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• Leisa Brasil JUN 2011 • vol. 8 n. 2
As árvores na
agricultura
Editorial
O
planeta perde anualmente 13 milhões de hectares
de florestas, sendo a maior parte dessa imensidão
territorial convertida em áreas agrícolas. Os im-
pactos negativos desse processo para as atuais e futuras gerações
são imensuráveis e imprevisíveis. Afinal, quando as funções regulado-
06
ARTIGOS
18
24
Funções ecológicas e econômicas de
24 sistemas agroflorestais
Jorge Luiz Vivan
38 Publicações
39 Agroecologia em Rede
As árvores na
agricultura familiar
Jorg Zimmerman
T
endo em vista as mudan- do Mapitoba). Isso significa mais uma imenso território praticamente sem árvores e,
ças climáticas e as trans- consequentemente, sem os serviços ambientais que elas prestam.
formações ambientais que
As áreas protegidas existentes na região não serão suficientes para manter as
se avizinham, é fundamental para o país
funções ecossistêmicas do bioma, principalmente aquelas relacionadas aos ciclos
reduzir a vulnerabilidade dos sistemas
hidrológicos, o que é desastroso, uma vez que algumas das principais bacias hidro-
produtivos da agricultura familiar, uma
gráficas brasileiras têm sua origem no Cerrado. Nesse sentido, a agricultura familiar
vez que ela produz grande parte dos
tem um papel fundamental, desde que mantenha sua base produtiva fundada em
alimentos consumidos pela população.
sistemas diversificados que incluem produção agrícola, pecuária e uma importante
Com este número, a Revista Agriculturas:
atividade extrativista, tanto de frutos como de plantas medicinais. Além disso, as
experiências em agroecologia enfatiza a
famílias agricultoras terão que se adaptar e responder aos desafios colocados pelo
importância das árvores e o papel que
avanço da monocultura. A base para essa adaptação está na utilização sustentável
as florestas nativas desempenham nes-
dos recursos naturais apoiada em princípios agroecológicos e nos saberes tradicio-
se segmento da agricultura no Brasil.
nais dos povos do Cerrado. Mas para fazer face às mudanças sociais, econômicas e
ambientais que vêm ocorrendo, esses produtores familiares precisam de políticas
A Política de Desenvolvimento do
específicas que lhes garantam a permanência na terra, crédito e assessoria técnica
Brasil Rural, aprovada pelo Conselho
qualificada.
Nacional de Desenvolvimento Rural Sus-
tentável, tem como princípio a sustenta- O recente debate sobre o novo Código Florestal ilustra bem a visão de curto
bilidade e assume como um de seus ob- prazo, distorcida e desinformada de alguns setores da sociedade sobre a importân-
jetivos: Assegurar um modelo agrícola que cia das florestas para a conservação dos recursos naturais, em especial da água. O
garanta a preservação das paisagens natu- que se verifica é que a perspectiva de lucros imediatos num mercado de commodities
rais, dos ecossistemas, da biodiversidade e aquecido varre para baixo do tapete qualquer consideração ambiental.
do patrimônio histórico-cultural das popula-
ções rurais. E é justamente a construção Felizmente, a valorização das árvores por famí-
desse modelo que se apresenta como
grande desafio frente ao cenário atual. lias agricultoras em seus sistemas produtivos é
Um exemplo dramático do que uma realidade bastante frequente. Como exem-
vem ocorrendo pode ser encontrado plos, citamos desde o sistema cabruca de cultivo
no Cerrado, visto como um espaço a
ser incorporado pelo agronegócio, que de cacau na Bahia até importantes experiências
não considera o valor de sua biodiver- de quintais diversificados, consórcios e sistemas
sidade, tampouco o conhecimento acu-
mulado e a cultura de suas populações agroflorestais (SAFs) na Amazônia e Mata Atlân-
tradicionais. Segundo a Confederação tica.Também não podemos deixar de ressaltar a
Nacional da Agricultura, nos próximos
dez anos serão incorporados 7,5 mi- importância do extrativismo vegetal que ocorre
lhões de hectares para a produção de em todos os biomas, sendo importante fonte de
16,6 milhões de toneladas de grãos em
áreas de Cerrado dos estados do Mara- alimentos, remédios e renda para povos
nhão, Piauí, Tocantins e Bahia (o chama- tradicionais e agricultores familiares.
