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CONTRATO

DE DEPÓSITO

Arts. 627 a 652 –


CC/02
Conceito
É o contrato pelo qual uma parte
(depositante ou tradens) entrega uma coisa
móvel para ser guardada e conservada por
outra (depositário ou accipiens), com
posterior restituição, quando solicitada ou
pelo advento do prazo estipulado.
 Art. 627. Pelo contrato de depósito recebe o
depositário um objeto móvel, para guardar,
até que o depositante o reclame.
Observações:
 Regra: o depositante tem que ser o proprietário
do bem. Exceção: admite-se que os
administradores em geral
(usufrutuário/locatário) também possam
celebrar o depósito, assim também aqueles que
não são proprietários, mas possuem algum
direito (real ou obrigacional) sobre a coisa.

 Para ser depositário basta a capacidade civil.


Elementos caracterizadores do
depósito
a) Entrega da coisa (tradição) pelo depositante ao
depositário;
b) Finalidade de guarda e conservação;
c) Restituição da coisa no prazo estipulado;
d) Temporariedade do negócio;
e) Possibilidade de estabelecimento do contrato a
título oneroso ou gratuito.
a) Entrega da coisa (tradição) pelo
depositante ao depositário: tradição real,
simbólica (entrega do título representativo
da coisa) e ficta (constituto possessório*)

* Trata-se da operação jurídica que altera a


titularidade na posse, de maneira que, aquele que
possuía em seu próprio nome, passa a possuir em
nome de outrem (Ex.: A vende a sua casa a B e
continua possuindo-a como depositário).
b) Finalidade de guarda e conservação: no depósito o
depositário recebe a coisa para guardar e não para usar e
fruir, sob pena de responsabilidade contratual.
Art. 640. Sob pena de responder por perdas e danos, não
poderá o depositário, sem licença expressa do depositante,
servir-se da coisa depositada, nem a dar em depósito a
outrem.
Obs.:
1) Havendo autorização expressa para que o depositário
possa usar a coisa livremente, transmuda-se o negócio
jurídico em outra espécie (comodato ou locação); se
para transportar, o contrato é de transporte; se o bem for
confiado para ser administrado, constitui-se mandato.
2) Excepcionalmente, havendo licença
expressa do depositante, permite-se ao
depositário a fruição da coisa e mesmo a
subcontratação com terceiro, caso em que
permanecerá responsável.

Art. 640, parágrafo único. Se o depositário,


devidamente autorizado, confiar a coisa em
depósito a terceiro, será responsável se agiu
com culpa na escolha deste.
3) Não afeta a natureza contratual a eventual
realização, pelo depositário, de alguma obra ou
serviço na coisa que lhe foi confiada. Ex.:
lavagem e lubrificação de carros depositados
em garagens ou estacionamentos.

4) Não caracteriza depósito o recebimento de


um bem como ato de tolerância ou
benevolência, sem assunção de dever jurídico
de custódia. Ex.: posto de combustíveis que
tolera a parada de caminhões durante a noite.
 TJMG:
Apelação Cível 1.0433.14.017851-1/001, DJ 13/07/2017,
Rel. Des. Antônio Bispo.
INDENIZAÇÃO. FURTO DE VEÍCULO EM POSTO DE
GASOLINA. DEVER DE GUARDA E VIGILÂNCIA EM
DECORRENCIA DE CONTRATO DE DEPÓSITO.
RESPONSABILIDADE SUBJETIVA. APLICAÇÃO. DANO
MATERIAL. COMPROVAÇÃO. RESSARCIMENTO.
Caracteriza-se contrato de depósito quando é permitido o
estacionamento de veículo em posto de gasolina, ao qual
compete desde aquele momento o dever de guarda e
custódia daquele bem, respondendo por eventual
ocorrência de furto. Para o ressarcimento por danos
materiais deve haver comprovação dos valores gastos ou
no caso de furto do veículo, o seu valor à época dos fatos.
 STJ: tem decidido pela impossibilidade de se
responsabilizar o estabelecimento em casos de delito
quando caracterizado o fortuito externo ou, ainda, em
casos nas quais não se aperfeiçoa o contrato de
depósito, ainda que gratuito (dever jurídico
preexistente).

