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Planejamento Comunicacional
Sessão 14 (25/09/2012)
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Trabalho e formação com comunidades.
Busca de aprovação política.
Elaboração de diagnósticos.
Definição de prioridades.
Construção de metodologias.
Seleção de alternativas.
Mediação de conflito.
Coordenação de programas.
Tomada de decisões fora do marco institucional, normativo.
Debate político.
Implementação de planos, programas, projetos.
Problemas de participação real.
Dificuldades Conflito.
Frustração ante a prevalência de poderes.
O Planejamento Comunicacional surge anos 80´s - 90´s como uma via alternativa ao
planejamento compreensivo racional, e ao planejamento estratégico, tentando avançar em
processos mais democráticos para a alteração das relações entre a sociedade civil e o Estado,
e se opondo ao uso exclusivo de critérios de eficiência econômica e gerenciamento.
Dois teóricos sistematizam e formulam a teoria do PC: John Forester e Patsy Healey; com a
influência da Teoria da Ação Comunicativa do Habermas, na qual são apresentadas duas
esferas no processo de planejamento: sistema administrativo-institucional do governo como
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lócus do planejamento; e o “Mundo da vida” como a expressão das múltiplas dimensões da vida
dos homens. Fainstain e Fainstain1 o consideram como uma das novas tendências do
planejamento contemporâneo, e o relacionam com o planejamento equitativo e com o
pensamento democrático. Para o Forester, o conceito de planejador envolve um conjunto de
atores comprometidos com a ideia de futuro: gestores de programas e projetos, administradores
públicos, avaliadores de programas, policy makers, e planejadores estatais dos níveis local,
regional, estatal, e federal; tanto urbanos como rurais.
No começo da aula foi colocado o caráter não neutral do ambiente do planejamento, pois ele
está atravessado por relações de poder que afetam e são afetadas pelas intervenções do
planejador. E que os planejadores experimentam poder ao terem a possibilidade de transformar
o presente numa situação futura melhor. Nesta busca o planejador entraria no que Forester
denomina “uma prática de organização seletiva de possibilidades reais de ação”, dirigida à
validação de certas agendas, à construção de legitimidade; onde os planejadores podem tomar
partido e fortalecer ou enfraquecer certas questões. Esta visão do Forester foi problematizada
na aula por sua concepção “realista”, que não consideraria as possibilidades que não estão
dadas e que poderiam ser criadas no processo, segundo uma visão mais “utópica” do
planejamento.
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Texto sessão 13. FAINSTEIN, Susan S.; FAINSTEIN, Norman. City planning and political values: an
updated view In: Campbell, Scott; Fainstein, Susan. Readings in planning theory. Malden/Mass, Blackwell
Publishers, 1996, pp. 265-287.
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5. Incorpora uma diversidade de modalidades de conhecimento, onde não existe restrição
a qualquer tema, metodologia, linguagem. É, porém, aberto a essa diversidade.
6. Para o PC é necessária a manutenção de reflexão crítica do processo de construção
das vontades coletivas de forma democrática.
7. Este planejamento sustentaria um projeto de pluralismo democrático, onde é importante
ouvir, dar voz e respeitar os agentes e seus interesses com relação ao mundo da vida.
8. As interações no PC iriam alem da simples barganha. Numa esfera de ação
comunicativa, o meio de troca seria o argumento, como a moeda na esfera mercantil,
mas as interações deveriam gerar aprendizados novos na forma de compreensão do
argumento dos outros.
