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Estudo desenvolvido no Curso RESUMO: A estimulação elétrica nervosa transcutânea (TENS) é um recurso não-
de Fisioterapia da Unicid – farmacológico já consagrado na modulação de dores agudas e crônicas. O objetivo
Universidade Cidade de São deste estudo foi verificar o efeito da TENS convencional e na modalidade TENS-
Paulo, São Paulo, SP, Brasil acupuntura na dor induzida pelo frio. Trinta indivíduos saudáveis com idade entre
1 18 e 40 anos foram distribuídos ao acaso em três grupos: placebo, TENS
Fisioterapeutas convencional e TENS-acupuntura. Foi utilizado um protocolo de indução de dor
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Prof. Dr. do Curso de Mestrado pelo frio composto por seis ciclos: dois pré-tratamento, dois durante e dois após o
em Fisioterapia da Unicid tratamento. A TENS foi aplicada por 20 minutos por dois canais, sendo a modalidade
convencional, no nível sensorial, na freqüência de 80 Hz e a modalidade
ENDEREÇO PARA acupuntura, no nível motor, a 4 Hz. Foram medidos limiar de dor, tolerância à dor
CORRESPONDÊNCIA e intensidade da dor. Não foi encontrada diferença estatisticamente significante
nos valores medidos durante a após o tratamento quando comparados aos dos
Richard E. Liebano ciclos pré-tratamento, em todas as variáveis. Nas duas modalidades estudadas pois,
Setor de Pós-Graduação /Unicid a TENS, nos parâmetros de aplicação utilizados, não modificou a dor induzida por
R. Cesário Galeno 448 frio, sugerindo-se novos estudos com maior tempo de aplicação da TENS e diferentes
03071-000 São Paulo SP modelos de dor experimental.
e-mail: liebano@gmail.com
DESCRITORES: Dor; Estimulação elétrica nervosa transcutânea/métodos; Limiar da dor
2009;16(2)
Fisioter Pesq. 2009;16(2):148-54 149
com os ciclos 3 e 4 (tratamento) e 5 e 6
Mão imersa Mão imersa “Dor!” Retirada da mão (pós-tratamento). A comparação das
médias das variáveis limiar de dor, tole-
Água aquecida a 37ºC Água a 0ºC
rância à dor e intensidade da dor entre
o período pré-tratamento e os ciclos 3,
Limiar de dor
4, 5 e 6 (separadas pelos grupos con-
Tolerância à dor Repouso vencional, acupuntura e placebo) foram
feitas pela análise de variância (ANOVA)
5 minutos 5 minutos
com medidas repetidas21.
Figura 1 Esquema ilustrativo do protocolo do ciclo de indução da dor pelo frio
Para a manutenção da água morna trações musculares fortes, porém con-
RESULTADOS
(37ºC) elaborou-se um instrumento fortáveis. Os sujeitos do grupo placebo A comparação da média das variáveis
constituído de um recipiente de aço inox foram submetidos ao protocolo com o limiar de dor, tolerância à dor e intensida-
(10x25x15 cm), uma resistência elétri- aparelho desligado. de da dor nos ciclos 1 e 2 (pré-tratamen-
ca e um termostato digital, revestidos por to) não detectou diferenças significati-
A análise dos dados foi feita com o
material isolante térmico. A resistência vas entre os ciclos (p=0,702; 0,507;
pacote estatístico SPSS (Statistical
elétrica foi instalada sob o recipiente de 0,319, respectivamente). Assim, pode-se
Package for Social Sciences for Windows
inox para evitar qualquer risco de quei- considerar que nesses ciclos, os três gru-
v.11.5). Todos os testes foram realizados
maduras ou choques aos voluntários. pos (placebo, acupuntura e convencio-
considerando hipóteses bilaterais e as-
Para a manutenção da temperatura da
sumindo o nível de significância α=5%. nal) eram homogêneos entre si. Os va-
água foi utilizado um termômetro espe- lores medidos de limiar de dor, tolerân-
O período pré-tratamento foi con-
cífico para o meio aquático (Incoterm). cia à dor e intensidade da dor são
siderado a média dos ciclos 1 e 2, e foi
Para a avaliação do limiar de dor e tole- apresentados na Tabela 1.
