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(...) “Se você chora, eu choro.

se você sofre, eu sofro, se você está livre,


eu estou livre”. A maternidade pela perspectiva da mulher negra e
periférica: Uma análise sobre as mulheres por trás dos injustiçados na
série “Olhos Que Condenam”.
Autora: Juliana Moreira Borges1

Olhos que Condenam (When They See Us) é uma serie criada por Ava
DuVernay e distribuída pela Netflix. O enredo, baseado na história real, relata
como cinco adolescentes entre 14 e 16 anos foram acusados injustamente de
um crime de estupro contra uma mulher branca, tendo a cor da sua pele como
única evidência que os colocam sob a mira da investigação, caso conhecido na
época como Cinco do Central Park (Central Park Five). O crime aconteceu no
dia 19 de abril de 1989, a corredora Trisha Meili foi violentamente estuprada e
abandonada no Central Park. Na mesma noite, aproximadamente 25 jovens
negros saíram para aproveitar a noite, cada um a seu modo, alguns causando
arruaça. Kevin Richardson, Yusef Salaam, Raymond Santana, Antron McCray
e Korey Wise foram presos, e na delegacia passam por agressões físicas e
psicológicas. A série é de uma dor difícil de suportar, porque é carregada de
violência e verdades estruturais cruéis, mas traz o entretenimento como
provocador de debates importantes. Os momentos na delegacia foram os
únicos argumentos usados pela investigação, 30 horas de um interrogatório
torturante, que alcança os objetivos dos investigadores quando, os próprios
jovens começam a se acusar e se colocarem na cena do crime, com a
promessa de irem para casa. Uma pergunta frequente no momento do
interrogatório é “Onde está a minha mãe”?
Em meio a uma explanação acerca da série e do sofrimento destes
jovens negros, abordando racismo estrutural, encarceramento em massa e a
influência da mídia no debate do crime e no peso da condenação, entre outros,
propõe-se mostrar aqui a mãe que precisa dar o suporte necessário a esse
filho, muitas vezes de forma solitária. A ideia é protagonizar as mulheres da

