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chique, maquiada, cheia das jóias, salto agulha entrando no teatro com uma
espiga de milho cozido na mão e meu saleiro na outra... Só que o saleiro
agora tinha uma caveirinha preta desenhada. Eu não pude fazer nada não seu
moço... Mas não me identifica! Não me identifica, tá seu moço?
REI (Abaetê) - Boa noite a todos, adorei a presença de... Ah, mas quem eu
vejo aqui... Veja se não é o meu dramaturgo predileto. O mais bonito, o mais
galante, o do cabelo mais negro de Paris: Moliére!!!!
REI - Moliére, mandei chamá-lo porque eu tenho uma surpresa para você,
mon chér.
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MOLIÈRE - Uma peça majestade? Mas outra?
REI - Ahã. Eu até já pensei no título, o que você acha de: “le cocovã que chup
chup e non cansa”? Não é espetacular?
REI - Meses Moliére? Meu aniversário é semana que vem meu querido!
MOLIÈRE – Ah...
REI - Ah Moliére, por falar em peça, a quantas anda aquela peça que eu te
encomendei no baile da semana passada sobre os burgueses ridículos que
não sabem dançar? Cadê?
REI - Ah Moliére, mas o que é isso? Eu tenho ótimas idéias, eu te digo todas
elas porque estou louco para vê-las em cena. Não largue a pena viu Moliére,
não largue a pena!
MOLIÈRE - Não largarei a pena majestade. Eu lhe fico muito grato majestade.
REI - Isso, As Preciosas Ridículas. Ela vai ser apresentada hoje aqui, não é
mesmo? Eu queria saber Moliére qual é a possibilidade de você me dar uma
pequena participaçãozinha na sua peça.
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REI - Ah, por favor, por favor, por favor! Eu já fiz oficina de teatro! Nas férias.
Na igreja... Mas foi um luxo!
REI - Ai que loucura! Eu sabia que você ia deixar! Assim... Quando é que eu
começo?
REI - La Grange...
REI - Exótico não? Mas acho que não saberia fazer um rústico...
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DU CROISY - Olhe um pouco para mim sem dar risada.
LA GRANGE - Diz.
LA GRANGE - Acaso nos responderam outra coisa além de sim e não a tudo o
que perguntamos?
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DU CROISY - Mas não pode!
LA GRANGE – Pode sim senhor! Elas vão pagar pelo que nos fizeram! Eu
conheço o motivo do desprezo delas.
LA GRANGE – in!
LA GRANGE – COQUETE!!!
DU CROISY - Grosso!
DU CROISY - Então pensa que eu acredito nas suas idéias. Vai pensa...
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LA GRANGE – Ah!!!
LA GRANGE - Ora, não há nada que faça mais sucesso hoje em dia do que o
pedantismo. Ele é um extravagante, que enfiou na cabeça a idéia de querer
fingir-se fidalgo. Jacta-se de ser galante e poeta e tanto desdenha dos outros
empregados que chega a chamá-los selvagens.
LA GRANGE - Que pretendo fazer com ele? Que pretendo fazer com ele? Que
pretendo fazer com ele?
LA GRANGE – Melhor perguntar pra elas... Isso é uma coisa que elas lhe
contarão melhor do que nós. O que podemos dizer-lhe é que lhe ficamos
muito gratos e continuamos seus humílimos servidores.
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DU CROISY - Humílimos servidores.
GORGIBUS - Ué! Parece que estão saindo mal satisfeitos daqui. De onde viria
o descontentamento deles? É preciso saber o que aconteceu. Vou chamar a
criada! Marotte!
FILHAS - Papai!
TODAS - AHÃNN...
ANTIGONA (Abaetê) - E que apreço queria o senhor que fizéssemos, meu pai,
do procedimento irregular de uma gente assim?
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SOCRÁTICA (Eduardo)- E como poderia, meu pai, uma rapariga razoada
habituar-se à pessoa deles?
ANTIGONA - Ah, papai, como cheira a burguesia o que o senhor está dizendo!
O senhor deveria esforçar-se um pouco por aprender a graça das coisas.
SOCRÁTICA - Concordo.
FILHAS - Misericórdia!
Todas se excitam
ANTIGONA - Os rivais...
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SOCRATICA - A perseguição dos pais...
SOCRATICA - Os ciúmes...
ANTIGONA - As queixas...
SOCRATICA - Os desesperos...
ANTIGONA - Os raptos...
TODAS: AH!
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SOCRATICA - Pelo amor de Deus, meu pai, esqueça-se desses nomes bizarros
e chame-nos de outra maneira.
ANTIGONA - Meu Deus, como o senhor é vulgar! A mim, uma das coisas que
mais me espanta, é que lhe tenha sido possível ter tido filhas tão espirituais
quanto nós.
SOCRATICA – Socrática!
GORGIBUS - Papai não admite que vocês troquem seus nomes! E quanto a
esses senhores que aqui estiveram quero que vocês se disponham a recebe-
los por maridos. Papai é viúvo e estou cansado de cuidar de duas franguinhas.
TODAS - Franguinhas?
ANTIGONA - Por mim, meu pai, só posso dizer-lhe que acho o casamento
uma coisa perfeitamente chocante. Como se pode tolerar a idéia de dormir
ao lado de um homem nu?
