Você está na página 1de 6

ORAÇÃO VERDADEIRA

Mateus 6:5-14

INTRODUÇÃO:

Falar de oração, talvez, seja o lugar comum mais complicado de todos. Afinal, precisamos falar de oração, mas
dificilmente afirmamos que oramos o suficiente. Precisamos falar sobre a verdadeira oração, mas com frequência
nossas orações passam tão longe do padrão bíblico. Entretanto, pela graça e misericórdia do Senhor, conversaremos
sobre este tema nesta noite.

Mas, antes de mais nada, o que é oração? Das muitas definições que já li sobre isso, a melhor que encontrei
foi a de Timothy Keller: “Orar é dar continuidade a uma conversa que Deus iniciou por meio de sua Palavra e graça, e
que com o tempo vai se transformando num completo encontro com ele.”1.

Ninguém nasce sabendo orar, e ninguém morre tendo aprendido a orar perfeitamente. Sempre falhamos em
algum aspecto. Deus, por sua misericórdia, nos agracia com seu Espírito que “traduz” nossas orações de modo que
sejam aceitáveis a Ele em seu trono. Assim o encontro é possibilitado e tornado real.

Assim sendo, vamos à Palavra e vamos a pensar sobre o que a oração é e precisa ser em nossa vida.

NARRATIVA:

O texto que é alvo de nossa reflexão nesta noite encontra-se no mais famoso sermão proferido por Jesus: o
Sermão do Monte. Neste sermão, Jesus ensina sobre o Reino de Deus com maestria e graça incomparáveis. Jesus, tendo
já estabelecido alguns princípios, como o perfil do cidadão do Reino e a visão do Reino sobre a Lei, passa a ensinar como
é o estilo de vida no Reino: uma vida pautada pela humildade, renúncia, abnegação e glorificação somente do Senhor.

Jesus, na seção que vai de 6:1 a 6:18, contrasta o estilo de vida das pessoas daquele tempo com o estilo de vida
que devem ter os cristãos verdadeiros. Ele ensina sobre o modo cristão de ajudar os necessitados, o modo cristão de
jejuar e, como veremos, o modo cristão de orar. Veremos, portanto, o que é a verdadeira oração, a oração que agrada
a Deus, a oração cristã, sob o ponto de vista de Jesus, nosso Senhor e Salvador.

EXPOSIÇÃO:

1) Não orem como os judeus hipócritas (v. 5)

O texto inicia-se com Jesus dando-nos um mau exemplo, o qual não deve ser seguido. Nosso Mestre mostra-
nos que não devemos orar como os hipócritas, que gostam de orar em público, de pé, nas sinagogas. Logicamente,
Jesus tem em mente aqui os judeus daquele tempo.

O Senhor toma como exemplo a atitude hipócrita de alguns judeus que tinham prazer na oração pública nas
sinagogas. Veja que há uma expressão aqui que, num primeiro momento, até despertaria nossa admiração: “gostam de
orar”. Os judeus hipócritas gostam de orar! Contudo, a razão pela qual gostam é espúria e vil. Some-se a isso o que, num
primeiro momento, nos soe até mesmo estranho: o fato de Jesus proibir o orar em público. Entretanto, este não é o
ponto em questão. Na realidade, o que está em xeque aqui é a atitude hipócrita. Aqueles homens gostavam de orar de
pé, não porque gostassem de estar num relacionamento próximo e íntimo com Deus, mas porque ansiavam pelo
aplauso dos homens. Justamente por isso Jesus os chama de hipócritas.

