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Anais

1o Simpósio Paranaense de Design Sustentável


Local:
Universidade Federal do Paraná
Rua General Carneiro, 480 Edifício Dom Pedro I Auditório Anfi 100 1o andar

Data:
24/04/2009, das 8:30 às 21:00h

Comissão Organizadora:
Conteúdo científico - Prof. Dr. Aguinaldo dos Santos, PhD, UFPR
Organização - Prof. Cláudio Pereira de Sampaio, MsC, Universidade Positivo

Site:
www.design.ufpr.br/spds

Contato:
nds@ufpr.br

Organização e edição:
Núcleo de Design e Sustentabilidade da Universidade Federal do Paraná

Projeto gráfico:
Cláudio Pereira de Sampaio

ISSN:
2176-4093

*O CONTEÚDO DOS ARTIGOS É DE INTEIRA E EXCLUSIVA RESPONSABILIDADE DOS AUTORES.

Anais do 1º Simpósio Paranaense de Design Sustentável (I SPDS)


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Sumário
Estado da pesquisa em design sustentável no Brasil  5
Aguinaldo dos Santos
Educação ambiental nos cursos de Design  9
Alexandre L. Marinho
Ricardo H. M. Godoi
A inserção do design sustentável em um modelo de referência para a gestão do desenvolvimento
de produtos  17
Américo Guelere Filho
Henrique Rozenfeld
Daniela C. A. Pigosso
A Educação através do Design como estratégia para um futuro sustentável  25
Antônio Martiniano Fontoura
Design de embalagens em papelão ondulado movimentadas entre empresas com base em siste-
mas produto-serviço   33
Cláudio Pereira de Sampaio
Tecnologia para uma Sustentabilidade: o caso da Madeira Moldada  43
Prof. Dr. Dalton Luiz Razera
Inovação em Sistemas de Consumo por meio do Design: o Caso do Caixa Ecológico  49
Dulce de Meira Albach
Avanços no Design de Produtos a base de Resíduos de Vidro Reciclado  59
Dulce Maria de Paiva Fernandes
Panorama do design para a sustentabilidade  67
Liliane iten Chaves
Validação de uma bula de medicamentos em Braille direcionada ao usuário cego  77
Maria Olinda Lopes
Desafios do design na mudança da cultura de consumo  87
Maristela Mitsuko Ono
Diretrizes para utilização de dispositivos poka-yoke no design de mobiliário popular: uma estraté-
gia para o design sustentável  93
Priscilla Ramalho Lepre
O Paradoxo do Design Sustentável na Moda: Diretrizes para sustentabilidade em produtos de moda
e vestuário  99
Suzana Barreto Martins

Anais do 1º Simpósio Paranaense de Design Sustentável (I SPDS)


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Estado da pesquisa em design sustentável no Brasil
State of the research on sustainable design in Brazil

Aguinaldo dos Santos


Universidade Federal do Paraná, Brasil
asantos@ufpr.br

design sustentável, agenda de pesquisa, inovação

Um princípio subliminar ao design sustentável é a busca pelo desenvolvimento de soluções de forma cooperada.
Paradoxalmente, observa-se pouca sinergia entre os grupos de pesquisa em design sustentável no Brasil, resultando
em replicação de pesquisas, lacunas de investigação e menor velocidade na disseminação dos princípios e práticas
norteadoras da sustentabilidade. Com o propósito de estimular esta maior aproximação dos grupos de pesquisa o
presente artigo reporta survey realizada pelo autor em 2008 junto aos programas de pós-graduação em Design no
país buscando identificar justamente a agenda temática e a distribuição da pesquisa na área. Com base nesta survey
o artigo aponta aspectos chave para maior efetividade da pesquisa em design sustentável no país.

Sustainable design, research agenda, innovation

An underlying principle in the field of sustainable design is the development of solutions on a cooperative fashion.
In Brazil, paradoxically, there is reduced synergy among the research groups on the field resulting in the overlap of
research activities, gaps of investigation and, furthermost, reduction on the dissemination speed of sustainability
theory and practice. With the purpose of stimulating higher proximity among these research groups the present
paper reports survey carried out by the author in 2008 within Design postgraduate programs in Brazil, attempting
to identify the existing research agenda and the geographic distribution of research on the field. Based on the results
of this survey the article then points to key aspects to increase design research effectiveness on the country.

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1. Introdução em Design no Brasil, como o apoio do CNPq em 2005 (disponível no site AEND-
BR) ficou claro a pouca transparência sobre o estado da pesquisa no Brasil,
A demanda da sociedade por soluções mais sustentáveis para produtos e servi- levando em conta o crescimento constante do número de doutores e pesquisa-
ços demanda alterações radicais nos sistemas de consumo e produção, exigindo dores atuantes na área. Esta falta de transparência não só afeta a definição de
do design novas competências e novo escopo de atuação. A formação destes políticas de fomento efetivamente adequadas à área mas, muito importante,
novos designers para a sustentabilidade e a inclusão de novas competências afeta a própria efetividade da pesquisa na medida que esta passa a não perce-
nos profissionais já atuantes no mercado implica na revisão da visão ortodoxa ber as lacunas de pesquisa nas fronteiras de inovação.
quanto ao escopo de atuação do designer, ou seja, na revisão epistemológica Desta forma, com o objetivo de alcançar esta transparência e com a meta su-
do que vem a ser Design. O Internacional Council of Society of Industrial Design bliminar de aproximar pós-graduandos de pós-graduandos foi realizada uma
ICSID, entidade maior da área, já reconhece esta nova realidade e propõe que consulta a todos os coordenadores de pós-graduação no Brasil, ao qual fomos
o conceito de design seja definido como “...uma atividade criativa que signifi- atendidos de forma muito gentil e com presteza. Para aqueles que os dados
ca estabelecer qualidades multifacetadas a objetos, processos, serviços e seus não nos foram fornecidos diretamente utilizamos o Lattes como fonte de con-
sistemas em todo o ciclo de vida”. O design de sistemas sustentáveis não ne- sulta ou a própria página do respectivo programa.
cessariamente resulta em bens físicos, o que é um contraste significativo com
a visão convencional do propósito da atividade de Design. A classificação dos temas utilizou a Tabela de Áreas do Conhecimento do
CNPq. A análise de cluster de pesquisa realizada aqui se restringiu ao Design
A pesquisa em design pode contribuir para a aceleração do desenvolvimento Sustentável (linha de pesquisa do autor). A planilha geral com todos os dados
de competências em sustentabilidade nas gerações presentes e futuras de De- está a disposição na página de discussão da Rede Brasil de Design Sustentável
signers. No 7º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design (groups.google.com/group/rede-brasil-de-design-sustentavel) ou através de
organizado em Curitiba pelo Núcleo de Design & Sustentabilidade da UFPR em solicitação direta ao e-mail asantos@ufpr.br.
2006, “Design Sustentável” foi um dos três temas mais publicados entre os
mais de 650 papers publicados nos anais do evento. Uma das conclusões resul- 2. Demografia da Pesquisa em Design Sustentável em Pro-
tantes dessa conferência foi a clara necessidade de dedicar maiores esforços gramas de Pós-Graduação
para desenvolver estratégias que realmente promovam mudanças de estilo de
vida em nossa sociedade. Ao todo foi identificado nesta survey um total de 318 pós-graduandos em de-
sign em todo o país realizando suas dissertações/teses em 2008. Portanto,
Para articular as ações na área foi implementado em 2007 a Rede Brasil de levando-se em consideração a existência de dez programas de pós-graduação,
Design Sustentável (RBDS), a qual tem como missão a promoção da sinergia e tem-se que há uma distribuição deste montante de forma bastante desequili-
foco estratégico dos grupos de pesquisa em design sustentável no país. Neste brada, sendo que três instituições apenas (UFRGS, ANHEMBI e PUC) hospedam
contexto, o presente artigo reporta survey realizada pelo autor para apoiar as mais da metade dos pós-graduandos na área.
ações da RBDS. Esta survey procura traçar um panorama temático da pesquisa
em Design no Brasil a partir da análise das dissertações e teses em andamento Não era pertinente aos propósitos desta survey a avaliação da eficiência do
nos Programas de Pós-Graduação em Design. O propósito é fundamentalmen- processo de orientação nestas instituições, ou seja, a relação do número de
te aumentar a transparência, permitindo a identificação de lacunas e áreas de orientandos em relação aos prazos de conclusão das dissertações/teses.
potencial sinergia entre grupos de pesquisa. Para a avaliação dos temas em cada pesquisa foi dado o valor 2 para a espe-
cialidade da Tabela de Áreas do Conhecimento mais próxima ao tema e valor 1
Durante a elaboração do Plano Estratégico para a Pesquisa & Desenvolvimento

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para o tema também conectado ao tema mas com menor relevância. quase 70% dos pós-graduandos nesta temática.

Figura 3. Distribuição da Pesquisa em Design Sustentável no Brasil


Figura 1. Distribuição da Pesquisa em Design no Brasil
Obviamente, o volume pequeno de pesquisas na área reflete o estado da pes-
Os dados da Survey mostram que “Design Gráfico”, “Design de Interfaces Digi- quisa na área de Design no país. De fato, em um período de apenas quinze
tais”, “Design e Gestão”, “Design da Informação”, “Design, Ergonomia e Usabili- anos o país saiu da ausência de programas de pós-graduação na área para dez
dade” e “Design e Cultura” são os temas mais freqüentes na pesquisa realizada programas de pós-graduação em Design em 2008. Pesquisa em design no Brazil
no ambiente da pós-graduação na área do Design. Importante notar que temas é, portanto, uma atividade recente e ainda pouco estruturada e consolidada.
emergentes na sociedade como o “Design & Jogos” e “Design & Sustentabilida- No caso das pesquisas em Design Sustentável a survey realizada permite con-
de” ainda recebem relativamente pouca atenção da comunidade. cluir quanto a urgente necessidade de ampliar o estímulo aos outros progra-
mas de pós-graduação para inclusão do tema design sustentável seja como
linha de pesquisa, seja como filosofia básica a ser utilizada nas linhas de pes-
quisa de forma horizontal.

3. Demografia dos Grupos de Pesquisa no Brasil


O desenvolvimento e disseminação do conhecimento em design sustentável
no âmbito da pesquisa no Brasil têm como desafio central o aumento quantita-
tivo e ampliação da abrangência geográfica dos grupos de pesquisa. Em 2008 a
maioria dos grupos de pesquisa nesta temática concentrava-se nos estados do
Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná e Santa Catarina. Áreas de grande importân-
cia ambiental ou com severos problemas sociais no país não tem a presença de
Figura 2. Temas de Pesquisas de Pós-Graduandos em Design em 2008
grupos de pesquisa nesta temática, demandando ações estratégicas de caráter
nacional para a indução da implantação de novos grupos e, por conseqüência,
Foram identificados nesta survey um total de 51 dissertações/teses em desen-
a formação de recursos humanos locais de alto nível.
volvimento no país em 2008 com pertinência diretamente ligada à questão da
sustentabilidade (16 % do total). Aqui novamente verifica-se uma excessiva
concentração das pesquisas na área. Somente a PUC e UFPR respondem por

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Figura 4. Distribuição dos Grupos de Pesquisa em Design Sustentável no Brasil

A mudança dos padrões de consumo e produção no Brasil passa necessaria-


mente pela aceleração na formação de designers com competência em design
sustentável. Apesar disto, pesquisa realizada pelo autor na base de dados da
CAPES utilizando as palavras chave design sustentável, eco-design e design so-
cial revelaram apenas seis teses de doutorado e 34 dissertações de mestrado
desenvolvidas nestes temas no período de 2000 até maio de 2008. Levando-se
em consideração que o país tem cerca e 150 escolas de design, fica claro que
este volume de especialistas formados via mestrados e doutorados está mui-
to abaixo do requerido para a formação dos futuros designers na questão da
sustentabilidade.

A aceleração do desenvolvimento e disseminação do conhecimento em de-


sign sustentável torna-se ainda mais urgente quando levado em consideração
a crescente demanda de empresas, governo e organizações do terceiro setor
por profissionais com competência em design sustentável.

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Educação ambiental nos cursos de Design
Environmental education in Design courses

Alexandre L. Marinho
Universidade Positivo, Brasil
alemarinho@up.edu.br
Ricardo H. M. Godoi
Universidade Federal do Paraná, Brasil
Rhmgodoi@hotmail.com

design, educação ambiental, sustentabilidade

Este trabalho contribui para a integração da sustentabilidade na idealização de um curso de graduação em De-
sign. O objetivo deste trabalho é o de fornecer uma visão global para qualquer professor e / ou coordenador que
pretenda integrar a sustentabilidade no desenvolvimento dos cursos de Design baseado em levantamentos e ex-
periências de campo. A fim de estimular a preocupação ambiental dos acadêmicos do curso de Design da Univer-
sidade Positivo, foi oferecido aos alunos um curso resumido de dez horas de Química Ambiental. A assimilação e a
posterior utilização dos conceitos básicos absorvidos no curso pelos estudantes foi avaliada de forma qualitativa e
quantitativa, por meio de questionário aplicado aos alunos concluintes (2007). Apesar da prática realizada, poucos
alunos apresentaram projetos de conclusão de curso com propostas de desenvolvimento de produtos com a preo-
cupação sólida de integrar a sustentabilidade no processo metodológico, porém se mostraram bastante receptivo
para a inserção de discussões sobre as relações ambientais e o design.

design; environmental education; sustainability

This work was designed to contribute to the knowledge and experience on how integration of sustainability issues
in regular design course can be accomplished. As an overview of Brazilian design courses, it was recognized the
lack of environmental subjects in the majority of the design undergraduate courses program, especially in product
development. The main objective of this work was to provide a useful overview for any teacher and/or curricu-
lum developer wishing to integrate sustainability into design programs. In order to encourage the environmental
concern of the Positivo University students of Design department, an environmental chemistry short course of
ten hours was offered to some students. The assimilation of environmental concepts of the course was accessed
by qualitative and quantitative questionnaire applied to the participants. The results were pointing out that this
isolate action does not incorporate the environmental responsibility to the students but they want to discuss about
environmental education and design.

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1 Introdução buir na capacitação do indivíduo, permitindo-o recriar, fortalecer e promover
esta mudança.
Os valores legitimados no mundo ocidental, teorias, ideologias, bem como a
economia e os meios científicos e tecnológicos, externalizaram os processos Diante deste cenário crítico, há a hipótese de que a revisão da formação aca-
naturais e culturais, evidenciando a ´maximização de benefícios em curto pra- dêmica do designer no Brasil, por meio da reformulação da grade curricular,
zo’ (LEFF 2001:146), o que parece determinar a exaustão de todo o sistema pode potencializar mudanças conceituais no desenvolvimento de projetos de
com o modelo atual de desenvolvimento econômico de exploração dos recur- produtos e serviços minimizando a exploração dos recursos naturais.
sos naturais.
2 Universidade e a Educação Ambiental
A conscientização quanto à urgência de alterar o rumo deste processo e a ne-
cessidade para regular condutas sociais que evitem efeitos negativos sobre o Na sua origem, o ensino superior brasileiro foi elitista e sob influência da aris-
meio ambiente reforçam a necessidade imediata da inserção da discussão e da tocracia colonial. Em outros tempos, as influências sofridas nos governos e na
participação ativa do ensino superior na educação ambiental. sociedade também provocaram mudanças significativas nas linhas de trabalho
das instituições educacionais. Forças dominantes como a igreja e os militares,
O momento atual exige posicionar os Projetos Políticos Pedagógicos ( PPP) dos por exemplo, já determinaram os conteúdos e os métodos de ensino.
cursos de design para que as instituições de ensino sejam responsáveis por
iniciativas e sugestões de projetos que proporcionem aos seus alunos a capaci- Atualmente a força de um mercado de trabalho globalizado influencia e até
dade de tomadas de decisão, cujos valores busquem a melhoria da sociedade determina conteúdos curriculares, colaborando com outra discussão sobre
e não apenas o atendimento de uma demanda do mercado. o quanto a educação superior deve responder a este tipo de necessidade e
quanto este tipo de influência pode ´imprimir à empresa educativa um sentido
Este estudo se propôe a contribuir para a integração da sustentabilidade na empresarial, utilitário e de mero adestramento da força de trabalho´ (TEDESCO
concepção de um curso de graduação em design. Para isso serão abordadas 2005:27).
relações entre a educação ambiental e os cursos de graduação em Design com
ênfase em projetos de produto. Na sequência será apresentada uma ação re- Segundo Freire (2001), a educação é reconhecida como a mola propulsora da
alizada para incentivar a preocupação ambiental dos estudantes de design da transformação social e política, exigindo uma nova reflexão sobre a eterna fase
Universidade Positivo e de que maneira esta atividade pôde ajudar a diagnosti- de transição entre o real e o ideal. Reflexão crítica para compreender uma
car os interesses dos alunos na relação entre o design e o meio ambiente. sociedade, capaz, para a busca de novos entendimentos e comportamentos,
sobretudo as relações entre o homem e a natureza. Neste contexto, cabe à
A necessidade se mostra evidente quando se reconhece que o primeiro objeti- universidade propor discussões para a conscientização e a busca de soluções
vo para a educação ambiental (EA) é a conscientização de que o modelo atual para as novas e necessárias mudanças, de modo que venha a integrar-se no
de desenvolvimento econômico com a exploração dos recursos naturais está seu meio.
fadado à exaustão de todo o sistema.
Para isso é necessário identificar os seus problemas e de fato influenciar na
O momento atual é sem dúvida um período de transição entre a emergência transformação da sociedade através da modernização dos seus métodos de
da saturação ambiental e a necessária mudança na sociedade (economia, cul- ensino, seus projetos político-pedagógicos (PPP) e principalmente com a atua-
tura e política). É difícil conjeturar uma sociedade moderna sem implicar em lização das grades curriculares dos cursos (BORDENAVE; PEREIRA : 2002). ,
mudanças comportamentais, no qual caberá às instituições de ensino contri-

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De forma simplista, os projetos de mudanças no ensino superior podem ser dade da educação ambiental como uma perspectiva de educação que permeie
apoiados em dois pilares complementares que são: A educação tecnológica todas as disciplinas.
que busca soluções na produção de bens e serviços que diminuam o alto custo
para os recursos naturais. E a educação sociocultural que promove o esclareci- Não apenas como um treinamento ou uma instrução para a proteção ao meio
mento e o exercício de valores capazes de provocar o aluno a percepção do seu ambiente, onde as atividades de transmissão de conhecimento se baseiam na
ambiente, capacitando-o a interpretar as relações, conflitos e os problemas conscientização para a conservação da natureza, as quais têm sua importância,
existentes que afetam a vida cotidiana. a educação ambiental deve, necessariamente, abordar aspectos políticos, eco-
nômicos, culturais e sociais.
Sobre este, o da educação sociocultural, a EA apoia-se com conhecimentos
teóricos e práticos orientada para a rearticulação das relações econômicas e 3 Design e a Educação Ambiental
culturais entre a sociedade e a natureza (LEFF 2001).
O modelo industrial atual, que se fortaleceu após a II Guerra Mundial, onde a
Para a Comissão Interministerial, reunida em 1972, no Rio de Janeiro, para pre- estratégia das empresas deixou de ser estabelecida pela capacidade produtiva
parar a conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvi- e passou a ser orientada pelas expectativas do mercado, tem no consumismo
mento, Dias (1998, apud GIL 2005:578) aponta que a educação ambiental: desenfreado a delineação do mercado.Este modelo tornou o marketing uma
das ferramentas chaves, que acelera ´a renovação incessante da oferta de ob-
“Caracteriza-se por incorporar as dimensões socioeconômi- jetos e opções inúteis [...] não essenciais, sempre anunciando uma revolução
cas, política, cultural e histórica, não podendo basear-se permanente para disfarçar a saturação crescente´. (KAZAZIAN 2005:40 e 67).
em pautas rígidas e de aplicação universal, devendo consi-
derar as condições e estágios de cada país, região e comu- Muito mais no desejo do que na necessidade do consumidor, atualmente o
nidade sob uma perspectiva histórica. Assim sendo, a edu- design tem no seu papel o objetivo de transformar números, identificados
cação ambiental deve permitir a compreensão da natureza pelos setores de marketing, em produtos e encaminhar as especificações à
complexa do meio ambiente e interpretar a independência produção, que por fim, encaminha ao consumidor, que novamente iniciará o
entre diversos elementos que conformam o ambiente com processo em função de um novo desejo ou necessidade.
vistas a utilizar racionalmente os recursos do meio na satis-
fação material e espiritual da sociedade no presente e no A idéia central deste modelo é a produção de um maior número de produtos
futuro.” em menor tempo e custos possíveis, e de forma implícita, na rentabilidade
imediata de exploração dos recursos materiais da terra (KAZAZIAN 2005). Além
Segundo Luzzi (2005), a EA tem um sentido fundamentalmente político, já que de requerer cada vez mais quantidade de recursos naturais, o modelo provoca
visa à transformação da sociedade em busca de um presente e de um futuro um aumento de emissões e dos resíduos, contribuindo para o aumento da
melhor. Contudo, é preciso que a EA seja efetivada em todos os níveis de ensi- degradação ambiental.
no, mesmo reconhecendo a falta de estruturação suficiente para permear os
paradigmas científicos e as estruturas acadêmicas, sobretudo a partir da pers- Portanto, o design, sendo o elo entre a identificação de uma “necessidade”, o
pectiva histórica, política, geográfica e cultural dos países do 3° mundo. fabricante e o consumidor, é uma ferramenta que pode reorganizar os sistemas
de produção e de consumo através, por exemplo, de uma geração de produ-
Sobre isto, Manzini (2002) atenta para uma difícil convergência entre a racio- tos, processos ou serviços que causem o mínimo de impacto adverso ao meio
nalidade econômica e a racionalidade ecológica, a qual aponta para a necessi- ambiente.

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A preocupação com o desenvolvimento de produtos com desempenho efeti- No outro extremo, que tem a sustentabilidade como contexto, o desenvolvi-
vo também na relação com o meio ambiente é conhecida pelas concepções mento de produtos busca priorizar as expectativas e saídas para toda a socieda-
projetuais, adotadas a partir da década de 1990, denominada DfE (Design for de, inserindo a metodologia projetual dentro do conceito da sustentabilidade.
environment), considerada sinônimo do conceito Ecodesign, que aponta a ne- A possibilidade de a sustentabilidade ser o contexto para o desenvolvimento
cessidade de uma ´ligação entre eficiência dos recursos (que leva a produtvi- de um produto provoca mudança no modelo industrial atual, proporcionando
dade e lucratividade) e responsabilidade ambiental´(JÚNIOR; DEMAJOROVIC uma nova cadeia de prioridades.
2006:288).
Assim, as propostas não serão baseadas no desejo e na necessidade do consu-
Júnior e Demajorovic (2006:289) acrescentam, ainda, que além da satisfação midor, mas deverão reconhecer quais são as expectativas do consumidor para
às necessidades dos consumidores com produtos e serviços ambientalmente repensar quais as possibilidades de oferta, além de priorizar constantes ava-
adequados, é possível integrar as relações sociais, culturais tanto dos consumi- liações dos possíveis impactos ambientais, confrontando-os com as condições
dores como da região onde será produzido o determinado produto. econômicas e sociais entendidas para aquele produto e seu ciclo de vida.

Dentro do escopo da EA surge, então, a necessidade de desenvolver produtos O design como uma ferramenta dentro do contexto maior, que é a sustenta-
e serviços orientados ao atendimento da sociedade, com o respeito aos recur- bilidade, reforça o seu escopo de reorganizar os sistemas de produção e de
sos naturais, e a credibilidade do desenvolvimento econômico, contribuindo consumo, motivando a existência de novos processos ecologicamente mais fa-
assim para o entendimento do conceito de desenvolvimento sustentável. voráveis em relação aos existentes.

Diante deste cenário a escola de design pode ser um espaço valioso para a EA,
proporcionando aos alunos reflexões sobre a importância do design e sua in-
4 Proposta de aplicação
fluência nas demandas sociais e na sua relação com o meio ambiente.
Baseado na pesquisa realizada na Delft University of Technology (TU Delft), Ho-
landa e seus resultados relacionados à melhora no aproveitamento dos assun-
Para propor o desenvolvimento sustentável no design é importante entender
tos que interagem o tema sustentabilidade e o desenvolvimento de projetos,
que o desenvolvimento deve ser do design para a sustentabilidade, que signifi-
além da hipótese deste estudo que há a necessidade de repensar a estrutura
ca ainda segundo Manzini (2002), promover a capacidade do sistema produtivo
curricular dos cursos de design, de maneira a atender as contínuas mudanças
de responder à procura social de bem-estar utilizando uma quantidade de re-
de mercado e a necessidade da conscientização ambiental, este estudo propôs
cursos ambientais drasticamente inferiores aos níveis atualmente praticados.
a inclusão de um curso de extensão em química ambiental, de 10 horas. Além
de provocar um presumível interesse do acadêmico, o curso também propor-
Para esta proposta, Fletcher e Dewberry (2002) esclarecem sobre dois extre-
cionaria a discussão de temas ligados ao meio ambiente e suas relações com o
mos para o uso da sustentabilidade nos currículos. O primeiro, onde o design é
desenvolvimento de produtos fora do local tradicional de sala de aula.
o contexto, os temas relacionados a um projeto sustentável são partes de uma
metodologia de desenvolvimento de produto, onde o resultado serão bens de O curso de extensão, denominado Planeta no Século XXI (PS21), foi ofertado
consumo para o mercado. São atualmente praticados nas poucas instituições para os alunos do 2° semestre do 3° ano da graduação em design da Univer-
de ensino que se preocupam com o assunto, obedecendo ao modelo industrial sidade Positivo (UP), promovendo uma ação concreta que permitiria maiores
atual. A preocupação é fazer com que os alunos desenvolvam o produto e por discussões para a integração da sustentabilidade no design. O curso teve como
fim lembre-se da possibilidade de inserir pequenas interferências “verdes”. objetivo principal estimular a consciência ambiental resgatando conceitos por

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meio da abordagem de relevantes indicadores que são considerados em docu-
mentos sobre desenvolvimento sustentável. No início do ano letivo de 2007 com o início do desenvolvimento de projetos
A partir do proposto, mediu-se a efetividade desta ação, ou seja, possíveis in- de produtos como trabalho final de graduação, buscou-se um novo momento
fluências do curso, com as demais disciplinas responsáveis pelo assunto, nas de coleta de dados com a turma base, por meio de uma pesquisa quantitativa
apresentações das propostas de projetos de pesquisa do trabalho final de gra- e qualitativa a fim de possibilitar confrontos entre as respostas evidenciadas
duação (TFG) que seriam realizados durante próximo ano letivo. nos projetos de pesquisa apresentados e o início da pesquisa para desenvolvi-
mento dos produtos.
Para a realização do curso, houve a participação de quatro professores do pro-
grama de Mestrado Profissional em Gestão Ambiental da UP, que dividiram as A coleta de dados foi realizada utilizando como ferramenta um questionário
relações do homem e o meio ambiente em quatro temas. Os assuntos minis- que exigia respostas dissertativas e de múltipla escolha. Para evitar qualquer
trados foram: solo, resíduos e poluição, água e ar. Cada um deles apresentados tipo de influência do autor da pesquisa, o questionário foi entregue, apresen-
como aula expositiva, em semanas subseqüentes, com duração de 2,5 horas/ tado e recolhido, ao final do preenchimento, por outro professor que não par-
aula, no contra turno (tarde) dos alunos. ticipou do curso intensivo.

Apresentada esta formatação a todos os 49 alunos da turma, denominados As respostas foram compiladas utilizando-se a ferramenta computacional Sta-
como “turma base”, 23 tinham disponibilidade de tempo no contra turno e tistical Package for the Social Sciences (SPSS) versão 13.0, para análise, trata-
manifestaram interesse na participação do curso que foi realizado entre os dias mento de dados estatísticos e cruzamentos de variáveis para a confirmação
24 de outubro e 14 de novembro de 2006, na UP. No ano letivo de 2007, a dos dados obtidos.
turma base, no 4° ano, se organizou, de forma espontânea, em duplas ou in-
dividualmente, para redação e apresentação dos projetos de pesquisa para o 5 Resultados e Discussões
desenvolvimento de projetos de produtos como TFG durante o ano letivo.
Dos 26 projetos apresentados pelos alunos, 24 eram formados por duplas e
Para reconhecer e quantificar as influências do curso proposto PS21 foram re- dois individuais. Entre as duplas seis projetos foram propostos por alunos que
colhidos todos os 26 projetos de pesquisa apresentados como propostas para fizeram o curso PS21, nove foram formados por alunos onde um fez o curso
o desenvolvimento do TFG, totalizando os 49 alunos participantes. Com a e nove foram formados por alunos que não fizeram o curso. Nos individuais,
entrega dos projetos de pesquisa, realizou-se uma pesquisa quantitativa para ambos realizaram o curso.
analisar os indícios de relações entre o design e o meio ambiente apresenta-
dos, ou a falta deles, sob influências específicas do curso PS21. Um dos alunos não fazia parte da turma base (aluno transferido de outra ins-
tituição) e, portanto foi desconsiderado da pesquisa. Dentre os oito projetos
Buscou-se palavras que identificassem indícios, preocupações e implementa- onde os autores participaram do curso PS21, sejam eles em duplas ou indivi-
ções de aspectos ambientais contidos nos temas, nos objetivos gerais e nos dualmente, apenas três apresentaram algum tipo de influência, apontada em
objetivos específicos. Para tanto foram consideradas palavras e expressões dois temas e em um objetivo específico, e cinco não apontaram qualquer tipo
como: Re-uso; Ciclo de vida do produto; Preservação do meio ambiente; Uso de indício de influência.
de novas tecnologias; Qualidade de vida; Preocupação ambiental; Resíduos;
Ecodesign; Sustentabilidade; Ecologia; Energia; Água; Descartável; Coleta se- Os projetos onde apenas um dos autores participou do curso PS21 apresen-
letiva; E metodologia específica para o desenvolvimento de produto-serviço taram um resultado diferente do grupo de projetos onde ambos os autores
como o PSS (product-service system). participaram. O resultado de não influência é menor do que os números de

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indicadores obtidos nos tema ou nos objetivos específicos. Enquanto quatro Entrevista com os alunos
projetos não demonstraram nenhum indício que pudesse relacioná-lo com o
PS21, cinco projetos apresentam assuntos ligados ao meio ambiente, sendo Para a validação e análise dos resultados, optou-se por entrevistar os alunos da
um no tema e quatro nos objetivos dos projetos de pesquisa. “turma base”, uma vez que o interesse da pesquisa era conhecer as possíveis
diferenças entre os projetos de pesquisa apresentados e o início da pesquisa
Nos projetos cujos autores não participaram do curso PS21, o resultado foi para desenvolvimento dos produtos, além de possíveis interferências ocorri-
similar ao grupo de projetos onde apenas um dos autores participou. Assuntos das. Foram entrevistados 45 dos 49 alunos da turma.
relacionados ao meio ambiente foram retratados em cinco ocasiões sendo três
temas e dois objetivos específicos. Além do objetivo primeiro do curso PS21, que era estimular a consciência am-
biental através de abordagem de temas complementares e distintos daqueles
A proposta de ação para medir uma possível influência sobre os alunos permi- supostamente referenciados no curso de design, os resultados obtidos da en-
tiu perceber que há o interesse do aluno com temas ligados ao meio ambiente, trevista com os alunos também possibilitaria perceber o interesse dos alunos
mesmo com os resultados de influência do PS21 sendo considerados abaixo da com os temas voltados às relações com o meio ambiente.
expectativa. Os projetos onde os dois alunos realizaram o curso não refletiram
estímulos propostos pelo curso capazes de influenciar nos temas ou nos obje- Quando questionados sobre a relevância dos temas ambientais permearem o
tivos dos respectivos projetos finais. curso de design, 17,8% dos alunos conferem à disciplina de Gestão Ambiental
o entendimento e a aplicabilidade desta inclusão, enquanto outros 33,3% en-
Porém, acredita-se que este fato comprovou que os temas voltados para a tendem que estes devem ser abordados em diversas disciplinas do curso.
educação ambiental, mesmo acontecendo em propostas de disciplinas curri-
culares ou em formatos de extensão como o PS21, não devem ser tratados de Nenhum aluno se opôs quanto à responsabilidade do curso em promover dis-
forma isolada sem um projeto que contemple objetivos como a inserção de um cussões abordando temas ambientais, apontando a interdisciplinaridade, seja
novo valor, como a sustentabilidade deveria ser tratada. ela entre a disciplina de Gestão Ambiental e outras do curso de design, com
13,3%, ou entre a disciplina de Gestão Ambiental somada a outras “fora” da
Outro fator que pode ter influenciado no resultado é a não relação dos temas grade curricular como, por exemplo, o curso PS21 com 6,7%, ou ainda a soma-
abordados com o papel do designer neste processo. Este pode ter ocorrido por tória da disciplina de Gestão Ambiental com as demais disciplinas do curso e o
dificuldades na relação ensino-aprendizado causadas pela diferença entre a PS21, com outros 17,8%, deve ser praticada na universidade.
formação acadêmica dos professores, com o respectivo vocabulário, e a expec-
tativa do aluno em relação aos temas propostos, dificultando a percepção da Apenas 6,7% dos entrevistados entendem que cursos como o PS21 deve ser
necessidade dos assuntos e conseqüentemente serem contemplados dentro uma opção para a implementação de temas ambientais no curso de design.
da pesquisa para o desenvolvimento de produtos. Dos alunos, 33,3% entendem que há relevância dos temas ambientais perme-
arem o curso de design e estes devem ser abordados em diversas disciplinas
Além destas possibilidades, os resultados quando um dos alunos participou do do curso.
curso deve considerar, ainda, a dificuldade do aluno que fez o curso PS21 em
influenciar aquele que não fez, seja pela falta de argumentação capaz de con- Estas respostas contribuem para a possibilidade da inserção de temas que re-
vencimento ou pela dificuldade de promover um processo de mudança que lacionem a preocupação com o desenvolvimento de produtos e sua implicação
exigiria a formulação e apresentação de um novo projeto de pesquisa. no meio ambiente, de forma transversal, possibilitando tratar o tema como
um valor.

Anais do 1º Simpósio Paranaense de Design Sustentável (I SPDS)


14
. Isto demonstra uma intenção do aluno em abordar preocupações ambientais,
A pesquisa apontou que o curso PS21 despertou algum interesse do aluno para apenas como uma das etapas projetuais e não como tema principal ou um
discussões sobre a possibilidade dos temas ambientais permearem diversas objetivo a atingir de fato.
disciplinas no curso da graduação. Entre eles 33,3% responderam estar inte-
ressados e reconhecem a importância e suas relações com outros assuntos Esta visão estreita foi reforçada quando as respostas de 64,4% dos alunos
estudados no curso de design. apontaram que há uma etapa para inclusão de premissas ambientais entre
outras etapas de caráter projetual dentro da metodologia de desenvolvimento
Porém, este percentual não se mostrou tão eficiente quando comparado com de produtos. Destes, 15,6% reforçaram que esta etapa deu-se pelos temas es-
o número de temas e objetivos propostos nos TFG`s. tudados na própria disciplina de Gestão Ambiental do 6° período do curso .

