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• e, por último, todos aqueles que pelas suas obras valorosas “se vão da lei da morte
libertando”, todos aqueles que mereceram e merecem a “imortalidade” na memória
dos homens.
A proposição aponta também para os “ingredientes” que constituíram os quatro planos
do poema:
I
As armas, e os barões assinalados
Que, da Ocidental praia Lusitana,
Por mares nunca dantes navegados,
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram
Novo Reino, que tanto sublimaram;
Funcionamento da língua
II
E também as memórias gloriosas
Daqueles Reis que foram dilatando
A Fé, o Império, e as terras viciosas
De África e de Ásia andaram devastando;
E aqueles que por obras valerosas
Se vão da lei da Morte libertando.
c
Funcionamento da língua
Nome próprio
Identificação de classes e subclasses de palavras
Nome comum
I
As armas, e os barões assinalados
Conjunção
Que, da Ocidental praia Lusitana,
Por mares nunca dantes navegados,
Passaram ainda além da Taprobana, Preposição
Em perigos e guerras esforçados
Mais do que prometia a força humana, Pronome relativo
E entre gente remota edificaram
Novo Reino, que tanto sublimaram; Determinante artigo definido
Determinante demonstrativo
II
Pronome demonstrativo
E também as memórias gloriosas
Daqueles reis que foram dilatando Advérbio
A Fé, o Império, e as terras viciosas
De África e de Ásia andaram devastando; Adjectivo
E aqueles que por obras valerosas
Se vão da lei da Morte libertando.
Funcionamento da língua
adjectivo Grau
valorosas Grau normal
remotas Grau comparativo de superioridade
glorioso Grau comparativo de inferioridade
famoso Grau comparativo de igualdade
importante Grau superlativo relativo de superioridade
conhecido Grau superlativo relativo de nferioridade
falador Grau superlativo absoluto analítico
famoso Grau superlativo absoluto sintético
Correcção
adjectivo Grau
valorosas Grau normal
… mais remotas do que… Grau comparativo de superioridade
… menos glorioso do que… Grau comparativo de inferioridade
…tão famoso como… Grau comparativo de igualdade
… o mais importante… Grau superlativo relativo de superioridade
… o menos conhecido… Grau superlativo relativo de nferioridade
… muito falador…. Grau superlativo absoluto analítico
…famosíssimo… Grau superlativo absoluto sintético
Dai-me hua fúria grande e sonorosa, O estilo da epopeia aparece aqui descrito:
E não de agreste avena ou frauta ruda, “alto e sublimado”
”Um estilo grandíloco e corrente.“
Mas de tuba canora e belicosa,
“fúria grande e sonorosa”
Que o peito acende e a cor ao gesto muda. “tuba canora e belicosa”
Dai-me igual canto aos feitos da famosa “Que se espalhe e se cante no Universo”
Gente vossa, que a Marte tanto ajuda;
-“Que se espalhe e se cante no Universo, Se
Que se espalhe e se cante no Universo tão Sublime preço cabe em verso” Ou seja
Se tão sublime preço cabe em verso. ,Camões quer que a mensagem se espalhe e
que cante ao universo os feitos dos
Conjunção Imperativo portugueses
subordinativa
condicional
Dedicatória ***(sem leitura obrigatória)
Canto I, est. 6-18, é o oferecimento do poema a D.
Sebastião, que encara toda a esperança do poeta,
que quer ver nele um monarca poderoso, capaz de
retomar “a dilatação da fé e do império” e de
ultrapassar a crise do momento.
Júpiter decide ajudá-los, pois considera que os portugueses, pelos seus feitos passados,
são dignos de tal ajuda.
Baco, pelo contrário, não queria que os portugueses fossem para a Índia, com medo
de perder a sua fama no Oriente.
Vénus apoia Júpiter, pois vê reflectida nos portugueses a força e a coragem do seu filho
Eneias e dos seus descendentes, os romanos. Vénus defende os portugueses não só por se
tratar de uma gente muito semelhante à do seu amado povo latino e com uma língua
derivada do Latim, como também por terem demonstrado grande valentia no norte de
África.
Marte - deus defensor desta gente lusitana, porque o amor antigo que o ligava a Vénus o
leva a tomar essa posição e porque reconhece a bravura deste povo. Marte consegue
convencer Júpiter a não abdicar da sua decisão e assim, os portugueses serão recebidos
num porto amigo. Pede a Mercúrio - o Deus mensageiro - que colha informações sobre a
Índia, pois começa a desconfiar da posição tomada por Baco.
Este consílio termina com a decisão favorável aos portugueses e cada um dos deuses regressa
ao seu domínio celeste.
Consílio dos Deuses - plano mitológico Canto I – 19-41
Perífrases:
E os que o Austro têm e as partes onde
Norte, Sul,
Oriente e
A Aurora nasce e o claro Sol se esconde.
Ocidente
22
Estava o Padre ali, sublime e dino, É apresentada a descrição de
Júpiter – um deus poderoso,
Que vibra os feros raios de Vulcano, soberano, severo.
Num assento de estrelas cristalino,
Com gesto alto, severo e soberano;
Do rosto respirava um ar divino,
Que divino tornara um corpo humano;
Com ũa coroa e ceptro rutilante,
De outra pedra mais clara que diamante.