Diz John Stott: “No grego clássico, hupokrités era, primeiro, um orador e, então, um ator. Assim, figuradamente
a palavra passou a ser aplicada a qualquer pessoa que trata o mundo como se fosse um palco onde ela executa um
papel. Deixa de lado a sua verdadeira identidade e assume uma identidade falsa. Já não é mais ela mesma, mas disfarça-

1
KELLER, Timothy, Oração, 1a. São Paulo, SP: Vida Nova, 2016, p. 58.
se, personalizando alguma outra pessoa. Usa uma máscara. […] O problema com o hipócrita religioso […] é que
deliberadamente pretende enganar as pessoas. […] E tudo faz para enganar as pessoas.”2. Desta forma, o ponto que
Jesus condena aqui é a hipocrisia na vida de oração, em que as pessoas só oravam para que outros pudessem vê-las e
pensar: “Nossa! Como Fulano é piedoso!”, “Olhem, que grande exemplo de servo de Deus ali!”. Jesus diz: estes homens
não oram, apenas atuam. Não falam com Deus, discursam para que os homens vejam. Não buscam a presença do
Senhor, buscam as honras e reconhecimento dos homens. E, como diz Cristo, é apenas isso que receberão.

Portanto, Jesus não proíbe a prática de toda e qualquer oração pública. O grande problema aqui condenado
por Jesus é a motivação das orações públicas. Motivação esta “que se concentra nas pessoas e não em Deus”3.

2. Não orem como os gentios pagãos (vv. 7-8)

Após citar o mau exemplo dos judeus, que agiam com hipocrisia em sua vida de oração, Jesus passa a falar
dos gentios pagãos, que agiam como loucos irrefletidos em suas orações. A prática da oração não é uma peculiaridade
do cristianismo, que fique claro isto. Assim, os povos pagãos também têm suas orações, tem seus rituais, tem seus
mantras, tem suas rezas, tem suas “fórmulas mágicas” para serem dirigidas aos seus deuses. Jesus toma como exemplo
exatamente estas pessoas.

Desta vez, a condenação de Jesus não é para orações longas, ou mesmo contra a persistência e perseverança
na oração. O que Jesus está repudiando aqui é a oração que é mera repetição de palavras sem sentido, sem nexo, sem
reflexão. Jesus condena a oração que é centrada em títulos e não em relacionamento. Condena a oração que é centrada
em “vencer pelo cansaço” do que em suplicar amorosamente. Condena a oração que é cheia de palavras, mas vazia de
vida e de sinceridade.

Jesus cita o exemplo dos gentios (muitos dos quais, engendrados no paganismo) que faziam longas orações
em que apenas repetiam frases ou palavras, a fim de cumprir um ritual qualquer e tentar ser ouvidos pelo seu deus.
Exemplo disso são os servos de Baal, em 1Reis 18: “Então pegaram o novilho que lhes foi dado e o prepararam. E
clamaram pelo nome de Baal desde a manhã até o meio-dia. “Ó Baal, responde-nos!”, gritavam. E dançavam em volta
do altar que haviam feito. Mas não houve nenhuma resposta; ninguém respondeu.” (1Reis 18:26). Os servos de Baal
repetiam e repetiam sem parar a mesma frase, sem refletir, sem pensar, sem analisar qualquer coisa. Apenas repetiam
como um mero ritual vão. Notemos, portanto, que a ênfase de Jesus não é na repetição em si, mas na repetição vã e
irrefletida, que era exatamente o que os gentios pagãos faziam.

3. Orem como verdadeiros cristãos (vv. 6-14)

Se já aprendemos como não orar, o que, no fim das contas, devemos efetivamente fazer? Jesus, em contraste
com o modo hipócrita de oração do judaísmo ou com o modo vão de oração do paganismo, ensina-nos o modo
verdadeiro, puro e bíblico de oração no cristianismo. Aprendemos aqui, pelo menos, quatro ensinos muito preciosos
sobre a verdadeira vida de oração:

a) A oração cristã é uma oração sincera: Jesus chama nossa atenção, logo no início, para orarmos com a alma
entregue ao Pai. A oração na experiência cristã não pode ser um instrumento de nos fazer visíveis aos
olhos de outrem. A oração não pode ser uma maneira de expressarmos todo nosso conhecimento bíblico
e linguístico. A oração, tampouco, pode ser um meio de mostrarmos como podemos ser grandes oradores.
O que Jesus ensina é que a oração cristã é a oração que sai do coração do crente para o trono de Deus,
sem precisar ser apreciada pelos homens. A oração que o Senhor requer de nós é aquela conversa de filho
para pai, sem medo, sem floreios, sem invenções. É uma palavra franca, embora respeitosa, àquele Deus
Todo-poderoso que nos ama e está sempre pronto a nos ajudar.

