da esfera de proteção do sujeito passivo.
Passa o agente a ter posse tranquila da coisa comum, ainda que por pouco
tempo.
9. Tentativa
Quando a coisa comum não sai da esfera de disponibilidade do ofendido por
circunstâncias alheias à vontade do condômino, herdeiro ou sócio.
10. Coisa Fungível
Não é punível a subtração de coisa fungível, cujo valor não excede a quota que
tem direito o agente, coisa fungível é aquela que pode ser substituída por outra
da mesma espécie, qualidade e quantidade. Trata-se de causa excludente de
ilicitude. Por outro lado, haverá o delito em estudo se a coisa foi infungível, qual
seja, a que não por ser substituída por outra.
11. Ação Penal
O crime é de ação pública condicionada. Somente se procede mediante
representação do ofendido. Infração de menor potencial ofensivo sujeita as
normas da Lei nº 9.099/1995.
ROUBO
Art. 157.
Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça
ou violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à
impossibilidade de resistência:
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.
§ 1º - Na mesma pena incorre quem, logo depois de subtraída a coisa, emprega
violência contra pessoa ou grave ameaça, a fim de assegurar a impunidade do
crime ou a detenção da coisa para si ou para terceiro.
§ 2º - A pena aumenta-se de um terço até metade:
I - se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma;
II - se há o concurso de duas ou mais pessoas;
III - se a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente conhece
tal circunstância.
IV - se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para
outro Estado ou para o exterior;
V - se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade.
§ 3º - Se da violência resulta lesão corporal grave, a pena é de reclusão, de
sete a quinze anos, além de multa; se resulta morte, a reclusão é de vinte a
trinta anos, sem prejuízo da multa.
1. Classificação Doutrinária
Crime comum, material, instantâneo, de forma livre, de dano, unissubjetivo,
comissivo ou omissivo impróprio, plurissubsistente, complexo e admite
tentativa.
2. Sujeito Ativo: Qualquer pessoa.
3. Sujeito Passivo
Pode ser qualquer pessoa, mas sendo crime que tem tutelados vários objetos
jurídicos, nada impede o surgimento de dois ou mais ofendidos, como ocorre,
por exemplo, com aquele que sofre violência e o outro que tem o bem subtraído
durante a ação criminosa.
Em regra, porém, sujeito passivo é o titular do direito da propriedade ou da
posse.
4. Objeto Material: A conduta criminosa recai sobre a pessoa e coisa alheia
móvel.
5. Objeto Jurídico
A lei tutela o patrimônio (posse e propriedade), a vida, a integridade física, a
saúde e a liberdade pessoal, daí ser considerado crime complexo em que são
conjugados emprego de violência ou ameaça e a subtração patrimonial.
6. Tipo Objetivo
O tipo refere-se à subtração de coisa móvel alheia, mas é acrescido pelo
emprego de violência, grave ameaça ou qualquer outro meio que reduza a
possibilidade de resistência da vítima. A violência pode ser:
A) física (vis absoluta) que compreende as vias de fato, lesão corporal leve,
grave ou morte (essas duas últimas qualificam o delito);
B) moral (vis compulsiva) que se constata em atemorizar ou amedrontar a
vítima com ameaças, gestos ou simulações, como a de portar arma, por
exemplo. A ameaça pode ser dirigida à vítima ou a terceiro;
C) imprópria é a que reduz a capacidade de resistir, como a superioridade
física do agente, colocar droga na bebida da vítima, jogar areia nos seus olhos,
hipnotizá-la, induzi-la a ingerir bebida alcoólica até a embriaguez etc.
O roubo difere do furto qualificado pelo rompimento de obstáculo porque neste
a violência é exercida contra a coisa, naquele, contra a pessoa. Em outras
palavras, roubo nada mais é que um furto cometido com violência ou grave
ameaça contra a pessoa.
Objetos que estão presos ao corpo como brinco, corrente, relógio, pulseira etc.,
e que são arrancados pelo ladrão caracterizam o roubo. Quando soltos como
boné, óculos, bolsa, celular etc., o crime é de furto.
Não se aplica no furto o princípio da insignificância, haja vista que a conduta
do agente revela maior periculosidade e atinge não apenas o patrimônio do
ofendido, mas também a sua integridade física, sua saúde e até sua vida em
caso de latrocínio.
