Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Data:
24/04/2009, das 8:30 às 21:00h
Comissão Organizadora:
Conteúdo científico - Prof. Dr. Aguinaldo dos Santos, PhD, UFPR
Organização - Prof. Cláudio Pereira de Sampaio, MsC, Universidade Positivo
Site:
www.design.ufpr.br/spds
Contato:
nds@ufpr.br
Organização e edição:
Núcleo de Design e Sustentabilidade da Universidade Federal do Paraná
Projeto gráfico:
Cláudio Pereira de Sampaio
ISSN:
2176-4093
Um princípio subliminar ao design sustentável é a busca pelo desenvolvimento de soluções de forma cooperada.
Paradoxalmente, observa-se pouca sinergia entre os grupos de pesquisa em design sustentável no Brasil, resultando
em replicação de pesquisas, lacunas de investigação e menor velocidade na disseminação dos princípios e práticas
norteadoras da sustentabilidade. Com o propósito de estimular esta maior aproximação dos grupos de pesquisa o
presente artigo reporta survey realizada pelo autor em 2008 junto aos programas de pós-graduação em Design no
país buscando identificar justamente a agenda temática e a distribuição da pesquisa na área. Com base nesta survey
o artigo aponta aspectos chave para maior efetividade da pesquisa em design sustentável no país.
An underlying principle in the field of sustainable design is the development of solutions on a cooperative fashion.
In Brazil, paradoxically, there is reduced synergy among the research groups on the field resulting in the overlap of
research activities, gaps of investigation and, furthermost, reduction on the dissemination speed of sustainability
theory and practice. With the purpose of stimulating higher proximity among these research groups the present
paper reports survey carried out by the author in 2008 within Design postgraduate programs in Brazil, attempting
to identify the existing research agenda and the geographic distribution of research on the field. Based on the results
of this survey the article then points to key aspects to increase design research effectiveness on the country.
Alexandre L. Marinho
Universidade Positivo, Brasil
alemarinho@up.edu.br
Ricardo H. M. Godoi
Universidade Federal do Paraná, Brasil
Rhmgodoi@hotmail.com
Este trabalho contribui para a integração da sustentabilidade na idealização de um curso de graduação em De-
sign. O objetivo deste trabalho é o de fornecer uma visão global para qualquer professor e / ou coordenador que
pretenda integrar a sustentabilidade no desenvolvimento dos cursos de Design baseado em levantamentos e ex-
periências de campo. A fim de estimular a preocupação ambiental dos acadêmicos do curso de Design da Univer-
sidade Positivo, foi oferecido aos alunos um curso resumido de dez horas de Química Ambiental. A assimilação e a
posterior utilização dos conceitos básicos absorvidos no curso pelos estudantes foi avaliada de forma qualitativa e
quantitativa, por meio de questionário aplicado aos alunos concluintes (2007). Apesar da prática realizada, poucos
alunos apresentaram projetos de conclusão de curso com propostas de desenvolvimento de produtos com a preo-
cupação sólida de integrar a sustentabilidade no processo metodológico, porém se mostraram bastante receptivo
para a inserção de discussões sobre as relações ambientais e o design.
This work was designed to contribute to the knowledge and experience on how integration of sustainability issues
in regular design course can be accomplished. As an overview of Brazilian design courses, it was recognized the
lack of environmental subjects in the majority of the design undergraduate courses program, especially in product
development. The main objective of this work was to provide a useful overview for any teacher and/or curricu-
lum developer wishing to integrate sustainability into design programs. In order to encourage the environmental
concern of the Positivo University students of Design department, an environmental chemistry short course of
ten hours was offered to some students. The assimilation of environmental concepts of the course was accessed
by qualitative and quantitative questionnaire applied to the participants. The results were pointing out that this
isolate action does not incorporate the environmental responsibility to the students but they want to discuss about
environmental education and design.
Dentro do escopo da EA surge, então, a necessidade de desenvolver produtos O design como uma ferramenta dentro do contexto maior, que é a sustenta-
e serviços orientados ao atendimento da sociedade, com o respeito aos recur- bilidade, reforça o seu escopo de reorganizar os sistemas de produção e de
sos naturais, e a credibilidade do desenvolvimento econômico, contribuindo consumo, motivando a existência de novos processos ecologicamente mais fa-
assim para o entendimento do conceito de desenvolvimento sustentável. voráveis em relação aos existentes.
Diante deste cenário a escola de design pode ser um espaço valioso para a EA,
proporcionando aos alunos reflexões sobre a importância do design e sua in-
4 Proposta de aplicação
fluência nas demandas sociais e na sua relação com o meio ambiente.
Baseado na pesquisa realizada na Delft University of Technology (TU Delft), Ho-
landa e seus resultados relacionados à melhora no aproveitamento dos assun-
Para propor o desenvolvimento sustentável no design é importante entender
tos que interagem o tema sustentabilidade e o desenvolvimento de projetos,
que o desenvolvimento deve ser do design para a sustentabilidade, que signifi-
além da hipótese deste estudo que há a necessidade de repensar a estrutura
ca ainda segundo Manzini (2002), promover a capacidade do sistema produtivo
curricular dos cursos de design, de maneira a atender as contínuas mudanças
de responder à procura social de bem-estar utilizando uma quantidade de re-
de mercado e a necessidade da conscientização ambiental, este estudo propôs
cursos ambientais drasticamente inferiores aos níveis atualmente praticados.
a inclusão de um curso de extensão em química ambiental, de 10 horas. Além
de provocar um presumível interesse do acadêmico, o curso também propor-
Para esta proposta, Fletcher e Dewberry (2002) esclarecem sobre dois extre-
cionaria a discussão de temas ligados ao meio ambiente e suas relações com o
mos para o uso da sustentabilidade nos currículos. O primeiro, onde o design é
desenvolvimento de produtos fora do local tradicional de sala de aula.
o contexto, os temas relacionados a um projeto sustentável são partes de uma
metodologia de desenvolvimento de produto, onde o resultado serão bens de O curso de extensão, denominado Planeta no Século XXI (PS21), foi ofertado
consumo para o mercado. São atualmente praticados nas poucas instituições para os alunos do 2° semestre do 3° ano da graduação em design da Univer-
de ensino que se preocupam com o assunto, obedecendo ao modelo industrial sidade Positivo (UP), promovendo uma ação concreta que permitiria maiores
atual. A preocupação é fazer com que os alunos desenvolvam o produto e por discussões para a integração da sustentabilidade no design. O curso teve como
fim lembre-se da possibilidade de inserir pequenas interferências “verdes”. objetivo principal estimular a consciência ambiental resgatando conceitos por
Apresentada esta formatação a todos os 49 alunos da turma, denominados As respostas foram compiladas utilizando-se a ferramenta computacional Sta-
como “turma base”, 23 tinham disponibilidade de tempo no contra turno e tistical Package for the Social Sciences (SPSS) versão 13.0, para análise, trata-
manifestaram interesse na participação do curso que foi realizado entre os dias mento de dados estatísticos e cruzamentos de variáveis para a confirmação
24 de outubro e 14 de novembro de 2006, na UP. No ano letivo de 2007, a dos dados obtidos.
turma base, no 4° ano, se organizou, de forma espontânea, em duplas ou in-
dividualmente, para redação e apresentação dos projetos de pesquisa para o 5 Resultados e Discussões
desenvolvimento de projetos de produtos como TFG durante o ano letivo.
Dos 26 projetos apresentados pelos alunos, 24 eram formados por duplas e
Para reconhecer e quantificar as influências do curso proposto PS21 foram re- dois individuais. Entre as duplas seis projetos foram propostos por alunos que
colhidos todos os 26 projetos de pesquisa apresentados como propostas para fizeram o curso PS21, nove foram formados por alunos onde um fez o curso
o desenvolvimento do TFG, totalizando os 49 alunos participantes. Com a e nove foram formados por alunos que não fizeram o curso. Nos individuais,
entrega dos projetos de pesquisa, realizou-se uma pesquisa quantitativa para ambos realizaram o curso.
analisar os indícios de relações entre o design e o meio ambiente apresenta-
dos, ou a falta deles, sob influências específicas do curso PS21. Um dos alunos não fazia parte da turma base (aluno transferido de outra ins-
tituição) e, portanto foi desconsiderado da pesquisa. Dentre os oito projetos
Buscou-se palavras que identificassem indícios, preocupações e implementa- onde os autores participaram do curso PS21, sejam eles em duplas ou indivi-
ções de aspectos ambientais contidos nos temas, nos objetivos gerais e nos dualmente, apenas três apresentaram algum tipo de influência, apontada em
objetivos específicos. Para tanto foram consideradas palavras e expressões dois temas e em um objetivo específico, e cinco não apontaram qualquer tipo
como: Re-uso; Ciclo de vida do produto; Preservação do meio ambiente; Uso de indício de influência.
de novas tecnologias; Qualidade de vida; Preocupação ambiental; Resíduos;
Ecodesign; Sustentabilidade; Ecologia; Energia; Água; Descartável; Coleta se- Os projetos onde apenas um dos autores participou do curso PS21 apresen-
letiva; E metodologia específica para o desenvolvimento de produto-serviço taram um resultado diferente do grupo de projetos onde ambos os autores
como o PSS (product-service system). participaram. O resultado de não influência é menor do que os números de
Entende-se que mesmo mostrando interesse e reconhecendo a necessidade Evidencia-se, ainda, que os alunos perceberam as relações ambientais apenas
das relações entre o design e o Meio Ambiente (quando questionado se o alu- quando o assunto é matéria prima, processos de fabricação e reciclagem. Entre
no irá abordar questões que envolvam o meio ambiente no TFG, 68,9% res- eles, 37,8% creditaram ao próprio entendimento e 46,7% ao entendimento da
pondem afirmativamente), o resultado pretendido junto ao trabalho final de equipe sobre a relevância dos temas ambientais e sua inserção no TFG.
graduação, não se deu, também, porque 20% dos alunos entrevistados apon-
taram, categoricamente, desconhecer como inserir este assunto no próprio Dentre os entrevistados, 13,3% apontaram o curso PS21 como principal influ-
trabalho. ência para a inclusão de temas ambientais no TFG. Este número reforça os
resultados apresentados, onde apenas três projetos sofreram algum tipo de
Outros 6,7% não admitem a dificuldade de como abordar o assunto meio am- influência e cinco não apresentaram quaisquer indícios.
biente, justificando que não pretendem abordar discussões desta natureza
porque entendem que o trabalho em desenvolvimento não tem nenhuma re- Mesmo, ainda, sem mostrar resultados que comprovem quanto o aluno con-
lação com o meio ambiente. segue relacionar o design e o meio ambiente, a pesquisa indicou que os alunos
reconheceram que há assuntos ligados a este tema nas disciplinas do curso,
Como também não sabem, 4,4% disseram que só irão abordar o tema caso o sendo que 71% apontaram que o curso de design tem oportunizado este tipo
orientador do trabalho ou a instrução normativa do TFG exija. de discussão.