1
Mestranda pelo Programa Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação – Mestrado Acadêmico em
Educação e Formação Humana – da Faculdade de Educação da Universidade do Estado de Minas Gerais
(FaE/UEMG) Possui graduação em Pedagogia pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
(2008). Possui especialização em, História e Cultura Afro-brasileira, Psicomotricidade e
Neuropsicopedagogia. Professora pela Prefeitura de Belo Horizonte. Compõe o Núcleo das Relações
Étnico-Raciais de Belo Horizonte.
série que amparam e sofrem injustamente com um encarceramento que tem
como foco jovens negros nas opressões apresentadas. A estrutura social
coloca essa mulher negra, periférica e chefe de família nas sobreposições de
classe, raça e gênero onde frequentemente é atingida em colisões que a limita
em seus progressos, ter seus filhos apreendidos de forma injusta potencializa
esse limite.
“O que você sabe sobre ser mãe sem ajuda nenhuma? Sem ninguém
além de si mesma para te ajudar?” (4º episódio) a mãe de Korey Wise (16
anos) conhecia a maternidade por essa lente da mulher negra periférica. Korey
foi acompanhar um amigo à delegacia e a partir desse momento, abriu portas
para o pior pesadelo de sua vida, o único enviado para uma penitenciaria
adulto devido a idade, Korey sofreu mais que todos os outros, violentamente
espancado em diversos momentos por ter sido preso por um crime que teve
repercussão mundial. Optando por ficar na solitária para evitar se ferir, passou
a ter alucinações envolvendo sua mãe e sua namorada. Cada vez que pedia
transferência para ficar mais próximo de casa, ficava mais longe. Uma cena
que mostra a maternidade em sua possibilidade de cura acontece quando
Korey abraça a mãe (ação proibida na penitenciária) e é levado de volta para a
cela, aos berros ele implora: “Venha me visitar mais vezes” (4º episódio).
Aquele abraço foi imaginado por dias na prisão e pôde se materializar por
segundos. Os gritos de desespero do negro não são ouvidos naquele
momento, assim como não foi em momento algum durante a série. “Eu sei que
você tentou ser uma boa mãe.” Korey a tranquiliza.
Antron McCray (14 anos) era filho único de uma família nuclear. Foi
apreendido no dia seguinte ao crime simplesmente por estar no Central Park
na noite do crime. Sua família o acompanhou no interrogatório e na delegacia,
a mãe emocionada gritava desesperada a inocência do filho. “Ele é meu bebê,
só tem 14 anos!” ela dizia (1º episódio ) “Eu não fiz isso!” ele dizia com olhar
piedoso voltado para a mãe, enquanto ela confirmava dando certeza que sabia
da sua inocência. A insegurança do pai diante do sistema carcerário alimentava
o ímpeto furioso de orientar Antron que fizesse tudo que os policiais pedissem.
Assim ele fez, se colocou na cena do crime e a partir de nomes informados
pelos policiais de pessoas até então desconhecidas, foi preso. O
encarceramento do filho foi motivo de enfraquecimento do pai que acaba
deixando para a mulher a solitária condução da situação e da família. “Eu tô
vendo, você está abandonando a gente” e foi exatamente o que aconteceu. O
pai abandonou a família, ampliando as lacunas da mãe. A persistência dela em
fazer parte da vida de Antron, independente da solidão comove: “Eu viria aqui
todos os dias se me deixassem!” (2º episódio), diz a mãe durante uma visita
Único filho homem em meio a quatro mulheres, Kevin Richardson (14
anos) era tratado com mimo e carinho pelas mulheres que o amparava, com
ênfase para a irmã Angie Richardson Black. Kevin sonhava em ser um grande
trompetista e se esforçava para isso. Em todos os momentos da prisão Kevin
está amparado pelos cinco pilares de sua vida, cujo gênero feminino predispõe
fortaleza. Ainda assim Kevin demonstra estar se sentindo solitário. Se sente
culpado por coloca-las nesta situação, mas sua mãe o tranquiliza: “Toda culpa
é energia mal utilizada. Não muda o passado e não molda o futuro. É um
desperdício. E não temos tempo a desperdiçar.” (3º episódio).
Raymond Santana, hispânico, era criado pelo pai, mas a figura feminina
se fazia presente através de sua avó que demonstra ter por ele carinho e
cuidado materno. Assim como em diversas famílias periféricas, a avó de
Raymond mantinha esse traço de matriarca e cuidadora daquele núcleo. Era
ela quem cuidava do neto. Mesmo sem entender o idioma, o acompanhou na
delegacia no fatídico dia 19 de abril e demonstrava imensa tristeza por não
conseguir salvar o neto das injustiças sofridas. No 3º episódio, a avó,
apresentando extrema tristeza em comemoração ao seu aniversário, manifesta
seu desejo perante a mesa cheia, antes de soprar as velinhas: “Quero que
todos saibam meu desejo, meu desejo vai para o meu neto Raymond. É difícil
para mim comemorar, quando não tenho toda a família aqui. Ele está com
problemas e ninguém quer ajuda-lo. Eu quis ajuda-lo, mas não pude, não pude
ajuda-lo (choro).”
“Você vê eles crescerem e começa a acreditar que fez um bom trabalho,