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Descrição Em luzentes assentos, marchetados
de um local Caracterização do espaço
rico, De ouro e de perlas, mais abaixo estavam do Olimpo e Organização
luxuoso, do espaço.
sublime. Os outros Deuses, todos assentados
Os deuses sentam-se
Como a Razão e a Ordem concertavam segundo a sua hierarquia.
(Precedem os antigos, mais honrados,
Mais abaixo os menores se assentavam);
Quando Júpiter alto, assi dizendo, Introdução ao discurso de
Júpiter – Discurso directo.
Cum tom de voz começa grave e horrendo:
24 Apóstrofe, indicação dos
– «Eternos moradores do luzente, destinatários do seu discurso –
Apóstrofe
e perífrase
os restantes deuses
Estelífero Pólo e claro Assento: Início do discurso de Júpiter
Se do grande valor da forte gente
De Luso não perdeis o pensamento,
Júpiter começa por recordar
Deveis de ter sabido claramente que é do conhecimento geral
Como é dos Fados grandes certo intento que os Fados têm a intenção de
tornar este povo luso superior
Que por ela se esqueçam os humanos aos antigos heróis.
Enumeração
De Assírios, Persas, Gregos e Romanos.
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Já lhe foi (bem o vistes) concedido,
Cum poder tão singelo e tão pequeno,
Tomar ao Mouro forte e guarnecido Júpiter recorda as vitórias e
a protecção concedidas e
Toda a terra que rega o Tejo ameno. realizadas pelos lusos.
Pois contra o Castelhanovtão temido Lutou contra os Mouros e
sinédoque
contra os castelhanos e
Sempre alcançou favor do Céu sereno: sempre foi protegido pelas
Assi que sempre, enfim, com fama e glória, divindades.
Os
inimigos
que teve Teve os troféus pendentes da vitória.
de
enfrentar 26
são
apresenta Deixo, Deuses, atrás a fama antiga,
dos como Júpiter continua a relembra as
“fortes” e Que co a gente de Rómulo alcançaram,
raízes do povo português:
“temidos”,
reforçando Quando com Viriato, na inimiga . Guerra com os Romanos,
o seu valor . A importância e valor de Viriato,
Guerra Romana, tanto se afamaram;
. Lendas romanas.
Também deixo a memória que os obriga
vocativo
A grande nome, quando alevantaram
Um por seu capitão, que, peregrino,
Fingiu na cerva espírito divino.
O
27
advérbio
“agora” –
Agora vedes bem que, cometendo Júpiter reconhece a força a
antes
O duvidoso mar num lenho leve, coragem para descobrir e explorar
esteve a territórios em locais tão diferentes.
falar do
passado,
Por vias nunca usadas, não temendo
“agora”
falará do
de Áfrico e Noto a força, a mais s'atreve:
presente
–
Que, havendo tanto já que as partes vendo
Onde o dia é comprido e onde breve,
E diz que agora querem explorar o
Inclinam seu propósito e perfia oriente.
Posição de Baco
Estas palavras Júpiter dizia,
Júpiter terminara o seu
Quando os Deuses, por ordem respondendo, discurso e os deuses
apresentam as suas
Na sentença um do outro diferia, posições
Razões diversas dando e recebendo.
O padre Baco ali não consentia
No que Júpiter disse, conhecendo Baco, deus do vinho, teme
perder a sua fama no Oriente.
Que esquecerão seus feitos no Oriente
Se lá passar a Lusitana gente.
31
Ouvido tinha aos Fados que viria
Ũa gente fortíssima de Espanha Baco já tinha ouvido a fama deste povo
e sabe que este povo levará ao
Pelo mar alto, a qual sujeitaria esquecimento dos antigos heróis,
Perífrase- Da Índia tudo quanto Dóris banha, entre eles, o próprio Baco.
Pacífico/
oriente E com novas vitórias venceria E mais uma vez se reforça a ideia de
que perderia a fama que ainda tem no
A fama antiga, ou sua ou fosse estranha. Oriente (Nisa).
Altamente lhe dói perder a glória
De que Nisa celebra inda a memória.
32
Vê que já teve o Indo sojugado Baco nunca fora posto em causa por
nenhum herói ou poeta.
E nunca lhe tirou Fortuna ou caso
Por vencedor da Índia ser cantado
Perífrase - De quantos bebem a água de Parnaso.
poetas
Teme agora que seja sepultado Baco teme agora que o seu nome seja
votado ao esquecimento e à “morte” – este
Metáfora - Seu tão célebre nome em negro vaso medo reforça o valor dos lusos, pois são um
esquecimen
D' água do esquecimento, se lá chegam poder fora de comum.
to
Introdução
Que depois de ser morta foi Rainha.
Perífrase - D. Inês
119 de Castro
Tu só, tu, puro Amor, com força crua, O narrador dirige-se ao Amor,
atribuindo-lhe várias características:
Apóstrofe e
Que os corações humanos tanto obriga,
- puro, mas cruel
personificação
do Amor
Deste causa à molesta morte sua, -dominador e tirano;
- causador da desgraça que conta;
Como se fora pérfida inimiga. - cruel, que não se satisfaz com
Se dizem, fero Amor, que a sede tua lágrimas, pois deseja sangue.