A
o rodar pelas estradas no Planalto Norte de 39% dos estabelecimentos rurais da região e ocupando cerca
Santa Catarina os viajantes se deparam com de 70.000 hectares ou, aproximadamente, 13% do território.
uma paisagem composta por um mosaico
formado por remanescentes de floresta de araucárias entre- Funções econômicas e ecológicas das caívas
meados por lavouras anuais e cultivos florestais. Em vários
trechos da estrada é possível visualizar o gado bovino pas- Do ponto de vista produtivo, as caívas apresentam ca-
tando à sombra desses remanescentes florestais. A formação racterísticas muito peculiares, pois há uma forte interrelação
dessa paisagem se deve em grande medida à permanência entre as árvores, as pastagens nativas e os animais. As árvores
de um sistema produtivo tradicional dessa região conheci- fornecem sombra para os animais e proteção para os pastos
do como caívas ou invernadas. Esse sistema é mantido pela contra as geadas, permitindo que esses se mantenham verdes
combinação do pastejo do estrato herbáceo formado por por mais tempo, facilitando a mantença dos animais. Durante
espécies nativas ou introduzidas há décadas com a extração o verão, também cumprem funções importantes como fonte
de erva-mate e de lenha do estrato arbóreo. Atravessando o de forragem aos animais já que as áreas agricultáveis perma-
Rio Iguaçu, que delimita a divisa com o Paraná, esse tipo de necem durante esse período ocupadas pelas culturas comer-
sistema recebe o nome de faxinal. ciais, tais como fumo e milho.
No início do século XX a exploração da erva-mate e a
criação de gado em caívas compunham a base de sustenta- Apesar da menor biodiversidade
ção econômica desse território. Essa realidade foi drastica- das caívas quando comparadas
mente alterada com a exploração da madeira dos pinheiros
gigantes (Araucaria angustifolia), atividade responsável pela com as florestas nativas, elas exer-
depredação das matas a tal ponto que o governo brasileiro cem importante função ambien-
foi levado a criar áreas de plantio de araucárias. Se atualmen-
te ainda podemos ver remanescentes florestais na paisagem tal ao manter espécies vegetais
regional, esse fato se deve, sobretudo, às práticas de uso e típicas da floresta ombrófila mis-
conservação adotadas pela agricultura familiar já que as áre-
as de grandes proprietários foram convertidas em grandes ta, tais como a araucária, a erva-
plantios de soja e milho e outras monoculturas, inclusive mate, a imbuia, as canelas; além
de árvores. A maior pressão sobre a floresta nas pequenas
unidades de produção é ocasionada pela demanda de lenha de várias frutíferas da família das
para a secagem das folhas de fumo, cultura bastante dissemi- mirtáceas e inúmeras espécies
nada na agricultura familiar da região.
A maior parte das caívas apresenta-se atualmente como
de menor valor comercial como
fragmentos florestais de tamanhos variados. Apesar dessas guamirim, congonha, branquilho e
áreas não serem computadas nos censos agropecuários, é
possível chegarmos a uma estimativa por meio dos dados re-
outras. As caívas também contri-
ferentes às áreas classificadas como potreiros, presentes em buem para a manutenção da fauna
Atividade de campo do projeto de pesquisa participativa voltada ao melhoramento de caívas no Planalto Norte Catarinense
local, fornecendo alimento, abrigo A própria conservação dessas áreas de remanescentes está
condicionada ao seu uso como área de produção animal e de
e formando corredores entre frag- extrativismo vegetal. Se não fosse por seu propósito econô-
mentos mais conservados. Além mico, além de outros usos tradicionais, grande parte das atu-
ais caívas não existiria e possivelmente teria sido convertida
disso, como estão presentes em
em áreas para cultivo de tabaco.
grande parte das propriedades fa-
miliares na região, compõem fre- É importante, nesse sentido, des-
quentemente as áreas de Reserva tacar o paradoxo criado por uma
Legal (RL) e de Áreas de Preser- legislação inadequada para a rea-
vação Permanente (APP). lidade local: por um lado, as caívas
só permanecem existindo devido
Uma legislação ambiental inadequada ao seu uso como área de pasto-
De acordo com a legislação ambiental, as áreas de Re- reio; por outro, esse uso pastoril é
serva Legal só podem ser utilizadas sob regime de manejo
florestal sustentável, sem prever sistemas silvipastoris, devido restringido por serem classificadas
ao risco do consumo e degradação da regeneração das espé-
cies arbóreas pelos animais. No entanto, o uso de áreas de
como Reserva Legal uma vez que se
caíva remonta há décadas e está incorporada à cultura local. encontram geralmente em estágios
orienta essas ações de experimentação em grupos fundamenta-se no resgate e na ário, as pastagens passaram a produzir
sistematização dos saberes locais e sua articulação com conhecimentos científico- por volta de 4,5 t/ha de matéria seca
acadêmicos. Dessa forma, novos conhecimentos são gerados e apropriados pelas durante o verão, com teores de prote-
famílias que, de forma adequada à sua realidade, reconhecida pela vivência de gera- ína acima de 13%, cifras que podem ser
ções, passam a incorporar as novas práticas de manejo que passam por processos consideradas muito boas para pastos
prévios de avaliação coletiva. Trata-se, nesse sentido, de um exercício de interação perenes de verão. Essa qualidade está
e construção que mobiliza a contribuição de agricultores e agricultoras e técnicos associada à diversidade de pastos nati-
da extensão e da pesquisa. vos e naturalizados existentes na caíva,
O senso comum na região até o início desse processo dizia que as pastagens em especial à presença de leguminosas
de verão das áreas de caíva tinham baixa qualidade e produtividade. Os agriculto- naturalizadas do gênero Desmodium
res diziam que as caívas eram as áreas onde eles “deixavam as vacas, mas que não (conhecido como pega-pega). Além
eram produtivas”. De fato, devido ao uso contínuo das pastagens durante décadas, disso, a sombra proporcionada pelas
a produção dessas pastagens durante o período de crescimento é baixa, girando árvores também é um elemento im-
em torno de 2,0 t/ha de matéria seca. Esse é, em parte, um dos motivos que levam portante no aumento da qualidade do
o gado a ingerir folhas e brotos das espécies arbóreas. No entanto, com a introdu- pasto, em especial do teor de proteína.