Entende-se que mesmo mostrando interesse e reconhecendo a necessidade Evidencia-se, ainda, que os alunos perceberam as relações ambientais apenas
das relações entre o design e o Meio Ambiente (quando questionado se o alu- quando o assunto é matéria prima, processos de fabricação e reciclagem. Entre
no irá abordar questões que envolvam o meio ambiente no TFG, 68,9% res- eles, 37,8% creditaram ao próprio entendimento e 46,7% ao entendimento da
pondem afirmativamente), o resultado pretendido junto ao trabalho final de equipe sobre a relevância dos temas ambientais e sua inserção no TFG.
graduação, não se deu, também, porque 20% dos alunos entrevistados apon-
taram, categoricamente, desconhecer como inserir este assunto no próprio Dentre os entrevistados, 13,3% apontaram o curso PS21 como principal influ-
trabalho. ência para a inclusão de temas ambientais no TFG. Este número reforça os
resultados apresentados, onde apenas três projetos sofreram algum tipo de
Outros 6,7% não admitem a dificuldade de como abordar o assunto meio am- influência e cinco não apresentaram quaisquer indícios.
biente, justificando que não pretendem abordar discussões desta natureza
porque entendem que o trabalho em desenvolvimento não tem nenhuma re- Mesmo, ainda, sem mostrar resultados que comprovem quanto o aluno con-
lação com o meio ambiente. segue relacionar o design e o meio ambiente, a pesquisa indicou que os alunos
reconheceram que há assuntos ligados a este tema nas disciplinas do curso,
Como também não sabem, 4,4% disseram que só irão abordar o tema caso o sendo que 71% apontaram que o curso de design tem oportunizado este tipo
orientador do trabalho ou a instrução normativa do TFG exija. de discussão.
Outro indicativo que reforçou a falta de temas e objetivos nos TFG`s relacio-
nados à educação ambiental na UP, esta associado com o não entendimento Por meio do levantamento de dados até o momento da pesquisa, pôde-se ob-
exato do significado de preocupações ambientais e como este deve ser abor- servar que a educação ambiental e suas relações com a formação acadêmica
dado. do designer na UP encontravam-se em um momento inicial, evidenciando que
o curso não objetivava esta interação tanto no seu projeto pedagógico como
Quando perguntado sobre quais os possíveis temas que seriam abordados ao na formação dos professores, porém foi possível perceber que os números su-
longo do TFG, as respostas têm concentração “apenas” nos itens relacionados gerem um cenário bastante interessante , percebido pela motivação dos alu-
a matéria prima, processos de produção e reciclagem do produto. nos e os espaços para a discussão do tema.
Esta limitação quanto aos possíveis temas ambientais que poderiam ser abor-
dados no desenvolvimento de um TFG no curso de design pode estar relacio- 6 Considerações finais
nada principalmente com o fato de os alunos obedecerem a um currículo que
tratou os temas ambientais como etapas projetuais dentro do contexto design Este trabalho abordou o ensino superior, com foco nos cursos de graduação

Anais do 1º Simpósio Paranaense de Design Sustentável (I SPDS)


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de design com habilitação em projeto de produto, e a necessidade da inclusão Referências
da educação ambiental. Esta inclusão é uma das exigências para a busca de
soluções sustentáveis, imprescindíveis para a manutenção das relações entre BORDENAVE, J.D; PEREIRA, A.M. Estratégias de Ensino-Aprendizagem. 23º ed. - Petrópolis: Edi-
o homem e o meio ambiente. tora Vozes, 2002
DELFT UNIVERSITY of TECHNOLOGY. Disponível em: http://www.tudelft.nl/live/pagina.
A proposta de ação, para estimular o aluno a pensar em outros indicadores jsp?id=354ec3d6-bbeb-4890-b8e4-8b7fe4b419c8&lang=en . Último acesso em 02 de julho de
além daqueles que o curso de design já lhe proporciona, permitiu a percepção 2008.
que há o interesse do acadêmico em temas ligados ao meio ambiente. Porém, ______ Disponível em: http://www.studiegids.tudelft.nl/file/program.pdf?program_id=4260.
Último acesso em 24 de setembro de 2008.
mesmo executando algumas ações concretas, as relações que ele (aluno) fez
DEMAJOROVIC, J; JÚNIOR A.V; (org); Modelos e Ferramentas de Gestão Ambiental: Desafios e
com o meio ambiente foram estreitas, limitadas a alguns pontos como a esco- Perspectivas para as Organizações. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2006.
lha da matéria prima e o seu processo de produção. FLETCHER, K.; DEWBERRY, E. D. A Case Study in Design for Sustainability. International Journal of
Sustainability in Higher Education, 2002.
Entendendo que é inegável à Universidade a função de melhorar a sociedade FREIRE, P. Educação e mudança. Tradução de Moacir Gadotti e Lillian Lopes Martin. Rio de Janei-
através do pensamento estratégico para formar cidadãos capazes de provocar ro: Paz e Terra, 2001
mudanças necessárias, sejam elas de ordem econômica, social, política ou tec- KAZAZZIAN, T. (org); Haverá a idade das coisas leves: design e desenvolvimento sustentável.
nológica, é preciso, também, assumir que todo processo que objetiva a inser- Tradução de Eric Roland René Heneault. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2005.
ção de um novo valor, como a sustentabilidade, e seus respectivos resultados LEFF, E. Saber Ambiental: sustentabilidade, racionalidade, complexidade, poder. Tradução de
Lúcia Mathilde Endilich Orth. Petrópolis: Vozes, 2001.
dentro de cada curso e da própria instituição, dependem de constantes reor-
LUZZI, D.; Educação Ambiental: Pedagogia, Política e Sociedade in PHILIPPI, Jr; PELICIONI, M.C.F.
ganizações de todos os envolvidos. Educação Ambiental e Sustentabilidade. Barueri: Manole, 2005.
MANZINI E.; VEZZOLI C. ; O Desenvolvimento de Produtos Sustentáveis: Os requisitos ambientais
Portanto, há a necessidade de incluir a educação ambiental nos projetos peda- dos produtos industriais; tradução de Astrid de Carvalho. São Paulo: Editora da Universidade de
gógicos dos cursos de design, acreditando que a revisão das estratégias educa- São Paulo, 2002.
cionais pode ser uma das várias ações necessárias para evitar-se o colapso de PELICIONI, M.C. F.; CASTRO, M.L.;PHILIPPI Jr, A.; A Universidade Formando Especialistas em Edu-
recursos naturais. Além da preocupação principal que é a formação de valores cação Ambiental in PHILIPPI, Jr; PELICIONI, M.C.F. Educação Ambiental e Sustentabilidade. Ba-
rueri: Manole, 2005.
dentro da educação, é inegável reconhecer que os mercados estão incluindo
REIGOTA, M. O que é educação ambiental. São Paulo: Brasiliense, 2001.
critérios ambientais nas suas transações comerciais e, portanto, o Brasil ne-
TEDESCO, J. C. (org); Educação e Novas Tecnologias: Esperança ou Incerteza?. tradução de Clau-
cessita estar preparado para responder a esta demanda, o que só acontecerá dia Berliner, Silvana Cobucci Leite. São Paulo: Cortez, 2005.
principalmente por meio da formação acadêmica dos profissionais.

Reconhece-se também que são necessários outros projetos que contemplem,


além do que foi proposto por este, todo o processo educativo de formação am-
biental, ou seja, os objetivos, os conteúdos, os métodos e material pedagógico,
a formação e capacitação de professores, a pesquisa e a avaliação, além das
relações de convênios entre as empresas e as universidades.

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A inserção do design sustentável em um modelo de referência para a gestão do desenvolvimento de produtos
Sustainable design insertion into a reference model for product development management

Américo Guelere Filho


Universidade de São Paulo Brasil
Agf@sc.usp.br
Henrique Rozenfeld
Daniela C. A. Pigosso

Ecodesign, modelo de referência, processo de desenvolvimento de produtos

A menos que os produtos ecológicos (menos prejudiciais aos seres humanos e seu ambiente quando comparados aos produtos tradicionais) obtenham êxito no
mercado, não haverá diminuição dos impactos ambientais causados ao longo do seu ciclo de vida. No universo das empresas cujos produtos são bem sucedidos
comercialmente, é comum a adoção de um processo padrão de desenvolvimento de produtos (DP) o qual guia todos os projetos de desenvolvimento, estabele-
cendo, assim, uma linguagem comum a todos os envolvidos e a garantia de que certas práticas, métodos e ferramentas serão utilizados no desenvolvimento de
todos os produtos. Os principais benefícios associados ao uso de um processo padrão estão relacionados à estruturação do DP, o que viabiliza sua gestão e aumen-
ta as chances de que os produtos desenvolvidos a partir desse padrão obtenham sucesso no mercado. Dentro do contexto do Processo de Desenvolvimento de
Produtos (PDP), o ecodesign pode ser definido como uma abordagem que visa desenvolver produtos ecológicos sem comprometer critérios como desempenho,
funcionalidade, tempo de desenvolvimento, segurança, estética, qualidade e custo, critérios esses essenciais ao êxito comercial de qualquer produto. No entanto,
o que se observa atualmente é que o uso de métodos e ferramentas de ecodesign não figura ainda entre as melhores práticas de DP, caracterizando uma lacuna
na integração do ecodesign ao PDP. Uma maneira de suprimir essa lacuna é garantir que métodos e ferramentas de ecodesign integrem o processo padrão de DP
das empresas. Essa integração, por sua vez, pode ser feita com o auxilio de um modelo de referência para o desenvolvimento de produtos ecológicos, ou seja, um
modelo de referencia que tenham entre seus métodos e ferramentas aqueles relacionados ao ecodesign. O objetivo desse artigo é apresentar os passos empre-
endidos no desenvolvimento de uma referência dessa natureza, a qual está sendo construída a partir da integração de métodos e ferramentas de ecodesign ao
modelo de referencia para a gestão do desenvolvimento de produtos proposto por Rozenfeld et al, 2006 (Modelo Unificado).

Ecodesign, reference model, product development process

Unless the green products (less harmful to humans and their environment when compared to traditional products) get success in the market, there will be no re-
duction of environmental impacts caused throughout its life cycle. In the universe of companies whose products are commercially successful, it is common to adopt
a standard process for product development (DP) which guide all development projects, establishing thus a common language for all those involved and ensuring
that certain practices, methods and tools will be used in the development of all products. The main benefits associated with the use of a standard process are rela-
ted to the structure of DP, which enables the management and increases the chances that the products developed from the standard to obtain success in the ma-
rket. Within the context of the Product Development Process (PDP), the ecodesign can be defined as an approach that aims to develop ecological products without
compromising criteria such as performance, functionality, development time, safety, aesthetics, quality and cost, the traditional criteria essential to commercial
success of any product. However, what is observed today is that the use of ecodesign methods and tools not even figure among the best practices of DP, showing
a gap in the integration of ecodesign into PDP. One way to eliminate this gap and ensure that ecodesign methods and tools integrates the standard DP businesses
process. This integration, in turn, can be made with the aid of a reference model for the development of green products, ie, a type of reference that have also a
set of ecodesign methods and tools. The aim of this paper is to present the steps undertaken in the development of such a reference, which is being built from the
integration of ecodesign methods and tools into the reference model for product development management proposed by Rozenfeld et al, 2006 (Unified Model).

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1 Introdução de produtos ecológicos, mais especificamente, para bens de consumo duráveis
e de capital. Esse modelo está sendo construído a partir da integração de prá-
ticas de ecodesign ao modelo de referencia para a gestão do desenvolvimento
Devido ao caráter sistêmico do conceito de sustentabilidade (que está apoiado
de produtos proposto por Rozenfeld et al, 2006 (Modelo Unificado).
na consideração integrada das questões ambientais, sociais e econômicas), o
esforço conjunto das áreas da empresa e a sua integração aos diversos proces-
Este trabalho está sendo desenvolvido no âmbito do doutorado do autor junto
sos de negócio (conjunto de atividades destinadas à produção de um produto
ao Grupo de Engenharia Integrada e de Integração (GI2) do Núcleo de Manufa-
ou serviço para um tipo específico de cliente (interno ou externo à empresa)
tura Avançada (NUMA) e se insere na linha de pesquisa “Gestão de Projetos e
se torna necessário.
Desenvolvimento de Produtos” do Departamento de Engenharia de Produção
da Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo (SEP/
O processo de desenvolvimento de produtos é considerado um processo de
EESC/USP).
negócio crítico para aumentar a competitividade das empresas e para reduzir
os impactos ambientais associados a produtos ao longo de todo o seu ciclo de
vida, principalmente por meio da consideração das questões ambientais. 2 Contextualização
O ecodesign, uma abordagem de gestão ambiental pró-ativa, trata da consi- Esse capítulo apresenta a contextualização do processo de desenvolvimento
deração das questões ambientais nas fases iniciais do processo de desenvolvi- de produtos e a sua relação com o ecodesign, além de apresentar o modelo de
mento de produtos, onde estão as maiores oportunidades de melhoria, com o referência unificado para o processo de desenvolvimento de produtos.
objetivo de minimizar os impactos ambientais dos produtos ao longo de todo
o seu ciclo de vida, sem comprometer, entretanto, outros critérios essenciais
O processo de desenvolvimento de produtos e o ecodesign
do produtos, com qualidade, custo e estética.
De acordo com a Comissão das Comunidades Européias (2001), a relação en-
Apesar das inúmeras vantagens competitivas e ambientais associadas ao eco-
tre produtos e impactos ambientais é estabelecida pelas crescentes taxas de
design, o conceito ainda é pouco aplicado pelas empresas. Um dos fatores que
consumo e produção dos produtos, que estão na origem da maior parte da
contribuem para essa situação é a falta de integração das práticas, métodos e
poluição e esgotamento dos recursos naturais causados pela humanidade.
ferramentas de ecodesign aos processos de negócio das empresas, que é po-
tencializado pelo intenso desenvolvimento de novos métodos e ferramentas
Produtos com melhor desempenho ambiental são também conhecidos como
em detrimento do estudo e aprimoramento dos existentes.
produtos ecológicos ou “verdes” que, segundo NIMSE et al (2007), são produ-
tos menos prejudiciais aos seres humanos e seu ambiente quando compara-
Nesse contexto, uma alternativa para aumentar as chances de êxito comercial
dos aos produtos tradicionais em uso. Como o desempenho ambiental de um
dos produtos ecológicos é integrar o ecodesign ao processo de desenvolvimen-
produto é determinado pela soma de todos os impactos ambientais observa-
to padrão das empresas, o que garantiria que a introdução dos aspectos am-
dos ao longo do seu ciclo de vida (NIELSEN; WENZEL, 2001), e uma vez que
bientais fosse feita de forma sistemática por meio da aplicação de métodos e
tais impactos são, em sua grande maioria, determinados nas fases iniciais de
ferramentas de ecodesign em todos os projetos de desenvolvimento.
seu desenvolvimento (GRAEDEL; ALLENBY, 1995), o desafio envolvido no de-
senvolvimento de produtos ecológicos passa pela consideração e minimização
O objetivo desse artigo é apresentar os passos empreendidos no desenvolvi-
dos impactos ambientais do ciclo de vida dos produtos ainda durante as fases
mento de um processo padrão (modelo de referência) para o desenvolvimento
iniciais de processo de desenvolvimento.

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18
LUTTROPP, 2006; LUTTROPP; LAGERSTEDT, 2006).
O processo de desenvolvimento de produtos é considerado um processo de
negócio crítico para aumentar a competitividade das empresas, principalmen- Segundo Baumann; Boons e Bragd (2002), uma das principais causas da baixa
te porque leva a uma maior diversidade de produtos e a uma contínua redução integração do ecodesign com o PDP é a deficiência daqueles envolvidos com
do ciclo de vida do produto. O desenvolvimento sustentável pode ser integra- o ecodesign em enxergar o PDP como um processo de negócio somado ao
do numa completa estratégia de gestão do desenvolvimento do produto como intenso desenvolvimento de novos métodos e ferramentas em detrimento ao
uma abordagem complementar, uma nova área de conhecimento (GUELERE aperfeiçoamento dos existentes. Como conseqüência, o uso de seus métodos
FILHO; ROZENFELD, 2006). e ferramentas de ecodesign, não figura, ainda, entre as melhores práticas de
DP, caracterizando, assim, uma lacuna na integração do ecodesign ao PDP.
Clark e Fujimoto (1991) definem o processo de desenvolvimento de produtos
(PDP) como o processo organizacional responsável pela transformação deda- Johansson (2002), afirma que os fatores de sucesso para a integração do eco-
dos de mercado e de tecnologia em produtos comerciais. design ao PDP são, em sua grande maioria, os mesmos fatores de sucesso do
PDP como um todo. Dessa forma, empresas que gerenciam bem o seu PDP têm
As maiores oportunidades de melhorias ambientais de um produto estão nas maiores chances de serem bem sucedidas na integração do ecodesign.
primeiras fases do seu processo de desenvolvimento, em que os graus de li-
berdade no estabelecimento das características do produto e o potencial para Na área de processos de negócios (do qual o PDP é um exemplo), modelos de
melhorias ambientais são grandes. Estimativas apontam que de 60 a 80% do referência têm sido utilizados na sua estruturação, viabilizando, assim, a ges-
impacto ambiental total de um produto é estabelecido nestas fases (BYGGE- tão de todo o processo. No caso do desenvolvimento de produtos, ao fazer uso
TH; HOCHSCHORNER, 2006; LUTTROPP; LAGERSTEDT, 2006; MANZINI; VEZZO- de um modelo de referência, uma empresa define seu processo padrão, o qual
LI, 1998; NIELSEN; WENZEL, 2001; JESWIET; HAUSCHILD, 2005; JOHANSSON, guiará todos os seus projetos de desenvolvimentos de produtos. Isso conduz a
2002; SIMON ET AL, 1999). uma visão única desse processo de negócio, nivelando os conhecimentos entre
os atores que participam de um desenvolvimento específico, construindo, uma
O conceito do ecodesign trata justamente do desenvolvimento de produtos linguagem comum e a garantindo que certas práticas, métodos e ferramentas,
ecológicos e pode ser visto como uma abordagem de desenvolvimento de pro- serão aplicados em todos os projetos de desenvolvimento (ROZENFELD et al,
dutos cujo maior objetivo é minimizar os impactos ambientais gerados pelos 2006).
produtos, sem comprometer, no entanto, outros critérios essenciais ao seu su-
cesso comercial, tais como desempenho, funcionalidade, tempo de desenvol-
vimento, segurança, estética, qualidade e custo (BYGGETH; HOCHSCHORNER, 2.1 O modelo unificado para o processo de desenvolvimento de produ-
2006; LUTTROPP; LAGERSTEDT, 2006; JESWIET; HAUSCHILD, 2005). tos (pdp)

No início dos anos 2000 era grande o otimismo existente em torno das vanta- O modelo de referência para a gestão do desenvolvimento de produtos, ou
gens competitivas associadas ao ecodesign (tanto entre acadêmicos como en- modelo unificado, proposto por Rozenfeld et al, (2006) foi construído com o
tre representantes do mundo corporativo), apresentado à época como o con- intuito de disseminar conceitos e melhores práticas de desenvolvimento de
ceito emblemático do paradigma ganha-ganha. No entanto, o que se observa produtos nas empresas nacionais, incorporando experiências e conhecimentos
atualmente é que a adoção desse conceito encontra-se restrito a grandes e acumulados pelos autores em suas atividades acadêmicas (pesquisa e ensi-
poucas empresas e que os produtos produzidos e consumidos em larga escala no) e empresariais. É fruto de ação conjunta de grupos de pesquisa brasileiros
não são ainda ofertados em sua versão ecológicos (BOKS, 2005; KARLSSON; com destacada atuação na área de DP (desenvolvimento de produto) os quais

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somaram esforços no âmbito de um Programa Nacional de Cooperação Acadê- linguagem comum para garantir que certas práticas, métodos e ferramentas,
mica (PROCAD) financiado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal serão aplicados em todos os projetos de desenvolvimento (ROZENFELD et al,
de Nível Superior (CAPES). 2006). A Figura 1 mostra o modelo de referência proposto por Rozenfeld et al
(2006) e conhecido como Modelo Unificado.
A visão do PDP que fundamenta o Modelo Unificado é a de um processo de
negócio (Business Process BP), que segundo Rozenfeld (2002), é um fenôme-
no que ocorre dentro das empresas e que contém um conjunto de atividades,
associadas às informações manipuladas, utilizando os recursos e a organiza-
ção da empresa. Forma uma unidade coesa e deve ser focalizado em um tipo
de negócio, que normalmente está direcionado a um determinado mercado/
cliente, com fornecedores bem definidos.

Todo processo de negócio pode ser representado por meio de um modelo, que
representa todos os seus elementos. Para Vernadat (1996), um modelo dessa
natureza serve para “harmonizar os fluxos de informação, controle e material
dentro da organização, para aprimorar a comunicação, cooperação e coorde-
nação dentro da empresa tal que seja atingido uma maior produtividade, flexi-
bilidade, capacidade de reação e um melhor gerenciamento de mudança”.

Dessa forma, o PDP como um processo de negócio pode ser representado por
meio de um modelo que oriente a estruturação de seus elementos visando Figura 1. Modelo unificado (ROZENFELD et al, 2006)
sua gestão. A função básica dos modelos para gestão do PDP é uniformizar os
conceitos para que todos consigam ver de forma semelhante o produto sendo Este modelo organiza o PDP em macro-fases, subdivididas em fases, ativida-
desenvolvido, sendo o processo de desenvolvimento do produto padrão sobre des e tarefas. As macro-fases deste modelo são: Pré-desenvolvimento (garante
o qual o desenvolvimento de projetos está baseado normalmente representa- que as estratégias da empresa sejam seguidas no momento da definição do
do por um modelo de referência. portfólio de produtos, além de incluir a atividade onde ocorre o detalhamento
dos projetos escolhidos no portfólio), Desenvolvimento (corresponde ao pro-
Um modelo de referência descreve as atividades, os resultados esperados, os jeto do produto, iniciado na declaração de escopo e no planejamento vindo da
responsáveis, os recursos disponíveis, as ferramentas de suporte e as informa- macro-fase anterior e finalizado com o lançamento do produto no mercado.
ções necessárias ou geradas no processo e consiste de uma coleção das melho-
res práticas no desenvolvimento de produtos, sendo usualmente representado Nesta macro-fase estão inclusas as fases de Projeto Informacional, Projeto Con-
em visões parciais. ceitual, Projeto Detalhado, Preparação da Produção e Lançamento do Produto)
e Pós-desenvolvimento (responde pelo acompanhamento do produto após seu
Ao fazer uso de um modelo de referência, uma empresa define um padrão lançamento, até a sua retirada do mercado, avaliando todo o seu ciclo de vida e
para os projetos de desenvolvimento de seus produtos, obtendo, assim, uma coletando informações para referência nos próximos desenvolvimentos).
visão única desse processo de negócio, nivelando os conhecimentos entre os
atores que participam de um desenvolvimento específico, e construindo, uma As macro-fases de pré e pós-desenvolvimento são gerais, assim como o projeto

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informacional, a preparação da produção e o lançamento do produto dentro al, 2007). Este instrumento é construído ao redor de uma questão central, que
da macro-fase de desenvolvimento. As fases de desenvolvimento conceitual e representa a razão da investigação, e é expressa por meio da utilização de con-
detalhado consideram as particularidades dos produtos e os seus correspon- ceitos e termos específicos.
dentes processos de manufatura.
Esse procedimento levantou 105 métodos e ferramentas de ecodesign, dentre
os quais alguns bem conhecidos, como as 10 Regras de Ouro do Ecodesign e
3 Metodologia aqueles conhecidos como métodos simplificados de avaliação de ciclo de vida
(Simplified LCA methods), tai como a Design for Environment Matrix (DfE Ma-
O método hipotético dedutivo está sendo utilizado como abordagem metodo- trix) e a matriz MECO (Materials, Energy, Chemicals and Others).
lógica para o desenvolvimento da pesquisa, que compreende ainda o uso da
metodologia de revisão bibliográfica sistemática e a elaboração de estudos de
4.2 Classificação e sistematização dos métodos e ferramentas de eco-
caso para a validação da integração proposta.
design
A hipótese defendida é que a obtenção das vantagens competitivas e ambien-
tais do ecodesign pode ser obtida por meio da integração das questões am- No segundo passo, os métodos e ferramentas levantados foram cadastrados
bientais de forma sistemática do processo de negócio de desenvolvimento de e classificados, de acordo com critérios estabelecidos. Os critérios de classi-
produtos das empresas. ficação foram o objetivo principal do método ou ferramenta e a natureza dos
dados demandados para seu uso (dados de entrada) bem como a natureza dos
dados gerados pelo seu uso (dados de saída).
4 Integração do ecodesign ao modelo unificado
- Natureza dos dados de entrada e saída: os dados de entrada neces-
Uma vez que o modelo de referência para o desenvolvimento de produtos sários para um determinado método/ferramenta e aqueles gerados por eles
ecológicos de que trata esse trabalho encontra-se em desenvolvimento, serão podem ser qualitativos, quantitativos ou ambos.
aqui apresentados os passos empreendidos na sua construção e o exemplo da - Qualitativos;
integração na fase de Projeto Conceitual do Modelo de Referência Unificado. - Quantitativos;
- Qualitativos e quantitativos.
4.1 Levantamento dos métodos e ferramentas de ecodesign
- Natureza do objetivo principal do método/ferramenta
A metodologia da Revisão Bibliográfica Sistemática foi utilizada para o levanta- - Prescritivo (métodos/ferramentas que apresentam sugestões
mento dos métodos e ferramentas do ecodesign a serem integrados ao mode- genéricas (oriundas de um conjunto pré-estabelecido de melhores práticas de
lo de referência para o processo de desenvolvimento de produtos. redução de impactos ambientais) para a melhoria do desempenho ambiental
de produtos considerando impactos ambientais recorrentes a produtos indus-
A revisão sistemática é uma metodologia de pesquisa específica, desenvolvida triais);
formalmente, para levantamento e avaliação de evidências pertencentes a um - Comparativos (métodos/ferramentas que visam comparar o
determinado foco de pesquisa. O processo de condução da pesquisa em uma desempenho ambiental de diferentes produtos, conceitos ou alternativas de
revisão sistemática segue uma seqüência bem definida de passos metodoló- projetos para um mesmo produto);
gicos, de acordo com um protocolo desenvolvido previamente (BRERETON et - Analíticos (métodos/ferramentas que visam identificar po-

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21
tenciais de melhorias no desempenho ambiental de produtos por meio da de-
terminação de seus impactos ambientais).

4.3 Integração dos métodos e ferramentas de ecodesign ao modelo de


referência

A integração propriamente dita se deu no terceiro passo e foi feita relacionan-


do o objetivo e natureza dos dados dos métodos e ferramentas de ecodesign
com os objetivos e natureza dos dados (entradas e saídas) das fases previstas
no Modelo Unificado.

Nesse processo, especial atenção foi dada ao alinhamento dos resultados das
fases do modelo unificado com os dados de saída dos métodos e ferramentas, Figura 2: Informações principais e dependências entre as atividades da fase de Projeto Concei-
de tal sorte a garantir que aqueles resultados refletissem de fato a busca pela tual (ROZENFELD et al, 2006)
redução dos impactos ambientais do produto em desenvolvimento.
A partir da análise das especificações-meta do produto advindas da fase de
No caso do modelo proposto, a integração do ecodesign implicou fundamen- Projeto Informacional, elabora-se a descrição total ou global desse produto
talmente na alteração de atividades pré-existentes no Modelo Unificado, em- (modelo funcional global), que deve ser um resumo do que se deve esperar
bora tenham sido propostas também novas atividades am alguns casos. do produto funcionalmente. Em seguida, são realizados desdobramentos su-
cessivos (decomposição) dos sistemas em subsistemas e em componentes por
meio de um processo top down (do produto final para os componentes) defi-
Como as maiores oportunidades para melhoria do desempenho ambiental de
nido assim a modelagem funcional do produto.
um produto estão na fase de geração de conceito (GRAEDEL; ALLENBY, 1995),
especial atenção foi dada a essa fase, a qual será utilizada nesse artigo para
Isso feito, inicia-se o desenvolvimento de princípios de solução, onde inicial-
ilustrar como foi feita a integração de ecodesign ao Modelo Unificado.
mente o efeito físico (ou químico, ou biológico...) desejado é definido e em
seguida define-se o portador desse efeito definindo assim o princípio de solu-
4.4 Exemplo de integração no Projeto Conceitual ção (solução individual). As combinações dos princípios de soluções individuais
formam os princípios de solução totais para o produto, sendo a matriz morfo-
Na fase do Projeto Conceitual, as atividades da equipe de projeto relacionam- lógica uma importante ferramenta utilizada nessa atividade.
se com a busca, criação, representação e seleção de soluções para o problema
de projeto. A Figura 2 mostra as atividades previstas no Modelo Unificado para Os princípios de solução totais definem as diferentes partes que compõem o
a fase do Projeto Conceitual. produto, ou seja, definem a sua arquitetura, onde as alternativas de soluções
são desdobradas em Sistemas, Subsistemas e Componentes (SSC). A atividade
seguinte (Analisar SSC) pode ser vista como sendo um refinamento da defi-
nição da arquitetura do produto, onde são identificados e analisados fatores
críticos do produto, observados em seu ciclo de vida, como questões de fun-

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cionamento, fabricação, montagem, desempenho, qualidade, custos, uso, des- Um modelo genérico para o desenvolvimento de produtos ecológicos pode
carte e outros. servir de referência no estabelecimento de modelos específicos em empresas
aumentando, dessa forma, a chance de produtos que causem menos impacto
Na atividade seguinte, define-se a ergonomia e estética do produto e então ambiental cheguem ao mercado e sejam de fato consumidos pela população.
o processo de seleção da concepção do produto se inicia, marcando a ultima
atividade específica dessa fase. Assim, para garantir que o produto em desen- A integração dos métodos e ferramentas de ecodesign ao processo de desen-
volvimento seja ecológico, aspectos ambientais devem ser levados em con- volvimento de produtos pode se dar pela alteração de atividades e tarefas exis-
sideração tanto na escolha das alternativas de solução quanto na seleção da tentes ou, ainda, pela criação de novas tarefas e atividades que considerem es-
concepção do produto. pecificamente as questões ambientais durante o processo de desenvolvimento
de produtos.
Dessa forma, as atividades “Desenvolver as alternativas de soluções”, “Anali-
sar SSCs” e “Selecionar concepções alternativas” devem considerar o uso de
métodos e ferramentas de ecodesign. A definição do método ou ferramen-
ta de ecodesign a ser utilizado depende fundamentalmente da quantidade e
qualidade das informações referentes ao produto em desenvolvimento. Por
exemplo, para o caso do desenvolvimento de novos produtos, durante essa
fase as informações sobre o produto são ainda escassas, não permitindo, por
exemplo, o uso de ferramentas quantitativas (como a Avaliação do Ciclo de
Vida ACV). No entanto, métodos qualitativos como as 10 Regras de Ouro do
Ecodesign, por exemplo, podem ser utilizadas para guiar as atividades da equi-
pe de desenvolvimento de alternativas de solução para o projeto do produto.

Quanto à escolha dos diferentes princípios de soluções, bem como das diferen-
tes concepções para o produto, pode utilizar métodos de ecodesign conheci-
dos como métodos simplificados de avaliação de ciclo de vida (simplified LCA
methods), como a Design for Environment Matrix (DfE Matrix) e a matriz co-
nhecida como MECO (Materials, Energy, Chemicals and Others), os quais po-
deriam estabelecer um processo de trade off entre o que é funcionalmente
necessário ao produto com o que é ambientalmente desejado.

5 Conclusões
Modelos de referência têm sido utilizados para gerenciar o PDP aumentando
a probabilidade de êxito comercial dos produtos. Para que os produtos ecoló-
gicos se tornem uma opção de consumo, é preciso que o ecodesign faça parte
das melhores práticas de desenvolvimento de produto constando do processo
padrão das empresas.

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A Educação através do Design como estratégia para um futuro sustentável
Education by Design as a strategy for a sustainable future

Dr. Antônio Martiniano Fontoura


UFPR, PUCPR, UTFPR, Brasil
amfont@matrix.com.br

Educação através do Design, Educação para o Desenvolvimento Sustentável, Educação para a Sustentabilidade

A EdaDe é uma abreviatura da expressão Educação através do Design. Teve sua origem num trabalho de pesquisa
cuja proposta era investigar o potencial pedagógico das atividades de design (FONTOURA, 2002). O estudo inicial-
mente voltou-se para a educação de crianças e jovens, mas sua abrangência pode ser estendida à todos os níveis
de ensino. O presente trabalho tem como objetivos identificar e expor algumas relações da EdaDe com o que se
tem chamado de EDS Educação para o Desenvolvimento Sustentável ou EpS Educação para a Sustentabilidade e
posicionar a EdaDe como um recurso para a promoção de um futuro mais sustentável.

Education by Design, Education for Sustainable Development , Education for Sustainability

EdaDe is an abbreviation of the Portuguese expression Educação através do Design [Education by Design]. Its ori-
gins is in a research work that investigated the pedagogical potential of design activities (FONTOURA, 2002). The
study aimed children’s and youngster’s education but it can be extended to all teaching levels. The main objectives
of this paper are: to identify and show the relationships between EdaDe and what has been called ESD - Education
for Sustainable Development or EfS Education for Sustainability and to position the EdaDe proposal as a resource
to promote a more sustainable future.

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1 Introdução da Educação para o Desenvolvimento Sustentável promovida pela ONU - Orga-
nização das Nações Unidas e liderada pela UNESCO - Organização das Nações
Aspectos culturais, sociais e econômicos determinam o modus de projetar, pro- Unidas para a Educação, Ciência e Cultura. Porém, foram atribuídas diversas
duzir, distribuir e consumir os bens e serviços no ambiente artificial construído conotações aos termos desenvolvimento e sustentabilidade, o que torna difícil
pelo ser humano. É evidente e endógeno ao ciclo projetar, produzir, distribuir, a compreensão das verdadeiras intenções e ideologias atreladas às propostas
consumir, como atividade humana, a geração de impactos ambientais con- educacionais. A escola como instituição social encarregada pela formação in-
sumo de energia + consumo de matéria prima = geração de resíduos sólidos, telectual das novas gerações, deve ser crítica quanto aos seus próprios propó-
efluentes líquidos e gases em cada uma das suas principais etapas. Os mode- sitos e finalidades diante das novas realidades sociais e econômicas.
los econômicos adotados nas últimas décadas promoveram uma aceleração no
giro do ciclo em prol do que se denominou “desenvolvimento”. A aceleração 2 Tentando esclarecer melhor os termos
trouxe consigo um agravamento dos problemas ambientais e paradoxalmente,
o desenvolvimento econômico e social de alguns promoveu uma degradação Desenvolvimento
econômica e social de outros, além do agravamento dos problemas ambientais
de todo o planeta. O termo desenvolvimento per se, já é carregado de um caráter ideológico,
não é neutro (GADOTTI, 2002). O termo refere-se ao nível de industrialização,
O agravamento desses problemas e as evidências de que eles são decorrentes padrão de consumo e capacidade de acumulação de bens materiais de uma
do modo de vida adotado pela humanidade fez emergir, em escala mundial, o determinada sociedade que a partir destes, se diz desenvolvida, em vias de
discurso da sustentabilidade. Organizações governamentais e civis, nacionais desenvolvimento ou é, por outras, considerada subdesenvolvida.
e internacionais, passaram a valorizar em suas discussões temas ligados ao
meio ambiente, ao desenvolvimento sustentável e ao desenvolvimento social. O padrão de desenvolvimento e bem estar social contemporâneo é baseado
Os resultados desses debates influenciaram diversas áreas, entre elas, notada- no consumo material e isto é um problema quando se constata que o cres-
mente, a educação. cimento populacional aumenta e os recursos físicos do planeta se tornaram
cada vez mais limitados (MANZINI e JEGOU, 2003). Essa situação pressiona a
Nessa perspectiva surge a proposta de EDS - Educação para o Desenvolvimento humanidade a se reorganizar em direção a um futuro sustentável, buscando
Sustentável ou EpS - Educação para a Sustentabilidade, que ganha cada vez soluções para se adequar a uma realidade de recursos limitados.
mais espaço no panorama político educacional global. O tema está presente
em publicações, acordos legais, compromissos e propostas resultantes de En- O que muitas vezes se questiona é o modelo econômico adotado. O economis-
contros, Conferências e Congressos locais, regionais e mundiais. Observa-se ta Thomas R. Malthus (1766-1834) no final do século XVIII, já indicava a escas-
que por algum motivo não muito bem explicado, mas muito discutido, a aten- sez de recursos como fator limitante do crescimento, perante a evidência de
ção que antes era dada á EA - Educação Ambiental voltou-se ao DS - Desenvol- problemas como o desemprego, a pobreza e doenças, associados à revolução
vimento Sustentável ou Educação para a Sustentabilidade (SAUVÉ, 1997). Para industrial.
alguns educadores a Educação Ambiental vem antes e o desenvolvimento sus-
tentável e a sustentabilidade deveriam ser temas de estudo desta disciplina, Em 1972, seguindo indiretamente os passos de Malthus, o Clube de Roma pu-
entre outros como a Justiça Ambiental, a Carta da Terra, a Agenda 21. blica, por meio de uma equipe do MIT - Massachusetts Institute of Technology,
um relatório denominado “Os Limites do Crescimento” [The Limits of Growth]
O valor da educação foi reconhecido como meio de se promover o suposto (MEADOWS, 1972). O documento concluía que se fossem mantidas as tendên-
desenvolvimento sustentável com o lançamento da DEDS 2005-2014 - Década

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cias atuais de crescimento da população, industrialização, poluição, produção 2- O desenvolvimento se refere às pessoas e não aos objetos;
de alimentos e utilização de recursos, atingir-se-iam os limites de crescimentos 3- Crescimento não é a mesma coisa que desenvolvimento, e o desenvolvi-
dentro dos cem anos seguintes. Sendo assim, quanto antes se investisse na mu- mento não precisa necessariamente do crescimento;
dança destas tendências, maiores seriam as probabilidades de criar condições 4- A economia não deve desvalorizar o ecossistema;
de estabilidade ecológica e econômica, numa perspectiva de longo prazo. 5- A economia é um subsistema de um sistema maior e finito que é a biosfera,
logo o crescimento permanente é impossível.
O relatório promoveu muitas repercussões na época de sua publicação, mas
poucas mudanças significativas no modelo econômico e industrial produtivo Sustentabilidade
vigente. Talvez um dos maiores equívocos associados a sustentabilidade é
pensar que seja possível manter o ritmo de crescimento (e desenvolvimento), O termo sustentabilidade refere-se à qualidade do que se pode manter em
como se não fosse haver um limite. O Clube de Roma deixou isto bem claro e equilíbrio por longo período. Do ponto de vista ambiental, pode ser definida
evidente. como:
“[...] condições sistêmicas segundo as quais em nível regional e planetário, as
Por vezes se questiona o processo de globalização da economia. Assim, para o atividades humanas não devem interferir nos ciclos naturais me que se baseia
economista Enrique Leff: tudo o que a resiliência do planeta permite e, ao mesmo tempo, não devem
empobrecer seu capital natural, que será transmitido às gerações futuras.”
“a degradação ambiental emerge do crescimento e da glo- (MANZINI e VEZZOLI, 2002, p.27)
balização da economia. Esta escassez generalizada se ma-
nifesta não só na degradação das bases da sustentabilidade Para Fritjof Capra:
ecológica do processo econômico, mas como uma crise de
civilização que questiona a racionalidade do sistema social, “o que é sustentado numa comunidade sustentável não é o
os valores, os modos de produção e os conhecimentos que crescimento econômico, o desenvolvimento, a quota de
o sustentam.” (LEFF, 2002, p. 56) mercado ou a vantagem competitiva, mas a totalidade da
rede da vida da qual a nossa sobrevivência a longo prazo
Numa visão crítica e alternativa, Max-Neef (in: REVISTA BRASIL SUSTENTÁVEL, depende. Em outras palavras, uma comunidade sustentável
2007) distingue crescimento e desenvolvimento. Para ele uma economia pode é concebida de uma forma onde o comércio, a economia,
parar de crescer e continuar se desenvolvendo. Em todas as sociedades, há um as estruturas físicas e as tecnologias não interferem com a
período em que o crescimento econômico leva a uma melhoria da qualidade capacidade inata da natureza para sustentar as formas de
de vida bem estar social, mas só até certo ponto. A partir daí, se houver mais vida.” (CAPRA, 1999, p.1)
crescimento, a qualidade de vida tende a se deteriorar. E é, segundo ele, o
que se tem observado com as economias atuais. Tornaram-se insustentáveis, O termo sustentabilidade parece ter sido concebido para alertar o ser humano,
degradantes e desumanas. Faz-se necessário uma nova maneira de pensar as independente de suas crenças, do perigo que ele mesmo representa para o
relações econômicas, sociais e ambientais. planeta. Em função do comprometimento da biodiversidade, quase todas as
atenções da sustentabilidade têm se voltado para o meio ambiente porém,
Assim, propõe um novo tipo de economia, baseada em cinco alicerces: ela possui infindáveis vertentes e estas a transformaram num tema complexo.
1- A economia está para servir as pessoas e não as pessoas estão para servir a Torna-se quase impossível limitá-la á um único conceito pois este serviria mui-
economia; to mais para acomodar interesses do que para compreendê-la.