Desenvolvimento
Aos montes ensinando e às ervinhas
Desenvolvimento
O murmurar do povo, e a fantasia Inês.
- tem em conta dois
Do filho, que casar-se não queria, elementos: o povo e o filho.
Eufemismo -
matar
Tirar Inês ao mundo determina,
Hipérbato: O rei acredita que ao matar
Determina Por lhe tirar o filho que tem preso,
tirar Inês ao Inês de Castro acabará com
mundo Crendo co'o sangue só da morte indina o seu amor
Oração Matar do firme amor o fogo aceso.
subordinada O narrador mostra a sua
causal Que furor consentiu que a espada fina, indignação e questiona o
exercício deste poder e desta
Que pôde sustentar o grande peso
força, pois usa-se a mesma
A
imparcialidade Do furor Mauro, fosse alevantada força contra o Mouro feroz e
do narrador contra uma fraca dama
Contra uma fraca dama delicada?
delicada.
124 Início da narração da sua
Traziam-na os horríficos algozes execução:
-Os executores trazem-na à
Ante o Rei, já movido a piedade: presença do rei;
Oração
Mas o povo, com falsas e ferozes - mais uma vez são apresentadas
coordenada as motivações desta morte, da
adversativa
Razões, à morte crua o persuade. responsabilidade do povo;
Ela com tristes o piedosas vozes, - há aqui alguma
desresponsabilização do rei…
Saídas só da mágoa, e saudade
Descrição da reacção de Inês à
Desenvolvimento
Do seu Príncipe, e filhos que deixava,
prisão e condenação:
Que mais que a própria morte a magoava, - O seu sofrimento não é pela sua
125 morte, mas por aqueles que
deixa: Pedro e os filhos.
Para o Céu cristalino alevantando
Anteposição -Inês com os olhos repletos de
Com lágrimas os olhos piedosos,
do adjectivo – lágrimas …
reforça a
Os olhos, porque as mãos lhe estava atando
crueldade dos
executores. Um dos duros ministros rigorosos;
v
E depois nos meninos atentando, -… e tendo em atenção os seus
filhos, dirigiu-se ao rei, avô dos
Que tão queridos tinha, e tão mimosos,
seus filhos.
Cuja orfandade como mãe temia,
Para o avô cruel assim dizia: Introdução ao discurso de Inês.
- "Se já nas brutas feras, cuja mente
Natura fez cruel de nascimento, Início do discurso de Inês:
E nas aves agrestes, que somente
-Começa por referir que a
Nas rapinas aéreas têm o intento, Natureza e as feras não
conseguem ser cruéis com as
Com pequenas crianças viu a gente
crianças, protegem-nas.
Terem tão piedoso sentimento,
Como coa mãe de Nino já mostraram,
- ilustra com exemplo latino.
Desenvolvimento
E colos irmãos que Roma edificaram;
Oração
relativa 127
explicativa
Ó tu, que tens de humano o gesto e o peito,
(Se de humano é matar uma donzela Continuação do
Apóstrofe
discurso de Inês:
ao rei
Fraca e sem força, só por ter sujeito . Dirige-se directamente
O coração a quem soube vencê-la) ao rei:
-apelando à sua
A estas criancinhas tem respeito, humanidade e piedade;
Pois o não tens à morte escura dela; -Invocando os seus
filhos.
Mova-te a piedade sua e minha, - afirma-se fraca, frágil
Pois te não move a culpa que não tinha. e inocente.
E se, vencendo a Maura resistência, Continuação do discurso de
Oração
Subordinativa A morte sabes dar com fogo e ferro, Inês:
condicional
Sabe também dar vida com clemência - refere que o rei sabe dar
A quem para perdê-la não fez erro. morte aos seus inimigos
também deve saber dar vida
Mas se to assim merece esta inocência, aos inocentes.
Põe-me em perpétuo e mísero desterro,
Oração - no entanto, Inês apresenta
Na Cítia f ria, ou lá na Líbia ardente,
Desenvolvimento
coordenada outra hipótese ao rei, caso a
adversativa
Onde em lágrimas viva eternamente. queira condenar, apesar de
inocente – o desterro.
129
Põe-me onde se use toda a feridade, - conclui o seu discurso
Entre leões e tigres, e verei reforçando a ideia do
desterro, dizendo que entre
Se neles achar posso a piedade os animais mais ferozes
Que entre peitos humanos não achei: poderia achar piedade que os
No
homens não têm.
Ali com o amor intrínseco e vontade
desterro
Naquele por quem morro, criarei - termina usando novamente
os filhos como argumento,
Estas relíquias suas que aqui viste,
dizendo que longe, no
Que refrigério sejam da mãe triste." desterro as poderia criar e
seriam o seu consolo.
130
Queria perdoar-lhe o Rei benino, Desculpabilização do rei e as
pressões que sofre: O povo.
Desenvolvimento
Movido das palavras que o magoam;
Mas o pertinaz povo, e seu destino
(Que desta sorte o quis) lhe não perdoam.
Arrancam das espadas de aço fino
Momento da execução de D.
Os que por bom tal feito ali apregoam. Inês, que causa sofrimento e
Contra uma dama, ó peitos carniceiros, indignação ao narrador, visível
na interrogação retórica.
Feros vos amostrais, e cavaleiros?