ção de insumos naturais como o fosfato natural, o pó de basalto e a cama de avi- A interação positiva entre árvores e as
Para garantir forragem em boa quantidade nas caívas durante o inverno, os pesquisadores recomendam que se faça a
sobressemeadura no mês de abril: “Essa técnica prevê a semeadura de pastagens anuais de inverno, tais como azevém, er-
vilhaca, trevo branco diretamente sobre as pastagens perenes de verão ou sobre os potreiros, sem o uso de máquinas ou
arados”. Para fazer a sobressemeadura, deve-se seguir os seguintes passos:
b) Antes de semear, aplique na área uma quantidade moderada de adubo. Os estudos da Epagri têm sido realizados com
cama de aviário (2 t/ha), calcário (2 t/ha), fosfato natural (400 a 800kg/ha) e pó de basalto (4 t/ha). Pode-se usar também
esterco líquido de suíno (5 a 10m3/ha) ou, ainda, deixar o rebanho dormir por vários dias na área. Outra opção é a cinza
de biomassa.
c) O solo deve estar úmido. Por isso, é recomendável que a sobressemeadura seja realizada logo após uma chuva.
d) Usar quantidades certas de semente: 20 a 30 kg/ha de azevém, 30 kg/ha de ervilhaca e 1 a 2 kg/ha de trevo branco
inoculado com Rizobium específico.
e) Deixar os animais entrarem na área, após a semeadura, para que enterrem as sementes com o pisoteio.
f) Isolar a área por, no mínimo, 70 dias para que as sementes germinem e se desenvolvam.
pastagens reflete-se no bem estar animal, seja pela qualidade positiva sobre a regeneração das
nutricional do pasto, seja pelo conforto térmico.
espécies florestais, inclusive sobre
A melhoria inicial das áreas de caíva foi proporcionada
por três componentes: adubação orgânica associada a uso de a erva-mate. Além disso, trabalha
pós de rocha; piqueteamento com cerca elétrica; e sobresse- em parceria com a extensão ru-
meadura das pastagens nativas de verão com espécies anuais
de inverno, tais como azevém e ervilhaca (ver Quadro 1).
ral e com grupos de famílias na
As avaliações realizadas pelo Grupo Gestor, após dois implantação de novas espécies de
anos de trabalho, revelaram que a combinação dessas ino-
vações mostrou-se altamente viável e acessível e apresen-
pastos perenes nas caívas, uma
tou as seguintes vantagens: 1) o aumento da produção de vez que várias áreas possuem es-
leite; 2) o aumento na oferta de pastagem em quantidade,
qualidade e por um período mais extenso; 3) oferta de um
pécies que foram introduzidas há
ambiente agradável para os animais; 4) liberação de áreas mais de 30 ou 40 anos. Resultados
de lavoura, que antes eram ocupadas com forragens para o excelentes são verificados com o
gado; 5) liberação de áreas de APP para os animais beberem
água, além de incorporação de inovações às propriedades uso da pastagem missioneira gi-
das famílias diretamente envolvidas. Nas palavras de uma das gante (Axonopus catharinensis).
participantes: Dá gosto tirar o leite depois que as vacas saem
do caíva! Enche o balde! As tecnologias geradas a partir da pesquisa participativa
de manejo de caívas têm comprovado a hipótese de que é
Com o avanço no Grupo Gestor, possível utilizar esse ambiente florestal de forma sustentável,
a Epagri/E.E. de Canoinhas desen- na medida em que asseguram a conservação das áreas e per-
mitem o aumento da produtividade das pastagens, além de
volve novas pesquisas com uso de proporcionar melhoria nos níveis de rentabilidade econômica
insumos naturais como cinzas e dos sistemas produtivos.
muito importante para nossas vidas. O animal precisa de sombra, de associar a manutenção – e até ampliação! – das áreas de
precisa da árvore, a abelha precisa da árvore. Todos precisam. reserva, produzindo diversos serviços ambientais além de
Então se a gente começar hoje, na tua casa, na tua propriedade, alimentos à mesa e incremento na economia regional.
nem que em área pequinininha, amanhã você tem resultado.
