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PARECER
ASSUNTO: AVALIAÇÃO DA RESOLUÇÃO DA ANEEL
SOBRE O USO DE APARELHOS DE ECONOMIA
ENERGÉTICA E FILTROS DE LINHA
2

Este estudo objetiva o esclarecimento de questões


referente a regulamentação do uso de aparelhos de economia de energia
elétrica no âmbito do direito ambiental e normas e regulamentações da
ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica).

Desta forma, segue abaixo a explanação acerca do


tema.

ECONOMIA DE ENERGIA

Segundo o INEE (Instituto Nacional de Economia


Energética) o conceito de eficiência energética é “Qualquer atividade
em uma sociedade moderna só é possível com o uso intensivo de uma
ou mais formas de energia.”
O INEE em relatório de agosto/2001, defende que
“Melhorar a eficiência significa reduzir o consumo de energia primária
necessário para produzir um determinado serviço de energia. A redução
pode acontecer em qualquer etapa da cadeia das transformações.”1

O Dr. José Maria Alves Godoi, doutor e mestre em


Energia pela USP, define que “Eficiência energética é a racionalização
do consumo de energia. Compreende ações e medidas
comportamentais, tecnológicas e econômicas, as quais, ao serem
realizadas sobre sistemas e processos de conversão/produção, resultam
em diminuição da demanda energética, sem prejuízo da quantidade ou
qualidade dos bens e serviços produzidos. 2

Em resumo, a eficiência energética consiste em obter


o melhor desempenho na produção de um serviço com o menor gasto
de energia. Como exemplo de ação, está a modernização de
equipamentos e processos no sentido de reduzirem seu consumo.

A economia de energia elétrica é pressuposto de


desenvolvimento da estrutura econômica comercial e industrial do
Brasil, tendo em vista que sem a possibilidade de criação de fontes
1
INEE (Instituto Nacional de Economia Energética). Relatório: A eficiência energética e o novo modelo
do setor energético. Agosto, 2001.
2
GODOI, J.M.A. Eficiência energética industrial: um modelo de governança de energia para a indústria
sob requisitos de sustentabilidade. São Paulo: USP: 2011.
3

energéticas adicionais e alternativas de economia de energia,


fatalmente haverá colapsos do atual sistema de distribuição de energia.

A Lei 9.991/2000 Dispõe sobre realização de


investimentos em pesquisa e desenvolvimento e em eficiência
energética por parte das empresas concessionárias, permissionárias e
autorizadas do setor de energia elétrica.
Sobre este tema a ANEEL (Agência Nacional de
Energia Elétrica), em conformidade com a lei acima, regulamentou que
as concessionárias de serviços públicos de distribuição, transmissão ou
geração de energia elétrica, as permissionárias de serviços públicos de
distribuição de energia elétrica e as autorizadas à produção
independente de energia elétrica – excluindo-se aquelas que geram
energia exclusivamente a partir de instalações eólica, solar, biomassa,
cogeração qualificada e pequenas centrais hidrelétricas –, devem
aplicar, anualmente, um percentual mínimo de sua Receita Operacional
Líquida (ROL) em projetos de Pesquisa e Desenvolvimento
Tecnológico do Setor de Energia Elétrica (P&D).

De acordo com tal determinação, compete à própria


ANEEL regulamentar os investimentos em Pesquisa e
Desenvolvimento (P&D) e Eficiência Energética (EE), seja
incentivando a busca constante por inovações necessárias para
enfrentar os desafios tecnológicos do setor elétrico, seja promovendo o
uso eficiente e racional da energia elétrica, associado às ações de
combate ao desperdício.3
Diante de tais assertivas cumpre salientar que a
economia de energia elétrica é uma preocupação constante de todos os
setores da economia, principalmente o setor público, tendo em vista a
importância do uso racional dos limitados recursos disponíveis.

OS ECONOMIZADORES DE ENERGIA E FILTROS DE LINHA

Os aparelhos economizadores de energia são filtros


de frequências indesejadas, que protege parcialmente a rede elétrica e
qualificam a energia elétrica utilizada.

3
Site: http://www.aneel.gov.br/ped-eficiencia-energetica, 03/10/2016-
4

O filtro de linha é formado por um conjunto de blocos


indutivos, capacitativos e resistivos que associados de forma inteligente
anula a impedância entre a rede e o aterramento para as frequências
diferentes de 60 Hz.