ANTIGONA - Mon Dieu! Querida irmã, como papai tem a forma enterrada na
matéria!
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ANTIGONA - Sinto-me envergonhada por ele.
TODAS SE EXCITAM
SOCRATICA - Algum formoso espírito que terá ouvido falar a nosso respeito.
Música #1
MASCARILLE (Guilherme) - As senhoritas hão de estar, sem dúvida, surpresas
da audácia da minha visita; mas a sua reputação lhes acarreta esta maçada.
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SOCRATICA - Queridas, é preciso mandar vir assentos.
MAROTTE - Que?
SOCRATICA - A cadeira!
SOCRATICA – Socrática!
ANTIGONA – Antigona!
TODAS SE EXCITAM
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SOCRATICA - Oh vida! Oh azar! Que poderíamos falar?
TODAS SE EXCITAM
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TODAS – Não?
TODAS – Não?
TODAS SE EXCITAM
TODAS – Aaaaahhhhh...
SOCRATICA - Ai de nós!
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qualidade, as suas peças novas, para que nos comprometamos achá-las
bonitas, e lhe demos fama; e imaginem só se, depois de termos dito qualquer
coisa, a platéia se atrever a contradizer-nos. Nisso, procuro ser muito exato; e
após havê-lo prometido a algum poeta, grito sempre: “Que beleza!” antes
que se acendam as velas.
SOCRATICA - Perfeitamente.
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ANTIGONA - Ah, não foi não é? Nossa! Então, asseguro-lhe que o senhor e eu
simpatizamos um com outro.
MASCARILLE (recitando)
OH! Oh! Eu não prestava a mínima atenção:
E enquanto a contemplava, folgaz e pimpão,
Seu órgão pupilar furtou-me o coração.
Pega ladrão! Pega ladrão!! Pega ladrão!!!
ANTIGONA - Quem?
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TODAS - O Visconde de Jodelet?!!!
TODAS SE EXCITAM
ANTIGONA - Ai meu deus! Que grossura. Desculpa ta seu moço, o senhor não
repara é que ela é louca
MASCARILLE - Já faz algum tempo que não nos vemos, e esta aventura me
encanta... Ei-lo.
Música #2
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JODELET - Já estava ansioso por conhecer as filhas do senhor Gorgibus.
Saibam que a vossa fama se espalha rapidamente por Paris.
JODELET - Bela coisa é a guerra. Mas hoje em dia a corte recompensa muito
mal às pessoas de serviço como nós.
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JODELET - Batalha? Ah, é claro que tenho de lembrar-me: foi quando recebi
na perna uma granada, cujas marcas trago ainda. Apalpe aqui, minha
senhora, por favor, que há de sentir o ferimento.
MASCARILLE - Foi um tiro de mosquete que levei na última campanha que fiz.
TODAS SE EXCITAM
JODELET - Carruagem?
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MASCARILLE - Levaríamos a passeio estas senhoras pelos arredores da
cidade.
ANTIGONA - Nossa, um passeio! Ah, mas não, não, hoje não poderíamos sair.
TODAS – Não?
TODAS – Não?
Música #3
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LA GRANGE (à parte para Du Croisy) - Mal Criadas! Eu não disse que ia dar
certo?
LA GRANGE - Huuuummm?
PRECIOSAS - Hããã???
PRECIOSAS - Ahhhhh...
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DU CROISY - Mas... Sr La Grange ...
TODAS - Menino?
SOCRATICA - São aqueles grosseirões que vieram hoje mais cedo nos visitar, o
La Grange e o Du Croisy.
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ANTIGONA - Marquês ajude nós preciosas donzelas a expulsar esses três
impostores de nossa casa!
LA GRANGE - Quanto a vocês, não é bonito nem direito seduzir eles assim.
DU CROISY - Sim, aquela calça justíssima ali é minha, e essa peita floral, é do
Sr. La Grange.
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MARROTE – Seu Molière, o senhor está passando mal? Gente, acuda, alguém
me ajude!!!
MARROTE - È o Seu Molière, ele está passando mal! Se bem que eu acho que
ele está improvisando!
CARTA (lida pelo rei) - Molière, o senhor jamais deveria ter zombado das
pessoas distintas que pertencem à “sociedade bem”. A sua peça ofende,
humilha, diminui. Desde sua primeira representação tenho de suportar
olhares irônicos, sorrisos maliciosos e piadas provindas de selvagens, digo
serviçais. Já não posso mais freqüentar os mesmo ambientes de outrora sem
que me sinta observada. A minha erudição, a minha elegância natural e todo
o brilho de uma imagem que construí arduamente durante toda a vida foram
destruídos pelo seu espírito de pilhéria. Hoje no exílio de minha solidão
procuro a paz que perdi e mesmo quando penso poder alcançá-la ainda que
fragilmente, o meu próprio olhar refletido no espelho torna-se o meu mais
cruel inquisidor. O senhor destruiu a minha vida Molière por isso sinto-me no
direito de destruir a sua. Assinado: A verdadeira preciosa. I want to be
alone...
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MARROTE - Mas o que a gente vai fazer? Ele não escreveu o final da cena, eu
estou até ficando sem fala!!!
Música #3
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