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Linguagem Jornalística
Mídia, Tecnologia e
Linguagem Jornalística
Organizadores:
Emilia Barreto
Virgínia Sá Barreto
Cláudio Cardoso de Paiva
Sandra Moura
Thiago Soares
Editora do CCTA
João Pessoa
2014
Capa
Emilia Barreto
Projeto Gráfico
Emilia Barreto
Filipe Almeida
Diagramação
Filipe Almeida
CDU: 659.3
Sumário
APRESENTAÇÃO ...................................................................................................................... 6
Apresentação 7
O livro pode despertar o interesse dos leitores
preocupados com as formulações que intentam configurar
expressivas modalidades para interpretar (e explicar) os
paradoxos e controvérsias atuais. Com efeito, são apreciados na
obra os objetos, processos e interfaces no campo da comunicação
(e do jornalismo), com atenção às mutações que envolvem
a problemática trazida pelos processos de midiatização da
sociedade que criam as condições para fenômenos como o
“neojornalismo” (Ramonet). No mais, o livro é instigante, na
maneira como introduz – criticamente a (des)ordem causada
pela conjunção, disjunção e transmutação das palavras e as
coisas no universo desse novo jornalismo.
Resumo
A informação compartilhada pela Mídia Ninja (e circuito
FORA DO EIXO) tem gerado “surpresas” para o jornalismo
tradicional, ameaçado pelo seu modus operandi (ação direta,
liberdade e resistência do grupo). A divulgação dos protestos
urbanos e da repressão policial, junho 2013 – em tempo real –
concedeu evidência ao grupo ativista. E a entrevista com seus
mentores (Bruno Torturra e Pablo Capilé) no programa Roda
Viva (TV Cultura) reforçou a visibilidade do fenômeno, que
exige um olhar crítico, analítico, problematizador, pois mobiliza
questionamentos no campo do jornalismo e da comunicação.
Propomos uma interpretação do significado e da qualidade
do fenômeno Mídia Ninja, observando a entrevista, e sua
repercussão nas matérias monitoradas no site Observatório da
Imprensa, referência básica para a pesquisa em comunicação.
2 MÍDIA NINJA (Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação), grupo de mídia formado em 2011. Sua
atuação é conhecida pelo ativismo político e como alternativa à imprensa tradicional. As transmissões da
Mídia Ninja são em fluxo de vídeo em tempo real, pela internet, usando câmeras de celulares e unidade
móvel montada em um carrinho de supermercado. A estrutura da Mídia Ninja é descentralizada e
faz uso das redes sociais, especialmente o Facebook, na divulgação de notícias. O grupo teve origem
por meio da Pós-TV, mídia digital do circuito Fora do Eixo. Wikipedia, 2013. Disponível em: <http://
migre.me/gnS4S>. Acesso em: 24.10.2013
3 FORA DO EIXO, originalmente Circuito Fora do Eixo, é uma rede de coletivos atuando na área da
cultura em todo o Brasil, mais alguns países da América Latina. Iniciada em 2005, por produtores e
artistas de estados brasileiros fora do eixo Rio-São Paulo, inicialmente focava no intercâmbio solidário
de atrações e conhecimento sobre produção de eventos, mas cresceu para abranger outras formas de
expressão como o audiovisual, o teatro e as artes visuais, ainda que a música ainda tenha uma maior
participação na rede. Disponível em: <http://migre.me/gnSXP>.
4 Em 05.08.2013 estiveram no programa Roda Viva o jornalista Bruno Torturra e o produtor cultural
Pablo Capilé, ambos idealizadores do grupo Mídia Ninja. O projeto ficou conhecido por transmitir
em tempo real os principais protestos que eclodiram pelo Brasil. O jornalismo é feito com ativismo,
mas sem ligações diretas com partidos políticos. Eles criticam a imprensa convencional pela falta de
imparcialidade e dizem que a ideia é disseminar essa nova forma de transmitir a notícia – segundo eles,
sem filtro: “Um dos objetivos é se tornar desnecessário”, diz Capilé. Sobre os rumores de ligação com
partidos políticos, o produtor afirma: “Não somos organizados por partidos, não somos financiados
por partidos e não nos encontramos apenas com o PT”. Pablo explica que procuram diálogos com
representantes dispostos a ouvi-los. Nas mãos, um celular potente, na mochila, um notebook para
servir de bateria e a cara e a coragem de ir atrás da informação: assim trabalha um “Mídia Ninja”. O
trabalho dos jornalistas independentes ainda é visto com receio na mídia tradicional e Torturra diz
que acha curioso as pessoas questionarem se o que fazem é jornalismo. “O que pode ser discutido é a
forma como ele é feito”. O coletivo pretende agora ampliar o alcance e conseguir mais estrutura para
o trabalho. Estiveram na bancada de entrevistadores Suzana Singer, ombudsman da Folha de S. Paulo;
Alberto Dines, editor do site e do programa Observatório da Imprensa; Eugênio Bucci, colunista d’O
Estado de S. Paulo e da revista Época; Wilson Moherdaui, diretor da revista Telecom; e Caio Túlio
Costa, professor da ESPM e consultor de mídia digital. O programa foi conduzido por Mario Sergio
Conti e contou com a participação fixa do cartunista Paulo Caruso. In: site da TV Cultura – Roda Viva,
02/08/13.
5 Cf. Compilação no livro do ex-apresentador, Paulo Markun, O melhor do Roda Viva (2005).
6 MICHEL MAFFESOLI (entrevista). ‘Vejo esses movimentos como Maios de 68 pós-modernos’. In:
Jornal O Globo, 22.06.2013. Disponível em: http://migre.me/gmsmh Acesso em: 21.10.2013.
7 A existência do (circuito) Fora do Eixo, e por conseqüência da Midia Ninja, está atrelada a
transformações por que passamos nos últimos anos com o surgimento de novas formas de comunicação
pela internet. Está longe de ser um fenômeno no qual se esgota a possibilidade de compreensão e os
rumos que pode tomar. Mas, é importante frisar, o FdE, como a Mídia Ninja, é fruto de um momento
em que está em pauta uma nova maneira de se provocar debates no nível da cultura e no fluxo das
notícias. Mas parece claro que, como fenômeno de mídia, estamos diante de uma situação que coloca
em xeque a maneira habitual com a qual lidamos com a comunicação de massa. Na era das redes
sociais, para o bem e para o mal, o alcance de uma notícia, de um acontecimento contornável, está
além do que qualquer canal de comunicação antes podia sonhar, até a Rede Globo. Cf. In: site Fora do
Eixo, 21.08.2013.
8 O cenário (do programa Roda Viva) é circular, com três bancadas em terços de círculo, separadas
por três corredores relativamente estreitos. Atrás das três bancadas, outras três em um nível mais
alto completam o palco da ação – na forma de dois círculos concêntricos, em meio aos quais ficará o
convidado, em uma cadeira giratória, de modo a poder voltar-se rapidamente para qualquer ponto desse
panóptico, de onde lhe virá a próxima questão. A referência ao panóptico não é casual – o convidado
é visto por todos os lados e não sabe de onde será assestada a próxima pergunta. Cf. BRAGA, 2006.
“A gente faz jornalismo sim. Acho até curioso que ainda é uma dúvida
se o que a gente faz é ou não jornalismo.” (Bruno Torturra, respondendo
se o Mídia Ninja faz jornalismo ou não); “O PSDB tem como política não
dialogar com os movimentos sociais” (Pablo Capilé, sobre os apoios de
partidos); “Dependendo do partido é cartel, dependendo do partido é
quadrilha” (Pablo Capilé, sobre a postura da grande mídia); “Seria mais
honesto se ela assumisse uma parcialidade” ( Pablo Capilé, sobre a
imparcialidade da grande mídia); “Não acredito que exista um arauto da
imparcialidade” (Pablo Capilé, sobre o mesmo assunto); “A grande mídia
precisa entender que a nova objetividade vem da transparência” (Bruno
Torturra, sobre a objetividade); “Não somos organizados pelo PT. Não somos
financiados pelo PT” (Pablo Capilé, sobre o suposto apoio do PT); “É uma
pauta que a mídia não tem coragem ou não tem estudo suficiente para entrar
como deveria” (Bruno Torturra, sobre a postura da mídia frente ao assunto
drogas); “A mídia, em geral, tem muito medo de assumir a obviedade do
fracasso da guerra às drogas” (Bruno Torturra, sobre o mesmo assunto).
In: site AdNews, 06.08.2013.
A Mídia Ninja tem sido vista como um processo que traduz uma nova
modalidade de jornalismo, pois cumpre a função de reportar o acontecimento,
informar a opinião pública e criar quadros de referência para os telespectadores
formarem juízos de valor e tomarem decisões. Entretanto, há o problema da
Para concluir
Referências
O CHOQUE ENTRE DOIS MUNDOS NO RODA VIVA COM A MÍDIA NINJA. In:
Diário do Centro do Mundo (on line), (Kiko Nogueira, 06.08.2013). Disponível em.
http://migre.me/gmQsZ.
FAUSTO NETO, A. Olhares sobre a recepção através das bordas da circulação. In:
Anais do XVIII Encontro da Compós, PUC-MG, jun./2009. Disp. em: http://migre.
me/gmsVf .
RODA VIVA com Mídia Ninja destaca descompasso entre velha mídia e nova
realidade. In: Jornalismo B (on line), 05.08.2013. Disp. em: http://migre.me/gmQSX
Acesso em: 22.10.2013
MÍDIA NINJA: “É preciso oxigenar a velha mídia”. In: Congresso em Foco (site),
06.08.2013 [by Mariana Haubert]. Disponível em: http://migre.me/gmRiA A c e s s o
em: 22.10.2013
MÍDIA NINJA no programa Roda Viva. In: Luis Nassif (blog), 06.08.2013. Disponível
em: http://migre.me/gmR4f Acesso em: 22.10.2013.
MÍDIA NINJA dá um baile na bancada do Roda Viva. In: Blog do Rovai – Revista
Fórum, 06.08.2013. Disponibilizado em: http://migre.me/gmOTT. Acesso em:
22.10.2013
MÍDIA NINJA. In: Jornal O Globo - Cultura. On line (by Cora Ronái). Disponível em:
http://migre.me/gmPx7. Acesso em: 22.10.2013
PAIVA, C.C. A crítica da mídia na era digital. In: Observatório da Imprensa, 12.10.2010.
Disponível em: http://migre.me/gs1xp. Acesso em: 28.10.2013
RODA VIVA. Mídia Ninja e o fenômeno dos protestos. [Jorge Alberto Benitz, OI,
13/08/2013, ed. 759]. Disponível em: http://migre.me/gmpxN. Acesso em: 21.10.2013
RODA VIVA. A Mídia Ninja e as outras. [Luiz Zanin Oricchio, OI, 13/08/2013, ed.
759]. Disponível em: http://migre.me/gmpFp. Acesso em: 21.10.2013
RODA VIVA. O fim do jornalismo por ele mesmo. [Tiago de Paula Oliveira, OI,
15/08/2013, ed. 759]. Disponível em: http://migre.me/gmpQa. Acesso em: 21.10.2013.