131
"Qual contra a linda moça Policena, Início da terceira parte deste
episódio com a reprovação do
Consolação extrema da mãe velha, narrador e a exploração da
parte mais lírica.
Conclusão
Porque a sombra de Aquiles a condena,
Co'o ferro o duro Pirro se aparelha;
- Estado contemplativo desta
Mas ela os olhos com que o ar serena
morte e associação a outros
(Bem como paciente e mansa ovelha) episódios clássicos.
Na mísera mãe postos, que endoudece,
Ao duro sacrifício se oferece:
132
Tais contra Inês os brutos matadores Continuação da reprovação do
No colo de alabastro, que sustinha narrador e a exploração da
parte mais lírica.
As obras com que Amor matou de amores
Aquele que depois a fez Rainha;
As espadas banhando, e as brancas flores,
Que ela dos olhos seus regadas tinha,
Se encarniçavam, férvidos e irosos,
Conclusão
No futuro castigo não cuidosos.
133
Bem puderas, ó Sol, da vista destes
Teus raios apartar aquele dia,
Como da seva mesa de Tiestes,
Animização da Natureza, que
Quando os filhos por mão de Atreu comia. chora a morte de Inês, sua
antiga confidente.
Vós, ó côncavos vales, que pudestes
A voz extrema ouvir da boca fria,
O nome do seu Pedro, que lhe ouvistes,
Por muito grande espaço repetisses!
134
Assim como a bonina, que cortada - Estado contemplativo desta
Antes do tempo foi, cândida e bela, morte, destacando-se as
características da inocente e
Sendo das mãos lascivas maltratada comparando-a às flores.
Da menina que a trouxe na capela,
O cheiro traz perdido e a cor murchada:
Tal está morta a pálida donzela,
Secas do rosto as rosas, e perdida
Conclusão
A branca e viva cor, coa doce vida.
135
As filhas do Mondego a morte escura
-É sublinhado o pranto
Longo tempo chorando memoraram,
comovente das “filhas do
E, por memória eterna, em fonte pura Mondego” e é apresentada a
animização da Natureza, que
As lágrimas choradas transformaram;
chora a morte de Inês, sua
O nome lhe puseram, que inda dura, antiga confidente.
-Natureza que criou uma fonte
Dos amores de Inês que ali passaram.
deste choro.
Vede que fresca fonte rega as flores, – Quinta das lágrimas.
Que lágrimas são a água, e o nome amores.
136
Não correu muito tempo que a vingança -O narrador apresenta a
reacção feroz de D. Pedro a
Não visse Pedro das mortais feridas,
esta execução:
Que, em tomando do Reino a governança, - - logo que se tornou rei,
perseguiu e puniu os
A tomou dos fugidos homicidas.
executores de Inês.
Do outro Pedro cruíssimo os alcança,
Que ambos, imigos das humanas vidas,
O concerto fizeram, duro e injusto, - comparação com exemplos de
Conclusão
Espanha e dos clássicos.
Que com Lépido e António fez Augusto.
-Pacto entre os reis que
137 obrigava um a entregar os
criminosos ao outro se os
Este, castigador foi rigoroso
capturasse
De latrocínios, mortes e adultérios:
Fazer nos maus cruezas, fero e iroso,
Eram os seus mais certos refrigérios. D. Pedro tornou-se um rei
rigoroso e justo em relação a
As cidades guardando justiçoso todos os crimes.
De todos os soberbos vitupérios,
D. Pedro, o justo.
Mais ladrões castigando à morte deu,
Que o vagabundo Aleides ou Teseu.
138
Do justo e duro Pedro nasce o brando, - O plano da história de
(Vede da natureza o desconcerto!) Portugal prossegue,
apresentando já o seu filho
Remisso, e sem cuidado algum, Fernando, sucessor- D. Fernando, que
Que todo o Reino pôs em muito aperto: teve um reinado fraco,
chegando a ver o reino de
Que, vindo o Castelhano devastando Portugal em risco face ao
As terras sem defesa, esteve perto Castelhano.
- Oposição entre os dois reis.
De destruir-se o Reino totalmente;
-Termina com uma máxima que
transição
Que um fraco Rei faz fraca a forte gente.
Leitura
1 – De que forma podemos dizer que este é um episódio do plano da história de Portugal?
1.1 – Comprova com versos do texto.
3 – De acordo com o texto, apresenta a posição de D. Afonso IV face a esta mulher e a este
relacionamento. Justifica.
6 – Ao longo do seu discurso, Inês de Castro tenta defender-se. Apresenta os seus argumentos de
defesa.
7 – D. Pedro ficou conhecido pelo exercício da justiça. Justifica a afirmação e ilustra com versos.
A arraia-miúda das cidades e vilas e dos campos acompanhada por abastados mercadores e por alguns
fidalgos, aclama D. João, mestre de Avis, defensor e regedor ou regente do Reino.
-Refere toda a história da nomeação de D. João I, a Regedor e Defensor do Reino dá origem à
batalha contra Castela que se travou em 14 de Agosto de 1383.
