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O narrador está no palco, distraído com alguma coisa. Entra uma Garota.

Garota (frustrada): Não acredito, não acredito, não acredito! Eles não podem fazer isso!

Narrador (a amparando): O que foi, minha amiga? O que aconteceu para você estar assim?

Garota (chateada): Ah, é que eu estava vendo alguns dos relatórios lá da empresa onde
trabalho, e acabei notando que os meus colegas homens ganham um tanto a mais do que eu,
mesmo a gente exercendo a mesma função. E o mais chato é que isso ainda acontece em
muitos lugares.

Narrador: Isso é mesmo muito chato. Mas as coisas estão mudando, sabia?

Garota: Ah, é? Você fala isso porque é homem!

Narrador: Não é, não. Você sabia que, há 40 anos, as mulheres ganhavam menos de um terço
do salário dos homens? E que ainda tinham que trabalhar muitas horas a mais? Era muito mais
desigual.

Garota: Mas ainda não é igual.

Narrador: Não mesmo. Mas está mudando aos poucos no decorrer da História. Na Pré-
História, por exemplo...

(Os dois vão para o canto do palco e sentam-se na borda. Ficam lá durante o decorrer dos
seguintes atos, apenas para comentar as cenas que se seguem, como se estivessem
imaginando-as.)

(Passa o carregador de plaquinhas com a plaquinha “Pré-História”)

(Mulher-das-cavernas no palco, acendendo uma fogueira. Homem-das-cavernas aparece e


começa a arrastá-la. A mulher tenta se soltar e o homem bate em sua cabeça com um porrete.
Ela desmaia e ele a arrasta até um local de culto, junto a outros homens e outras mulheres
desmaiadas. Todos estão cultuando uma pintura rupestre de uma deusa da fertilidade)
(Garota levanta, ainda na ponta do palco, e chama atenção para si enquanto os homens e
mulheres das cavernas saem do palco)

Garota (indignada): Sério? Eles faziam isso? Pelos cabelos, ainda? (se recompoe) Mas, claro,
isso foi há muito tempo. Já era para a situação ter melhorado muito. (se senta de novo)

Narrador: Com certeza. Mas não para por aí. Se você acha essa submissão ruim, você nem
imagina a perseguição que elas sofreram na Idade Média.

(Passa o cara da plaquinha “Idade Média”)

(Entra em cena um pai, uma mãe e um filho caracterizados na Idade Média. Um guarda fica no
fundo do palco. Pai e filho estão discutindo.)

Pai: Eu já te disse o que quero que você faça! Você vai ser padre e ponto final!

Filho: Mas eu não quero, pai! Eu quero ser um artista! Não quero seguir essas crenças
ridículas que você me impõe!

Pai: Ridiculas? Vou te mostrar o ridículo! (Pai levanta o braço para bater no filho. Mãe segura
o braço do pai.)

Mãe: Não, querido. Não faça isso. O nosso filho merece escolher o que ele quer ser. Não
adiantaria ele ser um padre se não ouviu o Chamado do Senhor.

(Pai empurra a mãe no chão)

Pai: Senhor? Você quer falar de Deus pra mim? Você não tem direito de opinar aqui! Por lei,
você não deve interferir nas minhas decisões! Você é uma herege, isso sim. E uma hipócrita,
querendo falar de Deus pra mim! Quer instaurar o caos nessa casa? Não vai conseguir, sua
bruxa! Bruxa!

(Mulher se espanta. O Guarda se aproxima.)

Guarda: Bruxa?

Pai: Sim. Essa bruxa quer colocar discórdia entre mim e meu filho. É uma enviada de Satanás!

(Guarda levanta a mulher e a arrasta até uma fogueira [coxia]. Pode-se colocar sons de
chamas. Mulher grita de dor até morrer.)

(Guarda, pai e filho saem de cena. Garota volta a ser o foco)

Garota: Isso é ridículo! Como podiam tratar seres humanos assim? E só por ser de um sexo
diferente?
Narrador: Pois é. Não era fácil. E durante muito tempo, as mulheres continuaram sendo
marginalizadas. Eram apenas mães, filhas e esposas, nada mais. Não podiam votar e nem
trabalhar fora.

Garota: E elas nunca tentaram lutar por direitos iguais?

Narrador: Ah, sim, tentaram. Mas, geralmente, não dava muito certo no final.

(Passa o cara da plaquinha “Nova Iorque, 8 de Março de 1857”)

(Entram em cena as mulheres operárias da fábrica. Elas estão protestando para conseguirem
direitos trabalhistas em relação a salarios e horas de trabalho diárias)

(Após um tempo, entram na fábrica o chefe da fabrica e alguns policiais.)