OCCUPY. Movimentos de Protesto que tomaram as ruas. (Col. org. por Emir Sader).
São Paulo, Boitempo Editorial; Carta Maior, 2012.
10 FRASES do grupo Mídia Ninja no Roda Viva. In: site AdNews, 06.08.2013.
Disponível em: http://migre.me/gmQcH. Acesso em: 06.08.2013
Resumo
O texto contempla a interface jornalismo e mobilidade, observando
a inserção das tecnologias digitais e redes sociais móveis na
cobertura dos protestos, a exemplo das “jornadas de junho” (Brasil,
2013), greve dos garis (Carnaval do Rio, 2014) e manifestações
#NaoVaiTerCopa. Observa a atuação da Globo News e Folha de São
Paulo, e da independente Mídia NINJA, e examina as coberturas,
considerando as mudanças no jornalismo, com o advento das
tecnologias móveis, convergência e mobilidade. Parte da premissa
que a NINJA promoveu mudanças nas estratégias da mídia
corporativa, que adotou os seus métodos de transmissão.
Assim, o trabalho explora a tensão entre jornalismo tradicional
e jornalismo alternativo, a forma e o sentido da cobertura dos
protestos baseada em tecnologias 3G e 4G, smartphones, drones e
tecnologias vestíveis como o Google Glass.
3 Quando tratamos dos conceitos de jornalismo e mobilidade nesse trabalho, nos referimos à dimensão
da mobilidade dentro do jornalismo numa acepção histórica e, ao mesmo tempo, renovada para o
enquadramento a partir das tecnologias móveis e as formas de transmissão. Como aproximação para
o panorama atual podemos traduzir o jornalismo e a mobilidade como compreensão do jornalismo
móvel com a consideração de uma modalidade de jornalismo sendo realizada, em seus rituais, em
condições de mobilidade (física e informacional).
4 Não seria exagero afirmar que as transmissões ao vivo por celular ou smartphone observadas em
circunstâncias como as dos protestos no Brasil e em várias partes do mundo inauguram (ou ampliam)
uma nova estética de narrativa de caráter jornalístico com a introdução de elementos novos que
provocam olhares e mudanças para e no “ao vivo” consagrado pela televisão. A instantaneidade, a
hiperrealidade das imagens e o movimento do deslocamento na ação trazem à tona experiências
ambivalentes que merecem uma investigação de natureza empírica e reflexiva.
6 A Teoria Ator-Rede tem sua gênese na década de 1980 a partir de Bruno Latour, Michel Callon,
Madeleine Akrich, John Law, Wiebe Bijker voltada para os estudos em torno da ciência e tecnologia
com influência de Foucault, Deleuze e Guattari, Michel Serres e Gabriel Tarde. Se constituiu em uma
crítica à sociologia, mais especificamente à noção de sociologia do social. No artigo, não faremos
uma aplicação metodológica ou teórica da Teoria Ator-Rede, mas não deixaremos de mencionar as
aproximações.
7 Outro exemplo de atuação de actantes não-humanos no jornalismo pode ser ilustrado com o caso em
que a primeira notícia sobre o terremoto nos Estados Unidos, em março de 2014, foi produzida por
um “robô-jornalista”, que se utilizando de inteligência artificial por meio de algoritmos, extraiu dados
de forma instantânea dos computadores do Serviço de Pesquisa Geológica do país. O jornalismo de
dados começa a avançar por sistemas inteligentes não-humanos para a produção de conteúdo original.
In: Portal Imprensa, 18.03.2014. Disponível em <http://migre.me/kcz8w> . Acesso em: 18 mar. 2014
8 O conceito de jornalismo móvel digital é compreendido aqui como a prática jornalística baseada no
uso de tecnologias móveis digitais como tablets, smartphones e celulares, além do conjunto de conexões
sem fio a exemplo da tecnologia 3G, 4G, Bluetooth, Wi-Fi. Essa estrutura móvel de produção pode
ser utilizada tanto no jornalismo profissional das organizações jornalísticas, quanto apropriada pelos
cidadãos para a cobertura com valor jornalístico.
9 Drones são pequenas aeronáveis não tripuladas, utilizadas em conflitos e apropriada para o jornalismo
para coberturas aéreas através da instalação de câmeras portáteis.
10 Cf. Folha de S. Paulo, 15.08.2013. Disponível em: <http://migre.me/kczpUl>. Acesso em: 02.03.2014
11 Para Lemos (2010), mídias com funções pós-massivas são aquelas sem um controle do “fluxo
centralizado da informação” como ocorre com os meios de comunicação de massa. Na perspectiva das
mídias com funções pós-massivas “qualquer um pode produzir informação”, ou seja, há uma liberação
do pólo de emissão.
12 Mídia Ninja (denominação para Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação) é um grupo ativista
criado em 2011 e participante do Coletivo Cultural Fora do Eixo. Os ativistas procuram fazer uma
cobertura aberta e em contraposição à mídia tradicional. A partir das transmissões ao vivo dos
protestos em junho o grupo se consolidou.
13 Entretanto, apesar do termo ser uma contraposição (inclusive ideológica) aos meios de comunicação
de massa e sua forma de atuação, acreditamos que o cenário ideal é o composto por uma paisagem
midiática em que possa coexistir ambas as esferas: a mídia tradicional e a mídia independente como
modelo de democracia. Neste sentido, o público tem a oportunidade de conviver com diferentes fontes
de informação e, deste modo, construir sua posição sobre os diferentes temas da atualidade. Neste
aspecto, a digitalização e as redes digitais quebraram o monopólio abrindo espaço para a liberação do
pólo emissor (LEMOS, 2010) com a participação do cidadão que pode confrontar pontos de vista nesse
ambiente.
14 A noção de mídia livre, conforme explorado pelo movimento do Mídia Ninja, já vinha sendo
explorado pelo Centro de Mídia Independente (CMI), conhecido também como Indymedia, surgido
em 1999 por organizações e ativistas de mídia independente em Seatle que teve papel essencial na
cobertura de protestos contra a Organização Mundial do Comércio - OMC. O Intervozes é uma das
iniciativas vinculadas ao midialivrismo ou o Occupy Wall Street, além da Primavera Árabe.
A partir das transmissões ao vivo dos protestos pelo Mídia Ninja, as imagens
tentam revelar o lado “B” das manifestações, muitas vezes não explorado na mídia
massiva, razão pela qual eles declaram praticar um jornalismo nu e cru e divulgar
fortemente em seus canais digitais. Neste modelo de ação colaborativa, não há
restrições para ser um repórter ninja ou um transmissor, para tal, pode-se munir-
se de celulares, estar acompanhando as manifestações e fatos sociais e transmitir ao
vivo pelo TwitCasting. A ideia é que mais repórteres-ninja se aglutinem no Mídia
Ninja para expandir as transmissões aumentando a capilaridade do movimento em
coberturas para uma pulverização comunicacional. Para Malini (2014) emerge o que
ele denomina de “nova grande mídia”17 como antagonista aos meios de comunicação
de massa dominantes.
15 Canal oficial do Mídia Ninja no YouTube: http://www.youtube.com/user/7VHD
16 Cf. YouTube. Disponível em: <http://migre.me/kczCw>. Acesso em: 02 01.2014
17 Malini (2014) constrói o seu argumento de nova grande mídia a partir de pesquisa empírica de
seleção de 300 canais que atuam como divulgadores de ações midialivrista na rede social Facebook.
O autor obtem como resultado do cruzamento de dados de que esses 300 canais arregimentam em
torno de 15 milhões de usuários. Deste modo, conclui Malini, estaríamos diante de uma nova grande
mídia funcionando fora do circuito tradicional de formação da opinião pública. Numa comparação já
estabelecida na década de 2000, seria algo como blogosfera e mídiaesfera.
19 Cf. Mídia Ninja Tumbrl. Disponível em: <http://midianinja.tumblr.com/>. Acesso em: 2 mar de
2014
20 Cf. Mídia Ninja blogspot.com. Google Plus, Disponível em: <http://migre.me/kcAGI>. Acesso em:
02.03.2014
21 Cf. Ninja – Perfil no FaceBook. Disponível em: <http://migre.me/kcATI>. Acesso em: 2 mar de 2014
Conclusões
Referências
CASTELLS, Manuel; ARDÈVOL, Mireia Fernández; QIU, Jack Linchuan; SEY, Araba.
Comunicación móvil y sociedad. Barcelona: Ariel e Fundação Telefônica, 2006.
DINIZ, Lilia. O Jornalismo em tempo real da Mídia Ninja. 2013. Ed. 757.
Observatorio da imprensa. Disponível em: http://www.observatoriodaimprensa.com.
br/news/view/o_jornalismo_em_tempo_real_da_midia_ninja Acesso em: 3 mar de
2014
QUINN, Stephen. Mojo - mobile journalism in the Asian Region. Singapura: Konrad
Andenauer Stifung, 2009.
Resumo
Este artigo busca observar como as relações midiáticas podem
ser redefinidas a partir da “tomada de posse” dos meios de
comunicação favorecida pelas novas mídias e tecnologias,
abrindo novas possibilidades de usos destas mídias como
instrumentos de contrapoder, resistência e contestação dos
poderes estabelecidos. Com base nos estudos de Castells (2013),
Downing (2004), Kellner (2001), Ramonet (2012) e Malini &
Antoun (2013), pretendemos examinar como a relação entre
o midiativismo, redes sociais e espaço público está sendo
reconfigurada a partir das potencialidades da internet. Por fim,
realizamos uma descrição das práticas do grupo Mídia NINJA,
referência das mídias alternativas que mescla a ação direta das
ruas com a utilização de redes móveis para construir narrativas
contra hegemônicas.
3 Que não por acaso também seguem modelos de produção de uma indústria: a Indústria Cultural,
cuja maior referência conceitual provém do estudo de Max Horkheimer e Theodor Adorno, no início
do século XX a partir da obra Dialética do Esclarecimento. Disponível em http://tinyurl.com/97t3ym6.
Acesso em 10 de nov. 2013.
4 É importante destacar que “a cultura virtual não brotou diretamente da cultura de massas, mas foi
sendo semeada por processos de produção, distribuição e consumo comunicacionais” (SANTAELLA,
2003, p. 24). A estes processos, a pesquisadora Lucia Santaella chama de “cultura das mídias”. Para saber
mais, ler Da cultura das mídias à cibercultura: o advento do pós-humano. Disponível em http://tinyurl.
com/moh8vl9. Acesso em 22.07.2013.
5 Esta crise teria sido intensificada com o advento da internet e suas possibilidades informativas,
a velocidade e efemeridade das informações e notícias, a autoinformação e outros fatores, como
a concorrência dos grandes veículos com os milhões de sujeitos “comuns” que, em blogs, sites
independentes, perfis em sites de redes sociais, também são hoje produtores de informação. Mais em
MORAES, Dênis de. Mídia, Poder e Contrapoder. Da concentração monopólica à democratização da
informação. São Paulo: Boitempo; Rio de Janeiro: FAPERJ, 2013.