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Desenvolvimento sustentável de alguma maneira os questionamentos sobre os limites do crescimento inicia-
dos na década de 70. (LIMA, 2003).
A associação dos termos desenvolvimento e sustentabilidade deu origem à ex-
pressão desenvolvimento sustentável. A expressão aparece oficialmente num Percebe-se que o tema é complexo. Pode-se dizer o mesmo em relação à edu-
documento de 1980, denominado “World Conservation Strategy”, publicado cação voltada ao desenvolvimento sustentável, pois as relações entre ela e a
pela IUCN - International Union for Conservation of Nature em parceria com o sustentabilidade reúne diferentes pontos de vista.
UNEP - United Nations Environment Programme [Programa das Nações Unidas
para o Meio Ambiente] e com o WWF - Worldwide Fund for Nature. 3 Na educação
Mas foi em 1987, com a publicação do relatório da WCED - World Commission Freqüentemente afirma-se que os sistemas educacionais atuais não conse-
on Environment and Development [Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente guem dar conta dos desafios apresentados pelas rápidas transformações so-
e Desenvolvimento], denominado “Our Common Future” [Nosso Futuro Co- ciais, econômicas e ambientais (ecológicas) que se apresentam e assim, a di-
mum] ou “Relatório Brutland”, como também ficou conhecido, que a expres- reção para a qual a educação deve seguir ainda é tema de grande divergência
são desenvolvimento sustentável popularizou-se. entre os pesquisadores.

Para a Comissão o desenvolvimento sustentável é aquele que: “satisfaz as ne- As denominações Educação para o Desenvolvimento Sustentável ou Educação
cessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras para a Sustentabilidade, geram algumas discussões conceituais. As críticas de-
de suprir suas próprias necessidades.” […that meets the needs of the present correm do fato já mencionado mais acima, de que os conceitos de desenvolvi-
without compromising the ability of future generations to meet their own ne- mento e de sustentabilidade não serem imparciais e estarem sujeitos a várias
eds] (WCED,1887, p.43). O relatório apresenta uma visão complexa das causas interpretações (LIMA, 2003; GADOTTI, 2002).
dos problemas sócio-econômicos e ecológicos da sociedade e as inter-relações
entre a economia, tecnologia, sociedade e política. Para Bob Jickling (1994) a educação enquanto prática de liberdade, não pode
ser dirigida para um fim específico e assim, questiona a educação “para” a
São várias as acepções dadas ao conceito de desenvolvimento sustentável e, sustentabilidade a partir da sua instrumentalidade. Para ele a educação pres-
freqüentemente, inspiradas mais por interesses econômicos do que por ques- supõe autonomia e pensamento crítico. Ela não deve orientar os estudantes a
tões sociais ou ecológicas. Uma possível definição foi dada por Lester Brown, uma finalidade pré-determinada. A educação com finalidade pré-determinada
do Worldwatch Institute: “Uma sociedade sustentável é a que satisfaz as ne- sugere mais um treinamento para a aquisição de habilidades do que um apren-
cessidades sem diminuir as perspectivas das gerações futuras” (BROWN, 1981, dizado comprometido com o entendimento e a compreensão. Uma educação
apud CAPRA, 1996, p. 24). “para” sugere uma forma de pensar à qual se deve apenas obedecer. Jickling
publicou suas idéias a mais de uma década, mas o debate sobre o que significa
Mas as críticas continuam. Por vezes o discurso do desenvolvimento sustentá- desenvolvimento sustentável e como atingi-lo ainda persiste, permeado por
vel e da sustentabilidade é entendido como uma operação político-normativa valores, interesses e forças antagônicas (LIMA, 2003)
e diplomática, empenhada em sanar um conjunto de contradições expostas e .
não respondidas pelos modelos de desenvolvimento adotados até então. Dian- Lucie Sauvé (1997) também tem contribuído para o debate. Analisou como
te dos efeitos da degradação ambiental e da necessidade de dar continuidade podem ser estabelecidas as relações e interações entre a EA Educação Am-
ao sistema produtor de mercadorias, fazia-se necessário achar um mecanismo biental e o desenvolvimento sustentável. Sauvé demonstra que as diferentes
para gerenciar a reprodução econômica do capital, além de tentar responder concepções de desenvolvimento sustentável correspondem a diferentes pers-

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pectivas educacionais. Para ela, fica evidente que as abordagens educativas usar o design no dia-a-dia.
trazem implícitas determinadas concepções de desenvolvimento sustentável e
que a maneira como se entende o desenvolvimento sustentável também inter- A EdaDe faz uso de atividades de design como meio para a promoção das
fere na adoção de abordagens educativas específicas. Portanto ter claro o que aprendizagens e estas visam interar o pensamento com a ação, o corpo com a
se entende por desenvolvimento sustentável e sustentabilidade parece ser de mente, o cérebro com as mãos, o fazer com o pensar, a teoria com a prática e
extrema importância. o abstrato com o concreto.
Para Gustavo Lima (2003), sob um ponto de vista bastante crítico, os problemas As atividades de design na escola, implicam no desenvolvimento da capaci-
atuais da educação decorrem da inadequação entre o paradigma dominante dade ativa de buscar e acessar informações, de fazer e construir coisas; da
(cartesiano-mecanicista) na sociedade e ciências ocidentais e que tais proble- capacidade reflexiva de pensar sobre o que será ou sobre o que foi feito ou
mas demandam uma nova abordagem mais holística e integradora. construído; e da capacidade criativa de imaginar, conceber, adaptar e inventar
coisas e maneiras novas de realizá-las. Estudar sobre o design e suas manifes-
Pode afirmar, de maneira bastante objetiva que uma educação voltada à sus- tações é criar a oportunidade às crianças e jovens, de manterem contato com
tentabilidade demanda o fomento do espírito colaborativo, o desenvolvimento a cultura material, com o universo simbólico e com a realidade objetiva de sua
da capacidade crítica, da autonomia e da criatividade. Deve promover o en- sociedade.
tendimento e a discussão sobre as crises, o julgamento de valores e o posicio-
namento ético. Os modelos tradicionais, baseados na transmissão de conhe- A EdaDe emprega basicamente três tipos de atividades de design (FONTOURA,
cimentos, na competição e no individualismo, não atendem estes requisitos. 2002), são elas:
São necessárias concepções educacionais criativas e dinâmicas, centradas na
conscientização, na mudança de comportamento, na capacidade de avaliação, 1- AIAs - Atividades de investigação e Análise como o próprio nome diz, os
no desenvolvimento de competências e na participação de todos. aprendizes desenvolvem estudos e investigações sobre temas relacionados ao
design, materiais, tecnologias, processos de fabricação, etc.
4 E a EdaDe? 2- TPDs - Tarefas Práticas de Design por meio delas, os aprendizes realizam
pequenas construções, exploram sistemas construtivos, aprendem a utilizar
A EdaDe como proposta pedagógica tem seus fundamentos no ensino ativo, ferramentas e equipamentos, etc.
no construtivismo e na interdisciplinaridade. A EdaDe entende o design como 3- ADCs - Atividades de Design e Construção nestas os aprendizes realizam
uma forma de pensar ou de conduzir o pensamento e como tal e pode ser en- pequenos projetos de design, aplicando princípios metodológicos e criativos
sinado, aprendido e praticado no dia-a-dia por qualquer pessoa. para a solução de problemas.

Para Ken Baynes (1996) os seres humanos usam certas habilidades mentais, A Edade abre espaço para a reflexão sobre as questões ambientais e sobre a
físicas e sociais no design: sustentabilidade ao colocar em prática as atividades de design. Dentre os três
tipos básicos de atividades apresentados, as que mais permitem a reflexão so-
1- Habilidade de imaginar um mundo diferente; bre as questões ambientais, desenvolvimento sustentável e sustentabilidade,
2- Habilidade de externar as idéias e partilhar com os demais; e são as AIAs. Nelas podem ser desenvolvidos pequenos trabalhos sobre:
3- Habilidade de usar ferramentas e recursos para transformar as idéias em
realidades. - a maneira de projetar, produzir, distribuir e consumir os bens e serviços (ques-
De certa maneira, todas as pessoas fazem uso das suas habilidades de fazer e tões sociais, econômicas e ambientais);

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- o ciclo de vida de um produto (do berço ao berço); pensamentos. E é durante estas construções e experimentos que as reflexões
- os processos de fabricação de produtos e seus impactos ambientais (produ- são promovidas.
ção de resíduos);
- o uso de matérias primas e seus impactos ambientais (degradação e renova- As ADCs exigem uma visão mais holística do processo de design, são mais
ção); abrangentes e envolvem AIAs, TPDs e a solução criativa de problemas nas suas
- o uso de materiais recicláveis e reciclados na produção de novos produtos; aplicações. Assim, costumam ser muito ricas em termos de experiências e re-
- o consumo energético na produção dos produtos; flexões. As AIAs são utilizadas nas fases de problematização, análise e definição
- o consumo energético no uso dos produtos; do problema a ser resolvido e as TPDs nas fases de solução do problema pro-
- as necessidades e desejos dos consumidores (persuasão nos meios de comu- priamente dito geração de alternativas, desenvolvimento e comunicação da
nicação, indução e incentivos ao consumo, o consumo conspícuo); solução. As ADCs promovem as habilidades de imaginar, de externar as idéias
- o consumo e descarte de produtos (estratégias de desperdício e obsolescên- e partilhar com os demais; e de usar ferramentas e recursos para transformar
cia programada); as idéias em realidades.
- as conseqüências do hiper-consumismo (limites da produção e do consu-
mo); Assim, numa ADC voltada à Educação para a Sustentabilidade, o aprendiz pode
- o consumo sustentável, etc. identificar uma necessidade contextualizada contexto social, econômico e am-
biental , definir o problema de design a ser resolvido, estabelecer critérios e re-
Deve-se salientar que a adequação de linguagem e vocabulário, a abrangência quisitos que levem em consideração questões relacionadas à sustentabilidade,
e o aprofundamento nos estudos, investigações e análises sobre os temas de- desenvolver alternativas de solução “sustentáveis”, escolher uma alternativa
penderão naturalmente da faixa etária com que se trabalha porém, as ativida- com base nos parâmetros definidos, desenvolvê-la, construí-la e finalmente
des devem sempre visar a promoção do pensamento crítico no aprendiz. comunicá-la.

Durante a execução das TPDs também é possível promover algumas reflexões 5 Enfim...
interessantes, entre elas:
Em termos estratégicos, as atividades de design, quando bem empregadas e
- como realizar construções que permitam a separação de materiais para uma conduzidas na educação das crianças e jovens, permitem, como já tem sido
futura reciclagem ou reutilização dos mesmos; demonstrado em outros contextos educacionais vide caso do D&T - Design
- como unir dois ou mais materiais com o menor uso de energia (uso de encai- and Technology curricular britânico (DfEE/QCA. 1999) a construção de no-
xes, uniões, articulações, etc.); vos conhecimentos e compreensões, proporcionam o ensino e o aprendizado
- como obter estruturas mais rígidas, leves e estáveis com o menor uso de ma- ativos, desenvolvem habilidades mentais e físicas, promovem o julgamento de
teriais (empilhamento, justaposição, treliças, geodésicas, etc); valores e a exploração do pensamento criativo. Através delas, o educando usa,
- como reusar, reciclar e reutilizar materiais e produtos (uso de lixo que não é desenvolve e fomenta uma série de habilidades essenciais; e integra conheci-
lixo, sobras de confecções, etc.); mentos de diversas áreas do currículo escolar.
- como desenvolver sistemas mais eficientes; etc.
A prática da EdaDe, enriquece as experiências dos estudantes e os prepara
Deve-se lembrar que as TPDs referem-se a atividades nas quais as crianças e para enfrentar os desafios do mundo contemporâneo, entender as influências
jovens “colocam as mãos na massa”, em outras palavras, experimentam coisas, passadas, presentes e futuras das freqüentes mudanças no universo da arte,
constroem e montam pequenos sistemas ou produtos, tentam dar forma aos da tecnologia e da ciência e interferir de forma ativa, responsável e consciente

Anais do 1º Simpósio Paranaense de Design Sustentável (I SPDS)


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neste contexto de mudanças. Referências
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Gostaria de agradecer minha orientanda no Programa de Pós-Graduação em Fontoura, A. M. EDADE: a educação de crianças e jovens através do design. 2002. 334f. Tese
Design da UFPR, Liziane Regina Gomes, pela colaboração e pelo acesso às fon- (Doutorado em Engenharia de Produção) Programa de Pós-graduação em Engenharia de Produ-
tes de informações da sua pesquisa sobre a EdaDe e o consumo sustentável. ção. Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis.
Gadotti, M. 2002. Pedagogia da terra. São Paulo: Peirópolis.
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Anais do 1º Simpósio Paranaense de Design Sustentável (I SPDS)


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Design de embalagens em papelão ondulado movimentadas entre empresas
com base em sistemas produto-serviço
Design of B2B corrugated cardboard packages based on product-service systems

Cláudio Pereira de Sampaio


Universidade Positivo
Universidade Federal do Paraná, Brasil
qddesign@hotmail.com

Embalagens, papelão ondulado, design sustentável, sistemas produto serviço

Este artigo tem por objetivo apresentar os resultados finais de dissertação de mestrado desenvolvida no período
2007-2008, no Programa de Pós Graduação em Design da Universidade Federal do Paraná. Este trabalho considera
o Design como elemento que possa favorecer a sustentabilidade ambiental de embalagens em papelão ondulado
movimentadas entre empresas (B2B), e propõe o uso de diretrizes de projeto baseadas em sistemas produto-
serviço (PSS). Além da revisão bibliográfica sobre o tema, utilizou-se como estratégia de pesquisa o estudo de caso
em uma indústria automotiva da região metropolitana de Curitiba/PR. Este estudo foi complementado com uma
metodologia específica para o design de sistemas produto-serviço PSS, chamada MEPSS. O estudo de caso envol-
veu a realização de pesquisa de campo junto à indústria estudada, e abrangeu as fases de diagnóstico da situação
existente, análise do diagnóstico, intervenção, análise da intervenção e validação. A abordagem de Design baseada
no ciclo de vida da embalagem (life cycle design) foi utilizada ao longo do estudo de caso, e complementada pelo
uso de ferramentas de avaliação qualitativa e quantitativa, como o SDO-MEPSS e a Análise do Ciclo de vida. O
artigo é finalizado com a proposição de diretrizes de Design baseadas em PSS para embalagens B2B em papelão
ondulado.

Packages, corrugated cardboard, sustainable design, product service systems

This article aims to present the final results of the master dissertation developed during the 2007-2008 period, in
the Federal University of Paraná - UFPR Design Post-Graduation Program. This work consider design as element
that favours environmental sustainability of B2B corrugated cardboard packages, and proposes the use of design
guidelines based on product service systems (PSS). Moreover literature review, it was used, as research strategy,
a case study in an automotive company of metropolitan region of Curitiba/PR. This study was complemented with
a specific methodology for product service systems, called MEPSS. The case study included a field research in the
company, and covered the phases of diagnosis of the current situation, intervention, intervention analysis and va-
lidation. The design approach based on the packaging life cycle (life cycle design) was used in the study, and it was
complemented by using qualitative and quantitative analysis tools, as SDO-MEPSS and Life Cycle Analysis LCA. The
article is concluded by proposing design guidelines based on PSS for B2B corrugated cardboard packages.

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1 Introdução o recorte necessário ao estudo.

A presente dissertação foi desenvolvida dentro de um projeto de pesquisa in- No que diz respeito aos aspectos ambientais, os mais significativos referem-se
titulado “Desenvolvimento de Embalagens e Produtos para Exportação Utili- à:
zando a Tecnologia CFG para o Papelão Ondulado”, desenvolvido no Núcleo
de Design e Sustentabilidade da Universidade Federal do Paraná UFPR. Este - Representatividade alta das embalagens no volume global de resíduos, cerca
projeto teve duração de dois anos (agosto de 2005 a agosto de 2007), e foi de 65% (Brody; Marsh,1997);
financiado pelo CNPq Conselho Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento e - Crescimento no consumo de matéria-prima para embalagens;
FINEP Agência Financiadora de Estudos e Pesquisas. Foram concedidas três - Reciclagem como estratégia importante, mas insuficiente para enfrentar os
bolsas de pesquisa, sendo duas para Iniciação Científica (IC) e uma para Desen- problemas ambientais causados pelo aumento do consumo;
volvimento Tecnológico Industrial (DTI). - Problemas ambientais decorrentes da reciclagem (alto consumo de água e
energia) e da incineração (liberação de CO² e outros gases);
Além disso, o projeto foi apoiado com acesso a materiais de consumo e a in- - Alta produção de rejeitos (o que não se aproveita na triagem do papelão on-
formações de produção e mercado pelas duas empresas que são objeto desta dulado e que acaba sendo destinado à incineração ou aterros sanitários), em
dissertação, sendo uma montadora de veículos (Volkswagen do Brasil) e uma média, de 42% (Grimberg; Blauth, 1998);
indústria de embalagens em papelão ondulado (Embrart). O projeto de pesqui- - Exigências legais cada vez mais rígidas quanto à destinação de resíduos, como
sa supra descrito abrangeu três estudos de caso, e esta dissertação refere-se por exemplo, o Projeto de Lei dos Resíduos (PL 203/91), de 2002, e as Leis de
especificamente ao primeiro, destinado ao desenvolvimento de embalagens Resíduos estaduais;
retornáveis para o transporte de componentes automotivos. - Aumento na exigência por certificações ambientais, especialmente pelas em-
presas já certificadas quanto aos seus fornecedores;
A partir da tentativa de se responder à questão “Como tornar mais sustentável - Necessidade de alinhamento com o Plano Plurianual (PPA) 2004-2007 do
o uso da embalagem em papelão ondulado movimentada entre empresas?”, Governo Federal, Mega Objetivo II, que busca o “Crescimento com geração
o autor partiu da hipótese de que “a estratégia de utilização de sistemas pro- de trabalho, emprego e renda (...) ambientalmente sustentável e redutor das
duto-serviço (PSS) pode minimizar o impacto ambiental do uso de embalagens desigualdades sociais”, especialmente no item 21, que se propõe a “melhorar
movimentadas entre empresas”. Desta forma, a dissertação teve como propos- a gestão e a qualidade ambiental e promover a conservação e uso sustentável
ta principal a elaboração de “diretrizes para o Design de sistemas produto-ser- dos recursos naturais, com ênfase na promoção da educação ambiental” (Pla-
viço (PSS) voltadas a embalagens em papelão ondulado movimentadas entre noBrasil, 2004);
empresas de modo a reduzir o impacto ambiental das mesmas”. - Necessidade de alinhamento com a Agenda21 brasileira, especialmente com
as diretrizes do capítulo 21 (manejo ambientalmente saudável dos resíduos só-
lidos) e capítulos 29 e 30 (fortalecimento do papel do comércio e da indústria
2 Contexto da pesquisa
(Agenda21 Nacional, 2007). Neste último, este trabalho está ligado diretamen-
te à promoção de uma produção mais limpa e da responsabilidade empresa-
Sustentabilidade rial;
- Busca de alinhamento com os Objetivos do Milênio e com a iniciativa da
Embora o objetivo principal deste trabalho seja a redução de impactos am- UNESCO/ONU em promover, no período entre 2005 e 2014, a Década da Edu-
bientais, buscou-se, num primeiro momento, contextualizar a pesquisa tam- cação para o Desenvolvimento Sustentável, que consiste de amplos esforços
bém em relação aos aspectos econômicos e sociais, para, em seguida, se fazer voltados à educação para a sustentabilidade envolvendo os vários segmentos

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da sociedade, inclusive as empresas. de gestão em responsabilidade social (ABNT, 2004). Há também o uso de in-
dicadores sócio-ambientais do Instituto Ethos (Ethos, 2006), que permite às
Quanto aos aspectos econômicos, pode-se destacar os seguintes: empresas fazer uma auto-análise do desempenho sócio-ambiental que pode
ser transformado em um relatório para posterior comparação (benchmarking)
- O mercado de embalagens de papelão ondulado responde por cerca de 38% com a concorrência;
do mercado mundial de embalagem, com previsão de crescimento de 4,2% ao - Com relação ao bem estar e à geração de trabalho e renda, é relevante o fato
ano (Embalagemmarca, 2005); de que, no Brasil, muitas das pessoas de baixa renda trabalham na atividade
- Apesar da participação inferior à de asiáticos, norte-americanos e europeus, de coletar, separar, vender e reciclar resíduos. O papelão ondulado é um dos
é significativo o crescimento do mercado latino-americano, de quase 10% en- materiais mais presentes devido ao grande uso em embalagens. A atividade de
tre os anos de 2003 e 2004, o mais alto entre todos os mercados produtores; “catar papel” emprega ao redor de 25.000 pessoas nas unidades de separação
- O Brasil produz cerca de 3,9 milhões dos pouco mais de oito milhões de m2 de lixo. Há também os chamados catadores de rua e carroceiros, cuja ativida-
de papelão ondulado produzidos pela América Central e do Sul, quase metade de informal envolve cerca de 200 mil pessoas no Brasil (ANAP, 2005). Nesse
da produção da América Latina; contexto, uma estratégia que implique na redução da geração de resíduos de
- A indústria alimentícia é a grande consumidora do papelão ondulado, absor- papelão ondulado nas empresas deve também levar em conta o impacto so-
vendo mais de um terço de toda a produção (ABPO, 2005). Uma distribuição cial nesta atividade, uma vez que os maiores afetados seriam das classes mais
mista ocupa o segundo lugar, e a produção de chapas fica na terceira posição; pobres.
- Conforme diferentes autores, a embalagem pode representar no preço final
do produto de 9 (Lazlò, 1990) até 50% (Rauch Associates, 2002; Harckham, Sistemas Produto-serviço
1989; Briston and Neill, 1972);
- Os três componentes principais do custo da embalagem são a mão-de-obra, o Sistemas Produto-Serviço (Product Service Systems, ou PSS) têm como premis-
equipamento e o material (Lee e Lye (2003). Apenas cerca de 10% do custo da sa básica a desmaterialização do consumo, buscando a substituição do bene-
embalagem deve-se ao material de que ela é feita, sendo o restante relaciona- fício pela posse de produtos para o benefício pelo acesso aos benefícios finais
do ao processo produtivo e logistico (Stern, 1981); esperados.
- O setor logístico é, na maior parte das empresas, o que mais consome recur-
sos financeiros (Morabito; Morales; Widmer, 2000). Segundo UNEP (2002), PSS podem ser definidos como “o resultado de uma
inovação estratégica, com mudança no foco dos negócios do planejamento e
Finalmente, os aspectos sociais foram considerados no presente estudo: venda de produtos físicos tão somente, para a comercialização de sistemas de
produtos e serviços que, em conjunto, que são capazes de atender a demandas
- No âmbito das empresas brasileiras, é crescente o número de ações ligadas à específicas dos clientes”. Brezet et al (2001) ressalta ainda a dimensão ambien-
responsabilidade social. No entanto, a eqüidade e justiça entre os stakeholders tal dos PSS, afirmando que “serviços eco-eficientes são sistemas de produtos
ainda representam um desafio, pois a maior parte das relações empresariais é e serviços que são desenvolvidos para causar um mínimo impacto ambiental
fortemente baseada em relações custo-benefício de curto prazo; com o máximo de valor agregado”.
- Muitas empresas brasileiras já implantaram sistemas de gestão ambiental
(SGA’s), e obtiveram a certificação ISO14001 (EPELBAUM, 2004), mas ainda é Com base nestas definições, percebe-se o potencial destes sistemas para a sus-
pequeno o número de organizações buscando a certificação social. Já existem tentabilidade tanto econômica quanto ambiental, o que justifica a defesa do
iniciativas neste sentido, como a Social Accountability 8000 (SA8000), volta- uso da estratégia de PSS nesta dissertação.
da à certificação, e a norma ABNT NBR 16001, sobre requisitos para sistemas

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3 Método de pesquisa 2002) e os storyboards para proposição de cenários futuros, além do brainstor-
ming clássico com uso de analogias.
O método de pesquisa adotado foi o estudo de caso, realizado em uma in-
dústria montadora de automóveis da região metropolitana de Curitiba/PR. A A validação do estudo foi feita a partir da comparação com os resultados ob-
fundamentação teórica para este trabalho foi feita a partir de revisão de lite- tidos em um meta estudo de caso formado por três estudos de caso, em três
ratura relacionada à sustentabilidade, com um recorte teórico para o Design outras empresas que utilizam embalagens retornáveis em seus respectivos
sustentável, embalagens B2B e o papelão ondulado neste contexto. processos logísticos.

A pesquisa de campo foi realizada em cinco etapas: diagnóstico, avaliação da 4 Resultados


situação inicial, intervenção, análise da nova proposta e validação da proposta
de intervenção. Devido ao fato desta dissertação relacionar-se à abordagem A indústria Volkswagen foi escolhida para a pesquisa, por atender aos critérios
de sistemas produto-serviço (PSS), a pesquisa foi feita utilizando algumas eta- pré-definidos de porte (emprega mais de dois mil funcionários e produz cerca
pas e ferramentas de um método específico para o desenvolvimento de PSS, o de 18.000 automóveis/mês), localização geográfica (cerca de 30 quilômetros
MEPSS (Halen, Vezzoli, Wimmer, 2005). do NDS/UFPR) e por ter um Sistema de Gestão Ambiental implantado e certi-
ficado (ISO14000). Além disso, a empresa gerava mensalmente grande quanti-
O protocolo de coleta de dados é relativo à etapa de diagnóstico, e envolveu o dade de resíduos sólidos, que eram coletados por empresas próximas.
uso de ferramentas verbais e visuais, para a obtenção de dados tanto quantita-
tivos quanto qualitativos (Laurel, 2003), pois, nas fases seguintes de avaliação Com base no volume de resíduo de embalagens produzido, foi escolhido o pro-
(tanto da proposta inicial quanto da intervenção) buscou-se avaliar de forma cesso de pintura porque, segundo dados fornecidos pela Volkswagen, são ge-
quantitativa e qualitativa os dados obtidos. O diagnóstico incluiu entrevistas rados quase 600 Kg de papelão ondulado oriundo de caixas de papelão ondu-
semi-estruturadas, observação direta, registro fotográfico, e a coleta de dados lado descartáveis, que são usadas no transporte de componentes (que serão
quantitativos da embalagem no sistema logístico-produtivo da empresa, como chamadas de “chapelonas” no decorrer desta dissertação). Além destas caixas,
quantidade, composição e peso das matérias-primas e insumos, tempo e dis- a Volkswagen utiliza cerca de 50 kg por mês de filme plástico para manter as
tância de transporte e operações internas. Foram coletadas também amostras caixas fixas no palete, após o descarregamento na empresa.
de componentes utilizados da empresa.
Problemas encontrados
A análise dos dados foi feita de forma quantitativa e qualitativa tanto para a
situação inicialmente encontrada quanto para a proposta de intervenção, e Os problemas mais significativos encontrados na pesquisa de campo foram
envolveu o uso das ferramentas ACV Análise do Ciclo de vida (análise quanti- divididos em duas categorias: problemas sistêmicos e problemas no produto
tativa), com o uso do Software Simapro7 na versão educacional, e SDO-MEPSS (embalagem). Com relação ao sistemas, foram encontrados problemas como:
(análise qualitativa). A visualização tanto do sistema atual quanto do proposto - Remuneração dos fornecedores em função do volume de componen-
foi feita com o uso da ferramenta System Map, do MEPSS. Para a análise, foi tes entregue, e não da função desejada (proteção do veículo para pintura);
realizado também um workshop com especialistas da indústria estudada e de - Estimativa de retorno de investimento (payback) da empresa de ape-
um fornecedor de embalagens. nas três meses;
- Excesso de etapas (transporte, estoque-espera e inspeção-controle)
Para a intervenção, foram utilizadas ferramentas de criação também presen- que não agregam valor ao produto final. Isto tem implicações também ambien-
tes no MEPSS, como as diretrizes de Design sustentável (MANZINI e VEZZOLI, tais, principalmente no caso do transporte, com maior consumo de combustí-

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vel e emissão de poluentes; Com o propósito de aumentar a validade externa do estudo, os estudos com-
- Distância (cerca de 500km) entre os produtores dos componentes e a plementares foram realizados de forma semelhante ao estudo de caso prin-
Volkswagen; cipal. O meta-estudo de caso consistiu na pesquisa e avaliação qualitativa de
Foram detectados diversos problemas ligados à embalagem, como: outros três estudos de caso em empresas situadas em território brasileiro: Fiat,
- Baixa qualidade, sem padrão dimensional, adquiridas apenas com Embrart/Correios, e em uma indústria de cabeçotes.
base no custo financeiro da compra;
- Variedade de tamanhos, modelos e quantidades dos componentes Iniciou-se com um diagnóstico da situação, e em seguida, a análise das inte-
plásticos a serem transportados; rações entre os atores e dos problemas ambientais e econômicos. No entanto,
- Falta eventual de componentes na produção; a questão ambiental foi analisada apenas de forma qualitativa, pois não foi
- Uso, no processo, de caixas que eram destinadas a outra função. possível a realização de uma Análise do Ciclo de vida de cada um dos sistemas,
por limitações técnicas e cronológicas.
O uso da ferramenta ACV foi particularmente importante, pois permitiu verifi-
car que os impactos ambientais mais significativos estavam ligados à etapa de A análise qualitativa foi feita com o uso do checklist do SDO-MEPSS, e os re-
transporte, devido às distâncias percorridas e ao uso de combustível fossil, que sultados comparados com o estudo de caso principal. Assim como no estudo
provocam impactos como a emissão de gases tóxicos e o aquecimento global. de caso principal, os problemas encontrados foram analisados com foco no
sistema e na embalagem, e posteriormente comparados.
Soluções propostas
No caso da Fiat, segundo Maia (2001), o sistema era composto de embalagens
Assim como a detecção e análise dos problemas, também a proposição de so- retornáveis para o transporte de componentes automotivos, as quais eram mo-
luções foi dividida em soluções sistêmicas e soluções para a embalagem em si. vimentadas por distâncias de mais de dois mil quilômetros, entre Minas Gerais
Com relação ao sistema, foram propostos novos cenários logistico-produtivos e a cidade de Córdoba, na Argentina. O sistema envolvia diversos fornecedores,
considerando duas possibilidades: soluções aplicáveis de forma imediata e so- pois eram utilizados, além de madeira e aço, vários materiais complementares,
luções considerando um horizonte temporal de dez anos, considerando ainda como pregos, fitas, parafusos, lonas plásticas e espumas. Foram relatados nes-
a possibilidade do componente plastic transportado existir ou não. Ao todo, te estudo reduções no descarte de embalagens (600 em oito meses), e ganhos
foram gerados seis diferentes cenários, com o uso de ferramentas como o sys- econômicos entre 11 e 32%, dependendo da embalagem avaliada.
tem map e os storyboards.
No estudo feito junto à indústria de embalagens Embrart, verificou-se a subs-
Com relação às embalagens, foram propostos dois conceitos: embalagem re- tituição do uso de racks metálicos, usados na logística interna da empresa
tornável individual, para cada componente em separado, e embalagem retor- Correios, por embalagens compactáveis mistas de papelão ondulado e poli-
nável tipo kit, que conteria todos os modelos e quantidades de componentes propileno. As embalagens deveriam suportar até três toneladas, e ter como
necessários para a montagem de um veículo completo. Tanto as soluções de características principais a redução de peso, volume e facilidade de compac-
cenários quanto de embalagem foram apresentadas à equipe da empresa em tação.
um workshop, e a alternativa de embalagem tipo kit foi considerada a mais
promissora em termos operacionais. Entre os principais aspectos a serem destacados neste sistema estão: a viabili-
dade no uso de materiais alternativos (papelão em vez de aço), e o papel ativo
Resultados do meta-estudo de caso da fornecedora de embalagens como fornecedora também de serviços de ma-
nutenção, reparo, substituição e destinação final da embalagem. No entanto,

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verificou-se que, também neste caso, as embalagens eram transportadas por Os resultados indicaram também que a gestão do ciclo de vida das embalagens
grandes distâncias, por vezes similares às do estudo feito na Fiat. era feita pela de forma parcial empresa em todos os estudos de caso, e que a
manutenção e reparo das embalagens é algo comum na maioria das empresas.
Finalmente, no estudo feito por Maier e Sellitos (2007), é relatado o sistema No entanto, este aspecto poderia ser aprimorado com o uso de um PSS no qual
de embalagens retornáveis utilizado por uma indústria fabricante de cabeçotes houvesse uma empresa responsável e especializada para tal. Da mesma forma,
automotivos localizada em Canoas, no Rio Grande do Sul. Esta empresa produz esta empresa faria a destinação adequada dos resíduos, que já era terceirizada
e exporta cabeçotes para uma fabricante de automóveis situada em Melrose pelas empresas estudadas.
Park, nos Estados Unidos. O sistema utilizado consistia no embalamento dos
cabeçotes em paletes retornáveis feitos de plástico termoformado pelo pro- De forma geral, observou-se que as empresas apresentavam atenção quanto
cesso twinsheet (duas chapas prensadas a quente, criando vazios internos), aos aspectos ambientais das embalagens utilizadas, pois apenas uma empre-
em conjuntos de doze peças. sa (FIAT) utilizava grande quantidade de materiais consumíveis (pregos, fitas,
parafusos, lonas plásticas e espumas) nas embalagens retornáveis. Da mesma
Um dos aspectos principais relatados sobre o sistema é a minimização no forma, apenas esta empresa utilizava materiais tóxicos ou potencialmente tóxi-
descarte final de embalagens, pois as anteriores eram descartáveis, de pape- cos na produção das embalagens, devido ao tratamento da madeira por fumi-
lão ondulado. Esse descarte apresenta dificuldades econômicas e ambientais gação (feito com brometo de metila) ou no fim de vida (incineração).
quando é feito nos países de destino, neste caso os Estados Unidos. No entan-
to, verificou-se que, embora as embalagens retornáveis evitassem o descarte Proposição de diretrizes para PSS em embalagens retornáveis
precoce, as mesmas eram transportadas por distâncias que ultrapassavam os
dez mil quilômetros, e que retornavam vazias, embora fossem compactáveis. A partir dos resultados obtidos no estudo de caso principal, bem como da com-
paração com o meta-estudo de caso, foram propostas diretrizes de Design para
Resumo das questões ambientais no meta-estudo de caso PSS em embalagens retornáveis. Desta forma, as diretrizes para o desenvolvi-
mento de sistemas produto-serviço (PSS) voltado a embalagens em papelão
Em todos os estudos de caso verificou-se que o critério de decisão era essen- ondulado movimentadas entre empresas de modo a reduzir o impacto am-
cialmente econômico, e as preocupações ambientais ainda eram no sentido de biental são apresentadas a seguir, divididas em diretrizes com foco no sistema
atender às legislações ambientais, e restritas às embalagens (tipo de material, e diretrizes com foco na embalagem.
forma de descarte), e não aos sistemas.
Entre as diretrizes para PSS com foco no sistema estão:
Caso houvesse foco sistêmico, deveria haver uma preocupação maior com o
transporte, etapa de maior impacto ambiental, pois todas as empresas estuda- - Suprir a falta de conhecimento e experiência em PSS na empresa por meio da
das localizavam-se distantes ou muito distantes dos clientes finais e utilizavam realização de eventos como workshops e palestras sobre PSS, com apresenta-
o modal rodoviário com caminhões a diesel. Isso era agravado pelo fato das ção de conceitos, princípios, metodologias e ferramentas, com participação de
embalagens retornarem vazias, algo comum nos estudos realizados. O impacto especialistas externos à empresa;
do transporte torna-se ainda mais relevante porque, devido ao modal rodoviá- - Elevar o nível de maturidade em PSS com a incorporação dos conceitos de PSS
rio, pode-se deduzir que todas as empresas estudadas apresentavam emissão ao sistema de gestão da empresa (ex.: foco na diferenciação, codesign com os
de gases tóxicos durante a etapa de distribuição, e uma utilizava também mo- fornecedores, relações de longo prazo, etc.), para que a empresa assuma uma
dal naval. postura mais pró-ativa quanto às questões ambientais;
- Criar um histórico de codesign em serviços por meio de projetos-piloto em