-O Rei de Castela invade Portugal, e poucos eram os que queriam combater pela Pátria. Mas os
que estavam dispostos a defender o seu Reino, de entre os quais se destacava Nuno Álvares
Pereira, iriam defendê-lo com a convicção da vitória,
pois o país vizinho tinha enfraquecido bastante no reinado de D. Fernando e D. João I era
garantia de valor e sucesso e nunca Portugal tinha saído derrotado dos combates contra os
Castelhanos.
Na descrição da batalha, destacam-se as actuações de Nuno Álvares Pereira e de D. João,
Mestre de Avis; salienta-se também o facto dos irmãos de Nuno combaterem contra a própria
Pátria, acabando por morrer numa batalha em que foram traidores de Portugal.
No final, Camões refere o desânimo e a fuga dos Castelhanos, que novamente foram
derrotados pelos lusitanos.
A partir do casamento, D. Leonor Teles tornara-se cada
vez mais influente junto do rei, manobrando a sua
intervenção política nas relações exteriores, e ao mesmo
tempo cada vez mais impopular. Aparentemente, D.
Fernando mostra-se incapaz de manter uma
governação forte e o ambiente político interno ressente-
se disso, com intrigas constantes na corte. Em 1382, no
fim da guerra com Castela, estipula-se que a única filha
legítima de D. Fernando, D. Beatriz de Portugal, case
com o rei D. João I de Castela. Esta opção significava
uma anexação de Portugal e não foi bem recebida pela
classe média e parte da nobreza portuguesa.
Quando D. Fernando morre em 1383, a linha da dinastia
de Borgonha chega ao fim. D. Leonor Teles é nomeada
regente em nome da filha e de D. João de Castela, mas a
transição não será pacífica. Respondendo aos apelos de
grande parte dos Portugueses para manter o país
independente, D. João, mestre de Avis e irmão bastardo
de D. Fernando, declara-se rei de Portugal. O resultado
foi a crise de 1383-1385, um período de interregno,
onde o caos político e social dominou. D. João tornou-se
no primeiro rei da Dinastia de Avis em 1385.
Batalha de Aljubarrota - plano da História de Portugal
28
Batalha – 28 - 41
Correu ao mar o Tejo duvidoso;
E as mães, que o som terríbil escutaram, Ao som do início da batalha as
hipérbole Aos peitos os filhinhos apertaram. mães temeram pela segurança
de seus filhos.
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Quantos rostos ali se vêem sem cor, Há rostos sem cor e o terror é
Sensações
visuais Que ao coração acode o sangue amigo! grande, muitas vezes maior do
Que, nos perigos grandes, o temor que o próprio perigo.
É maior muitas vezes que o perigo;
E se o não é, parece-o; que o furor
De ofender ou vencer o duro amigo Durante o combate as pessoas,
Faz não sentir que é perda grande e rara, com o furor de vencer,
Dos membros corporais, da vida cara. esquecem-se do perigo e da
possibilidade de ficarem feridas
ou mesmo de perderem a
própria vida.
30
31
Batalha – 28 - 41
Já pelo espesso ar os estridentes
Sensações Farpões, setas e vários tiros voam; Descrição da cena de guerra.
visuais Debaixo dos pés duros dos ardentes Características da descrição.
auditivas Cavalos treme a terra, os vales soam;
Portugueses lutam, mas os castelhanos
Espedaçam-se as lanças; e as frequentes
Quedas coas duras armas, tudo atroam; são mais numerosos
Recrescem os amigos sobre a pouca
Gente do fero Nuno, que os apouca.
32
D. Diogo e D. Pedro Pereira, irmãos de
Eis ali seus irmãos contra ele vão, Nuno Álvares Pereira, estão a combater
(Caso feio e cruel!) mas não se espanta, contra ele, “(caso feio e cruel)” – no
Que menos é querer matar o irmão, entanto, não tão grave como combater
Quem contra o Rei e a Pátria se alevanta:
contra o rei e a pátria.
Destes arrenegados muitos são
No primeiro esquadrão, que se adianta
Contra irmãos e parentes (caso estranho!) No primeiro esquadrão há portugueses
Quais nas guerras civis de Júlio e Magno. que renegaram a pátria e combatem
contra seus irmãos, o que já acontecia no
tempo dos clássicos.
33
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Batalha – 28 - 41
Rompem-se aqui dos nossos os primeiros, Começa a haver perda de vidas.
Tantos dos inimigos a eles vão!
Está ali Nuno, qual pelos outeiros
Entre todos está Nuno Álvares Pereira,
De Ceita está o fortíssimo leão, general com experiência nas guerras de
Que cercado se vê dos cavaleiros Ceuta. Ele encontra-se a ser atacado,
Que os campos vão correr de Tetuão: perturbado, mas não com medo.
Perseguem-no com as lanças, e ele iroso, Valorização do perfil de Álvares Pereira.
Torvado um pouco está, mas não medroso.
35
Batalha – 28 - 41
Corre raivosa, e freme, e com bramidos
Os montes Sete Irmãos atroa e abala:
Tal Joane, com outros escolhidos
Dos seus, correndo acode à primeira ala:
-"Ó fortes companheiros, ó subidos Discurso de encorajamento de D. João I.
