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Fisioterapia e Pesquisa, São Paulo, v.16, n.2, p.148-54, abr./jun.

2009 ISSN 1809-2950

Estimulação elétrica nervosa transcutânea nas modalidades convencional e


acupuntura na dor induzida pelo frio
Conventional and acupuncture-like transcutaneous electrical nerve
stimulation on cold-induced pain
Hisa Costa Morimoto1, Márcia Yumi Yonekura1, Richard Eloin Liebano2

Estudo desenvolvido no Curso RESUMO: A estimulação elétrica nervosa transcutânea (TENS) é um recurso não-
de Fisioterapia da Unicid – farmacológico já consagrado na modulação de dores agudas e crônicas. O objetivo
Universidade Cidade de São deste estudo foi verificar o efeito da TENS convencional e na modalidade TENS-
Paulo, São Paulo, SP, Brasil acupuntura na dor induzida pelo frio. Trinta indivíduos saudáveis com idade entre
1 18 e 40 anos foram distribuídos ao acaso em três grupos: placebo, TENS
Fisioterapeutas convencional e TENS-acupuntura. Foi utilizado um protocolo de indução de dor
2
Prof. Dr. do Curso de Mestrado pelo frio composto por seis ciclos: dois pré-tratamento, dois durante e dois após o
em Fisioterapia da Unicid tratamento. A TENS foi aplicada por 20 minutos por dois canais, sendo a modalidade
convencional, no nível sensorial, na freqüência de 80 Hz e a modalidade
ENDEREÇO PARA acupuntura, no nível motor, a 4 Hz. Foram medidos limiar de dor, tolerância à dor
CORRESPONDÊNCIA e intensidade da dor. Não foi encontrada diferença estatisticamente significante
nos valores medidos durante a após o tratamento quando comparados aos dos
Richard E. Liebano ciclos pré-tratamento, em todas as variáveis. Nas duas modalidades estudadas pois,
Setor de Pós-Graduação /Unicid a TENS, nos parâmetros de aplicação utilizados, não modificou a dor induzida por
R. Cesário Galeno 448 frio, sugerindo-se novos estudos com maior tempo de aplicação da TENS e diferentes
03071-000 São Paulo SP modelos de dor experimental.
e-mail: liebano@gmail.com
DESCRITORES: Dor; Estimulação elétrica nervosa transcutânea/métodos; Limiar da dor

ABSTRACT: Transcutaneous electrical nerve stimulation (TENS) is a non-pharmacological


method already established in the modulation of acute and chronic pain. The purpose
of this study was to assess the effect of conventional TENS and acupuncture-like
TENS on cold-induced pain. Thirty healthy subjects aged 18 to 40 years old were
randomized into in three groups: placebo, conventional TENS, and acupuncture-
like TENS. A cold-induced pain protocol was used, in six cycles (two pre-treatment,
two during, and two after treatment); TENS was applied for 20 minutes through 2
channels, the conventional modality at sensory level at 80 Hz, and the acupuncture
modality at motor level at 4 Hz. Variables analysed were pain threshold, tolerance
to pain, and pain intensity. No statistically significant differences were found in
any variable between post and pre-treatment measures in all groups. Hence neither
APRESENTAÇÃO conventional or acupuncture-like TENS had any effect on cold-induced pain. Further
dez. 2008 studies are suggested, with different experimental pain models, and with longer
ACEITO PARA PUBLICAÇÃO time of TENS application.
maio 2009 KEY WORDS: Pain; Pain threshold; Transcutaneous electric nerve stimulation/methods

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Morimoto et al. TENS nos modos convencional e acupuntura para dor