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pontos específicos do processo, para então expandir a abordagem para outras Etapas de Pré-produção e produção:
partes do sistema onde o PSS fosse aplicável;
- Terceirizar a gestão do ciclo de vida do sistema de proteção e transporte para - Considerar, na fabricação da embalagem, a possibilidade de se utilizar pape-
uma empresa especializada em PSS voltado a esta necessidade; lão ondulado com certificação FSC (ex. Klabin), cujo processo produtivo busca
- Buscar, sempre que possível, fornecedores próximos à indústria para produtos considerar o manejo sustentável de florestas manejadas e o uso de parte da
de baixo valor agregado, como parte de um possível PSS a ser implementado; matéria-prima reciclada (ondas internas das chapas);
- Evitar o excesso de operações de transporte, espera e verificação com o uso - Considerar, dentro do possível e sem afetar a resistência estrutural da emba-
de PSS que incorporem sistemas de identificação como o RFID, que permitem lagem, a possibilidade do uso de papelão ondulado reciclado, o que minimiza
automatizar etapas do processo e obter um nível de controle mais efetivo e o uso de novos recursos florestais e estimula a geração de renda em empresas
confiável; de reciclagem e cooperativas de coleta e separação de resíduos;
- Optar por sistemas de transporte ambientalmente menos impactantes (hi- - Evitar o uso de tintas e vernizes que utilizem em sua composição metais pe-
droviário, ferroviário) e baseados em fontes energéticas renováveis, ao invés sados, bem como materiais e processos de clareamento agressivos ao meio
do modal rodoviário. Este modal normalmente utiliza caminhões a diesel, de ambiente e aos funcionários envolvidos na produção, como o cloro.
alto impacto ambiental devido ao uso de combustíveis fósseis e à emissão de
gases tóxicos. Caso seja necessário utilizar este modal, reduzir o número de Etapa de transporte/uso:
viagens;
- Elevar a densidade de transporte, por meio do transporte a granel, que ocupa - Otimizar o uso dos caminhões, por meio de embalagens dimensionadas a
melhor o espaço de carga no caminhão; partir de medidas-padrão de paletização, especialmente a do PBR - palete bra-
- Evitar o uso de embalagens, ou prever o reuso, reparo, remanufatura e atua- sileiro, com medidas de 1200x1000mm;
lização destas, caso sejam retornáveis; - Reduzir o peso das embalagens, o que contribui para a redução do consumo
- Evitar o uso de embalagens retornáveis em cadeias logísticas que exijam gran- de combustível dos caminhões;
des distâncias de retorno, pois alguns especialistas (ex. Vezzoli, 2006) defen- - Reduzir o volume das embalagens, o que contribui para um melhor aprovei-
dem que nesta situação os impactos ambientais aumentam consideravelmen- tamento do espaço nos caminhões;
te devido à matriz fóssil usada no Brasil. Neste caso pode ser mais interessante - Evitar o superdimensionamento das embalagens, analisando cuidadosamen-
prever embalagens de uso único que possam ser facilmente desmontadas e te o tipo de produto a ser transportado e a capacidade máxima de empilha-
recicladas, caso o local de destino disponha de um sistema de coleta e reci- mento, e com isso definindo o tipo de chapa ideal para a embalagem;
clagem adequado, ou mesmo reutilizadas para novas aplicações nos locais de - Permitir a máxima compactação das embalagens quando retornarem vazias;
destino. Neste caso, projetar a embalagem considerando a possibilidade de - Possibilitar a incorporação de suportes nas embalagens, e com isso dispensar
reciclagem em cascata no destino é fundamental; o uso de paletes;
- Otimizar o uso de energia por meio de dispositivos de economia, e da redu- - Possibilitar a montagem e desmontagem rápida da embalagem, otimizando
ção do número de etapas no processo logístico. o tempo e a eficiência de operação. Para isso, evitar o uso de dispositivos e
componentes muito complicados (podem causar erros de manuseio), avulsos
As diretrizes para PSS com foco na embalagem foram estruturadas com base (podem perder-se), ou de fechamento permanente. Dar preferência a disposi-
nas etapas do ciclo de vida, da extração da matéria-prima até o descarte, e nas tivos de encaixe rápido, como o “fundo mágico”;
estratégias de life cycle Design propostas por Manzini e Vezzoli (2002) e por - No caso de peças com alto peso (ex. motores, caixas de câmbio), prever a
CfD/RMIT (2001). utilização de calços internos. É desejável que estes calços sejam feitos em um
único material para facilitar a separação e a reciclagem (ex.: papelão ondulado

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com uso da técnica CFG); reciclagem, e evitar áreas de impressão muito chapadas.
- Considerar a possibilidade de se utilizar materiais diferentes na embalagem
retornável conforme o nível de esforço exigido em cada parte da mesma (ex. 5 Conclusão e recomendações de estudo
base e tampa em termoplástico resistente, laterais em papelão ondulado);
- Desenvolver a embalagem considerando a finalidade de uso do produto nela Pode-se concluir que as principais contribuições deste estudo referem-se à
transportado, e a possibilidade de agregar à embalagem funções adicionais constatação de que os problemas ambientais mais relevantes nos sistemas es-
que maximizem esta finalidade (ex.: embalagem retornável que serve como tudados decorrem, sobretudo, da falta de abordagem sistêmica. Os resultados
organizador e dispenser na produção); dos estudos indicaram que o impacto ambiental nos processos logísticos das
- Dependendo da função, tamanho e peso da embalagem retornável, projetar empresas estudadas é tratado focando-se a embalagem em si, e não o sistema
aberturas para o encaixe das mãos dos operadores, a fim de proporcionar con- como um todo. Com isso, ocorrem erros em termos de ações de redução de
forto e segurança no manuseio; impacto ambiental, pois se prioriza ações como a reciclagem em situações em
- No caso de peças com superfícies sensíveis, considerar o uso de materiais que seria melhor o reuso da embalagem, ou o reuso em situações em que seria
complementares que evitem o contato direto com o papelão ondulado devido mais adequado o descarte no destino final.
à sua abrasividade;
- Nas laterais, divisões internas e outros planos da embalagem posicionados A abordagem de PSS pode minimizar este tipo de erro, na medida em que con-
verticalmente, considerar sempre o uso do papelão ondulado com as ondas na sidera o impacto ambiental de todo o sistema, e não apenas da embalagem.
vertical, pois neste sentido o material apresenta máxima resistência; Com isso, pode haver situações em que a embalagem nem mesmo seja neces-
- Considerar a possibilidade de utilizar tecnologias que permitam o controle sária, substituindo-se o seu uso por outros sistemas de proteção e transporte.
e identificação da embalagem ao longo do ciclo de vida, como o RFID (Radio No estudo de caso principal desenvolvido nesta dissertação, percebeu-se que
Frequency Identification ou Identificação por Radio-frequência) aplicado na a etapa ambientalmente mais impactante era o transporte, o que foi compro-
embalagem por meio de etiquetas adesivas. Com isto pode-se, por exemplo, vado pela análise quantitativa (análise do ciclo de vida, ou ACV).
reduzir custos com controle de inventário, tempos de operação e problemas
de falta de material na produção. Este resultado, cuja validade pôde ser ampliada com a realização do meta-
estudo de caso, influenciou diretamente na proposição das diretrizes apresen-
Etapa de fim de vida tadas no capítulo anterior. Se, no estudo de caso da Volkswagen, a etapa de
transporte era a ambientalmente mais impactante, isto possivelmente ocorre-
- Possibilitar a manutenção, reparo e até mesmo a remanufatura das emba- ria também nas outras três empresas do meta-estudo de caso, pois nestas as
lagens retornáveis por meio de materiais compatíveis (ex. fitas adesivas em distâncias de transporte eram ainda maiores.
kraft), evitando grampos ou colas não-compatíveis. Com isso, estende-se a
vida útil da embalagem sem comprometer a separação e a reciclagem; No estudo na Volkswagen, se verificou também que a metodologia Mepss foi
- Evitar o uso de impermeabilizantes na embalagem (ceras, vernizes, tintas) adequada à pesquisa e ao desenvolvimento de novos conceitos pelos desig-
que inviabilizem a reciclagem; ners, seja pela possibilidade de planejamento, pelas ferramentas utilizadas, ou
- Possibilitar a aplicação, na embalagem, de mensagens visuais e textuais re- pela modularidade de etapas da metodologia. Particularmente, foram úteis
lacionadas à matéria-prima utilizada, forma de uso, transporte, manutenção e as ferramentas qualitativas como o System Map (visão do sistema), os Story-
descarte, incentivando a adoção de atitudes ambientalmente corretas. Inserir boards (visão das propostas) e o checklist (ocorrência ou não de fatos), e as
simbologia adequada de reciclagem; quantitativas, como a ACV (identificação das etapas críticas e tipos de impac-
- Dar preferência, na impressão, a tintas compatíveis que não inviabilizem a to). O uso de um meta-caso mostrou-se bastante produtivo para buscar-se a

Anais do 1º Simpósio Paranaense de Design Sustentável (I SPDS)


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confirmação de aspectos comuns para geração de diretrizes. Referências
Uma das maiores dificuldades para a realização do estudo refere-se à falta de Breezer, Han et al, 1996. Promise Manual. Holanda: Delft University of Technology, Rathenau
sincronia entre os tempos da empresa e os da equipe de pesquisa, o que exigiu Istitut.
várias adaptações e mudanças de cronograma ao longo do trabalho. Isto é par- Halen C. van, Vezzoli, C. & Wimmer, R., 2005. Methodology for product service system innova-
ticularmente significativo no caso de empresas de grande porte, que possuem tion: How to implement clean, clever and competitive strategies in European industries. Assen:
Royal Van Gorcum.
sistemas de acesso mais burocráticos tanto aos profissionais internos, quanto
Manzini, E., Vezzoli, C., 2002. O Desenvolvimento de Produtos Sustentáveis: os requisitos am-
às informações sobre processos e produtos. Isso exige uma flexibilidade maior bientais dos produtos industriais. São Paulo: Edusp, Editora da Universidade de São Paulo.
da equipe de pesquisa, a fim de que não haja desperdício de trabalho, tempo Sampaio, C. P. 2008. Diretrizes para o design de embalagens em papelão ondulado movimenta-
e recursos. das entre empresas com base em sistemas produto-serviço. Dissertação de Mestrado do Progra-
ma de Pós-Graduação em Design da Universidade Federal do Paraná. Curitiba: Editora da UFPR.
Entre as recomendações possíveis para futuros estudos nesta área, sugere-se UNEP United Nations Enviroment Programme, 2004. Product-Service Systems and Sustainabili-
que sejam ampliados os estudos sobre o impacto social do uso de embalagens ty. Milão: INDACO Department, Politecnico di Milano.
retornáveis, e sobre o limite de distância para a adoção de PSS com base em
embalagens retornáveis. Finalmente, sugere-se também que sejam feitas tam-
bém comparações do nível de sustentabilidade entre diferentes PSS em emba-
lagens retornáveis (caixas, latões, bigbags) com diferentes materiais (plásticos,
madeira, papelão ondulado, metal, lonas).

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Tecnologia para uma Sustentabilidade: o caso da Madeira Moldada
Technology for Sustainability: the case of Molded Wood

Prof. Dr. Dalton Luiz Razera


Universidade Federal do Paraná, Brasil
dalton.razera@ufpr.br

Palavras Chave: produtos moldados, resíduos de madeira de serraria, design sustentável.

O propósito deste documento é apresentar uma tecnologia que vem a diminuir os impactos ambientais em alguns
processos de fabricação que utilizamos em nossa forma de viver. Normalmente com as crises mundiais e locais é
que as mudanças ocorrem com maior intensidade, e para melhor, é uma forma de repensar os conceitos de consu-
mo. Nestes casos a economia de mercado que dita as regras do jogo, quando estão mais vulneráveis, permeando
assim as mudanças. Esta tecnologia não é inteiramente nova, tem seus princípios na década de 70 do século pas-
sado. Porém se torna contemporânea na forma de implantação e avanços. A fabricação de produtos moldados, a
partir de resíduos de serragem de madeira denominada “farinha de madeira”. Com partículas de madeira e adesivo
obtém-se o compósito, que em molde e prensado a quente, moldam-se os produtos. Pode-se obter produtos
moldados por compressão a quente e a frio , por extrusão e injeção, utilizando polímeros termorrígido ou termo-
plástico. A pesquisa apresenta dois métodos obtidos pelo processo de compressão a quente.

Keywords: molded products, wood waste from sawmill, sustainable design.

The purpose of this paper is to present a technology that has to reduce environmental impacts in some manufac-
turing processes we use in our way of living. Normally with the crisis is global and local changes that occur with
greater intensity, and for the better, is a way of rethinking the concepts of consumption. In these cases the market
economy that dictates the rules of the game, when they are most vulnerable, thus permeating the changes. This
technology is not entirely new, has its principles in the 70s of last century. But it is contemporary in the way of im-
plementation and progress. The manufacture of molded products from waste wood sawdust called “wood flour”.
With particles of wood and adhesive is obtained by the composite, which in the hot mold and pressed, is shaping the
product. You can get products molded by the hot and cold compress, by extrusion and injection, using thermoplastic
or thermosetting polymers. The study presents two methods obtained by the hot compression process.

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1 Introdução tos com menor densidade comparadas àqueles produzidos com materiais inor-
gânicos. Outra característica vantajosa é a pequena abrasão que os materiais
Embora o tema da sutentabilidade, dos processos limpos e do aproveitamento lignocelulósicos causam durante o seu processamento, permitindo um maior
de resíduos tenha tomado grande dimensão nos últimos anos devido à cons- tempo de vida útil dos equipamentos usados na fabricação dos compósitos.
tatação de que o planeta já não possa continuar a ser explorado como antes, o
Brasil ainda apresenta graves problemas quanto à questão de resíduos, e pou- O material lignocelulósico tem grande disponibilidade, é originário de fonte
cas soluções adequadas . A produção de madeira de reflorestamento no sul do renovável, sendo ambientalmente muito mais amigável do que outros mate-
Brasil abrange grandes áreas anteriormente florestais, e a geração de resíduos riais, outra vantagem é que o consumo de energia para a sua produção é muito
no corte desta madeira em serrarias ainda é um problema. menor quando comparado a materiais cerâmicos, como tijolo e cimento; me-
tálicos, como o aço e o alumínio.
Transformar este problema (resíduo) em oportunidade de negócio, principal-
mente em época de crise (processo industrial de transformação) é o foco bási- Os restos de colheitas de ciclo curto como o milho, o arroz, a soja, a cana-de-
co desta proposta, com reflexos possíveis no aspecto ambiental, econômico e açúcar, entre outros, são um grande potencial de suprimento de material lig-
inclusive social, pela possibilidade de se criar pequenas indústrias para a pro- nocelulósico, mas as culturas perenes também são excelentes fontes, como as
dução de objetos moldados em partícula de madeira. Desta forma, o presente plantações florestais de um modo geral. A produção de palmitos comestíveis
projeto deverá realizar contribuição à cadeia produtiva através da geração de gera um volume de resíduos que é cinco vezes superior, sendo que atualmente
conhecimento para subsidiar o projeto de produtos que utilizam resíduos do ao menos existe preço para sua comercialização. A produção de compósitos a
setor florestal. partir desses materiais pode agregar valor e mitigar possíveis problemas com
sua destinação final e poluição ambiental.
Os compósitos são desenvolvidos com o intuito de formar novos materiais que
aproveitem do sinergismo entre as propriedades mais interessantes de outros Os polímeros termoplásticos permitem a reciclagem dos objetos produzidos
dois ou mais materiais. Os compósitos tem sido muito usados nas indústrias de sendo cada vez mais preferidos pelas indústrias que se vêem obrigados a reco-
autopeças para fabricação de uma enorme gama de produtos e em crescente lher e responsabilizar-se pela destinação final de seus produtos após o término
expansão, desde painéis, bancos, laterais e outras partes dos automóveis e ca- do tempo de vida útil.
minhões. Os compósitos são ideais por aliarem leveza e bom desempenho em
serviço, além do baixo custo e facilidade de reciclagem no fim do ciclo de vida Em geral os polímeros termofixos apresentam maior compatibilidade com a
dos veículos ou de suas peças. superfície dos materiais lignocelulósicos, sendo os mais usados as resinas fe-
nólicas, uretânicas e epóxi. Todavia, não são recicláveis e o processo produtivo
A produção de compósitos com fibras naturais têm vantagens sobre os demais é mais caro não podendo ser fabricados pelo processo de extrusão e injeção
materiais de reforço tradicionalmente usados como as fibras de vidro, partícu- que permite alta produção e baixos custos. As propriedades mecânicas tam-
las de sílica, alumina, e óxidos em geral. A primeira vantagem é o baixo custo bém são diferentes, as resinas termofixas são normalmente menos elásticas
dos materiais lignocelulósicos comparados aos seus concorrentes orgânicos que as resinas termoplásticas.
ou inorgânicos. Como o material natural usado como reforço nos compósitos
apresenta preços menores que a própria matriz polimérica, o preço final do Prensagem a Quente ou a Frio
produto pode ser menor que o do polímero separadamente.
A opção por este processo deve-se principalmente a dois aspectos ligados à
Outra vantagem é a sua baixa densidade que permite a confecção de compósi- sustentabilidade: um de natureza energética e outro de natureza econômica.

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No aspecto ambiental, a questão da economia de energia apresenta-se como
um aspecto cada vez mais decisivo para a opção ou descarte de determinados
processos.

No caso aqui apresentado, embora a prensagem a quente seja a mais usada


para a produção de chapas MDF devido à alta produtividade que permite, foi
utilizada a prensagem a frio. Por exigir equipamentos mais simples e baratos
e evitar o uso de energia elétrica, este processo pode ser especialmente útil
para pequenos produtores, que geralmente têm baixa disponibilidade de capi-
tal para investir e uma demanda não tão grande de pedidos quanto as grandes
indústrias.

Metodologia de Fabricação dos Produtos

No experimento para moldagem dos produtos foram utilizados o molde 1 fa-


Figura 1. Esquema do método de prensagem do molde 1
bricado em alumínio fundido e o molde 2 em alumínio naval usinado.

Método de Prensagem Molde 1 Método de Prensagem Molde 2

As partículas de madeira encoladas com adesivo (polímero termofixo), depo- As partículas de madeira encoladas com adesivo (polímero termofixo), depo-
sitadas em uma caixa formadora com dimensões próximas às do molde, sobre sitadas na cavidade do molde, este na posição vertical, com uma distância de
um filme plástico (celofane) medindo 55 x 40 cm, e uma chapa de alumínio de 3 cm, (razão de compactação de 1 para 6). Para se obter uma distribuição uni-
1mm de espessura. Posteriormente uma pré-compressão, a frio, com limitado- forme do compósito, é preenchida a cavidade entre as partes do molde por
res de espessura de 20 mm. gravidade sem compressão. Posteriormente feita a compressão a quente para
consolidação do produto moldado, conforme pode ser visualizado na figura.
Após esta densificação, o colchão formado é aplicado no molde. Retira-se a
chapa de alumínio, e o colchão de partículas se acomoda sobre o molde (ma-
cho). Na seqüência, acrescenta-se a outra parte do molde (fêmea) sobre o col-
chão para posterior compressão a quente e consolidação do produto moldado,
conforme pode ser visualizado na figura.

Figura 2. Esquema do método de prensagem do molde 2

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Moldes A densidade média distribuída ao longo dos eixos médios do produto moldado
1 (gaveta) pode ser levantada, para verificação se a formação do colchão teve
Molde 1 uniformidade quando da compressão da moldagem.

Em alumínio fundido confeccionado especialmente para a moldagem das pe- Como a espessura tem variações conforme o desenho que o molde apresenta,
ças, elaborado com desenho de uma gaveta com dimensões de 48cm x 35cm deve ser interpretada levando em consideração essas espessuras e suas den-
x 9cm, com 32kg, apresentando ângulos de 60º e curva de raio de 100mm. O sidades diferentes.
molde foi confeccionado com algumas linhas de perfuração com diâmetro de
2mm em pontos estrategicamente definidos para possibilitar a evaporação dos Produto Moldado 2 (Caixa)
gases durante a compressão.
O produto moldado 2 por compressão a quente (caixa) moldado através do
molde 2 de alumínio usinado por prototipagem rápida com dimensões de 102
O molde 2, confeccionado em alumínio tipo naval, usinado por prototipagem x 152 x 45 mm, com espessuras variando de 3 a 4 mm.
rápida, utilizando dois tipos de tratamento superficial, sendo uma face da peça
do molde macho polida e outra peça do molde fêmea texturizada para verifi- A peça apresenta a superfície lisa na parte interna e texturizada na externa.
cação do acabamento superficial da peça moldada para conformação a frio e O molde prevê acabamento na borda do produto, porque executa a moldagem
a quente. e corte, gerando uma geometria definida na borda.
O produto moldado 2 copia com fidelidade as características geométricas do
Este molde apresenta as características de uma peça tridimensional côncava molde. O acabamento superficial é esperado em função da geometria das par-
com cavidade de aproximadamente 50mm de profundidade com ângulos pró- tículas utilizadas, podendo-se até observar a superfície lisa na parte interna do
ximos de 90º e curvas de concordância, gerando uma peça com dimensões de produto e texturizada na externa.
150 x 100 x 50mm, com espessura de 5 mm, e possibilitando o corte dimensio-
nal da peça pelo próprio molde. Na fabricação dos produtos a partir de moldes de alumínio, observa-se a con-
solidação de duas formas diferentes de formação do colchão para a compres-
Características dos Produtos Moldados são dos produtos moldados. O resultado é satisfatório, com as duas maneiras
se obtiveram produtos com boa aparência superficial, copiando os detalhes
Produto Moldado 1 (Gaveta) dos moldes. Através das amostras para medição da densidade média na forma-
ção do colchão é constatada a distribuição do material moldado nas superfícies
A moldagem por compressão a quente do produto moldado 1 (gaveta) mol- planas, inclinadas e curvas.
dada através do molde 1 de alumínio fundido com dimensões de 350 x 450 x
50 mm e com espessuras variando de 8 a 16 mm (conforme as dimensões do Conclusões
molde).
Os produtos moldados (gaveta) copiaram todas as características do molde,
A peça apresenta a superfície com brilho em função do filme de celofane ser apresentam superfície brilhante em uma das superfícies em função do filme
aplicado antes da compressão. O molde não prevê acabamento na borda do de celofane e na parte do fundo apresentam compatibilidade com o tamanho
produto. das partículas.
Os produtos moldados (caixa) copiaram com propriedade as características do

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molde com detalhes e cortes dimensionais. A qualidade superficial contou com Referências
uma parte interna lisa e a superfície externa texturizada.
O molde deve permitir a eliminação da umidade liberada durante a prensagem, ALVES, Marcus Vinicius da Silva. Novas tecnologias para utilização e aproveitamento de resíduos.
através das laterais e perfurações em pontos determinados predefinidos. In: 1º CONGRESSO BRASILEIRO DE INDUSTRIALIZAÇÃO DA MADEIRA E PRODUTOS DE BASE FLO-
RESTAL-, Curitiba. IBAMA, 2003. p. 10 30. CD-ROM.
O tempo de prensagem nas peças moldado deve ser considerado, com um
AMERICAN NATIONAL STANDARD - ANSI. Mat-formed wood particleboard: specification ANSI A
acréscimo, para que o molde de alumínio obtenha a temperatura ideal de cura
208.1.1993. Gaithersburg: National Particleboards Association, 1993. 9 p
do adesivo nas várias partes da peça. BioCycle Staff. Wood Recycling: How to Process Materials for Profitable Markets. Pennsylvania:
The J.G. Press, Inc. 2000.
FROLLINI, E., ed. Natural polymers and agrofibers based composites: propriesties and aplications
/ Editores: Elisabete Frollini, Alcides L.Leão and Luiz Henrique Capparelli Mattoso São Carlos:
USP-IQSC / Embrapa Instrumentação Agropecuária / Botucatu: UNESP, 2000.
FUAD LUKE, Alastair. Manual de diseño ecológico. Barcelona: Gustavo Gili, 2002.
IWAKIRI, S. Painéis de madeira reconstituída. FUPEF, Curitiba, 2005.
MANZINI, E.; VEZZOLI, C. O desenvolvimento de produtos sustentáveis. São Paulo: USP, 2002.

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Inovação em Sistemas de Consumo por meio do Design: o Caso do Caixa Ecoló-
gico
Innovation in Consumption Systems through Design: the Ecological Check-out Case

Dulce de Meira Albach


Mestre, Universidade Positivo
dulce.albach@gmail.com

Palavras-chave: embalagens, resíduos sólidos, impacto ambiental, sistema de consumo

O Caixa Ecológico se caracteriza por uma proposta de mudança de hábito de consumo por meio do gerenciamento
de resíduos de embalagens - identificados atualmente como elementos de grande destaque na composição dos
resíduos sólidos urbanos – visando à minimização de impactos ambientais. Configura-se por um check-out diferen-
ciado em um supermercado na cidade de Curitiba-PR, onde os consumidores podem fazer, conforme sua própria
escolha, o descarte antecipado de embalagens de plástico e/ou papel ali adquiridas e que não há necessidade de
serem levadas com o produto. A destinação destas para reciclagem reduz o volume de resíduos sólidos de embala-
gens sem destino planejado. Associa-se também a proposta, o incentivo para que sacolas próprias sejam utilizadas,
reduzindo o consumo das atuais sacolas plásticas. Desta forma, os principais envolvidos (ponto de venda e consu-
midores) podem praticar ações que contribuem com a proteção e educação ambiental, evidenciando a importância
da participação ativa e consciente da sociedade. A avaliação do comportamento dos envolvidos possibilita detectar
novos procedimentos que permitam a intensificação da iniciativa.

Keywords: packages, solid waste, environmental impact, consumption system

The Ecological Check-out is characterized by a proposal to change consumption habit through the management
of packing residues – currently identified as elements of great importance in the composition of urban solid was-
te – aiming at the minimization of environmental impact. It is characterized by a different check-out located in a
supermarket in the city of Curitiba-PR, where consumers may – if willing to – readily discard unnecessary plastic
or paper packs purchased at the supermarket. By sending these packs to recycling, the volume of solid waste com-
posed of packs without a planned destination can be reduced. Along with the same approach, it is encouraged the
use of proper bags, reducing the use of the current plastic bags. By doing this, the main subjects involved (retailer
and consumers) can practice actions that will contribute to environmental protection and education, highlighting
the importance of the society’s active and conscious participation. The evaluation of the behavior of the subjects
involved allows the detection of new procedures that will permit the intensification of the initiative.

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1 Introdução Estes por sua vez farão o descarte.

A geração de resíduos sólidos urbanos, desde o início das civilizações, é uma Assim sendo e em observação ao grave quadro atual dos resíduos sólidos urba-
situação complexa e muitas vezes ignorada. Associada ao crescimento das ci- nos enquanto embalagens, o projeto do “Caixa Ecológico” propõe um sistema
dades, a intensificação da industrialização e às mudanças culturais e sociais, de descarte antecipado destas em um supermercado na cidade de Curitiba,
está a produção e destinação do lixo que inevitavelmente é gerado neste pro- por meio da implantação de um check-out diferenciado que estimule uma mu-
cesso e que assume volumes desproporcionais à capacidade de assimilação dança de comportamento e conscientização do consumidor quanto as ques-
dos ecossistemas (Dias, 2002, p. 145). Neste crescimento, um dos elementos tões ambientais. Observa-se desta forma que um consumidor informado e
de destaque que compõem os resíduos sólidos urbanos atualmente são as consciente e um ponto de venda que proporciona condições efetivas podem
embalagens que contém plástico em sua composição (ALGAR, 2005; CEMPRE, protagonizar movimentos de mudanças comportamentais e conseqüentemen-
2000; Mestriner, 2001) – associados ou não a outros materiais, procedentes de te podem atingir metas de melhoria de qualidade ambiental e social.
residências, estabelecimentos comerciais e escritórios.
Este projeto avalia a aceitação dos agentes participantes do processo quanto
As embalagens se apresentam na forma de: frascos, potes, garrafas, saches, a mudanças de hábitos e os caminhos que podem ser tomados para a minimi-
tubos, sacos, filmes, além de tampas, lacres e adesivos, bem como embala- zação de impactos associados aos resíduos sólidos urbanos caracterizados por
gens de papel plastificadas, parafinadas e impressas. Exercem suas funções de embalagens.
oferecer conforto para os consumidores, como na facilidade de transporte ou
na conservação de um produto, além de representarem significativas estraté- 2 Geração de resíduo sólido urbano
gias de comercialização que desenvolvem o setor (Mestriner, 2001, p. 3). No
entanto, a organização e gerenciamento da produção e do descarte dos resí- Nas sociedades primitivas a natureza era a fonte de recursos na vida do ho-
duos destas embalagens revelam-se comprometidos em relação à proteção mem e a maior
ambiental. parte do lixo era composta de matéria orgânica. A humanidade passou um
longo período de sua história acreditando que os recursos naturais, como água
Segundo Mancini et al. (2005, p. 9) se os resíduos plásticos gerados no Brasil e ar, eram infinitos e que a natureza absorveria o lixo produzido (GORE, 1993,
tivessem a devida atenção em relação aos processos de reciclagem, a partici- p.162). No entanto, a necessidade de tratar e destinar adequadamente o lixo
pação do ramo petroquímico no setor seria diminuída e conseqüentemente para evitar a proliferação das epidemias tornou-se inegável (MELOSI, 2005, p.
haveria economia dos recursos naturais. Por outro lado, afirmam os mesmos 22). Com o início da 1ª Revolução Industrial (1780-1850) as atividades conside-
autores, que a economia nacional também seria beneficiada, pois estes resídu- radas “naturais” como: a agricultura, a pecuária, a pesca e a mineração, foram
os plásticos seriam suficientes para anular as importações brasileiras e incre- suplantadas pela produção industrial e pelo capitalismo, e a poluição passou a
mentar as exportações. figurar como um fator de destaque no processo chamado de “desenvolvimen-
to”.
No ciclo de vida das embalagens, os principais envolvidos são: o fabricante, o
ponto de venda e o consumidor. Nesta análise, destaca-se que um ponto de Neste contexto, com a evolução do comércio e da sociedade de consumo, as
venda que se caracteriza pela grande concentração de embalagens é o super- embalagens foram se tornando cada vez mais importantes, principalmente
mercado, local este que pode exercer uma forte influência na forma de desti- após o surgimento dos estabelecimentos de venda a varejo, chamados de su-
nação das embalagens que são por eles adquiridas dos fabricantes e oferecidas permercados. A venda de produtos no sistema de auto-serviço obrigou a uma
- juntamente com os produtos contidos - aos seus clientes e/ou consumidores. completa reformulação na função das embalagens, que se transformou em

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ícone da cultura de massa. À embalagem moderna foram atribuídas as tare- mais utilizado, precedido apenas da celulose (Mestriner, 2001, p. 5). Quanto
fas de: conter, proteger, identificar, expor, comunicar e auto-vender o produto, a composição, Dias (2002, p. 150) descreve que 60% dos plásticos utilizados
dentro de um cenário cada vez mais competitivo (MESTRINER, 2001, p.17). em embalagens são Polietilenos (PE), que podem ser utilizados em embala-
gens rígidas (ex.: frascos) ou filmes (ex.: saches); 11% são Poliestirenos (PS) ou
Por outro lado, os requisitos operacionais relacionados aos materiais utilizados styrofoam, utilizados em estofamentos, isolamento térmico, etc.; 10% são Po-
pela indústria exigiram características específicas de metais, plásticos, vidros, lipropilenos (PP), utilizados em fraldas descartáveis, embalagens de alimentos
borrachas, fibras, etc. para ultrapassar limites de produção e/ou viabilizar um e outros, além dos polímeros utilizados em tintas e acabamentos superficiais
processo produtivo e conquistar a preferência de algum determinado público encontrados também em embalagens de papel. Todos compõem um grupo de
consumidor em adquirir diversos tipos de produtos. materiais de alta persistência no ambiente, com tempo de vida variando de 50
a 200 anos.
As primeiras descobertas dos polímeros sintéticos (com início em meados do
séc. XIX), em substituição aos naturais, logo se configuraram como revolucio- Em pesquisa sobre a composição do lixo gerado pelos municípios brasileiros,
nárias, principalmente pela habilidade de transformação do novo material. foi evidenciado que em Curitiba, o plástico é o material encontrado em maior
Os polímeros, mais especificamente os plásticos, passaram a ser amplamente quantidade, depois de matéria orgânica (CEMPRE, 2000, p.39). Este estudo
utilizados nas mais diferentes áreas: higiene, médica (próteses, órgãos artifi- também destaca que no Brasil são produzidas 241.000 toneladas de lixo, den-
ciais), eletroeletrônica, esportiva, tintas, pigmentos e embalagens. O plástico tre as quais, 90.000 têm origem domiciliar (cada pessoa produz em média de
começou a fazer parte da vida das pessoas, envolvendo seus sentidos (táteis, 600g a 1 kg de lixo por dia). E, embora o principal componente do lixo urbano
olfativos, visuais, gustativos) (LEFTERY, 2001). seja o resíduo orgânico, a embalagem aparece como o item de maior visibilida-
de, pois tem forma definida e marcas dos produtos agregados.
Impulsionou-se assim, a mudança do material de embalagens “tradicionais”,
feitas em vidro ou papel, para plástico, além do surgimento de modelos no- Portanto, a produção de resíduos domésticos, bem como o envolvimento dos
vos, agregando funções e características técnicas. Este processo de desenvol- seus geradores (consumidores), desempenha importante papel dentro do ci-
vimento tecnológico não atentou, porém, às conseqüências ambientais que a clo de vida de uma simples embalagem de consumo. Manzini e Vezzoli (2005,
geração destes “materiais artificiais”, muitas vezes rapidamente descartáveis, p. 100) analisam que produtos ambientalmente corretos devem se basear no
provocaria na biosfera, afetando a vida do homem e do planeta como um todo, conceito de ciclo de vida. O objetivo do denominado Life Cycle Design (LCD)
e contribuindo para a escassez de seu recurso natural básico: o petróleo (KA- é criar uma idéia sistêmica de produto ou serviço, em que os inputs de mate-
ZAZIAN, 2005, p.23). riais e de energia bem como o impacto de todas as emissões e refugos sejam
reduzidos ao mínimo possível, seja em termos quantitativos ou qualitativos,
O imenso volume de embalagens descartadas provoca atualmente sérias dis- ponderando-se assim a nocividade de seus efeitos.
cussões sobre degradabilidade, reciclagem e reutilização. Um exemplo se ca-
racteriza pelos estudos em torno dos bioplásticos (Pradella, 2006), materiais Caracteriza-se por um processo bastante abrangente e com variabilidades em
que podem vir a substituir os polímeros convencionais advindos do petróleo, função do tamanho da empresa fabricante, as legislações em vigor, tipo de
apresentando propriedades mecânicas semelhantes, porém com o diferencial produto entre outras. Este conceito pode ser associado ao princípio da respon-
de serem biodegradáveis. sabilidade teorizado em meados de 1979 e que apresentava reflexões sobre
um “agir irresponsável”, abordando a necessidade do indivíduo e da coletivida-
Segundo a Algar (2005), 31% da composição dos resíduos sólidos municipais de assumir as conseqüências de seus atos (KAZAZIAN, 2005, p. 32).
no Brasil são embalagens. Neste segmento, o plástico é o segundo material

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Santos et al. (2004) aborda as responsabilidades no processo de fabricação Em Boston, o Massachusetts Department of Environmental Protection (Mas-
das embalagens plásticas no Brasil e analisa o sistema de coleta seletiva, como sDEP) em conjunto com o Massachusetts Food Association (MFA), criaram o
um primeiro passo para viabilizar as atividades recicladoras, tornando o setor “Supermarket Recycling Program Certification” (SRPC) para incentivar os su-
produtivo responsável por seus resíduos e evitando, assim, onerar o setor pú- permercados a desenvolverem programas de reciclagem e/ou reuso de ma-
blico. teriais (BioCycle, 2006). “Save Money and the Environment Too” é o nome da
campanha criada em 1995, em San Francisco Bay Area na Califórnia que visa
Em pesquisa realizada pela Market Analysis Brasil (2006), em cinco capitais conscientizar os consumidores de como suas atitudes impactam no meio am-
brasileiras (Belo Horizonte, Curitiba, Florianópolis, Salvador e São Paulo) sobre biente (CIWMB, 2002).
a consciência ambiental associada à coleta seletiva de lixo, constatou-se que
78% das pessoas entrevistadas têm acesso à coleta seletiva, porém somente Na Califórnia a campanha do “America Recycles Day” é realizada todo ano no
23% conhecem o destino dado ao lixo após a coleta. Estes dados alertam para dia 15 de Novembro. No mês de Outubro, acontece a campanha denominada
uma possível separação inadequada dos resíduos devido ao desconhecimento de “Second Chance Week” para promover o reuso, o reparo, a revenda ou a
sobre o seu destino final. doação de itens que, sem esta iniciativa, provavelmente seriam dispostos no
lixo (CIWMB, 2002). Referindo-se aos problemas ambientais nos Estados Uni-
No entanto, atitudes práticas que efetivamente contribuem com a correta des- dos, a Revista Newsweek (Ramirez, 2007) publicou artigo induzindo à reflexão
tinação de resíduos sólidos enquanto embalagens podem ser observadas em sobre formas de comportamento que podem modificar a vida em sociedade e
várias partes do mundo, despertando a consciência das populações para o gra- que dependem de cada cidadão.
ve problema que estes resíduos representam nas sociedades.
Na Malásia, a magazine XL-SHOP.COM, especializada em bonecos de brinque-
No Brasil, uma rede de supermercados oferece aos seus consumidores e à co- do convida o consumidor a participar dos 3 R’s (reduzir, reutilizar, reciclar) e
munidade um programa que se caracteriza por postos de coleta seletiva de oferece desconto aos clientes que fizerem suas compras utilizando suas pró-
embalagens pós-consumo, de papel, vidro, plástico e metal. Este material é prias sacolas (XL-SHOP, 2007).
direcionado as cooperativas de catadores de recicláveis cadastradas pelo pro-
jeto (Pão de Açúcar, 2007). Este grupo possui, também, a instalação de centros O governo da Noruega financia os projetos do “Cleaner Production”, programa
automatizados de venda reversa no qual máquinas emitem cupons quando que há mais de 15 anos estimula, por meio das empresas participantes, utiliza-
recebem a deposição de embalagens de PET e latas de alumínio. Estes cupons ção racional de material, redução de consumo de energia e de emissões no ar,
equivalem a descontos para compras no hipermercado, ou se o cliente preferir na água e no solo (KJAERHEIM, 2005). Na Inglaterra, o “Waste and Resources
pode doá-los ao projeto “Fome Zero” do Governo Federal. Action Programme” propõe debates com a comunidade dos designers visando
a orientação dos projetos de embalagens para a racionalização de materiais,
Em Cuiabá, no Mato Grosso, o Governo do Estado, juntamente com a empre- para o reuso e a reciclagem.
sa responsável pelo fornecimento de energia elétrica ao Estado do MT, uma
empresa de reciclagem e uma rede de supermercados, firmaram um convênio Segundo a instituição, o setor de design é o principal promotor da minimização
que pretende reduzir o impacto poluente dos resíduos sólidos, principalmente de resíduos de embalagens, que inicia com a sua própria criação. Segundo esta
em rios e córregos, e ao mesmo tempo agregar valor econômico às famílias análise, atualmente percebe-se que os consumidores ingleses estão dispostos
de baixa renda. Nesta proposta, a população pode trocar latinhas de alumínio a pagar mais por produtos embalados de forma ambientalmente responsável
e garrafas PET por bônus a serem descontados na fatura de energia elétrica e por marcas éticas a este princípio (WOODS, 2007).
(CEPROMAT, 2007).