Outro indicativo que reforçou a falta de temas e objetivos nos TFG`s relacio-
nados à educação ambiental na UP, esta associado com o não entendimento Por meio do levantamento de dados até o momento da pesquisa, pôde-se ob-
exato do significado de preocupações ambientais e como este deve ser abor- servar que a educação ambiental e suas relações com a formação acadêmica
dado. do designer na UP encontravam-se em um momento inicial, evidenciando que
o curso não objetivava esta interação tanto no seu projeto pedagógico como
Quando perguntado sobre quais os possíveis temas que seriam abordados ao na formação dos professores, porém foi possível perceber que os números su-
longo do TFG, as respostas têm concentração “apenas” nos itens relacionados gerem um cenário bastante interessante , percebido pela motivação dos alu-
a matéria prima, processos de produção e reciclagem do produto. nos e os espaços para a discussão do tema.
Esta limitação quanto aos possíveis temas ambientais que poderiam ser abor-
dados no desenvolvimento de um TFG no curso de design pode estar relacio- 6 Considerações finais
nada principalmente com o fato de os alunos obedecerem a um currículo que
tratou os temas ambientais como etapas projetuais dentro do contexto design Este trabalho abordou o ensino superior, com foco nos cursos de graduação
A menos que os produtos ecológicos (menos prejudiciais aos seres humanos e seu ambiente quando comparados aos produtos tradicionais) obtenham êxito no
mercado, não haverá diminuição dos impactos ambientais causados ao longo do seu ciclo de vida. No universo das empresas cujos produtos são bem sucedidos
comercialmente, é comum a adoção de um processo padrão de desenvolvimento de produtos (DP) o qual guia todos os projetos de desenvolvimento, estabele-
cendo, assim, uma linguagem comum a todos os envolvidos e a garantia de que certas práticas, métodos e ferramentas serão utilizados no desenvolvimento de
todos os produtos. Os principais benefícios associados ao uso de um processo padrão estão relacionados à estruturação do DP, o que viabiliza sua gestão e aumen-
ta as chances de que os produtos desenvolvidos a partir desse padrão obtenham sucesso no mercado. Dentro do contexto do Processo de Desenvolvimento de
Produtos (PDP), o ecodesign pode ser definido como uma abordagem que visa desenvolver produtos ecológicos sem comprometer critérios como desempenho,
funcionalidade, tempo de desenvolvimento, segurança, estética, qualidade e custo, critérios esses essenciais ao êxito comercial de qualquer produto. No entanto,
o que se observa atualmente é que o uso de métodos e ferramentas de ecodesign não figura ainda entre as melhores práticas de DP, caracterizando uma lacuna
na integração do ecodesign ao PDP. Uma maneira de suprimir essa lacuna é garantir que métodos e ferramentas de ecodesign integrem o processo padrão de DP
das empresas. Essa integração, por sua vez, pode ser feita com o auxilio de um modelo de referência para o desenvolvimento de produtos ecológicos, ou seja, um
modelo de referencia que tenham entre seus métodos e ferramentas aqueles relacionados ao ecodesign. O objetivo desse artigo é apresentar os passos empre-
endidos no desenvolvimento de uma referência dessa natureza, a qual está sendo construída a partir da integração de métodos e ferramentas de ecodesign ao
modelo de referencia para a gestão do desenvolvimento de produtos proposto por Rozenfeld et al, 2006 (Modelo Unificado).
Unless the green products (less harmful to humans and their environment when compared to traditional products) get success in the market, there will be no re-
duction of environmental impacts caused throughout its life cycle. In the universe of companies whose products are commercially successful, it is common to adopt
a standard process for product development (DP) which guide all development projects, establishing thus a common language for all those involved and ensuring
that certain practices, methods and tools will be used in the development of all products. The main benefits associated with the use of a standard process are rela-
ted to the structure of DP, which enables the management and increases the chances that the products developed from the standard to obtain success in the ma-
rket. Within the context of the Product Development Process (PDP), the ecodesign can be defined as an approach that aims to develop ecological products without
compromising criteria such as performance, functionality, development time, safety, aesthetics, quality and cost, the traditional criteria essential to commercial
success of any product. However, what is observed today is that the use of ecodesign methods and tools not even figure among the best practices of DP, showing
a gap in the integration of ecodesign into PDP. One way to eliminate this gap and ensure that ecodesign methods and tools integrates the standard DP businesses
process. This integration, in turn, can be made with the aid of a reference model for the development of green products, ie, a type of reference that have also a
set of ecodesign methods and tools. The aim of this paper is to present the steps undertaken in the development of such a reference, which is being built from the
integration of ecodesign methods and tools into the reference model for product development management proposed by Rozenfeld et al, 2006 (Unified Model).
No início dos anos 2000 era grande o otimismo existente em torno das vanta- O modelo de referência para a gestão do desenvolvimento de produtos, ou
gens competitivas associadas ao ecodesign (tanto entre acadêmicos como en- modelo unificado, proposto por Rozenfeld et al, (2006) foi construído com o
tre representantes do mundo corporativo), apresentado à época como o con- intuito de disseminar conceitos e melhores práticas de desenvolvimento de
ceito emblemático do paradigma ganha-ganha. No entanto, o que se observa produtos nas empresas nacionais, incorporando experiências e conhecimentos
atualmente é que a adoção desse conceito encontra-se restrito a grandes e acumulados pelos autores em suas atividades acadêmicas (pesquisa e ensi-
poucas empresas e que os produtos produzidos e consumidos em larga escala no) e empresariais. É fruto de ação conjunta de grupos de pesquisa brasileiros
não são ainda ofertados em sua versão ecológicos (BOKS, 2005; KARLSSON; com destacada atuação na área de DP (desenvolvimento de produto) os quais
Todo processo de negócio pode ser representado por meio de um modelo, que
representa todos os seus elementos. Para Vernadat (1996), um modelo dessa
natureza serve para “harmonizar os fluxos de informação, controle e material
dentro da organização, para aprimorar a comunicação, cooperação e coorde-
nação dentro da empresa tal que seja atingido uma maior produtividade, flexi-
bilidade, capacidade de reação e um melhor gerenciamento de mudança”.
Dessa forma, o PDP como um processo de negócio pode ser representado por
meio de um modelo que oriente a estruturação de seus elementos visando Figura 1. Modelo unificado (ROZENFELD et al, 2006)
sua gestão. A função básica dos modelos para gestão do PDP é uniformizar os
conceitos para que todos consigam ver de forma semelhante o produto sendo Este modelo organiza o PDP em macro-fases, subdivididas em fases, ativida-
desenvolvido, sendo o processo de desenvolvimento do produto padrão sobre des e tarefas. As macro-fases deste modelo são: Pré-desenvolvimento (garante
o qual o desenvolvimento de projetos está baseado normalmente representa- que as estratégias da empresa sejam seguidas no momento da definição do
do por um modelo de referência. portfólio de produtos, além de incluir a atividade onde ocorre o detalhamento
dos projetos escolhidos no portfólio), Desenvolvimento (corresponde ao pro-
Um modelo de referência descreve as atividades, os resultados esperados, os jeto do produto, iniciado na declaração de escopo e no planejamento vindo da
responsáveis, os recursos disponíveis, as ferramentas de suporte e as informa- macro-fase anterior e finalizado com o lançamento do produto no mercado.
ções necessárias ou geradas no processo e consiste de uma coleção das melho-
res práticas no desenvolvimento de produtos, sendo usualmente representado Nesta macro-fase estão inclusas as fases de Projeto Informacional, Projeto Con-
em visões parciais. ceitual, Projeto Detalhado, Preparação da Produção e Lançamento do Produto)
e Pós-desenvolvimento (responde pelo acompanhamento do produto após seu
Ao fazer uso de um modelo de referência, uma empresa define um padrão lançamento, até a sua retirada do mercado, avaliando todo o seu ciclo de vida e
para os projetos de desenvolvimento de seus produtos, obtendo, assim, uma coletando informações para referência nos próximos desenvolvimentos).
visão única desse processo de negócio, nivelando os conhecimentos entre os
atores que participam de um desenvolvimento específico, e construindo, uma As macro-fases de pré e pós-desenvolvimento são gerais, assim como o projeto
Nesse processo, especial atenção foi dada ao alinhamento dos resultados das
fases do modelo unificado com os dados de saída dos métodos e ferramentas, Figura 2: Informações principais e dependências entre as atividades da fase de Projeto Concei-
de tal sorte a garantir que aqueles resultados refletissem de fato a busca pela tual (ROZENFELD et al, 2006)
redução dos impactos ambientais do produto em desenvolvimento.