2
STOTT, John, A mensagem do Sermão do Monte, 3a. São Paulo, SP: ABU Editora, 2014, p. 131.
3
KEENER, Craig S., Comentário histórico-cultural da Bíblia - Novo Testamento, 1. ed. São Paulo, SP: Vida Nova, 2017, p. 62.
Jesus, então, ensina aos seus discípulos (e a nós, obviamente), que em contraste com a oração pública
com péssimas motivações dos judeus, nós devemos entrar em nosso quarto e, com a porta fechada,
conversarmos com Deus. Como bem observou John Stott: “Devemos fechar a porta para não sermos
perturbados e distraídos, mas também para fugir aos olhos dos homens e para ficarmos a sós com Deus.
[…] Nosso Pai está lá [no secreto], à nossa espera. Nada destrói mais uma oração do que olhares furtivos
para os espectadores humanos, como também nada a enriquece mais do que o senso da presença de Deus.
Pois ele não vê a nossa aparência externa, apenas o coração; não a pessoa que está orando, apenas o
motivo porque o faz. A essência da oração cristã é buscar a Deus.”4.

Com não rara frequência vemos cristãos que, em suas orações públicas, são totalmente mecânicos, e
oram para os homens e não para Deus. Pessoas que, em público, usam de um vocabulário de dar inveja a
Machado de Assis, mas que no recôndito do lugar secreto, falam com simplicidade. A grande pergunta é:
por que mudar? Por que “falar bonito”? Será que o mesmo Deus que ouve “Ó, amantíssimo Pai Celestial.
Onipotente, onipresente e onisciente. Deus cuja majestade vai além dos céus, ouve-nos em nossa ínfima
miséria…”, não ouve também “Deus, tenho problemas. Me ajuda, por favor?!”? Tenhamos cuidado,
amados irmãos, de não fazer falsas orações na igreja apenas para que os outros vejam nosso
conhecimento bíblico ou nossa versatilidade linguística. Tenhamos o cuidado de orar com singeleza de
coração, qualquer que seja a ocasião ou o lugar.

b) A oração cristã é uma oração refletida: Ao invés de usarmos de vãs repetições, o Senhor espera que usemos
nosso coração, nossa mente, nosso espírito para orar! Ou seja, ao invés de simplesmente utilizarmos de
uma verborragia sem fim e sem sentido, precisamos orar entendendo aquilo que oramos, pensando em
cada palavra, em cada detalhe.

Não interessa se a oração será longa ou curta, com palavras difíceis ou com vocabulário simples, com boa
oratória ou gaguejante. O que o Senhor espera de nós é um coração totalmente entregue na prática da
oração. E isto é impossível se usarmos de vãs repetições. Como Kenneth Bailey observou, “Estamos
imersos em palavras e por isso elas ficaram baratas. […] Jesus convida o leitor a entrar no mundo onde as
palavras são poucas e poderosas. Nesse mundo, cada palavra tem de ser analisada com o cuidado que ela
merece.”5.

Se no mundo antigo tais repetições manifestavam-se em cultos pagãos, como isso se manifesta hoje? De
várias maneiras: a reza do rosário, contando contas sem se pensar nas orações feitas; uma liturgia
estritamente formal, engessada, em que os adoradores aproximam-se de Deus com os lábios, mas não
com o coração; as “crendices de crentes” que, muitas vezes, acham que “Orar o Pai Nosso” tem uma força
espiritual superior… todas estas são vãs repetições! O que Jesus proíbe expressamente aqui é que façamos
orações com a boca sem fazê-las com o coração. Assim, precisamos orar com reflexão verdadeira em cada
palavra, em cada linha, em cada movimento da nossa oração.

c) A oração cristã é de acordo com a vontade de Deus: O Senhor Jesus, a fim de que os seus discípulos
pudessem orar como convém, deu-lhes um modelo, um padrão, um molde, um paradigma para a oração.
Jesus traz aqui a mais conhecida entre todas as orações já feitas: a Oração Dominical, Oração do Senhor
ou, simplesmente, Pai Nosso. Não entraremos em detalhes sobre ela aqui, mas teceremos algumas
considerações.