INTRODUÇÃO do estímulo. Durante esse teste, uma


sensação dolorosa é gerada pelos re-
bre a dor induzida pelo frio, adotando o
posicionamento de eletrodos acima
A estimulação elétrica é usada regu- ceptores de temperatura, que começam mencionado.
larmente por fisioterapeutas, sendo a enviar estímulos de um possível dano
indicada para o controle da dor, reedu- tecidual pelas vias periférica (fibras C e
cação muscular, fortalecimento e di- A-delta) e central (espinotalâmica e METODOLOGIA
minuição de edema. Entre esses, o con- espinoreticular), resultando na sensação
de dor induzida pelo frio11. O estudo foi desenvolvido na Univer-
trole da dor é o uso mais comum1,2.
sidade Cidade de São Paulo e aprovado
A estimulação elétrica nervosa Muitos estudos já foram realizados pelo Comitê de Ética e Pesquisa da ins-
transcutânea (TENS) envolve a transmis- para investigar os diferentes parâmetros tituição. Trinta voluntários saudáveis fo-
são de energia elétrica de um estimula- da TENS na dor induzida experimental- ram recrutados, com idades entre 18 e
dor externo para o sistema nervoso pe- mente12-16, mas até o presente não exis- 40 anos, de ambos os sexos (15 homens
riférico, através de eletrodos de superfí- te um consenso sobre a melhor freqüên- e 15 mulheres), tendo todos assinado um
cie conectados na pele3. É uma técnica cia a ser utilizada no tratamento da dor termo de consentimento livre e esclare-
simples e eficiente, muito utilizada para aguda. Walsh et al.17 investigaram o efei- cido. Os critérios de exclusão foram:
o alívio da dor4. Apesar disso, os estu- to da TENS de baixa freqüência (4 Hz) e apresentar na mão não-dominante al-
dos que investigam o efeito de diferen- de alta freqüência (110 Hz) na dor gum problema ortopédico, neurológico,
tes parâmetros da TENS na modulação isquêmica, encontrando que a TENS de doença circulatória, hipersensibilidade
da dor apresentam resultados divergen- baixa freqüência teve melhor efeito anal- ao frio ou lesões de pele na área em que
tes5,6. gésico que a de alta freqüência. Porém são colocados os eletrodos (superfície
o mesmo grupo de pesquisadores, em ventral e dorsal do antebraço); e, ainda,
A TENS pode ser classificada em qua-
outro estudo18, verificaram o efeito da tolerar a imersão na água a 0ºC por mais
tro modalidades: convencional, acupun-
TENS em diferentes freqüências e durações de 5 minutos. Os voluntários foram dis-
tura, em rajadas (burst) e breve-intensa.
de pulso durante a dor mecânica e consta- tribuídos em três grupos: placebo (n=10),
A convencional tem baixa intensidade
taram que a TENS de alta freqüência (110 TENS convencional (n=10) e TENS
e alta freqüência (10 a 200 Hz) e é
Hz) proporcionou maior analgesia. acupuntura (n=10).
comumente utilizada em dores agudas;
a acupuntura tem alta intensidade e bai- A literatura tem se mostrado escassa O protocolo de indução da dor pelo
xa freqüência (2 a 4 Hz) e é mais usada em relação ao uso de diferentes moda- frio foi constituído de seis ciclos idênti-
em dores crônicas3. lidades de TENS na dor aguda, e os es- cos, cada um com a duração de dez mi-
tudos disponíveis apresentam resultados nutos, totalizando uma hora de teste.
A produção de analgesia ocorre por
conflitantes. Ashton et al.19 compararam Cada ciclo (Figura 1) começava com o
diferentes mecanismos. Na modalidade
o efeito de duas freqüências da TENS (8 sujeito colocando a mão não-dominan-
convencional estimulam-se preferencial-
Hz e 100 Hz) na dor induzida pelo frio, te (até parte distal do punho) na água
mente as fibras de maior diâmetro (A-beta),
encontrando que a TENS de 8 Hz pro- morna (37ºC). Após cinco minutos o
fazendo com que a maior parte da mo-
duz maior analgesia, comparada com a sujeito transferia a mão para a água fria
dulação da dor ocorra em nível medu-
de 100 Hz e ao grupo placebo. Em (0ºC). O voluntário foi instruído a se
lar; na modalidade acupuntura estimu-
contrapartida, Johnson et al.12 relataram concentrar na sensação da mão imersa
lam-se fibras de menor diâmetro (A-del-
que a TENS com freqüências entre 20 até o ponto em que essa sensação se
ta), onde se acredita que ocorra
Hz e 80 Hz produz maior analgesia. tornasse dolorosa – e, depois, retirar a
analgesia principalmente no nível su-
mão da água quando não suportasse
praespinal (liberação de neuromediado- Além disso, o posicionamento de ele- mais a dor. O tempo decorrido (em se-
res endógenos e opióides), por supres-
trodos adotado em estudos semelhantes gundos) até o momento em que relatou
são da transmissão e da percepção de
pode levar a um viés, uma vez que pres- a sensação de dor foi cronometrado e
estímulos nocivos da periferia3,7.
supõe a estimulação do nervo mediano considerado a variável limiar de dor. O
A eficácia da TENS pode variar de – e, no modelo experimental de indução tempo decorrido desde o limiar de dor
acordo com o tempo de duração de pul- da dor pelo frio, toda a mão é submeti- até o momento em que o sujeito retirou
so, freqüência, polaridade e forma de da ao estímulo nociceptivo. Desse a mão da água foi considerado a variá-
onda5,8,9. Modelos experimentais de dor modo, seria interessante verificar o uso vel tolerância à dor. Na seqüência, o
são usados para representar clinicamen- da TENS na dor induzida pelo frio ado- voluntário marcou em uma escala visu-
te essa sensação e tornam possível o con- tando um posicionamento de eletrodos al analógica (EVA) a intensidade da dor
trole de variáveis, como intensidade e que priorizasse a estimulação de numa reta de 0 a 10 cm, onde 0 signifi-
duração. Esses modelos utilizam diferen- dermátomos e miótomos relacionados às ca ausência de dor e 10 significa a pior
tes tipos de estímulos: frio, mecânico, regiões anteriores e posteriores do pu- dor imaginável. A partir disso, o sujeito
elétrico e isquemia10. O modelo de dor nho e da mão. Assim, o objetivo deste permaneceu em repouso até se comple-
induzida pelo frio é um método simples estudo foi verificar o efeito da TENS con- tarem os dez minutos do ciclo. O ciclo
que envolve um risco mínimo de lesão vencional (na freqüência de 80 Hz) e da seguinte recomeçou com a reimersão da
tecidual e a dor cessa após a remoção TENS acupuntura (freqüência 4 Hz) so- mão na água morna13.