Cavaleiros, a quem nenhum se iguala, -Apelo ao patriotismo, à coragem, à
Defendei vossas terras, que a esperança superioridade, responsabilidade,
Da liberdade está na vossa lança. liberdade…
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40
Batalha – 28 - 41
Entre os muitos mortos A muitos mandam ver o Estígio lago,
são apontados: o mestre Em cujo corpo a morte e o ferro entrava:
de Santiago, D. Pedro
O Mestre morre ali de Santiago, São mortas várias figuras ilustres,
Moniz, ou Munoz, e os entre elas, os irmãos de Nuno
irmãos de D. Nuno, os Que fortíssimamente pelejava;
Morre também, fazendo grande estrago, Álvares Pereira.
renegados, um deles
mestre de Calatra-va. Outro Mestre cruel de Calatrava;
Alguns comentadores Os Pereiras também arrenegados
dão, porém, o mestre de Morrem, arrenegando o Céu e os fados.
Santiago como morto em
Valverde.
41
Muitos também do vulgo vil sem nome São mortos outros menos ilustres e
Vão, e também dos nobres, ao profundo, outros nobres.
Onde o trifauce Cão perpétua fome
Tem das almas que passam deste mundo. Muitos são feridos, muitos
Perífrase - E porque mais aqui se amanse e dome
morrem, mas a bandeira
inferno A soberba do amigo furibundo,
A sublime bandeira Castelhana
castelhana é derrubada aos pés
Foi derribada aos pés da Lusitana. da lusitana.
Resultado da
Batalha
42
São Nuno foi canonizado pelo Papa Bento XVI em 26 de Abril de 2009.
Partida das naus , o velho do restelo - plano da História de Portugal e início da viagem
Canto – IV 83-89 / 94-104
O projecto para o caminho marítimo para a Índia foi delineado
por D. João II como medida de redução dos custos nas trocas
comerciais com a Ásia e tentativa de monopolizar o comércio
das especiarias. A juntar à cada vez mais sólida presença
marítima portuguesa, D. João almejava o domínio das rotas
comerciais e expansão do reino de Portugal que já se
transformava em Império. Porém, o empreendimento não seria
Portugal (, 3 de Maio de
1455 – Alvor, 25 de realizado durante o seu reinado. Seria o seu sucessor, D.
Outubro de 1495) Manuel I que iria designar Vasco da Gama para esta expedição,
embora mantendo o plano original.
89
95
- Ó glória de mandar! Ó vã cobiça
Desta vaidade, a quem chamamos Fama!
Ó fraudulento gosto, que se atiça
C'uma aura popular, que honra se chama!
Que castigo tamanho e que justiça
Fazes no peito vão que muito te ama!
Que mortes, que perigos, que tormentas,
Que crueldades neles experimentas!
Adamastor - plano da História de Portugal /viagem – episódio lendário Canto – V
39-60
Adamastor - estrutura
Como se vê, há uma distribuição muito equilibrada das partes: das vinte e quatro estrofes, quatro se
destinam à introdução, transição e epílogo; as vinte restantes, divididas ao meio, apresentam o herói
da sequência. Tanto Vasco da Gama como o Adamastor aparecem como narradores e como
personagens.
No plano histórico, simboliza:
- a superação pelos portugueses do medo do “Mar Tenebroso”, das superstições medievais que povoavam o
Atlântico e o Índico de monstros e abismos.
- Adamastor é uma visão, um espectro, uma alucinação que existe só nas crendices dos portugueses. É
contra seus próprios medos que os navegadores triunfam.
No plano lírico é um dos pontos altos do poema, retomando dois temas constantes da lírica camoniana:
- o do amor impossível e o do amante rejeitado.
Adamastor, um dos gigantes filhos da Terra, apaixonou-se pela nereida Tétis. Não
correspondido, tenta tomá-la à força, provocando a cólera de Júpiter, que o transforma no
Cabo das Tormentas, personificado numa figura monstruosa, lançada nos confins do Atlântico.
5. É um episódio épico, em que se consolida a vitória do homem sobre os elementos (água, fogo, terra, ar);
Resumo do Enredo
Discurso do gigante (1ª parte) (est. 41-48, Canto V). Glorificação épica.
· Discurso de carácter profético e ameaçador, através do qual Adamastor, num tom de voz
“horrendo e grosso” anuncia os castigos e danos por si reservados para aquela “gente ousada”
que invadira o seu reino (dos mares):
. A “suma vingança” (a morte) de quem o descobriu (Bartolomeu Dias);
. A morte de D. Francisco de Almeida, primeiro Vice-rei da Índia;
. O naufrágio e a morte da família Sepúlveda;
. E, para além destes casos particulares, as naus portuguesas terão sempre “inimiga esta
paragem” através de “naufrágios, perdições de toda sorte/Que o menor mal de todos seja a
morte”.
Interpelação do Gama (est. 49, Canto V).
· Gama já incomodado com todas aquelas profecias de desgraça, interroga o monstro sobre a sua
identidade. É essa pergunta tão simples que promove a profunda viragem do seu discurso,
fazendo-o recordar a frustração amorosa passada e meditar na sua actual condição de degredado
solitário e petrificado.
Discurso do gigante (2ª parte) (est. 50-59, Canto V). Lirismo amoroso e elegíaco.