6 O conjunto dos grandes veículos de comunicação de massa. No Brasil, integram este grupo, empresas
como as organizações Globo, Record, Bandeirantes, Abril, Folha de São Paulo, SBT, para citar alguns.
7 Para José Luiz Braga (2006), desde as primeiras interações midiatizadas, a sociedade desenvolve
novos objetivos e funções para as tecnologias não especificamente seguindo os processos inicialmente
atribuídos a estas tecnologias. O autor afirma que há um terceiro sistema de processos midiáticos além
da produção e emissão de informações, que ele classifica como “sistema de resposta social”. Para saber
mais, ler BRAGA, José Luiz. A Sociedade Enfrenta sua Mídia. São Paulo: Paulus, 2006.
É sobre esta última questão que iremos nos debruçar. Com as novas mídias
de função pós-massiva e seus usos com propostas não só comunicativas, mas
potencialmente informativas, podemos falar em uma efetiva tomada dos meios de
produção por parte da massa – termo que estabelecem os teóricos da mass media
communication research, mas que nós preferimos chamar de “público”, “atores sociais”
ou “sujeitos”. Esta revolução tem um impacto importante no campo do jornalismo,
pois permite que o público, munido de aparelhos simples como celulares e contas
no YouTube, possa fazer usos das mídias sociais em prol de ações subversivas contra
o Estado e a polícia, ou mesmo contra o jornalismo corporativo, que mantém sua
hegemonia consolidada por meio do controle das relações de poder.
Os cidadãos-repórteres contribuem com seu protagonismo ou
ciberprotagonismo midiático para um contexto mais plural e democrático de
informações, que descentraliza o polo emissor e multiplica os fluxos de emissão-
recepção de conteúdos, com transmissões em tempo real ou postagens de texto, vídeo
e áudio nas redes. Este é o contexto perfeito para a fermentação das mídias alternativas,
assunto que trataremos brevemente no próximo tópico.
As novas lutas sociais que Maria da Glória Gohn (2013) afirma integrarem
novos campos temáticos de lutas e que vêm construindo uma nova cultura política,
intercambiam as experiências diretas, físicas, locais com os espaços autônomos do
ciberespaço, como as redes sociais virtuais, a fim de propagarem suas ideias, discutirem
as ações e debaterem sobre assuntos correlatos, autocomunicarem-se (CASTELLS,
2013).
A internet funciona, então, como uma esfera pública global (Downing, 2004)
anárquica, relativamente livre de controles coercitivos8 e mecanismos repressores.
8 Ao contrário das avaliações de autores como Downing (2004) e Castells (2013), que veem a Internet
como um espaço livre de controles, Julian Assange, em debate gravado para o seu canal do YouTube,
The World Tomorrow e que originou o livro Cypherpunks, Liberdade e o Futuro da Internet (2013),
alerta que a Internet não é tão livre quanto aqueles autores comentam, sendo um espaço de vigilância
praticada por Estados, com o aporte de empresas que fornecem todos os dados a respeito dos usuários e
os caminhos seguidos por eles na Rede, o que propicia a formação de um cenário de controle, vigilância
em massa e espionagem jamais vistos na história. Assange, fundador do site WikiLeaks, criado em
Kellner (2001) ainda reforça que a produção da mídia tem ligações íntimas
com as relações de poder e que interesses das forças sociais poderosas são reforçados,
“promovendo a dominação ou dando aos indivíduos força para a resistência e a luta”
(2001, p. 64). O autor aponta que nossa cultura foi colonizada pela mídia, classificando
a cultura contemporânea como cultura da mídia, “o lugar onde se travam batalhas
pelo controle da sociedade” (p. 54). Já Serrano destaca que o jornalismo – quarto
poder – “é um mero apêndice dos grupos empresariais” (2013, p. 72).
Sendo assim, o ativismo midiático se utiliza dos equipamentos midiáticos para
alcançar os objetivos de suas lutas, que estão relacionadas à liberdade de expressão
2006 para divulgar documentos denunciativos contra o governo norte-americano, ao lado de Edward
Snowden, ex-funcionário da CIA e da NSA (Agência Nacional de Segurança) americana são as maiores
referências atuais de delação de abusos cometidos pelos Estados em guerras, transações comerciais
internacionais, espionagem de cidadãos etc. Há, ainda, outras obras que buscam denunciar/alertar para
os problemas da hipervisibilidade, como Andrew Keen, com O Culto do Amador (2009) e Vertigem
Digital: por que as redes sociais estão nos dividindo e desorientando (2012) e Siva Vaidhyanathan, com A
Googlelização de Tudo (e por que devemos nos preocupar): a ameaça do controle total da informação por
meio da maior e mais bem-sucedida empresa do mundo virtual (2011).
9 http://canalpostv.blogspot.com.br/
10 http://foradoeixo.org.br/
11 Transmissão de dados em tempo real via rede.
Fonte: Reprodução.
14 Outra vantagem do TwitCasting é que alguns vídeos permanecem gravados no histórico do perfil
do repórter, podendo ser acessado posteriormente. Os comentários dos espectadores-participantes
também permanecem expostos na caixa de diálogo. Em algumas exibições, o diálogo entre espectadores
e repórter é mais intenso, como no exemplo da emissão do movimento Ocupa Câmara Rio, do dia 08
de novembro de 2013. Disponível em http://tinyurl.com/n5qh7vn.
Fonte: Reprodução
Tendo em vista que a Mídia NINJA não se limita apenas a relatar os fatos
e busca manter uma relação ativa com as realidades registradas, o que se configura
como uma forma de enfrentamento ou intervenção social midiática – marca
característica das mídias radicais, que buscam combater as estruturas opressoras e
assumem posturas combativas, a fim de transformar estas realidades –, classificamos
esta expressão midiativista como mídia participante. O sentido que pretendemos dar
a partir desta denominação é de uma mídia que imerge nas lutas por justiça social e
contra as relações de dominação; uma mídia que participa das discussões em prol da
democracia e pretende interferir na forma como a sociedade enxerga os movimentos
sociais ou como a grande mídia os registra (na posição de mídia de registro), além de
como o Estado vê estas lutas, se enxerga perante os conflitos e é observado atuando na
busca por solução ou repressão.
Considerações Finais
Referências Bibliográficas
BRAGA, José Luiz. A sociedade enfrenta sua mídia: dispositivos sociais de crítica
midiática. São Paulo: Paulus, 2006.
CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. 6. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2010.
PRIMO, Alex. Interação mediada por computador. Porto Alegre: Sulina, 2011.
Resumo
Este artigo faz um passeio bibliográfico por algumas das principais
teorias do jornalismo identificando quais delas podem ser
aplicadas dentro da lógica das mudanças no processo de produção
de notícias na TV digital. É certo que as novas tecnologias que
surgem revolucionam as rotinas nas redações. Mas os princípios
básicos do jornalismo permanecem, independente do meio de
veiculação das notícias e dos avanços tecnológicos. É importante
entender como o jornalismo foi teorizado por meio de pesquisas
feitas em várias partes do mundo, para que os jornalistas de hoje
possam se situar dentro do fazer jornalístico atual e ter a base
para buscar mudanças. Este trabalho faz parte das reflexões do
nosso projeto de pesquisa de mestrado que estuda a transição
do sistema analógico de televisão para o digital no Brasil e as
mudanças no processo de produção de notícias.
A TV digital
O autor ressalta que no Brasil a TV digital em si não é algo novo. Ela já está
presente nas TVs (pagas) a cabo, por satélite e por IPTV (Internet Protocol TV).
Algumas, além de vários canais e imagem e som em alta definição, já disponibilizam
ferramentas diferentes da TV analógica, como a possibilidade de gravar a programação
e um guia de canais.
A novidade mesmo está na TV digital terrestre, que utiliza o ar para as transmissões,
assim como a TV analógica. Essa é a forma gratuita de TV que abrange toda a população.
Por isso depende de decisões governamentais em todo o processo. A primeira discussão
foi acerca do sistema que seria adotado no Brasil: o americano, o europeu ou o japonês.
Depois de anos de análise a decisão foi criar um sistema próprio, com base no japonês.
De acordo com Lemos (2010), a norma Ginga define todos os comandos que
o receptor brasileiro tem que entender e executar. Além disso também especifica
as formas como no sistema são combinados os comandos, gerando os programas
interativos. Segundo Kulezsa (2010), são os comandos padronizados pelo Ginga que
permitem a execução das aplicações interativas. Essas interações, de acordo com
Cannito (2010), devem acontecer de forma paralela a programação da TV, numa
janela ao lado da imagem principal, não interrompendo o fluxo da programação
audiovisual.
O espectador, ao ter a possibilidade de interagir, passa a ser considerado
usuário por poder fazer escolhas. Para que as respostas do espectador/usuário chegue
à emissora de TV é necessário um canal de retorno.
Cannito (2010) faz uma outra observação importante a respeito da
interatividade. Segundo o autor, não podemos considerá-la, em si mesma, um critério
de qualidade. A tendência é as pessoas acreditarem que a interatividade é sempre
positiva e a passividade sempre negativa. “[…] é necessário ter claro que não se trata
de uma questão moral e que o fato de uma obra ser mais interativa não garante a sua
qualidade” (p. 19).
Considerações finais
Referências
Resumo
O presente estudo busca analisar as transformações na rotina
de produção das notícias no jornal impresso Correio da Paraíba
que iniciou o processo de informatização na década de 1990 e,
posteriormente, implementou em sua rotina de trabalho o uso
da internet. Refletimos acerca do modo como as tecnologias vêm
mudando a sociabilidade, a forma como as pessoas se comunicam
há anos e, a cada modificação, os veículos de comunicação são
obrigados a se adequar. Recorremos para embasar o artigo a
teóricos como Manuel Castels, Pierre Lévy e Miguel Rodrigo
Alsina.
1 Jornalista formada pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Trabalha como repórter na
editoria de Política do jornal Correio da Paraíba, é assessora de imprensa no Governo da Paraíba
e é mestranda no Programa de Pós-Graduação em Jornalismo na UFPB.
2 Orientadora do trabalho. Professora doutora do Programa de Pós-Graduação em Jornalismo,
PPJ – UFPB.
Para quem está de fora, parece que as notícias simplesmente brotam nas
redações dos noticiários impresso, radiofônico ou televisivo, com o acontecimento
chegando ao grande público da maneira como ocorreu. Mas esta não é a realidade e,
para chegar as notícias como a conhecemos, elas passam por diversos processos que
vão desde a escolha dos acontecimentos que têm maior valor-notícia à determinação
de onde e como elas serão publicizadas. A rotina diária do jornalismo é como uma
fábrica e isso é um fator importante na produção da notícia. Porém, ela não é a mesma
rotina de quando surgiu a imprensa, há alguns séculos, muito menos há 20 anos,
antes da democratização da internet. Este artigo trata dos processos de transformação
das rotinas jornalísticas no jornal Correio da Paraíba ocorridas nos últimos 20 anos,
marcados pela informatização e, posteriormente, pela produção em rede.