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3 Caixa Ecológico dade, com destaque às questões ligadas à geração e descarte de resíduos de
embalagens. Posteriormente, conheceram os propósitos do projeto do Caixa
Este sistema se caracteriza por um conjunto de ações que promovem o geren- Ecológico e seu sistema de funcionamento.
ciamento do descarte de embalagens visando à conscientização e educação
ambiental, envolvendo os agentes de grande importância na geração de resí- Visando facilitar o atendimento ao consumidor, foi elaborado um material im-
duos sólidos urbanos que são: o ponto de venda e o consumidor. Numa relei- presso para ser entregue às operadoras de caixa, indicando os procedimentos
tura de modelos semelhantes observados fora do Brasil e em alguns poucos operacionais para o atendimento e sugestões de algumas embalagens para
casos observados no país, este modelo pretende evidenciar a importância da descarte.
participação ativa da comunidade nas questões ambientais e, também, avaliar
a aceitação quanto a mudanças de hábitos. O supermercado foi selecionado Na instalação, o check-out destinado ao funcionamento do Caixa Ecológico foi
para a implantação do sistema por ser um local de grande concentração de diferenciado dos demais pela cor verde onde então, o consumidor é convidado
embalagens com destino, principalmente, às residências dos consumidores. a participar da iniciativa, por meio de duas ações: 1 - trazer de casa sua própria
sacola para colocar algumas de suas compras, visando à diminuição de saco-
No caso específico deste projeto, e em análise aos perfis dos supermercados las plásticas enquanto resíduos em aterros sanitários, reduzindo a poluição.
instalados na cidade de Curitiba, observou-se que uma rede, considerada de O Caixa Ecológico possui uma sacola plástica diferenciada quanto à cor e a
médio porte, se diferenciava também por ter um trabalho de inclusão social. informação gráfica, o que distingue a participação do cliente em relação aos
Neste, emprega jovens com deficiência auditiva ou deficiências mentais leves demais check-outs.
para auxiliar nas atividades de empacotamento e transporte de compras, além
de outras atividades consideradas condizentes com suas possibilidades. Nes- No entanto, a intenção é que cada consumidor utilize o mínimo de sacolas
te contexto, julgou-se que um supermercado que se interessa pelas questões necessárias; e 2 – descartar, nos containers apropriados ao lado do caixa e
sociais, poderia estar interessado a discutir também as questões ambientais. conforme sua própria escolha, embalagens que não há necessidade de serem
O pressuposto foi confirmado e o supermercado aprovou a iniciativa se predis- levadas com o produto, como: invólucros, pacotes com mais de uma emba-
pondo a ser parceiro do projeto. lagem, embalagens tipo blister, entre outras. Esta ação diminui o volume de
resíduos sólidos gerados nas residências e nos estabelecimentos comerciais,
Sendo assim, foi definido que a nova proposta seria implantada no novo su- sem destino planejado.
permercado da rede, que estava ainda sendo construído. Além da campanha
publicitária desenvolvida pela agência de publicidade desta rede de supermer- Uma estratégia considerada de grande importância foi o esclarecimento ao
cados, envolvendo folders e divulgação na mídia, outras estratégias foram tra- cliente de que as embalagens são destinadas à reciclagem e o valor arrecadado
çadas para garantir a eficácia do sistema. Quinze dias antes da inauguração, os é revertido para uma instituição filantrópica, selecionada a cada três meses.
funcionários começaram a ser treinados para a ação ter a maior abrangência Este procedimento visa esclarecer que o supermercado não tem lucro com as
de entendimento e apoio possível. embalagens deixadas nos containers e pelas quais ele, cliente, acabara de pa-
gar. Sendo assim, após o encerramento da passagem das compras é visualizado
Três grupos de funcionários foram organizados, envolvendo diferentes setores: na tela do check-out o número de embalagens de plástico e de papel deixado
operação e fiscalização de caixa, empacotamento, segurança, CPD (Central de pelo cliente e o nome da instituição filantrópica que será beneficiada pelo va-
Processamento de Dados), padaria, frutas, legumes e verduras, frios, confei- lor do montante das embalagens arrecadadas e encaminhadas à reciclagem.
taria, açougue, cancelista e zeladoria. Nestes treinamentos, os funcionários
obtiveram informações sobre os graves problemas ambientais da nossa socie-

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Pesquisa com os consumidores

Para a avaliação do sistema foi aplicado um questionário padrão junto aos con-
sumidores que utilizam o check-out para constatar a aceitação ou não da ini-
ciativa. Os procedimentos de campo foram realizados no período de 10 a 31 de
outubro de 2006 onde foram entrevistados 350 consumidores, que registraram
suas compras no Caixa Ecológico, em diferentes horários de visitação à loja.

A pesquisa constatou a aceitação do consumidor, que pelo ineditismo da inicia-


tiva, não conhecia o Caixa Ecológico, porém se predispõe a participar e apoiar
a idéia. Dos clientes entrevistados, a maioria, ou seja, 57% fazem compras em
supermercado uma vez por semana e destes, 50% costumam fazer suas com-
pras neste supermercado. 83% afirmaram que dariam preferência a este su-
permercado pela iniciativa do Caixa Ecológico. Pelo fato da recém inauguração
e os sistemas de divulgação estar em processo de implantação na época da
realização da pesquisa, 97% dos entrevistados souberam do Caixa Ecológico na Gráfico 2 – Porcentagem do grau de instrução dos consumidores entrevistados
própria loja. 100% dos entrevistados afirmaram que voltariam a utilizar o caixa
e 51% realizaram algum tipo de contribuição, conforme o Gráfico 1. A renda familiar é na faixa de 9 a 13 salários mínimos (sendo 1 salário mínimo
correspondente à U$ 870) demonstrando que os freqüentadores do supermer-
cado são de classe média alta. As ocupações são bastante diversificadas, ha-
vendo um pequeno destaque para aposentados(as) e donas de casa. A maioria
reside no bairro da loja ou em bairros próximos.

Em pergunta aos entrevistados quanto a sugestões sobre o Caixa Ecológico, os


resultados foram os seguintes: a) 3 pessoas fizeram referência à sacolas, com
as seguintes observações: “O supermercado deveria vender sacolas de trans-
porte com a logomarca da rede”; “As sacolas plásticas deveriam ser biodegra-
dáveis” e “O supermercado deveria ter sacolas de tecido reutilizáveis”; b) 2
pessoas afirmaram que realizam a separação de resíduos em casa; c) 1 pessoa
sugeriu que todos os caixas deveriam ser ecológicos; d) 1 pessoa declarou que
o supermercado deveria instalar local próprio para resíduos especiais; local
para colocar resíduos trazidos de casa.
Gráfico 1 – Porcentagem das contribuições realizadas no Caixa Ecológico

Diante destes resultados, decidiu-se por realizar uma pesquisa qualitativa com
Quanto ao perfil dos consumidores, a maioria dos entrevistados (60%) é do
as operadoras de caixa, ou seja, funcionárias que entraram diretamente em
sexo feminino, com média de idade entre 41 a 50 anos e grau de escolaridade
contato com os consumidores, e assim poder checar a veracidade das infor-
superior (Gráfico 2).
mações, bem como detectar necessidades de mudanças e/ou adaptações. A

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pesquisa foi realizada com dois grupos: o grupo das operadoras que trabalham pessoas nas lojas. Nos resultados da pesquisa constatou-se que a existência
no primeiro turno (09h00 às 15h30) e o grupo das operadoras do segundo de Centros de Coleta não foi um fator que influenciou a escolha do local de
turno (15h30 às 10h00). compra pelos consumidores. Os fatores considerados influenciadores foram: a
proximidade ao local de trabalho e os fatores preço e variedade. Alguns entre-
Averiguou-se que o grupo do segundo turno é mais pessimista em relação ao vistados alegaram que não utilizaram o Centro de Coleta do hipermercado por-
Caixa, alegando que muitas pessoas não estão dispostas a deixar suas emba- que fazem a coleta seletiva em seus condomínios e outros doam seus resíduos
lagens. Segundo as operadoras, estes clientes afirmam já participar da coleta às cooperativas de catadores, pois alegam estar fazendo também uma contri-
seletiva em casa ou informam que preferem trazer as embalagens vazias numa buição social. Esta pesquisa também ressalta a importância de campanhas de
próxima vez. O grupo do primeiro turno também recebe respostas negativas incentivo que ampliem o processo de divulgação e motivação dos clientes.
quanto à colaboração do cliente, no entanto, não considera que esta atitude
é da maioria. Algumas informam ter clientes “fiéis” e que quando chegam ao 4 Resultados e discussões
Caixa Ecológico já estão familiarizados com a participação.
O levantamento dos resíduos descartados foi realizado por meio do sistema de
Uma das hipóteses levantadas para este fato ocorrer é que, segundo observa- controle instalado pela equipe da CPD – Central de Processamento de Dados
ção na loja, os clientes que freqüentam os horários do segundo turno, geral- do supermercado. A Tabela 1 apresenta a quantidade média de embalagens
mente estão com mais pressa – são normalmente clientes que estão saindo descartadas no período de 10 de outubro a 30 de novembro de 2006.
do trabalho e indo para a casa - do que os clientes que fazem suas compras
em horários correspondentes ao primeiro turno, e bem por isso não estão dis- Tabela 1 – Quantidade de embalagens descartadas
postos a perder o mínimo tempo ouvindo explicações ou descartando suas
embalagens. Na opinião das operadoras, os clientes se sentem constrangidos
em responder que não querem usar o Caixa ou que não trarão suas próprias
sacolas e assim, respondem positivamente às questões da pesquisa. Porém, na
prática, a atitude nem sempre corresponde a estas respostas.

Pode-se observar que o consumidor não está familiarizado com iniciativas des-
ta natureza, evidenciando a necessidade de se ampliar o processo de infor-
mação e divulgação da proposta, bem como desenvolver mecanismos que o
estimulem a mudar seus hábitos.

Estes resultados podem ser comparados aos de outra pesquisa realizada por Fonte: Dulce Albach
Chaves e Batalha (2006), que analisou a relevância dos Centros de Coleta de Nota: As pesagens foram realizadas conforme a disponibilidade do supermercado.
embalagens recicláveis como fator de atração de clientes em supermercados.
Esta pesquisa observou as atitudes dos consumidores em uma rede de hiper- Na primeira semana foram descartadas 1547 embalagens. Nos 30 dias subse-
mercados com lojas em São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Esta rede qüentes o volume caiu para 1268. Embora o volume de embalagens descarta-
estabeleceu uma parceria com uma recicladora de alumínio, para juntos reco- das no Caixa Ecológico, tenha diminuído, o número de freqüência de clientes
lherem embalagens descartadas e associarem a imagem das empresas com permaneceu constante, segundo dados do supermercado. O número total de
a proteção do meio ambiente, aumentando conseqüentemente o fluxo de embalagens descartadas nestes 52 dias analisados é de 3212, sendo 1747 em-

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balagens de plástico e 1455 de papel. A quantidade de cupons de compras Neste período de funcionamento do Caixa Ecológico e em análise qualitati-
registrados em toda a loja foi de 62.842 sendo que destes, 8.954 são do Caixa va ao comportamento tanto dos funcionários do supermercado, dos clientes
Ecológico, que se evidencia como o mais utilizado pelos clientes, independen- como da comunidade entorno, pôde–se concluir que um fator a ser melhor
temente de realizarem alguma contribuição no momento da compra. Isto se dá desenvolvido é a divulgação. Para isto, uma hipótese seria a elaboração de
em função do posicionamento do caixa no lay-out da loja, estando situado em uma Campanha de Incentivo ao Caixa Ecológico envolvendo promotores para
local de fácil acesso e circulação. auxiliar no processo de esclarecimento e convencimento da população, em as-
sociação ao fornecimento de brindes promocionais.
Diante deste quadro de valores, e embasados na importância que todos os
envolvidos neste projeto acreditam que ele signifique, concluiu-se que é ne- Outra media que favoreceria a divulgação e adesão seria a instalação de um
cessário se estabelecer outras atitudes que, associadas ao Caixa Ecológico via- Caixa Ecológico nas demais lojas da rede em Curitiba. Desta forma, todos os
bilizem a somatória de um valor mais significativo para ser doado à instituição clientes, independentemente de qual loja fizessem suas compras, teriam a
filantrópica. Sabe-se que a maior preocupação desta proposta são as questões possibilidade de descartar suas embalagens e conseqüentemente conhecer a
ambientais, no entanto, medidas de convencimento do consumidor são impor- proposta. Este procedimento também promoveria o aumento da quantidade
tantes para conquistar a participação. de embalagens descartadas diariamente.

A primeira alternativa definida foi a instalação de lixeiras destinadas à coleta Observou-se que além destas, outras ações também agregariam qualidade e
seletiva, tanto internas como externas, nos supermercados da rede em ques- ampliação do sistema:
tão. Por isto, novas ações de informação estão sendo planejadas para cons-
cientização e colaboração dos envolvidos, como palestras e acompanhamento - Aquisição de sacolas em tecido para serem comercializadas na loja
de atitudes no local. e/ou oferecidas aos clientes como prêmio a uma determinada quantidade de
cupons do Caixa Ecológico, para que esta sacola seja utilizada nas compras
O volume interno de resíduos gerado em todas as lojas da rede é significativo substituindo as sacolas plásticas;
e não possuía até aquele momento um sistema de coleta planejado (A rede - Instalação de um sistema de embalagens retornáveis de produtos de
tem um sistema de gerenciamento de resíduos apenas para seus resíduos rela- limpeza com desconto em troca da embalagem vazia;
cionados às mercadorias). As lixeiras foram instaladas nas quatro lojas da rede - Desenvolvimento de novos displays para as prateleiras expondo ade-
situadas em Curitiba. Com esta iniciativa, o total dos resíduos gerados pelas quadamente embalagens unitárias, reduzindo a quantidade de embalagens
lojas terá um destino ambientalmente correto além de se somar aos resíduos coletivas;
do Caixa Ecológico. - Parcerias com os fornecedores do supermercado, ampliando a par-
ticipação e efetivando a viabilidade econômica do projeto. Por exemplo, por
Como já abordado anteriormente, o valor arrecadado com as embalagens re- meio de apelos próprios para distinguir seus produtos e suas embalagens em
cicladas deve ser revertido a instituições filantrópicas. O critério estabelecido associação ao Caixa Ecológico.
é que o local seja cadastrado na Receita Federal e na Fundação de Ação Social
(FAS), comprovando assim prestar os serviços de assistência a que se propõe e Numa abordagem mais abrangente, o sistema pode se expandir no sentido de
também que necessite de recursos financeiros. sensibilizar os fabricantes em relação aos projetos de design de suas emba-
lagens, revendo materiais e processos de forma mais aprofundada enquanto
Processo avaliativo análise de ciclo de vida.

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5 Considerações finais balagens que precisam acompanhar os anseios de seu público alvo e que, se
suas atitudes mudarem terão que ser satisfeitas.
Os resíduos sólidos urbanos compostos por embalagens representam uma
grande ameaça a proteção ambiental se não forem adequadamente observa- O ciclo é amplo e está num processo inicial. Muitos não colaboram, ou por
dos e inseridos nas análises do ciclo de vida destas embalagens. Estas análises preguiça, descaso, dificuldade de modificar hábitos, desinteresse ou por sim-
acompanham o projeto da embalagem, desde a especificação de seus mate- ples desinformação. No entanto, o Caixa Ecológico, não é mais considerado
riais de fabricação, os processos utilizados, sistemas de distribuição, aquisição experimental e a rede de supermercado está analisando a expansão do con-
pelo consumidor, uso, descarte e processos de destinação e/ou tratamento. ceito para as demais lojas. O prazo para a consolidação de mudanças quanto
Trabalha-se assim num círculo fechado onde todas as etapas visam a sustenta- ao destino ambientalmente correto e ideal para os resíduos de embalagens
bilidade e a mínima agressão ao meio ambiente. domésticas é incerto, porém uma parcela de contribuição está lançada com o
Caixa Ecológico.
Porém, para que este ciclo seja eficiente, há necessidade de se estabelecer
responsabilidades e comprometimento dos envolvidos neste processo. Desde
o responsável pela extração da matéria-prima, passando por todas as demais Referências
etapas até o responsável em organizar um destino correto no final do percurso.
Pode-se perceber que se configura por um trabalho em equipe e/ou uma ação Artigos em revistas acadêmicas/capítulos de livros
de coletividade onde a soma dos esforços se complementam.
Anonymous. Recycling Certification for Supermarkets. BioCycle, Boston, Massachusetts, v.47,
Este projeto pretende, com a instalação do Caixa Ecológico, representar uma n.3, p. 16, mar. 2006.
parcela de colaboração no final do ciclo de vida das embalagens domésticas e CHAVES, Gisele de Lorena Diniz; BATALHA, Mário Otávio. Os Consumidores Valorizam a Coleta de
assim atingir o maior número possível de envolvidos para o questionamento Embalagens Recicláveis? Um Estudo de Caso da Logística Reversa em Uma Rede de Hipermerca-
dos. Gest. Prod., São Carlos, v. 13, n. 3, p. 423-434, set.-dez. 2006.
de suas atitudes e o comprometimento com as mesmas em relação a proteção
KJAERHEIM, Gudolf. Cleaner production and sustainability. Journal of Cleaner Production, 13, p.
ambiental.
329-339, 2005.
MANCINI, Sandro Donnini; NOGUEIRA, Alex Rodrigues; VIEIRA, Allan Camargo; A G U I L A R ,
O ponto de venda supermercado, local de grande concentração de embalagens, Amanda Fiori; BORDIGNON, Eduardo D’Áurea. Plásticos: consumo versus descarte. In: Associa-
fornece um local próprio para o descarte de embalagens para a reciclagem. ção Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental. Saneamento Ambiental Brasileiro: Utopia ou
Este procedimento confere ao estabelecimento o caráter de ser ecologicamen- Realidade?. Anais... Rio de Janeiro: ABES, 2005. p. 1-10, Ilus., tab.
te comprometido. Envolve os consumidores (responsáveis pelo descarte das RAMIREZ, Jessica. How to Live a Greener Life. Newsweek, New York, v. 149, n. 16, p. 82-82, apr.
embalagens) que se vêem instigados a repensar suas atitudes e seus hábitos. 2007.
Envolve as recicladoras que vislumbram mais uma fonte de matéria-prima. En- SANTOS, Amélia S. F.; AGNELLI, José Augusto M.; MANRICH, Sati. Tendências e Desafios da Reci-
clagem de Embalagens Plásticas. Polímeros, São Carlos, v. 14, n. 5, p. 307-312, 2004.
volve os supermercados concorrentes que observam com atenção a iniciativa
WOODS, Sarah. Wrap to Boost Guidance on Greener Packaging Design. Design Week, Londres,
e analisam a possibilidade de também aderi-la. v. 22, n. 2, p. 7-7, jan. 2007.

Envolve instituições filantrópicas que podem associar as análises de suas ações Livros, e material não publicados
sociais também às ambientais. Envolve o setor público que vê com simpatia
atitudes que deleguem aos empresários e a comunidade, responsabilidades CEMPRE. Manual de Gerenciamento Integrado do Lixo Municipal. São Paulo: Instituto de Pesqui-
que até então são atribuídas apenas ao estado. Envolve os fabricantes de em- sas Tecnológicas: CEMPRE, 2000.

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57
DIAS, Genebaldo Freire. Pegada Ecológica e Sustentabilidade Humana. São Paulo: Gaia, 2002.
GORE, Albert. A Terra em Balanço. Tradução Elenice Mazzilli et. al. São Paulo: Augustus, 1993.
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LEFTERY, Chris. Plastic: Materials for Inspirational Design. Mies (Switzerland): Rotovision, 2001.
MANZINI, Ezio; VEZZOLI, Carlo. O Desenvolvimento de Produtos Sustentáveis. Os requisitos
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58
Avanços no Design de Produtos a base de Resíduos de Vidro Reciclado

Dulce Maria de Paiva Fernandes


Universidade Federal do Paraná, Doutora
dulcefernandes@onda.com.br
dulcefernandes@ufpr.br

Palavras-chave: design para sustentabilidade,reciclagem em vidro

Este artigo apresenta parte dos resultados obtidos em pesquisas desenvolvidas ao longo dos últimos 10 anos cujo
objetivo foi contribuir para o desenvolvimento de tecnologias simples e de baixo custo, utilizando resíduos descar-
tados de vidro e visando a participação de designers frente as constantes demandas relacionadas à sustentabilida-
de ambiental, tecnológica, social e econômica.

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1 Introdução O projeto dos produtos utilizando sucata, como, por exemplo, a de vidro, se
insere no conceito sustentável por buscar desenvolver e produzir novos pro-
A abordagem dada ao que se chama de desenvolvimento sustentável local, dutos reciclando parte dos resíduos descartados pela sociedade utilizando téc-
versa sobre as questões sociais, econômicas e culturais, tecnológicas e de de- nicas de produção simples, repensando todo o ciclo de vida do produto, não
sign, envolvendo o uso de matérias primas recicladas, seu processamento (com agredindo o meio ambiente, e procurando o bem estar social.
as implicações energéticas e de resíduos que apresenta), os produtos gerados,
sua distribuição, seu uso e sua re-utilização após descarte. Na proposta de um fluxo eco industrial fechado, uma determinada empresa
controla a totalidade de um ciclo de vida de um produto. Segundo Kazazian
Também apresenta uma abordagem em construção, que propõem a criação de (2005) uma vez descartado pelos produtores ou usuários, este produto é “re-
uma rede cooperativa da qual participam: pesquisadores de tecnologias apro- manufaturado”, atualizado, para ser de novo colocado no mercado ou desmon-
priadas, através de instituições de pesquisa; cooperativas de produção, atra- tado para a reutilização de algumas peças em novos produtos. Esta abordagem
vés de redes solidárias comunitárias; designers, com know how e competência industrial já é praticada em diversos setores.
projetual na área dos objetos a serem produzidos e que, com isto estimulam
sua comercialização em canais eficazes (“que vendem”); marketing e comercia- O esquema apresentado acima pode ser do tipo linear ou circular. A proposta
lização com comprovada promoção dos produtos e da rede cooperativa como circular de Ademe (1999, aput Kazazian, 2005), é muito mais ampla que a do
um todo (voltada aos públicos-alvo que comprovadamente buscam este tipo tipo linear tendo em vista que a vida do produto e de seu futuro é abordada
de produto com selo social e ambiental). Esta rede, ainda não implantada, de forma articulada e os atores tornam-se mais co-participes. Cabe destacar
trabalharia inicialmente com tecnologia desenvolvida pelo Laboratório de Ce- que, neste modelo, idealmente todos os elementos de um produto circulam
râmicos da UFPR, com vidros reciclados. indefinidamente [seja à re-utilização, recuperação e geração de energia, inci-
neração, reciclagem, ou compostagem (abrangendo só os orgânicos, não os
A titulo de exemplificação também são apresentados alguns produtos desen- inertes como o vidro e outros materiais)], a Figura 1, mostra um modelo intitu-
volvidos pela autora e por alunos do curso de Design de Produtos da UFPR, lado “Roda da Eco-concepção”, proposto pelo Manual Promise do Pruma, O2
realizados a partir da técnica desenvolvida. Trata-se ainda de uma pesquisa (1996, aput Kazazian, 2005).
experimental que precisa ser testada em unidade piloto, visando verificar sua
viabilidade econômica em escala de produção para averiguar uma possível im- Reciclar assemelha-se ao processo da cadeia alimentar que possui uma lógica
plantação industrial. bastante sustentável, assim, para validar as ações relacionadas ao ciclo de vida
de um produto, deve-se realizar uma análise ampla já que, em certos casos,
determinadas propostas de reutilização ou reciclagem podem criar um impac-
2 Sustentabilidade e a Reciclagem de Resíduos
to muito mais pesado ambientalmente, por exemplo, com consumo de energia
O desenvolvimento econômico vem estimulando o consumo e promovendo muito mais elevado. Neste sentido, criar produtos reciclados com elevado va-
o crescimento do descarte de produtos e conseqüentemente de resíduos. A lor formal, de estima e perenidade de uso pode garantir uma maior permanên-
reciclagem torna-se necessária, por implicações ambientais (poupar recursos cia do mesmo no mercado e junto ao consumidor, e ampliar substancialmente
naturais e minimizar a geração de agentes poluentes), questões de espaço a vida das matérias-primas utilizadas.
(áreas disponíveis para aterros), e também pela vantagem de produção de no-
vos produtos com um menor custo (sejam energéticos ou de matéria-prima, Por outro lado cabe destacar que grande parte dos consumidores são cada
entre outros). vez mais sensíveis à aquisição de produtos que economizem matérias-primas
e energia, permitindo uma melhor gestão dos resíduos. Estes consumidores

Anais do 1º Simpósio Paranaense de Design Sustentável (I SPDS)


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também utilizam e mantém produtos consigo por mais tempo, ampliando sua
utilidade ou vida útil. Geralmente são produtos com valores formais, sociais e Estes dados são questionáveis comparados com a Pesquisa Nacional de Sa-
culturais mais perenes. neamento Básico (IBGE, 2000), que mostrou o seguinte perfil qualitativo do
lixo gerado no Brasil: 52% matéria orgânica, 25% de papel e papelão; 16% de
No panorama internacional, percebe-se que houve um grande avanço na reci- outros; 3% de plástico; 25 de metal e 2% de vidro. Desconsiderando a matéria
clagem de resíduos. Em países da Europa e no Japão a reciclagem tem aumen- orgânica temos 53 % de papel e papelão, 33 de outros materiais, 6 % de plásti-
tado a cada ano e isso é justificado não só pela escassez de espaço, que eleva cos, 4 % de metal e 4% de vidro.
o custo do armazenamento, como pela escassez de matéria-prima. No Brasil,
discussões de logística e viabilidade econômica permeiam o setor. É preciso Assim, pode-se dizer que frente a desigualdade sócio-econômica e a grande
haver um programa educacional intenso para que os resíduos sejam separados variabilidade na densidade populacional dos diversos municípios brasileiros,
de forma a não sofrerem contaminação logo no descarte, sendo esta medida surgem dúvidas, quanto à tonelagem de lixo gerada diariamente pela popula-
fundamental para a primeira etapa do processo da reciclagem. ção no Brasil, já que muitas vezes estes dados visam atender interesses públi-
cos ou privados alem de imediatistas.
O CEMPRE (2004), que realizou um estudo em 16 capitais brasileiras, atesta
que a cidade de Curitiba, em 2004, coletou 1.770 toneladas/mês com o pro- O investimento em coleta seletiva pode justificar-se na medida que gere retor-
grama de coleta seletiva, atendendo a 99,5% da população. Segundo esta ins- no econômico ou mesmo monetário, isto quando o valor do resíduo superar os
tituição, o custo que a coleta seletiva representa é de US$76,00* a tonelada (* investimentos em lixões e aterros sanitários, mesmo que contrários a interes-
US$1,00 = R$2,95 na época da pesquisa). Esse valor é seis vezes maior do que ses ambientais e sociais mais amplos.
o praticado pela coleta convencional.
3 Reciclagem de vidro
Dentre os materiais que compõem a coleta seletiva das cidades analisadas,
segundo esta organização, os resíduos mais encontrados em porcentagem de Segundo a ABRE - Associação Brasileira de Embalagens (2006), e o CEMPRE -
peso foram: 35% de papel e papelão; 18% de rejeitos; 16% de vidro; 15% de Compromisso Empresarial para a Reciclagem (2006), nos EUA 40% de vidro é
plástico; 8% de metais; 4% diversos (pilhas, baterias, borracha, madeira, etc.); reciclado, o equivalente a 2,5 milhões de toneladas; na Alemanha, em 2001,
2% de alumínio e 2% de longa vida. 87%, o equivalente a 2,6 milhões de toneladas; na Suíça, 92%; Finlândia 91% e
Noruega e Bélgica, 88%. Segundo dados da ABIVIDRO (2006), em 1991, a por-
centagem de vidro reciclada no Brasil em 2001 era de apenas 15% e a partir de
2003, esse número subiu para 45%, significando 423 mil toneladas, este per-
centual manteve-se estável até o ano de 2005 e avançou para 47% em 2007.

Sabe-se que o vidro é um material 100% reciclável. No entanto, o mesmo não é


biodegradável, não é absorvido pela natureza, criando um problema ambiental
quando simplesmente descartado, pois seu acúmulo representa um exponen-
cial crescimento de lixões e aterros sanitários.
Figura

Figura 1. Roda da Ecoconcepção (Fonte: Manual Promise do Pruma 1996, O2 France in: KAZA- O país “produz em média 890 mil toneladas de embalagens de vidro por ano
ZIAN, 2005) e utiliza apenas cerca de 45% de matéria reciclada na forma de cacos (390 mil

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toneladas por ano). Parte deles foi gerado como refugo nas fábricas e parte TABELA 1 - Cotação de Preços de Recicláveis no Mercado Nacional
retornou por meio de coleta”. (CEMPRE, 2006). Conforme a Pesquisa Nacional
de Saneamento Básico (PNSB, 2000), na coleta de cerca de 228.413 toneladas
de resíduos sólidos diários, 125.258 toneladas referem-se aos resíduos domici-
liares, dos quais apenas 2% referem-se a vidros em geral.

Segundo CHAVES (2000), em relação à utilização de matérias primas virgens, o


vidro reciclado apresenta uma economia de energia que pode variar de 4% a
32%; 20% na redução da poluição do ar; 80% na redução do volume de rejeitos
Fonte: CEMPRE - www.cempre.org.br, Acesso em: 26 de janeiro de 2006 e Acesso em: 20 de
de mineração; e 50% na redução do consumo de água. As usinas de reciclagem
abril de 2009.
adquirem o vidro a ser reciclado comprando-o de sucateiros ou “catadores” na
forma de cacos separados previamente por cores ou o recebem diretamente
de campanhas de reciclagem.
4 Reciclagem de vidro automotivo, de garrafas e vidraças
A grande maioria das usinas de reciclagem e processamento de vidro não re-
Em pesquisa realizada junto a catadores da comunidade da Vila Zumbi, em
aproveitam vidros planos automotivos. Porém, como já mencionado, a reci-
Curitiba, no ano de 2008, pode-se constatar que hoje não há interesse em cole-
clagem desse tipo de vidro é necessária devido ao grande número de peças
tar vidros descartados, em virtude do valor irrisório pago pelo mesmo, do risco
descartadas em aterros sanitários anualmente.
de ferimentos e do grande volume ocupado pelo vidro coletado (nos carrinhos
e nos depósitos comunitários).
Com a reciclagem do vidro automotivo, há uma diminuição do consumo ener-
gético em 70% (o ponto de fusão do vidro reciclado é mais baixo nos fornos, o
Segundo dados do CEMPRE (2006), o preço médio pago pela tonelada de vidro
que também prolonga a durabilidade do mesmo), e uma diminuição da emis-
incolor limpo variava de 65 a 224 reais. E o preço da tonelada do vidro colorido
são de dióxido de carbono para o ambiente. Também poupam matérias-primas
variava, em média, de 45 a 120 reais. Observa-se que este valor caiu para o
naturais, como areia, barrilha (material importado) e calcário. Os veículos au-
vidro incolor e subiu para o colorido CEMPRE (2009), de qualquer forma ainda
tomotivos utilizam dois tipos de vidros: vidro laminado (utilizado nos vidros de
continua pouco atrativo aos catadores em comparação com o alumínio, por
pára-brisas), e vidro temperado (utilizados nos vidros laterais e traseiros).
exemplo, tendo em vista o valor inferior aos demais materiais coletados para
reciclagem, conforme tabela 1.
A coleta de vidro automotivo se dá através de empresas reparadoras e/ou em-
presas que compram esse material para revendê-lo em usinas de reciclagem
Segundo Souza (1998), o custo do vidro produzido com matéria-prima virgem
de vidro. O preço médio pago, atualmente, pela tonelada de vidro automotivo
é praticamente o mesmo do feito com mistura de cacos. “O ideal seria que a
é de apenas dez reais (Böhler, 2008). Em Curitiba, a maioria das empresas re-
usina de beneficiamento pudesse fornecer uma sucata de vidro com padrões
paradoras descarta os vidros automotivos e estes acabam tendo como destino
de qualidade exigidos pelo comprador final, por um valor compatível, para que
final os aterros sanitários da cidade ou empresas de reciclagem em São Paulo.
o produto final acabado também tivesse seu custo barateado.”(ibid).
Em 2006, incorporando técnicas de casting a procedimentos de queima utiliza-
dos em técnicas de fusing, desenvolvidas com finalidade artística por Damo &
Saparolli (2004), o material, obtido através de resíduos provenientes de vidros

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de garrafas de bebidas, vidraças e vidros automotivos “temperados”, apresen-
tou resultados satisfatórios em testes científicos preliminares, realizados com
re-fusão entre 810-850º C (Vasques, Rocha e Fernandes, 2006). Esta técnica
permitiu incorporar uma maior redução do consumo energético necessário
para prepará-lo e produzi-lo, permitindo sua produção por cooperativas, em
escala semi-industrial, com baixo investimento inicial.

Explorando as características do material como texturas, cor, forma, tempe-


ratura, entre outras, obtidas neste processo de reciclagem, diversos produtos
vem sendo desenvolvidos visando mercados cujo público-alvo comprovada- Figura 4. Releitura de lustre tradicional com prato e pendentes em Vidro Reciclado Bruno
Fernandes, Casemiro Grabias e Fernanda Suzuki Alunos do curso de Design UFPR - Fabricação
mente busca e valoriza este tipo de produto com selo social e ambiental. Al-
própria em Centro de Pesquisa Laboratório de Cerâmicos - UFPR, 2008 ( imagens e foto: dos
guns produtos desenvolvidos são podem ser visualizados nas figuras 2, 3 e 4. autores)

Os resultados apontam possibilidades inovadoras de aplicação deste material


com base em ensaios físicos, químicos e mecânicos realizados em 2006 e 2007,
com corpos de prova. Os resultados positivos comparados aos de corpos de
prova de vidros planos, produzidos por processos de flutuação (vidro float, de-
senvolvido em 1952, por Pilkington), podem vir a garantir a certificação deste
novo material.

5 Unidades Piloto em vidro reciclado


Figura 2. Jóias utilizando materiais alternativos associados a materiais tradicionais - Barbara
Fórmica e Kelly Wazur TCC Curso de Design de Produto - Fabricação própria em Centro de As empresas reparadoras de vidro automotivo, bem como redes de restauran-
Pesquisa Laboratório de Cerâmicos - UFPR, 2008 ( foto: arquivo das autoras) tes (fornecendo garrafas de bebidas vazias) ou ainda montadoras (vidro auto-
motivo descartado por crash test), poderão associar-se ao projeto, entregando
o vidro nas unidades produtivas, tendo em vista que a legislação vigente as
torna co-responsáveis da sucata gerada. O capital inicial para instalação e ma-
nutenção da estrutura necessária para o funcionamento das cooperativas pro-
dutivas populares poderá advir de empresas e/ou seus empregados, apoiados
em leis sócio-ambientais vigentes, que permitem descontos de impostos.