de repente em uma noite você desvia o olhar, uma noite...” A mãe de Yusef
Sallam nunca imaginou aquele lugar pra seu filho, ne serie percebe-se que ela
o cercava de orientações e cuidados, nitidamente baseado no mito do
embranquecimento do negro, para uma aceitação social. Para isso, o ideal é se
aproximar cada vez mais do perfil branco e ele investia nisso. Yousef se
apresentava para a sociedade trajando boas roupas e calçado, procurava
seguir os padrões sociais, cuidava de sua educação e da sua linguagem. Como
os demais, preso injustamente, precisa mostrar que é melhor do que antes de
ser um presidiário. A mãe, zelosa e esforçada, perde o emprego devido a
repercussão do caso. Desamparada, se mostra em campanha a favor do filho,
trajando uma blusa com os dizeres “YUSEF É INOCENTE”! Yussef começa a
perceber que mesmo que ele se esforce, dificilmente será aceito em totalidade.
Em um diálogo com a mãe no 3º episódio, ele reclama: “ As pessoas nos
odeiam lá fora.” Mas a mãe o conforta. “Elas odeiam seu brilho, odeiam nossa
beleza, elas nos odeiam. Mas não vamos nos odiar a nós mesmos.”
A história dos cinco do Central Park apresenta cada mãe, a seu modo, e
em sua realidade, vivenciando a solidão da maternidade negra que se torna
mais frágil diante da situação socioeconômica destas famílias. A potência da
imagem delas na série e a figura que a mulher negra representa está presente
em cada episódio, cada comportamento, cada sentimento. Sensações que
chegam a encostar em quem ocupa um lugar aproximado do delas. A limitada
e valiosa figura materna é revelada em suas particularidades e apresentada
nas vivências cotidianas, com riqueza de detalhes, tanto como abrigo, quanto
como colo, apresentando aos injustiçados do Central Park, alguém para sofrer
junto suas dores.
Compreender o lugar de mulher negra em uma periferia, exige uma
análise de todos as bases de opressão que as colocam nestas junções de
dominações. Exige uma compreensão das relações múltiplas e simultâneas de
desigualdade. Karla Akotirene, em seu livro Interseccionalidade (2019)
apresenta como a estrutura social atual conta com a sólida sustentação das
colunas do racismo, cisheteropatriarcado e capitalismo para ampará-la. Assim,
classificam-se os indivíduos por raça, classe e gênero. É como se houvessem
vias que segregam ou acolhem a partir das suas características físicas e
econômicas. Desse modo, movimentar-se com fluidez por entre as vias
interseccionais pode se mostrar complexo para quem se apresenta nos
cruzamentos de várias opressões. Essas mães da série, encontram-se nesse
lugar de múltiplas opressões, caminham com suas limitações e o
encarceramento dos filhos otimizou as dificuldades de quem se encontra nesse
lugar.
É possível sentir a dor delas durante toda a série em diversos
momentos, o tentar fazer o inalcançável. Era todo o sistema contra a verdade
delas. Em um depoimento do prefeito da cidade da época Ed Koch para a
imprensa, fez referência a essas tentativas das mães e avós em apresentar
esses adolescentes como bons meninos. Com voz infantilizada (imitando as
mulheres) ele diz: “Mas ele é um bom menino, ele nunca fez nada” e ele
continua de forma imperativa “NÂO ACREDITEM NISSO!” 2. Intensificando a
crença de “superpredadores” que o negro norte-americano carrega e
depositando neles uma culpa injusta. A mídia, nesse sentido, aparece na série,
assim como na vida real, como formadora de opinião e da sentença destes
adolescentes. As mães são perseguidas e coagidas pela imprensa e
frequentemente questionadas sobre “ONDE ESTAVAM QUANDO TUDO
ACONTECEU? Como se buscassem nessas perguntas lacunas no comando
familiar delas para depositarem a culpa do crime.
Um fomentador da ira social através da mídia nesse caso foi Donald
Trump, na época, apenas um magnata do ramo imobiliário, Trump investiu
US$85.000, 00 em anúncios de páginas inteiras de quatro jornais de Nova York
com a mensagem “TRAGA DE VOLTA A PENA DE MORTE”. Em suas
declarações Trump anuncia ódio a quem violentou a corredora Trisha Meilie.
No segundo episódio, a série apresenta uma cena com Trump na tv sendo
assistido pela mãe de Yusef Salaam. Na entrevista ele diz que “adoraria ser um
jovem negro instruído, pois acredita que ele tem vantagens”. Nessa fala
tomada pelo racismo ele insinua sobre o privilégio de o negro (desse período)
não morrer pelos “crimes cometidos”. O desespero da mãe de Yusef ao
perceber a intenção de Trump é verbalizado através da fala: “Aquele demônio
quer matar o meu filho?” Visivelmente o desespero, a descrença, o
desamparo, o sofrimento e a dor tomam o rosto dessa mãe solo que se
apresenta protetora na série. A cena termina com a fala imponente da mãe
dizendo: “Colocou anúncio para matar o meu filho? Terão que vir atrás de mim
primeiro.” A amiga que assiste a TV com ela tenta a acalmar dizendo: “Calma,
os 15 minutos de fama dele estão acabando.” Acho que essa amiga não previa