Neste ponto foi colocado o debate sobre a intenção de geração de consenso nas
interações no âmbito do PC, ou se o objetivo é gerar compreensão, reconhecimento, e
entendimento, mesmo mantendo a discordância de interesses. Ao respeito, Healey
argumenta que Habermas “... claramente gostaria de ver um consenso estável
emergir...”. (p.244, tradução nossa). Mas ela se afasta do Habermas ao considerar a
“intraductibilidade” dos “sistemas de significação”, ela coloca que “Nunca pode ser
possível se construir um consenso estável, sobre “como vemos as coisas,” só uma
acomodação temporária de percepções diferentes e de diferente adaptabilidade”. (p.244,
tradução nossa). Já sobre o Forester foi colocado que em alguns dos textos ele se
aproxima mais ao objetivo consensual do que em outros, e que a crítica sobre o
consenso lhe aproxima da esfera mercantil, entanto que afastá-lo do consenso é
aproximá-lo à esfera política, do embate de rações.
9. O PC estaria comprometido com a transformação social, com o objetivo de transformar
as relações matérias e as relações de poder, de visibilizar e desmitificar essas relações
para transferir poder para os grupos subalternos.
10. Caráter radicalmente democrático. A questão procedimental é central. A interação da
esfera administrativa e o mundo da vida deve se dar em arenas democráticas.
O objetivo central do PC, segundo visto na caracterização feita antes seria mudar a relação
entre a esfera administrativa e mundo da vida, entre Estado e sociedade civil; um tipo de
estratégia de resistência e de transformação da ordem e de reinvenção da democracia.
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Para contextualizar a proposta de democracia em Habermas, foram explicadas as formas de
instauração da esfera pública desde os modelos liberal e republicano. No modelo liberal puro a
esfera publica é constituída por indivíduos que buscam seu próprio interesse, sendo o interesse
individual o átomo do interesse público, que seria produto da coordenação das transações dos
indivíduos no mercado. Assim, no caso do multi-stakeholder participatory planning é legítima a
expressão direta contra aquilo que fere o interesse individual; entanto que na lógica
republicana, os interesses são enunciados de forma coletiva, superando o interes individual-
egoísta, em nome do bem comum.
Habermas reconhece então dois grandes modelos de democracia: o primeiro baseado na ideia
republicana, onde o interesse geral é encarnado no Estado, que controla os interesses
particulares. Entende-se então o papel do planejador como de regulação. O segundo modelo
estaria baseado na ideia liberal, onde o interesse geral é resultante dos interesses particulares,
a sociedade teria que controlar o Estado para que não exceda os limites do poder
administrativo. Habermas tenta colocar um modelo onde o peso do Estado e dos processos
democráticos são mais fortes do que no modelo liberal, e mais fracos do que no modelo
republicano. Não seria nem o Estado nem os indivíduos, seria a multiplicidade de arenas
existentes na sociedade que vão exercer o papel de construção do entendimento. Esta visão
coloca a necessidade de se ter espaços públicos autônomos em relação à esfera administrativa
e procedimentos democráticos para a formação da vontade política. Estas arenas se
contraporiam ao poder do Estado e do mercado.
Mais uma questão foi colocada ao PC no sentido da dificuldade de se ter uma interação
discursiva com paridade em sociedades desiguais, onde não só os meios materiais, mas
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também os meios de enunciação estão distribuídos desigualmente. No espaço do
planejamento, como em todos os espaços, a limitação da capacidade de uso da linguagem
poderia impedir o reconhecimento dos conteúdos expressados pelos atores. Dar-se-ia o
problema da intraductibulidade dos enunciados colocado pela Healey, com o risco do uso da
linguagem e das estratégias discursivas como instrumento de dominação.
Por fim, foram apresentados os elementos do que Forester denomina “Geografia da prática do
planejador”, que lhe daria um entendimento do contexto político de atuação:
Referências:
HEALEY, Patsy. Planning through debate: the communicative turn in planning theory. In:
Campbell, Scott; Fainstein, Susan. Readings in planning theory. Malden/Mass, Blackwell
Publishers, 1996, pp. 234-257.
FORESTER, John. Critical theory, public policy, and planning practice: toward a critical
pragmatism. Albany, NY: State University of New York Press, 1993.
FORESTER, John. Planning in the face of power. BERKELEY: UNIV CALIFORNIA
PRESS, C1989.