Institutos como o crime impossível, o roubo de uso, o pequeno valor da coisa,
o estado de necessidade etc., que podem ser admitidos no furto não o são no
roubo por tutelar outros bem jurídicos e não apenas o patrimônio do ofendido.
7. Tipo Subjetivo
O tipo requer dolo duplo: o primeiro, genérico, consistente na vontade livre e
consciente de subtrair coisa móvel alheia mediante violência ou grave ameaça;
o segundo, elemento subjetivo especial do tipo, exige que a subtração seja para
o agente ou para terceiro. É o dolo específico dos clássicos contido na
expressão "para si ou para outrem".
8. Consumação do roubo impróprio
Predomina na doutrina o entendimento de que o crime consuma-se quando o
agente tem a posse tranquila da coisa, ainda que por pouco tempo ou quando
a coisa subtraída sai da esfera de proteção, de disponibilidade da vítima.
Também se diz consumado o delito quando a vítima não recupera os objetos
subtraídos, mesmo em casos de prisão em flagrante. Restará consumado ainda
quando a vítima permanece dominada pelo autor do roubo no interior do
veículo, perdendo a disponibilidade do bem.
Na jurisprudência, porém, tem-se entendido como consumado o delito quando
ocorre a subtração dos bens da vítima, mediante violência ou grave ameaça,
ainda que, em seguida, o próprio ofendido detenha o agente e recupere a res.
9. Tentativa
No roubo próprio o entendimento é pacífico no sentido de sua admissibilidade.
Ocorre quando o agente após o emprego de violência ou grave ameaça não
consegue efetivar a subtração da coisa por circunstâncias alheias à sua
vontade nem tem a posse tranquila da coisa, ainda que por breve tempo.
10. Roubo impróprio
É aquele em que o agente logo depois de subtraída a coisa emprega violência
contra a pessoa ou grave ameaça a fim de assegurar a impunidade do crime
ou a detenção da coisa para si ou para terceiro.
No roubo próprio a violência ou grave ameaça é praticada antes ou durante a
subtração da coisa. No impróprio ela é cometida logo depois de subtraída a
coisa para assegurar a impunidade do crime ou a detenção da coisa.
Na hipótese de o agente ser surpreendido pela vítima em sua residência e
abandonar o objeto material empregando violência para a fuga, o crime a ser
reconhecido é o de tentativa de furto em concurso material com lesão corporal.
11. Tentativa de roubo impróprio
Entendemos não ser possível a tentativa de roubo impróprio. Ou o agente
emprega a violência ou a grave ameaça, logo depois de subtraída a coisa e o
crime se consuma, ou não subtrai a coisa, mas emprega violência para fugir e,
então, o crime será de tentativa de furto em concurso material de lesão
corporal.
E outra partem deve-se reconhecer o furto e não o roubo impróprio na ação do
agente que após a subtração se desvencilha do ofendido que o agarra, sem
contudo, ameaçá-lo ou agredi-lo e foge com a res.
12. Causas de aumento de pena
I - se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma;
O fundamento da agravante reside no maior perigo que o emprego da arma
envolve motivo pelo qual é indispensável que o instrumento usado pelo agente
(arma própria ou imprópria), tenha idoneidade para ofender a incolumidade
física.
Com o cancelamento da Súmula 174 do STJ que autorizava o aumento de pena
quando o agente utilizava arma de brinquedo para cometer o crime, esta
conduta passou a ser considerada uma grave ameaça relacionada ao roubo
simples.
II - se há o concurso de duas ou mais pessoas;
A doutrina prevalente assevera que não há necessidade de estarem todos os
agentes presentes no local do crime, basta haver o concurso de duas ou mais
pessoas.
III - se a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente
conhece tal circunstância.
A norma tutela aqueles que transportam valores. Qualquer tipo de valor como
ouro, dinheiro, pedras preciosas etc. O agente deve saber que a vítima está a
transportar valores, dolo direto, portanto.
IV - se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado
para outro Estado ou para o exterior;
Para a consumação do delito é necessário que o veículo seja levado para outro
Estado ou país, não havendo, assim, possibilidade de ocorrer tentativa. Ou leva
e ingressa com o veículo em outro Estado ou país e o crime está consumado,
ou não ingressa e o crime será de furto ou roubo conforme a circunstância.