A pressão sobre os remanescentes florestais acompa- Luis Cláudio Bona
nha a pressão econômica que os agricultores e agricultoras engenheiro-agrônomo, AS-PTA
sentem com cada vez maior intensidade. Se por um lado bona@aspta.org.br
os grandes produtores se vêem pressionados a desmatar
para abrir novas áreas e aumentar a escala de plantio, os Ana Lúcia Hanisch
agricultores familiares acabam dependendo cada vez mais do engenheira-agrônoma, M.Sc., pesquisadora,
tabaco e do consumo de lenha vinda de plantios de eucalip- Estação Experimental de Canoinhas (Epagri)
to e/ou bracatinga ou colhida na mata. Esse trabalho mostra analucia@epagri.sc.gov.br
resultados muito relevantes para o uso e conservação dos
remanescentes florestais, associado a enriquecimento e di- Anésio da Cunha Marques
versificação com outras espécies herbáceas e arbóreas, pos- engenheiro-agrônomo., M.Sc., doutorando em
sibilitando diversificação e aumento de renda. Pode-se dizer Meio Ambiente e Desenvolvimento (UFPR)
que o manejo adequado das áreas de caíva seria uma forma anesio.marques@gmail.com
de áreas cultivadas dificulta a construção de corredores com florestas. No entan- Essas famílias são consideradas re-
to, tanto os cafezais quanto as pastagens se beneficiam quando manejados com ferência para diversas publicações cientí-
métodos agroflorestais, criando assim a oportunidade para a construção de tais ficas que descreveram suas experiências
corredores (VANDERMEER e PERFECTO, 2007). na implantação de sistemas agroflores-
tais, comprovando maiores níveis de
Esses sistemas já vêm sendo colocados em prática por diversas famílias da sustentabilidade econômica e social e e
região, em parcelas de produção de café e pasto e em áreas de bosques compos- geração de variados serviços ambientais,
tos por espécies nativas e exóticas, como o eucalipto. Segundo o questionamento como conservação da cobertura flores-
de um agricultor: tal, recuperação de áreas degradadas,
ampliação e refúgio da biodiversidade,
A lei tinha que valorizar e incentivar a forma de recuperação e conservação de solos e
de recursos hídricos (FRANCO, 2000;
lidar agroecológica, mas ela não incentiva. Pelo DUARTE et al., 2008; SOUZA et al.,
contrário, a lei não inibe o agrotóxico e não incen- 2010; FERRARI et al., 2011).
Na experiência da família da Roseli
tiva a Agroecologia. Eu acho que deveria ter mais e do Samuel, localizada na comunidade
participação popular, que possa vir a contribuir de Pedra Redonda, em Araponga, o SAF
com café encontra-se numa condição
com outros critérios (...), com a aproximação do natural menos favorável para esse tipo
povo, aí as coisas andam! de manejo, pois, para as condições lo-
cais, recebe menos insolação já que está como ciclagem de nutrientes e alimento para a fauna. Segundo Samuel, vários
voltada para oeste e localiza-se muito pequenos mamíferos, como quatis, são observados alimentando-se das frutas dos
próxima à Pedra Redonda, o que na- SAFs. Esses animais, assim como pássaros e polinizadores, não eram observados
turalmente provoca o sombreamento. anteriormente na propriedade.
Mesmo nessa condição, a família intro-
duziu árvores no sistema e produz um A experiência da Roseli e do Samuel demonstra que o número de 500 árvores
café de alta qualidade, rendendo diversas por hectare (Instrução normativa nº 5, MMA, 2008) é inviável para áreas já natural-
premiações em concursos de qualidade. mente sombreadas e com baixa insolação, o que inviabilizaria sua adequação à lei.
Portanto, as normas que dispõem sobre sistemas agroflorestais devem levar em
Em torno de 150 espécies arbó- consideração as especificidades encontradas na agricultura familiar.
reas e frutíferas exóticas, distribuídas
em uma área de 1,5 hectares, foram le- O desconhecimento generalizado sobre a legislação ambiental e o receio com
vantadas nesse SAF com café. As árvo- relação às atitudes dos orgãos ambientais e de assistência técnica foram aspectos evi-
res não foram introduzidas pela família denciados em entrevistas realizadas com 12 famílias que fazem manejo agroflorestal na
com o objetivo de sombrear, mas de região. Para elas, a forma como trabalham contribui para a conservação da natureza.