Instituições governamentais como Prefeituras poderão auxiliar com consigna-


ção de terrenos e pessoal técnico especializado (contabilidade, secretaria, en-
Figura 3. Luminária Navie em Vidro de Garrafas Reciclado - Bruno Vinicius Kutelak Dias, Melina
Ileana Osik Silveira e Paola Azevedo de Andrade e Luminária com componentes modulares
tre outros) para a constituição e manutenção das cooperativas. Orgãos como
em Vidro Reciclado Alan Coelho e Guilherme de Mattos Alunos do curso de Design UFPR - SEBRAE, poderão oferecer treinamento e linhas de crédito especiais, a exem-
Fabricação própria em Centro de Pesquisa Laboratório de Cerâmicos - UFPR, 2008 ( foto: dos plo do que já ocorre para micro e pequenas empresas.
autores)

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Designers, neste primeiro momento, participam desenvolvendo produtos com
foco nas demandas de mercados potenciais e emergentes, reconhecendo a
importância da concepção de produtos com preços que valorizem o trabalho
dos produtores (cooperados), bem como integrando suas competências junto
a toda a rede. Salientamos que a postura de “coordenador” muitas vezes assu-
mida por designers em outros modelos, deve ser abandonada, tendo em vista
que este profissional não possui formação adequada para isto. Existem exce-
ções, mas estas podem ser atribuídas a “indivíduos” que possuem a caracterís-
tica de coordenação e liderança em si, já que a formação brasileira do designer
como bacharel, não contempla conteúdos que o habilitem em pedagogia, psi-
cologia, administração, sociologia, entre outros, que poderiam qualificar este Figura7. Modelo circular de rede cooperativa proposto por ABBONIZIO & FERNANDES, 2007
profissional para a função de líder ou mediador devidamente preparado.
Com relação a reutilização de resíduos, caso do vidro reciclado, aqui apresen-
Finalmente, cabe destacar que os canais de comercialização são parte funda- tado sob a ótica da sustentabilidade, preservação de reservas naturais e re-
mental da rede. Profissionais de marketing e vendas deverão estar sempre dução da emissão de poluentes e dos recursos energéticos, associada a pro-
presentes, ou junto as Instituições de Pesquisa, ou através de ONGs, ou ainda moção de produtos que tenham maior longevidade ocasionando a redução
na própria empresa responsável pela comercialização. Como exemplo, as lu- de descartes, aponta uma ação concreta, factível e necessária. Esta proposta,
minárias “línea Gracie”, criadas por Dulce Fernandez, em 2006, as peças foram integrada a real possibilidade de geração de oportunidade de renda deverá ser
montadas em bases fabricadas e comercializadas pela empresa Plano de Luz, devidamente avaliada e monitorada a curto e médio prazo após sua completa
que atua e participa de feiras e rodadas de negócios no mercado nacional e implementação através de uma unidade piloto.
internacional desde 1990.
Para isto também foram realizados estudos em 2008, visando possíveis auto-
mações e redução de custo no processamento do vidro automotivo tempe-
6 Conclusão rado, da recepção do vidro quebrado ao acabamento das peças. Também a
inclusão da separação magnética no processo de limpeza do vidro para melho-
O desenvolvimento sustentável no contexto brasileiro passa diretamente pela
rar sua qualidade e transparência e ensaios de reutilização dos objetos confec-
inclusão social, já que uma sociedade para que possa se denominar sustentá-
cionados com esta técnica e que se partiram após o uso, obtendo resultados
vel não pode conviver com níveis de desigualdades tão evidentes como o que
satisfatórios.
nos deparamos atualmente. Esta urgência social muitas vezes coloca determi-
nados “atores”, públicos e/ou privados, como protagonistas principais de um
Além disto, estudos complementares para implantação de Unidades Piloto de
processo complexo e que deveria ser mais articulado. Para contribuir além das
Produção Cooperativa, como: plantas piloto; pesquisa de equipamentos mais
questões ambientais e da viabilidade econômica, o desenvolvimento sustentá-
adequados e de menor custo dentre os existentes no mercado; levantamen-
vel inclusivo deve desenvolver novos modelos de relação produtiva, social, cul-
to de fornecedores; diretrizes de gestão de resíduo dentro das unidades pi-
tural e organizacional/administrativo. Neste sentido, o trabalho cooperado em
loto; estudos de métodos e tempo para processamento do vidro e produção
rede pressupõe uma construção mais abrangente da qual participem diversas
de peças; processamento controlado (limpeza, moagem, separação por gra-
competências complementares (Figura 7), (ABBONIZIO & FERNANDES, 2007).
nulometria, lavagem, secagem) para levantamento do tempo necessário para

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o processamento e medição de porcentagens de vidro aproveitado; análise centes e de para-brisas . São Paulo, Escola Politécnica USP, 2000.
quantitativa de peças geradas para complementação dos dados sobre tempo e DAMO, Elvo e SAPAROLLI, Maria Helena . Pesquisas em Vidro Reciclado aplicado a Esculturas.
aproveitamento, já foram realizados. Curitiba, Atelier de Escultura Centro de Criatividade Prefeitura Municipal de Curitiba, 2002-
2004.
FERNANDES, D. M. P., ARMELLINI, C. Desenvolvimento de novas técnicas para utilização de su-
O estudo de aplicação do vidro reciclado em novos produtos aponta para a cata de vidro visando a produção de novos produtos In: 6 P&D, 2004, São Paulo. Anais 6 P&D.,
viabilidade da utilização da técnica em unidades piloto de pequeno porte, situ- 2004.
adas próximas dos locais de coleta e do mercado consumidor das peças produ- IBGE. Pesquisa Nacional de Saneamento Básico, 2000 disponível em: <http://www.ibge.gov.br/
zidas, propiciando melhoria de renda e de qualidade de vida aos cooperados. home/presidencia/noticias/27032002pnsb.shtm> Acesso em 20 de abril de 2009.
Isto permitirá verificar os modelos da rede e tecnológicos propostos. A implan- KAZAZIAN,Thierry (org). Haverá a Idade das Coisas Leves: Design e Desenvolvimento Sustentá-
tação de uma unidade piloto também deverá oportunizar o avanço constante vel. São Paulo, Editora SENAC São Paulo, 2005.
de novas tecnologias apropriadas pelos Centros de Pesquisa e demais “atores”, MIYAWAKI, Luciana Emy. Desenvolvimento de Vidros Curvados a partir de Vidros Planos produ-
zidos pelos Processos de Reciclagem. Iniciação Científica (UFPR/TN) / ago 2006 a jul 2007. Evinci,
visando o crescimento de suas reais contribuições sociais e econômicas. Curitiba, 2007.
PEREIRA, A Franco. Da Sustentabilidade Ambiental e da Complexidade Sistêmica no Design In-
dustrial de Produtos. In: Estudos em Design. Associação de Ensino de Design no Brasil. Rio de
janeiro, fev 2003, vol. 01 p. 37-61.
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2006. São Paulo: ABIVIDRO, 2006. TOS CERÂMICOS. In: 51 Congresso Brasileiro de Cerâmica,2007, Salvador. Anais 51 Congresso
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ABBONIZIO, M. & FERNANDES, D.M.P. Design for Sustainability: Discussing of Models in the
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CHAVES, Arthur Pinto; SOUZA, Cleusa Cristina Bueno. Reciclagem de vidros de lâmpadas floures-

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65
Panorama do design para a sustentabilidade
An overview of design for sustainability

Liliane iten Chaves, PhD


Universidade Federal do Paraná, Brasil
liliane.chaves@ufpr.br

design para a sustentabilidade, inovações radicais, inovações incrementais

O presente artigo apresenta um breve panorama da evolução do design para a sustentabilidade. Inicia apresentando
dois percursos possíveis para esta disciplina: através de inovações radicais ou de inovações incrementais. A partir de
um reexame sobre os rumos do desenvolvimento sustentável, o artigo questiona o papel atual do designer, apresen-
tando na terceira secção uma breve evolução da seleção dos materiais para o design do ciclo-de-vida do produto.
As abordagens relacionadas ao design estratégico são o tema das últimas secções, onde é descrito os Sistemas
Produto-Serviços e novas abordagens para o design para a sustentabilidade.

design for sustainability, radical innovations, incremental innovations

The present paper presents a brief overview of the design for sustainability evolution. Initially it presents two pos-
sible rotes for this discipline: through radical or incremental innovations. Moving from a review of the routes of the
sustainable development, the paper argue about the current role of designer, presenting in the third section one
brief evolution from the selection of materials to the Life Cycle Design approach. The approaches related to strategic
design are the subjects of the last two sections, where it is described the Product-Service System and new approaches
of design for sustainability.

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1 Introdução serão mais facilmente inseridos, consumirão um menor tempo para sua apli-
cação, uma vez que focalizarão problemas pontuais próprios da área, determi-
O papel do designer, com relação às questões ambientais, tem se tornado nando com isto um menor custo para sua aplicação. Este último é um atributo
mais e mais importante. Este fato tem ocorrido de forma paralela à evolução bastante interessante para a aceitação dos requisitos ambientais nas empresas
sistêmica que as abordagens das questões ambientais estão assumindo nas (Vezzoli & Chaves 2006).
empresas. Inicialmente, nas empresas, a introdução de requisitos ambientais
era focada em algumas ações para reparar danos realizados com o processo O outro percurso que o design para a sustentabilidade tem assumido é o de
produtivo. Em inglês usa-se o termo “end-of-pipe” para definir estes tipos de inovações radicais, como a desmaterialização de produtos, a oferta de solu-
ações ao final do ciclo produtivo. ções através de serviços e a busca por alternativas para um consumo mais
responsável.
Progressivamente, compreendeu-se que resultados mais eficientes seriam al-
cançados se as ações ambientais fossem incorporadas no processo produti- O presente artigo apresenta algumas linhas de ação que estão sendo realiza-
vo e, finalmente, observou-se que ao inserir requisitos ambientais na fase de das nestes dois sentidos, fazendo uma breve descrição sobre a evolução do
planejamento do produto, os resultados em termos ambientais seriam mais design para a sustentabilidade.
eficazes. Em outras palavras, as ações deixaram de ser de reparo para se trans-
formarem em ações de prevenção. 2 Desenvolvimento sustentável
Assim, no momento em que o planejamento do produto passou a ser foco Entender as razões da evolução do design para a sustentabilidade requer uma
das ações para a busca de um menor impacto ambiental, o papel do designer prévia e breve consideração com relação ao desenvolvimento sustentável,
assumiu uma relevância ainda maior neste processo.Hoje em dia, observa-se tema diretamente vinculado à proposta da disciplina. Tal consideração tem por
que o design para a sustentabilidade assumiu dois distintos percursos para res- finalidade compreender o novo e amplo papel do designer em relação a esta
ponder aos desafios da busca por um desenvolvimento sustentável: o caminho temática.
das inovações incrementais e o das inovações radicais.
A crise do petróleo dos anos 60 fomentou as discussões sobre os problemas
No primeiro, o design para a sustentabilidade está se movendo no sentido de ambientais. Limites do crescimento, uma das primeiras pesquisas relacionadas
tornar mais “aplicáveis” os seus métodos e ferramentas. Isto é, as ferramentas com o problema ambiental, acordou o mundo para estas questões. Ele foi o
e métodos do design para a sustentabilidade já possuem um conhecimento relatório do Clube de Roma, no qual são ilustrados os três principais fatores
fundamentado e consolidado na academia e em alguns setores produtivos. Po- que levaram a estes problemas ambientais: a explosão demográfica, principal-
rém, estes métodos e ferramentas foram desenvolvidos para uso geral, o que mente concentrada nos países do sul do planeta, o consumo exagerado, princi-
demanda tempo para serem aplicadas em um setor ou produto específico. palmente dos países do norte do planeta e a ineficiência das atuais tecnologias
aplicadas (MEADOWS; et al. 1978).
O designer, neste caso, tem que interpretar e especificar seus usos para o pro-
duto que está desenvolvendo. Assim, para alcançar resultados mais eficientes Com relação ao consumo, sabe-se que 20% da população mundial consomem
estes métodos e ferramentas estão sendo focados em um determinado setor, 80% dos recursos naturais e, portanto, os 80% restantes da população conso-
produto ou contexto. A vantagem desta especialização é a de tornar estes mé- mem apenas 20% dos recursos (SACHS; et al 2002).
todos e estratégias próprios para uma realidade produtiva, contemplando o
inteiro ciclo-de-vida de um determinado produto. Como resultado prático, eles Em 1992, a ECO-92 World Commission for Environmental and Development

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(WDED), discutiu os problemas ambientais e as possibilidades de desenvolvi- para a continuação do planeta e revelam a fragilidade do argumento sobre o
mento. Esta conferência foi uma resposta para o relatório final da Comissão direito a recursos e melhor distribuição dos bens. A partir destas reflexões é
Bruntland Nosso futuro Comum que teve seus trabalhos desenvolvidos entre possível entender que para um desenvolvimento ser sustentável há a demanda
1983 e 1987. Nele, foi apresentado o mais usado conceito de desenvolvimento de uma mudança radical nos modelos atuais de consumo e distribuição.
sustentável: “...é aquele que atende às necessidades do presente sem com-
prometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem a suas próprias Em 2002, o Encontro Mundial para o Desenvolvimento Sustentável, em Johan-
necessidades” (CNUMAD 1991: 46). nesburg (SACHS; et al 2002) introduz questões como a da sustentabilidade so-
cial e ética. No evento, a sustentabilidade começa afrontar argumentos como
Desde lá, a maioria dos países criou ações para a implementação e análise de consumo responsável e justiça social mundial. Foram incorporadas novas
projetos de cunho ambiental. Além disto, acordos e convenções internacionais questões para a sustentabilidade como: direitos humanos, liberdade, paz, se-
foram assinados. Mas o confronto para um desenvolvimento sustentável ainda gurança, disponibilidade de recursos, direito ao emprego, educação, respeito à
é um desafio complexo, interligado por diversos fatores. diversidade cultural, etc. (Vezzoli 2006a).

Também em número de três são os fatores apontados como causadores do Assim, sustentabilidade não é mais resumida a argumentos ambientais afron-
atual problema ambiental: a explosão demográfica, o consumo ilimitado e a tados de forma pontual, mas é uma questão sistêmica, na qual todos os ele-
não eficácia das tecnologias no uso de recursos (Sachs 1994). Enquanto a ex- mentos estão interligados. Desenvolvimento sustentável é um tema inerente a
plosão demográfica e o consumo são fatores difíceis de sofrerem intervenção, três dimensões que podem ser resumidos nos três pilares da sustentabilidade
o melhor uso de recursos tem sido gradualmente incorporado nas atividades as dimensões econômica, ambiental e social (FIKSEL 2001):
em geral. No entanto, pontuar sobre um destes fatores tem demonstrado não
ser suficiente, afinal, são argumentos inter-relacionados como mostraremos - Ambiental: desenvolvimento que não excede os limites de resililência
brevemente a seguir. da biosfera e da geosfera (Vezzoli & Manzini 1998).
- Social: desenvolvimento que permite a mesmo nível de “satisfação”
Para manter e permitir aos países de industrialização recente ou os não indus- para as gerações futuras e uma igual distribuição de satisfação para todos no
trializados o mesmo padrão existente de consumo dos países ditos industriali- mundo.
zados, prevê-se que será necessário multiplicar por 10 a quantidade de recur- - Econômica: desenvolvimento com soluções passíveis de serem prati-
sos atualmente existentes, em um tempo estimado de 50 anos. Esta estimativa cadas e aplicadas.
é chamada por alguns pesquisadores de Fator 10 e representa o maior desafio
para um desenvolvimento sustentável. Muitos são os percursos que possibilitam a transição para a sustentabilidade.
Alguns estão apoiados em soluções técnico e tecnológico, outros se baseiam
Em outras palavras, para se manter o padrão atual dos países, de forma sim- em soluções sócio-éticas. Claro está que a mudança necessária demanda ino-
plória, ditos do “norte” e democratizar o consumo para os países do “sul”, de- vações. Estas inovações podem ser incrementais ou radicais.
veria ocorrer uma diminuição de 90% do consumo atual de recursos naturais,
sendo que estes 10% de recursos deveriam ser distribuídos de forma igual para Por inovações incrementais compreendem-se aquelas formadas por pequenas
todos no planeta (SACHS et al 2002; Manzini 2003). mudanças no processo e nos produtos. Elas acontecem de forma contínua no
setor produtivo e dependem de uma soma de combinações como, por exem-
Estes números não são exatos e são suscetíveis de discussão, apesar disto, eles plo, da demanda destas inovações e das possibilidades tecnológicas (Tischner,
são importantes para evidenciar qual é a dimensão da mudança necessária U. & Verkuijl M. 2006). As inovações radicais não são contínuas, elas rompem

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padrões, e estão, geralmente, ligadas a novas descobertas feitas em empresas, a sustentabilidade tem sido chamado de diversos nomes, com pequenas va-
universidades ou centros de pesquisa. Elas aparecem e propiciam uma profun- riações nas abordagens: ecodesign (Charter & Tischner 2001; Brezet & Hemel
da transformação nos comportamentos, na sociedade e na tecnologia. Para 1997; Hemel 1998; Lofthouse 2001), ecoredesign, design for environmental ou
ilustrar melhor, um exemplo de inovação radical foi a criação da Internet. DfE (Lewis; et al. 2002), Life Cycle Design (Vezzoli & Manzini 1998; EPA 1993),
cradle-to-grave design (McDonought & Braumgart 2002).
Esta breve e superficial descrição sobre os rumos do desenvolvimento sus-
tentável buscam sustentar o artigo nas conseqüentes derivações que o design A mudança evolucionária já é bastante presente em nosso dia-a-dia. A mídia,
para a sustentabilidade tem assumido, impelindo o leitor a pensar sobre os assim como as empresas, o comércio compreenderam sua importância e estão
possíveis papéis que o designer pode assumir para auxiliar nesta necessária incorporando ações pequenas, mas favoráveis a uma diminuição do impacto
transição. ambiental. É, portanto, uma possibilidade já sendo implementada e bastante
corrente. Ela acontece, principalmente, porque não faz grandes rupturas com
3 Design para a sustentabilidade os padrões atuais. Mas, exatamente por isto, não cria mudanças radicalmente
significantes, nem relacionadas aos impactos ambientais causados pelos pro-
Por design para a sustentabilidade compreende-se a atividade de design (seja dutos, menos ainda com relação às mudanças sócio-éticas.
em relação à prática, à educação ou à pesquisa), que dá uma contribuição para
o desenvolvimento sustentável (Manzini & Vezzoli 1998). Voltando ao discurso de Hemel (1998), a posição revolucionária afirma que
a continuação dos modelos de produção, mesmo considerando-se em uma
Após o que foi descrito na secção anterior, pode-se vislumbrar dois níveis de abordagem sistêmica, não é eficaz o suficiente para o tipo de mudança neces-
interferência do designer para ajudar na transformação para um desenvolvi- sária para a sustentabilidade. Apenas uma forma revolucionária poderia atingir
mento sustentável: no redesign do existente, quando se trata de produtos/ este objetivo, onde devem ser contempladas além da dimensão ambiental, as
processos, ou em uma abordagem que contemple mudanças radicais, consi- dimensões econômica e social da sustentabilidade.
derando a desmaterialização, como por exemplo, com o projeto de Sistemas
Produto-Serviço ou mudanças dos padrões atuais de consumo. Com relação a Vários autores estão trabalhando neste sentido usando nomenclaturas diver-
estas duas possibilidades, Hemel (1998: 18), em sua tese de doutorado, deno- sas: design for sustainability (Manzini & Vezzoli 1998), sustainable product
mina estes dois extremos de posicionamento do designer perante o desenvol- design e sustainable design (Tischner & Charter 2001), sustainable projection
vimento sustentável de “evolucionário” e “revolucionário”. (Lewis; et al 2002). Esta posição revolucionária pode ser considerada como
uma abordagem estratégica do design, no qual são consideradas questões do
Seguindo este “mapa” traçado por Hemel, os pesquisadores que se dedicam desenvolvimento sustentável.
ao extremo evolucionário estão trabalhando para melhorar o modelo corren-
te de produção. Para estes pesquisadores e profissionais uma interrupção no Manzini (2003: 231) tem assumido uma posição claramente revolucionária.
atual modelo não seria possível e aceito. A mudança necessária deverá, então, Para ele design para a sustentabilidade é “...uma atividade de design que tem
ser alcançada através de um incremento do modelo existente, sem grandes por objetivo encorajar inovações radicais orientadas para a sustentabilidade,
rupturas, numa “evolução” do existente. dirigindo o desenvolvimento de sistemas socio-técnicos para serem de baixa
intensidade material e energética e com elevado potencial regenerativo”.
Para isto, estes pesquisadores e profissionais estão melhorando os métodos e
ferramentas do design para a sustentabilidade existentes, para que estas pos- Ainda para este autor, o design para a sustentabilidade, “exige sempre de nós a
sam atingir resultados mais eficientes e eficazes. Este âmbito do design para consideração do inteiro sistema em sua complexidade social, tecnológico e na-

Anais do 1º Simpósio Paranaense de Design Sustentável (I SPDS)


70
tural” . Para ele, considerar uma dimensão simplesmente técnica, não possibi- de projetual, ele se concentrou na seleção de materiais e energia com baixo
litaria o alcance da sustentabilidade. Seria fundamental considerar a dimensão impacto ambiental, ou seja, no uso de materiais não tóxicos, não nocivos, na-
social, porém, com maior profundidade do que como vem sendo considerada turais, reciclados, recicláveis, renováveis e biodegradáveis. Ainda hoje é este o
nos projetos atuais de inovação e design. nível de inserção de requisitos ambientais mais percebido no mercado. No en-
tanto, algumas perguntas passaram a confrontar a real eficácia de se focar ape-
Outros autores, anteriores a Manzini, já alertavam sobre a importância destas nas na escolha dos recursos de baixo impacto ambiental. Estas questões são
considerações sociais, de comportamento e sobre cultura, na atividade do de- levantadas, em geral, quando o designer se confronta com duas possibilidades
signer, tais como: Papaneck (1985), Whiteley (1993) ou mesmo Schumacher projetuais na busca de um menor impacto ambiental no desenvolvimento de
(1983) que, apesar de não ser designer, propunha novos modelos para a apro- seu produto, como por exemplo: é mais interessante à escolha de um material
priação da tecnologia. Estes autores já clamavam a responsabilidade social do mais durável ou de um material com menor impacto ambiental, porém com
designer, mostrando uma visão crítica em relação aos seus papéis no futuro da menor durabilidade?
vida do planeta.
O argumento da durabilidade de um material, e, por conseguinte do próprio
Apesar destas posições descritas serem antagônicas, alguns autores como produto, é bastante interessante. A princípio, e para um profissional menos
Charter & Tischner (2001) e Vezzoli (Manzini & Vezzoli 1998) acreditam que as informado, poderia ser claro que um material com menor impacto ambiental,
duas posições não são antagônicas. Esta mesma é a posição assumida para a porém com menor durabilidade, seria a melhor escolha. Porém, ao se con-
autora deste artigo. Existem múltiplas e diferentes abordagens para se chegar frontar o impacto ambiental causado pelo produto não apenas na sua fase
a um desenvolvimento sustentável, entre os extremos da abordagem “evolu- de pré-produção e produção, mas em todo o seu ciclo-de-vida (pré-produção,
cionária” e “revolucionária”. É clara a necessidade de uma mudança drástica, produção, uso, transporte e descarte), percebe-se que a durabilidade pode vir
mas ao mesmo tempo, esta mudança não pode excluir uma continuidade do a ser um fator prioritário no projeto de um produto com menor impacto am-
presente modelo de produção. Assim, todos os esforços, sejam na área técnica biental.
ou relacionados com mudanças sociais e de comportamento, são aceitos como
possibilidades viáveis. Comparando duas cadeiras com relação ao impacto ambiental, uma feita de
plástico e outra de papelão reciclado (Vezzoli 2006b), poderá ficar mais claro
A seguir, o artigo descreve algumas abordagens do design para a sustentabili- este argumento. Em um primeiro momento, considerando-se apenas o impac-
dade, tendo como fio condutor à evolução desta disciplina: to das fases de pré-produção e de produção, pode-se acreditar que a cadei-
ra de papelão possui um menor impacto ambiental com relação à cadeira de
- seleção dos materiais, plástico, afinal prolongar a vida de um material descartado é altamente louvá-
- abordagem do Life Cycle Design, vel. Porém, ao ser considerado os impactos das outras fases do ciclo-de-vida
- Sistema produto-serviço, do produto (pré-produção, produção, uso, transporte e descarte), é possível
- outras abordagens observar que a cadeira de plástico possui um tempo de uso maior do que a
cadeira de papelão.
4 Da escolha de materiais para a abordagem do Life Cycle
Considerando-se a necessidade de uso da cadeira durante um determinado
Design tempo, estimando, por exemplo, uma vida de 12 anos, quantas cadeiras de pa-
pelão teriam de ser produzidas para cumprirem esta mesma função da cadeira
Quando o designer iniciou a introduzir requisitos ambientais em sua ativida-
de plástico ao longo deste tempo estimado? Em comparação, quantas cadeiras

Anais do 1º Simpósio Paranaense de Design Sustentável (I SPDS)


71
de plástico seriam necessárias para cumprir a mesma função durante estes - Extensão da vida do produto
mesmos 12 anos de uso? - Extensão da vida do material
Ou seja, para a cadeira de papelão reciclado cumprir a mesma unidade funcio- - Design para a desmontagem
nal (12 anos de uso) da cadeira de plástico, teria que ser produzida N vezes e a
cada nova produção acumularia um impacto ambiental. Para alguns pesquisadores, tais como Dewberry (1998), o termo Life Cycle De-
sign está diretamente vinculado ao uso de uma Análise do Ciclo de Vida do
Por isso, a redução do consumo de material é somente uma das estratégias a produto, mais conhecida pelas iniciais em inglês LCA (Life Cycle Assessment).
serem consideradas pelo designer que quer introduzir requisitos ambientais Esta não é uma imposição, mas, em geral, uma LCA é bastante útil, uma vez
no desenvolvimento de seus produtos. Neste artigo, não se quer afirmar que que apresenta dados quantitativos sobre qual a fase do ciclo-de-vida do pro-
a escolha de materiais com menor impacto ambiental é uma estratégia menos duto que é mais ambientalmente impactante. Sendo assim, este método pode
importante que a durabilidade. O que se propõe aqui é questionar a priorida- esclarecer qual é a fase prioritária de intervenção do designer para alcançar
de de escolha do designer quando confronta duas estratégias que levam a um resultados mais efetivos.
menor impacto ambiental.
Muitas vezes as estratégias acima citadas podem entrar em conflito entre si e
Projetar considerando todo o ciclo-de-vida do produto implica em passar de desta forma o designer deverá tomar a decisão sobre qual a estratégia mais
um projeto de produto a um projeto de um sistema-produto, observando to- importante a ser adotada em seu produto para se obter melhores resultados.
dos os elementos envolvidos na produção do produto, ou seja, todos os inputs É neste sentido que ferramentas e métodos específicos para um determinado
e outputs gerados durante todo o ciclo-de-vida. A este tipo de abordagem de- setor/produto, deveriam ser desenvolvidos para auxiliar na tomada de decisão
nomina-se Life Cycle Design (Manzini & Vezzoli 1998). do designer (Vezzoli & Sciama 2006).

O termo Life Cycle Design foi utilizado pela EPA (1993), em seu Life Cycle De- 5 Sistema produto-serviço
sign Guidance Manual: environmental requirements and the product system.
Por ciclo de vida compreende-se o completo ciclo de vida do produto, ou seja, É um exemplo de ação revolucionária, o projeto de sistemas eco-eficientes,
desde a pré-produçao, a produção, o uso, o transporte e o descarte do produto, onde a idéia principal é satisfazer as necessidades do cliente oferecendo solu-
o seu reuso e reciclagem de parte ou do produto total. O ciclo de vida também ções inovadoras, que promovam a desmaterialização dos padrões de consumo.
é conhecido pelo termo do berço à tumba, em inglês cradle-to-grave, ou do Esta é uma abordagem relacionada ao design estratégico. Portanto, neste nível
berço ao berço (cradle-to-cradle), se for considerado um ciclo fechado onde, os de design para a sustentabilidade a busca de soluções menos impactantes não
resíduos entram novamente no sistema como matéria prima (EPA 1993). são mais focadas em produtos, mas sim a busca da satisfação do cliente através
de soluções sistêmicas de um conjunto formado por produtos e serviços, que
A abordagem do Life Cycle Design leva em consideração algumas diretrizes, venham a cumprir a mesma função, ou seja, um sistema eco-eficiente. (Vezzoli,
em especial a Unidade de Pesquisa DIS (Design e Inovação de sistemas para a 2006b).
Sustentabilidade) do prof. Carlo Vezzoli adota as seguintes:
Projetar um Sistema Produto Serviço, mais conhecido pelas iniciais PSS (Pro-
- Redução do consumo de material duct Service System) é, muito superficialmente, projetar a interação entre di-
- Redução do consumo de energia versos atores. Abaixo está uma tabela comparando alguns tipos de serviços
- Redução da toxidade e periculosidade com a tradicional venda de produtos (Manzini & Vezzoli 2002: 4).
- Bio-compatibilidade e conservação

Anais do 1º Simpósio Paranaense de Design Sustentável (I SPDS)


72
Além deste incentivo, o fornecedor do serviço, procurará economizar os ma-
teriais suplementares utilizados, como por exemplo, a quantidade de água, de
Tabela 1: Comparação entre a venda tradicional de produtos e alternativas inovadoras sabão, de alvejante, etc. No caso da última coluna, o fornecedor do serviço irá
otimizar o uso da lavadora, isto é, irá se organizar lavando uma maior quanti-
dade de peças claras e peças escuras com a mesma quantidade de água, sabão,
etc.

Desta forma, as empresas fornecedoras do serviço são impelidas em adquirir


produtos mais duráveis, que exijam uma menor manutenção e consumam me-
nor quantidade e energia, pois só assim poderão ter lucro. A isto, chamamos
de soluções win-win, onde o interesse econômico e competitivo da empresa
resulta em inovações que levem, também, à redução de impacto ambiental.

Até agora, não está comprovado que um Sistema Produto-Serviço possa real-
mente levar a uma solução mais sustentável. O ponto mais criticado, em rela-
ção a resultados sustentáveis, é o do transporte. Por exemplo, na última colu-
na, onde a lavanderia oferece o serviço de lavagem da roupa, o transporte feito
pelos clientes para entrega e busca de suas roupas é altamente impactante.
No entanto, o que se pode afirmar é que Sistemas Produto-Serviços possuem
Fonte: Manzini & Vezzoli 2002, p. 4
um alto potencial para serem mais sustentáveis. Para Manzini & Vezzoli (2002)
um Sistema Produto Serviço só pode, realmente, ser considerado sustentável
Na primeira coluna é apresentado o modelo atual de lavagem de roupa, isto é, quando ele auxilia a reorientar os padrões atuais de consumo e produção.
o consumidor adquiri uma lavadora, cuida de sua utilização, de sua manuten-
ção e de seu descarte. Na coluna do meio, apresenta-se um serviço de aluguel
de lavadoras. Neste caso, o consumidor é responsável pelo uso e pela ‘qualida- 6 Novas abordagens do design para a sustentabilidade
de’ da limpeza. Existe, neste tipo de serviço, uma grande participação, ainda,
do consumidor. Já na última coluna, o serviço apresentado é o de entrega de Nesta secção serão delineadas algumas iniciativas, bastante recentes, tomadas
roupa lavada. Neste caso, praticamente não existe a participação do consumi- pelo design para a sustentabilidade. Em particular, serão focados alguns temas
dor no serviço prestado. Ele entrega a sua roupa suja na ‘lavanderia’ e recebe de pesquisas realizadas pela unidade de pesquisa DIS (Design e Inovação de
a roupa limpa após um determinado período de tempo. sistemas para a Sustentabilidade), na figura do prof. Manzini.

Na última linha da tabela anterior, verifica-se que, em um Sistema Produto- Como já apresentado anteriormente, Manzini tem trabalhado principalmente
Serviço, a própria empresa responsável pelo serviço é incentivada a tornar o com o âmbito do design estratégico. Para ele, os designers são importantes
produto mais durável, ou pelo reuso dos componentes e/ou pela reciclagem neste novo confronto da sustentabilidade, porque são os atores que interagem
do material. Isto é, num Sistema Produto-Serviço à durabilidade do produto é com os seres humanos e os artefatos …’seu papel específico na transição que
um fator preponderante e de interesse do próprio fornecedor do serviço. nos aguarda é oferecer novas soluções a problemas sejam velhos ou novos, e
propor seus cenários como tema em processos de discussão social, colaboran-
do na construção de visões compartilhadas sobre futuros possíveis e sustentá-

Anais do 1º Simpósio Paranaense de Design Sustentável (I SPDS)


73
veis (Manzini 2008: 16)’. sociais que portem ao bem estar. Quais seriam os caminhos para se projetar o
bem estar no contexto brasileiro?
Dois são os argumentos que permeiam este novo fronte de pesquisa: estilos
de vida e inovações sociais que orientem para a sustentabilidade. Claramente,
ambos os argumentos estão baseados em mudanças de comportamentos, ou
seja, na dimensão social da sustentabilidade. O autor se foca no fato de que Referências
uma ruptura nos padrões atuais exige uma descontinuidade sistêmica, onde
Brezet, H. & Hemel, C. 1997. Ecodesign: a promising approach to sustainable production and
os seres humanos terão que aprender a “viver bem, consumindo menos recur-
consumption. Paris: UNEP.
sos ambientais e regenerando os contextos onde vivem” (Manzini 2008: 17).
Cipolla, C. Prefácio. 2008. In: Manzini, E. ____Design para a inovação social e sustentabilidade:
Conseqüentemente, através da criação de novas formações sociais colabora- comunidades criativas, organizações colaborativas e novas redes projetuais. Rio de Janeiro: E-
tivas, com grande probabilidade de nascerem em contextos locais. Trata-se de papers (Cadernos do Grupo de Altos Estudos; v.1)
inovações sociais sustentáveis nascidas da necessidade do dia-a-dia, as quais Charter, M. & Tischner, U. (edited by). 2001. Sustainable Solutions: developing products and
são denominadas pelo autor de ‘Comunidades Criativas’.A proposta do autor, services for the future. Wiltshire: Greenleaf.
é que tais inovações sociais sustentáveis podem ser estudadas, reprojetadas e CMUMAD (Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento). 1991. Nosso futuro
replicadas. comum. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas. 2. ed.
Dewberry, E. L. Ecodesign - present attitudes and future directions: studies of UK company and
Design Consultancy Practice. 1996, PhD diss., Open University.
Já em 2003, Manzini e Jégou (2003) escrevem o livro ‘Sustainable everyday:
EPA (United States Environmental Protection Agency). 1992. Life Cycle Design Guidance Manual:
scenarios of urban life’, resultado de uma exposição promovida pela UNEP, environmental requirements and the product system. Cincinatti: EPA.
pela Triennale di Milano e pela Faculdade de design do Politecnico di Mila- Fiksel, J. 2001. Measuring sustainability in ecodesign. In: Sustainable Solutions: developing pro-
no. Em tal exposição são apresentados 72 propostas de cenários e alternativas ducts and services for the future, ed. Martin Charter and Ursula Tischner. Wiltshire: Greenleaf,
para inovações sociais orientados para a sustentabilidade aplicadas no contex- pp. 165-187.
to urbano e no cotidiano das pessoas. Os cenários são criados por estudantes Hemel, C. G. 1998. EcoDesign empirically explored: design for environmental in Dutch small and
e levantados em 15 escolas ao redor do mundo: China, Coréia, Japão, Canadá, medium sized enterprises. PhD Thesis, Delft University of Technology, Design for Sustainability
Research Program.
USA, Brasil, Índia, França, Finlândia e Itália.
Lewis, H, et al. 2002. Progettare per l’ambiente: guida alla progettazione eco-efficiente dei pro-
dotti. Milano: Ranieri.
Recentemente, o autor tem voltado seus estudos para as inovações sociais em Lofthouse, V. A. 2001. Facilitating ecodesign in an industrial design context: an exploratory stu-
países de industrialização recente como China, Índia e Brasil. Estes são verda- dy. PhD Thesis, School of Industrial and Manufacturing Science Enterprise Integration, Cranfield
deiros laboratórios de inovação social, nascidos da emergência da sobrevivên- University.
cia e não, simplesmente, da escolha voluntária de um novo estilo de vida com Manzini, E. & Vezzoli, C. 1998. O desenvolvimento de produtos sustentáveis: os requisitos am-
rupturas ao padrão de consumo. bientais dos produtos industriais. São Paulo: EDUSP.
Manzini, E. & Vezzoli, C. 2002. Product-service systems and sustainability: opportunities for sus-
tainable solutions. Paris: UNEP. In: Home: UNEP. <http://uneptie.org/pc/sustain/reports/pss/
Concluindo, é preciso ressaltar que no Brasil, os pesquisadores ainda não se
pss-imp-7.pdf>, 29/03/2009.
acordaram para este novo papel do designer, enquanto promotor de inovações
Manzini, E. 2003. Strategic design for sustainability: instruments for radically oriented innova-
tion, in: Sustainable everyday: scenarios of urban life, ed. Manzini, Ezio and François Jégou, 231-
234. Milan: Edizione Ambiente.
Manzini, E.; Jégou, F. 2003. Sustainable everyday: scenarios of urban life. Milan: Edizione Am-
biente.

Anais do 1º Simpósio Paranaense de Design Sustentável (I SPDS)


74
Manzini, E. 2008. Design para a inovação social e sustentabilidade: comunidades criativas, or- ____________________________
ganizações colaborativas e novas redes projetuais. Rio de Janeiro: E-papers (Cadernos do Grupo
de Altos Estudos; v.1)
II Sobre este argumento ver os trabalhos desenvolvidos pelo: 1. Wuppertal Institut fur Klima,
Meadows, H. D., et al. 1978. Limites do crescimento: um relatório para o projeto do clube de Umwelt, Energie; 2. Advisory Council for Research on Nature and Environment (em particular:
Roma sobre o dilema da humanidade. São Paulo: Perspectiva. The Ecocapacity as a challenge to technological development, um estudo financiado por um
McDonough, W. & Braungart, M. 2002. Cradle to cradle: remaking the way we make things. New grupo de Ministérios Holandeses); 3. Working group on eco-efficiency que foi promovido pelo
York: North Point Press. World Business Council for Sustainable Development (particularmente o relatório final Eco-effi-
Papanek, V. 1985. Arquitetura e design: ecologia e ética. Lisboa: Edições 70. cient Leadership, WBCSD, 1996).
Sachs, I. 1994. Estratégias de transição para o século XXI. In: Para pensar o desenvolvimento III “A resiliência é a capacidade que o ecossistema tem de sofrer uma ação negativa e sem sair
sustentável, org. Marcel Bursztyn, 29-56. São Paulo: Brasiliense. de sua condição de equilíbrio” (Manzini & Vezzoli 1998: 27).
Sachs, W. (edited by). 2002. The Jo’burg-Memo. Fairness in a fragile world. Memorandum for the IV Não cabe neste artigo argumentar sobre a integridade destas ações, com relação a busca real
World Summit on Sustainable Development. Berlin: Heinrich Boll Fundation. In: Home: World de um desenvolvimento sustentável.
Summit 2002. <http://www.worldsummit2002.org/memo/index.htm>29/03/2009. V No prefácio do último livro de Manzini escrito no Brasil, Cipolla apresenta um depoimento
Schumacher, E.F. 1983. O negócio é ser pequeno. Rio de Janeiro: Zahar. deste autor confronto seus dois livros publicados no Brasil, o primeiro que trata do desenvolvi-
mento de produtos sustentáveis e o último que trata de design para a inovação social e sustenta-
Tischner, U. & Verkuijl M. 2006. Design for (social) sustainability and radical changes. Paper pre-
bilidade. Neste depoimento o autor afirma que seus interesses hoje não estão mais voltados ao
sented at the conference Changes to sustainable Consumption. Copenhagen: SCORE,
produto, mas que são aspectos distintos que portam a uma ruptura nos padrões e a necessária
Vezzoli, C. 2006a. Design for sustainability: the new research frontiers. Paper presented at 7th mudança (Cipolla 2008: 12).
Brazilian Conference on Design, August 9-11, in Curitiba, Brazil.
VI Tradução feita pela autora do artigo.
Vezzoli, C. 2006b. System design for sustainability. Presentation in power point for the Master in
VII Este termo causa alguma confusão no que se refere a pratica projetual, porque o termo é
Design Strategic of Politecnico di Milano, INDACO dept.
adotado, também, para a vida comercial do produto, compreendendo desde o nascimento do
Vezzoli, C. & Chaves, L. I. 2006. Design para a sustentabilidade: um percurso metodológico para produto, através do seu projeto, até sua morte comercial, isto é, sua retirada do mercado. Neste
pesquisa aplicada no setor de móveis de escritório. In: 7° Congresso Brasileiro de Design, Curi- último âmbito, o designer trabalha juntamente com o marketing buscando revitalizar as vendas,
tiba, Brazil. e portanto o produto, prolongando sua aceitação no mercado
Vezzoli, C. & Dalia Sciama. 2006. Life Cycle Design: from general methods to product type spe- VIII Considera-se fase de pré-produção a fase anterior à produção, ou seja, a extração, a manu-
cific guidelines and checklists: a method adopted to develop a set of guidelines/checklist hand- fatura, o transporte, etc. das matérias primas necessárias para a produção do produto.
book for the eco-efficient design of NECTA vending machines. Journal of Cleaner Production 14,
IX Unidade funcional é a unidade de medida utilizada em uma Análise do Ciclo de Vida do pro-
(January 2006), 1319-1325.
duto. Ou seja, não é necessariamente o produto físico, mas, também, a função que este produto
Whiteley, N. 1993. Design for society. London: Reaktion Books. cumpre ao longo de um certo período.
X Existem algumas críticas com relação ao método LCA. Este artigo não tem por finalidade
entrar neste mérito da questão. Pode-se afirmar que, apesar de todas as críticas a LCA, este é,
ainda, um dos métodos mais confiáveis para se medir o impacto ambiental.
XI Traduzido pelo próprio autor do artigo.