V - se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade.
objeto do agente, após o emprego da violência ou grave ameaça, é manter a
vítima em seu poder e assim facilitar a subtração. A restrição de liberdade da
vítima deve ser por tempo razoável, suficiente para que o agente consuma o
delito sem ser descoberto pela polícia.
13. Pluralidade de causas de aumento de pena
Muito comum na prática a incidência de mais de uma majorante no roubo.
Diverge a doutrina quanto à aplicação da pena. A primeira corrente entende
que o juiz aplicará apenas uma majorante e a outra funcionará como
circunstância judicial na fixação da pena-base. A segunda assevera que o
número de majorantes deve ser proporcional ao número de causas presentes.
Duas ou mais permitem ao juiz aumento a pena de dois quintos até a metade.
14. Qualificadoras do roubo
Se a violência resulta lesão corporal grave, a pena é de reclusão, de 7 a 15
anos, além de multa; se resulta morte, a reclusão é de 20 a 30 anos, sem
prejuízo de multa. Trata-se de crime considerado qualificado pelo resultado em
que as lesões graves ou morte podem advir de dolo ou culpa.
O tipo fala em violência que deve ser entendida como física e não moral, logo
se a vítima num roubo, mediante grave ameaça, vier a morrer em virtude de
uma parada cardíaca, o crime será de roubo em concurso material com
homicídio e não de latrocínio.
15. Homicídio consumado e roubo consumado: Haverá latrocínio.
16. Homicídio tentado e roubo tentado: Haverá tentativa de latrocínio.
17. Tentativa de homicídio e roubo consumado: Haverá tentativa de latrocínio.
18. Homicídio consumado e roubo tentado
Haverá latrocínio. Doutrina e jurisprudência têm considerado consumado o
latrocínio quando ocorre a morte da vítima, ainda que o agente não tenha
logrado apossar-se da coisa que pretendia subtrair.
19. Roubo com pluralidade de vítimas
Doutrina e jurisprudência são unanimes em reconhecer o concurso formal
quando o delito é cometido contra várias vítimas num mesmo contexto. Assim,
lesionou o patrimônio de duas vítimas, aplica-se o concurso formal.
De outra parte, quando o agente mediante mais de uma ação ou omissão,
praticar vários roubos (crimes considerados da mesma espécie) e pelas
condições de tempo (nao pode ultrapassar 30 dias), lugar (devem ser
próximos), maneira de execução (modus operandi) e outras semelhantes,
devem os subsequentes ser havidos como continuação do primeiro, poderá se
reconhecer o crime continuado. Isto é uma ficção jurídica, pois há uma
pluralidade de delitos, mãos legislador presume que eles constituem um só
crime, apenas para efeito de sanção penal. Nesses casos, aplica-se a regra do
art. 71, ou seja, dependendo das circunstâncias jurídicas, a pena de um só dos
crimes poderá ser aumentada até o triplo.
EXTORSÃO
Art. 158.
Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o intuito de
obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que
se faça ou deixar fazer alguma coisa:
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.
§ 1º - Se o crime é cometido por duas ou mais pessoas, ou com emprego de
arma, aumenta-se a pena de um terço até metade.
§ 2º - Aplica-se à extorsão praticada mediante violência o disposto no § 3º do
artigo anterior.
§ 3o Se o crime é cometido mediante a restrição da liberdade da vítima, e essa
condição é necessária para a obtenção da vantagem econômica, a pena é de
reclusão, de 6 (seis) a 12 (doze) anos, além da multa; se resulta lesão corporal
grave ou morte, aplicam-se as penas previstas no art. 159, §§ 2o e 3o,
respectivamente. (Incluído pela Lei nº 11.923, de 2009)
1. Classificação doutrinária
Crime comum, formal ou material, de forma livre, instantâneo, unissubjetivo,
plurissubsistente, comissivo, doloso, de dano, complexo e admite tentativa.
2. Sujeito ativo: Qualquer pessoa
3. Sujeito passivo
Qualquer pessoa. É possível a existência de dois sujeitos passivos ao mesmo
tempo; o que sofre a lesão patrimonial e o que sofre o constrangimento. A
pessoa jurídica tambem pode ser sujeito passivo do crime.
4. Objeto material: A condita delitiva recai sobre a pessoa humana e a coisa
móvel ou imóvel.
5. Objeto jurídico
Tutela-se não apenas a inviolabilidade do patrimônio, mas também a vida, a
liberdade pessoal e a integridade física e psíquica da pessoa humana.