RECURSO ESPECIAL. CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL.


FURTO DE CAMINHÃO ESTACIONADO EM PÁTIO DE
OFICINA. AUTORIZAÇÃO TÁCITA DA RÉ. DEVER DE
GUARDA E VIGILÂNCIA. RECONHECIMENTO DE
CONDUTA NEGLIGENTE DA AUTORA. CULPA
CONCORRENTE. INDENIZAÇÃO. GRAU DE CULPA.
DIMENSIONAMENTO CASO A CASO. RECURSO
PARCIALMENTE PROVIDO. REsp 545752 / RS, DJe
24/02/2016
c) Restituição da coisa no prazo estipulado (dever de
restituição): característica precípua deste tipo de
contrato, posto não ser translativo de propriedade.
d) Temporariedade do negócio: o depositário recebe o
bem para guarda “até que o depositante o reclame” (art.
627). O depositante pode exigir a devolução a qualquer
tempo, ainda que haja prazo determinado.
Obs.: abandono da coisa pelo depositante – L. 2313/54,
arts. 1º e 2º - após 25 anos o contrato de depósito
voluntário será extinto, sendo o bem recolhido ao Tesouro
Nacional, salvo renovação expressa da avença pelas partes.
No Tesouro permanecerá por mais 5 anos à espera do
legítimo titular. Findo este prazo será incorporada ao
patrimônio nacional. Aplica-se também aos depósitos em
dinheiro.
e) Possibilidade de estabelecimento do
contrato a título oneroso ou gratuito:
como regra geral, o depósito se apresenta
gratuito, salvo quando houver “convenção
em contrário, se resultante de atividade
negocial ou se o depositário o praticar por
profissão” (art. 628), hipóteses em que
assumirá a feição onerosa.
Classificação do contrato de
depósito
 Real
 Unilateral e gratuito ou bilateral e oneroso.
 Personalíssimo
 Não solene