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75
Validação de uma bula de medicamentos em Braille direcionada ao usuário
cego
Validation of medicine package insert in Braille to blind user

Maria Olinda Lopes


Mestre em Design, UFPR
olindaart@hotmail.com

Design da Informação, medicamentos, Sistema Braille, usuário cego, acessibilidade

Nesse artigo é descrita a validação de uma bula de medicamentos em Braille realizado com usuários portadores de
cegueira. Para tanto foi desenvolvido uma entrevista com a aplicação do modelo de apresentação gráfica de Karel
van der Waarde. O objetivo deste foi o de validar a bula em suas características gráficas e informacionais para o
usuário cego.

Information Design, medicines, Braille System, blind user, accessibility

This paper pretends the description of a validation realized with blind users. For that reading did develop an inter-
view with the Karel van der Waarde framework of graphic presentation application. The objective is the validation
of the medicine package insert in to the graphic and informational characteristics for blind people users.

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77
1 Introdução camentos impressa neste sistema de escrita empregando o modelo proposto
por Van der Waarde (1999).
Aqui é exposta a validação de uma bula de medicamentos em Braille. Para
tanto foi aplicado um modelo descritivo desenvolvido para o design de bulas, 2 O design de documentos para bulas
com a intenção de avaliar a bula desenvolvida no que se refere a sua estrutura
gráfica e informacional a fim de promover a qualidade do documento do pon- A área do design de documentos tem explorado como, a escrita de documen-
to de vista do design da informação. Isto se deu a partir da leitura da bula por tos e uma boa comunicação visual podem melhorar a sua leitura efetiva.
quatro usuários.
Sobre a escrita de documentos técnicos, Wright (1999) enfatiza que esta de-
O Sistema Braille de escrita em relevo, ou Código Braille, foi criado em 1824 por manda habilidade verbal e de retórica de comunicação, destacando ainda ele-
Louis Braille, na França (Venturini e Rossi 1995), que permite aos cegos lerem mentos que influenciam sua eficácia comunicacional, a ver: o design tipográ-
através do tato. A partir desta matriz chamada de cela, ou célula, constituíram- fico e de layout da página, entre outros. O design inclusivo – que considera
se 64 (sessenta e quatro) sinais. A bula foi impressa em Braille respeitando a usuários com necessidades especiais – também deve ser uma preocupação
legislação vigente sobre este tipo de documento. Tal legislação refere-se ao do designer, que deve estar cada vez mais atento à necessidade de auxiliar
texto das bulas, o qual deve respeitar uma ordem das informações e conteúdo pessoas com deficiências sensórias e cognitivas no entendimento das informa-
especificado e regulamentado, no Brasil, pela ANVISA1 – Agência Nacional de ções (Wright, 2003), o que foi essencial neste estudo, dadas as necessidades
Vigilância Sanitária. especiais do usuário.

Visando a eficácia comunicacional em bulas de medicamentos, Van der Wa- No Brasil o conteúdo das bulas é regulamentado pelo Ministério da Saúde,
arde (1999) desenvolveu um modelo analítico para este tipo de documento através da ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) pela portaria nº
informativo. Entretanto, o modelo analítico proposto é voltado para bulas des- 110. Mas, segundo Fujita e Spinillo (2006):
tinadas a videntes. Portanto, bulas em Braille carecem de instrumentos des-
critivos e avaliativos de sua eficácia comunicacional. A Lei de Acessibilidade2 ‘é omissa no que se refere à apresentação gráfica das informações obrigató-
regulamenta o acesso dos cegos e deficientes visuais a qualquer meio impres- rias, assim, aspectos como legibilidade, clareza nas instruções visuais, layout
so e/ou eletrônico, garantindo o pleno acesso as informações disponíveis. Se- do documento são desconsiderados, apesar da relevância destes aspectos na
gundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)3 , até o ano leitura e compreensão da mensagem’ (Fujita & Spinillo 2006).
2000 havia 148 mil pessoas portadoras de cegueira no Brasil e 2,4 milhões com
baixa visão. Portanto, a promoção de um design eficaz de documentos para No que tange a leitura de bulas por usuários deficientes visuais ou cegos, Jones
deficientes visuais e cegos é uma questão não apenas de comunicação/design (2005) destaca que a impossibilidade de ler bula de medicamentos é um sério
da informação, mas, também, de direito e cidadania. risco para a saúde dos mesmos. Segundo a autora o acesso a informação sobre
os medicamentos é um direito básico e particularmente importante para as
Com a intenção de auxiliar no acesso eficaz e averiguar as melhorias realizadas pessoas com deficiência visual. Neste sentido, Lei de Acessibilidade4 brasileira
no documento, neste artigo é apresentada a validação de uma bula de medi- estipula que: “(...) a indústria de medicamentos deve disponibilizar, median-
te solicitação, exemplares das bulas dos medicamentos em meio magnético,
1 http://www.anvisa.gov.br
Braille, ou em fonte ampliada”5. Assim, o acesso à bula em Braille é um direito
2 Decreto 5.296, de 2 de dezembro de 2004, capítulo VI, do acesso a informação e a
comunicação, artigos 47 a 60 4 Decreto 5.296, de dezembro de 2004, capítulo VI, artigo 58, parágrafo 1º
3 www.ibge.gov.br 5 www.acessobrasil.org.br

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garantido por lei no Brasil. status diferentes. A terceira relação pode ser descrita como uma relação de
proeminência. A proeminência entre diferentes componentes gráficos é uma
O modelo de Karel van der Waarde indicação de um conjunto de diferenças no status hierárquico entre os elemen-
tos informacionais. A quarta relação é a de seqüencialidade. A seqüência de
Waarde (1999) apresenta três níveis de análise em seu modelo: 1. Componen- componentes gráficos indica a sucessão de elementos informacionais.
tes gráficos, 2. Relações entre componentes gráficos, e 3. Apresentação gráfica As características da apresentação gráfica global são importantes segundo Wa-
global (figura 1). arde (1999) porque provêem o leitor com a primeira impressão do conteúdo
informacional de uma bula. A primeira característica é a consistência da apli-
Tabela 1: Modelo descritivo de Waarde (1999) cação das variáveis gráficas em um documento. Um uso consistente dos com-
ponentes gráficos e as relações entre os componentes em toda a bula podem
Nível 1. Componentes gráficos fazer com que a informação seja mais fácil de reter. Uma segunda característica
A. Componentes verbais é a estrutura física do documento. Por exemplo, as dimensões do documento,
a qualidade do papel, tintas de impressão, a transparência, e reflexos. A última
B. Componentes pictóricos característica relatada sobre a apresentação é sobre o aspecto gráfico das bu-
C. Componentes esquemáticos las. Estes aspectos são os mais difíceis de descrever, mas eles são mencionados
D. Componente composto com maior freqüência em relação à apresentação gráfica.
Nível 2. Relações entre componen-
tes gráficos Os componentes pictóricos, esquemáticos e compostos não fizeram parte do
design desta bula, pois, não constam da bula transcrita. Portanto, estes não
A. Relação de proximidade
foram mencionados aqui.
B. Relação de similaridade
C. Relação de proeminência Mesmo sendo direcionado a bulas para videntes, o modelo de Waarde, foi
D. Relação de sequencialidade considerado o mais apropriado para o estudo, pois, trata o tema do design de
bulas de forma completa e sistematizada. É importante lembrar que o modelo
Nível 3. Apresentação gráfica global
foi desenvolvido para o design de bulas, mas, pode perfeitamente ser utilizado
A. Consistência no design de outros materiais.
B. Características físicas
C. Estética Para uma melhor compreensão das características de documentos em Braille,
no tópico a seguir, serão descritas, em linhas gerais, as normas para a aplicação
Os componentes verbais são definidos como marcas significativas que podem do Sistema no Brasil.
ser pronunciadas. Na bula em Braille deste estudo somente o componente ver-
bal está presente. 3 O sistema Braille: conceituação, normas e exemplos de
uso
Sobre as relações entre componentes, em um segundo nível, a proximidade
refere-se à distância entre os componentes gráficos. A segunda relação entre O Sistema Braille é composto por matrizes constituídas de seis pontos, dispos-
os componentes gráficos é a relação de similaridade. Os componentes gráficos tos em duas colunas de três pontos. A partir desta matriz chamada de cela,
visualmente diferentes apresentam diferentes elementos informacionais com

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constituíram-se sessenta e quatro sinais (figura 2). A numeração da cela Braille, de 2005 (anexo 01) anexo do documento em tinta.
também chamado de sinal fundamental, se faz de cima para baixo, da esquer-
da para a direita (figura 3). Portanto, todos os itens e conteúdo que compõem a bula são regulamentados
por lei6 e qualquer alteração deve ser formalizada e enviada pela fabricante
Na figura 4 se pode verificar o alfabeto Braille: do medicamento para sua atualização. É importante ressaltar que, pelo mes-
mo motivo, não foi realizada a revisão ortográfica do texto da bula, portanto,
podem ocorrer erros gramaticais e de ortografia.

Figura 1: Sinal fundamental do Braille(a) e cela vazia(b) em tamanho real Nos quadros abaixo (01 e 02) é possível visualizar resumidamente a estrutura
gráfica e informacional da bula em Braille antes e após re-design.

Quadro 1: síntese comparativa entre as bulas (antes e após re-design)

Figura 2: Pontos do Braille e a direção de leitura na transcrição para a escrita convencional

Figura 3: Alfabeto Braille

A leitura do Braille se dá da esquerda para a direita e o leitor deve prestar mui-


ta atenção para não saltar linhas, o reconhecimento geral dos símbolos Braille
é feito com a mão direita, e a compreensão e leitura com a mão esquerda
(Grifin e Gerber, 2003).

4 Descrição da bula em Braille – estrutura informacional e


gráfica
O conteúdo da nova bula em Braille é o mesmo da anterior, não foi alterado,
pois, este conteúdo foi selecionado a partir de texto aprovado pela ANVISA/
Ministério da Saúde, com sua última atualização em 12/07/2004, e Copyright 6 Portaria nº 110, de março de 1997.

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80
Quadro 02: Síntese da estrutura gráfica e informacional da capa e do sumário (vide página duas pessoas que voltaram a participar na validação para averiguar se os pro-
seguinte) blemas detectados haviam sido solucionados. Os dois novos participantes fo-
ram convidados com a intenção de se detectar problemas que pudessem ter
sido despercebidos na primeira leitura.

Neste artigo somente serão expostos os resultados do participante 02


para exemplificação.

- Participante 02: Sexo masculino, faixa etária entre 36 e 45 anos, pós-gradua-


ção completa em Educação Especial, e com muita fluência em Braille.

Material teste

Foi analisada a nova bula do medicamento hidroclorotiazida. O conteúdo infor-


macional foi o mesmo da bula transcrita a partir do texto que consta no bulário
eletrônico da ANVISA. O texto foi salvo em formato “txt”. A bula em “txt” resul-
tou em treze páginas no formato A4 (210 X 297 mm) com margens: esquerda
e direita de 30 mm, superior e inferior de 25 mm. Esta bula foi impressa em
papel sulfite com gramatura de 75 gramas.

Assim, foi realizada a validação da nova bula em Braille com a participação dos Na impressão em Braille foi usado formulário contínuo (260 X 305 mm) com
usuários. papel na gramatura de 150 gramas. Assim, o documento em Braille é compos-
to por 42 páginas em papel liso com a impressão somente na frente da folha.
5 Validação da nova bula em Braille
Procedimentos
A validação da nova bula em Braille foi feita para verificar a sua eficácia junto
a leitores experientes de Braille, assim como no estudo com a bula corrente, a Para os participantes 02 e 03 a leitura da bula foi dividida em três partes:
fim de comparar os resultados entre os estudos. Os participantes, procedimen-
tos, materiais, e os resultados deste estudo são expostos a seguir. Preenchimento de dados pessoais;
Parte 1- Participante sem a bula de medicamentos em Braille;
Participantes Parte 2- Participante com a bula de medicamentos em Braille em mãos;
Parte 3- Solicitar que o participante encontre as informações indicadas.
Quatro adultos portadores de cegueira participaram deste estudo sendo que
têm pós-graduação completa, faixa etária entre 36 e 65 anos, são do sexo mas- Na parte 1 os leitores responderam questões sobre sua experiência com bulas
culino, e de razoável a muita fluência em Braille. O gênero não foi considera- de medicamentos. Como exemplo: onde buscam informações sobre um medi-
do relevante neste estudo, portanto, não houve a preocupação em um misto camento prescrito; de que forma recebem estas informações; quais informa-
entre pessoas de sexo masculino e feminino. No estudo anterior participaram ções mais lhes interessam; se já tiveram contato com bulas; se conhecem bulas

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em áudio. Aqui foi solicitado que os participantes lessem as quatro primeiras ater-se somente às informações vindas do médico, porque, segundo ele, isto
páginas da bula, referentes à capa e ao sumário, para que se inteirassem de pode acarretar-lhe alguma reação adversa. Também comentou que se as pes-
seu conteúdo. soas não lêem a bula pode ser por uma questão cultural, mas, no caso dos
cegos, é a impossibilidade que os impede. Com a oferta da bula em Braille não
Na parte 2 os participantes responderam questões específicas à estrutura grá- haverá motivo para não ler a bula.
fica da bula em Braille, com relação aos seus componentes gráficos, as relações
entre esses componentes e sobre as características físicas da bula. Parte 2 | Participante com a bula de medicamentos em Braille em mãos

Na parte 3 os participantes fecharam a bula e foi solicitado que encontrassem Os primeiros comentários do participante foram sobre o seu grande volume.
informações específicas como, contra-indicações, reações adversas, interações Ainda, que a bula foi impressa somente de um dos lados da folha e que com a
medicamentosas, advertência e as indicações de armazenagem. impressão frente e verso o volume do documento seria reduzido na metade.

Ainda, foi solicitado que ambos classificassem a bula com relação à busca de O participante expôs que para pessoas com boa fluência em Braille não há pro-
informação, numa escala de 1 a 4, em que 1= fácil, 2= a regular, 3= difícil, e, blemas em ler documentos extensos, porém, os que adquiriram cegueira após
4= a muito difícil. Também foi solicitado se teriam algo a acrescentar que lhes terem sido alfabetizados, há dificuldades e que estes geralmente preferem tex-
parecesse relevante para o estudo e qual sua opinião sobre a bula que haviam tos em áudio. Porém, para ele, entre os que têm fluência em Braille geralmente
acabado de ler, como satisfatória, regular ou ruim (ver formulário de entrevista há a preferência pela leitura de textos impressos.
em apêndice B).
- estrutura gráfica da bula em Braille | Componente Gráficos | verbais
As entrevistas foram filmadas e gravadas em áudio para posterior transcrição.
Assim, foram transcritas para a compilação dos resultados. Para o participante o fato dos títulos estarem numerados e com salto de linha
antes e depois, isenta da necessidade de estar toda a frase em caixa-alta, mas,
Alguns resultados e discussão somente as iniciais. O mesmo foi observado com relação aos subtítulos ante-
cedidos por letras (a, b, c). Comentou sobre um ganho de espaço e de papel
- Participante 02: neste caso, mesmo sendo um ganho mínimo. Ainda, segundo o participante,
ao adicionar hífens, números e letras, não se faz necessária a abertura de pará-
Parte 1 | Participante sem a bula de medicamentos em Braille | Questões grafos. O participante comentou sobre a presença de muitos termos de difícil
preliminares sobre a experiência do participante com bulas compreensão, ou, técnicos.

Segundo o participante ele recebe informações sobre um medicamento pres- - Relações entre componentes gráficos
crito com o médico e oralmente. Quando questionado sobre quais as infor-
mações ele deseja saber de acordo com o seu interesse, este citou as con- Proximidade
tra-indicações e as reações adversas. O único acesso que este teve a bulas de
medicamentos foi oralmente. Ao ler o item c da bula, o participante comentou que se o título (contra-indica-
ções) fosse composto por uma frase curta, a falta de parágrafo poderia causar
Quando questionado sobre a possibilidade de acesso a uma bula em Braille, confusão na leitura tátil e o usuário poderia acreditar ser a continuação do
o participante diz ser importante que haja o acesso. Que o paciente não deve texto. Portanto, quando há títulos longos, que preenchem a linha quase intei-

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ra, para a leitura tátil, é necessário a abertura de parágrafo na linha seguinte Segundo ele, não é necessário saltar linha entre títulos e subtítulos, pois, a
(Figura 05). presença de letras ou hífens, já demonstra que é texto com outra função. Além
disso, o hífen dobrado já diferencia subtítulos de outros itens presentes no
texto corrido. A intenção de destacar textos em grandes blocos através do salto
de uma linha foi satisfatória.

Seqüenciamento
A convenção de que dois hífens significam itens e um hífen se refere a títulos
foi satisfatória, pois, já é uma convenção utilizada no Braille. Os hífens utiliza-
dos como separadores de números ou letras não interferiram na interpretação
dos títulos hifenizados.

- Apresentação gráfica global

Figura 5: Trecho lido pelo participante Consistência


Para o participante o fato de títulos, subtítulos, serem representados em caixa-
Segundo ele, quando há a numeração em seqüência dos títulos e a abertura de alta e com numeração, ou seqüência de letras e hífens, proporciona consistên-
parágrafo, não há a necessidade de saltar linhas. cia gráfica na bula. Os saltos de uma linha antes e/ou depois destes títulos e
subtítulos, também foi satisfatório, pois, assim facilita, segundo ele, a leitura
similaridade da bula.
Ao ler um trecho da bula (figura 06), o participante comentou que, neste caso,
não há a necessidade de letras maiúsculas e nem de paragrafação, pois o título Características físicas
sem ponto final indica início de texto na próxima linha. O formato foi tido como o ideal em suas dimensões (formulário contínuo, 260
X 305 mm). As margens e o comprimento das linhas foram tidos como satisfa-
tórios, assim como o tipo de encadernação em espiral com relação ao manu-
seio.

A impressão do documento foi tida como satisfatória, tanto na legibilidade do


Figura 6: trecho lido pelo participante
relevo dos pontos, quanto ao que se refere ao tipo de papel utilizado. O parti-
cipante observou que é importante imprimir em frente e verso das folhas, para
proeminência um melhor aproveitamento de papel.
Para o participante, a leitura é mais lenta com o acréscimo de caixa-alta em to-
das as palavras. Comentou que nos títulos em pontuação não há prejuízo pela Parte 3 – Solicitação que o participante encontre informações na bula
falta de paragrafação. Porém, para ele, quando a intenção for proporcionar
ênfase ao trecho de texto o uso de caixa-alta é válido. O participante procurou informações no sumário e comentou não haver di-
ficuldade para encontrá-las, sendo que o número de página indicado estava

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correto. O uso de caixa-alta foi considerado uma forma eficaz de proporcionar ênfase
nas informações, pois, assim é possível proporcionar proeminência e/ou simi-
Ao buscar a informação na bula, comentou que os saltos de linhas antes e/ou laridade às informações.
depois de títulos e subtítulos ajudou a encontrar a informação na página. Con-
siderou a bula como fácil no que se refere à busca de informações. A respeito da consistência gráfica e informacional o uso de caixa-alta para tí-
tulos e subtítulos foi considerado eficaz, pois facilitou o encontro das infor-
Ao solicitar se o participante teria algo a acrescentar que lhe parecesse rele- mações. O mesmo sobre saltos de linha, que também foi considerado eficaz
vante ao estudo, este comentou novamente sobre a presença de termos de no auxílio do encontro das informações no interior da bula, porém, foi con-
difícil compreensão, ou técnicos, e também sobre a possibilidade de imprimir siderado desnecessário para separar títulos e subtítulos no sumário, pois, a
a bula em frente e verso. inserção de numeração, letras e hifenização já proporcionou esta separação
entre informações. O uso de hifenização dupla em itens no interior de textos
6 Conclusão e considerações foi considerado satisfatório, pois, é usado com freqüência e, portanto, de fácil
reconhecimento pelo leitor do Braille.
A partir da validação foi possível concluir que a participação do usuário duran-
te o processo de design da bula, em estudos experimentais é válido e essencial A inserção de sumário e numeração de páginas foi confirmada como eficaz na
para detectar problemas que podem ser imperceptíveis ao designer, para ava- função de orientadores na bula, assim como, a numeração, adição de letras e
liar aspectos da estrutura gráfica e informacional da bula em Braille. hifenização de títulos e subtítulos. O destaque proporcionado às advertências
e observações proporcionou, segundo os participantes, a definição da hierar-
Os participantes expuseram que recebem informações sobre o medicamento quia informacional na bula.
oralmente e um deles comentou sobre a presença de informações impressas
em Braille na embalagem de alguns medicamentos. Também disseram que o Pode-se afirmar que a avaliação da bula em Braille através do modelo de es-
acesso à bula em Braille pode ser por solicitação, ou cadastramento, e um de- truturação gráfica e dos participantes foi eficaz para solucionar problemas
les disse que gostaria de ter o acesso em farmácias, ou, com o médico, ou estruturais gráficos e informacionais no documento ocorridos na transcrição,
junto com o medicamento no momento da aquisição. Um dos participantes minimizando assim, os problemas e fornecendo um documento de maior qua-
comentou que a bula solicitada, pelo médico, poderia chegar ao paciente em lidade ao usuário cego.
sua residência, via correio.
A validação do documento com a participação de usuários é fundamental em
Os participantes comentaram sobre a presença de termos técnicos e conside- pesquisas para a observação da influência dos fatores gráficos mencionados na
raram que estes são de difícil compreensão. Também encontraram erros de eficácia da leitura de bulas de medicamentos em Braille e na busca de soluções
grafia na bula. de problemas percebidos somente pela percepção tátil, e assim, para a otimi-
zação do documento.
Os recursos de ênfase em advertências e observações, como o uso de paragra-
fação de três caracteres e o uso de caixa alta, foram tidos como satisfatórios Três dos participantes comentaram que o uso da impressão em frente e verso
pelos participantes, pois assim, foram solucionados problemas de similaridade das folhas não prejudicaria a qualidade do documento e reduziria o seu volu-
e proximidade informacional-gráficas. A paragrafação foi considerada desne- me, reduzindo assim na metade a quantidade de papel gasto na sua produ-
cessária após títulos curtos. ção.

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Sobre as características físicas do documento, a bula foi considerada muito gresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design, P&D 2008.
volumosa em número de páginas. No entanto, o manuseio do documento, no LOPES, M.O; SPINILLO, Carla Galvão. Análise sobre o processo de obtenção e uso de medicamen-
que se refere às dimensões, comprimento de linhas e margens, foi considerado tos por pacientes com deficiência visual a partir de processo descrito por pacientes videntes. In:
Anais do Seminário Design da Informação sobre medicamentos, 2008.
satisfatório.
LOPES, M.O; SPINILLO, Carla Galvão. Estudo experimental de leitura de uma bula de medicamen-
Quando questionados sobre a sua opinião sobre a bula lida, os participantes tos transcrita para o Sistema Braille por usuários portadores de cegueira. In: Infodesign, nº 3,
disseram ser importante o acesso a bulas em Braille e que a bula lida está sa- vol.5, 2008. ISSN 1808-5377
tisfatória sendo que apresenta todas as informações sobre o medicamento a LOPES, M.O; SPINILLO, Carla Galvão. Information Design in medicine inserts in Braille: a case
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Desafios do design na mudança da cultura de consumo
Design challenges for changing the consumption culture

Maristela Mitsuko Ono I


Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Brasil
maristelaono@gmail.com

Palavras-chave: Design, Cultura, Consumo.

Resumo

Este artigo traz considerações acerca de desafios, no âmbito do design, para a promoção de mudanças na cultura
de consumo, abrangendo estilos de vida e comportamentos de consumo, com vistas ao desenvolvimento susten-
tável. Com base em uma abordagem interpretativa, não reducionista e não determinista das diversas culturas e do
mundo, entende-se o consumo como um processo que vai além da passiva absorção, apropriação de bens e satis-
fação de necessidades e desejos, emergindo da relação das pessoas com os artefatos e a sociedade, no contexto da
dinâmica cultural, social, econômica, política e ambiental. Sob este prisma, destaca-se a relevância da adoção de
abordagens interdisciplinares no design de sistemas de produtos e serviços para a sociedade e do aprofundamento
de pesquisas de prospecção de cenários, visando à sustentabilidade, em suas múltiplas dimensões ambientais,
culturais, econômicas, políticas e sociais.

Key-words: Design, Culture, Consumption.

Abstract

This paper presents some considerations about design challenges for promoting changes in the consumption cultu-
re, which is related to lifestyles and consumption behaviors, aiming at reaching a sustainable development. Based
on an interpretive, non reductive and non deterministic approach of the diverse cultures and the world, consump-
tion is here understood as a process that goes beyond a passive absorption, appropriation of goods, and needs and
yearnings satisfaction. Consumption emerges from the relationship between people, artifacts and society, within
the context of the cultural, social, economic, political and environmental dynamics. In this sense, the relevance of
adopting interdisciplinary approaches in designing products and services systems is emphasized, as well as of deve-
loping deeper researches on prospective sceneries, aiming at sustainability, considering its environmental, cultural,
economic, political and social multiple dimensions.

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1 Introdução des, desejos e significados tem se desenvolvido, materializando-se em artefa-
tos de variadas funções e graus de complexidade.
Este artigo tece considerações acerca dos desafios do design para a promoção
de mudanças de modos de vida e comportamentos de consumo na sociedade, Os artefatos, ainda que produzidos industrialmente com modelos padroniza-
em prol do desenvolvimento sustentável, que compreende, além da sustenta- dos, são continuamente significados e re-significados, na medida em que as
bilidade ambiental, a sustentabilidade nas esferas sociocultural, econômica e pessoas se relacionam, interagem com eles e os utilizam. Eles, por si só, não
política, dentre outras. têm sentido. E, na construção desses significados, múltiplas e complexas rela-
ções se desenvolvem, envolvendo as esferas de produção, distribuição, comu-
A questão da sustentabilidade tem sido discutida e pesquisada mais ampla e nicação, consumo e acesso aos bens, além das dimensões subjetivas e socio-
profundamente nas esferas ambientais e do ciclo-de-vida de produtos. No en- culturais.
tanto, há lacunas expressivas, em termos de pesquisas sobre as dimensões
socioculturais no desenvolvimento e consumo de produtos e serviços, apesar E, apesar das estratégias e lógicas mercadológicas não raro desfocalizarem a
de estarem estreitamente inter-relacionados aos estilos de vida e referenciais pessoa em sua individualidade e subjetividade, as culturas não estão se tor-
socioculturais, nos processos que envolvem produção, distribuição, regulação, nando homogêneas (Lorenz, 1992; Hall, 2005; Ono, 2006; Ono, 2004; dentre
representação, comunicação e consumo. outros), a despeito de certos discursos com esta perspectiva, como o de Theo-
dore Levitt (1990), dentre outros, no contexto de uma globalização “imagina-
A cultura é aqui compreendida como uma teia de significados tecida pelas pes- da”, segundo Néstor García Canclini (2003), em que persistem contradições,
soas ao longo de suas vidas, e a partir da qual desenvolvem seus pensamentos, conflitos, desigualdades e condutas discriminatórias e excludentes.
análises, valores, condutas, e significam a própria existência (Geertz,1989).
Há diversas abordagens sobre consumo, sendo que a sociologia do consumo
Entende-se que o consumo, por sua vez, vai além do processo passivo de ab- busca compreender a ideologia do consumo (Bourdieu, 1983; Baudrillard,
sorção, apropriação de bens e satisfação de necessidades e desejos, trazendo 1993; dentre outros), enquanto que a antropologia cultural trata de como se
em si o caráter ativo da relação das pessoas com os artefatos e a sociedade, no desenvolvem as relações entre as pessoas e os artefatos, e o papel destes nas
contexto da dinâmica cultural, social, econômica, política e ambiental. relações sociais, na esfera simbólica e nos usos (Mccraken, 2003; Douglas &
Isherwood, 2006; dentre outros).
E o desenvolvimento sustentável é visto antes como uma condição sistêmica
que se almeja alcançar, que uma direção na qual se deva conduzir. A condi- O consumo pode ser compreendido como “uma atividade de manipulação sis-
ção sistêmica, por sua vez, compreende uma teia de inter-relações, interações temática de signos”, e um objeto de consumo, por sua vez, como um “signo”,
e interdependências dinâmicas (Bertalanffy, 1968; Capra, 1994; Laszlo, 1972; cujo significado é arbitrário e polissêmico. Assim, um objeto ganha sentido me-
Laszlo, 1996), a partir de uma visão não reducionista e não determinista do diante sua relação com outros signos, e se “personaliza” mediante a diferença,
mundo e da vida. conforme Baudrillard (1993 : 149-206). Cabe lembrar que isto se dá na relação
entre sujeitos e objetos, sempre social e culturalmente contextualizados.
2 Estilos de Vida e Consumo
O consumo não consiste em um fenômeno unidirecional e homogêneo, reve-

lando-se com uma miríade de facetas, que emergem desde de uma necessida-
Dos tempos mais remotos, quando os humanos desenvolveram os primeiros
de básica, como a alimentar ou de abrigo, até de um desejo efêmero, como o
artefatos, até os dias de hoje, uma crescente e complexa gama de necessida-
de explodir fogos de artifício em algum festejo, ou de vestir-se de certo modo,

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seguindo modismos (Lipovetsky, 1989). Há consumos resultantes de modelos com a cultura material, atua como um mediador entre pessoas e artefatos,
normativos de comportamento, a exemplo do uso de terno e gravata por ho- tanto incorporando quanto propiciando significações e relações objetivas e
mens, em determinadas situações. E outros ditos compulsivos, resultantes de subjetivas, visíveis e invisíveis, inclusivas e exclusivas, que aproximam ou dis-
impulsos “descontrolados” de compra, sem justificativas plausíveis, ao menos tanciam, beneficiam ou prejudicam, satisfazem ou não, promovem realização
em termos de função prática. É bastante comum adquirem-se novos produ- ou frustração, emancipação ou subordinação, dependência ou independência,
tos sem que haja necessidade de substituição dos existentes, em termos de socialização ou isolamento, a saúde ou a doença, a vida ou a morte...
adequação aos usos, por uma questão de distinção social, de status, como se
observa no caso de automóveis que se revestem de valores de status, hierar- 3 Desafios do design em mudanças de estilos de vida e con-
quizados de acordo com marcas e modelos (Ono, 2004).
sumo
A disposição estética, o gosto, as preferências e as opções estéticas distin-
No que tange ao consumo e aos estilos de vida, a relação do design não é me-
guem-se entre as diferentes classes sociais e estão estreitamente vinculadas
nos ambígua, diversa e complexa, podendo promover ou não o desenvolvimen-
ao capital cultural das mesmas, reproduzindo certas relações de poder que se
to sustentável. No âmbito ambiental, o design pode fomentar a durabilidade
estabelecem na esfera social. Mediante “marcas de distinção”, segundo Bour-
dos artefatos ou a sua obsolescência e descarte prematuros; no cultural, pode
dieu (2007), os sujeitos sociais constituem e exprimem, para si mesmos e para
respeitar ou não a diversidade cultural e as múltiplas identidades; no social,
os outros, sua posição na estrutura social.
pode promover a harmonia ou as desigualdades sociais. E, inter-relacionados
a essas três esferas ambiental, cultural e social além da econômica e política,
Deste modo, os estilos de vida e o consumo de produtos revestem-se de um
desenvolvem-se os estilos de vida e o consumo.
caráter simbólico de distinção na estrutura social, representando a posição so-

cial dos indivíduos, que, por sua vez, é determinada pelo “capital econômico
Vale salientar, de acordo com Manzini e Vezzoli (2002), que a sustentabilidade
e cultural” que possuem. As relações entre os sujeitos envolvem “relações de
ambiental é um objetivo a ser alcançado e não, como muito se tem dito, uma
poder”, e a sociedade apresenta inúmeras manifestações de “estratificação do
direção na qual se deva ir, considerando-se que nem toda melhoria, em termos
poder”, o que se reflete, de acordo com Bourdieu (1974) na percepção estética
ambientais, pode ser considerada como verdadeiramente sustentável. E esta
e nos estilos de vida.
consideração se estende a outras dimensões da sustentabilidade, quais sejam
as culturais, econômicas e sociais, dentre outras.
Os estilos de vida podem ser entendidos como manifestações resultantes das
capacidades de estruturar (práticas e esquemas de percepção e apreciação) e
Caminhos possíveis e desafiadores para o design, em prol do desenvolvimento
ser estruturado (pelas condições e posições sociais), vinculados à cultura de
sustentável, exigem abordagens interdisciplinares e sistêmicas, não determi-
cada sujeito e grupos sociais. Eles se expressam por meio de hábitos estéticos,
nistas e não reducionistas, visando à harmonia ambiental, sociocultural, eco-
estruturas de preferências e gostos distintos, influenciados por instituições e
nômica e política, e o bem estar físico e espiritual das pessoas.
estruturas materiais que administram, transmitem e renovam o capital cultural
(Bourdieu, 1983). Estão, portanto, estreitamente relacionados aos comporta-
Tais desafios demandam pesquisas prospectivas sobre cenários de sistemas
mentos de consumo e à cultura das pessoas. E a busca pelo desenvolvimento
sustentáveis de produtos e serviços e suas implicações na vida das pessoas, na
sustentável requer mudanças sistêmicas nessas três esferas.
sociedade e no meio ambiente, dentre outras. (Figura 1)
Sob este prisma, destaca-se a importância do design como agente promotor
de tais mudanças, na medida em que, em suas múltiplas e complexas relações

Anais do 1º Simpósio Paranaense de Design Sustentável (I SPDS)


89
teia de inter-relações, que envolvem as necessidades, os anseios e valores das
pessoas, seus hábitos e referências culturais, as relações sociais, os modos de
organização social, os sistemas econômicos e políticos, e a acessibilidade aos
bens, dentre outros fatores.

Sob este prisma, destaca-se como um grande desafio, no âmbito do design,


para a promoção de mudanças em estilos de vida e comportamentos de con-
sumo para o desenvolvimento sustentável, a adoção de abordagens interdis-
ciplinares e sistêmicas em pesquisa e desenvolvimento de artefatos para a so-
ciedade.

É imprescindível que o design atue em uma esfera mais ampla que a de desen-
Figura 1: Questões de pesquisas prospectivas de cenários de sistemas sustentáveis volvimento de produtos e serviços isolados, abrangendo sistemas harmônicos,
do ponto de vista ambiental, econômico, sociocultural, físico e espiritual da
Sob este prisma, destaca-se a relevância da educação interdisciplinar em de- sociedade; pilares, corpo e alma do desenvolvimento sustentável.
senvolvimento sustentável, tendo em vista a necessidade de mudanças expres-
sivas na cultura de consumo e comportamento dos consumidores, muitos dos
quais sofrem da chamada “miopia cognitiva”, ou seja, não percebem o impacto
do consumo em suas próprias vidas, de modo mais abrangente.

Cabe especial atenção no design à adoção de estratégias de comunicação, ex-


tensão e intensificação de usos de artefatos. A obsolescência estética, de uso e
técnica, por exemplo, pode ou não ser adequada, dependendo dos requisitos
e contextos. O “envelhecimento” gradativo da aparência visual de uma emba-
lagem de produtos com prazo de validade, por exemplo, poderia auxiliar na
identificação do período em que se encontram.

Considera-se relevante o design de sistemas sustentáveis que se integrem aos


projetos de produtos e serviços, e mesmo os preceda, voltados à promoção
da eficiência ambiental e energética, à otimização de usos de artefatos, bem
como de estilos de vida mais cooperativos, menos possessivos, com intensifi-
cação de usos de produtos e serviços, respeitando-se a diversidade cultural e
as identidades dos indivíduos e grupos sociais.

3 Considerações finais

O design, os estilos de vida e o consumo estão entrelaçados em uma dinâmica

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90
____________________________
Referências
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dispõem de meios para apropriar-se deles, não se constituindo, apesar de formalmente serem
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oferecidos a todos, propriedade comum da sociedade, pois, para a sua compreensão, é neces-
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Laszlo, E. 1996. The systems view of the world: a holistic vision for our time. 2. ed. New York: tanto ao acesso, quanto ao entendimento dos significados dos artefatos que compõem a cultura
Hampton Press. material, e, extensivamente, à padronização dos mesmos e à homogeneização da cultura.
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do), Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo.

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Diretrizes para utilização de dispositivos poka-yoke no design de mobiliário
popular: uma estratégia para o design sustentável
Guidelines for application of poka-yoke devices on popular furniture design: a sustainable de-
sign strategy

Priscilla Ramalho Lepre


Universidade Federal do Paraná, Brasil
cillaramalho@yahoo.com.br

poka-yoke, erro-humano, design sustentável, mobiliário popular

No Brasil, 85% da população vivem com renda de até três salários mínimos mensais (IBGE, 2007). Esta expressiva
fatia da população brasileira, devido aos fatores sócio-econômicos, apresenta grande mobilidade relativa à habi-
tação e constantes mudanças internas no arranjo familiar, durante ciclo de vida da família. Os móveis ofertados
pelo mercado, não contemplam as demandas de mobilidade, flexibilidade e adaptabilidade desta classe social. O
presente artigo apresenta os potenciais da utilização de mecanismos à ‘prova de erro humano’, conhecidos como
poka-yoke, como forma de promover à adequação do móvel a estas demandas e também como uma estratégia
para o design sustentável para a extensão da vida útil do mobiliário popular.

poka-yoke, human-error, sustainable design, popular furniture

In Brazil, 85% of all population lives with three minimum wages for month (IBGE, 2007). These people presents,
intensive house mobility e constantly adjustments around the family configuration, during the family’s life-cycle.
The furniture, does not attend the real demands about mobility, flexibility and adaptability of this social class. This
paper presents the potential of mistake-proofing devices, named poka-yoke, like a strategy to adequate the popu-
lar furniture to attend the popular demands and like a sustainable design strategy to extend the popular furniture’s
life-cycle.

