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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ (UFPA)

LICENCIATURA EM HISTÓRIA (2020.4)

DOCENTE: ANNA MARIA ALVES LINHARES

DISCENTE: MIGUEL RAMOS DOS SANTOS COSTA

RESENHA CRÍTICA SOBRE O TEXTO “POR QUE ENSINAR A HISTÓRIA DA


ÁFRICA E DO NEGRO NO BRASIL DE HOJE?”

ANANINDEUA-PA

2020
O texto “Por que ensinar a história da África e do negro no Brasil de Hoje?”, de Kabengele
Munanga, debate a respeito da pergunta, que é título do texto, de forma crítica e apresentando
conceitos como multiculturalismo no Brasil desde antes da colonização europeia até os dias
de hoje onde esse multiculturalismo se faz bem mais presente, já que somos um país
miscigenado e que, por conta dessa miscigenação e outros pontos como o preconceito,
racismo, negação da história e fatos a respeito dessa multicultura presente na nossa nação é
que o autor apresenta a educação e a socialização como grandes possíveis soluções que
possam amenizar essas problemáticas a respeito dos negros e indígenas e apresentar para os
que não conheciam a história desses povos – no caso do negro, antes e depois de estar no
Brasil e, no caso do indígena, antes e depois da chegada dos portugueses – para que assim o
velho ensinamento com o olhar europeu a respeito de tudo – ensinado a respeito do negro, do
indígena com olhares preconceituosos, não apresentando aprofundamento em ensinar sobre
eles – possa ser reduzido, abrindo mais os olhos para outras culturas. Para reforçar
argumentos, apresenta os pensamentos de Hegel a respeito da história como algo fundamental
da existência do mundo, mostrando como ele havia dividido a África em três partes,
separando-a em uma parte ligada à Europa, o Egito que era destinado a ser autônomo e o
restante da África em si, parte essa que Hegel julgou como um objeto que não poderia ser
estudado pela história por supostamente o homem nesse lugar ser um bárbaro selvagem, o que
impediria ele de fazer parte de uma civilização, segundo Hegel. Esse tipo de pensamento
predominou por bastante tempo, ainda mais no Ocidente, e só foi haver uma contradição a
esses pensamentos em 1961-1966 com as obras de Leo Frobenius, Maurice Delafosse, Arturo
Labriola e, junto deles, Michel Foucault com as obras Histoire de La Folie à l´âge Classique
(1961) e Les mots et les choses (1966). Concluindo um pouco sobre esse segmento, a obra
História Geral da África mostrou que o privilégio de fazer parte da história não era uma
exclusividade dos indivíduos pertencentes a nações europeias e sim para todas as outras
presentes no globo.

Após isso, o autor fala que reconhecer que a África possui sua própria história é o ponto de
partida para entender como se ocorreu e como está nos dias de hoje a história do negro nas
nações onde essa fora distorcida, falsificada ou simplesmente negada. Por exemplo, em 13 de
maio de 1888, foi assinada a Lei Áurea que proibia a escravidão no Brasil, os negros foram
libertos, porém isso foi só no sentido jurídico, já que eles em sociedade continuaram sofrendo
preconceito e continuaram, de certa forma, submissos aos brancos pela suposta superioridade
racial que havia entre eles e marginalizados dentro da sociedade. Outro problema relacionado
a isso é a comemoração dessa data como se tivesse sido a solução para os problemas entre
brancos e negros/indígenas antes escravizados, porém a história mostra que não foi isso, pois
as desigualdades sociais apresentam a maioria dos pobres sendo negros devido à
marginalização desses por consequência do preconceito e racismo que foram enraizados no
Brasil desde a sua colonização, colocando o negro como alguém que precisava ser educado,
violentado, torturado para que pudesse viver entre os brancos e não como um ser humano que
poderia conviver em sociedade com as outras pessoas de diferentes etnias. E, por esse passado
complicado que, quando se ia construir a identidade nacional – até o final do século XIX – a
história desses povos oprimidos fora apagada ou deturpada de forma que não houvesse pontos
positivos a respeito deles, já que muitas vezes apresentavam a mestiçagem que era presente no
Brasil como algo ruim, algo nocivo à construção de uma boa identidade nacional, julgando os
povos diferentes dos brancos – negros, indígenas e mestiços – como degenerados.
Essas práticas sofreram mudanças no século XX, principalmente com a implantação das leis
10.639/03 e 11.645/08 que, em resumo, tornaram obrigatório o ensino do estudo da história e
cultura afro-brasileira e indígena.

Por fim, o autor termina sua obra dizendo que o seu objetivo com isso tudo era mostrar que
todo povo tem seu ponto de partida na história, além de culturas próprias, línguas faladas
próprias e afins e, por ter sido uma nação que sofreu pela colonização dos europeus, a história
da África e de seus povos não foram feitas pelos nativos desse local e sim pelos seus
dominantes que, senão pesquisavam nada sobre o local de origem desses povos ou os povos
em si, quando faziam isso, era de uma forma totalmente negatória, colocando o povo como
degenerado, não detentor de sua própria história. Assim, tornando importante o ensino desses
povos para que esse pensamento antigo deixe de ser predominante no mundo.

Sobre o texto, o autor demonstra muita preocupação a respeito do seu objetivo e tema central,
que pode ser facilmente identificado pela pergunta que também é título do texto. Ele aborda o
tema de forma de fácil entendimento, já que exemplifica todos os seus argumentos com
reforços de profissionais na área (podendo ser antropologia, filosofia ou a própria área da
história), de forma que deixe o seu objetivo mais claro para o leitor do texto, que é apresentar
o fato de que esses povos do tema central, além de seu local de origem – negros e a África –
possuem a sua própria história e que devem ser representadas, estudadas e analisadas sem
denegrir ou negar nenhum ponto da mesma, assim se diferenciando dos estudos
historiográficos antigos que excluíam a África como um objeto de estudo e, por consequência,
trazendo a tona informações a respeito de outros povos que não sejam voltados à nação
europeia, aumentando o conhecimento cultural e crítico de quem absorve o conteúdo da obra
de Munanga. Concluindo, é uma boa leitura para quem está atrás de conhecer a história de
diferentes povos – nesse caso, focado mais nos negros africanos – e quebrar mais ainda as
práticas eurocêntricas que ainda se fazem presentes na atualidade e, junto disso, entender mais
o porquê da situação dos negros no Brasil de hoje ser do jeito que é, já que foi algo que vinha
sendo enraizado desde a colonização que perdura até hoje, porém, graças à ações do
Movimento Negro, obras como essa de Munanga, que levantam o pensamento crítico e
informam sobre esses povos é que essa situação, com o passar do tempo, vai sendo
amenizada, colocando o negro em mesmo lugar que o branco, nenhum sendo melhor que o
outro, apenas sendo iguais, sem racismo e intolerâncias por conta de diferenças, o conhecido
bem-estar social.
BIBLIOGRAFIA

MUNANGA, Kabengele. "Por que ensinar a história da África e do negro no Brasil de hoje?"
IN Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, Brasil, n.62, p.20-31, dez. 2015.

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