Você está na página 1de 2

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ – UECE

CENTRO DE ESTUDOS SOCIAIS APLICADOS – CESA

DISCIPLINA: RELAÇÕES DE GENERO E FEMINISMOS

PROFESSORA: PAULA FABRÍCIA BRANDÃO

ALUNA: MARIA GRINALRIA SANTOS DA SILVA

O PERIGO DE UMA HISTÓRIA ÚNICA

AUTORA: CHIMAMANDA ADICHE

Por muitos anos, ouvimos histórias sobre o continente africano - sobre suas
guerras, desastres, doenças e fome - que se tornaram a única verdade sobre a África. É
importante saber que existem dois lados para cada história e nunca podemos ouvir
apenas um lado.

A escritora Chimamanda coloca em The Peril of One Story, uma história é criada
quando demonstramos às pessoas que elas são uma coisa, o objeto do discurso de outras
pessoas. É impossível para a escritora falar de uma única história sem falar de poder,
pois quem conta a história única é quem detém o poder, seja ele econômico, político ou
epistemológico. O poder, além de poder contar a história de outra pessoa, também torna
essa história definitiva. Para Léila Gonzalez: A hierarquia do conhecimento é resultado
da classificação racial de uma população que contribui para o privilégio social e
epistemológico da ciência eurocêntrica (Ribeiro, 2017).

Os pensadores acreditavam que qualquer pessoa com privilégios sociais possui


privilégios epistemológicos. O escritor Mourid Barghouti, por outro lado, observa que a
maneira mais fácil de desapropriar um povo é recontar sua história, começando com
“Em segundo lugar” (Adichie, 2009, p. 11).

Da mesma forma, Susana Galante (2010) considera que os media têm uma grande
influência na construção de histórias únicas, uma vez que fomentam a perpetuação de
estereótipos e a discriminação contra as minorias étnicas e raciais. A estrutura de
autoridade se comunica com a sociedade por meio da mídia. Na sua análise dos jornais
Públicos e, diário de Notícias, embora a sociedade portuguesa os considere jornais de
"referência", não são tendenciosos. Porque são preconceitos e estereótipos que se
traduzem na escrita.

Somos uma geração que consome muito da cultura pop estado unidense. Ele foi
influenciado pela mídia, músicas e filmes ao longo dos anos. Em 2005, com o avanço
das novas tecnologias de informação que foram surgindo, como o You tube e, em 2009,
o Facebook, e, posteriormente, outras redes sociais, o consumo tornou-se cada vez
maior e a influência e o controle sobre as vidas das pessoas aumentaram. A autora
salienta ainda que, ao atribuir a nacionalidade ou etnia a um indivíduo, o jornalista
fomenta, através de “rótulos”, a percepção das minorias enquanto grupos,
conseqüentemente, associam os indivíduos desses grupos aos mesmos comportamentos
negativos e assim anulam os indivíduos enquanto pessoas.

Durante muitos anos, a minha pobreza sobre a única história acerca do continente
africano e, principalmente, sobre o meu país de origem, São Tomé e Príncipe, fizeram
com que tivesse vergonha de ser santomense e não tivesse orgulho em ser africana.
Apesar de ter tentado inúmeras vezes enquadrar-me, a verdade é que nunca consegui
fazê-lo, até ao momento que conheci e aceitei as inúmeras histórias sobre o meu
continente.

Cheguei a Portugal com dez anos, carregada de memórias, modos de pensar, falar e agir.
A primeira dificuldade com que me deparei, foi á barreira lingüística. Diziam-me que
falava «pretuguês», um termo que desconhecia até chegar a Portugal. Descobri-me preta
e descobri-me diferente dos negros que nasceram cá. Assim, passei a ser definida por
vários “rótulos”: era uma preta africana, que falava mal o português, e burra. Durante
anos acreditei nestes “rótulos” e quis ser igual aos afro-descendentes, já que não podia
mudar de cor, falar português “correto”, gostar das coisas “fixes”, porque eram
ocidentais, e ter vergonha das minhas raízes.

Ouvia histórias únicas sobre São Tomé e Príncipe: as pessoas falavam mal porque eles
tinham sotaque, a comida era estranha e os hábitos culturais remetem para rituais tribais.
Um país que não existia no mapa. Esta era a única história que há 18 anos ouvia sobre o
continente africano, e sobre São Tomé e Príncipe, um país que foi colonizado pelos
portugueses. Na altura, não sabia questionar porque acreditava na superioridade branca,
porque a minha família me induzia a acreditar nessas mesmas verdades. Consideravam
que, para um preto ser aceito na sociedade portuguesa, tinha que agir como portugueses
brancos. Não conhecer outras histórias, as diversas histórias sobre o continente africano,
fez com que duvidasse do meu valor enquanto mulher negra e africana com influência
ocidental. São exemplos, o facto de neste mestrado não haver universalidade de autores
e obras, no qual é notória a epistemologia branca, eurocêntrica e masculina. Ou seja,
pretendo mostrar a importância de remodelar o conhecimento através de uma dimensão
epistemológica, que não exclua a raça, religião, etnia ou gênero.

Você também pode gostar