Eugene Peterson afirmou que esta oração, que encontra-se bem no meio do Sermão da Montanha, “que
dá liga ao Sermão e o enche de vida”6. J. I. Packer coloca a Oração do Senhor, juntamente com o Decálogo

4
STOTT, A mensagem do Sermão do Monte, p. 136.
5
BAILEY, Kenneth E., Jesus pela ótica do oriente médio, 1a. São Paulo, SP: Vida Nova, 2016, p. 96.
6
PETERSON, Eugene, A linguagem de Deus, 1a. São Paulo, SP: Mundo Cristão, 2011, p. 183.
e com o Credo Apostólico como o que há de mais essencial na fé cristã. Como o que concentra os principais
ensinos que precisam ser vividos dentro do cristianismo.

Philip Keller, falando sobre a importância da Oração do Senhor, afirma: “Apesar de sua brevidade, tem
trazido um incalculável benefício a multidões de homens e mulheres, muitos dos quais sabiam pouco ou
quase nada sobre as Escrituras Sagradas. Contudo, nessa oração estão revelados todo o poder a
compaixão de nosso Pai celestial. Ela encerra uma beleza e serenidade que nenhum mortal pode jamais
explicar completamente. Ela tranquiliza nosso coração, fortalece nossas decisões e nos conduz a um
contato pessoal com Deus, nosso Pai.”7.

Wiersbe afirma: “Jesus não deu essa oração para ser memorizada e recitada determinado número de
vezes. Pelo contrário, deu essa oração para evitar que usássemos de vãs repetições. Jesus não disse: ‘orem
com estas palavras’, mas sim: ‘orem desta forma’, ou seja, ‘usem esta oração como um modelo, não como
um substituto’.”8. Assim, o propósito de Jesus, portanto, é mostrar aos discípulos uma forma simples de
orar, sem usar de vãs repetições, como faziam os judeus e os pagãos, tendo um padrão do que é essencial
numa oração devocional ao Senhor.

O ponto central desta oração é a glória do próprio Deus! E isso deve ser o cerne de toda oração! A Oração
do Senhor não existe para que você a recite sem pensar; não existe para que você se sinta bem ao fazê-
la; não existe para que você seja o centro; não existe para que você seja engrandecido diante dos homens.
A Oração do Senhor existe para que Deus seja inteiramente glorificado! E é justamente por isso que ela é
o modelo básico de toda oração! É por isso que seguir este modelo é orar segundo a vontade de Deus!

Veja bem: é totalmente legítimo orar pelas necessidades básicas, orar pelo suprimento, pelo perdão, pela
proteção do Senhor… mas o alvo de tudo isso precisa ser a glória de Deus! Se somos supridos em nossas
necessidades, é para a glória de Deus; se somos perdoados, é para a glória de Deus; se somos protegidos,
é, também, para a glória de Deus! Por isso precisamos orar sempre de acordo com a vontade de Deus.

d) A oração cristã é pautada no perdão: Hebreus 4 ensina-nos algo muito valioso, que tem grande conexão
com o que estamos meditando: “Portanto, visto que temos um grande sumo sacerdote que adentrou os
céus, Jesus, o Filho de Deus, apeguemo-nos com toda a firmeza à fé que professamos, pois não temos um
sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas, mas sim alguém que, como nós,
passou por todo tipo de tentação, porém, sem pecado. Assim, aproximemo-nos do trono da graça com
toda a confiança, a fim de recebermos misericórdia e encontrarmos graça que nos ajude no momento da
necessidade.” (Hebreus 4:14-16). O texto nos ensina que, graças a Jesus, nós podemos nos aproximar de
Deus com confiança! Ou seja: graças ao perdão conquistado por Jesus mediante seu sacrifício na cruz do
Calvário, nós podemos nos aproximar de Deus através da oração, sendo mediados pelo próprio Cristo! A
verdadeira oração não é uma tentativa de obter o perdão divino. Na realidade, a verdadeira oração só
pode ser realizada por aqueles que já vivenciam o perdão do Céu!