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com os ciclos 3 e 4 (tratamento) e 5 e 6
Mão imersa Mão imersa “Dor!” Retirada da mão (pós-tratamento). A comparação das
médias das variáveis limiar de dor, tole-
Água aquecida a 37ºC Água a 0ºC
rância à dor e intensidade da dor entre
o período pré-tratamento e os ciclos 3,
Limiar de dor
4, 5 e 6 (separadas pelos grupos con-
Tolerância à dor Repouso vencional, acupuntura e placebo) foram
feitas pela análise de variância (ANOVA)
5 minutos 5 minutos
com medidas repetidas21.
Figura 1 Esquema ilustrativo do protocolo do ciclo de indução da dor pelo frio
Para a manutenção da água morna trações musculares fortes, porém con-
RESULTADOS
(37ºC) elaborou-se um instrumento fortáveis. Os sujeitos do grupo placebo A comparação da média das variáveis
constituído de um recipiente de aço inox foram submetidos ao protocolo com o limiar de dor, tolerância à dor e intensida-
(10x25x15 cm), uma resistência elétri- aparelho desligado. de da dor nos ciclos 1 e 2 (pré-tratamen-
ca e um termostato digital, revestidos por to) não detectou diferenças significati-
A análise dos dados foi feita com o
material isolante térmico. A resistência vas entre os ciclos (p=0,702; 0,507;
pacote estatístico SPSS (Statistical
elétrica foi instalada sob o recipiente de 0,319, respectivamente). Assim, pode-se
Package for Social Sciences for Windows
inox para evitar qualquer risco de quei- considerar que nesses ciclos, os três gru-
v.11.5). Todos os testes foram realizados
maduras ou choques aos voluntários. pos (placebo, acupuntura e convencio-
considerando hipóteses bilaterais e as-
Para a manutenção da temperatura da
sumindo o nível de significância α=5%. nal) eram homogêneos entre si. Os va-
água foi utilizado um termômetro espe- lores medidos de limiar de dor, tolerân-
O período pré-tratamento foi con-
cífico para o meio aquático (Incoterm). cia à dor e intensidade da dor são
siderado a média dos ciclos 1 e 2, e foi
Para a avaliação do limiar de dor e tole- apresentados na Tabela 1.
utilizado como base para a comparação
rância à dor foi utilizado um cronôme-
tro (Oregon, modelo SL210). Tabela 1 Limiar de dor e tolerância à dor (em segundos) e intensidade de dor (em
cm da escala visual analógica) nos três grupos (média ± desvio padrão)
A estimulação elétrica foi aplicada
antes, durante e após o tratamento e valor de p da diferença entre os ciclos
apenas em seguida aos ciclos 3 e 4 (20
minutos de tratamento sem interrupção). Variável Pré-tratamento Tratamento Pós-tratamento
Dois ciclos adicionais (ciclos 5 e 6) fina- Grupos (n=10) Ciclos 1 e 2 Ciclo 3 p
Ciclo 4 Ciclo 5 Ciclo 6
lizaram o protocolo após a utilização da
Limiar (s)
estimulação elétrica. Assim, duas medi- Convencional 16,4r4,3 16,7r4,7 15,9r6,1 21,4r10,1 21,2r9,8 0,5310
das pré-intervenção, duas medidas du-
Acupuntura 13,9r3,4 16,7r4,3 15,0r2,5 16,9r2,6 17,6r3,1 0,4446
rante a intervenção e duas medidas pós-
intervenção foram obtidas20. Placebo 12,2r2,4 10,2r1,8 13,3r3,0 16,3r4,2 16,2r2,4 0,0605
Tolerância (s)
O equipamento utilizado no experi- Convencional 39,3r9,6 39,6r7,8 42,2r12,6 57,6r18,2 65,9r30,6 0,4100
mento foi Dualpex (961 Quark). A TENS Acupuntura 42,1r11,5 40,6r9,8 38,9r6,0 42,1r11,5 40,2r5,4 0,9950
foi aplicada através de dois canais: dois
Placebo 27,4r4,5 24,0r5,2 22,7r2,9 24,9r6,1 24,7r2,4 0,8586
eletrodos na superfície ventral e dois ele-
Intensidade (cm)
trodos na superfície dorsal do antebra-
Convencional 4,5r0,7 4,7r0,8 5,3r0,7 4,9r0,7 5,1r0,9 0,5871
ço. O primeiro eletrodo foi colocado três
cm a partir da primeira prega do punho Acupuntura 5,8r0,4 6,1r0,5 6,3r0,4 6,9r0,5 7,1r0,5 0,3363
e o segundo eletrodo foi disposto a dois Placebo 5,1r0,5 6,1r0,4 5,6r0,5 6,0r0,7 6,5r0,6 0,0574
cm do primeiro. Foram utilizados ele-
35 Limiar da dor
trodos não-adesivos (borracha siliconada
com carbono) de 6x5 cm, juntamente 30 Pré-tratamento
com um meio condutivo (gel 25 Ciclo 3
Segundos