· A resposta à pergunta de Gama tem carácter autobiográfico e tom elegíaco (lamentação, triste)
(“com voz pesada e amara”) e disfórico, pois assistimos à evocação do seu passado amoroso
infeliz.
comparação
Desenvolvimento: Aparecimento do monstro e sua descrição
39 - Vasco da Gama não havia
terminado de falar quando surgiu uma
figura enorme. Segue-se a descrição do
Não acabava, quando uma figura mostrengo/Adamastor:
Se nos mostra no ar, robusta e válida, - de rosto fechado, de olhos encovados,
De disforme e grandíssima estatura; de postura má, de cabelos crespos e
cheios de terra, de boca negra e de
O rosto carregado, a barba esquálida,
dentes amarelos. Esta passagem é
Os olhos encovados, e a postura meramente descritiva.
Medonha e má e a cor terrena e pálida;
Cheios de terra e crespos os cabelos, Discurso de 1º
A boca negra, os dentes amarelos. pessoa
Exemplos
Tão grande era de membros, que bem posso clássicos
Certificar-te que este era o segundo
De Rodes estranhíssimo Colosso, 40 - A figura era tão enorme que
Que um dos sete milagres foi do mundo. poder-se-ia jurar ser ela o segundo
Cum tom de voz nos fala, horrendo e grosso, Colosso de Rodes. Surge no quarto
verso a introdução da fala do
Que pareceu sair do mar profundo.
Gigante, cuja voz fazia arrepiar os
Arrepiam-se as carnes e o cabelo, cabelos e a carne dos navegantes.
A mi e a todos, só de ouvi-lo e vê-lo!
O Colosso de Rodes foi uma estátua de Hélios, deus grego do sol, construída
entre 292 a.C. e 280 a.C. pelo escultor Carés de Lindos. A estátua tinha trinta
metros de altura, 70 toneladas e era feita de bronze. Tornou-se uma das sete
maravilhas do mundo antigo.
Apóstrofe
41- 41 - O gigante reconhece o mérito dos
E disse: "Ó gente ousada, mais que quantas portugueses.
Futuro - premonições
45 -
46 -
Dupla adjectivação
Verão morrer com fome os filhos caros, O gigante diz que os filhos
Eufemismo - morte
Desenvolvimento: Interpelação
49 -
do Gama
o interrompesse, perguntando
Lhe disse eu: - Que és tu? Que esse estupendo
quem era aquela figura
Corpo certo me tem maravilhado! maravilhosa. O monstro
A boca e os olhos negros retorcendo responderá com voz pesada
E dando um espantoso e grande brado, porque relembraria seu triste
Me respondeu, com voz pesada e amara, passado.
Como quem da pergunta lhe pesara:
50 - Interpelação do Gama
Desenvolvimento: Discurso do
Eu sou aquele oculto e grande Cabo
O gigante apresenta-se e localiza-
54 -
Continua a resposta de
Tétis: ela, para livrar o
Contudo, por livrarmos o Oceano
Oceano da guerra, tentará
De tanta guerra, eu buscarei maneira solucionar o problema
Com que, com minha honra, escuse o dano. com dignidade.
Tal resposta me torna a mensageira.
Eu, que cair não pude neste engano O gigante afirma que, já
(Que é grande dos amantes a cegueira), que estava cego de amor,
Encheram-me, com grandes abondanças, não percebeu que as
O peito de desejos e esperanças. promessas que Dóris e
Lírico Tétis lhe faziam eram
mentirosas.
55 -
56 - Interjeição
58 -
Epílogo
próximas.
60 - Final do seu discurso.
• É o último dos grandes perigos que Vasco da Gama teve de ultrapassar antes de
cumprir a sua missão, a chegada à Índia.
2. Estrofes 74 a 79: desenrolar da tempestade vista do exterior das naus, daí o modo
como Camões se lhes refere: “a possante nau” (est. 74, v.7), “a nau grande, em que vai
Paulo da Gama” (est. 75, v.1) e a “nau de Coelho” (est. 75, v.6).
3. Estrofes 80 a 83: súplica de Gama a Deus para proteger a armada, pois teme a sua
destruição.
Para isso, utiliza três argumentos convincentes:
- a omnipotência divina já várias vezes posta à prova;
- o facto de a viagem ser um serviço prestado ao próprio Deus;
- o facto de ser preferível uma morte heróica e conhecida, em África, a combater pela
fé cristã, a um naufrágio anónimo, no alto mar, sem honras nem memórias.
Introdução
"Alerta, disse, estai, que o vento cresce
Daquela nuvem negra que aparece."
71
Introdução
Vão outros dar à bomba, não cessando;
A bomba, que nos imos alagando!"
73-
Correm logo os soldados animosos
A dar à bomba; e, tanto que chegaram,
Os balanços que os mares temerosos
Deram à nau, num bordo os derribaram.
Três marinheiros, duros e forçosos,
A menear o leme não bastaram;
Talhas lhe punham duma e doutra parte,
Sem aproveitar dos homens força e arte.
74 - A força dos ventos
Os ventos eram tais, que não puderam
Mostrar mais força do ímpeto cruel,
Se para derribar então vieram
77
As Alcióneas aves triste canto
Junto da costa brava levantaram,
Lembrando-se do seu passado pranto,
Que as furiosas águas lhe causaram.
Os delfins namorados entretanto
Lá nas covas marítimas entraram,
Fugindo à tempestade e ventos duros,
Que nem no fundo os deixa estar segui-os.