Mas, há um alerta dado pelo Senhor Jesus aqui: temos perdão, mas precisamos ser perdoadores. O grande
ponto aqui tem a ver com a realidade da nossa salvação: se nós somos salvos verdadeiramente, se somos
regenerados pelo Espírito Santo, se temos um coração renovado em vida, então temos perdão, e junto
do perdão recebido, temos a disposição para liberar perdão. Contudo, se nos consideramos cristãos, e
somos incapazes de perdoar nosso semelhante, a verdade é que, possivelmente, não tenhamos
experimentado ainda a verdadeira conversão. Por isso a oração cristã é pautada no perdão.

7
KELLER, Philip, Orando diariamente o Pai Nosso, 1a. São Paulo, SP: Vida, 2013, p. 10.
8
WIERSBE, Warren W., Novo Testamento 1, 1. ed. Santo André, SP: Geográfica, 2014, p. 30.
APLICAÇÕES:

Diante de tudo o que consideramos até aqui, surgem-nos algumas indagações e proposições práticas.

1) O que buscamos ao orar? Ou, afinal, por que oramos? Quando você é convidado a orar em público na igreja, o que se
passa em seu coração: “Estou diante do Pai”, ou então, “Estou diante dos homens”? Afinal de contas, por que você ora?
Por que você gasta minutos, ou mesmo horas, do seu dia, orando? Apenas para apresentar queixas, lamentos,
murmurações e pedidos diante de Deus, ou para experimentar mais comunhão graciosa com ele? Apenas para atualizar
sua lista de requisições, ou para simplesmente estar com o Pai no lugar secreto?

Quantas e quantas vezes temos perdido grandes oportunidades de comunhão com Deus porque simplesmente nos
preocupamos com os homens! Quantas vezes temos perdido oportunidades de uma conversa agradável com o Pai
porque só queremos lamentar e murmurar! Note bem, há lugar para o lamento na oração cristã. O problema é quando
o lamento é a oração padrão da vida de alguém! Parece que nunca há nada a agradecer, não há um Deus exaltado a se
glorificar, não há um Reino a se pedir!

2) Não podemos abandonar o lugar secreto. A segunda lição prática deste texto é um convite à uma vida de oração. A
oração pública (com as motivações corretas, claro) é permitida, encorajada e até mesmo ordenada nas Sagradas
Escrituras. Entretanto, nós não podemos viver apenas delas! Precisamos do nosso tempo no lugar secreto! Precisamos
dedicar ao menos alguns minutos por dia para que estejamos totalmente a sós com o Senhor. Mesmo em família isso é
necessário! As orações feitas no culto doméstico não podem ser as únicas orações do seu dia. A oração que você faz
apenas antes do almoço também não é!

Podemos ver em Jesus nosso melhor exemplo de vida e de intimidade com o Senhor. Jesus, mesmo sendo Deus, não
desprezava os momentos de oração no lugar secreto. Em Mateus 14:23a, Jesus havia acabado de multiplicar pães e
peixes e alimentar (provavelmente) mais de 10 mil pessoas! Uma multidão maior que a população de nossa cidade! O
que mais me deixa impactado aqui é que Jesus, depois de haver ensinado e cuidado da multidão, não foi para casa
descansar, não foi para a praia relaxar, não foi tirar um cochilo na rede… Jesus, depois de toda essa intensidade de
trabalhar com uma grande multidão, foi ORAR SOZINHO!

