Você está na página 1de 7

ESTUDO DE CASO: CUSTOS DE PRODUÇÃO ADVINDOS DO CULTIVO

HORTÍCOLA NA REGIÃO DO CINTURÃO VERDE DE SÃO LUÍS - MA

SÃO LUÍS – MA
2018
1 INTRODUÇÃO

As atividades desenvolvidas pela agricultura familiar têm forte representatividade na


geração de emprego e renda no meio rural brasileiro. As atividades em pequenas propriedades
no Brasil correspondem a 77% dos produtores rurais e geram mais de 12 milhões de empregos.
Possuem apenas 20% de terras e são responsáveis por 30% da produção nacional (IBGE, 2010).
Os números mostram que a importância da agricultura familiar para o desenvolvimento rural
está alicerçada na capacidade de absorção de mão de obra e de geração de renda no campo,
tornando-se um meio eficiente de redução do êxodo rural (BRIXIUS, AGUIAR e MORAES,
2006).

O caráter familiar influencia todo o processo de gestão, produção e administração da


propriedade, por que há um círculo de relações entre a família, à propriedade e o trabalho. A
agricultura familiar é reconhecida, seja pela geração de emprego e ocupação ou mesmo pelo
perfil dos produtos, que são basicamente destinados ao consumo alimentar (GUILHOTO et al.,
2005). Para que o setor da agricultura familiar continue a produzir e se desenvolver, a
assistência técnica e a extensão rural são essenciais no processo de disseminação de novas
tecnologias, como troca de informações com produtores rurais.

Comercialização é a troca de bens e serviços entre agentes econômicos, sendo fruto


dessas trocas, as chamadas transações, que por sua vez fundamentam o funcionamento do
sistema econômico (ZYLBERSZTAJN, 2000). O sistema de comercialização agrícola pode ser
considerado uma condição primária para a coordenação das atividades de produção,
distribuição e consumo (BRANDT, 1980). comercialização funciona como facilitadora
econômica, a qual mostra o rumo de “quando”, “como” e “aonde” produzir e distribuir os
produtos. Assim, na propriedade rural familiar a produção agrícola irá depender das
características de mercado de cada região, de forma a orientar a produção e o consumo
(MENDES e JUNIOR, 2007).

A cadeia de comercialização depende de variáveis estruturais como as alterações de


posse, ou seja, a transferência do produto do produtor ao consumidor final, a partir do
intermediário; forma, que remete à transformação do produto em sua forma bruta em produto
processado e em condições para consumo; tempo, uma vez que a produção agrícola é sazonal
e o consumo deve ocorrer durante todo o ano, por isso recorre‐se ao armazenamento e
conservação de alimentos até alcançar o consumidor final; e espaço, decorrente do consumo
dos produtos agrícolas que ocorrerem fora de sua região de produção, sendo necessária a
presença do intermediário no processo de transporte até os locais de consumo (MARQUES e
AGUIAR, 1993).

Neste sentido, este trabalho tem, por objetivo, abordar os resultados advindos de um
estudo de caso, sobre os custos de produção oriundos da produção hortícola da região do
Cinturão Verde de São Luís, um dos principais polos agrícolas da ilha, que gera fonte de renda
às famílias, e abastecimento do mercado consumidor interno.

2 METODOLOGIA

Este trabalho foi realizado em uma feira de produtos agrícolas realizada todas as terças-
feiras em frente ao prédio de Agronomia da UEMA/Campus Paulo VI.

A pesquisa é classificada como quali-quantitativa. Os dados foram obtidos através de


questionário semiaberto. O modelo de questionário adotado possui um total de 54 questões,
sendo nove questões referentes a identificação do produtor; sete delas destinadas a identificação
e descrição física da propriedade; vinte e três questões buscavam uma descrição da atividade
realizada pelo produtor; quatro indagavam sobre a comercialização dos produtos agrícolas e,
finalmente, onze questões eram de caráter econômico.

Utilizou-se a metodologia de “Estudos de caso”. Neste sentindo, o questionário foi


aplicado a uma produtora, responsável por um dos pontos de venda da feira.

3 RESULTADOS

Seguindo-se a metodologia do “Estudo de Caso”, realizou-se uma entrevista com uma


das moradoras da região do Cinturão Verde de São Luís, um dos principais polos de produção
Hortícola da Capital, responsável pelo abastecimento de feiras e suprimentos alimentares ao
município.

A entrevistada se chama Mikaelly Beatriz, de 20 anos. A mesma possui ensino médio


completo. Exerce a função de Agricultora juntamente com as demais pessoas de sua família,
segue: Mikael, seu irmão de 17 anos e, Kueren, sua mãe de 41 anos. Como o Cinturão Verde é
uma área Periurbana da capital, os moradores têm acesso facilitado às informações, por meio
da TV, internet, celular. É válido ressaltar sobre a importância da Associação de produtores,
que os mantem atualizados sobre as demandas, programas, facilidades de comercialização,
assistência técnica, dentre outros.

De acordo com as informações passadas pela entrevistada, o polo agrícola encontra-se


distante cerca de 25 km da sede. A área total da propriedade é de 25 x 80 m, sendo que a área
útil para a Horticultura é de 20 x 40m, contendo área de conservação. A moradia é de residência
própria, onde a família reside há 7 anos e, há 3 anos, trabalham com o cultivo hortícola. As
terras foram cedidas por meio de herança. A entrevistada não exerce outra atividade econômica
fora da propriedade.