produzir bens e serviços ambientais. Procuramos deixar as matas perto das águas e cuidar da qualidade delas; plantar
Elas contribuem para a alimentação e frutas; não usar agrotóxicos nas lavouras; não usar adubação química; não fazer muita
para aumento da renda da família como, capina pra melhorar a infiltração; proteger os bichos que a gente vê e que não vê, como
por exemplo, a venda de abacates e ba- minhoca, piolho de cobra, abelha, marimbondo.
nanas. A banana é vendida no mercado
agroecológico dos agricultores fami- Para que o agricultor use áreas de suas propriedades legalmente, é preciso um
liares na sede do município e para a amplo programa de divulgação da legislação florestal e das práticas agroflorestais
alimentação escolar. O abacate é ven- mais apropriadas para cada região. Contudo, é notória a limitação da estrutura or-
dido para um atravessador. As árvores ganizacional das instituições governamentais para responder aos vários questiona-
contribuem também com a produção mentos dos produtores, tanto sobre a legislação vigente, quanto sobre alternativas
de serviços ambientais importantes às monoculturas convencionais.
A experiência dos
agricultores agroflorestais do
assentamento Sepé Tiaraju
Henderson Gonçalves Nobre,Tatiane de Jesus Marques Souza,
Maira Le Moal, Ana Laura Carrilli, Luiz Octávio Ramos Filho e João Carlos Canuto
N
a região canavieira de Ribeirão Preto – (SP), tre suas principais funções a de proteger a área. Esse papel
entre os municípios de Serrana e Serra Azul, se encontra hoje fortemente ameaçado pela monocultura da
está localizado o assentamento Sepé Tia- cana-de-açúcar em áreas extensas e contínuas e que fazem
raju, criado oficialmente em 2004 com a proposta de ser o uso intensivo de fertilizantes químicos e agrotóxicos.
primeiro assentamento ecológico do estado de São Paulo. A Foi no contexto da disputa agrária e descaso com o meio
vegetação nativa original, caracterizada pela transição entre ambiente que o Instituto Nacional de Colonização e Reforma
Mata Atlântica e Cerrado, conta com poucos remanescentes, Agrária (Incra), o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem
fruto da ocupação anterior ao assentamento. Por estar sob Terra (MST), a Embrapa Meio Ambiente, a Promotoria Pública
área de recarga do Aquífero Guarani, a vegetação tem den- do Meio Ambiente de Ribeirão Preto e Cravinhos, a Secreta-
experiências despertou a sensibilidade; as questões em aberto sobre as relações de solidariedade a construir e recons-
a unidade de observação proporcionou truir. O melhor conhecimento das relações propriamente ecológicas dentro dos
o entendimento de que no assentamen- SAFs, o equilíbrio entre necessidades de renda e biodiversidade e o conhecimen-
to também seria possível desenvolver to sobre desenhos e sobre manejos mais efetivos são ainda questões cruciais a
sistemas agroflorestais; e a implantação serem exploradas. Do ponto de vista dos métodos participativos, a riqueza dos
dos sistemas nos lotes individuais per- processos reais deverá ser sempre sistematizada e refletida para que as teorias
mitiu a capacitação técnica. O compar- vigentes sejam qualificadas.
tilhamento de aprendizagens por meio
Foi necessário vencer desafios ao longo de cinco anos de trabalhos conjuntos,
de dias de campo, mutirões, seminários,
para que os primeiros resultados fossem colhidos e pudessem ser vistos à medi-
oficinas e cursos foi um mecanismo es-
da que os agricultores agroflorestais tiravam do mato (maneira pejorativa como
sencial para a construção e a irradiação
era inicialmente tratado os sistemas agroflorestais) produções de feijões, milho,
do conhecimento agroecológico.
mandioca, banana e mamão, principais culturas do assentamento. Essas produções
surpreenderam em quantidade e qualidade, visto que problemas comuns de pragas
Os frutos do trabalho e doenças ocorriam sem nível de dano econômico. Também surpreendeu em cons-
coletivo e as lutas por tância, pois quando a estação seca ia chegando, a produção diminuía, mas os lotes
vencer agroflorestais continuavam produtivos em função do microclima diferenciado que
se cria dentro deles.
O trabalho tem sido profícuo em
resultados, traduzidos em avanços, Atualmente é possível perceber o avanço na capacidade dos agricultores para
equívocos e perguntas a responder. ao planejamento, desenho, implantação e manejo dos SAF.
Muito ainda se tem a caminhar em Aspecto não menos importante vem do fato de que, ao contrário dos agricul-
termos do aprofundamento técnico- tores que permaneceram no monocultivo, os agricultores agroflorestais têm me-
científico para conferir mais qualidade lhorado a alimentação de suas famílias, ampliado as opções de mercado e obtido
aos sistemas. Igualmente, são diversas ingressos econômicos continuados ao longo de todos os meses do ano.
