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Tribunal de Justiça de Minas Gerais

Número do 1.0000.13.092262-8/000 Númeração 0922628-


Relator: Des.(a) Catta Preta
Relator do Acordão: Des.(a) Catta Preta
Data do Julgamento: 20/02/2014
Data da Publicação: 10/03/2014

EMENTA: "HABEAS CORPUS" - HOMICÍDIO TENTADO - DEMORA NA


CONCLUSÃO DO INQUÉRITO POLICIAL - RELAXAMENTO DA PRISÃO -
POSSIBILIDADE - OFENSA AOS PRINCÍPIOS DA RAZOABILIDADE E DA
PROPORCIONALIDADE - CONSTRANGIMENTO ILEGAL CONFIGURADO -
ORDEM CONCEDIDA DE OFÍCIO.

- Configurado o constrangimento ilegal em razão da constatação de excesso


de prazo para a conclusão do inquérito policial sem a apresentação de
motivos razoáveis que autorizem a sua dilação, o relaxamento da prisão do
paciente, de ofício, é medida que se impõe.

HABEAS CORPUS Nº 1.0000.13.092262-8/000 - COMARCA DE BELO


HORIZONTE - PACIENTE(S): EDGAR FARIA DE AZEVEDO - AUTORI.
COATORA: JD I TRIBUNAL JURI COMARCA BELO HORIZONTE

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a 2ª CÂMARA CRIMINAL do


Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da ata dos
julgamentos, à unanimidade, em CONCEDER, DE OFÍCIO, A ORDEM.

DES. CATTA PRETA

RELATOR.

DES. CATTA PRETA (RELATOR)

VOTO

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Tribunal de Justiça de Minas Gerais

Trata-se de ordem de habeas corpus, com pedido de liminar, impetrada


em favor de EDGAR FARIA DE AZEVEDO, preso em flagrante, em 17 de
novembro de 2013, pela suposta prática do crime previsto no art. 121, caput,
c/c art. 14, inciso II, ambos do Código Penal.

Assevera o impetrante que não há indícios suficientes de autoria a


justificar a segregação cautelar do paciente.

Sustenta que o paciente não cometeu o delito a ele imputado, não


havendo comprovação de sua responsabilidade pelos disparos que atingiram
os policiais militares, ressaltando que sequer foram encontrados cartuchos
no local, apenas munições intactas.

Afirma que não estão presentes os requisitos que autorizam a


segregação cautelar, previstos no art. 312 do Código de Processo Penal.

Informa que o paciente é primário, possuidor de bons antecedentes,


residência fixa e ocupação lícita.

Por fim, requer, liminarmente, a restituição da liberdade ao paciente.

Documentação juntada pelo impetrante (fl. 11/49-TJ).

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A liminar foi indeferida (fl. 53-TJ) e as informações requisitadas foram


devidamente prestadas (fl. 57/58-TJ), acompanhadas de documentos (fl.
59/113-TJ).

Em seu parecer, a d. Procuradoria opinou pela denegação da ordem (fl.


115/116verso).

Requisitadas informações complementares (fl. 118-TJ), estas foram


devidamente prestadas (fl. 122-TJ), acompanhadas de documentos (fl.
123/125-TJ).

É o relatório.

Presentes os pressupostos extrínsecos e intrínsecos de admissibilidade,


CONHECE-SE do habeas corpus impetrado.

Da análise dos autos, observa-se que o paciente foi preso em flagrante,


em 17 de novembro de 2013, pela suposta prática do crime previsto no art.
121, caput, c/c art. 14, inciso II, ambos do Código Penal.

Na data das informações, em 27 de dezembro de 2013, a autoridade


apontada como coatora esclareceu que o inquérito policial já se encontrava
concluído e que, nesta mesma data, determinaria a

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remessa deste ao representante do Ministério Público para as providências


cabíveis (fl. 57-TJ).

Considerando-se as peculiaridades do caso concreto, em 16 de janeiro


de 2014, foram requisitadas informações complementares à autoridade
impetrada, a fim de esclarecer se órgão ministerial havia oferecido denúncia
em desfavor do paciente (fl. 118-TJ).

Contudo, ao prestar tais esclarecimentos, em 27 de janeiro de 2014, o d.


magistrado informou que "até a presente data não foi oferecida denúncia em
desfavor do paciente Edgar Faria de Azevedo em razão dos fatos em
apuração no presente inquérito policial, tendo sido solicitada ainda novas
diligências pela Dra. Promotora de Justiça" (fl. 122-TJ).

Em consulta ao site deste egrégio Tribunal de Justiça de Minas Gerais,


verifica-se que o último andamento processual nos autos nº 3950311-
53.2013.8.13.0024, que tramita em desfavor do paciente, foi a remessa
destes, em 31 de janeiro de 2014, à Delegacia de Polícia, ou seja, não houve
a conclusão do inquérito policial até a presente data.

Nos processos de competência do Tribunal do Júri, conforme disposto


no art. 412 do Código de Processo Penal, o prazo para a conclusão da
instrução preliminar é de 90 (noventa) dias.

Por outro lado, em se tratando de indiciado preso, o prazo para a


conclusão do inquérito policial é de 10 (dez) dias, nos termos do art. 10 da
referida lei.

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É cediço que não se pode desconsiderar a complexidade da conclusão


dos inquéritos policiais e a dificuldade das instruções criminais, que são cada
vez maiores, pois, em atenção ao princípio da razoabilidade, o prazo de
conclusão não pode resultar de mera soma aritmética.