hipoalergênico à base de água). 20 Ciclo 4


15 Ciclo 5
A TENS convencional foi utilizada
10 Ciclo 6
com freqüência de 80 Hz (T=200µs) e a
TENS acupuntura com uma freqüência 5
de 4 Hz (T=200µs). No grupo submeti- 0
do a TENS convencional foi mantido um Convencional Acupuntura Placebo
nível de intensidade forte, porém con- Grupo
fortável, e no grupo submetido a TENS
acupuntura, o nível de intensidade man- Figura 2 Limiar de dor (s, média e erro padrão) no período pré-tratamento e nos
tido foi no momento em que houve con- ciclos 3, 4, 5 e 6 dos grupos (n=10) convencional, acupuntura e placebo

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120 Tolerância à dor Johnson26, em um estudo que avaliou


100
os efeitos das diferentes freqüências da
Pré-tratamento
TENS na dor induzida pelo frio, observou
Ciclo 3
Segundos

80 que não há diferença significante entre


60 Ciclo 4 homens e mulheres na reação à dor ex-
Ciclo 5 perimental. Foi com base nesses resul-
40
Ciclo 6 tados que, no presente trabalho, os vo-
20
luntários foram igualmente distribuídos
0 entre os sexos (quinze homens e quinze
Convencional Acupuntura Placebo mulheres).
Grupo A escolha do protocolo de indução
Figura 3 Tolerância à dor (s, média e erro padrão) no período pré-tratamento e nos da dor pelo frio no presente estudo –
ciclos 3, 4, 5 e 6 nos grupos convencional (n=10), acupuntura (n=9) e composto por 6 ciclos de 10 minutos
placebo (n=9) cada (2 ciclos pré-tratamento, 2 ciclos
tratamento e 2 ciclos pós-tratamento) –
9 Intensidade da dor deve-se a sua ampla utilização na lite-
8 ratura27-35.
7 Alguns autores optaram por adotar
6 protocolos com tempo de tratamento
cm da EVA