Trata-se de equipamento testado no consumo de


energia elétrica, que objetiva colaborar com a campanha de redução de
energia, desenvolvido nos padrões tecnológicos, para filtrar e atenuar
as interferências na rede de energia elétrica, tais como, distorções
harmônicas, interferências externas, picos de tensão e raios, altamente
prejudiciais ao pleno funcionamento dos equipamentos
eletroeletrônicos.

O equipamento é instalado em paralelo à rede


elétrica, em que só passarão as interferências da rede que causam as
distorções e interferências, estas de ordem de miliampéres, mas que
causam enormes prejuízos à rede elétrica.
O equipamento é instalado após o ponto de entrada de
energia (relógio de medição de energia), sempre depois da chave geral,
painéis e quadros de distribuição de energia elétrica e serve justamente
para levar à residência, comércio e indústria uma energia elétrica livre
de interferências.

Levando em consideração que a energia que


consumimos todos os dias sofre interferências de outros aparelhos que
trabalham em outras frequências, como telefones celulares, rádios
amadores, entre outros. Esta interferência provoca uma sobrecarga na
rede elétrica e, consequentemente, um maior gasto de energia.
E a rede elétrica sem interferências não sobrecarrega
a rede e estabiliza o consumo de energia e o equipamento não altera o
medidor de energia, apenas “filtra as interferências da rede elétrica”.

Por qualificar a energia, pode trazer como benefícios,


dentre outros, economia de consumo de energia elétrica, melhora na
qualidade da rede elétrica local, maior proteção contra raios e picos de
tensão, melhor performance e maior durabilidade dos aparelhos
eletroeletrônicos instalados, diminuição na queima de lâmpadas, etc.
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A REGULAMENTAÇÃO

A Agência Reguladora ANEEL (Agência Nacional de


Energia Elétrica) foi instituída pela Lei nº 9.427, de 26 de dezembro de
1996, que “tem por finalidade regular e fiscalizar a produção,
transmissão, distribuição e comercialização de energia elétrica, em
conformidade com as políticas e diretrizes do Governo Federal”.4

Dentro de suas atribuições, a Agência Reguladora


ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica) institui Normas e
Resoluções Normativas.

No tocante ao presente estudo, faremos a análise da


Resolução Normativa nº 414/2010 atualizada até a Resolução
Normativa 725 de 7 de junho de 2016, que se refere a Direitos e
Deveres dos Consumidores e Distribuidoras.
Primeiramente, insta apontar o quanto conceituado no
artigo 14 da REN 414/2010, que dispõe:

Art. 14. “O ponto de entrega é a conexão do sistema


elétrico da distribuidora com a unidade consumidora
e situa-se no limite da via pública com a propriedade
onde esteja localizada a unidade consumidora,
exceto quando:
I – existir propriedade de terceiros, em área urbana,
entre a via pública e a propriedade onde esteja
localizada a unidade consumidora, caso em que o
ponto de entrega se situará no limite da via pública
com a primeira propriedade; II – a unidade
consumidora, em área rural, for atendida em tensão
secundária de distribuição, caso em que o ponto de
entrega se situará no local de consumo, ainda que
dentro da propriedade do consumidor, observadas as
normas e padrões a que se referem a alínea “a” do
inciso I do art. 27; III – a unidade consumidora, em
área rural, for atendida em tensão primária de
distribuição e a rede elétrica da distribuidora não
atravessar a propriedade do consumidor, caso em
que o ponto de entrega se situará na primeira

4
Artigo 2º Lei 9.427/96, que instituiu a Agência Nacional de Energia Elétrica – ANEEL.
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estrutura na propriedade do consumidor; IV – a