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1 Introdução 2 Revisão de Literatura – Erro humano & Poka-yoke
Atualmente o Brasil apresenta 7.832 milhões de déficit de moradias, sendo Conforme apontado na introdução deste artigo, um dos objetivos da pesqui-
que deste total, 95% são de moradias consideradas inadequadas, com aden- sa apresentada a seguir consta da prevenção e eliminação de erros humanos
samento excessivo ou falta de itens essenciais à habitabilidade do ambiente no processo de montagem e desmontagem de mobiliário popular através da
construído. Deste déficit, 83,2% se concentra na população que recebe até três utilização de conceitos e dispositivos poka-yoke. Esta seção, portanto, trás a
salários mínimos mensais (IBGE, 2007). definição de erro humano e as tipologias empregadas neste estudo, bem como
o conceito de poka-yoke, suas classes e funções.
Devido às constantes trocas de domicílios gerados por este déficit, os móveis
destas famílias necessitam ser montados e desmontados constantemente de Erro Humano - definição e tipologias
maneira a adaptar-se a ambientes diversos. Estes processos são em geral exe-
cutados pelos próprios donos, sem qualquer preparo técnico e/ou ferramentas Erro é uma incorreção (FERREIRA, 2004) que promove o desvio do resultado
adequadas, frequentemente danificando os móveis estruturalmente, funcio- esperado, seja ele da performance do produto/processo/sistema, em relação
nalmente e esteticamente. Estes danos impactam sobre a segurança dos pro- a um padrão, plano ou meta estabelecida. O erro humano é uma incorreção
dutos durante o uso e reduzem significativamente sua durabilidade, gerando dependente do fator humano e das interações do homem com os sistemas, o
descartes prematuros destes bens. ambiente e a sociedade (KJELLEN, 1998; DEKKER, 2002).

O descarte de móveis no Brasil, por sua vez, não é regulamentado, não exis- Entre as classificações de erro humano apresentadas pela literatura, utilizou-
tindo políticas nacionais consolidadas de gestão de resíduos, reciclagem ou se para esta pesquisa a classificação proposta por Reason (1990) com base na
recuperação energética. Não existe ainda uma cultura nacional de reciclagem intencionalidade da ação humana, que dividinde os erros em não intencionais
consolidada entre a população e o móvel ainda é descartado integralmente no (lapsos, deslizes, erros e falhas) e intencionais (violações).
meio ambiente. Isso posto, têm-se que as estratégias para o design sustentá-
vel de mobiliário, encontradas na literatura, ainda que possam ser tomadas O processo da ação humana, compreende uma série de interações fisiológicas,
como universais, necessitam adequações para atender a estas peculiaridades psicológicas e cognitivas do homem, com o sistema em que ele está inserido
da realidade brasileira. (ambiente, sociedade, cultura, etc.) (LEPRE, 2008). Portanto, apesar do erro
humano depender do homem para sua ocorrência, seu fator gerador pode não
O presente artigo sugere a inclusão de ferramentas para promoção da exten- se encontrar no homem em si, mas em qualquer um dos outros componentes
são do ciclo de vida do mobiliário popular e apresenta diretrizes para utiliza- do sistema.
ção de mecanismo de prevenção de erros, conhecidos como poka-yoke, como
ferramenta para prevenir e evitar os erros nos processos de montagem e des- O erro humano também pode ser classificado de acordo com o momento em
montagem dos móveis populares, que possam comprometer a vida útil do pro- que o resultado do erro se apresenta no sistema. Segundo Norman (2006)
duto e contribuir para o design de mobiliários que contemplem as questões existem dois tipos de erros humanos: erro ativo e erro latente. O erro ativo é
sociais e econômicas desta população, utilizando-se para isto das estratégias aquele cujo resultado pode ser verificado num instante próximo ao ponto de
do design para a sustentabilidade. desvio. Já o erro latente tem o resultado em um momento distante do ponto
de desvio.

Falhas de design em produtos, na maioria das vezes, geram erros do tipo la-

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tente, que pode se tornar ativos no momento da interação com o usuário final. Os sistemas poka-yoke são compostos por duas funções que agem de maneiras
Esta afirmação corrobora as pesquisas que apontam o design do produto como distintas na produção: a primeira verifica padrões pré-estabelecidos, acusan-
um dos principais fatores geradores e indutores do erro humano (RYAN, 1987; do a existência de um erro, a segunda alertando para a ocorrência e paralisa
CUSHMAN & ROSENBERG, 1991; ABBOTT & TYLER, 1997; NORMAN, 2006). a produção para sua imediata correção (SHINGO, 1986). Estas funções poka-
yoke, originalmente desenvolvidas para atender as demandas de qualidade da
A utilização de mecanismos e dispositivos para prevenção de erro humano, indústria, são apresentadas e definidas a seguir.
aplicados ao design de produtos pode ser um estratégia válida para o design
sustentável visto que produtos com falhas e inseguros tendem a ser descarta- Função reguladora:
dos precocemente, gerando a necessidade de substituição e, com isso, todos • Método de controle: métodos que acionam dispositivos que paralisam o
os encargos do ciclo de vida de um novo produto: custos ambientais, econômi- equipamento e interrompem a operação do produto ou processo a partir
cos e sociais (MANZINI & VEZZOLI, 2005), além de colocar em risco a integrida- da detecção de um erro, obrigando sua imediata eliminação.
de do usuário, do produto e do ambiente de uso. • Método de alerta: métodos que ativam dispositivos de sinais sonoros ou
luminosos, que chamam a atenção da pessoa para um erro, sem, contudo,
A seguir, apresenta-se o conceito e as tipologias de mecanismos à prova de parar a linha de produção ou o uso de um determinado produto.
erros denominados poka-yoke que por características como simplicidade, in-
tuitividade e baixo custo de implementação, bem como a eficiência nos resul- Função de detecção:
tados mostra-se uma alternativa plausível de ser utilizada para a prevenção e • Método de posicionamento: métodos que ativam dispositivos que libe-
mitigação de erros humanos na interface com produtos. ram uso de um produto ou as operações de produção apenas quando os
elementos de um conjunto encontram-se em posição correta, evitando a
Poka-yoke – conceito e tipologia montagem em posição inadequada.
• Método de contato: sensores eletrônicos ou dispositivos mecânicos que
Poka-yokes são mecanismos ou procedimentos utilizados para prevenir erros indicam que as peças encontram-se corretamente posicionadas para a
humanos em sistemas ou processos. O conceito de poka-yoke foi originalmen- continuação da operação de uso de um produto ou das operações de pro-
te idealizado e desenvolvido por SHINGO (1986) junto ao Sistema Toyota de dução.
Produção a fim de proteger a produção industrial de erros banais, que pudes- • Métodos de contagem: cada conjunto deve ter um número correto de pe-
sem vir a se transformar em produtos defeituosos (TSOU & CHEN, 2005). ças. Este método confere por meio da contagem dos elementos, a confor-
midade do conjunto.
Os mecanismos poka-yoke podem ser classificados em duas categorias de • Métodos de comparação: utilização de mecanismos que comparam as
acordo com suas funções principais (SHINGO, 1986). grandezas físicas de um produto com especificações evitando anormali-
dades.
•Sistema poka-yoke com função reguladora: faz parte da inspeção de recur-
sos. Este sistema não permite que o erro siga na linha de produção através de Os métodos acima apresentados compreendem as funções originais projetadas
métodos de alertas e interrupção do fluxo produtivo; por SHINGO (1986) para o controle de qualidade 100% no Sistema Toyota de
•Sistema poka-yoke com função de detecção: faz parte da inspeção informa- Produção, porém atulamente o conceito de poka-yoke vem sendo amplamen-
tiva auxiliando o trabalhador na verificação da condição ideal para a execução te utilizado em áreas como HCI, medicina, psicologia e também no design.
da tarefa.
No design, dispositivos poka-yokes são amplamente utilizados, também sob o

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nome de “mistake-proof device” ou “fool-proof device”, em produtos do dia à na fase de protótipo e em escala 1:1, pois somente nestas condições pode-se
dia. Exemplos destes poka-yokes são os dispositivos que desligam automatica- verificar a incidência de fatores indutores do erro humano em todos os níveis
mente aparelhos de microondas ou secadores de roupa na ausencia de conta- de complexidade.
to perfeito entre as partes, evitando danos ao aparelho e ao consumir. Outro
exemplo bastante conhecido é o antigo disket ¾” de computador, cujo formato O protótipo utilizado faz parte projeto ‘Kits Do-it-yourself – Mobiliário-divisó-
impedia sua intrudução em posição incorreta no aparelho. ria’, criado e desenvolvido pelo NDS-UFPR para o edital Habitare/Finep e em
parceria com a Masisa, Cohab-CT e Lojas MM. Outras características importan-
Enfim, poka-yokes, ela natureza intuitiva de uso, liberdade de criação e adap- tes deste móvel são a modularidade e a multifuncionalidade (o móvel acumula
tação e baixo custo para a incorporação ao design de produtos, apresentam-se as funções de mobiliário e divisória de ambientes), pois ambas aumentam a
como ferramenta plausível de ser utilizada em mobiliário popular, para evitar complexidade do produto.
erros humanos nas diversas fases do ciclo vida deste produto. A seção seguinte
apresenta os resultados parciais do estudo de caso realizado pelo Núcleo de Para a avaliação do protótipo, preconizou-se a seleção de uma amostra de
Design e Sustentabildade da Universidade Federal do Paraná (NDS-UFPR), na pessoas representantes do público alvo, utilizando como critério de seleção
introdução destes mecanismo em protótipo de mobiliario-divisória destinado a renda familiar mensal de até três salários mínimos. Esta condição permite
ao público de baixa-renda. a análise de fatores sócio-culturais que podem influenciar a ocorrência de er-
ros na montagem e desmontagem do móvel. A amostra utilizada foi de dez
3. Estudo de Caso avaliadores, o que segundo Nielsen e Landauer (1993) pode abranger 80% do
número de problemas de usabilidade do produto.
Estratégia geral de desenvolvimento
Como critério para a seleção do ambiente, toma-se por base as características
das casas populares construídas pela Cohab-CT, entre elas, a área total não su-
Como método de pesquisa para a criação de diretrizes para utilização de dis-
perior a 50m² e a configuração interna similar em número de peças: 2 quartos,
positivos poka-yoke no design de mobiliário popular, utilizou-se o estudo de
sala com cozinha e banheiro.
caso, através do qual analisou-se a interface do usuário com o produto, a fim
de mapear as classes e tipos de erros ocorridos durante o processo de mon-
A atividade a ser desempenhada pelos avaliadores era a de montagem e des-
tagem e desmontagem, os principais fatores indutores e contribuintes para a
montagem do protótipo obedecendo ao manual de instruções. Antes e após
ocorrência de erros e as classes e funções poka-yoke mais eficientes na sua
a montagem, os avaliadores responderiam uma série de questionários entre-
prevenção e eliminação.
vistas com o objetivo de definir fatores que pudessem contribuir ou induzir a
ocorrência de erros humano.
Para a conceitualização do móvel empregado no estudo, cujo projeto deveria
seguir algumas das estratégias do design sustentável pertinentes aos mecanis-
Verificadas todos os critérios acima citados, deu-se o estudo de caso, cujo prin-
mos poka-yoke, tomou-se por critérios principais: a participação do usuário
cipais resultados e análises são apresentados a seguir.
final no processo de montagem, a multi-funcionalidade, a complexidade resul-
tante do número de peças, componentes e tamanho final do produto.
Resultados e análises
Uma das delimitações para a análise da interface usuário-produto neste estu-
do é que, pela natureza dos dados a serem coletados, o produto deveria estar O estudo de caso teve lugar nas dependências da UFPR, em ambiente con-
trolado: uma casa com as mesmas características de uma habitação popular

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construída pela COHAB-CT, porém sem a presença de nenhum outro móvel ou
aparato, devido a necessidade de captação de imagens do processo. O foco da Poka-yoke de alerta:
avaliação foram as classes e tipos de erros humano que ocorrem no processo • Utilizar códigos (cores, números, letras, símbolos integrados ao produto e
de montagem/desmontagem de móveis e a validade dos poka-yokes integra- aos componentes) para identificar conjuntos de montagem/desmontar
dos ao mobiliário avaliado. • Utilizar códigos (cores, números, letras, símbolos integrados ao produto e
aos componentes) para definir seqüências padrão de montagem/desmon-
O mobiliário-divisória, em fase de protótipo estrutural encontrava-se desmon- tagem
tado, com os módulos empilhados próximo ao local determinado para a ativi-
dade. Junto ao mobiliário encontrava-se o manual de instrução, imprescindível Poka-yoke de controle:
para o correto desenvolvimento da atividade. • Impedir o acesso à peça de montagem subseqüente antes do término da
tarefa precedente.
O manual separava a montagem em etapas: nivel 1, 2, 3 e 4, sendo imprescin- • Condicionar uma tarefa ao cumprimento efetivo da tarefa precedente.
dível a montagem correta montagem do nível anterior para a continuidade do
processo, o que execia a a função reguladora, através do método poka-yoke de Poka-yoke de contagem:
controle. Cada etapa no manual, foi identificada por cores com corresponden- • Oferecer o número exato de peças para a execução total de uma tarefa.
tes no produto, formando um poka-yoke de contagem, juntamente com odas • Criar kits de montagem que contenham todas as peças para a fixação de
as ferragens, separadas em sacos plásticos, também identificados com cores, um conjunto. Não separar peças de precisem ser utilizadas em conjunto
contendo a quantidade exata de peças para a montagem do referido módulo. com outras (por exemplo: deixar hastes e buchas de MINIFIX® em um úni-
As ferramentas necessárias à montagem/desmontagem encontravam-se sobre co saquinho).
os módulos e sua utilização era indicada no manual de instruções. A forma de • Evitar peças que se desprendam do produto, evitando perdas.
encaixe dos módulos permita apenas a montagem da forma correta, sendo • Oferecer kits de peças sobressalentes, contendo todo o conjunto neces-
portanto um poka-yoke de posicionamento. sário.

Desta forma os avaliadores, em duplas, receberam instruções para utilização Poka-yoke de posicionamento:
do manual e para a realização do processo de montagem e desmontagem dos • Criar junções que não permitam a estabilidade do conjunto manuseado,
móveis. Como resultados pôde-se observar a ocorrência de erros não intencio- sem que haja total travamento das partes, evitando erros latentes.
nais e intencionais, tanto na forma ativa quanto na forma latente. Observou-se • Utilizar sons, como clicks, por exemplo, para indicar o final do processo.
também que os principais fatores indutores destes erros são: fatores cogniti-
vos, ambientais, culturais, instrumentais e sociais. Poka-yoke de contato:
• Criar diferenças claras entre tipos de encaixes diferentes.
As funções poka-yoke mais adequadas para evitar erros humanos, durante o • Privilegiar encaixes lúdicos à ferragens. Impedir, através das formas, mon-
processo de montagem e desmontagem dos móveis populares, são as funções tagem em posições incorretas.
reguladoras, que devem ser utilizadas em conjunto com os mecanismos de • Criar, para as peças do mesmo grupo de encaixes, formas complementa-
detecção. res, como macho e fêmea, por exemplo.
• Tornar inequívoca a montagem através de formas lúdicas.
Através do estudo de caso pode-se gerar a seguintes diretrizes para aplicação
de poka-yoke em design de móveis populares: Poka-yoke em design informacional:

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• Oferecer múltiplos pontos de consulta às informações. Referências
• Integrar as informações diretamente às áreas a serem manuseadas, im-
mindo-as sobre a superfície do produto. ABBOTT, H. e TYLER, M. Safer by design. 2a. ed. Gower Publishing Ltd. e Design Council, Alder-
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• Integrar as instruções essenciais à superfície do produto, evitando perdas DEKKER, Sidney W. A. The Re-Invention of Human Error. Tech Report of London University: Lon-
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FERREIRA, Aurélio B. de H. Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. São Paulo: Editora Nova
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• Apresentar as informações de forma seqüencial e lógica, oferecendo todas IBGE/PNAD. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios/2000. home in <http://www.ibge.gov.
as informações relativas a um grupo em uma única consulta do usuário. br/home/estatistica/populacao/trabalhoerendimento/pnad2000/default.shtm > 05/03/07.
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Empregando os poka-yokes citados anteriormente, o design pode, mais efe- LEPRE, Priscilla Ramalho. Diretrizes para utilização de dispositivos poka-yoke no design de mobi-
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Pós-Graduação em Design, Setor de Letras de Artes, Universidade Federal do Paraná: Curitiba,
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Anais do 1º Simpósio Paranaense de Design Sustentável (I SPDS)


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O Paradoxo do Design Sustentável na Moda: Diretrizes para sustentabilidade
em produtos de moda e vestuário
The Paradox of Sustainable Design in fashion: Directions for support in fashion products and
clothes

Suzana Barreto Martins; Drª.


Universidade Estadual de Londrina
Núcleo de Design & Sustentabilidade/UFPR
suzanabarreto@onda.com.br

Este artigo discute o paradoxo do design sustentável na moda e aponta algumas diretrizes para tornar as soluções
do setor do vestuário (e moda) mais sustentáveis, com foco na dimensão ambiental. São avaliadas quatro diretrizes
genéricas: redesign, design de produtos intrinsecamente mais sustentáveis, sistemas produto+serviço e a indução
estilos de vida radicalmente novos.

Palavras-chave: sustentabilidade, design, moda, vestuário

This article deals with fashion as a social phenomenon of ample influence in contemporary society, special in clo-
thes, modality where fashion has its more visible face. Discusses general strategies to enable sustainability within
the clothing (and fashion) sector. It presents four umbrella strategies: redesign of existing solutions; design of new
products that are already embedded with environmental/social principles from start; product-service systems; in-
duction of radically new life styles.

Keywords: sustainability, design, fashion, clothing

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1 Introdução È importante destacar que a indústria do vestuário é responsável por elevado
índice de emprego devido à velocidade de crescimento do setor no Brasil. De
A moda é caracterizada como algo efêmero, cuja temporalidade é dada por acordo com a ABIT (2009), o setor têxtil e de confecção nacional, compreende
variações constantes, e identificada principalmente com o vestuário. No entan- mais de 30 mil empresas e gera 1,65 milhão de empregos em toda a sua exten-
to, a moda é um “fenômeno organizado, disciplinado e sancionado” (SOUZA, sa cadeia, que inclui fios, fibras, tecelagens e confecções. Por sua vez, O Brasil
2001), relacionado a aspectos históricos, sociológicos e artísticos que determi- está na lista dos 10 principais mercados mundiais da indústria têxtil, bem como
nam também um gosto específico, uma situação econômica e social. O certo é entre os maiores parques fabris do planeta
que o vestuário incorporou a moda e seu termo como próprio de seu campo de
ação, e é nele que a moda ganha maior visibilidade e importância. São milhares de confecções instaladas e faturamento anual da ordem de bi-
lhões de reais, somado a velocidade das mudanças e inovações tecnológicas
Martins (2005) assinala que a produção do vestuário, nascida numa concepção na área têxtil, o aumento do número de consumidores, a diminuição do ciclo
artesanal, foi desenvolvida com base em procedimentos empíricos, mas sem de vida dos produtos e a grande participação de pequenas e médias empresas
fundamentação teórica que suportasse as inovações técnicas. Em decorrência, no setor.
os processos de desenvolvimento de projeto de produto de vestuário também
estiveram calcados nessa mesma base empírica. No entanto, nos últimos anos, 2 Desenvolvimento de produtos de moda sustentáveis
alterações vêm sendo observadas desde a concepção do produto de vestuário
até o atendimento das demandas de mercado. A sustentabilidade tem sido tema amplamente discutido em diferentes âmbi-
tos da sociedade, seja acadêmico ou industrial. Suas três principais dimensões
Diante disso, o projeto de produtos de moda e vestuário cada vez mais deve estão alicerçadas no tripé: desenvolvimento econômico, social e gestão am-
responder a um processo de sistematização integrada entre a atividade econô- biental.
mica, sustentada por inovações tecnológicas, agregação de valor, redução de
custos e de diferenciais de mercado. Tal reflexão desenvolve ações de Ecodesign processo metodológico para De-
senvolvimento de produtos em processos produtivos, incorporando princípios
Os produtos de moda e de vestuário adquirem importância cada vez maior. ambientais e ferramentas como a análise do ciclo de vida do produto. Assim, o
Os mesmos já “não cumprem apenas a função histórica de cobrir, proteger conceito de sustentabilidade tem norteado e fundamentado cada vez mais as
e embelezar o corpo, mas também de desenvolver embalagens e sistemas de atividades de projeto de produtos, assumindo atuação responsável em empre-
embalagens vestíveis para acondicionar o corpo e, ao mesmo tempo, preser- sas, comunidade e governos. O sistema moda impõe um ritmo de obsolescência
var a saúde do corpo, sua segurança e bem-estar.” (MARTINS, 2006). programada muito rápido em que os produtos de moda são descartados muito
antes do final da sua vida potencial, ocasionando vários impactos ambientais,
A roupa, também referida como segunda-pele, pode ser vista, então, “como a o que é diametralmente contrário aos axiomas do design sustentável.
embalagem do corpo ou como uma arquitetura têxtil em que cada linha tem
um sentido e que manifesta um gosto específico localizando seu tempo e es- Dentre as várias estratégias possíveis para o desenvolvimento sustentável,
paço” (MARTINS, 2005). os serviços ocupam lugar de destaque devido ao foco na desmaterialização
Nessa direção a sustentabilidade entra como variável fundamental no desen- do consumo. A esse respeito, é interessante mencionar os trabalhos de Man-
volvimento do projeto de produto para redefinir todas as etapas dos processos zini e Vezzoli (2005), cuja perspectiva teórica e procedimentos operacionais
produtivos do vestuário. orientam-se para a noção de sistemas sustentáveis. Para Manzini (2002), essa
mudança baseia-se na transferência da posse de produtos para o consumo de

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serviços, isto é, a posse desloca-se do consumidor para o produtor que assume Para viabilizar essa estratégia, é necessário que o consumidor tenha postura
a responsabilidade pelo produto desde a produção, ciclo de vida, utilização até diferente com o vestuário.
o descarte e a reciclagem.
Simples iniciativas e atitudes podem ajudar sua viabilização, tais como: dire-
Nesse sentido, busca-se identificar diretrizes genéricas para aplicação da sus- cionar as velhas peças de roupa para instituições de caridade ou empresas
tentabilidade no vestuário, a fim de possibilitar aos profissionais do setor sub- recicladoras; descartar sempre pares de sapatos juntos, pois separados não te-
sídios para identificação dos próximos estágios de desenvolvimento de seus rão utilidade; armazenar as roupas e acessórios de moda e vestuário em locais
respectivos produtos e serviços. Nas seções seguintes são apresentados qua- secos para não danificar as peças e possibilitar a sua venda e direcionar aos
tro níveis de estratégias de design sustentável, seguindo um caminho progres- locais com as mesmas condições de armazenamento, já que não serviriam se
sivo de complexidade e, também, de profundidade do impacto ambiental e ficarem expostos à intempérie; freqüentar brechós e comprar roupas usadas
social. Estes níveis são baseados na proposta de Manzini & Vezzoli (2005) para sempre que possível; privilegiar a compra de roupas elaboradas com fibras e
produtos de maneira geral, conforme serão descritos a seguir. materiais reciclados; dentre outras.

3 Diretrizes para produtos de moda e vestuário mais sus- Nível 2: Projeto de novo vestuário intrinsecamente mais sustentável
tentáveis
Este nível procura estabelecer soluções que melhorem o desempenho do ves-
tuário em todas as etapas do ciclo de vida do produto ainda na fase de projeto,
Nível 1: Redesign ambiental do vestuário existente partindo da concepção do produto e passando por todas a etapas do ciclo de
vida. Neste nível há maior complexidade na atuação do designer dado que
Esta estratégia significa a mera readequação ambiental de um produto existen- a ênfase não é meramente redesenhar o sistema existente, mas desenvolver
te. Esse é o nível mais enfatizado pelo Setor Têxtil atualmente no que tange ao soluções de vestuário que já na sua origem evitem ou eliminem os problemas
vestuário e tem se caracterizado principalmente pela substituição de materiais que o redesign ambiental busca mitigar.
não-renováveis por materiais renováveis. Contudo, esta abordagem pode in-
cluir também melhora na eficiência no consumo de matéria-prima e energia ao Esse nível de estratégia do design sustentável do vestuário inclui também a
longo de toda a cadeia produtiva do vestuário e de seu ciclo de vida, incluindo ênfase na dimensão social da sustentabilidade que, embora também possa ser
a facilitação da reciclagem e o reuso de elementos do vestuário. Não há a exi- aplicada no nível anterior, tem neste nível maior possibilidade de eficácia. Esta
gência de mudanças reais nos estilos de vida e consumo, mas apenas a sensi- dimensão implica considerar intervenções no design do vestuário que contem-
bilização do usuário para a escolha de produtos ambientalmente responsáveis, plem questões como a promoção de condições de trabalho mais adequadas
conforme Manzini e Vezzoli (2005). na fase de manufatura e manutenção do vestuário; a integração de pessoas
deficientes ou marginalizadas; a promoção da coesão social (incluindo de gê-
Para efetuar o redesign do vestuário e ao mesmo tempo considerar o ciclo de neros); a promoção da educação para o consumo sustentável.
vida, o designer deve necessariamente contemplar todas as etapas do proces-
so de desenvolvimento: pré-produção, produção, distribuição, uso e descarte Esta abordagem está em sintonia com a campanha da International Clean Clo-
(LEWIS & GERTSAKIS, 2001). Nesta abordagem é útil entender os resíduos têx- thes (www.cleanclothes.ch) que busca promover que empresas do setor, in-
teis como divididos em duas categorias: desperdício pós-industrial, relaciona- cluindo os distribuidores e lojistas, implantem ação concreta contra condições
do ao desperdício ocasionado durante a produção e manufatura dos artigos, e inadequadas de trabalho na cadeia produtiva do vestuário.
desperdício pós-consumo relacionado às roupas usadas e a outros têxteis.

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Nível 3: Projeto de Sistemas Vestuário + Serviço Flori e MOB. Nesse caso a troca de experiências entre a ONG Florescer e o
Recicla Jeans foi crucial para a obtenção desses resultados. Se antes a ONG
O terceiro nível busca desmaterializar todo ou parte do consumo mediante a comercializava seus produtos apenas na favela, hoje com os pontos de venda é
satisfação do usuário via serviços associados ao vestuário. O projeto de novas possível disponibilizar os produtos para um maior número de pessoas e conhe-
soluções para o vestuário+serviço que substituam as atuais soluções centradas cer melhor o perfil do público. Segundo a ONG, depois da abertura de lojas no
no bem físico e não no resultado final, implica uma reestruturação técnico- varejo, as vendas aumentaram, e a Recicla Jeans contribui para gerar renda a
produtiva, o que pode gerar ganhos socioambientais mais significativos do que dezenas de famílias carentes e potencializar ainda mais a projeção já alcançada
as estratégias apresentadas anteriormente. pela ONG, inclusive com visibilidade no exterior.

Nível 4: Implementação de Novos Cenários de Consumo e Produção Ressalta-se aqui importância do aumento das vendas e sua relação com a ele-
Sustentável do Vestuário vação no nível socioeconômico de famílias de baixa renda para uma condição
digna de vida. Contudo, na dimensão ambiental este argumento é contraditó-
Este último nível trata das soluções que efetivamente mudam estilos de vida rio com a urgente necessidade de reduzir a demanda por recursos do planeta.
e, dessa forma, hábitos de consumo e produção de maneira a reduzir ou eli- Nesta abordagem há o mero prolongamento do ciclo de vida da matéria-prima,
minar o impacto do ser humano sobre o meio ambiente. A proposição ou im- havendo dúvidas quanto a sua eficácia na redução dos recursos como um todo
plementação de novos cenários sustentáveis para o consumo e produção, por (CO2 no transporte, energia). Como salienta Alcott (2008), há na verdade neste
sua vez, implica a promoção de novos valores culturais radicalmente diferentes tipo de situação o risco do ‘efeito colateral’ em que o consumo é estimulado
do paradigma corrente. Neste caso, o papel do designer é importante, embora pela noção de que se está contribuindo para o meio ambiente.
limitado, conforme alertam Manzini e Vezzoli (2005).
Nível 2: Design de Vestuário Intrinsicamente Sustentável caso das Em-
4 Resultados e análise presas Döller e Renaux

A Empresa DÖLLER situada no vale do Itajaí (Santa Catarina) vem produzindo


Nível 1: Redesign caso do Projeto Recicla Jeans
também em escala considerável artigos elaborados a partir da celulose obtida
do bambu, seja em tolhas de mesa, banho ou roupões. No caso da DÖLLER, o
A ONG Recicla Jeans iniciou, em 1995, em São Paulo, o Projeto Florescer, ONG
material vem sendo utilizado em tecidos planos para o vestuário em geral com
que presta assistência direta a pessoas carentes e moradoras da favela Paraisó-
algumas opções de cartela de cores. No caso da RENAUX VIEW, as malhas con-
polis a segunda maior da capital paulista, com cerca de 75 mil habitantes. Em
feccionadas com a viscose obtida do bambu têm uma pequena porcentagem
2003, o projeto deu início às atividades do Recicla Jeans, formando artesãos
de elastano, para garantir maior conforto e aderência ao corpo.
para a reciclagem de jeans, que, com a orientação de estilistas, redesenham,
transformam, aplicam e retrabalham roupas produzidas com jeans e resíduos
Quanto à utilização da fibra de bambu para a fabricação de artigos têxteis a
têxteis oriundos das empresas parceiras do projeto.
priori seria possível relacionar inúmeras vantagens para a sua utilização. É uma
fibra celulósica regenerada extraída da polpa de bambu, produzida sem adi-
A fase final do ciclo de vida do produto, o descarte, recebe novos usos e ganha
tivos químicos, percebida pelo consumidor como uma “fibra ecologicamente
novos significados ao tornar-se um novo produto, e vem se mostrando econo-
correta”. Os tecidos, sejam planos ou de ponto (malha) elaborados com fios
micamente viável. De fato, a ONG tem aberto franquias de lojas e oficinas em
de fibra de bambu, têm como características o toque extremamente macio,
São Paulo e Belo Horizonte e parcerias de exclusividade com as grifes Eugênia
leveza, fluidez e excelente recuperação ao amarrotamento.

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Possui ainda algumas características funcionais positivas que incluem a alta serviços da empresa oferecem potencial para reduzir resíduos na indústria e
absorção de umidade, facilitando o processo de transpiração, chegando a ser do uso de recursos naturais. Somam-se a isso as ações realizadas pela empresa
quatro vezes mais absorvente que a fibra de algodão. Possui propriedade bac- no sentido de conscientizar não somente seus funcionários e familiares como
teriostática natural, o que confere uma sensação de frescor (desodorante), também comunidades, fornecedores e prestadores de serviços. Vale lembrar
além de inibir o mau odor. É termodinâmico, ou seja, no calor proporciona a que a empresa mantém programa de responsabilidade social e de gestão am-
sensação de frio e no frio, a sensação de toque quente, além de oferecer tam- biental.
bém uma boa proteção contra os raios indesejáveis do sol.
Não foi possível identificar nas informações coletadas sobre esta empresa se
Contudo, vale ressaltar que esforços como este ainda são carentes de respaldo os equipamentos e insumos são efetivamente projetados para utilização em
técnico-científico no Brasil. No caso do bambu, por exemplo, há que se consi- ambiente produto+serviço. A análise da literatura permite inferir pouca pro-
derar as implicações na fauna e flora regionais, as distâncias de transporte, os babilidade com relação a esta hipótese, havendo neste perfil de empresa um
processos de tratamento requeridos etc. campo de atuação para o designer brasileiro, ainda pouco explorado. Obvia-
mente esse tipo de estratégia demanda competências que normalmente não
Nível 3: Sistema Vestuário+Serviço caso da empresa Atmosfera são enfatizadas e gerenciadas pelo designer com formação ortodoxa, como
gestão de conflitos, estratégia, gestão ambiental, governança corporativa, en-
Este caso analisa o caso da Atmosfera, empresa que oferece serviços de for- tre outros tópicos.
necimento de uniformes, higienização, gestão de rouparia e manutenção de
equipamentos de proteção individual EPIs, para indústrias, hospitais e hotéis, Nível 4: Mudanças no Estilo de Vida
apresentando soluções e serviços. A empresa contribui para evitar não so-
mente o descarte, ao promover reutilização desses produtos, como também a Vestuário é uma necessidade básica do ser humano e sua eliminação não é
redução de resíduos e custos operacionais na indústria. Segundo dados apon- aceita culturalmente nem tampouco fisiologicamente desejável. Contudo, na
tados no site da empresa, a recuperação dos EPIs gera uma economia de até sociedade de consumo contemporânea observa-se descarte prematuro do
50%, se comparada à compra e ao descarte sem reutilização. vestuário em volumes crescentes. O descarte prematuro no caso do vestuário
muitas vezes configura-se como a simples contenção do vestuário por anos em
A empresa propõe um sistema “inteligente” de uniformização, tais como: a guarda-roupas, a ponto de resultar em dano funcional ou estético permanen-
locação de roupas protetoras especiais para baixas ou altas temperaturas, re- te.
pelente a chamas, ambiente controlado, aluminizadas, refletivas e antiestáti-
cas; a gestão de roupas profissionais elaboradas para cada atividade, sendo as Assim, entre as soluções estratégias neste cenário visando reduzir o consumo
peças personalizadas com a logomarca da empresa, identificadas com códigos está a busca pela aproximação do ciclo de vida do vestuário com o efetivo ciclo
de barra, acompanhadas de toalhas de banho; higienização periódica dos uni- de uso por parte do usuário. O design de roupas multi-uso, reversíveis ou que
formes dos funcionários. A empresa ainda integra os serviços de lavagem e “crescem” com o indivíduo (no caso de crianças) é um exemplo típico. Outro
consertos. exemplo são as roupas que já têm no design original a possibilidade de subs-
tituir partes com grande probabilidade de desgaste (caso dos cotovelos em
Na empresa Atmosfera a inspeção de cada peça garante respaldo técnico em roupas para uso industrial).
casos de vistorias e auditorias externas, consertos, reparos, eventuais substi-
tuições de uniformes desgastados pelo uso e gera relatórios detalhados que Algumas medidas práticas incluem: evitar o uso de secadoras de roupa, bus-
possibilitam o controle e a garantia da troca de roupa. As características dos cando o uso da secagem natural sob o vento e o sol; se há a necessidade de

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uso uma secadora/lavadora, buscar a utilização de empresas de prestação de 5 Considerações finais
serviço em regime self-service ou condominial (o equipamento compartilhado
implica considerável menor impacto ambiental e sua característica industrial Atualmente, as grandes companhias buscam cada vez mais atender a um nicho
indica que é usualmente mais eficiente do que o equipamento doméstico); do mercado de produtos têxteis, cuja expansão depende diretamente do au-
evitar o uso de ferro de passar roupa (pendurar a roupa logo depois de lavá- mento da preocupação dos consumidores com questões ambientais.
la ou usar tecidos que não amassam, por exemplo); usar máquinas de lavar
com carregamento pela frente (usualmente demandam menos energia e me- Ao mesmo tempo, essas ações não podem restringir-se somente ao marketing
nos água que as máquinas com carregamento pelo topo); utilizar sempre água promocional das grifes para angariar clientes que começam a despertar para as
fria no processo de lavagem; usar detergentes livres de fosfato (para evitar a relações entre produção de itens de moda e impactos socioambientais. Paira
formação excessiva de algas nos rios e lagos) e em pó (evitando o transporte sobre essa questão a real viabilidade da expansão do conceito e da proposta
de água). de sustentabilidade aliada à incessante busca por novas tendências em produ-
tos de moda e vestuário.
Cabe ainda ressaltar a postura que vem crescendo entre criadores de moda, o
“slow fashion”, a moda não atrelada a sazonalidade do lançamento das cole- Martins e Vascouto (2007) destacam: como um dos caminhos para uma pro-
ções e a “tendência da não tendência”, ao procurar transcender à efemeridade dução de moda com responsabilidade social e ambiental a disseminação de
da moda buscando um equilíbrio entre contemporaneidade e atemporalida- informações sobre a utilização de materiais têxteis: tecnologias e processos de
de. produção sustentável para os diversos atores da cadeia têxtil, do vestuário e
produtos de moda, tais como agricultores, produtores, empresários, designers,
Segundo Magner (2008) esse pensamento já vem sendo discutido nos meios profissionais de marketing, economistas, comerciantes, entre outros; uma vez
especializados em pesquisa de tendências, em que os estilistas estão focando que, de posse dessas informações, esses atores poderiam contribuir com a
suas coleções na própria identidade da marca em vez do que ditam os bureuax redução dos impactos do setor e promover mudanças mais efetivas. Abrem-se
de estilo, evitando assim, a obsolência acelerada dos produtos de moda. também outras possibilidades de mudança na outra ponta, com um consumi-
dor mais consciente de suas responsabilidades e de seus hábitos de consumo.
Nessa direção, Kazazian (2005) propõe buscar aparências menos subordinadas
à moda, utilizar materiais adaptados ao envelhecimento, favorecer o reparo e O ritmo veloz que o modelo de consumo e produção imprime nas relações
a manutenção a fim de retardar a obsolescência do produto. de compra e venda de mercadorias, especialmente dos itens de moda, tem o
prazo de validade reduzido. Diz-se ‘especialmente’ sobre os produtos de moda,
Trata-se de aumentar a durabilidade dos produtos e criar, de acordo com Hel- pois é princípio intrínseco a ela sua eterna reinvenção.
vécia (2008), um desejo no consumidor por coisas sem tempo definido, como
uma tentativa de não criar uma classificação e validade dos produtos, evitando O desenvolvimento da sustentabilidade no setor implica elaborar soluções que
assim, o descarte após uso. tratem do âmago do problema que é justamente o efeito desta efemeridade
no meio ambiente. São necessários a disseminação e o desenvolvimento de
Em consonância com esse cenário está um novo perfil de consumidores, se- conceitos e ferramentas que permitam o desenvolvimento de soluções que
gundo Popcorn (1997), mais conscientes de suas ações e de seus poderes como vão além da mera reciclagem de matéria-prima ou utilização de matéria-prima
cidadãos, que usam seu poder de escolha para premiar ou punir empresas por renovável para que este problema central repercuta na efetiva redução do con-
suas atitudes sociais e ambientais e estão informados sobre os produtos que sumo no setor.
consomem.

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Ao mesmo tempo, desenvolvimento sustentável está diretamente relacionado Referências
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