A partir da análise das especificações-meta do produto advindas da fase de
No caso do modelo proposto, a integração do ecodesign implicou fundamen- Projeto Informacional, elabora-se a descrição total ou global desse produto
talmente na alteração de atividades pré-existentes no Modelo Unificado, em- (modelo funcional global), que deve ser um resumo do que se deve esperar
bora tenham sido propostas também novas atividades am alguns casos. do produto funcionalmente. Em seguida, são realizados desdobramentos su-
cessivos (decomposição) dos sistemas em subsistemas e em componentes por
meio de um processo top down (do produto final para os componentes) defi-
Como as maiores oportunidades para melhoria do desempenho ambiental de
nido assim a modelagem funcional do produto.
um produto estão na fase de geração de conceito (GRAEDEL; ALLENBY, 1995),
especial atenção foi dada a essa fase, a qual será utilizada nesse artigo para
Isso feito, inicia-se o desenvolvimento de princípios de solução, onde inicial-
ilustrar como foi feita a integração de ecodesign ao Modelo Unificado.
mente o efeito físico (ou químico, ou biológico...) desejado é definido e em
seguida define-se o portador desse efeito definindo assim o princípio de solu-
4.4 Exemplo de integração no Projeto Conceitual ção (solução individual). As combinações dos princípios de soluções individuais
formam os princípios de solução totais para o produto, sendo a matriz morfo-
Na fase do Projeto Conceitual, as atividades da equipe de projeto relacionam- lógica uma importante ferramenta utilizada nessa atividade.
se com a busca, criação, representação e seleção de soluções para o problema
de projeto. A Figura 2 mostra as atividades previstas no Modelo Unificado para Os princípios de solução totais definem as diferentes partes que compõem o
a fase do Projeto Conceitual. produto, ou seja, definem a sua arquitetura, onde as alternativas de soluções
são desdobradas em Sistemas, Subsistemas e Componentes (SSC). A atividade
seguinte (Analisar SSC) pode ser vista como sendo um refinamento da defi-
nição da arquitetura do produto, onde são identificados e analisados fatores
críticos do produto, observados em seu ciclo de vida, como questões de fun-
Quanto à escolha dos diferentes princípios de soluções, bem como das diferen-
tes concepções para o produto, pode utilizar métodos de ecodesign conheci-
dos como métodos simplificados de avaliação de ciclo de vida (simplified LCA
methods), como a Design for Environment Matrix (DfE Matrix) e a matriz co-
nhecida como MECO (Materials, Energy, Chemicals and Others), os quais po-
deriam estabelecer um processo de trade off entre o que é funcionalmente
necessário ao produto com o que é ambientalmente desejado.
5 Conclusões
Modelos de referência têm sido utilizados para gerenciar o PDP aumentando
a probabilidade de êxito comercial dos produtos. Para que os produtos ecoló-
gicos se tornem uma opção de consumo, é preciso que o ecodesign faça parte
das melhores práticas de desenvolvimento de produto constando do processo
padrão das empresas.
Educação através do Design, Educação para o Desenvolvimento Sustentável, Educação para a Sustentabilidade
A EdaDe é uma abreviatura da expressão Educação através do Design. Teve sua origem num trabalho de pesquisa
cuja proposta era investigar o potencial pedagógico das atividades de design (FONTOURA, 2002). O estudo inicial-
mente voltou-se para a educação de crianças e jovens, mas sua abrangência pode ser estendida à todos os níveis
de ensino. O presente trabalho tem como objetivos identificar e expor algumas relações da EdaDe com o que se
tem chamado de EDS Educação para o Desenvolvimento Sustentável ou EpS Educação para a Sustentabilidade e
posicionar a EdaDe como um recurso para a promoção de um futuro mais sustentável.
EdaDe is an abbreviation of the Portuguese expression Educação através do Design [Education by Design]. Its ori-
gins is in a research work that investigated the pedagogical potential of design activities (FONTOURA, 2002). The
study aimed children’s and youngster’s education but it can be extended to all teaching levels. The main objectives
of this paper are: to identify and show the relationships between EdaDe and what has been called ESD - Education
for Sustainable Development or EfS Education for Sustainability and to position the EdaDe proposal as a resource
to promote a more sustainable future.
Para a Comissão o desenvolvimento sustentável é aquele que: “satisfaz as ne- As denominações Educação para o Desenvolvimento Sustentável ou Educação
cessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras para a Sustentabilidade, geram algumas discussões conceituais. As críticas de-
de suprir suas próprias necessidades.” […that meets the needs of the present correm do fato já mencionado mais acima, de que os conceitos de desenvolvi-
without compromising the ability of future generations to meet their own ne- mento e de sustentabilidade não serem imparciais e estarem sujeitos a várias
eds] (WCED,1887, p.43). O relatório apresenta uma visão complexa das causas interpretações (LIMA, 2003; GADOTTI, 2002).
dos problemas sócio-econômicos e ecológicos da sociedade e as inter-relações
entre a economia, tecnologia, sociedade e política. Para Bob Jickling (1994) a educação enquanto prática de liberdade, não pode
ser dirigida para um fim específico e assim, questiona a educação “para” a
São várias as acepções dadas ao conceito de desenvolvimento sustentável e, sustentabilidade a partir da sua instrumentalidade. Para ele a educação pres-
freqüentemente, inspiradas mais por interesses econômicos do que por ques- supõe autonomia e pensamento crítico. Ela não deve orientar os estudantes a
tões sociais ou ecológicas. Uma possível definição foi dada por Lester Brown, uma finalidade pré-determinada. A educação com finalidade pré-determinada
do Worldwatch Institute: “Uma sociedade sustentável é a que satisfaz as ne- sugere mais um treinamento para a aquisição de habilidades do que um apren-
cessidades sem diminuir as perspectivas das gerações futuras” (BROWN, 1981, dizado comprometido com o entendimento e a compreensão. Uma educação
apud CAPRA, 1996, p. 24). “para” sugere uma forma de pensar à qual se deve apenas obedecer. Jickling
publicou suas idéias a mais de uma década, mas o debate sobre o que significa
Mas as críticas continuam. Por vezes o discurso do desenvolvimento sustentá- desenvolvimento sustentável e como atingi-lo ainda persiste, permeado por
vel e da sustentabilidade é entendido como uma operação político-normativa valores, interesses e forças antagônicas (LIMA, 2003)
e diplomática, empenhada em sanar um conjunto de contradições expostas e .
não respondidas pelos modelos de desenvolvimento adotados até então. Dian- Lucie Sauvé (1997) também tem contribuído para o debate. Analisou como
te dos efeitos da degradação ambiental e da necessidade de dar continuidade podem ser estabelecidas as relações e interações entre a EA Educação Am-
ao sistema produtor de mercadorias, fazia-se necessário achar um mecanismo biental e o desenvolvimento sustentável. Sauvé demonstra que as diferentes
para gerenciar a reprodução econômica do capital, além de tentar responder concepções de desenvolvimento sustentável correspondem a diferentes pers-
Para Ken Baynes (1996) os seres humanos usam certas habilidades mentais, A Edade abre espaço para a reflexão sobre as questões ambientais e sobre a
físicas e sociais no design: sustentabilidade ao colocar em prática as atividades de design. Dentre os três
tipos básicos de atividades apresentados, as que mais permitem a reflexão so-
1- Habilidade de imaginar um mundo diferente; bre as questões ambientais, desenvolvimento sustentável e sustentabilidade,
2- Habilidade de externar as idéias e partilhar com os demais; e são as AIAs. Nelas podem ser desenvolvidos pequenos trabalhos sobre:
3- Habilidade de usar ferramentas e recursos para transformar as idéias em
realidades. - a maneira de projetar, produzir, distribuir e consumir os bens e serviços (ques-
De certa maneira, todas as pessoas fazem uso das suas habilidades de fazer e tões sociais, econômicas e ambientais);
Durante a execução das TPDs também é possível promover algumas reflexões 5 Enfim...
interessantes, entre elas:
Em termos estratégicos, as atividades de design, quando bem empregadas e
- como realizar construções que permitam a separação de materiais para uma conduzidas na educação das crianças e jovens, permitem, como já tem sido
futura reciclagem ou reutilização dos mesmos; demonstrado em outros contextos educacionais vide caso do D&T - Design
- como unir dois ou mais materiais com o menor uso de energia (uso de encai- and Technology curricular britânico (DfEE/QCA. 1999) a construção de no-
xes, uniões, articulações, etc.); vos conhecimentos e compreensões, proporcionam o ensino e o aprendizado
- como obter estruturas mais rígidas, leves e estáveis com o menor uso de ma- ativos, desenvolvem habilidades mentais e físicas, promovem o julgamento de
teriais (empilhamento, justaposição, treliças, geodésicas, etc); valores e a exploração do pensamento criativo. Através delas, o educando usa,
- como reusar, reciclar e reutilizar materiais e produtos (uso de lixo que não é desenvolve e fomenta uma série de habilidades essenciais; e integra conheci-
lixo, sobras de confecções, etc.); mentos de diversas áreas do currículo escolar.
- como desenvolver sistemas mais eficientes; etc.
A prática da EdaDe, enriquece as experiências dos estudantes e os prepara
Deve-se lembrar que as TPDs referem-se a atividades nas quais as crianças e para enfrentar os desafios do mundo contemporâneo, entender as influências
jovens “colocam as mãos na massa”, em outras palavras, experimentam coisas, passadas, presentes e futuras das freqüentes mudanças no universo da arte,
constroem e montam pequenos sistemas ou produtos, tentam dar forma aos da tecnologia e da ciência e interferir de forma ativa, responsável e consciente
Este artigo tem por objetivo apresentar os resultados finais de dissertação de mestrado desenvolvida no período
2007-2008, no Programa de Pós Graduação em Design da Universidade Federal do Paraná. Este trabalho considera
o Design como elemento que possa favorecer a sustentabilidade ambiental de embalagens em papelão ondulado
movimentadas entre empresas (B2B), e propõe o uso de diretrizes de projeto baseadas em sistemas produto-
serviço (PSS). Além da revisão bibliográfica sobre o tema, utilizou-se como estratégia de pesquisa o estudo de caso
em uma indústria automotiva da região metropolitana de Curitiba/PR. Este estudo foi complementado com uma
metodologia específica para o design de sistemas produto-serviço PSS, chamada MEPSS. O estudo de caso envol-
veu a realização de pesquisa de campo junto à indústria estudada, e abrangeu as fases de diagnóstico da situação
existente, análise do diagnóstico, intervenção, análise da intervenção e validação. A abordagem de Design baseada
no ciclo de vida da embalagem (life cycle design) foi utilizada ao longo do estudo de caso, e complementada pelo
uso de ferramentas de avaliação qualitativa e quantitativa, como o SDO-MEPSS e a Análise do Ciclo de vida. O
artigo é finalizado com a proposição de diretrizes de Design baseadas em PSS para embalagens B2B em papelão
ondulado.