unidade consumidora, em área rural, for atendida em
tensão primária de distribuição e a rede elétrica da
distribuidora atravessar a propriedade do
consumidor, caso em que o ponto de entrega se
situará na primeira estrutura de derivação da rede
nessa propriedade; V – tratar-se de rede de
propriedade do consumidor, com ato autorizativo do
Poder Concedente, caso em que o ponto de entrega
se situará na primeira estrutura dessa rede; VI –
tratar-se de condomínio horizontal, onde a rede
elétrica interna não seja de propriedade da
distribuidora, caso em que o ponto de entrega se
situará no limite da via pública com o condomínio
horizontal; VII – tratar-se de condomínio horizontal,
onde a rede elétrica interna seja de propriedade da
distribuidora, caso em que o ponto de entrega se
situará no limite da via interna com a propriedade
onde esteja localizada a unidade consumidora; VIII –
tratar-se de fornecimento a edificações com múltiplas
unidades consumidoras, em que os equipamentos de
transformação da distribuidora estejam instalados no
interior da propriedade, caso em que o ponto de
entrega se situará na entrada do barramento geral; e
IX – tratar-se de ativos de iluminação pública,
pertencentes ao Poder Público Municipal, caso em
que o ponto de entrega se situará na conexão da rede
elétrica da distribuidora com as instalações elétricas
de iluminação pública. § 1o Quando a distribuidora
atender novo interessado a partir do ramal de
entrada de outro consumidor, o ponto de entrega de
sua unidade consumidora deve ser deslocado para o
ponto de derivação. “§ 2o Havendo interesse do
consumidor em ser atendido por ramal de entrada
subterrâneo a partir de poste de propriedade da
distribuidora, observadas a viabilidade técnica e as
normas da distribuidora, o ponto de entrega se
situará na conexão deste ramal com a rede da
distribuidora, desde que esse ramal não ultrapasse
propriedades de terceiros ou vias públicas, exceto
calçadas.” o(Redação dada pela Resolução
7

Normativa ANEEL nº 479, de 03.04.2012) § 3o Na


hipótese do parágrafo anterior, o consumidor assume
integralmente os custos adicionais decorrentes e de
eventuais modificações futuras, bem como se
responsabiliza pela obtenção de autorização do
poder público para execução da obra de sua
responsabilidade.” o(Redação dada pela Resolução
Normativa ANEEL nº 418, de 23.11.2010) “§ 4o Por
conveniência técnica, o ponto de entrega pode se
situar dentro da propriedade do consumidor, desde
que observados os padrões a que se refere a alínea
“a” do inciso I do art. 27.”

Dentro do conceito apontado pela norma, o ponto de


entrega efetivamente é o relógio medidor de consumo de energia
elétrica.

Logo após, no artigo 15, a norma define que:

Art. 15. A distribuidora deve adotar todas as


providências com vistas a viabilizar o fornecimento,
operar e manter o seu sistema elétrico até o ponto de
entrega, caracterizado como o limite de sua
responsabilidade, observadas as condições
estabelecidas na legislação e regulamentos
aplicáveis. (grifo nosso)

No artigo acima, a norma regulamentada pela


ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica) explicita que a
responsabilidade da distribuidora de energia elétrica limita-se ao ponto
de entrega, ou seja, ao relógio medidor de consumo de energia.

Com base em tal assertiva, e levando em


consideração a instalação do equipamento anteriormente explicitada,
percebe-se que a instalação do equipamento filtro de energia após o
relógio medidor de consumo de energia é de exclusiva responsabilidade
da unidade consumidora.
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Portanto, não há quaisquer irregularidades ou


ilegalidades no uso e na instalação de equipamentos filtros de linha que
tenha por objetivo a qualificação da energia, tendo como resultado
maior proteção da rede e economia de energia elétrica.

Tendo em vista não haver demandas judiciais


evocando o uso de equipamentos qualificadores de energia, não há um
entendimento jurisprudencial sobre o tema.

Portanto, segue julgado do Tribunal de Justiça do


Estado de São Paulo em que há a menção sobre equipamento com
atuação semelhante:

AÇÃO ANULATORIA CUMULADA COM


INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS -
APURAÇÃO UNILATERAL POR SUPOSTA
FRAUDE NO MEDIDOR DE CONSUMO, NÃO
SUBMETIDA AO CONTRADITÓRIO OU À AMPLA
DEFESA – INSTALAÇÃO DE "REDULIGHT" APÓS
A CHAVE GERAL QUE NÃO CARACTERIZA
FRAUDE - EQUIPAMENTO ELETRÔNICO QUE
OBJETIVA ATENUAR INTERFERÊNCIAS NA
REDE DE ENERGIA ELÉTRICA, SEM
CONTRARIAR NORMAS DA ANEEL - NULIDADE
DO TOI - AUSÊNCIA DE CONDUTA DA
CONCESSIONÁRIA PASSÍVEL DE ENSEJAR
DANOS MORAIS - EVENTUAIS TRANSTORNOS
NÃO SE QUALIFICAM COMO DANOS DE ORDEM
MORAL - NECESSIDADE DE PROVAR O FATO
QUE GEROU A DOR E O SOFRIMENTO
ALEGADOS, A FIM DE SE IMPOR CONDENAÇÃO
- RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO.5

