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PODER JUDICIÁRIO

JUSTIÇA FEDERAL DE PRIMEIRA INSTÂNCIA


Seção Judiciária do Estado de Sergipe – 1a Vara Federal

PROCESSO N° 2003.85.00.004365-0.
CLASSE 01000 — AÇÃO ORDINÁRIA.
AUTOR: LAERTON DA SILVA.
REQUERIDO: UNIÃO FEDERAL.

DECISÃO

Versam os autos acerca de ação ordinária, ajuizada por


Laerton da Silva, qualificado na inicial de f. 02, em face da União
Federal, objetivando, em sede de antecipação de tutela, o direito ao
enquadramento no cargo de agente de polícia federal, com o retorno às
atividades, nos mesmo horários, que anteriormente desempenhava.

Aduz o Autor que foi nomeado para o quadro da Polícia


Federal, no cargo de agente de vigilância, em junho de 1986. Desde
então, exerce, de fato, as funções atinentes ao cargo de agente de
polícia federal, situação funcional essa alterada com a Portaria nº 1.314,
de 18 de dezembro de 2002, da lavra do Diretor-Geral do Departamento
de Polícia Federal.

Alega que referido ato administrativo causou-lhe


modificação na jornada de trabalho, com conseqüentes prejuízos
pessoais, e que esse ato afronta o disposto no art. 54, da Lei nº
9.784/99, que estabelece prazo prescricional de cinco anos para a
Administração Pública rever seus atos.

Para que seja concedida a tutela antecipada nos termos do


art. 273 do CPC, mister se faz que, além do fundado receio de dano
irreparável ou de difícil reparação, haja o convencimento da
verossimilhança das alegações, fundadas em prova inequívoca.

Consoante se vê das razões deduzidas na inicial e do cotejo


dos documentos acostados (f. 17-183), o Autor, efetivamente, fora
investido no cargo de agente de vigilância, tendo ainda demonstrado
que, no período de dezembro de 1998 (f. 151-152) a dezembro de 2003
(f. 20), integrou a escala de plantão do Departamento de Polícia
Federal, compondo as equipes de policiais federais.
PROCESSO N° 2003.85.00.4365-0 – 1ª Vara-JF/SE.

Contudo, nos autos não há comprovação efetiva da


ocorrência de desvio de função, e, mesmo que houvesse tal prova, a
pretensão autoral encontra óbice na exigência constitucional de prévia
aprovação em concurso público para investidura em cargo ou emprego
público – art. 37, II –, haja vista que o próprio Requerente admite ter
logrado aprovação e investidura no cargo de agente de vigilância e não
no de agente de Polícia Federal

Assim, ainda que houvesse prova inequívoca de


enquadramento em cargo diverso do legalmente investido, não se
poderia reconhecer ao Autor direito adquirido a essa situação, a qual
enseja correção, a qualquer tempo, por parte da Administração Pública,
do desvio de função apurado.

O desvio funcional, uma vez provado, dá ensejo, tão-


somente, à percepção de diferenças salariais relativas ao período
detectado, evitando-se enriquecimento sem causa por parte do ente
público, que se beneficiou do trabalho assim desenvolvido.

Nesse sentido, firmou-se a jurisprudência do Colendo


Superior Tribunal de Justiça, consoante se vê dos julgados abaixo
transcritos:

"ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO. DESVIO DE FUNÇÃO.


REENQUADRAMENTO. DIFERENÇAS SALARIAIS. 1. Pacífico o
entendimento jurisprudencial desta Corte no sentido de que
o servidor desviado da função inerente ao cargo para o qual
foi investido não tem direito a reenquadramento, mas,
somente, às diferenças remuneratórias. 2. Recurso
conhecido e provido parcialmente.
(STJ. REsp nº 47614/RJ. Rel. Min. Paulo Gallotti. DJ
24.02.2003)"

"ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO. DESVIO DE FUNÇÃO.


VENCIMENTOS. DIFERENÇAS. Reiterada jurisprudência desta
Corte no sentido de que o servidor que desempenha função
diversa daquela inerente ao cargo para o qual foi investido,
embora não faça jus a reenquadramento, tem direito a
perceber as diferenças remuneratórias relativas ao período,
sob pena de se gerar locupletamento indevido pela
Administração. Recurso a que se nega provimento.
(STJ. REsp nº 457326/RS. Rel. Min. Félix Fischer. DJ
25.11.2002)"

Anote-se também que o auferimento dessas diferenças,


geradas pelo reconhecimento do desvio funcional, não pode ser
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PROCESSO N° 2003.85.00.4365-0 – 1ª Vara-JF/SE.

deferido no campo da antecipação de tutela, ante a vedação expressa


contida no art. 1º, da Lei nº 9.494/97, ressaltando-se que tal pedido não
foi deduzido pelo Autor em tal sede.

Ressalte-se ainda que o Demandante não faz jus a certo e


determinado horário de trabalho, inserindo-se a possibilidade de
mudança da jornada dentro do poder discricionário da Administração
Pública, passível de adaptações em face da necessidade e interesse do
serviço, cuja duração máxima limita-se ao quantum de 40 horas
semanais, consoante definido no art. 19, da Lei nº 8.112/90.

Isto posto, INDEFIRO o pleito de antecipação dos efeitos da


tutela.

Cite-se.

Defiro o pedido de gratuidade judicial, nomeando o


subscritor da peça inicial para o patrocínio da causa.

Intimem-se.

Aracaju, 14 de julho de 2003.

JÚLIO RODRIGUES COELHO NETO


Juiz Federal Substituto – 1a Vara

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