6. Tipo objetivo
A conduta consiste em constranger (obrigar, forcar, coagir), mediante violência
(física: vias de fato ou lesão corporal) ou grave ameaça (moral: intimidação
idônea explicita ou explicita que incute medo no ofendido) com o objetivo de
obter para si ou para outrem indevida (injusta, ilícita) vantagem econômica
(qualquer vantagem seja de coisa móvel ou imóvel).
Haverá constrangimento ilegal se a vantagem não for econômica e exercício
arbitrário das próprias razoes se a vantagem for devida.
7. Tipo subjetivo
O tipo é composto de dolo duplo: o primeiro constituído pela vontade livre e
consciente de constranger alguém mediante violência ou grave ameaça, dolo
genérico; o segundo exige o elemento subjetivo do tipo específico na expressão
"com intuito de".
8. Consumação
Discute-se na doutrina se o crime de extorsão é formal ou material. Para os que
o consideram formal, a consumação ocorre independentemente do resultado.
Basta ser idôneo ao constrangimento imposto à vítima, sendo irrelevante a
enfeitava obtenção da vantagem econômica indevida.
O comportamento da vítima nesse caso é fundamental para a consumação do
delito. É a indispensabilidade da conduta do sujeito passivo para a consumação
do crime, se o constrangimento for sério, idôneo o suficiente para ensejar a
ação ou omissão da vítima em detrimento do seu patrimônio, perfaz-se o tipo
penal do art. 168 do CP.
Da outra parte, se entendido como crime material, a consumação se dará com
obtenção de indevida vantagem econômica. Seguimos esse entendimento,
para nós o crime de extorsão é material consumando-se com a efetiva obtenção
indevida vantagem econômica.
9. Tentativa
Admite-se quer considerando o crime formal ou material. Surge quando a vítima
mesmo constrangida, mediante violência ou grave ameaça, não realiza a
condita por circunstâncias alheias à vontade do agente. A vítima, então não se
intimida, vence o medo e denuncia o fato a polícia.
A tentativa, portanto, ocorrerá quando praticada a violência ou grave ameaça
com o intuito de obter vantagem econômica indevida e a vítima não cumpre o
exigido pelo agente.
10. Diferença entre extorsão e roubo
Para os clássicos a distinção infalível é a de que no roubo o agente toma a
coisa por sim mesmo; na extorsão faz com que lhe seja entregue. Embora a
extorsão se assemelhe ao roubo em face da pena, dos meios de execução, da
natureza e da objetividade jurídica, com ele não se confunde. Ademais, não
são considerados crimes da mesma espécie. No roubo o agente subtrai a coisa
e na extorsão a vítima é quem lhe entrega; no roubam o comportamento da
vítima não é imprescindível para a sua realização (nao é necessário que
colabore com o agente); na extorsão, ele é fundamental (há a necessidade de
colaboração da vítima); no roubo o mal é iminente; na extorsão o roubo é futuro.
11. Causas de aumento de pena
Se o crime é cometido por duas ou mais pessoas, ou com emprego de arma,
aumenta-se a pena de um terço até a metade. Há necessidade das duas
pessoas estarem presentes no local dos fatos para incidir na majorante, assim
como o emprego efetivo da arma quando da realização do delito.
No caso de ocorrer morte ou lesão corporal grave, o fato de o coautor não haver
disparado a arma, não afasta a sua responsabilidade pela extorsão qualificada.
Se resultar em morte, o crime é tipificado como hediondo
EXTORSÃO MEDIANTE SEQUESTRO (SEQUESTRO RELÂMPAGO)
Art. 159. Seqüestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem,
qualquer vantagem, como condição ou preço do resgate:
Pena - reclusão, de oito a quinze anos.
§ 1º Se o seqüestro dura mais de 24 (vinte e quatro) horas, se o seqüestrado é
menor de 18 (dezoito) ou maior de 60 (sessenta) anos, ou se o crime é cometido
por bando ou quadrilha.
Pena - reclusão, de doze a vinte anos.
§ 2º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:
Pena - reclusão, de dezesseis a vinte e quatro anos.
§ 3º - Se resulta a morte:
Pena - reclusão, de vinte e quatro a trinta anos.
§ 4º - Se o crime é cometido em concurso, o concorrente que o denunciar à
autoridade, facilitando a libertação do sequestrado, terá sua pena reduzida de
um a dois terços.