This article aims to present the final results of the master dissertation developed during the 2007-2008 period, in
the Federal University of Paraná - UFPR Design Post-Graduation Program. This work consider design as element
that favours environmental sustainability of B2B corrugated cardboard packages, and proposes the use of design
guidelines based on product service systems (PSS). Moreover literature review, it was used, as research strategy,
a case study in an automotive company of metropolitan region of Curitiba/PR. This study was complemented with
a specific methodology for product service systems, called MEPSS. The case study included a field research in the
company, and covered the phases of diagnosis of the current situation, intervention, intervention analysis and va-
lidation. The design approach based on the packaging life cycle (life cycle design) was used in the study, and it was
complemented by using qualitative and quantitative analysis tools, as SDO-MEPSS and Life Cycle Analysis LCA. The
article is concluded by proposing design guidelines based on PSS for B2B corrugated cardboard packages.
A presente dissertação foi desenvolvida dentro de um projeto de pesquisa in- No que diz respeito aos aspectos ambientais, os mais significativos referem-se
titulado “Desenvolvimento de Embalagens e Produtos para Exportação Utili- à:
zando a Tecnologia CFG para o Papelão Ondulado”, desenvolvido no Núcleo
de Design e Sustentabilidade da Universidade Federal do Paraná UFPR. Este - Representatividade alta das embalagens no volume global de resíduos, cerca
projeto teve duração de dois anos (agosto de 2005 a agosto de 2007), e foi de 65% (Brody; Marsh,1997);
financiado pelo CNPq Conselho Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento e - Crescimento no consumo de matéria-prima para embalagens;
FINEP Agência Financiadora de Estudos e Pesquisas. Foram concedidas três - Reciclagem como estratégia importante, mas insuficiente para enfrentar os
bolsas de pesquisa, sendo duas para Iniciação Científica (IC) e uma para Desen- problemas ambientais causados pelo aumento do consumo;
volvimento Tecnológico Industrial (DTI). - Problemas ambientais decorrentes da reciclagem (alto consumo de água e
energia) e da incineração (liberação de CO² e outros gases);
Além disso, o projeto foi apoiado com acesso a materiais de consumo e a in- - Alta produção de rejeitos (o que não se aproveita na triagem do papelão on-
formações de produção e mercado pelas duas empresas que são objeto desta dulado e que acaba sendo destinado à incineração ou aterros sanitários), em
dissertação, sendo uma montadora de veículos (Volkswagen do Brasil) e uma média, de 42% (Grimberg; Blauth, 1998);
indústria de embalagens em papelão ondulado (Embrart). O projeto de pesqui- - Exigências legais cada vez mais rígidas quanto à destinação de resíduos, como
sa supra descrito abrangeu três estudos de caso, e esta dissertação refere-se por exemplo, o Projeto de Lei dos Resíduos (PL 203/91), de 2002, e as Leis de
especificamente ao primeiro, destinado ao desenvolvimento de embalagens Resíduos estaduais;
retornáveis para o transporte de componentes automotivos. - Aumento na exigência por certificações ambientais, especialmente pelas em-
presas já certificadas quanto aos seus fornecedores;
A partir da tentativa de se responder à questão “Como tornar mais sustentável - Necessidade de alinhamento com o Plano Plurianual (PPA) 2004-2007 do
o uso da embalagem em papelão ondulado movimentada entre empresas?”, Governo Federal, Mega Objetivo II, que busca o “Crescimento com geração
o autor partiu da hipótese de que “a estratégia de utilização de sistemas pro- de trabalho, emprego e renda (...) ambientalmente sustentável e redutor das
duto-serviço (PSS) pode minimizar o impacto ambiental do uso de embalagens desigualdades sociais”, especialmente no item 21, que se propõe a “melhorar
movimentadas entre empresas”. Desta forma, a dissertação teve como propos- a gestão e a qualidade ambiental e promover a conservação e uso sustentável
ta principal a elaboração de “diretrizes para o Design de sistemas produto-ser- dos recursos naturais, com ênfase na promoção da educação ambiental” (Pla-
viço (PSS) voltadas a embalagens em papelão ondulado movimentadas entre noBrasil, 2004);
empresas de modo a reduzir o impacto ambiental das mesmas”. - Necessidade de alinhamento com a Agenda21 brasileira, especialmente com
as diretrizes do capítulo 21 (manejo ambientalmente saudável dos resíduos só-
lidos) e capítulos 29 e 30 (fortalecimento do papel do comércio e da indústria
2 Contexto da pesquisa
(Agenda21 Nacional, 2007). Neste último, este trabalho está ligado diretamen-
te à promoção de uma produção mais limpa e da responsabilidade empresa-
Sustentabilidade rial;
- Busca de alinhamento com os Objetivos do Milênio e com a iniciativa da
Embora o objetivo principal deste trabalho seja a redução de impactos am- UNESCO/ONU em promover, no período entre 2005 e 2014, a Década da Edu-
bientais, buscou-se, num primeiro momento, contextualizar a pesquisa tam- cação para o Desenvolvimento Sustentável, que consiste de amplos esforços
bém em relação aos aspectos econômicos e sociais, para, em seguida, se fazer voltados à educação para a sustentabilidade envolvendo os vários segmentos
O propósito deste documento é apresentar uma tecnologia que vem a diminuir os impactos ambientais em alguns
processos de fabricação que utilizamos em nossa forma de viver. Normalmente com as crises mundiais e locais é
que as mudanças ocorrem com maior intensidade, e para melhor, é uma forma de repensar os conceitos de consu-
mo. Nestes casos a economia de mercado que dita as regras do jogo, quando estão mais vulneráveis, permeando
assim as mudanças. Esta tecnologia não é inteiramente nova, tem seus princípios na década de 70 do século pas-
sado. Porém se torna contemporânea na forma de implantação e avanços. A fabricação de produtos moldados, a
partir de resíduos de serragem de madeira denominada “farinha de madeira”. Com partículas de madeira e adesivo
obtém-se o compósito, que em molde e prensado a quente, moldam-se os produtos. Pode-se obter produtos
moldados por compressão a quente e a frio , por extrusão e injeção, utilizando polímeros termorrígido ou termo-
plástico. A pesquisa apresenta dois métodos obtidos pelo processo de compressão a quente.
The purpose of this paper is to present a technology that has to reduce environmental impacts in some manufac-
turing processes we use in our way of living. Normally with the crisis is global and local changes that occur with
greater intensity, and for the better, is a way of rethinking the concepts of consumption. In these cases the market
economy that dictates the rules of the game, when they are most vulnerable, thus permeating the changes. This
technology is not entirely new, has its principles in the 70s of last century. But it is contemporary in the way of im-
plementation and progress. The manufacture of molded products from waste wood sawdust called “wood flour”.
With particles of wood and adhesive is obtained by the composite, which in the hot mold and pressed, is shaping the
product. You can get products molded by the hot and cold compress, by extrusion and injection, using thermoplastic
or thermosetting polymers. The study presents two methods obtained by the hot compression process.
As partículas de madeira encoladas com adesivo (polímero termofixo), depo- As partículas de madeira encoladas com adesivo (polímero termofixo), depo-
sitadas em uma caixa formadora com dimensões próximas às do molde, sobre sitadas na cavidade do molde, este na posição vertical, com uma distância de
um filme plástico (celofane) medindo 55 x 40 cm, e uma chapa de alumínio de 3 cm, (razão de compactação de 1 para 6). Para se obter uma distribuição uni-
1mm de espessura. Posteriormente uma pré-compressão, a frio, com limitado- forme do compósito, é preenchida a cavidade entre as partes do molde por
res de espessura de 20 mm. gravidade sem compressão. Posteriormente feita a compressão a quente para
consolidação do produto moldado, conforme pode ser visualizado na figura.
Após esta densificação, o colchão formado é aplicado no molde. Retira-se a
chapa de alumínio, e o colchão de partículas se acomoda sobre o molde (ma-
cho). Na seqüência, acrescenta-se a outra parte do molde (fêmea) sobre o col-
chão para posterior compressão a quente e consolidação do produto moldado,
conforme pode ser visualizado na figura.
Em alumínio fundido confeccionado especialmente para a moldagem das pe- Como a espessura tem variações conforme o desenho que o molde apresenta,
ças, elaborado com desenho de uma gaveta com dimensões de 48cm x 35cm deve ser interpretada levando em consideração essas espessuras e suas den-
x 9cm, com 32kg, apresentando ângulos de 60º e curva de raio de 100mm. O sidades diferentes.
molde foi confeccionado com algumas linhas de perfuração com diâmetro de
2mm em pontos estrategicamente definidos para possibilitar a evaporação dos Produto Moldado 2 (Caixa)
gases durante a compressão.
O produto moldado 2 por compressão a quente (caixa) moldado através do
molde 2 de alumínio usinado por prototipagem rápida com dimensões de 102
O molde 2, confeccionado em alumínio tipo naval, usinado por prototipagem x 152 x 45 mm, com espessuras variando de 3 a 4 mm.
rápida, utilizando dois tipos de tratamento superficial, sendo uma face da peça
do molde macho polida e outra peça do molde fêmea texturizada para verifi- A peça apresenta a superfície lisa na parte interna e texturizada na externa.
cação do acabamento superficial da peça moldada para conformação a frio e O molde prevê acabamento na borda do produto, porque executa a moldagem
a quente. e corte, gerando uma geometria definida na borda.
O produto moldado 2 copia com fidelidade as características geométricas do
Este molde apresenta as características de uma peça tridimensional côncava molde. O acabamento superficial é esperado em função da geometria das par-
com cavidade de aproximadamente 50mm de profundidade com ângulos pró- tículas utilizadas, podendo-se até observar a superfície lisa na parte interna do
ximos de 90º e curvas de concordância, gerando uma peça com dimensões de produto e texturizada na externa.