Obs.:
1ª) Nos casos em que não há previsão de remuneração,
nem a guarda é realizada como atividade mercantil, a
entrega de uma gratificação ao depositário não
caracteriza uma bilateralidade do negócio.
2ª) O depósito somente será personalíssimo quando se
tratar de contrato gratuito, pois, sendo oneroso, não há
vinculação intuitu personae.
3ª) O depósito é válido se celebrado por escrito ou
verbalmente, contudo, a comprovação efetiva da existência
do depósito impõe a forma escrita.
Importância da forma escrita:
a) Demonstrar a onerosidade;
b) Fixação de termo para restituição;
c) Para fins de ajuizamento de ação de depósito, pois a
petição inicial deve ser instruída com a prova literal da
relação jurídica (CPC, art. 311, inc. III e p.ú.), ou seja,
contrato ou outro documento escrito que demonstre a
ocorrência da tradição. A ausência do instrumento
escrito retira do depositante o direito de se valer da
tutela de evidência.
Objeto do depósito
O sistema jurídico brasileiro somente admite o
depósito de bens MÓVEIS. CRÍTICA: não há razão
específica para a vedação legal, inclusive há prática
reiterada de nomeação judicial de depositário para
bens de raiz (imóveis) que servem de objeto a uma
execução.
 Também podem ser objeto de depósito bens
incorpóreos, materializados, p. ex., em títulos
representativos, como ações de empresas e
apólices.
O depósito convencional deve recair também sobre
bens INFUNGÍVEIS, não obstante,
excepcionalmente, admita-se o depósito de bens
fungíveis, apelidado DEPÓSITO IRREGULAR, que
está submetido à disciplina jurídica do mútuo (art.
645).
Elementos do depósito irregular:
a) Material: transferência do bem fungível para o
consumo do depositário;
b) Anímico ou subjetivo: a intenção de constituir
um benefício, uma vantagem econômica para o
depositário.
 Atenção: segundo o STJ, há hipótese de depósito
regular (e não irregular) no caso do armazenador
que comercializa a mesma espécie de bens dos que
mantém em depósito, pelo quê deve conservar
fisicamente em estoque o produto submetido à sua
guarda, do qual não pode dispor sem autorização
expressa do depositante. Disciplina legal própria,
que distingue o depósito regular de bens fungíveis
em estabelecimento cuja destinação social é o
armazenamento de produtos agropecuários do
depósito irregular de coisa fungível, que se
caracteriza pela transferência da propriedade para
o depositário.
Obs.: se o objeto depositado foi entregue
fechado, colado, selado ou lacrado, neste mesmo
estado deve ser mantido e devolvido (art. 630),
em atenção aos deveres de sigilo, lealdade e
respeito. A inexecução do dever de abstenção,
salvo autorização expressa do depositante,
determinará responsabilidade civil, mesmo que
a coisa não venha a sofrer qualquer dano.
ATENÇÃO: não haverá responsabilidade civil se
eventual dano for justificado em nome da
proteção do próprio depositário ou da ordem
pública.
Semelhanças
DEPÓSITO IRREGULAR MÚTUO
 Depositário pode  Mutuário pode
alienar ou consumir o alienar ou consumir o
que recebeu. que recebeu.
 A devolução é de
 A devolução é de
coisa de igual gênero,
quantidade e coisa de igual gênero,
qualidade. quantidade e
 Exs.: depósito qualidade.
bancário, depósito de  Exs.: empréstimo de
grãos e sementes. dinheiro.
Diferenças
DEPÓSITO IRREGULAR MÚTUO
 É feito no interesse do  É realizado no interesse
depositante. do mutuário.
 O depositário não  O mutuário tem o seu
poderá incluir os bens patrimônio acrescido
depositados em seu
ativo, pois deverá pelo empréstimo, com a
restituí-los a qualquer obrigação de restituir
tempo, mantendo o no prazo contratado ou
equivalente no termo legal.
permanentemente à
disposição do
depositante.
Local de restituição do bem
O local de restituição do bem (fungível ou
infungível) será o estipulado no contrato;
se nada for dito, será o do depósito.
Consignação em pagamento
 Caberá ao DEPOSITANTE as despesas decorrentes
da restituição da coisa. Se se recusar a recebê-la ou
a pagar os custos, caberá CONSIGNAÇÃO EM
PAGAMENTO. Também justifica a consignação a
impossibilidade de manter a guarda e custódia da
coisa, em razão de evento exógeno, superveniente à
contratação (CC, 635) – caso de ONEROSIDADE
EXCESSIVA em face do depositário, acarretando a
resolução antecipada, porém, justificada, da
relação contratual, sem perdas e danos.
Depósito no interesse de terceiro
(CC, 632)
 Hipótese de estipulação em favor de terceiros (CC,
436/438).
 Permite-se ao depositante efetuar a entrega da
coisa ao depositário no interesse de terceiro e não
em proveito próprio.
 Derrogação da relatividade contratual, pois o
depositário assumirá obrigações perante uma
pessoa que não integrou a relação negocial.
 Ex.: depositante administrador de bens alheios.
Venda do bem depositado pelo
herdeiro do depositário
 Segundo o art. 637, o herdeiro do depositário que, de
boa-fé, vendeu a coisa depositada é obrigado a
assistir (CPC, 119) o depositante na reivindicação e a
restituir ao comprador o preço recebido.
 Provada a má-fé do herdeiro será responsabilizado por
perdas e danos tanto ao depositante quanto perante o
adquirente.
 Tendo o herdeiro doado a coisa a terceiro, constatada a
sua boa-fé, nada indenizará ao adquirente, pois não se
pode reclamar por evicção em contratos gratuitos (CC,
447).
 Se o bem alienado vier a se perder ou inutilizar, sem
culpa do terceiro adquirente, caberá ao herdeiro
indenizar o depositante pelo seu valor.
 Profa. Helen Karina Amador Campos – helenk.campos@gmail.com
 Este material foi produzido com base em anotações pessoais de
aulas, referências e trechos de doutrinas, informativos de
jurisprudência, enunciados de súmulas, artigos de lei, anotações
oriundas de questões, entre outros.
 Atualizado até 05/2018

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