2
Documentário “ Os Cinco do Central Park”
disponível em https://www.youtube.com/watch?v=AGnqZWq4DXk acesso em 10/08/2020
o sucesso das eleições à presidência, que o levou ao topo dos Estados Unidos,
sem precisar mudar nada em seu discurso de intolerância.
O Homem negro traz essa mesma imagem de superpredador há um
tempo e esse estigma foi bem reforçado durante este crime, pela mídia e pelas
autoridades. Enquanto Koch os chama de monstros nos jornais e Trump incita
a pena de morte aos jovens a mídia promove discurso de ódio com manchetes
que prometem aos meninos um futuro de muita dor na cadeia. Essa
animalização do homem negro nos Estados Unidos pode ter sido estimulada a
partir o filme “O nascimento de uma nação” de 1915. O filme de D.W. Griffith,
apresenta Gus, um ex- escravizado assassino que sente atração sexual por
mulheres brancas fazendo com que as perseguisse. O autor que representa o
negro é pintado de preto (black face) e tem comportamento fortemente
bestializado com seus olhos grandes e suas expressões ameaçadoras. Em
uma cena deste filme, Gus tenta atacar uma jovem branca, a inocente mulher é
salva pela Ku Klux Klan que caça e mata Gus. Tentar colocar o negro neste
lugar de criminoso é uma estratégia sistêmica pensada em todos os detalhes.
Tanto os EUA quanto o Brasil, países escravocratas, comungam desta
estrutura que tenta manter o negro domesticado na senzala contemporânea
que são as prisões.
O aprisionamento destes meninos foi uma resposta à sociedade que
caracterizou o estupro como “o crime do século” tamanha a brutalidade. O fato
de o crime ter acontecido no Central Park e de ter características interraciais
(levando em consideração que os 5 suspeitos eram negros) pode ter agravado
a situação. Concomitante a este crime, ocorreram outros estupros seguidos de
assassinato na cidade, mas nenhum tomou essa mesma proporção por não
haver a característica de raça como fomento. O prefeito de Nova York na
época do atendado, apresenta um argumento que justifica a ação do sistema
no caso: “ As pessoas querem ver como o sistema de justiça criminal funciona
e se funciona.” A intenção era mostrar a eficiência do sistema tendo esse caso
como exemplo, sabe-se que hoje, a resposta a esse questionamento é
justamente o oposto. A justiça fracassou. Precisava de culpados e usou de
suas estratégias para aprisionar estes meninos. Um crime violento e brutal,
sem DNA, sem impressões digitais, cabelos e nenhuma outra prova que os
ligassem ao crime. Prender inocentes e coloca-los frente a violência desumana
de uma penitenciária é apenas uma das inúmeras falhas, que manteve o
verdadeiro criminoso em liberdade durante um tempo fazendo outras vítimas.
Angela Davis (2003) apresenta uma análise sobre como este recurso de
reabilitação social que tem se mostrado cada vez menos eficaz em seu livro
“Estarão as prisões obsoletas?” O cárcere se tornou algo comum à realidade
norte americana. O número crescente de penitenciarias naturalizou o
encarceramento, ao passo que não diminuiu a criminalidade. Angela aponta o
sistema carcerário como um lugar desnecessário e o compara com a
escravização, com a segregação e o linchamento, incentivando a abolição
deste recurso que assim como os outros discrimina e marginaliza a população
negra, “(...) a fim de deixar claro que a prisão revela formas solidificadas de
racismo que operam de forma clandestina. Em outras palavras, raramente são
reconhecidas como racistas”, a autora aponta as penitenciarias e o
encarceramento como um projeto discriminatório que caminha desde a
escravização, passando pelo arrendamento de prisioneiros e atualmente, com
a privatização destes meios que se tornou fonte de giro capital, além de
depósito de infratores.
“A persistência da prisão como a principal forma de punição,
com suas dimensões racistas e sexistas, criou essa
continuidade histórica entre o sistema de arrendamento de
prisioneiros do século XIX e início do século XX e o atual
negócio da privatização das prisões. Apesar de o sistema de
condenados ter sido legalmente abolido, suas estruturas de
exploração surgiram nos padrões da privatização e , de
maneira mais geral, na ampla corporativização da punição que
produziu o complexo industrial-prisional.” (Davis, 2003 p.39)

