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Nesse contexto, podemos citar o episódio em que sua mãe conta sobre a realidade
das pessoas que trabalham em sua residência ser diferente da que elas vivem
(classe média), julgando-os pobres. Porém, ao visitar a aldeia onde moravam tais
trabalhadores, Chimamanda notou que existia sim a simplicidade que sua
progenitora destacou, mas também havia união, produções artesanais e muita
riqueza cultural.
Diante dessa percepção, é possível equiparar o evento citado com situações que
ocorrem nos dias atuais, como quando pessoas que vivem em comunidades são
vistas como marginalizadas e criminosas, que sobrevivem sob condições precárias
no que diz respeito à educação e socialização. Contudo, nem todos os moradores
dessas regiões apresentam essas características estereotipadas e preconceituosas.
Em sua música “Bluesman”, Baco Exu do Blues, cantor e compositor brasileiro
conhecido por suas letras recheadas de críticas sociais, principalmente no que se
diz aos temas do povo preto e da cultura africana, fala sobre a caracterização
padronizada do jovem que mora em comunidade, fato que se torna explícito pelo
verso: “eles querem um preto com arma pra cima num clipe na favela, gritando
cocaína”, e “querem que nossa pele seja a pele do crime”, por exemplo. Posto isso,
nota-se que a generalização faz com que um atributo seja determinante para tal
camada social, acarretando em atitudes discriminatórias.
O racismo estrutural, por ser algo enraizado e influenciado pela classe dominante
(branco, nobre e patriarcal) independe da classe social que o indivíduo se enquadra.
Como Chimamanda cita com muita sabedoria, nosso meio social é formado através
do conceito de origem africana “nkali”, que significa “Ser maior que o outro”. O perfil
colocado por nós como grande influenciador dos sensos comuns têm um poder
preponderante na persuasão geral dos indivíduos de nossa sociedade, e o racismo
e a xenofobia se configuram de múltiplas formas. Por exemplo, temos casos de
jogadores de futebol pretos que apresentam uma condição socioeconômica
avantajada por conta de suas carreiras e são ofendidos com o substantivo
“macaco”. Da mesma forma, uma pessoa que sente medo ao notar um indivíduo
preto anônimo se aproximando na rua, em nosso dia a dia, involuntariamente,
devido uma herança cultural, praticam o estigma racial.