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Da Prescrição e Decadência

Para melhor adentrarmos no assunto da prescrição e da decadência na petição


de herança, devemos entender seu fundamento inicial.

Primeiramente, teremos que destacar o conceito de Prescrição e Decadência,


conforme abaixo:

 Prescrição é a perda de uma pretensão de exigir de alguém um


determinado comportamento; é a perda do direito à pretensão em razão
do decurso do tempo;
 Decadência é a perda de um direito que não foi exercido pelo seu titular
no prazo previsto em lei; é a perda do direito em si, em razão do
decurso do tempo.1

Tanto a prescrição quanto a decadência, são institutos utilizados em todos os


ramos do direito, e, em se tratando de herança, não poderia ser diferente.

No Direito romano, a sucessão “mortis” tinha caráter extra patrimonial, onde o


poder de família era transmitido, não só financeiramente, mas em caráter religioso
também, dando origem a figura do herdeiro.

Com o passar dos anos, perdeu-se a transmissão em caráter religioso,


permanecendo exclusivamente a transferência econômica aos herdeiros se tratando não
somente de direitos, mas também de deveres.

Com o advento da Constituição Federal de 1988, a herança tornou-se uma


garantia fundamental, estando contida no artigo 5º, inciso XXX2.

Dito isto, passamos ao ponto em que, houve a necessidade de que todo


indivíduo que tivesse o reconhecimento sucessório, caso tivesse sido excluído ou
prejudicado na sucessão hereditária, pudesse propor Ação de Petição de Herança.

1
Retirado na íntegra do site: https://lfg.jusbrasil.com.br/noticias/2584850/prescricao-e-decadencia,
acesso em 30 de abril de 2018, às 17h47min.
2
Artigo 5º, inciso XXX: é garantido o direito de herança (PLANALTO, Titulo II dos Direitos e
Garantias Fundamentais, Capítulo I dos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos – 1988).
No entanto, a legislação anterior, deixou pontos controversos a este respeito,
por não tratar de forma individualizada os institutos da prescrição e decadência. A
legislação civil atual é omissa quanto ao prazo estabelecido, deixando dúvidas sobre se
a ação estaria sujeita à prescrição ou decadência.

Os institutos da prescrição e decadência, por muito tempo foram tidos como


sinônimos, e, ainda após a criação do código de 2002, pairam discordâncias sobre seus
conceitos, objetivos e aplicações.

Fundamenta-se que a aplicação de tais institutos estariam ligadas ao interesse


maior da sociedade, gerando assim a certeza e segurança jurídica.3

Assim, “justamente por tais circunstâncias é que a ordem jurídica estabelece os


prazos de prescrição e decadência, que garantem a relativa estabilidade das relações
jurídicas na sociedade.” (GAGLIANO, 2014, p. 507)

Da Prescrição

O Código Civil de 2002, diferentemente do anterior, individualiza de forma


específica o instituto da prescrição em seus artigos de 189 a 206.

O prazo prescricional tem início no momento em que há violação do direito


subjetivo.4

Acredita-se que tal regra tenha nascido para que as relações jurídicas pudessem
ter uma segurança e estabilidade necessárias, evitando que os sujeitos pudessem estar “a
mercê” do titular de um direito, embasando-se no princípio da segurança jurídica, pois
a prescrição seria uma espécie de punição perante a falta de agir do interessado ou
titular do direito.

Didaticamente conceituou Humberto Theodoro Júnior:

3
TORRANO, 2013, p.120 (TORRANO, Luiz Antônio Alves. Petição de herança. Campinas: Servanda, 2013).
4
Art. 189. Violado o direito, nasce para o titular a pretensão, a qual se extingue, pela prescrição(...) –
Código Civil, 2002 – Título IV, Capítulo I, da Prescrição, Seção I – Disposições Gerais
A prescrição é a sanção que se aplica ao titular do direito que permaneceu
inerte diante de sua violação por outrem. Perde ele, após o lapso previsto em
lei, aquilo que os romanos chamavam de actio, e que, em sentido material, é a
possibilidade de fazer valer o seu direito subjetivo. Em linguagem moderna,
extingue-se a pretensão. (2010, p. 330)

Neste sentido, leciona Maria Helena Diniz: “O titular da pretensão jurídica terá
prazo para propor a ação, que se inicia (dies a quo) no momento em que sofrer violação
do seu direito subjetivo.” (2014, p. 436).

Um ponto de relevante importância é o prazo para a contagem prescricional. O


Código anterior não nos trazia um prazo específico, tendo sido de entendimento
doutrinário, que o nascimento prescricional, se daria pela violação de um direito.

No Código Civil de 2002, o legislador disse desde logo sobre a forma que se
daria a prescrição, deixando expresso no artigo 205 e 206 do supra, que a regra geral,
estaria prevista em 10 (dez) anos, com exceção das hipóteses previstas nos artigos 197 e
198 do mesmo Código.5

Considerando um olhar mais atento, pode-se verificar que ainda que o


legislador tenha trazido um prazo de dez anos criando uma regra geral, tal prazo
somente é aplicável subsidiariamente, em caso de não haver regra específica.

Da Decadência

5
Código Civil, 2002 – Titulo IV, Capítulo I, Seção I – Das Causas que impedem ou suspendem a
prescrição - Valendo a transcrição na íntegra:
Art. 197. Não corre a prescrição:
I - entre os cônjuges, na constância da sociedade conjugal;
II - entre ascendentes e descendentes, durante o poder familiar;
III - entre tutelados ou curatelados e seus tutores ou curadores, durante a tutela ou curatela.
Art. 198. Também não corre a prescrição:
I - contra os incapazes de que trata o art. 3o;
II - contra os ausentes do País em serviço público da União, dos Estados ou dos Municípios;
III - contra os que se acharem servindo nas Forças Armadas, em tempo de guerra.

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