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Ana Almeida∗
primeiro lugar, que a violência é um impulso natural nos seres humanos, como em
muitos outros mamíferos, natural e até saudável. Não devemos desejar erradicar a
violência porque isso seria impossível, mas compreendê-la e encontrar formas cada
controlar e canalizar.
preciso não esquecer os enormes danos provocados pelo exercício da violência contra
idade.
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Ana Almeida
Psicóloga Clínica
Mestre em Psicopatologia e Psicologia Clínica
Directora da Clínica Psicronos www.psicronos.pt
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norma, jovens com dificuldades de socialização e reduzida tolerância à frustração.
resposta ao conflito mas a realidade clínica faz-nos pensar que isso não é
imitação dos modelos significativos para a criança, mas o factor determinante é uma
o contexto familiar e ambiental. Uma criança com uma forte predisposição agressiva
oferecido.
claro que existe uma estreita relação entre situações de pobreza, exclusão social e
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naturalmente, crianças e jovens violentos. Deve-se, obviamente combater a violência e
valorizar a vivencia democrática, mas temos que criar formas de permitir a expressão
Enquanto a repressão for a única resposta perante a violência, seja de que tipo for, a
anular e dobrar o impulso até a um certo ponto. A biologia, a fisiologia e as áreas mais
primitiva do psiquismo irão continuar a fazer pressão dentro do sujeito para se fazerem
ouvir.
algumas horas no trânsito ou num estádio de futebol para percebermos que muitos
impulsos agressivos.
uma maior tendência para responder agressivamente aos estímulos do meio e nesse
maturidade emocional, acabam por ser os elementos mais significativos. Ainda assim
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ficamos, naturalmente, com o problema da inter-relação entre o inato e o adquirido na
Não devemos portanto, na minha opinião, considerar que a pulsão agressiva deve ser
intensamente reprimida e esperar que o efeito dessa repressão seja, mais tarde ou
mais cedo, a supressão absoluta dessa tendência. A violência é, num certo sentido,
uma necessidade humana básica e todas as crianças têm que encontrar formas
propensão agressiva terão o caminho bastante mais facilitado já que não terão que se
esforçar tanto para “domar” os seus impulsos; mas podem ficar, pelo contrário, sujeitos
Ainda há muito trabalho a fazer para proteger as crianças vítimas de bullying. O alerta
grave e que deve ser devidamente identificado, travado e punido vai lentamente
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emocionais e relacionais para resolverem os seus conflitos psíquicos e
amadurecerem.
prole de uma mudança, a capacidade de lutar por uma regalia, por um ideal, por um
pais e aos adultos, por maior que seja o receio dessas figuras de autoridade. É a
capacidade de assumir uma posição, mesmo quando todos estão contra nós. É a
serviço da vida.
identidade constrói-se a partir dos conflitos gerados na relação com os outro e que
Quando odiamos uma doença e lutamos para a extinguir, estamos a fazer uso do ódio
criar condições para vivermos melhor e estruturarmos condições para que os outros
vivam melhor, estamos a utilizar a violência positiva. Quando nos debatemos para não
sermos humilhados estamos a fazer uso da violência positiva. Quando agredimos para
defender alguém mais fraco ou por qualquer motivo menos capaz de o fazer por si só,
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É importante termos consciência que as crianças e os adolescentes passam tanto
e da raiva serem emoções saudáveis, tem que ser expressas – como o amor, a alegria
adolescentes a lidarem com as suas próprias emoções, sejam elas quais forem. Neste
sentido é importante ajudá-los a perceber quando é que se está a aproximar uma crise
de raiva, para que possam controlá-la antes de serem completamente dominados por
muscular e crispação são indicadores claros de que uma crise de raiva está a ganhar
até 100 tem como efeito retirar a pessoa do foco gerador da ira e cria o espaço interior
contagem não seja suficiente a pessoa deve isolar-se (ou ser isolada). Devemos
conversar com ele enquanto não for capaz de controlar a sua zanga. Se a crise de
raiva emerge quando a criança está perante uma tarefa que a deixa frustrada é
importante explicar-lhe que a raiva não irá ajudá-la a resolver o problema que ela tem
entre mãos, pelo contrário irá criar-lhe ainda mais problemas, e com calma mostrar-lhe
Qualquer pessoa se pode zangar e enraivecer. Estas emoções são normais, mas é
importante que elas sejam dirigidas à pessoa certa, que sejam expressas com uma
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intensidade adequada, na altura certa, e com o objectivo certo. Muitas vezes as
pode estar profundamente zangado e frustrado com os seus pais ou professores e, por
sobre o qual deveria de recair – o pai, a mãe, o professor – para um outro objecto
menos capaz de retaliar. A descarga da raiva fá-lo sentir-se poderoso, forte e numa
a repetir a estratégia encontrada cada vez mais frequentemente e com mais facilidade.
As crises de raiva são, na maioria das vezes, despoletadas por acontecimento externo
acidentalmente, porque sentimos que alguém foi agressivo connosco, porque nos
porque temos inveja, ciúme, etc. A raiva e a ira são emoções muito intensas e
racionalidade sobre o que se passa, por vezes, sobre o efeito da raiva a pessoa deixa
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desencadeiam as crises de raiva, resolvendo-as de forma adequada e, por último,
diminuir a intensidade da raiva sentida. Para conseguir este efeito – a melhoria das
da empatia. Todos nós temos coisas de que os outros não gostam e coisas de que
pelos outros. No fundo aquilo que se pretende é que os adolescentes sejam, cada vez
de comunicar de forma assertiva. Neste sentido e porque estamos num seminário que
como uma angústia interior de esgotamento de tudo o que existe de bom, perante
forças destruidoras que não podem ser dominadas. O ódio advém, portanto de
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Para as crianças que têm como característica pessoal uma pulsão agressiva intensa,
temperá-lo com amor. Gostaria também de chamar a vossa atenção para o facto de
determinados desportos, como o boxe, que aparentemente poderiam ser boas formas
de escoar o excesso agressivo, podem acabar por ter um efeito inverso, estimulando
agressividade nunca deve ser o único caminho. Abrir canais para libertar a
sexuais.
do gato e do rato; do senhor e do escravo. Subjugo para afirmar perante mim próprio
que não sou subjugado. Destruo para afirmar perante mim próprio que não sou
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No bullying aquilo que nos deve preocupar é o sadismo. O gozo associado à
destruição. As crianças sádicas – tal como os adultos – têm a área do gozo imbricada
sofrimento alheio. O sádico pode deliciar-se com um sofrimento que não foi infligido
por si próprio. Num certo sentido, determinados filmes e cenas de humor, em que
gozo sádico que existe em todos nós. O domínio de uma vítima aterrorizada pode
dor com as pessoas (ou determinada característica da pessoa) que, de alguma forma,
adolescentes que apresentam uma relação sádica com os alvos dos seus ataques
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