A Paraíba, como de resto todo o Brasil, está vivenciando esse processo de
migração de novas formas de sociabilidade. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE), em 2003 apenas 6,64% (64 mil) das casas paraibanas tinham pelo
menos um computador e, destas, apenas 4,44% (43 mil) tinham acesso à internet. Já
em 2012, 31,44% (371 mil) dos domicílios tinham computador e 27,40% (323 mil)
tinham acesso à internet. O computador ainda não é um equipamento universal,
como acontece com a televisão (98% das casas paraibanas têm o equipamento), mas
caminha para este sentido.
Sempre que uma inovação tecnológica desponta, os críticos afirmam que
um meio de comunicação irá desaparecer. Foi o que aconteceu com o rádio, no qual
afirmava-se que acabaria com os jornais impressos. E, décadas depois, a televisão,
que seria o fim do rádio e, também, do jornal impresso. É certo que a cada avanço
tecnológico os meios tiveram que se reinventar para realmente não desaparecerem,
porém nenhum deles sumiram. O jornal impresso, que pelas previsões já estaria
morto e enterrado, ainda resiste as mudanças. A inquietante obra de Bassets (2013),
El último que apague la luz, adverte para a iminente morte do jornalismo impresso e
sua reinvenção em plataformas digitais. Fausto Neto (2011) acredita que o jornal não
vai acabar, porém se tornará uma instituição hibridizada.
Um dos desafios é exatamente buscar a adequação e reinvenção para manter-
se relevante à sociedade. Com o paradigma informacional, com novos processos
tecnológicos, de fato os jornais impressos têm que se reinventar dentro da nova
moldura digital. Hoje, qualquer pessoa com acesso à internet pode ficar sabendo dos
últimos acontecimentos em tempo real e em qualquer lugar do mundo, tanto por
Considerações finais
Referências
Resumo
O artigo em questão visa discutir o uso de plataformas
tecnológicas, informações, imagens da internet e redes sociais
no telejornal de meio-dia da afiliada da Rede Globo em João
Pessoa, a TV Cabo Branco. O texto faz parte de uma pesquisa,
em estado inicial, que estamos realizando no curso de pós-
graduação em Jornalismo Profissional da Universidade Federal
da Paraíba. Os processos de produção e edição do jornalismo
televisivo vêm passando por uma série de transformações em
decorrência da convergência tecnológica e cultural entre a TV e
a World Wide Web. O que se observa é que, com o barateamento
e acessibilidade aos equipamentos de comunicação, advento da
internet e das mídias sociais, os telespectadores e/ou internautas
tornam-se partícipes do telejornal que está sendo pensado e
definido pelos editores de texto e suas equipes.
Telejornalismo colaborativo 91
Embora as redes de televisão ainda demorem alguns anos para
adotar o sistema digital em suas produções - nos equipamentos de
captação, edição e exibição -, a tecnologia de informação já chegou
[...]. A redação informatizada permite total comunicação entre os
vários terminais colocados nas bancadas, nos mesmos locais onde
anteriormente existiam as antigas máquinas de escrever.
Certamente, ela não imaginava que essa tecnologia de informação fosse sofrer
mudanças tão rapidamente e modificar completamente a rotina das redações e que,
em tão pouco tempo, isso fosse facilitar a comunicação não só dos colegas no espaço
de trabalho, mas dos jornalistas com os cidadãos e de todos nós, em todas as partes
do mundo. Hoje vivemos às voltas com caixas de e-mails superlotadas, redes sociais
de todos os tipos e mensagens que não param de chegar a nossos computadores,
telefones e tablets.
Com o advento da internet e das mídias sociais, o telespectador/cidadão/
internauta está mais próximo das redações e, de certa forma, tornaram-no partícipe
do telejornal que está sendo pensado e definido pelos editores de texto e suas
equipes. Nos tempos atuais, o cidadão comum que tem acesso à World Wide Web
pode desencadear o processo de construção de uma notícia de forma rápida e com
alcance inimaginável, forçando o jornalista a correr atrás da informação com mais
velocidade. Até pouco, a mesma informação só chegaria a uma redação por meio de
carta ou telefonema e, quem sabe, um ou dois dias depois, após um longo processo de
“checagem” e “rechecagem”, estaria no jornal ou telejornal.
A comunicação de uma informação nos tempos atuais não se resume mais
ao processo tradicional em que o fluxo e a conexão da mensagem eram apenas do
emissor para o receptor. Os sujeitos envolvidos passaram a se interligar de uma forma
em que há mais interação, há um relacionamento entre as partes. De acordo com
Fausto Neto (2011), já não são somente os processos internos ao âmbito jornalístico
que definem os padrões de tipificação dos acontecimentos e os processos que vão
nortear o trabalho da noticialidade.
Assim, a maior utilização da internet e das novas mídias pelo cidadão vem
fazendo com que os jornalistas modifiquem suas rotinas de trabalho, de apuração
dos fatos, de acompanhamento das notícias e o relacionamento com as fontes. Pelo
que vemos no dia-a-dia, a lógica operacional até então utilizada pelos jornalistas
agora conta com a participação de outros atores. O leitor deixou de ser simplesmente
receptor. Ele agora, muitas vezes, inicia o processo de comunicação, ou seja, passou a
ser produtor de conteúdos informativos.
Telejornalismo colaborativo 93
sistema de comunicação do Estado nos anos 1990, a Rede Paraíba de Comunicação2,
iniciou seus passos no mundo da internet depois do ano 2000. Realizamos uma
pesquisa dentro dos arquivos da emissora para identificar momentos que marcaram
essa relação com o mundo da grande rede de computadores e é o que apontaremos a
partir de agora.
Passamos um mês pesquisando os arquivos da TV Cabo Branco, afiliada da Rede
Globo em João Pessoa, que faz parte da Rede Paraíba de Comunicação, para tentarmos
recuperar a gênese do processo de inserção da emissora e, mais especificamente do
JPB Primeira Edição – telejornal do meio-dia da emissora e que, a partir de agora,
passaremos a tratar como JPB –, no mundo da internet. Nossa busca pelos registros
das primeiras inserções, do uso de palavras, imagens e plataformas que normalmente
não eram utilizadas nas reportagens antes da grande rede de computadores ser criada
foi feita no EasyNews3.
Procuramos localizar registros que apontassem quando os materiais chegaram
à redação, a data da edição na qual foram utilizados e como eles foram aproveitados
no processo de construção do telejornal, ou seja, como foram ajustados aos rituais,
lógicas e linguagens do jornalismo televisivo. No entanto, fomos alertados pelos
técnicos da emissora de que, como o sistema em questão passou por uma atualização
recente, durante esse processo, alguma informação pode ter sido perdida. Porém, o
EasyNews é o único arquivo virtual com condições de ao menos apontar os caminhos
procurados por nós dentro da emissora.
De acordo com o que encontramos no sistema de arquivo da TV Cabo Branco,
os telejornais da emissora passaram a usar a palavra internet em 17 de setembro de
2002. A notícia era sobre o novo mapa da Paraíba, que seria lançado no World Wide
Web em dezembro do mesmo ano, pelo Sistema Geológico do Brasil, em parceria
com a Universidade Federal da Paraíba. Essa informação noticiada no jornal da noite
da emissora certamente foi útil para o público dessa área e marcou, na emissora, a
apresentação da “nova forma” de buscar informações no mundo em rede.
2 A Rede Paraíba de Comunicação reúne duas emissoras de televisão: a TV Cabo Branco, que funciona
em João Pessoa (capital da Paraíba) e a TV Paraíba, em Campina Grande. As emissoras são afiliadas da
Rede Globo na Paraíba. Além delas o grupo tem ainda duas emissoras de rádio, um jornal impresso e
um portal de notícias.
3EasyNews é o sistema utilizado pelas emissoras de televisão da Rede Paraíba para cadastrar todos os
processos de texto realizados pelos jornalistas envolvidos nos telejornais e onde ficam arquivadas todas
as ações realizadas nos telejornais.
4 Nota seca com caracteres em rodapé é um texto lido pelo apresentador do telejornal, com informações
de texto que são exibidas pelo gerador de caracteres na parte baixa do vídeo da TV.
Telejornalismo colaborativo 95
o da Prefeitura de João Pessoa, entre outros. Nos dois anos seguintes, o telejornal
segue divulgando sites sobre curiosidades e amenidades, que podem ser de interesse
do telespectador, e passa a fazer reportagens de rua sobre o uso da internet.
Em 2005, a TV Cabo Branco passou a divulgar o endereço de uma página na
internet onde o telespectador poderia, por exemplo, escolher o cartão postal de João
Pessoa. Ocorre, então, um primeiro sinal da convergência tratada por Jenkins (2009),
com o telespectador sendo levado da televisão para a rede mundial de computadores.
Entretanto, só em julho de 2007, o site www.cabobranco.tv.br é lançado
oficialmente e surge nos scripts de forma clara, como um novo espaço onde o
telespectador vai poder se comunicar com a emissora, rever reportagens exibidas nos
telejornais, votar em enquetes e sugerir temas para os próximos telejornais (figura 2).
Nos scripts de 2008, chama a atenção uma campanha desencadeada pelo JPB
para homenagear as mães dos telespectadores. Nela, o cidadão é incentivado a enviar
fotos com sua mãe via e-mail para serem exibidas no JPB. Para essa promoção, a
equipe solicitou ao departamento de informática a criação de um e-mail específico,
o euamoaminhamae@cabobranco.tv.br. A participação do público foi muito grande e
surpreendeu profissionais que estavam na emissora nessa época.
A ideia inicial era exibir o material no JPB, mais próximo do Dia das Mães, mas,
em decorrência da grande quantidade de fotos enviadas, as imagens começaram a ser
divulgadas uma semana antes da data comemorativa. Nesse momento, observamos
um movimento de mão dupla. A TV incentiva a participação e o telespectador envia
pela internet fotos que passam a ser exibidas no telejornal.
A figura 3 mostra como o público foi atraído para participar da promoção. O
apelo no texto e a novidade dentro do telejornal podem ter incentivado o telespectador,
que já usava a internet naquela época a querer se ver na televisão.
5 O quadro Moda & Design falava sobre esses temas com profissionais dessas duas áreas, indo a casas
e lojas e trazendo dicas para quem queria se vestir bem ou decorar a casa de forma atraente.
Telejornalismo colaborativo 97
Figura 3 Página/script do JPB1 de 01 de maio de 2008
Telejornalismo colaborativo 99
televisão da Rede Paraíba de Comunicação passaram a ser disponibilizados dentro
do G1/Paraíba. O site www.cabobranco.tv.br mudou o conteúdo e hoje divulga a
programação da emissora com chamadas para conteúdos e eventos futuros. Nesse
período, a Rede Paraíba também criou um núcleo específico para trabalhar com novas
mídias e internet.