150 x 100 x 50mm, com espessura de 5 mm, e possibilitando o corte dimensio-
nal da peça pelo próprio molde. Na fabricação dos produtos a partir de moldes de alumínio, observa-se a con-
solidação de duas formas diferentes de formação do colchão para a compres-
Características dos Produtos Moldados são dos produtos moldados. O resultado é satisfatório, com as duas maneiras
se obtiveram produtos com boa aparência superficial, copiando os detalhes
Produto Moldado 1 (Gaveta) dos moldes. Através das amostras para medição da densidade média na forma-
ção do colchão é constatada a distribuição do material moldado nas superfícies
A moldagem por compressão a quente do produto moldado 1 (gaveta) mol- planas, inclinadas e curvas.
dada através do molde 1 de alumínio fundido com dimensões de 350 x 450 x
50 mm e com espessuras variando de 8 a 16 mm (conforme as dimensões do Conclusões
molde).
Os produtos moldados (gaveta) copiaram todas as características do molde,
A peça apresenta a superfície com brilho em função do filme de celofane ser apresentam superfície brilhante em uma das superfícies em função do filme
aplicado antes da compressão. O molde não prevê acabamento na borda do de celofane e na parte do fundo apresentam compatibilidade com o tamanho
produto. das partículas.
Os produtos moldados (caixa) copiaram com propriedade as características do
O Caixa Ecológico se caracteriza por uma proposta de mudança de hábito de consumo por meio do gerenciamento
de resíduos de embalagens - identificados atualmente como elementos de grande destaque na composição dos
resíduos sólidos urbanos – visando à minimização de impactos ambientais. Configura-se por um check-out diferen-
ciado em um supermercado na cidade de Curitiba-PR, onde os consumidores podem fazer, conforme sua própria
escolha, o descarte antecipado de embalagens de plástico e/ou papel ali adquiridas e que não há necessidade de
serem levadas com o produto. A destinação destas para reciclagem reduz o volume de resíduos sólidos de embala-
gens sem destino planejado. Associa-se também a proposta, o incentivo para que sacolas próprias sejam utilizadas,
reduzindo o consumo das atuais sacolas plásticas. Desta forma, os principais envolvidos (ponto de venda e consu-
midores) podem praticar ações que contribuem com a proteção e educação ambiental, evidenciando a importância
da participação ativa e consciente da sociedade. A avaliação do comportamento dos envolvidos possibilita detectar
novos procedimentos que permitam a intensificação da iniciativa.
The Ecological Check-out is characterized by a proposal to change consumption habit through the management
of packing residues – currently identified as elements of great importance in the composition of urban solid was-
te – aiming at the minimization of environmental impact. It is characterized by a different check-out located in a
supermarket in the city of Curitiba-PR, where consumers may – if willing to – readily discard unnecessary plastic
or paper packs purchased at the supermarket. By sending these packs to recycling, the volume of solid waste com-
posed of packs without a planned destination can be reduced. Along with the same approach, it is encouraged the
use of proper bags, reducing the use of the current plastic bags. By doing this, the main subjects involved (retailer
and consumers) can practice actions that will contribute to environmental protection and education, highlighting
the importance of the society’s active and conscious participation. The evaluation of the behavior of the subjects
involved allows the detection of new procedures that will permit the intensification of the initiative.
A geração de resíduos sólidos urbanos, desde o início das civilizações, é uma Assim sendo e em observação ao grave quadro atual dos resíduos sólidos urba-
situação complexa e muitas vezes ignorada. Associada ao crescimento das ci- nos enquanto embalagens, o projeto do “Caixa Ecológico” propõe um sistema
dades, a intensificação da industrialização e às mudanças culturais e sociais, de descarte antecipado destas em um supermercado na cidade de Curitiba,
está a produção e destinação do lixo que inevitavelmente é gerado neste pro- por meio da implantação de um check-out diferenciado que estimule uma mu-
cesso e que assume volumes desproporcionais à capacidade de assimilação dança de comportamento e conscientização do consumidor quanto as ques-
dos ecossistemas (Dias, 2002, p. 145). Neste crescimento, um dos elementos tões ambientais. Observa-se desta forma que um consumidor informado e
de destaque que compõem os resíduos sólidos urbanos atualmente são as consciente e um ponto de venda que proporciona condições efetivas podem
embalagens que contém plástico em sua composição (ALGAR, 2005; CEMPRE, protagonizar movimentos de mudanças comportamentais e conseqüentemen-
2000; Mestriner, 2001) – associados ou não a outros materiais, procedentes de te podem atingir metas de melhoria de qualidade ambiental e social.
residências, estabelecimentos comerciais e escritórios.
Este projeto avalia a aceitação dos agentes participantes do processo quanto
As embalagens se apresentam na forma de: frascos, potes, garrafas, saches, a mudanças de hábitos e os caminhos que podem ser tomados para a minimi-
tubos, sacos, filmes, além de tampas, lacres e adesivos, bem como embala- zação de impactos associados aos resíduos sólidos urbanos caracterizados por
gens de papel plastificadas, parafinadas e impressas. Exercem suas funções de embalagens.
oferecer conforto para os consumidores, como na facilidade de transporte ou
na conservação de um produto, além de representarem significativas estraté- 2 Geração de resíduo sólido urbano
gias de comercialização que desenvolvem o setor (Mestriner, 2001, p. 3). No
entanto, a organização e gerenciamento da produção e do descarte dos resí- Nas sociedades primitivas a natureza era a fonte de recursos na vida do ho-
duos destas embalagens revelam-se comprometidos em relação à proteção mem e a maior
ambiental. parte do lixo era composta de matéria orgânica. A humanidade passou um
longo período de sua história acreditando que os recursos naturais, como água
Segundo Mancini et al. (2005, p. 9) se os resíduos plásticos gerados no Brasil e ar, eram infinitos e que a natureza absorveria o lixo produzido (GORE, 1993,
tivessem a devida atenção em relação aos processos de reciclagem, a partici- p.162). No entanto, a necessidade de tratar e destinar adequadamente o lixo
pação do ramo petroquímico no setor seria diminuída e conseqüentemente para evitar a proliferação das epidemias tornou-se inegável (MELOSI, 2005, p.
haveria economia dos recursos naturais. Por outro lado, afirmam os mesmos 22). Com o início da 1ª Revolução Industrial (1780-1850) as atividades conside-
autores, que a economia nacional também seria beneficiada, pois estes resídu- radas “naturais” como: a agricultura, a pecuária, a pesca e a mineração, foram
os plásticos seriam suficientes para anular as importações brasileiras e incre- suplantadas pela produção industrial e pelo capitalismo, e a poluição passou a
mentar as exportações. figurar como um fator de destaque no processo chamado de “desenvolvimen-
to”.
No ciclo de vida das embalagens, os principais envolvidos são: o fabricante, o
ponto de venda e o consumidor. Nesta análise, destaca-se que um ponto de Neste contexto, com a evolução do comércio e da sociedade de consumo, as
venda que se caracteriza pela grande concentração de embalagens é o super- embalagens foram se tornando cada vez mais importantes, principalmente
mercado, local este que pode exercer uma forte influência na forma de desti- após o surgimento dos estabelecimentos de venda a varejo, chamados de su-
nação das embalagens que são por eles adquiridas dos fabricantes e oferecidas permercados. A venda de produtos no sistema de auto-serviço obrigou a uma
- juntamente com os produtos contidos - aos seus clientes e/ou consumidores. completa reformulação na função das embalagens, que se transformou em
Para a avaliação do sistema foi aplicado um questionário padrão junto aos con-
sumidores que utilizam o check-out para constatar a aceitação ou não da ini-
ciativa. Os procedimentos de campo foram realizados no período de 10 a 31 de
outubro de 2006 onde foram entrevistados 350 consumidores, que registraram
suas compras no Caixa Ecológico, em diferentes horários de visitação à loja.
Diante destes resultados, decidiu-se por realizar uma pesquisa qualitativa com
Quanto ao perfil dos consumidores, a maioria dos entrevistados (60%) é do
as operadoras de caixa, ou seja, funcionárias que entraram diretamente em
sexo feminino, com média de idade entre 41 a 50 anos e grau de escolaridade
contato com os consumidores, e assim poder checar a veracidade das infor-
superior (Gráfico 2).
mações, bem como detectar necessidades de mudanças e/ou adaptações. A
Pode-se observar que o consumidor não está familiarizado com iniciativas des-
ta natureza, evidenciando a necessidade de se ampliar o processo de infor-
mação e divulgação da proposta, bem como desenvolver mecanismos que o
estimulem a mudar seus hábitos.
Estes resultados podem ser comparados aos de outra pesquisa realizada por Fonte: Dulce Albach
Chaves e Batalha (2006), que analisou a relevância dos Centros de Coleta de Nota: As pesagens foram realizadas conforme a disponibilidade do supermercado.
embalagens recicláveis como fator de atração de clientes em supermercados.
Esta pesquisa observou as atitudes dos consumidores em uma rede de hiper- Na primeira semana foram descartadas 1547 embalagens. Nos 30 dias subse-
mercados com lojas em São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Esta rede qüentes o volume caiu para 1268. Embora o volume de embalagens descarta-
estabeleceu uma parceria com uma recicladora de alumínio, para juntos reco- das no Caixa Ecológico, tenha diminuído, o número de freqüência de clientes
lherem embalagens descartadas e associarem a imagem das empresas com permaneceu constante, segundo dados do supermercado. O número total de
a proteção do meio ambiente, aumentando conseqüentemente o fluxo de embalagens descartadas nestes 52 dias analisados é de 3212, sendo 1747 em-
A primeira alternativa definida foi a instalação de lixeiras destinadas à coleta Observou-se que além destas, outras ações também agregariam qualidade e
seletiva, tanto internas como externas, nos supermercados da rede em ques- ampliação do sistema:
tão. Por isto, novas ações de informação estão sendo planejadas para cons-
cientização e colaboração dos envolvidos, como palestras e acompanhamento - Aquisição de sacolas em tecido para serem comercializadas na loja
de atitudes no local. e/ou oferecidas aos clientes como prêmio a uma determinada quantidade de
cupons do Caixa Ecológico, para que esta sacola seja utilizada nas compras
O volume interno de resíduos gerado em todas as lojas da rede é significativo substituindo as sacolas plásticas;
e não possuía até aquele momento um sistema de coleta planejado (A rede - Instalação de um sistema de embalagens retornáveis de produtos de
tem um sistema de gerenciamento de resíduos apenas para seus resíduos rela- limpeza com desconto em troca da embalagem vazia;
cionados às mercadorias). As lixeiras foram instaladas nas quatro lojas da rede - Desenvolvimento de novos displays para as prateleiras expondo ade-
situadas em Curitiba. Com esta iniciativa, o total dos resíduos gerados pelas quadamente embalagens unitárias, reduzindo a quantidade de embalagens
lojas terá um destino ambientalmente correto além de se somar aos resíduos coletivas;
do Caixa Ecológico. - Parcerias com os fornecedores do supermercado, ampliando a par-
ticipação e efetivando a viabilidade econômica do projeto. Por exemplo, por
Como já abordado anteriormente, o valor arrecadado com as embalagens re- meio de apelos próprios para distinguir seus produtos e suas embalagens em
cicladas deve ser revertido a instituições filantrópicas. O critério estabelecido associação ao Caixa Ecológico.