78 - Coriscos e relâmpagos
Nunca tão vivos raios fabricou
Contra a fera soberba dos Gigantes
O grã ferreiro sórdido, que obrou
Do enteado as armas radiantes;
Nem tanto o grã Tonante arremessou
Relâmpagos ao mundo fulminantes,
No grã dilúvio, donde sós viveram
Os dois que em gente as pedras converteram.
79
Quantos montes, então, que derribaram
Tempestade –
descrição do
As ondas que batiam denodadas!
exterior
Quantas árvores velhas arrancaram
Do vento bravo as fúrias indinadas!
As forçosas raízes não cuidaram
Que nunca para o céu fossem viradas,
Nem as fundas areias que pudessem
Tanto os mares que em cima as revolvessem.
80 - Prece do Gama
Vendo Vasco da Gama que tão perto
Do fim de seu desejo se perdia;
Vendo ora o mar até o inferno aberto,
Ora com nova fúria ao céu subia,
Confuso de temor, da vida incerto,
Onde nenhum remédio lhe valia,
Prece do Gama
Chama aquele remédio santo é forte,
Que o impossível pode, desta sorte:
81
"Divina Guarda, angélica, celeste,
Que os céus, o mar e terra senhoreias;
Tu, que a todo Israel refúgio deste
Por metade das águas Eritreias;
Tu, que livraste Paulo e o defendeste
Das Sirtes arenosas e ondas feias,
E guardaste com os filhos o segundo
Povoador do alagado e vácuo mundo;
82
"Se tenho novos modos perigosos
Doutra Cila e Caríbdis já passados,
Outras Sirtes e baixos arenosos,
Outros Acroceráunios infamados,
No fim de tantos casos trabalhosos,
Por que somos de ti desamparados,
Se este nosso trabalho não te ofende,
Prece do Gama
Mas antes teu serviço só pretende?
83
"Ó ditosos aqueles que puderam
Entre as agudas lanças Africanas
Morrer, enquanto fortes sostiveram
A santa Fé nas terras Mauritanas!
De quem feitos ilustres se souberam,
De quem ficam memórias soberanas,
De quem se ganha a vida com perdê-la,
Doce fazendo a morte as honras dela!“
84
Assim dizendo, os ventos que lutavam
Como touros indômitos bramando,
Mais e mais a tormenta acrescentavam
Tempestade
continua
Pela miúda enxárcia assoviando.
Relâmpados medonhos não cessavam,
Feros trovões, que vêm representando
Cair o céu dos eixos sobre a terra,
Consigo os elementos terem guerra.
85
Vénus abranda o furor dos ventos
Mas já a amorosa estrela cintilava
Diante do Sol claro, no Horizonte,
Mensageira do dia, e visitava
A terra e o largo mar, com leda fronte.
A densa que nos céus a governava,
De quem foge o ensífero Orionte,
Tanto que o mar e a cara armada vira,
Tocada junto foi de medo e de ira.
86
Intervenção de Vénus
"Estas obras de Baco são, por certo,
Disse; mas não será que avante leve
Tão danada tenção, que descoberto
Me será sempre o mil a que se atreve.“
Isto dizendo, desce ao mar aberto,
No caminho gastando espaço breve,
Enquanto manda as Ninfas amorosas
Grinaldas nas cabeças pôr de rosas.
87 - Os ventos e as Ninfas
Grinaldas manda pôr de várias cores
Sobre cabelo; louros à porfia.
Quem não dirá que nascem roxas flores
Sobre ouro natural, que Amor enfia?
Abrandar determina, por amores,
Dos ventos a nojosa companhia,
Mostrando-lhe as amadas Ninfas belas,
Que mais formosas vinham que as estrelas.
88
Assim foi; porque, tanto que chegaram
A vista delas, logo lhe falecem
As forças com que dantes pelejaram,
E já como rendidos lhe obedecem.
Os pés e mãos parece que lhe ataram
Os cabelos que os raios escurecem.
A Bóreas, que do peito mais queria,
Assim disse a belíssima Oritia:
Intervenção de Vénus
89
"Não creias, fero Bóreas, que te creio
Que me tiveste nunca amor constante,
Que brandura é de amor mais certo arreio,
E não convém furor a firme amante.
Se já não pões a tanta insânia freio,
Não esperes de mi, daqui em diante,
Que possa mais amar-te, mas temer-te;
Que amor contigo em medo se converte."
90
Assim mesmo a formosa Galateia
Dizia ao fero Noto, que bem sabe
Que dias há que em vê-la se recreia,
E bem crê que com ele tudo acabe.
Não sabe o bravo tanto bem se o creia,
Que o coração no peito lhe não cabe,
De contente de ver que a dama o manda,
Pouco cuida que faz, se logo abranda.
91
Desta maneira as outras amansavam
Intervenção de Vénus
Subitamente os outros amadores;
E logo à linda Vénus se entregavam,
Amansadas as iras e os furores.
Ela lhe prometeu, vendo que amavam,
Sempiterno favor em seus amores,
Nas belas mãos tomando-lhe homenagem
De lhe serem leais esta viagem.
92 - Terra de Calecute
Chegada a Calecute
Disse alegre o piloto Melindano:
"Terra é de Calecu, se não me engano.