No entanto, no caso dos autos, 90 (noventa) dias para a conclusão do


inquérito policial é uma demasia, quando todo o procedimento reservado à
instrução preliminar, até a pronúncia, é também de 90 (noventa) dias.

Logo, entende-se que restou configurado o constrangimento ilegal, por


violar os princípios constitucionais da razoabilidade e da proporcionalidade.

Nesse sentido, o Superior Tribunal de Justiça já se manifestou:

HC - DIREITO PROCESSUAL PENAL - PROCESSO - EXCESSO DE


PRAZO - O DIREITO, COMO FATO CULTURAL, E FENOMENO
HISTORICO. AS NORMAS JURIDICAS DEVEM SER INTERPRETADAS
CONSOANTE O SIGNIFICADO DOS ACONTECIMENTOS, QUE, POR SUA
VEZ, CONSTITUEM A CAUSA DA RELAÇÃO JURIDICA. O CPP DATA DO
INICIO DA DECADA DE 40. O PAIS MUDOU SENSIVELMENTE. A
COMPLEXIDADE DA CONCLUSÃO DOS INQUERITOS POLICIAIS E
DIFICULDADE DA INSTRUÇÃO CRIMINAL SÃO CADA VEZ MAIORES. O
PRAZO DE CONCLUSÃO NÃO PODE RESULTAR DE MERA SOMA
ARITMÉTICA. FAZ-

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SE IMPRESCINDIVEL RACIOCINAR COM O JUIZO DE RAZOABILIDADE


PARA DEFINIR O EXCESSO DE PRAZO. O DISCURSO JUDICIAL NÃO E
SIMPLES RACIOCINIO DE LOGICA FORMAL. Acórdão POR
UNANIMIDADE, DAR PROVIMENTO AO RECURSO PARA DETERMINAR
O RELAXAMENTO DA PRISÃO DOS PACIENTES, SOB CONDIÇÕES.
(STJ, RHC 6638 / SP

RECURSO ORDINARIO EM HABEAS CORPUS

1997/0054198-3 - Relator: Ministro LUIZ VICENTE CERNICCHIARO - T6 -


SEXTA TURMA - DJ.: 25/08/1997).

Outro não é o entendimento deste egrégio Tribunal de Justiça de Minas


Gerais:

EMENTA: 'HABEAS CORPUS'. HOMICÍDIO CONSUMADO. PROVA DA


MATERIALIDADE E INDÍCIOS DE AUTORIA. FUNDAMENTAÇÃO
SUFICIENTE. GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA. NEGATIVA DE AUTORIA.
VIA INADEQUADA. EXCESSO DE PRAZO PARA CONCLUSÃO DO
INQUÉRITO POLICIAL, CONFIGURADO. CONSTRANGIMENTO ILEGAL.
OCORRÊNCIA. ORDEM CONCEDIDA.I - A censurabilidade e a gravidade da
conduta - homicídio qualificado, praticado em concurso de pessoas -
justificam o decreto prisional fundado na garantia da ordem pública. II - A
análise de tese defensiva relativa à negativa de autoria requer o exame
aprofundado do conjunto fático-probatória, impossível de ser enfrentado na
via estreita do 'habeas corpus'. III - Constatando-se excesso de prazo para a
conclusão do inquérito policial sem a apresentação de motivos razoáveis a
autorizarem a dilação, impõe-se o relaxamento da prisão do paciente,
reconhecendo-se, 'in casu', flagrante constrangimento ilegal.(TJMG, Habeas
Corpus 1.0000.10.058168-5/000 - Relator: Des.(a) Matheus Chaves Jardim -
2ª CÂMARA CRIMINAL - DJ.: 04/11/2010).

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EMENTA: 'HABEAS CORPUS'. HOMICÍDIO. RELAXAMENTO DE PRISÃO.


ALEGAÇÃO DE INEXISTÊNCIA DOS PRESSUPOSTOS PARA A PRISÃO
CAUTELAR. IMPROCEDÊNCIA. EXCESSO DE PRAZO. CONFIGURAÇÃO.
MORA NA CONCLUSÃO DO INQUÉRITO. CONSTRANGIMENTO ILEGAL
VERIFICADO. ORDEM CONCEDIDA. ALVARÁ DE SOLTURA. -No caso dos
autos, 80 (oitenta) dias para a conclusão do inquérito é uma demasia,
quando todo o procedimento reservado à instrução preliminar, até a
pronúncia, é de 90 (noventa) dias. (TJMG, Habeas Corpus 1.0000.08.485243
-3/000 - Relator: Des.(a) Herculano Rodrigues - 2ª CÂMARA CRIMINAL -
DJ.: 27/11/2008).

Ademais, o excesso de prazo para a conclusão do procedimento


administrativo não se deu por conta da atuação do paciente, que se encontra
preso desde novembro de 2013.

Dessa forma, o relaxamento da custódia cautelar, de ofício, é medida


que se impõe.

Restam prejudicadas as demais alegações suscitadas na impetração.

Diante do exposto, configurado o excesso de prazo para a conclusão do


inquérito policial, CONCEDE-SE, DE OFÍCIO, A ORDEM pleiteada.

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Expeça-se alvará de soltura em favor de EDGAR FARIA DE AZEVEDO,


salvo se por outro motivo estiver preso.

Sem custas.

DESA. BEATRIZ PINHEIRO CAIRES - De acordo com o(a) Relator(a).

DES. RENATO MARTINS JACOB - De acordo com o(a) Relator(a).

SÚMULA: "CONCEDERAM, DE OFÍCIO, A ORDEM"

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