No entendimento do Tribunal, o equipamento


semelhante não contraria as normas da ANEEL, portanto não tem
conduta lesiva ou ilícita do consumidor que utiliza o filtro de linha.

Salienta-se que o equipamento não furta a energia e


não elide a contagem do consumo, que restaria em ato ilícito do

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TJSP. Apelação c/ revisão 1195161-0/1. Des. Rel. Francisco Casconi. D. 17.02.2009
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consumidor, com riscos cíveis (cobranças, multas e indenizações) e


criminais (artigos 155 e 171 do Código Penal).

Tais cominações de penalidades somente serão


possíveis após a avaliação pericial do medidor de consumo de energia
elétrica pela autoridade policial e a efetiva comprovação de adulteração
do mesmo, comprovando a fraude quando o consumidor rompe os
lacres da sua medição e manipula o consumo do seu relógio de energia
com o objetivo de reduzi-lo.

Mais uma vez, na instalação do filtro de linha não há


a mínima possibilidade de adulteração do relógio medidor de consumo
de energia elétrica, uma vez que a instalação do equipamento se dá
após o relógio medidor de consumo, conforme consta do manual de
instalação que acompanha o produto.
É importante lembrar que os direitos e garantias
individuais são limitadores da atuação administrativa (distribuidora de
energia), uma vez que são automaticamente inconstitucionais todos os
atos que atentem contra qualquer princípio previsto no art. 5° da
Constituição Federal.

Portanto, o combate à fraude de energia não pode


implicar em ofensa aos princípios do acesso à justiça e da ampla defesa
e do contraditório ao consumidor, assegurados constitucionalmente.

Em outras palavras, a distribuidora de energia não


poderá unilateralmente emitir laudos, relatórios e pareceres
identificando supostas fraudes se não houver o respeito ao contraditório
e ampla defesa do consumidor, que terá direito contestatório.
Ainda mais, conforme Ofício n° 502/2004 -
DR/ANEEL (Ref. fls. 19 do Parecer nº 158/2004 - PF/ANEEL), que
informa que nas “Condições Gerais de Fornecimento de Energia
Elétrica” constam rotinas, critérios e providências, no âmbito
administrativo, conforme art. 72 da Resolução 456 de 2000, para a
análise e caracterização “da ocorrência de qualquer procedimento
irregular cuja responsabilidade não lhe seja atribuível”, ou seja,
procedimento do consumidor (ação), mediante fraude, artifício, ardil
(irregular), que tenha provocado (dano) e consequentemente
faturamento inferior ao correto; ou não ter havido qualquer
faturamento. Neste caso, o prazo máximo de cobrança retroativa será
limitado a 05 (cinco) anos.
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Em suma, para haver o indício de fraude, deverá


obrigatoriamente ter ocorrido a ação do consumidor do rompimento do
lacre ou adulteração do relógio medidor de energia e que tenha
provocado dano com o não pagamento de energia consumida.

Com a instalação do filtro de linha que irá qualificar e


permitir maior proteção à rede, não há a ocorrência de dano, pois será
cobrado o que efetivamente foi consumido pela unidade consumidora.

CONCLUSÃO

De acordo com o exposto, conforme a análise da


norma regulamentadora da ANEEL (Agência Nacional de Energia
Elétrica), entendimento jurisprudencial e doutrinário, conclui-se que
não há ilegalidade na instalação de equipamento filtro de linha após o
ponto de entrega da energia pela distribuidora de energia, pois não há a
violação do relógio medidor de energia na instalação do equipamento.
Desta forma, colocamo-nos a disposição para
esclarecer quaisquer dúvidas que por ventura existirem.

É o parecer.

Itu, 10 de Outubro de 2016.

SHIRLEY H. GONÇALVES CIPRIANO

OAB/SP 289.415

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