utilizado como base para a comparação
rância à dor foi utilizado um cronôme-
tro (Oregon, modelo SL210). Tabela 1 Limiar de dor e tolerância à dor (em segundos) e intensidade de dor (em
cm da escala visual analógica) nos três grupos (média ± desvio padrão)
A estimulação elétrica foi aplicada
antes, durante e após o tratamento e valor de p da diferença entre os ciclos
apenas em seguida aos ciclos 3 e 4 (20
minutos de tratamento sem interrupção). Variável Pré-tratamento Tratamento Pós-tratamento
Dois ciclos adicionais (ciclos 5 e 6) fina- Grupos (n=10) Ciclos 1 e 2 Ciclo 3 p
Ciclo 4 Ciclo 5 Ciclo 6
lizaram o protocolo após a utilização da
Limiar (s)
estimulação elétrica. Assim, duas medi- Convencional 16,4r4,3 16,7r4,7 15,9r6,1 21,4r10,1 21,2r9,8 0,5310
das pré-intervenção, duas medidas du-
Acupuntura 13,9r3,4 16,7r4,3 15,0r2,5 16,9r2,6 17,6r3,1 0,4446
rante a intervenção e duas medidas pós-
intervenção foram obtidas20. Placebo 12,2r2,4 10,2r1,8 13,3r3,0 16,3r4,2 16,2r2,4 0,0605
Tolerância (s)
O equipamento utilizado no experi- Convencional 39,3r9,6 39,6r7,8 42,2r12,6 57,6r18,2 65,9r30,6 0,4100
mento foi Dualpex (961 Quark). A TENS Acupuntura 42,1r11,5 40,6r9,8 38,9r6,0 42,1r11,5 40,2r5,4 0,9950
foi aplicada através de dois canais: dois
Placebo 27,4r4,5 24,0r5,2 22,7r2,9 24,9r6,1 24,7r2,4 0,8586
eletrodos na superfície ventral e dois ele-
Intensidade (cm)
trodos na superfície dorsal do antebra-
Convencional 4,5r0,7 4,7r0,8 5,3r0,7 4,9r0,7 5,1r0,9 0,5871
ço. O primeiro eletrodo foi colocado três
cm a partir da primeira prega do punho Acupuntura 5,8r0,4 6,1r0,5 6,3r0,4 6,9r0,5 7,1r0,5 0,3363
e o segundo eletrodo foi disposto a dois Placebo 5,1r0,5 6,1r0,4 5,6r0,5 6,0r0,7 6,5r0,6 0,0574
cm do primeiro. Foram utilizados ele-
35 Limiar da dor
trodos não-adesivos (borracha siliconada
com carbono) de 6x5 cm, juntamente 30 Pré-tratamento
com um meio condutivo (gel 25 Ciclo 3
Segundos
Pré-tratamento
5 maior. Johnson 26, Johnson et al. 27 e
Ciclo 3
4
Ciclo 4 Stephenson e Walker36 utilizaram um
3 Ciclo 5 protocolo composto por 6 ciclos (2 ci-
2 Ciclo 6 clos pré-tratamento e 4 ciclos trata-
1 mento), onde cada ciclo tinha duração
0 de 15 minutos, totalizando 60 minutos de
Convencional Acupuntura Placebo tratamento. Johnson et al.13 adotaram um
Grupo protocolo com 8 ciclos (2 pré-tratamento,
3 tratamento e 3 pós-tratamento), onde cada
Figura 4 Intensidade da dor (cm da escala visual analógica – EVA), média e erro ciclo tinha a duração de 10 minutos,
padrão) no período pré-tratamento e nos ciclos 3, 4, 5 e 6 dos grupos totalizando 30 minutos de tratamento.
