“Nem Deus pode afundar esse navio”. Logo após o trágico naufrágio do grande transatlântico, em 1912, essa era a frase que mais vinha a mente das pessoas. Era uma frase de propaganda, que salientava a segurança do mais moderno dos navios. Agora ela soava como se a ira de divina houvesse caído sobre os soberbos que nela confiavam. Isso tudo tem sido relembrado pelo grande sucesso do filme: Titanic. A frase apareceu nos comentários, nos jornais e nas conversas sobre o filme. Mas teria havido realmente uma ação de Deus para punir aqueles que achavam que algo seria impossível de acontecer? Teria Deus buscado vingar-se dos presunçosos que ousaram desafia-lo? Muitos acham que sim. Afinal, dessa forma Deus imporia respeito. Não cremos assim. Há um hábito generalizado de se culpar a Deus por nossas tragédias e fracassos. Se um avião cai, é porque Deus quis; nos terremotos com vítimas, diz-se que “Deus sabe o que faz”. Na verdade, esse pensamento encerra dois erros: simplifica demasiadamente as realidades da vida, e ignora a verdadeira natureza de Deus. Ao estudarmos os fatores que levaram o Titanic ao fundo do mar, percebemos que eles são os mesmos que fazem fracassar outros empreendimentos humanos, seja um casamento, uma construção de um edifício ou um produto comercial. O primeiro deles é cometer-se um erro por falha conceitual, um erro por ignorância. O tamanho do leme, sabe-se hoje, não era adequado para um navio de 268 metros de comprimento e com altura de um prédio de 11 andares. Da mesma forma, há pessoas que tentam salvar casamentos fazendo ciúmes ao cônjuge ou tendo filhos. São soluções tão populares quanto erradas. Como, então podemos evitar errar, quando nem mesmo o conhecimento humano ,mais avançado nos pode garantir que agimos do modo correto? Humanamente, não há como, porem o nosso Deus atende às orações. Além disso, “se algum de vós tem falta de sabedoria, peça a Deus, que a todos dá liberalmente, e o não lança em rosto, e ser-lhe-à dada”, Tg 1:5 Outro fator é a negligência com os detalhes que realmente importam. No Titanic, havia decoração esmerada, talheres de prata, requinte em todos os detalhes. Mas não eram detalhes fundamentais. Estes, foram desprezados. Isolados, não seriam causa da tragédia, porém eles foram se acumulando. Quando o navio foi encontrado, em 1985, descobriu-se que o aço do casco era uma liga muito rica em carbono, tornando-o mais quebradiço nas frias águas do Atlântico Norte que o desejável, e que os rebites rompiam-se com mais facilidades do que era de se esperar. Assim, ao bater no iceberg, o estrago foi maior que o que poderia ter sido. Além disso, como não se cogitava a possibilidade de um naufrágio, foram colocados apenas 16 dos 48 barcos salva-vidas planejados pelo projetista. Detalhes fundamentais negligenciados. Como os que levam pais a entupirem os filhos de vitaminas e jogos de computador, mas deixam de instruí-los quanto ao respeito ao próximo, temor de Deus e necessidades de salvação. A Bíblia nos exorta a lembrar do que é fundamental: lembra-te do teu criador... Ec 12:1; lembra-te de Jesus Cristo; lembra-te que darás conta á Deus; ensina a criança; não te apartes do livro da lei, antes medita nele. Atentando-se para os detalhes fundamentais da existência, muitas tragédias podem ser evitadas. Um último fator a ser citado agora é a imprudência causada pela vaidade. No caso do Titanic, havia o desejo de ver publicado o nome do navio em manchetes por causa do novo recorde de velocidade na travessia de um navio de passageiros da Europa para a América. Mesmo tendo desviado o curso por causa dos avisos, dando conta da existência de icebergs, decidiu-se manter a velocidade de 22 nós (40 km/h) numa noite sem lua e sem vento (o que impossibilitou ver as ondas batendo no iceberg). A imprudência trazida pela vaidade. A mesma que leva muitos jovens a participarem de “pegas”, a beberem até se embriagarem. A vaidade, raiz da soberba, também leva alguns a quererem se exaltar, mesmo às custas do sofrimento alheio. Mas, os que se exaltam serão humilhados. Assim é que, em várias passagens, a Bíblia nos estimula à prudência e nos ensina como obtê-la. Resta ainda considerar o caráter de Deus. Mesmo havendo em outras dispensações manifestado sua ira, nesta em que vivemos Deus manifesta seu amor e sua graça. Ele não tem prazer na morte do ímpio, mas deseja que ele se arrependa do seu mau caminho e viva(Ez 18;23). Certamente, dentre aqueles que pereceram no episódio do Titanic, havia muitos salvos. Também aprendemos no episódio de Sodoma e Gomorra que Deus não sacrifica o justo ao punir o ímpio. Hoje ainda há muitos que blasfemam e não serão punidos antes do Juízo, pois o Senhor é longânimo, não querendo que alguns se percam, senão que todos venham a arrepender-se. Sim, Deus é amor e quer que todos os homens se salvem e venham ao conhecimento da verdade.
Autor: Daniel Fidélis de Barcellos (Capitão-de-Fragata FN, e coordenador
pedagógico da EBD na AD em Cordovil – RJ) - Seara maio, 1998