Além dos resultados econômicos, pode-se notar a mo- Henderson Gonçalves Nobre
dificação geral da paisagem. O aumento da biodiversidade engº agrônomo e mestrando em Agroecologia e desenvolvi-
trouxe um conjunto de benefícios ambientais tanto para os mento Rural – UFSCar
agricultores quanto para a sociedade. hendersonnobre@gmail.com
O poder de convencimento dessas experiências é mui- Tatiane de Jesus Marques Souza
to grande, pois ao mesmo tempo em que referenciam a dis- engª florestal, mestranda em Agroecologia e des. rural –
cussão realizada no assentamento, influenciam positivamen- UFSCar
te outros sistemas de produção locais. Essa transformação golum5@yahoo.com.br
é visível, mesmo que timidamente, nos lotes que inserem o Maira Le Moal
componente arbóreo; utilizam cobertura morta e adubação engª agrônoma, mestra em desenvolvimento rural
verde; e aumentam a complexidade de seus policultivos, prá- maira.lemoal@gmail.com
tica comum no assentamento.
Ana Laura Carrilli
Não podemos deixar de enfatizar a importância da graduanda em Agronomia – UNESP Botucatu
construção coletiva na formação de agricultores multipli- ana.carrilli@hotmail.com
cadores, pois são eles que irão promover a apropriação e
disseminação na comunidade, possibilitando a continuida- Luiz Octávio Ramos Filho
de ao processo – mesmo quando não for possível o apoio pesquisador da Embrapa Meio Ambiente e doutorando em
técnico-institucional – e fazendo-se presentes a frente das Agroecologia – ISEC Córdoba/Espanha
cooperativas locais. A própria comunidade já começa a dis- ramos@cnpma.embrapa.br
seminar suas experiências no entorno, pois os agricultores João Carlos Canuto
possuem tal experiência e confiança no assunto que come- pesquisador da Embrapa Meio Ambiente e
çam a influenciar agricultores de outros assentamentos da Doutor em Agroecologia
região, como os de Ribeirão Preto e Franca. canuto@cnpma.embrapa.br
1
Agradeço imensamente aos agricultores e agricultoras que contribuíram
Bananal agroflorestal no litoral norte do Rio Grande do Sul para a realização desse estudo.
Indicadores
Do ponto de vista
econômico, os SAFs
mostraram-se viáveis
e, em várias situações,
como as principais
Café agroflorestal na Serra do Baturité – CE
fontes de renda, além
(Cordia alliodora), itaúba (Ocotea megaphylla) e aroeira (Astronium fraxinifolium), introdu- de serem competi-
zidas no sistema para sombrear o café e o cupuaçú. Embora a exploração da madeira tivos em relação ao
dessas árvores possa gerar uma renda significativa, ela não foi considerada na avaliação
do potencial econômico do SAF. custo de oportunidade
A presença de espécies madeiráveis é bastante significativa nos cafezais som- da mão de obra regio-
breados do Ceará. Com base na presença de indivíduos de louro-pardo (Cordia nal. A combinação de
trichotoma) na unidade João Caracas, pode-se projetar para um período de 25 anos
uma renda de R$ 92.800,00 proveniente de toras serradas em um hectare de SAF. incentivos econômi-
Numa base anual, para uma população efetiva (sobrevivente e desenvolvida) de 120 cos com conservação
plantas, a madeira de freijó incorporaria R$ 3.712,00/ha.
e uso sustentável do
Os SAFs no Litoral Norte do Rio Grande do Sul são aqueles em que o compo-
nente madeirável é menos presente das três regiões estudadas, sendo o palmiteiro a solo e de recursos na-
espécie dominante no dossel. Os valores estimados em madeira para um SAF com turais que inclua pa-
25 anos de ciclo foram de 122m3 de madeira em tora, sendo 41,2m3 de louro e
80,8m3 de sobragi (Colubrina glandulosa). Com base nos preços regionais as madeiras gamento por serviços
provenientes dessas espécies agregariam por ano R$ 1.978,2 e R$ 969,3/ha respec- ambientais pode ser
tivamente. Esses resultados poderiam ser bem superiores com espécies como o
louro-pardo, já que são comuns seu plantio em bananais, com um desempenho de desejável.
crescimento economicamente atrativo.