Pré-tratamento
5 maior. Johnson 26, Johnson et al. 27 e
Ciclo 3
4
Ciclo 4 Stephenson e Walker36 utilizaram um
3 Ciclo 5 protocolo composto por 6 ciclos (2 ci-
2 Ciclo 6 clos pré-tratamento e 4 ciclos trata-
1 mento), onde cada ciclo tinha duração
0 de 15 minutos, totalizando 60 minutos de
Convencional Acupuntura Placebo tratamento. Johnson et al.13 adotaram um
Grupo protocolo com 8 ciclos (2 pré-tratamento,
3 tratamento e 3 pós-tratamento), onde cada
Figura 4 Intensidade da dor (cm da escala visual analógica – EVA), média e erro ciclo tinha a duração de 10 minutos,
padrão) no período pré-tratamento e nos ciclos 3, 4, 5 e 6 dos grupos totalizando 30 minutos de tratamento.
(n=10) convencional, acupuntura e placebo
Vários estudos28-32,35 utilizaram um
Na Figura 2 são apresentados os va-
lores da variável limiar de dor para cada
DISCUSSÃO protocolo onde o ponto de tolerância à
dor é pré-determinado (30 s). Porém,
grupo, em cada ciclo. Nenhuma dife- A estimulação elétrica nervosa trans- durante um teste piloto realizado para
rença estatisticamente significante foi cutânea é um recurso já consagrado na este estudo, verificou-se que muitos vo-
encontrada entre os ciclos nos grupos. Os modulação de dores agudas e crônicas, luntários não toleravam esse tempo im-
intervalos demarcados pelas barras indi- sendo utilizada diariamente como parte posto, de modo que este seria um fator
cam os erros-padrão de cada ciclo. do arsenal de recursos disponíveis ao de exclusão no estudo. Adotou-se assim
fisioterapeuta22-24. Seu mecanismo de ação um protocolo no qual a tolerância à dor
Quando avaliada a tolerância à dor, é determinada pelo próprio voluntário
passou a ser melhor compreendido após
dois sujeitos dos grupos acupuntura e – o que já havia sido utilizado em al-
a postulação da teoria das comportas por
placebo foram excluídos da pesquisa, guns estudos26,27,36.
Melzack e Wall25, sendo determinado que
pois tiveram tolerância ao frio que ul- a estimulação de fibras nervosas aferentes Para quantificar a intensidade da dor
trapassou os 5 minutos do protocolo. Na de grosso calibre (mielinizadas) e rápida de maneira fidedigna, foi utilizada a es-
Figura 3 são apresentados os valores velocidade de condução (A-beta) po- cala visual analógica (EVA), que é uma
da variável tolerância à dor para cada deria inibir a passagem de estímulos no- escala amplamente utilizada pela lite-
grupo, em cada ciclo. Nenhuma dife- ciceptivos que estariam sendo transmi- ratura em geral e, também, pelos estu-
rença estatisticamente significante foi tidas pelas fibras lentas do tipo A-delta dos que adotaram o protocolo de dor
encontrada entre os grupos nem entre e tipo C. induzida pelo frio26-31,33-36.
os ciclos.
Uma das modalidades da TENS é a A tolerância à dor, outra variável aqui
Na Figura 4 são apresentados os va- chamada acupuntura, que produz con- avaliada, é pouco relatada pelos auto-
lores da variável intensidade da dor ava- trações musculares por alta intensidade res, tendo sido analisada apenas por
liada pela EVA para cada grupo, em cada e baixa freqüência (2 a 4 Hz). Essa mo- Johnson26 e Johnson et al.27, em traba-
um dos ciclos considerados no estudo. dalidade produz analgesia preferencial- lhos que observaram os efeitos analgé-
Nenhuma diferença estatisticamente mente pela ativação das fibras de peque- sicos nas diferentes freqüências e dura-
significante foi encontrada entre os gru- no diâmetro e liberação de opióides no ções de pulso da TENS na dor induzida
pos ou ciclos. sistema nervoso central3,26. pelo frio em sujeitos normais.