A grande lição que este texto me mostra é que nós não podemos viver só em multidão, não podemos viver só em
comunidade, não podemos viver só de eventos! Veja bem: todas estas coisas são legítimas e importantes. O culto
congregacional é essencial e indispensável. Contudo, só isso não basta! É preciso que tenhamos o nosso momento a
sós com o Pai! Você e eu precisamos tirar um tempo regular para estarmos em comunhão com o Amado das nossas
almas!

Quero convidar você para olhar o exemplo de Jesus, que apesar da multidão, conseguia parar tudo e orar sozinho. Seu
trabalho é importante, sua família é importante, seu lazer é importante, sua igreja é importante. Mas, igualmente
importante, é você tirar um período devocional todos os dias! Não negligencie a comunhão pessoal com o Senhor,
irmão. Não permita que a correria do dia-a-dia o afaste da presença preciosa do nosso Salvador!

Portanto, crie o hábito, discipline-se, resolva firmemente ter seu momento no lugar secreto. Ter seu momento a sós
com Deus.

3) A oração é relacional! A terceira lição aprendida aqui é que a oração não é, como já mencionei, um simples momento
para atualizarmos nossa lista de requisições diante de Deus. A oração é profundamente relacional! Jesus condenou os
hipócritas e os pagãos pela mesma razão: faltava relacionamento nas orações deles! Para um, o que importava era o
aplauso dos homens; para o outro, o que importava era convencer a Deus de alguma coisa por meio de repetições.
Jesus, contudo, ensina-nos um novo caminho. O caminho da proximidade, da intimidade, do relacionamento! David
Platt pontuou muito bem: “O propósito da oração não é que os discípulos levem informação a Deus, mas que
experimentem intimidade com ele.”9.

4) Há um abismo entre perseverança e mantras. Jesus condenou as vãs repetições, mas jamais condenou a perseverança
e a persistência. Muito pelo contrário, o Senhor incentiva-nos a orar sempre e nunca esmorecer! A insistir, a continuar
batendo na porta, a orar mais e mais, a pedir, suplicar, interceder a cada dia mais! O ponto em questão é: reflita em
tudo que é orado! Não ore apenas por orar. Não ore apenas porque te pediram. Mas que a oração saia do mais profundo
da sua alma. E, assim, se há alguma oração ainda não respondida ou atendida, continue a orar!

5) Ore sem cessar. O profeta Zacarias afirma que sobre o povo de Deus está o Espírito de graça e súplicas, ou seja, o
espírito de oração (Cf. Zc 12.10). Diante disso, não temos porque não orar. Não temos argumentos válidos diante de
Deus para não vivermos em oração. Obviamente, a vida em oração não significa ficar andando pela rua falando sem
parar, a todo momento, a todo instante. A vida de oração, o orar sem cessar, é viver com o coração em oração, com a
mente e a alma em chamas continuamente para Deus. É vivenciar a oração. Encarnar a oração. Respirar oração!

CONCLUSÃO

Concluo com R. C. Sproul: “A oração não é um solilóquio, um mero exercício de autoanálise terapêutica ou
uma recitação religiosa. A oração é uma conversa com o próprio Deus pessoal. No ato e na dinâmica de orar, eu coloco
toda a minha vida sob o olhar de Deus. Sim, ele sabe o que está em minha mente, mas eu tenho o privilégio de articular
para ele o que está lá. Ele diz: ‘Venha. Fale comigo. Manifeste para mim os seus pedidos’. Portanto, vamos à oração
para conhecer a Deus e sermos conhecidos por ele.”

Pregado em:

 IGREJA PRESBITERIANA DE MARTINS SOARES – CULTO DOMINICAL, 2017


 PRIMEIRA IGREJA PRESBITERIANA DE JUIZ DE FORA – CONGRESSO DE JUVENTUDE, 2017

9
PLATT, David, Siga-me, 1a. Rio de Janeiro, RJ: Thomas Nelson, 2013, p. 108.

Você também pode gostar