1. Classificação doutrinaria
Crime comum, doloso, formal, permanente, de dano, plurisubsistente, de forma
livre, comissivo, não transeunte, unissubjetivo, hediondo e admite tentativa.
2. Sujeito ativo
Qualquer pessoa. Sujeito ativo do crime é todo aquele que pratica qualquer
conduta necessária para a obtenção do resultado almejado durante o período
consumativo do crime, exemplo, o vigia do cativeiro, o mensageiro, o
seqüestrador, o mentor do plano.
3. Sujeito passivo
Qualquer pessoa, consignando que, na maioria das vezes, figuram no polo
passivo o sequestrado e quem sofre a lesão patrimônios, geralmente membro
da família. A pessoa jurídica pode ser sujeito passivo quando compelida a
pagar o valor do resgate.

4. Objeto material
A conduta criminosa recai sobre a pessoa humana privada de liberdade bem
como aquele que tem diminuído o seu patrimônio.
5. Objeto jurídico
Tutela-se, pelo rigor falena cominada, não apenas o patrimônio e a liberdade
de locomoção do ofendido, mas também a sua vida e a integridade física.
6. Tipo objetivo
A conduta gira em torno de sequestrar pessoa, isto é, privá-la de liberdade de
locomoção, arrebatá-la, com o fim de obter vantagem de natureza econômica
ou patrimonial. A posição dominante da doutrina crê a vantagem econômica
deve ser indevida, pois do contrário haveria sequestro em concurso formal com
exercício arbitrário das próprias razoes.
7. Tipo subjetivo
O tipo requer além do dolo genérico, definido como a vontade livre e consciente
de seqüestrar pessoa, o elemento específico do tipo, o denominado dolo
específico, contido na expressão "com o fim de obter para si ou para outrem",
qualquer vantagem como condição ou preço do resgate.
8. Consumação
Por tratar-se de crime formal, consuma-se com o sequestro
independentemente da vantagem patrimonial, isto é, a consumação opera-se
no momento em que ocorre a privação da liberdade da vítima
independentemente do efetivo recebimento do resgate. Suprimida a liberdade
de locomoção da vítima por um período relevante, além do intuito de obter, por
esse meio, qualquer vantagem econômica, o crime está consumado.
Na jurisprudência predominante o entendimento de que o crime se configura
mesmo quando os criminosos não conseguem obter o resgate e ainda que não
tenham tido tempo pedi-lo.
9. Tentativa
Possível somente se o item criminis for interrompido no início da execução do
delito por circunstâncias alheias à vontade do agente, bem como se comprovar
a real intenção dos delinquentes, qual seja, a de sequestrar com a finalidade
de obter vantagem como condição ou preço do resgate.
Assim, pode-se reconhecer, na prática, a extorsão mediante sequestro tentada
nos seguintes casos:
A) Prisão em flagrante;
B) Fuga dos sequestradores quando interceptados pela polícia;
C) Conseguir a vítima desvencilhar-se do sequestrador.
10. Extorsão mediante sequestro qualificada
Se o sequestro dura mais de 24h, se o sequestrado é menor de 18 e maior que
60 anos, ou se o crime é cometido por bando ou quadrilha a pena será de
reclusão de 12 a 20 anos. Quanto maior o tempo em que a vítima estiver em
poder do criminoso, maior será o dano à saúde e integridade física.
Quanto ao crime cometido por bando ou quadrilha, entende-se como a reunião
permanente de mais de três pessoas para cometer e não uma reunião
ocasional para cometer o sequestro.
Predomina na doutrina e jurisprudência o entendimento de que se o crime for
praticado por mais de três pessoas que se reuniram especificamente para tal
desiderato, sem associarem-se de forma estável e permanente, haverá
concurso de pessoas, não incidindo a qualificadora.
11. Extorsão mediante sequestro com lesão corporal grave
Se o fato resulta lesão corporal de natureza grave a pena será de reclusão de
16 a 24 anos; se resulta a morte a pena será de reclusão de 24 a 30 anos.
Observa-se de imediato a diferença deste delito com o de roubo qualificado
pelo resultado. No art. 157 do CP a lei diz: "se da violência resultar lesão grave
ou morte"; logo, num roubo em que vítima cardíaca diante de uma ameaça vem
a falecer, haverá roubo em concurso material com homicídio e não latrocínio.