A partir de 2011, o JPB intensifica o convite ao telespectador/internauta para
participar do telejornal com o envio de fotos, imagens em movimento e sugestões de
pautas e o público aceita o convite. O que encontramos então são registros de uso
mais frequente no telejornal desses materiais enviados com maior espaço para temas,
como: trânsito, protestos, vazamento de água e outros problemas da comunidade. O
texto lido pelo apresentador destaca sempre o nome do telespectador que enviou as
imagens e, muitas vezes, aproveita para orientar outros telespectadores. A figura 4 é
um exemplo:
Considerações finais
Referências
BOWMAN, Shayne e WILLIS, Chris. Nosotros, el medio: cómo las audiencias están
modelando el futuro de la noticias y la información. Disponível em: www.hypergene.
net/wemedia/espanol.php. Acesso em: 03 fev. 2014.
Resumo
Esta pesquisa apresenta um mapeamento das características
e tendências dos jornais alternativos no Estado da Paraíba,
localizado na região Nordeste do Brasil. Mais especificamente, a
investigação recai sob dois periódicos: Edição Extra e O Furo. O
principal objetivo é identificar o legado desses jornais paraibanos
- dentro do cenário do chamado jornalismo de resistência - que
no período da ditadura militar instalada no país atuaram como
alternativa ao pensamento hegemônico, a voz única da grande
imprensa que naquele período ditatorial enveredava cada vez
mais no rumo da monopolização da informação e na defesa do
sistema vigente. Do ponto de vista aqui defendido, não se pode
entender as características específicas do período histórico do
regime militar – que no Brasil vigora de 1964 a 1985 – se não se
levar em conta a produção jornalística liderada pela imprensa
alternativa. As análises propostas para este artigo vão se voltar
para os recursos jornalísticos empregados pelos dois periódicos
pesquisados, a partir de capas, títulos e dos gêneros notícia e
editorial.
50 Anos do golpe militar no Brasil: uma análise do jornalismo de resistência na Paraíba 105
O princípio da pesquisa
Assim como ocorreu nos demais estados brasileiros, a Paraíba, mesmo com
o endurecimento da repressão política, buscou alternativas para oferecer ao leitor de
jornal publicações de resistência às formas de autoritarismo do regime vigente e ao
jornalismo praticado pelos grandes veículos de comunicação.
Ocorre que essas publicações, no caso de Edição Extra e O Furo, embora com
todo seu valor histórico e jornalístico, não tinham, até a presente iniciativa, se tornado
objeto de estudo acadêmico. No levantamento bibliográfico realizado pelas autoras
deste trabalho não foram localizadas fontes bibliográficas, tais como livros impressos
e/ou digitais, monografias, dissertações e teses, que analisassem esses periódicos.
Antes de passarmos para as referências e análises dos jornais aqui pesquisados,
julgamos pertinente apresentar como vem se construindo o percurso deste trabalho.
A ideia de pesquisar esses jornais se deu há quase duas décadas, mais especificamente
quando uma das autoras, ao ministrar para estudantes de Jornalismo a disciplina
“Imprensa Alternativa” no curso de Comunicação da Universidade Federal da Paraíba,
se deparou com a ausência de bibliografia sobre jornais alternativos paraibanos.
Na ocasião, existiam, em livro ,estudos e pesquisas sobre jornais alternativos
brasileiros, mas que não incluíam a Paraíba como um estado onde jornalistas tinham
criado, ainda no período da ditadura militar, publicações alternativas ao chamado
jornalismo da grande imprensa.
As publicações bibliográficas acessíveis à disciplina “Imprensa alternativa”,
naquele momento, giravam em torno das produções jornalísticas alternativas já
conhecidas, como O Pasquim, O Pif-Paf, Opinião, Movimento, Bondinho, periódicos
esses que se concentraram na região Sudeste do país, principalmente no Rio de Janeiro
e São Paulo.
A partir daí, vieram os questionamentos da professora e alunos na disciplina
sobre a repercussão da imprensa alternativa na Paraíba à época da ditadura militar. As
perguntas iniciais eram: “Assim como houve na política, nas artes, nas universidades
paraibanas, formas de resistência ao sistema ditatorial, o jornalismo teria também
combatido esse regime?”, “Quais foram as alternativas apresentadas pelos jornalistas
paraibanos à chamada grande imprensa?”, “Quais as publicações e quem delas
participou?”.
O passo inicial foi localizar os participantes desses jornais e tentar obter
informações sobre a imprensa alternativa nesse período, além de acessar as edições
desses periódicos. Promoveram-se na disciplina debates e entrevistas com três desses
50 Anos do golpe militar no Brasil: uma análise do jornalismo de resistência na Paraíba 107
Sobre os jornais Edição Extra e O Furo
Os jornais nos foram entregues para estudo de duas formas. Edição Extra com
suas edições encadernadas. O Furo com suas edições soltas, sem encadernação. O jornal
Edição Extra se apresenta em formato tablóide, off-set, em 12 edições impressas, com
20 páginas cada uma, com fotos, charges e anúncios publicitários, com periodicidade
semanal. O primeiro número traz em seu expediente uma equipe formada por Valdez
Juval da Silva (Diretor presidente), Henriette Maria Lemos da Silva (Diretora gerente),
Luiz Andrade (Redator chefe), Alarico Correia (Secretário), Anco Márcio (Editor de
Humor), Gilvan de Brito (Editor Político), Júlio Vieira (Editor da Cidade), Luzardo
Alves (Editor de Arte), Atelier Esquema (Diagramação).
Edição Extra tem como slogan “Um jornal diferente”. O primeiro número saiu
sem data da edição. O segundo número vem datado de 9 a 16 de agosto de 1971. E o
último número, referente à edição 11, é datado de 11 a 17 de outubro de 1971.
O jornal O Furo é composto por cinco edições, em formato tablóide, off-set,
com 24 páginas, com periodicidade quinzenal. O primeiro número é datado de 16 a
31 de dezembro de 1979. O último número refere-se apenas ao mês marco de 1980.
O expediente do jornal na sua edição de estréia apresenta em seus quadros Alberto
Arcela e Marcos Pires (Diretores-responsáveis); Richard Muniz (Editor responsável),
Marcos Nicolau (Secretário de Redação e Arte), Walter Galvão, Alberto Arcela,
Nonato Guedes, Maria Naélia, Marcos Tavares, Anco Márcio, Marta Kristine, Antonio
Augusto Arroxelas, João Manoel de Carvalho, Bruno Steinbach, Hilton Lima, Luzardo,
Antônio Barreto Neto (Colaboradores).
Ao catalogar as publicações da imprensa alternativa, o Centro de Imprensa
Alternativa e Cultura Popular do RIOARTE, conceitua essas produções como
alternativas com base nas seguintes classificações:
50 Anos do golpe militar no Brasil: uma análise do jornalismo de resistência na Paraíba 109
por estes jornais alternativos para “indução do leitor” (FAUSTO NETO, 2013) consistia
na capacidade maior ou menor de despistar as antenas da censura usando artifícios de
linguagem como ironia, duplo sentido, metáforas, humor, recursos imagéticos, além
de amplificar a fala de quem não tinha espaço na grande imprensa. Entrevistas com
figuras emblemáticas da esquerda como o arcebispo da Paraíba D. José Maria Pires, o
ex-governador de Pernambuco Miguel Arraes e o líder camponês Gregório Bezerra,
O arcebispo de Recife e Olinda D. Helder Câmara, são exemplos significativos (figuras
2, 4, 6 e 10) dessa estratégia. No caso específico do Edição Extra observamos um
excessivo apelo à erotização com o uso de mulheres seminuas (figuras 1, 5 e 9).
Figura 1 Figura 2
Figura 5 Figura 6
50 Anos do golpe militar no Brasil: uma análise do jornalismo de resistência na Paraíba 111
Figura 7 Figura 8
Figura 9 Figura 10
50 Anos do golpe militar no Brasil: uma análise do jornalismo de resistência na Paraíba 113
no diálogo, entre a parte textual das chamadas e o apelo visual que lhes é transferido
pela intervenção do desing gráfico, incluindo obviamente, as ilustrações.
Os títulos trazidos nas capas do Edição Extra e O Furo anunciavam as notícias,
enquadravam a perspectiva editorial, resumiam o espírito de cada jornal. No Edição
Extra as capas são econômicas com poucos elementos verbais e imagéticos. Vemos a
imagem de uma mulher que começa discreta (figura 1) e aos poucos vai dominando
a cena (figuras 5, 7 e 9). Os títulos são “apagados” visualmente, como que a despistar
o conteúdo político ao qual estavam associados (figuras 5 e 9). É importante dizer
que o Edição Extra foi lançado em 1971 e, portanto, teve sua breve vida durante os
anos duros de ditadura, enquanto que O Furo apareceu em 1979, quando a força da
ditadura já esmaecia e iniciava-se o processo de abertura política.
As capas de O Furo constituem um ambiente visual mais atraente, lúdico, por
vezes se aproximando de uma charge com desenhos que mesclam humor e crítica. As
chamadas de suas capas se constituíam em uma “mensagem- consumo”, como diria
Medina (1978, p. 119) a demandar “título de apelo forte, bem nutrido de emoções,
surpresas lúdicas, jogos visuais, artifícios lingüísticos”, podendo ser equiparado a um
anúncio publicitário.
O Furo soube utilizar a mescla destes elementos para construir capas dinâmicas,
atraentes e que sintetizavam a linha crítica do jornal. Exemplo do que dissemos é
visível na figura 2, onde temos uma ilustração do nome do jornal aparecendo como
uma pichação de muro, numa alusão ao que acontecia na realidade, quando os
muros foram pichados pelos militantes de esquerda com mensagens de resistência e
“subversão” ao regime ditatorial.
Outro exemplo relevante está na figura 10 onde vemos vários homens fazendo
uma força colossal para “puxar o saco” de um gigante deitado, numa alusão aos
inimigos do povo que adotavam posição de subalternidade em relação à ditadura, em
detrimento do interesse coletivo.
As capas de O Furo explicitavam com clareza os propósitos editoriais do jornal.
Ficava clara a posição contrária ao regime militar, mesmo nas chamadas de capa sem
a relevância das anteriores mas que traziam à tona temas polêmicos como aborto
ilegal, prostituição, ocupação de terras e as manobras dos latifundiários para intervir
no movimento social das Ligas Camponesas pela interferência na direção do Centro
de Defesa dos Direitos Humanos3 (figura 10).
3 Segundo o jornal, agentes do governo infiltrados na igreja estariam incitando lideranças camponesas
do município de Alhandra a se voltarem contra a instituição, numa campanha da direita para
“desmoralizar” a CDDH. Wanderley Caixe, paulista, foi convidado por D. José Maria Pires para dirigir
o Centro. D. José Maria na ocasião era o arcebispo de João Pessoa e reconhecido por sua atuação
progressista.