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Nos estudos que utilizaram o proto- entre os ciclos nos grupos (placebo, con- progressiva e lenta. A eficácia da TENS
colo de indução da dor pelo frio, os auto- vencional e acupuntura). É provável que acupuntura foi observada no estudo de
res não relatam como, e com que instru- esses resultados tenham sido decorren- Johnson et al.13, que usaram um modelo
mento, ocorre a manutenção da água tes da vasta variabilidade do limiar de experimental com tempo de tratamento
morna durante todo o ciclo (60 minu- dor na população, como citam Johnson de 30 minutos. O comportamento do li-
tos). Na falta dessa informação, para este e Tabasam31. miar de dor no pós-tratamento mostrou-
estudo foi elaborado um instrumento se mais eficaz na TENS acupuntura
onde a água foi aquecida a 37ºC e essa Johnson38 preconiza o tempo de tra-
quando comparado às outras moda-
temperatura foi mantida durante todo o tamento para a TENS convencional de
lidades da TENS, o que não foi verifi-
protocolo. Essa informação é de grande pelo menos 30 minutos e, para a TENS
cado no presente estudo, com menor
importância para estudos que venham acupuntura, de em média 20 minutos.
tempo de tratamento.
adotar esse protocolo, pois permite que Portanto, outro fator determinante dos
futuros pesquisadores utilizem o mesmo resultados encontrados pode ter sido a Para realização de estudos futuros que
instrumento aqui utilizado. escolha do protocolo com tempo de tra- comparem a TENS convencional com a
tamento de 20 minutos. Johnson e TENS acupuntura na dor induzida pelo
Vários autores13,26,28,29,33 preconizaram Tabasam31 adotaram esse mesmo proto- frio, é interessante utilizar um protoco-
um posicionamento de eletrodos apenas colo e também não encontraram dife- lo com tempo de tratamento superior a
na superfície ventral do antebraço, visan- renças estatisticamente significantes em 20 minutos, como fizeram Johnson et
do estimular o nervo mediano. O presen- seus resultados. Em contrapartida, al.13, objetivando-se melhor eficácia no
te trabalho adotou um posicionamento mecanismo de ação dessas modalidades.
Shanahan et al.33 utilizaram um proto-
de eletrodos tal que envolve os dermá-
colo semelhante ao do presente estudo
tomos e miótomos correspondentes ao Além disso, sugere-se um aumento da
para comparar a TENS e terapia interfe-
sítio doloroso, uma vez que o estímulo amostra na tentativa de diminuir o valor
rencial, tendo como resultado uma mai-
doloroso ocorrerá em toda a mão, e não de desvio-padrão, e que seja realizado
or efetividade da TENS no aumento do
somente nas áreas inervadas pelo nervo um estudo cruzado, de modo a minimi-
limiar de dor. Ward e Oliver34 e Aaskorg
mediano. Além disso, esse posiciona- zar a interferência da variabilidade do
et al.39 também realizaram um estudo
mento visa uma melhor eficácia do me- limiar de dor de cada sujeito. Ward e
com 20 minutos de eletroestimulação e
canismo de ação de ambas as modali- Oliver34 realizaram um estudo cruzado
obtiveram resultados positivos quanto ao
dades (TENS convencional e TENS com 19 sujeitos, no qual cada voluntá-
acupuntura). limiar de dor. Outros estudos que utili-
rio participou de todos os grupos do es-
zaram um tempo de tratamento superi-
Os parâmetros utilizados na TENS tudo, sendo possível avaliar o limiar de
or a 20 minutos obtiveram dados
convencional e TENS acupuntura foram dor do mesmo sujeito em diferentes
significantes em relação ao aumento do
selecionados conforme o que a literatu- tratamentos.
limiar de dor12,13,27,29,30.
ra tem mostrado. Johnson et al.6 observa-
Considerando os mecanismos de
ram que a freqüência de 80 Hz produ-
ziu maior elevação no limiar de dor. ação da TENS convencional e da TENS CONCLUSÃO
Sluka et al.37 e Walsh et al.17 utilizaram acupuntura, sugere-se que o tempo de
Como não houve diferença no limiar,
a freqüência de 4 Hz para a TENS tratamento de 20 minutos talvez não seja
intensidade ou tolerância à dor induzida
acupuntura, sendo que este último es- suficiente para produzir um efeito anal-
pelo frio entre os ciclos nos grupos inves-
tudo observou que a freqüência de 4 Hz gésico eficaz no limiar, na tolerância e
tigados, pode-se dizer que a estimulação
foi a única a demonstrar um efeito anal- na intensidade da dor induzida pelo frio,
elétrica nervosa transcutânea, nas moda-
gésico significante. A duração de pulso principalmente na modalidade con-
lidades convencional e acupuntura, não
utilizada no presente estudo foi selecio- vencional.
surtiu efeito analgésico, nos parâmetros
nada devido à sua ampla utilização em de aplicação utilizados, sugerindo-se no-
A TENS acupuntura tem uma parti-
estudos semelhantes13,26,27,33. vos estudos com diferentes modelos de
cularidade no efeito pós-tratamento de-
O presente estudo não apresentou vido à liberação de opióides no sistema dor experimental e permitindo maiores
diferenças estatisticamente significantes nervoso central, que ocorre de maneira tempos de aplicação da TENS.

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