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Márcio de Oliveira1
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Professor de Sociologia na Universidade Federal do Paraná, Brasil. marciodeoliveira@ufpr.br
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Engels, F. La situation de la laborieuse em Anglaterre. Disponível em
www.classiques.uqac.ca/classiques/Engels_friedrich/situation/situation_classe_ouvriere.pdf
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Le Capital. vol. I, seção VII)
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Voir REA, A. & TRIPIER, M. (2003). Sociologie de l´immigration. Paris : La Découverte, coll
Repères, p. 33-39.
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GEORG SIMMEL
É possível falar de imigração em Georg Simmel a partir de seus estudos
sobre os judeus (que ele considerava assimilados) na Europa. Por outro lado,
quando Simmel fala do espaço, pode-se ver também uma discussão sobre a
mudança de lugares e, portanto, sobre as migrações. Nesse momento, Simmel
se exprime diretamente sobre as formas de socialização que se estabelecem
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dentro de um grupo migrante em contraste com o grupo fixo. Ainda, ele procura
compreender os efeitos que a migração produz no grupo sedentário.
Por fim, Simmel se refere especificamente aos migrantes nos seus trabalhos
sobre os estrangeiros. Nesse pequeno texto de 7 páginas, o estrangeiro é uma
figura social distante que se torna próxima. “O estrangeiro é um elemento do
grupo, mas situado na mesma condição dos pobres e dos diversos inimigos do
interior. Um elemento cuja articulação imanente ao grupo implica a um só
tempo uma exterioridade e um face a face” 5. Mas, curiosamente, ele é bem
mais livre que o indivíduo sedentário, porque mantém uma visão “aérea” sobre
a sociedade. A figura do estrangeiro, em Simmel, é, portanto bastante
inspiradora e socialmente rica. Ela mantém o grupo original em permanente
processo de alteridade, indicando pelo mesmo movimento quão fugaz é a
noção de identidade social em processos sociais dinâmicos.
Mas a certidão de nascimento da sociologia da imigração clássica ocorre
realmente com a chamada “Escola de Chicago”
5
Simmel, G., op. cit., p. 663.
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O termo de « Ecologia humana » foi definido nesses termos: trata-se de estudar as relações
entre as diversas populações que se vêem obrigadas a partilhar o mesmo espaço a disputar os
mesmos recursos naturais. Eis porque o termo de “ecologia” lhe pareceu conveniente para
tratar também das populações humanas.
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Existe uma tradução francesa, publicada em 1980, mas não portuguesa desse livro.
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O autor afirma contudo que essa leitura, ainda que correta, é anacrônica. De
fato, não há na obra um modelo de pesquisa empírica que foi seguido. A
utilização atual das cartas como documento de análise nada deve à obra de
Thomas e Znaniecki. Da mesma maneira, a construção do termo de “Escola”
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para Chicago teria sido uma construção tardia, dos anos 1960, quando muitas
das obras daqueles anos 1910 e 1920, foram republicadas e reapresentadas.
Não obstante, outros autores – como GRAFMEYER, Yves & JOSEPH, Isaac
(orgs.). (1979) – insistem na datação do nascimento da sociologia urbana em
Chicago. Mas, é igualmente possível, analisando os trabalhos de Park, insistir
na importância do tema da difícil assimilação dos imigrantes e dos problemas
sociais que lhe foram decorrentes.
Concluindo, esta parte, vale uma palavra sobre a recepção da “sociologia de
Chicago” na França e no Brasil. Na França, a presença inicial dos autores de
Chicago deve-se à visita que o durkemiano Maurce Halbwacs fez àquela
instituição. Segundo Topalov (2004), Halbwacs foi convidado a ensinar na
Universidade de Chicago no outono de 1930. Em 1932, nos Annales d´hsitoire
écnomique et sociale, ele faz menção a « uma escola de sociologia original »
(p. 17). Mas quais teriam sido as conseqüências dessa visita? Topalov afirma
que Halbwacs nunca se aproximou teoricamente do que se fazia em Chicago e
se mostrou pouco interessado a “mergulhar na vida dos grupos sociais”. No
caso do Brasil, ex-alunos de Chicago vieram ou se interessaram pela realidade
brasileira já nos anos 1930. Esse é o caso, por exemplo, de Donald Pierson.
Não se deve esquecer também de Herkowitz. Contudo, o tema da imigração
não lhes interessou tanto quanto o tema das relações raciais entre negros e
brancos, como bem demonstram as publicações feitas nesse campo. Bem
mais recentemente, o antropólogo Otavio Velho (1979) traduziu e publicou os
clássicos de Park e Wirrth sobre a cidade, e, em 2005, Licia Valladares,
publicou uma comparação do impacto dessa “tradição” nos dois países.
CONCLUSÃO
Em 1931, Park afirmou que Thomas e Znaniecki haviam estudado as
mudanças culturais na vida dos imigrantes. Não seria incorreto dizer que boa
parte dos estudos sobre imigração ainda insistem sobre essa questão,
evoluindo do antigo conceito de assimilação, passando pelo de aculturação e
explorando bastante hoje os processos de integração dos imigrantes. A
historiadora norte-americana Nancy Green, em seu artigo “Tempo e estudo da
Assimilação”, afirma que o sentido do termo de assimilação variou bastante em
função da época e das correntes teóricas aos quais foi associado, tanto na
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Europa quanto nos EUA. A idéia segundo a qual os EUA seria um país de
melting pot8 foi criticada tanto por sociólogos e antropólogos quanto por
historiadores daquele país9. Mas em termos teóricos, a questão central desde
os clássicos permanece a mesma: porque as pessoas e grupos migram? Ao
lado desta, as ciências sociais acrescentaram: o que acontece quando pessoas
ou grupos sociais diferentes se encontram? Tem-se aí uma questão central
das ciências sociais desde sempre: como explicar as interações sociais?
O sociólogo argelino Abdelmalek Sayd (1998), próximo a Bourdieu,
afirmou que, desde o tempo dos clássicos, a sociologia da imigração foi feita
apenas do ponto de vista dos países de destino e pouca atenção foi dada às
sociedades nos países de origem. Embora a crítica possa ser temperada –
basta retornar a Thomas e Znaniecki – procede o fato que se tem trabalhado o
fenômeno das migrações internacionais sempre na mesma direção: a da
partida.
Isso pode significar que o tema da imigração ainda seja periférico na
sociologia. De fato, poucos são os manuais que apresentam esse sub-campo
da sociologia. Assim, talvez seja a hora de lembrar como Simmel que o
imigrante é a “ponte e a porta” graça a qual podemos observar novas
realidades sociais tais como os fluxos, as novas formas de sociabilidade ou
ainda as relações transnacionais.
REFERÊNCIAS
8
Este termo foi criado pelo escritor anglo-judeu Israel Zangwillno final do século XIX.
9
Ver a respeito GORDON, Milton M. (1964), GLAZER, Nathan & MONYHAN, Daniel P. (1970)
e HOLLIGER, David A. (1995).
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