50 Anos do golpe militar no Brasil: uma análise do jornalismo de resistência na Paraíba 115
O editorial do jornal O Furo, em sua edição número 5, enfatiza a existência de
problemas sociais. Adota perante essas questões sociais, uma postura crítica que se
apresenta logo no início no título “Para onde vais?” e “Sair para onde?”. Dessa forma,
o periódico anuncia para quem dirige a sua indagação:
A pergunta vale para ti, misero nordestino que se deixa enganar pela
maquiavélica máquina da cidade grande que a tudo e a todos devora,
sem piedade. Que deixa as terras do sertão e do brejo pra
morrer ao despencar dos andaimes e dormir em favelas, entre as balas
enganosas da polícia. E por que não ficas aqui mesmo? (O Furo, 1980,
no. 5, p. 3).
Não, não deves sair. Nem agora, nem nunca mais. Muito embora
desconheças o que te espera do outro lado da cerca, pois tua ilusão
avassaladora como que ofusca a visão da melhor solução que está tão
próxima que chega a se confundir com os pássaros e mandacarus que
te cercam (O Furo, 1980, no. 5, p. 3).
Considerações
50 Anos do golpe militar no Brasil: uma análise do jornalismo de resistência na Paraíba 117
Referências
MARCONDES FILHO, Ciro. O capital da notícia. São Paulo: Editora Ática, 1989.
Resumo
No livro Sobre ética e imprensa (2000), o jornalista e pesquisador
Eugênio Bucci faz levantamentos acerca de questionamentos
que permeiam o universo da ética no jornalismo e para ilustrar
as ideias por ele levantadas no capítulo O Vício e a Virtude
buscaremos brevemente destacar e analisar alguns trechos do
seriado americano de televisão The Newsroom, que versa sobre o
dia-dia de um telejornal estadunidense, em meio às mudanças de
equipe e constantes problemas de audiência, que aborda em seus
dez episódios da primeira temporada lembretes e ensinamentos
aos profissionais do jornalismo. O seriado nos servirá de
corpus de estudo sob uma perspectiva bucciniana e elementos
defendidos por Walter Lippmann para destacar alguns vícios
jornalísticos que põem em debate a ética da profissão.
The Newsroom
Sendo assim, há, de certa forma, um processo provocado pelo sistema político
e econômico que tende a transformar em homogêneo o agendamento e enfoque das
principais pautas midiáticas.
Ainda, Bucci diz que a ética é essencial para proteção do jornalismo. Ela deve
cuidar de orientá-lo e atender o consumidor de forma crítica, sem se restringir às
demandas do mercado.
Considerações finais
Referências bibliográficas
BUCCI, Eugênio. Sobre ética e imprensa. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
COSTA, Caio Túlio. Ética, jornalismo e uma nova mídia: uma moral provisória. Rio
de Janeiro: Jorge Zahar, 2009.
Resumo
Este artigo tem o objetivo de analisar a midiatização de uma
manifestação popular realizada na cidade de Campina Grande,
estado da Paraíba, no Nordeste do Brasil, no dia 20 de junho de
2013. Analisar-se-á, através de conceitos semióticos e de linguagem
fotográfica, o formato, a qualidade, os possíveis significados e
intencionalidades de fotografias, relativas ao dia do protesto,
postadas nos sites de redes sociais facebook e twitter. Será feita
uma abordagem teórica sobre o fotojornalismo, relacionando-a
às novas possibilidades tecnológicas de produção e circulação
de conteúdos. Conclui-se que, no ambiente virtual, há uma clara
receptividade às imagens com uma estética diferenciada do
que é produzido pelos meios jornalísticos tradicionais. Estética
essa marcada pelo descompromisso com a contextualização e a
arrumação que são características dos ambientes profissionais de
disseminação de informação fotográfica.
Fotografia em sites de redes sociais: análise de imagens de uma manifestação popular 133
Introdução
Perspectivas teórico-metodológicas
Fotografia em sites de redes sociais: análise de imagens de uma manifestação popular 135
por conta desta mediação específica que é possível a um ator ter, por
exemplo, centenas ou, até mesmo, milhares de conexões, que são
mantidas apenas com o auxílio das ferramentas técnicas. Assim, redes
sociais na Internet podem ser muito maiores e mais amplas que as
redes offline, com um potencial de informação que está presente nessas
conexões. [...] As redes sociais também devem ser diferenciadas dos
sites que as suportam. Enquanto a rede social é uma metáfora utilizada
para o estudo do grupo que se apropria de um determinado sistema,
o sistema, em si, não é uma rede social, embora possa compreender
várias delas. Os sites que suportam redes sociais são conhecidos como
“sites de redes sociais” (RECUERO, 2009, p. 40-41).
Nota-se, então, uma forte potencialidade no alcance das interações nos sites de
redes sociais. Tais interações (configuradas através de vídeos, fotos, gravuras, simples
comentários e etc.) diversas vezes suprem lacunas jornalísticas, na transmissão de
acontecimentos. De acordo com Recuero (2009) as redes sociais podem complementar
a prática jornalística, atuar como fontes e nesses espaços “é possível encontrar
especialistas que podem auxiliar na construção de pautas, bem como informações
em primeira mão” (RECUERO, 2009, p. 46). Porém, a mesma autora, reconhecendo
as dificuldades de contextualização nos sites de redes sociais, diz que “as informações
difundidas pelas redes sociais não precisam, necessariamente, ter um valor-notícia ou
um compromisso social, como teoricamente, as jornalísticas (ou aquelas produzidas
pelos veículos) precisam” (RECUERO, 2009, p. 50).
Os sites de redes sociais, na verdade, fazem parte de um contexto bem mais
amplo propiciado pelo avanço da tecnologia e pela expansão da internet. Hoje, o meio
virtual é uma extensão da vida real, uma forma de vida, um bios midiático, como
define Sodré (2009). Várias características emergem dessa realidade norteada pela
tecnologia e pelas interações através dos meios virtuais. No que tange ao interesse
deste artigo, vamos discutir os impactos dessa realidade intensamente midiatizada na
área da comunicação, seja ela jornalística ou não. Nesse sentido, Ramonet (2012, p.
27) coloca que:
Fotografia em sites de redes sociais: análise de imagens de uma manifestação popular 137
Trazendo essa discussão para a proposta desse estudo, cabe colocar que o
jornalismo criou uma forma de passar a informação esteticamente moldada para que
os consumidores de notícias possam absorver de forma mais eficaz o que é publicado.
Sobre o fotojornalismo, vejamos o que diz Barthes (1980, p. 130 apud SANTAELLA;
NÖTH, 2001, p. 112): “[...] uma foto de imprensa é trabalhada, escolhida, produzida,
construída e editada de acordo com normas profissionais, estéticas e ideológicas, que
contém fatores conotativos”.
Persichetti (2006) defende, em uma visão bem radical, que o fotojornalismo
morreu. Para a autora, desde a década de 90, o fotojornalismo vive o culto da arrumação
técnica, da pouca preocupação em informar, da foto ilustrativa e da “dramaticidade
construída por uma estética vazia” (PERSICHETTI, 2006, p. 184).
Há quase 30 anos, Flusser (1985) citado por Santaella e Nöth, (2006, p. 124) já
discorria sobre as facilidades do ato fotográfico:
Fotografia em sites de redes sociais: análise de imagens de uma manifestação popular 139
[...] a interpretação é uma operação mental que consiste em conferir
um sentido a um passo ou a um texto, seja ele qual for. [...] a
interpretação de mensagens, e das mensagens visuais ou audiovisuais
em particular, é também decifrar, explicar, a fim de compreender e/ou
fazer compreender (grifo do autor).
Porém, a interpretação não é algo objetivo, Joly (2002, p. 12) defende que
“nenhuma mensagem seja ela qual for, se pode arrogar uma interpretação unívoca”.
Abordando algumas formas de interpretar um signo, Hébert (2001 apud JOLY,
2002, p. 14) exemplifica duas formas de interpretação:
Imagens [...] podem significar [...] mas isso nunca acontece de forma
autônoma. Cada sistema semiológico tem sua própria estrutura
lingüística. Onde existe uma substância visual, por exemplo, seu
significado é confirmado pelo fato de que ele é duplicado por uma
mensagem visual de tal forma que, no mínimo, uma parte da mensagem
icônica seja redundante ou aproveitada de um sistema lingüístico.
Ora, nosso objeto de estudo está fora da prática jornalística, mas o apoio
linguístico às imagens nos sites de redes sociais é notável, basta percebermos
as descrições e os comentários, os quais tornam-se elementos facilitadores da
compreensão do material sígnico apresentado.
Necessário também, como forma de análise, utilizarmos o sistema categorial
triádico de Peirce, essencial para a compreensão da sua semiótica. Fernandes
(2011) apoiou-se nesta categorização para interpretar uma fotografia de guerra, que
mostrava toda a miséria de uma região da África. Santaella e Nöth (2001, p.143),
assim sintetizaram essa ordenação Peirciana:
Fotografia em sites de redes sociais: análise de imagens de uma manifestação popular 141
Análise: linguagem fotográfica e relações semióticas
Fonte: http://goo.gl/PVImUr
Fonte: https://twitter.com/gutenbergueluna
Fonte: http://instagram.com/p/azKiWvgUxu/
Fotografia em sites de redes sociais: análise de imagens de uma manifestação popular 143
Na primeiridade, reparamos as cores, os tons, as palavras do comentário, o
local onde a foto está inserida. São as qualidades que saltam a nossa primeira vista
presentes no material.
Em seguida, começamos a identificar os elementos. Uma postagem no
instagran, no dia 20 de junho. Uma imagem, apesar de amadora, com um tratamento
que a deixa com uma qualidade comparável a fotos profissionais. Logo, se entende
que o material representa uma montagem de várias fotos. Cada uma com uma
característica diferente, mas conectadas pelo fato de fazerem parte de um mesmo
evento. Observamos a multidão em uma das fotos, os cartazes, o texto desses
cartazes, o texto do comentário da responsável pela postagem parabenizando quem
compareceu à manifestação. As hashtags, novos tipos de links (MALINI; ANTOUN,
2013), #ogiganteacordou e #vemprarua situando o observante no acontecimento
referenciado. Essa é a secundidade.
Por fim, chegamos à terceiridade. É o “valor simbólico” (FERNANDES,
2011) do material. Os significados, as relações depreendidas. Na imagem, notamos a
multidão presente, a diversidade de registros através dos cartazes: a falta de água no
açude que abastece a cidade, a comemoração pelo fato de as pessoas terem coragem
de ir às ruas e sair do ambiente virtual, a relação com o movimento ciberativista
anonimous. Podemos fazer também relações mais subjetivas e amplificadas, como o
momento intenso de manifestações que o Brasil viveu em junho de 2013, o orgulho
de ter vivido esse momento, cristalizado no comentário, os diversos problemas que
precisam ser corrigidos no país e na cidade.
Portanto, mostramos que as fotografias passaram uma mensagem, tiveram
significados. Chegou-se a uma conclusão, embora esta não seja taxativa. Pelo contrário,
as possibilidades interpretativas são bastante abertas.