Percebe-se na série, os impactos da privatização carcerária em diversos


momentos, quando por exemplo, as mães dos jovens reclamam do quão caro e
sacrificante é ter o filho preso, referindo por vezes, às ligações telefônicas ou
um macarrão instantâneo. Solitárias na jornada carcerária de sua prole, elas
precisam arcar com os custos deste sistema prisional norte americano
privatizado que prendeu injusta e compulsoriamente seus filhos e ainda cobram
pela manutenção do mesmo.
O ambiente carcerário é hostil para qualquer pessoa que precisa se
submeter a essa punição, a proposta que Angela Davis apresenta quando
propõe criar “projetos de desencarceramento e ampliar o leque de alternativas”,
pode ser pensado não apenas nessa situação em que a prisão foi injusta, mas
como um novo formato de sociedade que não pune com castigo o crime. Elliot
Currie (1998) diz que, “ Exceto pelas grandes guerras, o encarceramento em
massa foi o programa social governamental implantado de forma mais
abrangente em nosso tempo.” Pensar a abolição das prisões pode representar
uma movimentação nas bases que sustentam este sistema penitenciário que
insiste em aprisionar negros que se tornam fontes de lucro.
O desfecho dessa história é surpreendente em ambos sentidos da
palavra, não sei dizer até que ponto é bom, mas alivia. Em 2002, treze anos
após o crime, Matyas Reyes encontra com Korey na prisão e assume que ele é
o verdadeiro culpado pelo estupro da corredora. São feitas novas coletas de
DNA que conclui que os Cinco do Central Park ficaram presos durante anos
injustamente. No episódio que trata do julgamento dos adolescentes, muitas
são as manifestações populares que propõe uma reavaliação do caso, lutando
por justiça erguendo placas com os dizeres “PAREM DE PRENDER NOSSOS
JOVENS!”. A voz negra não foi ouvida. Precisou-se cumprir penas sofridas
para que houvesse uma nova avaliação. Em uma entrevista 3 a Oprah sobre a
série, com os verdadeiros cinco do Central Park, Yusef manifesta exatamente o
que aconteceu a eles: “Éramos apenas meninos, o sistema nos atropelou.”
Atropelou junto a família deles, principalmente as mães, figuras mais
presentes. Um erro irreparável, juventudes roubadas, estruturas familiares
rompidas, noites sem dormir, alucinações, medo, humilhação, violência. Nada
pode mudar o quadro emocional e psicológico de todos os envolvidos. Em
2003 os cinco entraram com processo contra a cidade de Nova York e contra
os policiais e promotores responsáveis pela sua condenação. Em 2014 a
cidade de Nova York paga uma indenização de 40 milhões de dólares aos
cinco, um milhão por ano encarcerado. Impossível reparar um erro desses,
assim como é inaceitável essa verdade de que corpos negros estão mais
vulneráveis a prisão, a pobreza, a solidão da maternidade solo e a violência. A
alegria das mães ao final da série apresentando seus filhos inocentes à
sociedade com um sorriso que poderia ser lido como um “EU AVISEI” foi o
conforto almejado durante cada episódio. Na blusa da mãe de Yusef Salam
poderia ler-se “Yusef é inocente!”, a mesma blusa usada no dia do julgamento
3
Oprah apresenta: Olhos que condenam disponível em: https://www.netflix.com/search?q=oprah
%20apresenta%20olhos%20que%20condenam
Acesso em 15 de agosto de 2020
e nas manifestações. Ela sempre acreditou. Todas sempre acreditaram, mas
ali, naquele momento, todos os demais que impulsionaram o resultado negativo
do julgamento também acreditavam.

Referencias:

AKOTIRENE, C. Interseccionalidade. São Paulo, SP: Sueli Carneiro; Pólen,


2019.

CENTRAL Park Five, direção de David McMahon. Ken Burns, EUA : PBS,2013.
1h 59min  disponível em https://www.youtube.com/watch?v=AGnqZWq4DXk
acesso em 15 de agosto de 2020

DAVIS, Angela. Estarão as prisões obsoletas?. Rio de Janeiro, RJ: Difel;


2020

MENAI, Tania. A redenção dos cinco. Folha de São Paulo, 2013 Disponível
em : https://piaui.folha.uol.com.br/materia/a-redencao-dos-cinco/ acesso em 20
de agosto de 2020

OPRAH apresenta: Olhos que condenam: Direção de Mark Ritchie, Netflix,


EUA;2019 disponível disponível em https://www.netflix.com/search?q=oprah
%20apresenta%20olhos%20que%20condenam Acesso em 15 de agosto de
2020

OLHOS que condenam: Direção de Ava DuVernay, Netflix, EUA; 2019


disponível em https://www.netflix.com/search?q=olhos%20que%20condenam
acesso em 20 de agosto de 2020

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