é que o local seja cadastrado na Receita Federal e na Fundação de Ação Social
(FAS), comprovando assim prestar os serviços de assistência a que se propõe e Numa abordagem mais abrangente, o sistema pode se expandir no sentido de
também que necessite de recursos financeiros. sensibilizar os fabricantes em relação aos projetos de design de suas emba-
lagens, revendo materiais e processos de forma mais aprofundada enquanto
Processo avaliativo análise de ciclo de vida.
Envolve instituições filantrópicas que podem associar as análises de suas ações Livros, e material não publicados
sociais também às ambientais. Envolve o setor público que vê com simpatia
atitudes que deleguem aos empresários e a comunidade, responsabilidades CEMPRE. Manual de Gerenciamento Integrado do Lixo Municipal. São Paulo: Instituto de Pesqui-
que até então são atribuídas apenas ao estado. Envolve os fabricantes de em- sas Tecnológicas: CEMPRE, 2000.
ALGAR Valorização e Tratamento de Resíduos Sólidos S.A. Disponível em: <http:// www.algar.
com.pt/rsu/valorizacao.asp>. Acesso em 27 ago. 2005.
CEPROMAT – Centro de Processamento de Dados do Estado do Mato Grosso. Disponível em:
<http://www.cepromat.mt.gov.br/html/noticia.php?codigoNoticia=417>. Acesso em 23 mar.
2007.
CIWMB – The California Integrated Waste Management Board. Save money and the Environ-
ment too: A Model for Local Government Recycling and Waste Reduction. California, 2002. Dis-
ponível em: <http://www.ciwmb.ca.gov/Publications/LocalAsst/31002002.pdf>. Acesso em 25
mar. 2007.
MARKET ANALYSIS BRASIL. Disponível em: < http://www.marketanalysis.com. br/ port/downlo-
ad/mídia/banasqualidade_fev-06.pdf>. Acesso em 21 abr. 2006.
PÃO DE AÇÚCAR. Disponível em <http://www.grupopaodeacucar.com.br>. Acesso em 17 fev.
2007.
PRADELLA, José Geraldo da Cruz. Biopolímeros e Intermediários Químicos. Centro de Gestão
e Estudos Estratégicos, São Paulo, mar. 2006. Disponível em: <http://www.anbio.org.br/pdf/2/
tr06_biopolimeros.pdf>. Acesso em 06 abr. 2007.
XL-SHOP. Disponível em <http://www.xl-shop.com/>. Acesso em 26 abr. 2007.
Este artigo apresenta parte dos resultados obtidos em pesquisas desenvolvidas ao longo dos últimos 10 anos cujo
objetivo foi contribuir para o desenvolvimento de tecnologias simples e de baixo custo, utilizando resíduos descar-
tados de vidro e visando a participação de designers frente as constantes demandas relacionadas à sustentabilida-
de ambiental, tecnológica, social e econômica.
Figura 1. Roda da Ecoconcepção (Fonte: Manual Promise do Pruma 1996, O2 France in: KAZA- O país “produz em média 890 mil toneladas de embalagens de vidro por ano
ZIAN, 2005) e utiliza apenas cerca de 45% de matéria reciclada na forma de cacos (390 mil
O presente artigo apresenta um breve panorama da evolução do design para a sustentabilidade. Inicia apresentando
dois percursos possíveis para esta disciplina: através de inovações radicais ou de inovações incrementais. A partir de
um reexame sobre os rumos do desenvolvimento sustentável, o artigo questiona o papel atual do designer, apresen-
tando na terceira secção uma breve evolução da seleção dos materiais para o design do ciclo-de-vida do produto.
As abordagens relacionadas ao design estratégico são o tema das últimas secções, onde é descrito os Sistemas
Produto-Serviços e novas abordagens para o design para a sustentabilidade.
The present paper presents a brief overview of the design for sustainability evolution. Initially it presents two pos-
sible rotes for this discipline: through radical or incremental innovations. Moving from a review of the routes of the
sustainable development, the paper argue about the current role of designer, presenting in the third section one
brief evolution from the selection of materials to the Life Cycle Design approach. The approaches related to strategic
design are the subjects of the last two sections, where it is described the Product-Service System and new approaches
of design for sustainability.
Também em número de três são os fatores apontados como causadores do Assim, sustentabilidade não é mais resumida a argumentos ambientais afron-
atual problema ambiental: a explosão demográfica, o consumo ilimitado e a tados de forma pontual, mas é uma questão sistêmica, na qual todos os ele-
não eficácia das tecnologias no uso de recursos (Sachs 1994). Enquanto a ex- mentos estão interligados. Desenvolvimento sustentável é um tema inerente a
plosão demográfica e o consumo são fatores difíceis de sofrerem intervenção, três dimensões que podem ser resumidos nos três pilares da sustentabilidade
o melhor uso de recursos tem sido gradualmente incorporado nas atividades as dimensões econômica, ambiental e social (FIKSEL 2001):
em geral. No entanto, pontuar sobre um destes fatores tem demonstrado não
ser suficiente, afinal, são argumentos inter-relacionados como mostraremos - Ambiental: desenvolvimento que não excede os limites de resililência
brevemente a seguir. da biosfera e da geosfera (Vezzoli & Manzini 1998).
- Social: desenvolvimento que permite a mesmo nível de “satisfação”
Para manter e permitir aos países de industrialização recente ou os não indus- para as gerações futuras e uma igual distribuição de satisfação para todos no
trializados o mesmo padrão existente de consumo dos países ditos industriali- mundo.
zados, prevê-se que será necessário multiplicar por 10 a quantidade de recur- - Econômica: desenvolvimento com soluções passíveis de serem prati-
sos atualmente existentes, em um tempo estimado de 50 anos. Esta estimativa cadas e aplicadas.
é chamada por alguns pesquisadores de Fator 10 e representa o maior desafio
para um desenvolvimento sustentável. Muitos são os percursos que possibilitam a transição para a sustentabilidade.
Alguns estão apoiados em soluções técnico e tecnológico, outros se baseiam
Em outras palavras, para se manter o padrão atual dos países, de forma sim- em soluções sócio-éticas. Claro está que a mudança necessária demanda ino-
plória, ditos do “norte” e democratizar o consumo para os países do “sul”, de- vações. Estas inovações podem ser incrementais ou radicais.
veria ocorrer uma diminuição de 90% do consumo atual de recursos naturais,
sendo que estes 10% de recursos deveriam ser distribuídos de forma igual para Por inovações incrementais compreendem-se aquelas formadas por pequenas
todos no planeta (SACHS et al 2002; Manzini 2003). mudanças no processo e nos produtos. Elas acontecem de forma contínua no
setor produtivo e dependem de uma soma de combinações como, por exem-
Estes números não são exatos e são suscetíveis de discussão, apesar disto, eles plo, da demanda destas inovações e das possibilidades tecnológicas (Tischner,
são importantes para evidenciar qual é a dimensão da mudança necessária U. & Verkuijl M. 2006). As inovações radicais não são contínuas, elas rompem
O termo Life Cycle Design foi utilizado pela EPA (1993), em seu Life Cycle De- 5 Sistema produto-serviço
sign Guidance Manual: environmental requirements and the product system.
Por ciclo de vida compreende-se o completo ciclo de vida do produto, ou seja, É um exemplo de ação revolucionária, o projeto de sistemas eco-eficientes,
desde a pré-produçao, a produção, o uso, o transporte e o descarte do produto, onde a idéia principal é satisfazer as necessidades do cliente oferecendo solu-
o seu reuso e reciclagem de parte ou do produto total. O ciclo de vida também ções inovadoras, que promovam a desmaterialização dos padrões de consumo.
é conhecido pelo termo do berço à tumba, em inglês cradle-to-grave, ou do Esta é uma abordagem relacionada ao design estratégico. Portanto, neste nível
berço ao berço (cradle-to-cradle), se for considerado um ciclo fechado onde, os de design para a sustentabilidade a busca de soluções menos impactantes não
resíduos entram novamente no sistema como matéria prima (EPA 1993). são mais focadas em produtos, mas sim a busca da satisfação do cliente através
de soluções sistêmicas de um conjunto formado por produtos e serviços, que
A abordagem do Life Cycle Design leva em consideração algumas diretrizes, venham a cumprir a mesma função, ou seja, um sistema eco-eficiente. (Vezzoli,
em especial a Unidade de Pesquisa DIS (Design e Inovação de sistemas para a 2006b).
Sustentabilidade) do prof. Carlo Vezzoli adota as seguintes:
Projetar um Sistema Produto Serviço, mais conhecido pelas iniciais PSS (Pro-
- Redução do consumo de material duct Service System) é, muito superficialmente, projetar a interação entre di-
- Redução do consumo de energia versos atores. Abaixo está uma tabela comparando alguns tipos de serviços
- Redução da toxidade e periculosidade com a tradicional venda de produtos (Manzini & Vezzoli 2002: 4).