Considerações finais
Referências
Fotografia em sites de redes sociais: análise de imagens de uma manifestação popular 145
MALINI, F.; ANTOUN, H. @ internet e #rua: ciberativismo e mobilização nas redes
sociais. Porto Alegre : Sulina, 2013.
SANTAELLA, L.; NÖTH, W. Imagem: cognição, semiótica, mídia. 3. Ed. São Paulo:
Iluminuras, 2001.
Resumo
O presente trabalho tem como objetivo analisar questões relativas
à recepção de produtos culturais televisuais, especialmente,
telejornalísticos face aos processos de midiatização da sociedade
provocados pela convergência tecnológica e cultural entre
TV e web. O texto é constituído por dois momentos precisos.
No primeiro realiza-se uma reflexão teórica a respeito das
transformações ocorridas no modelo de comunicação televisual,
nos regimes do “ver”, nos mecanismos de interlocução
discursiva e nos processos de recepção/interação. No segundo
operacionaliza-se o conceito de “zona de contato”, tomando
como objeto de observação alguns resultados obtidos no espaço
de circulação da pesquisa “Processos de Produção, Circulação e
Consumo em Telejornalismo”. Por último, chama-se a atenção
para a complexidade dos estudos de recepção na atualidade,
frente às diversas modalidades de receber/apreender/produzir
e circular conteúdos televisuais em contextos de múltiplas
ambiências do “eu” produtor com o “outro” receptor.
A partir dos anos 80, com o advento das novas tecnologias que se estendem
como próteses tecnológicas à TV, a exemplo do controle remoto, vídeo cassete,
câmara de vídeo, videogame, DVD, sistema de televisão a cabo com uma oferta maior
de conteúdos televisivos, a cultura de massa televisiva ganha dimensão de “cultura
midiática” (MATA, 1999). Em verdade, a partir dessa década, há formação de uma
“cultura das mídias”, resultante da convergência entre linguagens e meios, numa
estrutura multiplicadora de mídias, fotocopiadoras, aparelhos para gravação de vídeos,
equipamentos como walkman, indústrias de videoclips e videogames, indústria de
filmes em vídeos alugados em locadoras, TV a cabo etc, propiciando um consumo
mais individualizado em contraposição a um consumo massivo.( SANTAELLA, 2003)
4 “O período de simulcast está sendo adotado na maioria dos países com o intuito de marcar a
passagem para o sistema digital de TV e rádio. Trata-se do espaço de tempo onde o sinal analógico de
televisão conviverá com o sinal digital simultaneamente, até ser definitivamente extinto. No Brasil,
o período de simulcast já está em curso, devendo durar 10 anos, com data prevista para acabar em
julho de 2016 (podendo ter prorrogação). Após tal período de transição, haverá apenas o sinal digital
disponível e os aparelhos analógicos só funcionarão mediante um codificador digital ( o que vem sendo
chamado de set-top Box).” Ibidem, p. 27.
Referências
BAKHTIN, Mikhail. Estética e criação verbal. 3 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
BARROS, Diana Luz Pessoa. Dialogismo, polifonia e enunciação. In: BARROS, Diana
Luz Pessoa ; FIORIN, José Luiz. (Orgs.). Dialogia, polifonia, interxtetualidade:
em torno de Bakthin Mikhail. São Paulo: Editora Universidade de São Paulo, 1994.
(Ensaios de Cultura, 7).
BRAGA, José Luis. A sociedade enfrenta sua mídia: dispositivos sociais de crítica
midiática. São Paulo: Paulus, 2006.
COGO, Denise Maria; BRIGNOL, Liliane Dutra. Redes sociais e os estudos de recepção
na internet. In: COMPÓS – Associação nacional dos programas de pós-graduação
em comunicação, Rio de Janeiro, 2010. Disponível em: http://www.compos.org.br/.
Acesso em: 19 de abril 2013.
JOST, François. Seis leis sobre televisão. Porto Alegre: Sulina, 2004.
OLIVEIRA, Ana Claudia. Interação nas mídias. In: PRIMO, Alex et al. ( Orgs.).
Comunicação e interações. Livro da COMPÓS 2008. Porto Alegre: Sulina, 2008.
Resumo
Este artigo é uma primeira reflexão sobre uma pesquisa mais ampla
que visa traçar aproximações entre as Teorias do Jornalismo e os
Estudos Culturais. Como primeiro autor delimitado para revisão
crítica da obra, trouxemos à tona o pensamento do autor norte-
americano Douglas Kellner, responsável pela disseminação
do termo “cultura da mídia”. A tentativa aqui é traçar esboços
teóricos que tentem aproximar a lógica do jornalismo
circunscrita na chamada cultura da mídia. Verdade, interesses
sociais, ordem pública são fatores agenciadores da prática do
jornalismo que passam a ser repensados e ressignificados dentro
de novas ordens de mercado. Produtos jornalísticos são regidos
por ordenamentos mercadológicos e nos valemos da reflexão em
torno da influência da cultura da mídia no jornalismo atual.
1. Transformação em mercadoria;
2. Padronização;
3. Massificação.
Os Estudos Culturais
Referências bibliográficas
_____. The persian Gulf TV War. New York: Perseus Books, 1992.
Resumo
Pesquisas a respeito dos processos de significação do corpo dos
apresentadores no telejornalismo são relevantes na medida em
que a corporalidade é constitutiva e constituinte das lógicas
televisivas e jornalísticas. Essa relação de sentido de lógicas
torna-se ainda mais significativa em uma cobertura jornalística
densa, pautada por um acontecimento impactante, a exemplo do
Movimento “Passe Livre”, ocorrido em quase todos os estados
do Brasil. Nesse sentido, analisa-se aqui os significados do corpo
televisivo e dos enunciados de Patrícia Poeta na edição do Jornal
Nacional do dia 17 de junho, ocasião na qual a apresentadora
“incorpora”, de forma particularmente estratégica, um editorial
da Rede Globo de Televisão em resposta às fortes críticas
que a emissora vinha recebendo na internet e nas ruas face à
cobertura desse movimento social por esse telejornal.
O que significa dizer que as lógicas jornalísticas não deixam de ser relevantes,
apenas elas são pensadas de forma indissociável às lógicas da comunicação midiática.
Nesse contexto, algumas dessas lógicas decorrem com o advento da TV digital. A ideia
é simular o real com uma precisão ainda maior, pois se o telespectador não acreditar
no que está vendo, também não receberá com confiança as informações absorvidas. É
o que Ihde (2002) apud Santaella (2004) classifica como terceira dimensão do corpo: a
das relações tecnológicas, das simbioses entre o corpo e as tecnologias. Não obstante,
estes avanços tecnológicos, atrelados aos corpos, podem causar confusões sobre a
delimitação da fronteira entre real e o fictício:
De toda a cobertura que a Globo fez dos protestos pelo Brasil, o do dia 17
de junho, segunda-feira, foi o mais significativo, principalmente no que se refere à
programação do Jornal Nacional. A apresentadora deste telejornal, Patrícia Poeta
entrou no ar já no início da noite, logo após “Malhação”, no “Globo Notícia” e seguiu
até o horário habitual do JN. Nesse dia, a emissora “quebrou” o seu padrão de
qualidade, no que se refere ao cumprimento da grade de programação. Além de não
exibir o jogo da Espanha x Taiti, pela Copa das Confederações, a Globo cancelou os
capítulos das novelas “Flor do Caribe” e “Sangue Bom”. Os jornais locais das afiliadas
da Rede também foram cancelados. Os relatos sobre os protestos locais elaborados por
essas emissoras foram apenas veiculados no dia posterior. Essas mudanças causaram
estranheza no telespectador acostumado com o padrão da empresa. Evidentemente
que se tratava de um momento muito especial.
O fato é que a edição do Jornal Nacional do dia 17 de junho dedicou um
pouco mais de 51 minutos de seu noticiário para a cobertura das manifestações.
Dos 22 VTs exibidos, 11 abordavam os protestos espalhados pelo país, os outros
traziam informações sobre a Copa das Confederações, Guerra Civil na Síria, SISU,
dentre outros temas - a maioria sobre protestos fora do país. Além disso, a edição
extrapolou na quantidade de “ao vivo”. Ao todo, foram feitos 22 links, um número bem
acima do que tradicionalmente acontece nas suas edições. Todos os “vivos” traziam
informações sobre os protestos e aconteciam no cenário das manifestações. Sabe-se
que “a gravação ao vivo, a transmissão direta, em tempo real, sempre funcionam
como garantia [...] dos efeitos de autenticidade e veracidade” (DUARTE, 2007, p.13)
A duração das matérias exibidas também quebrou o padrão jornalístico do
Jornal Nacional. Alguns VTs chegaram a ter cerca de 3 minutos, quando o habitual é 1
minuto e meio, no máximo 2 minutos. A exaustão na cobertura do “Passe Livre” foi tal,
que Patrícia Poeta parecia estar perdida diante de tantas informações sobre o mesmo
tema. O Editor chefe e apresentador do telejornal, Willian Bonner demonstrava visível
desconforto por estar longe da “bancada”, acompanhando tudo de Fortaleza, onde
entrava “ao vivo” trazendo informações sobre a Copa das Confederações. Diante do
cenário de efervescência reivindicativa, a Globo se sentiu obrigada a trazer de volta o
âncora para a bancada do JN. No dia seguinte, 18 de junho, terça-feira, Bonner abria
o Jornal Nacional trazendo mais informações sobre a manifestação em São Paulo.
Segundo levantamento feito pela empresa Controle de Concorrência3, entre
4 VER: http://outrocanal.blogfolha.uol.com.br/2013/07/01/tv-aberta-exibiu-140-horas-de-protestos-
em-dez-dias/
5 VER: http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/muito_alem_dos_20_centavos
6 Para aprofundamentos, ver “A Síndrome da Antena Parabólica: Ética no Jornalismo Brasileiro”(Kucinsk,
1998).
Como ressalta Primo (2013, p.17) “não se pode ignorar a força dos movimentos
espontâneos em rede, cujos efeitos não eram possíveis em uma sociedade caracterizada
pela mídia de massa”. Sendo assim, as manifestações contra a TV Globo indexadas
através das taxonomias nas redes sociais migraram para o cotidiano, ocupando
cartazes de manifestantes que iam às ruas contestar a cobertura da emissora. A
atualização contínua das “postagens” nas redes sociais, como propõe Correia (2010),
potencializava a circulação no ciberespaço, circulação esta que se transporta do campo
virtual para o real.
A onda de revolta contra a emissora se espalhou também para outras empresas
de comunicação, que tiveram carros queimados, repórteres impedidos de fazer
a livre cobertura, prédios depredados, etc. Mas o foco das manifestações se voltou
especificamente para a TV Globo, que ganhou a alcunha de “manipuladora”. Nas ruas,
cartazes com inúmeras mensagens “anti-globo” traziam um desafio ainda maior para
os cinegrafistas que, além de se preocuparem com a troca de munições entre polícia
e civis, tinham que evitar mostrar imagens abertas com mensagens que “denegriam”
a emissora.