Finalmente, o estudo identificou
A possibilidade de agregação de valor pelo componente madeirável depende, lacunas de informação e demandas para
em todos os casos, de condições que, em geral, não estão disponíveis. Equipamen- aprofundamento de conhecimentos,
tos que permitam o processamento de toras na propriedade (serrarias móveis) e bem como parâmetros de investimentos
o acompanhamento legal que viabilize a comprovação de plantio e a consequente necessários para recuperar áreas ou au-
exploração são as principais. Independentemente desses obstáculos, o que impor- mentar a proporção de sistemas como
ta destacar é que os SAFs podem efetivamente gerar rendas ponderáveis a partir os SAFs no sistema geral de uso da terra
da valorização do potencial madeireiro. Mesmo sem exploração comercial, esse para os casos analisados, e aponta para o
componente segue agregando valor aos sistemas produtivos analisados em valo- papel essencial que o programa PPG7 e
res superiores ao conjunto dos demais produtos explorados. A questão crítica a o projeto PD/A (bem como suas orga-
ser enfrentada por incentivos públicos é a existência de um grande lapso de tem- nizações parceiras e implementadoras)
po entre o plantio e a colheita. Além disso, torna-se essencial intervir na cadeia tiveram como fomentadores de experi-
produtiva da madeira tropical no Brasil, que segue organizada de forma predatória ências demonstrativas de integração de
e arcaica, penalizando os produtores que fazem plantios ou que pretendem mane- agricultura, combate à pobreza e con-
jar de forma sustentável os seus estoques naturais. servação da biodiversidade.
A
agricultura na América O desafio imediato de nossa geração é transformar a agricultura industrial e
Latina atravessa uma iniciar uma transição para sistemas alimentares que não dependam do petróleo, que
crise sem precedentes, sejam biodiversos, resilientes às mudanças climáticas e, ao mesmo tempo, fortale-
marcada por altos níveis de pobreza çam a produção doméstica. Diante das condições energéticas, climáticas e finan-
rural, insegurança alimentar, migração, ceiras que se expressam na região, a Agroecologia se apresenta como a alternativa
degradação ambiental, intensificada pe- mais viável para gerar sistemas capazes de produzir conservando a biodiversidade e
las mudanças climáticas, e instabilidade a base de recursos naturais, além de prestar serviços ambientais sem depender do
energética e financeira. O modelo agrí- petróleo nem de insumos caros. Uma das importantes fontes de conhecimento da
cola industrial exportador, a expansão qual se alimenta a Agroecologia é a agricultura camponesa-indígena que prevalece
das monoculturas de transgênicos e na América Latina, onde milhares de agricultores ainda cultivam milhões de hectares
agrocombustíveis e o uso intensivo de com sistemas agrícolas diversificados e tecnologia tradicional ancestral. Exemplos
agrotóxicos estão diretamente ligados desse legado cultural são os sistemas agroflorestais (SAFs), que constituem um mo-
a esse quadro desolador. Torna-se ur- delo ecológico promissor, uma vez que promovem a biodiversidade, prosperam sem
gente, portanto, promover um novo pa- agroquímicos, com pouca energia fóssil, assim como comportam a produção de cul-
radigma agrícola que garanta alimentos turas, árvores e animais durante todo o ano (KOOHAFKAN; ALTIERI, 2010). Existe
suficientes, saudáveis e acessíveis para a na América Latina grande diversidade de sistemas agroflorestais e silvipastoris, mas
crescente população mundial. talvez os mais conhecidos sejam os SAFs de cacau e café. Eles são diversificados com
Foto: Carlos Pineda
a implantação de medidas radicais necessárias para reduzir depender do uso de um conjunto de práticas que, além da
seu consumo e suas emissões, permitindo assim que muitas diversificação de produtos, favoreçam o melhor uso dos re-
empresas promovam ainda mais as monoculturas de pinus, cursos locais, valorizem o capital humano e apóiem as co-
eucalipto e outras árvores. A proteção das florestas e dos munidades por meio da capacitação e de métodos partici-
SAFs é de responsabilidade dos governos, que devem tam- pativos. Finalmente, deve haver um acesso a mercados mais
bém assegurar a autonomia ou o controle dos camponeses equitativos, a crédito e atividades geradoras de renda.
e indígenas sobre seus territórios. Os direitos culturais e
territoriais dos grupos indígenas e camponeses não estão Miguel A Altieri e Clara I. Nicholls
explicitamente reconhecidos nos acordos sobre o clima, Universidade da Califórnia, Berkeley, membros da Sociedade
nem foram estipulados mecanismos de compensação que Científica Latino-Americana de
envolvam os mercados de carbono e que deverão ser im- Agroecologia (Socla)
plementados para compensar os produtores dos SAFs pelos agroeco3@berkeley.edu
serviços ambientais que prestam.