- Bio-compatibilidade e conservação
Até agora, não está comprovado que um Sistema Produto-Serviço possa real-
mente levar a uma solução mais sustentável. O ponto mais criticado, em rela-
ção a resultados sustentáveis, é o do transporte. Por exemplo, na última colu-
na, onde a lavanderia oferece o serviço de lavagem da roupa, o transporte feito
pelos clientes para entrega e busca de suas roupas é altamente impactante.
No entanto, o que se pode afirmar é que Sistemas Produto-Serviços possuem
Fonte: Manzini & Vezzoli 2002, p. 4
um alto potencial para serem mais sustentáveis. Para Manzini & Vezzoli (2002)
um Sistema Produto Serviço só pode, realmente, ser considerado sustentável
Na primeira coluna é apresentado o modelo atual de lavagem de roupa, isto é, quando ele auxilia a reorientar os padrões atuais de consumo e produção.
o consumidor adquiri uma lavadora, cuida de sua utilização, de sua manuten-
ção e de seu descarte. Na coluna do meio, apresenta-se um serviço de aluguel
de lavadoras. Neste caso, o consumidor é responsável pelo uso e pela ‘qualida- 6 Novas abordagens do design para a sustentabilidade
de’ da limpeza. Existe, neste tipo de serviço, uma grande participação, ainda,
do consumidor. Já na última coluna, o serviço apresentado é o de entrega de Nesta secção serão delineadas algumas iniciativas, bastante recentes, tomadas
roupa lavada. Neste caso, praticamente não existe a participação do consumi- pelo design para a sustentabilidade. Em particular, serão focados alguns temas
dor no serviço prestado. Ele entrega a sua roupa suja na ‘lavanderia’ e recebe de pesquisas realizadas pela unidade de pesquisa DIS (Design e Inovação de
a roupa limpa após um determinado período de tempo. sistemas para a Sustentabilidade), na figura do prof. Manzini.
Na última linha da tabela anterior, verifica-se que, em um Sistema Produto- Como já apresentado anteriormente, Manzini tem trabalhado principalmente
Serviço, a própria empresa responsável pelo serviço é incentivada a tornar o com o âmbito do design estratégico. Para ele, os designers são importantes
produto mais durável, ou pelo reuso dos componentes e/ou pela reciclagem neste novo confronto da sustentabilidade, porque são os atores que interagem
do material. Isto é, num Sistema Produto-Serviço à durabilidade do produto é com os seres humanos e os artefatos …’seu papel específico na transição que
um fator preponderante e de interesse do próprio fornecedor do serviço. nos aguarda é oferecer novas soluções a problemas sejam velhos ou novos, e
propor seus cenários como tema em processos de discussão social, colaboran-
do na construção de visões compartilhadas sobre futuros possíveis e sustentá-
Nesse artigo é descrita a validação de uma bula de medicamentos em Braille realizado com usuários portadores de
cegueira. Para tanto foi desenvolvido uma entrevista com a aplicação do modelo de apresentação gráfica de Karel
van der Waarde. O objetivo deste foi o de validar a bula em suas características gráficas e informacionais para o
usuário cego.
This paper pretends the description of a validation realized with blind users. For that reading did develop an inter-
view with the Karel van der Waarde framework of graphic presentation application. The objective is the validation
of the medicine package insert in to the graphic and informational characteristics for blind people users.
Visando a eficácia comunicacional em bulas de medicamentos, Van der Wa- No Brasil o conteúdo das bulas é regulamentado pelo Ministério da Saúde,
arde (1999) desenvolveu um modelo analítico para este tipo de documento através da ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) pela portaria nº
informativo. Entretanto, o modelo analítico proposto é voltado para bulas des- 110. Mas, segundo Fujita e Spinillo (2006):
tinadas a videntes. Portanto, bulas em Braille carecem de instrumentos des-
critivos e avaliativos de sua eficácia comunicacional. A Lei de Acessibilidade2 ‘é omissa no que se refere à apresentação gráfica das informações obrigató-
regulamenta o acesso dos cegos e deficientes visuais a qualquer meio impres- rias, assim, aspectos como legibilidade, clareza nas instruções visuais, layout
so e/ou eletrônico, garantindo o pleno acesso as informações disponíveis. Se- do documento são desconsiderados, apesar da relevância destes aspectos na
gundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)3 , até o ano leitura e compreensão da mensagem’ (Fujita & Spinillo 2006).
2000 havia 148 mil pessoas portadoras de cegueira no Brasil e 2,4 milhões com
baixa visão. Portanto, a promoção de um design eficaz de documentos para No que tange a leitura de bulas por usuários deficientes visuais ou cegos, Jones
deficientes visuais e cegos é uma questão não apenas de comunicação/design (2005) destaca que a impossibilidade de ler bula de medicamentos é um sério
da informação, mas, também, de direito e cidadania. risco para a saúde dos mesmos. Segundo a autora o acesso a informação sobre
os medicamentos é um direito básico e particularmente importante para as
Com a intenção de auxiliar no acesso eficaz e averiguar as melhorias realizadas pessoas com deficiência visual. Neste sentido, Lei de Acessibilidade4 brasileira
no documento, neste artigo é apresentada a validação de uma bula de medi- estipula que: “(...) a indústria de medicamentos deve disponibilizar, median-
te solicitação, exemplares das bulas dos medicamentos em meio magnético,
1 http://www.anvisa.gov.br
Braille, ou em fonte ampliada”5. Assim, o acesso à bula em Braille é um direito
2 Decreto 5.296, de 2 de dezembro de 2004, capítulo VI, do acesso a informação e a
comunicação, artigos 47 a 60 4 Decreto 5.296, de dezembro de 2004, capítulo VI, artigo 58, parágrafo 1º
3 www.ibge.gov.br 5 www.acessobrasil.org.br
Figura 1: Sinal fundamental do Braille(a) e cela vazia(b) em tamanho real Nos quadros abaixo (01 e 02) é possível visualizar resumidamente a estrutura
gráfica e informacional da bula em Braille antes e após re-design.
Material teste
Assim, foi realizada a validação da nova bula em Braille com a participação dos Na impressão em Braille foi usado formulário contínuo (260 X 305 mm) com
usuários. papel na gramatura de 150 gramas. Assim, o documento em Braille é compos-
to por 42 páginas em papel liso com a impressão somente na frente da folha.
5 Validação da nova bula em Braille
Procedimentos
A validação da nova bula em Braille foi feita para verificar a sua eficácia junto
a leitores experientes de Braille, assim como no estudo com a bula corrente, a Para os participantes 02 e 03 a leitura da bula foi dividida em três partes:
fim de comparar os resultados entre os estudos. Os participantes, procedimen-
tos, materiais, e os resultados deste estudo são expostos a seguir. Preenchimento de dados pessoais;
Parte 1- Participante sem a bula de medicamentos em Braille;
Participantes Parte 2- Participante com a bula de medicamentos em Braille em mãos;
Parte 3- Solicitar que o participante encontre as informações indicadas.
Quatro adultos portadores de cegueira participaram deste estudo sendo que
têm pós-graduação completa, faixa etária entre 36 e 65 anos, são do sexo mas- Na parte 1 os leitores responderam questões sobre sua experiência com bulas
culino, e de razoável a muita fluência em Braille. O gênero não foi considera- de medicamentos. Como exemplo: onde buscam informações sobre um medi-
do relevante neste estudo, portanto, não houve a preocupação em um misto camento prescrito; de que forma recebem estas informações; quais informa-
entre pessoas de sexo masculino e feminino. No estudo anterior participaram ções mais lhes interessam; se já tiveram contato com bulas; se conhecem bulas
Na parte 3 os participantes fecharam a bula e foi solicitado que encontrassem Os primeiros comentários do participante foram sobre o seu grande volume.
informações específicas como, contra-indicações, reações adversas, interações Ainda, que a bula foi impressa somente de um dos lados da folha e que com a
medicamentosas, advertência e as indicações de armazenagem. impressão frente e verso o volume do documento seria reduzido na metade.
Ainda, foi solicitado que ambos classificassem a bula com relação à busca de O participante expôs que para pessoas com boa fluência em Braille não há pro-
informação, numa escala de 1 a 4, em que 1= fácil, 2= a regular, 3= difícil, e, blemas em ler documentos extensos, porém, os que adquiriram cegueira após
4= a muito difícil. Também foi solicitado se teriam algo a acrescentar que lhes terem sido alfabetizados, há dificuldades e que estes geralmente preferem tex-
parecesse relevante para o estudo e qual sua opinião sobre a bula que haviam tos em áudio. Porém, para ele, entre os que têm fluência em Braille geralmente
acabado de ler, como satisfatória, regular ou ruim (ver formulário de entrevista há a preferência pela leitura de textos impressos.
em apêndice B).
- estrutura gráfica da bula em Braille | Componente Gráficos | verbais
As entrevistas foram filmadas e gravadas em áudio para posterior transcrição.
Assim, foram transcritas para a compilação dos resultados. Para o participante o fato dos títulos estarem numerados e com salto de linha
antes e depois, isenta da necessidade de estar toda a frase em caixa-alta, mas,
Alguns resultados e discussão somente as iniciais. O mesmo foi observado com relação aos subtítulos ante-
cedidos por letras (a, b, c). Comentou sobre um ganho de espaço e de papel
- Participante 02: neste caso, mesmo sendo um ganho mínimo. Ainda, segundo o participante,
ao adicionar hífens, números e letras, não se faz necessária a abertura de pará-
Parte 1 | Participante sem a bula de medicamentos em Braille | Questões grafos. O participante comentou sobre a presença de muitos termos de difícil
preliminares sobre a experiência do participante com bulas compreensão, ou, técnicos.