(n=10) convencional, acupuntura e placebo
Vários estudos28-32,35 utilizaram um
Na Figura 2 são apresentados os va-
lores da variável limiar de dor para cada
DISCUSSÃO protocolo onde o ponto de tolerância à
dor é pré-determinado (30 s). Porém,
grupo, em cada ciclo. Nenhuma dife- A estimulação elétrica nervosa trans- durante um teste piloto realizado para
rença estatisticamente significante foi cutânea é um recurso já consagrado na este estudo, verificou-se que muitos vo-
encontrada entre os ciclos nos grupos. Os modulação de dores agudas e crônicas, luntários não toleravam esse tempo im-
intervalos demarcados pelas barras indi- sendo utilizada diariamente como parte posto, de modo que este seria um fator
cam os erros-padrão de cada ciclo. do arsenal de recursos disponíveis ao de exclusão no estudo. Adotou-se assim
fisioterapeuta22-24. Seu mecanismo de ação um protocolo no qual a tolerância à dor
Quando avaliada a tolerância à dor, é determinada pelo próprio voluntário
passou a ser melhor compreendido após
dois sujeitos dos grupos acupuntura e – o que já havia sido utilizado em al-
a postulação da teoria das comportas por
placebo foram excluídos da pesquisa, guns estudos26,27,36.
Melzack e Wall25, sendo determinado que
pois tiveram tolerância ao frio que ul- a estimulação de fibras nervosas aferentes Para quantificar a intensidade da dor
trapassou os 5 minutos do protocolo. Na de grosso calibre (mielinizadas) e rápida de maneira fidedigna, foi utilizada a es-
Figura 3 são apresentados os valores velocidade de condução (A-beta) po- cala visual analógica (EVA), que é uma
da variável tolerância à dor para cada deria inibir a passagem de estímulos no- escala amplamente utilizada pela lite-
grupo, em cada ciclo. Nenhuma dife- ciceptivos que estariam sendo transmi- ratura em geral e, também, pelos estu-
rença estatisticamente significante foi tidas pelas fibras lentas do tipo A-delta dos que adotaram o protocolo de dor
encontrada entre os grupos nem entre e tipo C. induzida pelo frio26-31,33-36.
os ciclos.
Uma das modalidades da TENS é a A tolerância à dor, outra variável aqui
Na Figura 4 são apresentados os va- chamada acupuntura, que produz con- avaliada, é pouco relatada pelos auto-
lores da variável intensidade da dor ava- trações musculares por alta intensidade res, tendo sido analisada apenas por
liada pela EVA para cada grupo, em cada e baixa freqüência (2 a 4 Hz). Essa mo- Johnson26 e Johnson et al.27, em traba-
um dos ciclos considerados no estudo. dalidade produz analgesia preferencial- lhos que observaram os efeitos analgé-
Nenhuma diferença estatisticamente mente pela ativação das fibras de peque- sicos nas diferentes freqüências e dura-
significante foi encontrada entre os gru- no diâmetro e liberação de opióides no ções de pulso da TENS na dor induzida
pos ou ciclos. sistema nervoso central3,26. pelo frio em sujeitos normais.
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Nos estudos que utilizaram o proto- entre os ciclos nos grupos (placebo, con- progressiva e lenta. A eficácia da TENS
colo de indução da dor pelo frio, os auto- vencional e acupuntura). É provável que acupuntura foi observada no estudo de
res não relatam como, e com que instru- esses resultados tenham sido decorren- Johnson et al.13, que usaram um modelo
mento, ocorre a manutenção da água tes da vasta variabilidade do limiar de experimental com tempo de tratamento
morna durante todo o ciclo (60 minu- dor na população, como citam Johnson de 30 minutos. O comportamento do li-
tos). Na falta dessa informação, para este e Tabasam31. miar de dor no pós-tratamento mostrou-
estudo foi elaborado um instrumento se mais eficaz na TENS acupuntura
onde a água foi aquecida a 37ºC e essa Johnson38 preconiza o tempo de tra-
quando comparado às outras moda-
temperatura foi mantida durante todo o tamento para a TENS convencional de
lidades da TENS, o que não foi verifi-
protocolo. Essa informação é de grande pelo menos 30 minutos e, para a TENS
cado no presente estudo, com menor
importância para estudos que venham acupuntura, de em média 20 minutos.
tempo de tratamento.