Os SAFs são o produto da coevolução entre as comu- Referências bibliográficas:
nidades e os ecossistemas, formando um engenhoso legado
para o futuro e, portanto, sua conservação dinâmica é essen-
cial (Figura 1). Mas, além da conservação dos SAFs locais e ALTIERI, M. A.; NICHOLLS, C. I. Una base agroecológica para el
da compensação para os agricultores por seus serviços, uma diseño de sistemas diversificados en el tropico. Manejo In-
tarefa pendente é fomentar um processo de disseminação de tegrado de Plagas y Agroecologia, v. 73, p. 8-20, 2004.
inovações bem-sucedidas. A análise de centenas de SAFs na HOLT-GIMENEZ, E. Measuring farms agroecological resistan-
América Latina mostra conclusivamente que a maioria dos ce to hurricane Mitch. LEISA Magazine, v. 17, n. 1, p. 18-
agricultores pobres que adotam esses sistemas consegue 20, 2001.
multiplicar várias vezes os rendimentos das culturas, árvo-
res e animais. Esse aumento expressivo é obtido por meio KOOHAFKAN, P.; ALTIERI, M. A. Globally important agri-
da valorização dos insumos locais e da confiança em sua cultural heritage systems: a legacy for the future. Roma:
própria força de trabalho e conhecimento, e não por meio UN-FAO, 2010.
do aporte de insumos externos ou de assessoria de tercei- JOSE, S. Agroforestry for ecosystem services and environ-
ros. A propagação de SAFs de base agroecológica pode ter mental benefits: an overview. Agroforestry Systems, v.
um impacto positivo na subsistência, resiliência e soberania 76, p. 1-10, 2009.
das comunidades agrícolas em muitos países. O sucesso vai
PERFECTO, I.; VANDERMEER, J.; WRIGHT, A. Nature’s ma-
1
Redução de emissões de gases de efeito estufa por desmatamento e degra- trix: linking agriculture, conservation and food sovereignty.
dação florestal Londres: Earthscan, 2009. 272 p.
As árvores na agricultura
nas Américas: uma velha
aliança resgatada do
esquecimento
Enrique Murgueitio Restrepo
Q
uando percorremos os campos da América Com argumentos dogmáticos, como a urgência de pro-
Latina e Caribe, salta aos olhos o fato de duzir comida para alimentar o mundo ou o imperativo de
as lavouras e os pastos estarem cada vez obter o máximo de renda por unidade de área, temos co-
mais órfãos de árvores e arbustos. Até os rios têm sido des- piado com pouca criatividade uma visão de mundo centrada
pojados de suas matas ciliares, apesar de sua importância. em produzir mais dinheiro à custa dos atributos e valores
Nossas paisagens parecem estar sofrendo com a praga da essenciais da vida no campo.
monotonia que aflige as grandes extensões de terras agroin- Mas nas regiões equatoriais e subtropicais do Novo Mun-
dustriais da América do Norte, onde a flora arbórea não é do, as promessas de produtividade e rentabilidade ilimitadas
considerada necessária. da monocultura nem sempre são cumpridas no curto prazo
Dessa mesma Ibéria, fusão de cartagineses, ro- Hoje, mais do que nunca, as árvo-
res e as plantas lenhosas devem servir
manos, muçulmanos, cristãos e godos, ficou o de inspiração para uma nova ciência
legado dos limoeiros e das laranjeiras que se regional, que se nutre de uma velha
amizade entre os povos e a nature-
espalharam pelas Américas e nem sempre em za. E essa nova experiência já é capaz
cultivos homogêneos. Enquanto que, a partir das de se expressar sem timidez no con-
texto global, mostrando seus avanços
terras orientais remotas, pela rota do galeão das nos cultivos de café, cacau, baunilha,
Filipinas, foi introduzida no México a amoreira erva-mate e muitos outros amigos da
biodiversidade, graças à sombra pro-
(Morus alba L.), para alimentar o bicho-da-seda. porcionada pelas árvores. Da mesma
forma que os novos quintais de frutas
E, apesar de sua chegada às Américas como escravos, os africanos não vieram tropicais e, sem dúvida, os sistemas sil-
de mãos vazias. Graças a eles, gerações inteiras puderam se alimentar com bananas vipastoris que, à medida que reabilitam
(Musa paradisiaca L.), que agora ornamentam todos os jardins tropicais do continen- a paisagem, estão realizando uma po-
te. Introdução tão valiosa quanto outra e milenar: a do azeite de dendê, ou palma derosa reconversão ambiental e social
africana (Elaeis guineensis Jacq.), no Nordeste do Brasil. da pecuária tropical.
Então, à tristeza e à arrogância das monoculturas podemos contrapor a me-
mória coletiva de uma região que remete ao oposto da uniformidade. De fato, em Enrique Murgueitio Restrepo
um enorme caldeirão cultural se fundiram com incrível criatividade a variedade diretor executivo da Fundação Centro
agropecuária e a diversidade culinária. E, nos dias de hoje, os produtos de árvores e para la Investigación en Sistemas
arbustos não deixam de trazer suas contribuições para a mesa e as casas de ricos Sostenibles de Producción
e pobres, gerando riqueza, mantendo a identidade e a alegria das nações do conti- Agropecuaria (Cipav), Colômbia
nente da esperança. enriquem@cipav.org.co
ACESSE: www.agriculturas.leisa.info