7 VER: http://www.twitter.com
8 VER: http://www.facebook.com
A revolta com a cobertura que a Globo estava fazendo das manifestações tomou
proporções cada vez maiores. Se para a imprensa a violência entre manifestantes e
policiais dificultava o trabalho, a revolta do povo contra jornalistas praticamente os
impedia de trabalhar. Fazer links “ao vivo” durante os protestos, no meio da multidão,
era um ato de coragem.
No Jornal Nacional a cobertura foi feita, na maior parte do tempo, longe
da multidão, a bordo do GloboCop - helicóptero da emissora dedicado à grandes
coberturas. Em terra, repórteres faziam passagens em locais distantes do aglomerado,
e quando arriscavam em descer e manter contato com o povo, retiravam a canopla do
microfone, evitando assim, mostrar o símbolo da emissora a que estavam a serviço.
Repórter
“[...] Um outro grupo que saiu do Largo da Batata, por volta das 5 horas da
tarde, percorreu a Avenida Faria Lima e nesse caminho eles seguiram até a Avenida
Luiz Carlos Berrini, que fica muito perto da TV Globo, e nesse caminho foram gritando
palavras de ordem contra a TV Globo. Patrícia.”
Patrícia Poeta
Patrícia Poeta
Considerações
BUCCI, Eugênio. Sobre ética e imprensa. São Paulo, Companhia das Letras, 2000.
FUTEMA, Fabiana. TV aberta exibiu 140 horas de protestos em dez dias. In : Blog
Folha. Disponível em: http://outrocanal.blogfolha.uol.com.br/2013/07/01/tv-aberta-
exibiu-140-horas-de-protestos-em-dez-dias/ Acesso em: 25 de junho de 2013.
MARCONDES FILHO, Ciro. Televisão: A vida pelo vídeo. São Paulo, Editora
Moderna, 1988.
PRIMO, Alex ( Org.) Interações em rede. Porto Alegre, Editora Sulina, 2013.
Resumo
Com este texto pretendemos, num primeiro momento, lembrar
que a experiência humana do mundo sempre dependeu da
invenção de dispositivos mediáticos e que esta dependência,
ao contrário daquilo que muitos estudos da comunicação
parecem pressupor, não é uma característica exclusiva do nosso
tempo. Apoiaremos esta afirmação sobretudo nas pesquisas
antropológicas sobre o processo de hominização. Num segundo
momento, procuraremos mostrar que a invenção dos mais
recentes dispositivos mediáticos e a sua rápida assimilação nas
sociedades atuais, ao contrário do que apontam algumas teorias
a que se costuma dar o nome de pós-modernas, não produz
propriamente novas modalidades de experiência, mas artefatos
que tornam possível a realização ou a reificação técnica de
simulacros das modalidades da experiência que desde sempre e
em todas as sociedades foram vivenciadas pelos seres humanos.
Em outras palavras, pretendemos sublinhar, com este texto,
que os dispositivos mediáticos, por mais extraordinários que
pareçam ser à primeira vista as suas realizações no nosso tempo,
só podem realizar aquilo que já estava desde sempre presente na
experiência do mundo dos seres humanos.
4 Para melhor compreensão da abordagem ecológica das mídias, ver Braga, 2007.
5 O galo anuncia pontualmente com o seu canto a alvorada do novo dia. Os seres humanos também
podem adotar comportamentos semelhantes, mas para isso estão dependentes do relógio que tiveram
que inventar.
Os dispositivos da enunciação
7 Ver a este propósito a noção de indexicalidade definida por Harold Garfinkel (1967).
Referências
BRAGA, A. Comunicação on-line: uma perspectiva ecológica. In: Eptic. v. IX, n. 3,
Sep/Dec. 2007.
LEVINSON, P. The soft edge: a natural history and future of the information revolution.
New York: Routledge, 1998.
MEAD, G.H. Mind, self and society: from the standpoint of a social behaviorist. Chicago:
The University of Chicago Press, 1967[1934].
ONG, W. “Ecology and some of its future.” In: Explorations in media ecology (1/1).
New Jersey: Hampton Press, 2002, pp. 5-11
Resumo
O artigo procura fazer uma leitura cruzada de três autores que se
debruçaram sobre a midiatização – Braga, Fausto Neto e Miège –
para buscar componentes substanciais que permitam caracterizar
o processo midiático a partir de análises maduras. Apresenta-se
uma periodização, que combina mudanças no campo midiático
e seu vínculo com dimensões sociais mais profundas. Expõem-
se também as características mais abrangentes do processo
midiático em sua etapa de campo instaurado, delineada com
base nos três autores citados, a partir dos quais se buscam
interseções que provoquem outros ângulos. Distinguem-se, por
fim, alguns limites de construção de objeto, como reducionismo,
isolamento, exterioridade, entre outros, cujo apontamento
demanda caminhos que articulem parte e todo.
A periodização pode ser um primeiro passo para compor este quadro, já que
a comparação entre presente e passado é frequente nas caracterizações das atuais
mudanças da mídia. Do ângulo aqui considerado, trata-se de definir uma passagem
entre duas etapas do processo midiático.
A etapa considerada anterior foi chamada por Fausto Neto de “sociedade dos
meios” e a atual de “sociedade em vias de midiatização”. Os termos podem variar,
pois são categorias em plena gestação. A primeira fase pode ser também chamada
de “sociedade midiática”, porém é assim que Lasch (2005) se refere à segunda etapa,
de modo que o termo “sociedade dos meios” (FAUSTO NETO, 2008b, p. 93) pode
evitar essa confusão. A segunda etapa pode ser chamada de “sociedade midiatizada”
(FAUSTO NETO, 2010d) ou “sociedade da midiatização” (FAUSTO NETO, 2008c, p.
126), mas o termo “em vias de” tem a vantagem de destacar o andamento, assim como
as expressões “sociedade em midiatização” (BRAGA, 2011a, p. 68; BRAGA, 2012b,
p. 50) e “sociedad de mediatización creciente” (BRAGA, 2012b, p. 47) sublinham a
emergência de mudanças que se implantam e predominam ainda que incompletas
(BRAGA, 2007).
Com todas as variações, a constante é a indicação de uma transformação
ampla e profunda, envolvendo processo midiático e processo social, sem que
necessariamente se referende noções possivelmente precipitadas sobre uma “nova era
digital” ou rompimentos similares.
A percepção dessa transformação amadurece em meados dos anos 2000,
e se manifesta em termos como “bios midiático”, de Muniz Sodré (2004), e “nova
ambiência”, de Pedro Gomes (2006), entre outros dos quais Fausto Neto se alimenta
para explicitar em 2008 a “emergência da midiatização”, que envolve certas mudanças
basilares (FAUSTO NETO, 2008, pp. 92-94):
– conversão de tecnologias em meios: a convergência de fatores sócio-tecnológicos,
nas três últimas décadas, transformando certas tecnologias em meios de produção,
circulação e recepção de discursos;
– atravessamento e capilarização: a perda de ênfase da centralidade, autonomia relativa e
distinção dos meios de comunicação como especialistas no trabalho de intermediação
dos campos sociais, em favor de que pressupostos e operações midiáticas atravessem e
permeiem práticas, interações e campos sociais, gerando zonas de afetação em vários
níveis sociais, envolvendo inclusive os grandes produtores, que se encontram com os
consumidores em novos fluxos;
Optar pelo médio prazo pode ser posição legítima, mas por que confundir
abrangência com generalismo? É curiosa a postura de quem afirma a parcialidade
Institucionalização e dispersão
Observações finais
Nota
1. Duas características – acervo e interatividade – não são aqui resgatadas por estarem
mais ligadas à etapa atual, posterior à instauração do campo midiático.
_______. Circuitos versus Campos Sociais. In: MATTOS, M. Â., JANOTTI JUNIOR,
J.e JACKS, N. (org.). Mediação & Midiatização. Salvador: EDUFBA; Brasília: Compós,
2012a.
_______. Midiatização: prática social, prática de sentido. Paper: Encontro Rede Prosul
– Comunicação, Sociedade e Sentido, no seminário sobre midiatização, Unisinos.
PPGCC, São Leopoldo, 2006b.
Resumo
Esse trabalho pretende contribuir com a reflexão sobre a política
pública de comunicação através da análise da relação do Governo
Lula com o Poder Legislativo, especialmente quanto à questão do
compromisso com a democracia e o diálogo. No desenvolvimento
deste projeto, foram analisados os documentos Mensagens ao
Congresso Nacional dos anos 2004, 2006, 2008 e 2010, a partir
das concepções teóricas de autores como Paulo Freire, Jürgen
Habermas, Marilena Chaui, Noberto Bobbio, entre outros. A
metodologia aplicada seguiu a linha da pesquisa qualitativa e,
desta maneira, permitiu a constatação do entendimento da
comunicação como forma de atingir um “diálogo responsável e
qualificado”, com o objetivo de construir consensos e equacionar
conflitos, se constituindo em meio essencial para governar com
maior participação democrática, aproximando a democracia
representativa da democracia participativa.
O homem, desde muito cedo, faz uso da função comunicar - até porque é
inerente à sua natureza – mas apesar do exercício desde tenra idade, compreende
pouco sobre a essência da comunicação voltada para o próprio crescimento e para o
desenvolvimento da sociedade. A questão se complica ainda mais quando solicitado a
pensar a respeito do que é informação e diálogo. Martín-Barbero faz algumas reflexões
sobre o papel que a comunicação exerce na sociedade:
A esfera pública pode ser descrita como uma rede adequada para a
comunicação de conteúdos, tomada de posição e opiniões; nela os
fluxos comunicacionais são filtrados e sintetizados, a ponto de se
condensarem em opiniões públicas enfeixadas em temas específicos.
(HABERMAS, 1997, p. 92)
Não existe democracia sem que o indivíduo possa sair da condição de súdito.
Sobre isso acrescenta Bobbio que
4 A palavra Isegoria significa: “Todos os cidadãos têm igual direito de manifestar sua opinião política
para todos os outros. A palavra de dois homens têm igual valor perante a sociedade. Quando as opiniões
divergem, é preciso que se discuta a questão. Através do discurso, da fala, os cidadãos têm o direito de
convencer os outros sobre seu ponto de vista” (PRINCÍPIOS..., 2013).
Referências
BORDENAVE, Juan E. Diaz. O que é Participação. 8. ed. São Paulo: Editora Brasiliense,
1994.
BRASIL. Lei n.º 11.497, de 28 de junho de 2007. Altera a Lei no 10.683, de 28 de
maio de 2003, que dispõe sobre a organização da Presidência da República e dos
Ministérios, e dá outras providências. Secretaria de Comunicação Social da Presidência
da República, Brasília, DF. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_
Ato2007-2010/2007/Lei/L11497.htm>. Acessado em: 24 jul. 2013.
BRASIL. Lei 6.650, de 23 de maio de 1979. Diário Oficial da União, Brasília, DF.
FREIRE, Paulo. Extensão ou comunicação? 12. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977.