O tipo exige o emprego da violência. Na extorsão mediante sequestro a lei
menciona: "se dos ato resultar lesão grave ou morte", pouco importando para
qualificar o delito que a lesão grave seja culposa ou dolosa.. Evidentemente,
se a lesão grave ou morte resultar de caso fortuito ou força maior, o resultado
agravados não poderá ser imputado ao agente.
A qualificadora somente atinge o sequestrado e não terceira pessoa.
12. Extorsão mediante sequestro e tortura
Entendemos que os institutos possuem objetividades jurídicas distintas e
autônomas. Na extorsão são mediante sequestro ofende-se o patrimônio, a
liberdade de ir e vir e a vida. Na tortura atinge-se a dignidade humana,
consubstanciada na integridade física e mental. Cm efeito, a nosso, juízo, nada
impede o reconhecimento do concurso material de infrações.
13. Delação premiada
O benefício somente se aplica quando o crime for cometido em concurso de
pessoas, devendo o acusado fornecer às autoridades elementos capazes de
facilitar a resolução do crime. Causa obrigatória de diminuição de pena se
preenchidos os requisitos estabelecidos pelo parágrafo 4º do art. 159, qual
seja, denúncia à autoridade (juiz, delegado ou promotor) feita por um dos
concorrentes, e esta facilitar a libertação da vítima. Faz-se mister salientar que,
se não houver a libertação do seqüestrado, mesmo havendo delação do
coautor, não haverá diminuição de pena.
Não se confunde com a confissão espontânea, pois nesta o agente garante
confessa sua participação no crime, sem incriminar outrem.
EXTORSÃO INDIRETA
Art. 160. Exigir ou receber, como garantia de dívida, abusando da situação de
alguém, documento que pode dar causa a procedimento criminal contra a
vítima ou contra terceiro:
Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.
1. Classificação doutrinária
Crime comum, doloso, de dano, formal (exigir) e material (receber),
instantâneo, comissivo, de forma vinculada, unissubjetivo, unissubsistente
(exigir) ou plurissubsistente (receber) e admite tentativa.
2. Sujeito ativo
Qualquer pessoa.
3. Sujeito passivo
Qualquer pessoa. Em regra é o devedor que entrega o documento ao
extorsionário e que pode lhe dar causa a um procedimento criminal. Nada
impede, todavia, o surgimento de dois sujeitos passivos: o que entrega o
documento e aquele contra quem pode ser iniciado o processo.
4. Objeto material
A conduta recai sobre o documento que pode dar causa a um procedimento
criminal contra o devedor, como a confissão de um crime, a falsificação de um
título de crédito, uma duplicata fria etc.
5. Objeto jurídico
Tutela-se o patrimônio e a liberdade individual do ofendido.
6. Tipo objetivo
A conduta consiste em exigir (obrigar, ordenar) ou receber (aceitar) um
documento que pode dar causa a procedimento criminal contra a vítima ou
terceiro. É abusar da situação daquele que necessita urgentemente de auxílio
financeiro. Necessário para a configuração do delito que o documento exigido
ou recebido pelo agente, que pode ser público ou particular, se preste a
instauração de inquérito policial contra o ofendido. Não se exige a instauração
do procedimento criminal, basta que o documento em poder do credor seja
potencialmente apto a iniciar o processo.
7. Tipo subjetivo
O tipo requer não apenas o dolo genérico, vontade livre e consciente de exigir
ou receber como garantia de dívida determinado documento, mas também o
dolo específico constituído pela finalidade de abusar da aflitiva situação de
alguém. É o que a doutrina de denomina dolo de aproveitamento.
8. Consumação
Na ação de exigir, crime formal, a consumação ocorre com a simples exigência
do documento pelo extorcionário. A iniciativa aqui é do agente, na conduta de
receber, crime material, a consumação ocorre com o efetivo recebimento do
documento. Nesse caso a iniciativas provém da vítima.
9. Tentativa
Na modalidade exigir, entendemos não ser possível sua configuração, embora
uma parcela da doutrina a admita com o sovado exemplo, também oferecido
nos crimes contra a honra, de a exigência ser reduzida por escrito, mas não
chegar ao conhecimento do ofendido. Na de receber, no entanto, é
perfeitamente possível, podendo o iter criminis ser interrompido por
circunstâncias alheias à vontade do agente.

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