Chefe: O que está acontecendo aqui? Por que estão fazendo toda essa gritaria?

Mulher: Nós queremos o que vocês não nos deram até hoje. Queremos direitos iguais aqui!
Jornada de trabalho, salários, tratamento... Tudo isso!

Chefe: Isso é um absurdo. Se depender de mim, não vão ganhar nada mais! E tem sorte de eu
não mandar castigar todas vocês por fazerem toda essa baderna. Agora, de volta ao trabalho,
depressa! Estou perdendo dinheiro.

Mulher: Não vamos fazer nada disso. Só sairemos daqui quando tivermos nossos direitos
respeitados.

Chefe: Muito bem, então. Eu vou esmagar essa revoltinha agora! (Se volta para os policiais)
Rapazes, fogo nelas. Se não vão sair em paz, vão sair em sacos. (sai de cena)

(Policiais incendeiam a fábrica. Mulheres morrem gritando)

(Policiais saem de cena. Mulheres saem sem chamar atenção.)

Garota: Isso foi horrivel! E eles só mataram todas aquelas mulheres? A sangue frio?

Narrador: Isso mesmo. E só porque estavam querendo direitos iguais. Sabe, mas nem todas
as lutas foram perdidas. Demorou, mas as mulheres, por exemplo, conseguiram o direito de
poderem frequentar universidades. No Brasil, isso aconteceu em 1879.

(Passa o cara com a plaquinha “Brasil, 1879”)

(Um grupo de alunos homens está sentado ouvindo a aula de um professor também homem.
De repente, entra em cena um grupo de estudantes femininas)
Aluna: Com licença, professor? Somos as alunas novas. Podemos entrar?

Professor (conturbado): É... Tem certeza de que estão no lugar certo?

(Meninos começam a cochichar e fazer comentários maldosos BAIXOS)

Aluna (animada): Temos, sim. Somos as primeiras garotas a estudar nessa universidade depois
da lei que nos permite estudar aqui. Isso é bem legal.

Professor: Ah, sim. Tudo bem, então. Sentem-se por ali e deixem eu continuar a minha aula.

(Alunas se sentam. Alunos as olham com cara feia de desgosto. Começam a cochichar entre
si.)

Aluno 1 (cochicha alto para o Aluno 2): Que ridiculo. Onde já se viu? Elas não tinham roupa
pra lavar? Sanduíches pra fazer?

Aluno 2 (cochicha alto para Aluno 1): Essas mulheres estão perdendo a noção! Que estúpido!
Elas nem tem capacidade pra acompanhar a aula como nós!

Professor (se vira para os alunos): Algum de vocês saberia me dizer qual foi o Primeiro-
Ministro do Brasil antes do atual?

(Alunos ficam perdidos, tentando lembrar. Uma das alunas levanta a mão)

Professor: Sim?

Aluna: Era o Duque de Caxias, não?

Professor (surpreso): Certa a resposta. Parabéns.

Aluno 1 (cochicha para os outros): Que exibida.

Aluno 2 (cochicha para os outros): Deu sorte, certeza.

(Alunos bufam e saem da cena. Alunas dão uma risadinha entre si e saem logo atrás. Professor
sai por ultimo)

Garota: É, foi uma conquista bem grande. Mas ainda não é o suficiente.

Narrador: Não mesmo. Mas logo as mulheres conseguiriam o direito de votar. A Nova Zelândia
foi o primeiro país a lhes garantir isso, em 1893. O Brasil só o faria em 1932.

Garota: Uau. Isso já é bem próximo do nosso tempo. Aí elas já estudavam e votavam. Mas e
quanto ao trabalho?

Narrador: Bom, até então elas faziam ou trabalhos considerados femininos ou eram super
exploradas nas fábricas. Foi só a partir das duas Guerras Mundiais, quando seus maridos foram
aos fronts lutar, que elas precisaram correr atrás de empregos para sustentar a familia. E aí
elas passaram a se inserir de verdade no mercado de trabalho.
(Passa o cara com a plaquinha “Chicago, 1940”)

(Uma familia com pai, mãe, e filhos entra em cena. O pai está pronto para sair para a guerra.
Os filhos estão chorando e a mulher está chateada)

Mulher: Você precisa mesmo ir?

Homem: Meu país precisa de mim. Mas não se preocupe. Eu voltarei logo. Cuide bem das
crianças. Adeus. (E sai de casa)

(Um dos filhos(as) cutuca a mãe)

Filho(a): Mãe. Como faremos com o dinheiro. O papai não está mais aqui para sustentar a
gente.