O cultivo de hortaliças traz uma rentabilidade e segurança financeira para a família. Na


propriedade existem 7 canteiros de chão, nas dimensões de 7 x 1,0 m e, também, canteiros
suspensos. Alguns insumos utilizados são: sementes, adubo mineral e adubo orgânico. Os
mesmos não utilizam agrotóxicos. A água é disponibilizada às culturas através dos regadores e
irrigação por gotejamento. A compra dos insumos é feita por um terceiro, sendo que os
produtores fazem o pagamento para esta pessoa. A Tabela 1 apresenta as espécies cultivadas na
propriedade, bem como, a produção semanal e os custos unitários.

Tabela 1. Espécie cultivada, volume de produção semanal e custo unitário

Espécie Volume de produção Valor (kg, maço, etc)


(semana)
Coentro Não soube responder 1,00 a 2,50
Hortelã Não soube responder 1,00 a 2,50
Viqui Não soube responder 1,00 a 2,50
Manjericão Não soube responder 1,00 a 2,50
Macaxeira Não soube responder 3,00
Milho Não soube responder 0,75 (unidade)
Feijão Não soube responder 3,00
FONTE: Elaboração própria, 2018

Em análise a Tabela 1, percebeu-se que, apesar da entrevistada afirmar que ocorre


entrega semanal de produtos, a mesma não soube responder sobre o volume de produção
semanal. Para todo o início de plantio, os moradores do Cinturão Verde podem contar com o
auxilio de um trator, cedido pela Associação. A água utilizada vem de um poço, e a energia
elétrica vem do abastecimento público (CEMAR).

A composição da mão de obra é essencialmente familiar, sendo que os moradores já


foram agraciados com alguns cursos de capacitação cedidos pela associação. Neste sentido, a
entrevistada considera a sua mão de obra qualificada. Todos os recursos utilizados para a
produção são da própria família, com exceção do trator, que é de uso coletivo.

Uma informação importante, é que a família já participou de programas de incentivo à


produção/comercialização oferecidos pelo governo, como o Programa Nacional de
Alimentação Escolar – PNAE e o Programa de Aquisição de Alimentos – PAA. Os produtos
eram fornecidos para as escolas municipais. A família participou até o ano de 2017.

Foi relatado que há um controle sobre as perdas, custos de produção e lucros. As famílias
recebem assistência técnica de um profissional contratado pela associação. As intervenções são
mensais. A associação também buscar capacitar seus membros, oferecendo curso de formação.
A entrevistada pôde se capacitar na área de gestão empresarial e avicultura. A mesma também
anseia por outros cursos de capacitação, como o curso de “manejo na horticultura”.

Um dos principais problemas enfrentados no cultivo hortícola são as doenças. A família


consegue ter uma constância de produção ao longo de todo o ano, sendo os produtos destinados
aos feirantes de São Luís, com entregas semanais. Na medida do possível, ocorre uma
agregação de valor aos produtos, no sentido de estar sendo realizada limpeza e
empacotamento/embalagem dos produtos.

No que tange aos aspectos econômicos, a renda da família com a venda da produção
gira em torno de 1 a 2 salários mínimos, sendo que as principais pessoas que contribuem para
a renda da família são a entrevistada, Mikaelly, e sua mãe, Kueren. Toda a fonte de renda advém
da agricultura. Um aspecto positivo, é que a família consegue se sustentar o ano todo com a
horticultura. Como a agricultura já é algo internalizado na família, foi através desta atividade,
que eles conseguiram adquirir a casa própria. Os mesmos não são beneficiados por nenhum
programa social do governo, atualmente.

Algumas das principais despesas relatadas com a horticultura, são os custos semanais
com o frete das mercadorias, onde há um gasto de 50 reais/frete. Por mês, a família tem um
gasto de 200 reais com o frete, sendo que o faturamento médio mensal obtido na atividade gira
em torno de 1 salário.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com base nos resultados obtidos, constatou- se a importância da atividade agrícola


como fonte de renda para o núcleo familiar da entrevistada, visto que, o imóvel onde a mesma
reside atualmente, foi adquirido através da renda gerada pela produção. Essa importância
justifica-se também quando a entrevistada afirma não realizar outra atividade fora da
propriedade. Mesmo com a produção se mantendo constante durante todo o ano e suprindo as
necessidades familiares essenciais, ainda há um anseio por melhorias, principalmente no que
diz respeito ao aparato tecnológico, melhoria essa que pode elevar consideravelmente o
potencial dos locais de produção e promover aumento da qualidade de vida e retorno financeiro
para os produtores.
REFERÊNCIAS

BRANDT, S.A. Comercialização Agrícola. Piracicaba: Livroceres, 1980. 195 p;

BRIXIUS, L.; AGUIAR, R.; MORAES, V. A. A força da Agricultura Familiar no Rio Grande
do Sul. In. Extensão Rural e Desenvolvimento Sustentável. Porto Alegre, v.2, n.1/3,
set/dez, 2006;

GUILHOTO, J. J. M.; SILVEIRA, F. G.; AZZONI, C. R.; ICHIHARA, S. M. Agricultura


Familiar na Economia: Brasil e Rio Grande do Sul. Editora Nead Estudos, Brasília:
Ministério do Desenvolvimento Agrário, 2005. 44 p;

MARQUES, P. V.; AGUIAR, D. R. D. de. Comercialização de produtos agrícolas. São


Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1993;

MENDES, Judas Tadeu Grassi; JUNIOR, João Batista Padilha. Agronegócio: uma
abordagem econômica. São Paulo, Pearson Prentice Hall, 2007. 369p;

ZYLBERSZTAJN, D. Economia das organizações. In: ZYLBERSZTAJN, D.; NEVES,


M.F.(Orgs.) Economia e gestão dos negócios agroalimentares. São Paulo: Pioneira, 2000,
p. 23-38.

Você também pode gostar