adotar esse protocolo, pois permite que Portanto, outro fator determinante dos
futuros pesquisadores utilizem o mesmo resultados encontrados pode ter sido a Para realização de estudos futuros que
instrumento aqui utilizado. escolha do protocolo com tempo de tra- comparem a TENS convencional com a
tamento de 20 minutos. Johnson e TENS acupuntura na dor induzida pelo
Vários autores13,26,28,29,33 preconizaram Tabasam31 adotaram esse mesmo proto- frio, é interessante utilizar um protoco-
um posicionamento de eletrodos apenas colo e também não encontraram dife- lo com tempo de tratamento superior a
na superfície ventral do antebraço, visan- renças estatisticamente significantes em 20 minutos, como fizeram Johnson et
do estimular o nervo mediano. O presen- seus resultados. Em contrapartida, al.13, objetivando-se melhor eficácia no
te trabalho adotou um posicionamento mecanismo de ação dessas modalidades.
Shanahan et al.33 utilizaram um proto-
de eletrodos tal que envolve os dermá-
colo semelhante ao do presente estudo
tomos e miótomos correspondentes ao Além disso, sugere-se um aumento da
para comparar a TENS e terapia interfe-
sítio doloroso, uma vez que o estímulo amostra na tentativa de diminuir o valor
rencial, tendo como resultado uma mai-
doloroso ocorrerá em toda a mão, e não de desvio-padrão, e que seja realizado
or efetividade da TENS no aumento do
somente nas áreas inervadas pelo nervo um estudo cruzado, de modo a minimi-
limiar de dor. Ward e Oliver34 e Aaskorg
mediano. Além disso, esse posiciona- zar a interferência da variabilidade do
et al.39 também realizaram um estudo
mento visa uma melhor eficácia do me- limiar de dor de cada sujeito. Ward e
com 20 minutos de eletroestimulação e
canismo de ação de ambas as modali- Oliver34 realizaram um estudo cruzado
obtiveram resultados positivos quanto ao
dades (TENS convencional e TENS com 19 sujeitos, no qual cada voluntá-
acupuntura). limiar de dor. Outros estudos que utili-
rio participou de todos os grupos do es-
zaram um tempo de tratamento superi-
Os parâmetros utilizados na TENS tudo, sendo possível avaliar o limiar de
or a 20 minutos obtiveram dados
convencional e TENS acupuntura foram dor do mesmo sujeito em diferentes
significantes em relação ao aumento do
selecionados conforme o que a literatu- tratamentos.
limiar de dor12,13,27,29,30.
ra tem mostrado. Johnson et al.6 observa-
Considerando os mecanismos de
ram que a freqüência de 80 Hz produ-
ziu maior elevação no limiar de dor. ação da TENS convencional e da TENS CONCLUSÃO
Sluka et al.37 e Walsh et al.17 utilizaram acupuntura, sugere-se que o tempo de
Como não houve diferença no limiar,
a freqüência de 4 Hz para a TENS tratamento de 20 minutos talvez não seja
intensidade ou tolerância à dor induzida
acupuntura, sendo que este último es- suficiente para produzir um efeito anal-
pelo frio entre os ciclos nos grupos inves-
tudo observou que a freqüência de 4 Hz gésico eficaz no limiar, na tolerância e
tigados, pode-se dizer que a estimulação
foi a única a demonstrar um efeito anal- na intensidade da dor induzida pelo frio,
elétrica nervosa transcutânea, nas moda-
gésico significante. A duração de pulso principalmente na modalidade con-
lidades convencional e acupuntura, não
utilizada no presente estudo foi selecio- vencional.
surtiu efeito analgésico, nos parâmetros
nada devido à sua ampla utilização em de aplicação utilizados, sugerindo-se no-
A TENS acupuntura tem uma parti-
estudos semelhantes13,26,27,33. vos estudos com diferentes modelos de
cularidade no efeito pós-tratamento de-
O presente estudo não apresentou vido à liberação de opióides no sistema dor experimental e permitindo maiores
diferenças estatisticamente significantes nervoso central, que ocorre de maneira tempos de aplicação da TENS.
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