Mãe: É uma boa pergunta, filho. Eu não sei como vamos sobreviver.

(Passa um carteiro e entrega um panfleto à mulher)

Mãe: “Faça o trabalho que ele deixou para trás?” “E se inscreva no serviço de empregamento
dos Estados Unidos?” Parece uma boa. Crianças, fiquem aqui, tudo bem? Eu já volto. (Mãe sai
de cena) (Crianças saem da cena logo depois)

(Possiveis slides no telão com fotos de mulheres trabalhando na Segunda Guerra Mundial)
(Possivel distribuição de panfletos mostrando a propaganda americana para as mulheres
trabalharem durante a guerra)

(Passa o cara da plaquinha “Chicago, 1945”)


(Mesma mulher, vestida como operária, junto aos seus filhos. Pai entra em cena)

Homem: Querida, cheguei! Voltei da guerra. Nós ganhamos. E o que aconteceu por aqui? Está
tudo bem?

Mulher: Que bom, querido. Está, sim. Arrumei um emprego numa fábrica aqui por perto e
estou conseguindo sustentar a nossa família!

Homem (surpreso): É o que? Mesmo? Você conseguiu? (feliz) Que ótimo. Estava tão
preocupado com como vocês ficariam depois que eu partisse. Mas fico muito orgulhoso que
você consiga trabalhar como um homem!

(As crianças se aproximam e comemoram a volta do pai. Todos saem de cena juntos e alegres)

Garota: Aí, sim. Agora eu estou vendo bastante avanço para se parecer mais com o que é hoje.

Narrador: Viu? E essa luta continuou. Durante todo o século 20, muitas mulheres continuaram
a lutar por uma igualdade de verdade entre os dois sexos. E isso culminou no que existe hoje.
Não é total, mas já é bem melhor do que ser arrastada pelos cabelos na Pré-História, não é?

Garota (ri): É verdade. Mas, falando nisso, como ficou essa parte da violência contra a mulher?
Os homens não podem mais bater nas mulheres quando quiserem, né?

Narrador: Bom, na teoria, não. Há até uma lei que assegura isso. É a Lei Maria da Penha, sabe?

Garota: É, eu sei. Mas me parece que ainda há muitos homens que burlam essa regra e nada
acontece.

Narrador: É que a sociedade em que vivemos ainda é bastante machista, se ver bem. Como
exemplo, esse seu trabalho. Apesar de toda a luta que as mulheres fizeram e de tudo o que foi
conquistado, você ainda ganha menos do que eles.

Garota (chateada): É, eu tinha até esquecido disso. Estava tudo parecendo um mar de rosas.

Narrador: Ah, mas não é. Por outro lado, você já viu que já evoluímos muito nesse quesito.
Nossa sociedade está se tornando menos machista com o passar do tempo. Sabe como
podemos conseguir uma igualdade verdadeira? Só reivindicando mais.

Garota: E eu acho que a gente podia pensar em educar mais as pessoas também. Fazer
palestras e os professores falarem mais sobre isso na escola. E, acima de tudo, isso deveria
começar em casa. Com os pais.

Narrador: Concordo plenamente. Agora, mudando um pouco de assunto, que dia é hoje?

Garota: 24 de outubro. Por quê?

Narrador: Você não tem mais ENEM para fazer amanhã? Acho que devemos ir pras nossas
casas descansar. Você realmente precisa dessa nota pro PROUNI. Seu salário realmente não
agüenta pagar uma faculdade.

(Ambos saem de cena.)


(Passa o cara com a plaquinha “ENEM 2015, segundo dia”)

(Varias cadeiras no palco, com alunos sentados. Garota entra e se senta na primeira cadeira,
logo de frente para a plateia. Recebe a prova e a le por algum tempo. Então toca a gravação do
pensamento da Garota)

Pensamento da garota: Olha só esse tema. “A persistência da violência contra a mulher na


sociedade brasileira”. Parece que essa aulinha de ontem vai ser uma boa ajuda. Nós realmente
conquistamos bastante nessa luta por direitos iguais, mas ainda parece que tem muita coisa
errada. Assim como o direito à educação, ao voto, ao trabalho e à participação política, nós
também devemos ser respeitadas e tratadas como iguais. E o fim da violência contra a mulher,
seja doméstica ou não, deveria ser o próximo marco a adicionarmos nessa nossa história. A
mulher não é o sexo frágil, mas só vem sendo representada como tal.”

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