Segundo o participante ele recebe informações sobre um medicamento pres- - Relações entre componentes gráficos
crito com o médico e oralmente. Quando questionado sobre quais as infor-
mações ele deseja saber de acordo com o seu interesse, este citou as con- Proximidade
tra-indicações e as reações adversas. O único acesso que este teve a bulas de
medicamentos foi oralmente. Ao ler o item c da bula, o participante comentou que se o título (contra-indica-
ções) fosse composto por uma frase curta, a falta de parágrafo poderia causar
Quando questionado sobre a possibilidade de acesso a uma bula em Braille, confusão na leitura tátil e o usuário poderia acreditar ser a continuação do
o participante diz ser importante que haja o acesso. Que o paciente não deve texto. Portanto, quando há títulos longos, que preenchem a linha quase intei-
Seqüenciamento
A convenção de que dois hífens significam itens e um hífen se refere a títulos
foi satisfatória, pois, já é uma convenção utilizada no Braille. Os hífens utiliza-
dos como separadores de números ou letras não interferiram na interpretação
dos títulos hifenizados.
Resumo
Este artigo traz considerações acerca de desafios, no âmbito do design, para a promoção de mudanças na cultura
de consumo, abrangendo estilos de vida e comportamentos de consumo, com vistas ao desenvolvimento susten-
tável. Com base em uma abordagem interpretativa, não reducionista e não determinista das diversas culturas e do
mundo, entende-se o consumo como um processo que vai além da passiva absorção, apropriação de bens e satis-
fação de necessidades e desejos, emergindo da relação das pessoas com os artefatos e a sociedade, no contexto da
dinâmica cultural, social, econômica, política e ambiental. Sob este prisma, destaca-se a relevância da adoção de
abordagens interdisciplinares no design de sistemas de produtos e serviços para a sociedade e do aprofundamento
de pesquisas de prospecção de cenários, visando à sustentabilidade, em suas múltiplas dimensões ambientais,
culturais, econômicas, políticas e sociais.
Abstract
This paper presents some considerations about design challenges for promoting changes in the consumption cultu-
re, which is related to lifestyles and consumption behaviors, aiming at reaching a sustainable development. Based
on an interpretive, non reductive and non deterministic approach of the diverse cultures and the world, consump-
tion is here understood as a process that goes beyond a passive absorption, appropriation of goods, and needs and
yearnings satisfaction. Consumption emerges from the relationship between people, artifacts and society, within
the context of the cultural, social, economic, political and environmental dynamics. In this sense, the relevance of
adopting interdisciplinary approaches in designing products and services systems is emphasized, as well as of deve-
loping deeper researches on prospective sceneries, aiming at sustainability, considering its environmental, cultural,
economic, political and social multiple dimensions.
É imprescindível que o design atue em uma esfera mais ampla que a de desen-
Figura 1: Questões de pesquisas prospectivas de cenários de sistemas sustentáveis volvimento de produtos e serviços isolados, abrangendo sistemas harmônicos,
do ponto de vista ambiental, econômico, sociocultural, físico e espiritual da
Sob este prisma, destaca-se a relevância da educação interdisciplinar em de- sociedade; pilares, corpo e alma do desenvolvimento sustentável.
senvolvimento sustentável, tendo em vista a necessidade de mudanças expres-
sivas na cultura de consumo e comportamento dos consumidores, muitos dos
quais sofrem da chamada “miopia cognitiva”, ou seja, não percebem o impacto
do consumo em suas próprias vidas, de modo mais abrangente.
3 Considerações finais
O design, os estilos de vida e o consumo estão entrelaçados em uma dinâmica
No Brasil, 85% da população vivem com renda de até três salários mínimos mensais (IBGE, 2007). Esta expressiva
fatia da população brasileira, devido aos fatores sócio-econômicos, apresenta grande mobilidade relativa à habi-
tação e constantes mudanças internas no arranjo familiar, durante ciclo de vida da família. Os móveis ofertados
pelo mercado, não contemplam as demandas de mobilidade, flexibilidade e adaptabilidade desta classe social. O
presente artigo apresenta os potenciais da utilização de mecanismos à ‘prova de erro humano’, conhecidos como
poka-yoke, como forma de promover à adequação do móvel a estas demandas e também como uma estratégia
para o design sustentável para a extensão da vida útil do mobiliário popular.
In Brazil, 85% of all population lives with three minimum wages for month (IBGE, 2007). These people presents,
intensive house mobility e constantly adjustments around the family configuration, during the family’s life-cycle.
The furniture, does not attend the real demands about mobility, flexibility and adaptability of this social class. This
paper presents the potential of mistake-proofing devices, named poka-yoke, like a strategy to adequate the popu-
lar furniture to attend the popular demands and like a sustainable design strategy to extend the popular furniture’s
life-cycle.
O descarte de móveis no Brasil, por sua vez, não é regulamentado, não exis- Entre as classificações de erro humano apresentadas pela literatura, utilizou-
tindo políticas nacionais consolidadas de gestão de resíduos, reciclagem ou se para esta pesquisa a classificação proposta por Reason (1990) com base na
recuperação energética. Não existe ainda uma cultura nacional de reciclagem intencionalidade da ação humana, que dividinde os erros em não intencionais
consolidada entre a população e o móvel ainda é descartado integralmente no (lapsos, deslizes, erros e falhas) e intencionais (violações).
meio ambiente. Isso posto, têm-se que as estratégias para o design sustentá-
vel de mobiliário, encontradas na literatura, ainda que possam ser tomadas O processo da ação humana, compreende uma série de interações fisiológicas,
como universais, necessitam adequações para atender a estas peculiaridades psicológicas e cognitivas do homem, com o sistema em que ele está inserido
da realidade brasileira. (ambiente, sociedade, cultura, etc.) (LEPRE, 2008). Portanto, apesar do erro
humano depender do homem para sua ocorrência, seu fator gerador pode não
O presente artigo sugere a inclusão de ferramentas para promoção da exten- se encontrar no homem em si, mas em qualquer um dos outros componentes
são do ciclo de vida do mobiliário popular e apresenta diretrizes para utiliza- do sistema.
ção de mecanismo de prevenção de erros, conhecidos como poka-yoke, como
ferramenta para prevenir e evitar os erros nos processos de montagem e des- O erro humano também pode ser classificado de acordo com o momento em
montagem dos móveis populares, que possam comprometer a vida útil do pro- que o resultado do erro se apresenta no sistema. Segundo Norman (2006)
duto e contribuir para o design de mobiliários que contemplem as questões existem dois tipos de erros humanos: erro ativo e erro latente. O erro ativo é
sociais e econômicas desta população, utilizando-se para isto das estratégias aquele cujo resultado pode ser verificado num instante próximo ao ponto de
do design para a sustentabilidade. desvio. Já o erro latente tem o resultado em um momento distante do ponto
de desvio.
Falhas de design em produtos, na maioria das vezes, geram erros do tipo la-
Desta forma os avaliadores, em duplas, receberam instruções para utilização Poka-yoke de posicionamento:
do manual e para a realização do processo de montagem e desmontagem dos • Criar junções que não permitam a estabilidade do conjunto manuseado,
móveis. Como resultados pôde-se observar a ocorrência de erros não intencio- sem que haja total travamento das partes, evitando erros latentes.
nais e intencionais, tanto na forma ativa quanto na forma latente. Observou-se • Utilizar sons, como clicks, por exemplo, para indicar o final do processo.
também que os principais fatores indutores destes erros são: fatores cogniti-
vos, ambientais, culturais, instrumentais e sociais. Poka-yoke de contato:
• Criar diferenças claras entre tipos de encaixes diferentes.
As funções poka-yoke mais adequadas para evitar erros humanos, durante o • Privilegiar encaixes lúdicos à ferragens. Impedir, através das formas, mon-
processo de montagem e desmontagem dos móveis populares, são as funções tagem em posições incorretas.
reguladoras, que devem ser utilizadas em conjunto com os mecanismos de • Criar, para as peças do mesmo grupo de encaixes, formas complementa-
detecção. res, como macho e fêmea, por exemplo.
• Tornar inequívoca a montagem através de formas lúdicas.
Através do estudo de caso pode-se gerar a seguintes diretrizes para aplicação
de poka-yoke em design de móveis populares: Poka-yoke em design informacional:
Este artigo discute o paradoxo do design sustentável na moda e aponta algumas diretrizes para tornar as soluções
do setor do vestuário (e moda) mais sustentáveis, com foco na dimensão ambiental. São avaliadas quatro diretrizes
genéricas: redesign, design de produtos intrinsecamente mais sustentáveis, sistemas produto+serviço e a indução
estilos de vida radicalmente novos.
This article deals with fashion as a social phenomenon of ample influence in contemporary society, special in clo-
thes, modality where fashion has its more visible face. Discusses general strategies to enable sustainability within
the clothing (and fashion) sector. It presents four umbrella strategies: redesign of existing solutions; design of new
products that are already embedded with environmental/social principles from start; product-service systems; in-
duction of radically new life styles.
3 Diretrizes para produtos de moda e vestuário mais sus- Nível 2: Projeto de novo vestuário intrinsecamente mais sustentável
tentáveis
Este nível procura estabelecer soluções que melhorem o desempenho do ves-
tuário em todas as etapas do ciclo de vida do produto ainda na fase de projeto,
Nível 1: Redesign ambiental do vestuário existente partindo da concepção do produto e passando por todas a etapas do ciclo de
vida. Neste nível há maior complexidade na atuação do designer dado que
Esta estratégia significa a mera readequação ambiental de um produto existen- a ênfase não é meramente redesenhar o sistema existente, mas desenvolver
te. Esse é o nível mais enfatizado pelo Setor Têxtil atualmente no que tange ao soluções de vestuário que já na sua origem evitem ou eliminem os problemas
vestuário e tem se caracterizado principalmente pela substituição de materiais que o redesign ambiental busca mitigar.
não-renováveis por materiais renováveis. Contudo, esta abordagem pode in-
cluir também melhora na eficiência no consumo de matéria-prima e energia ao Esse nível de estratégia do design sustentável do vestuário inclui também a
longo de toda a cadeia produtiva do vestuário e de seu ciclo de vida, incluindo ênfase na dimensão social da sustentabilidade que, embora também possa ser
a facilitação da reciclagem e o reuso de elementos do vestuário. Não há a exi- aplicada no nível anterior, tem neste nível maior possibilidade de eficácia. Esta
gência de mudanças reais nos estilos de vida e consumo, mas apenas a sensi- dimensão implica considerar intervenções no design do vestuário que contem-
bilização do usuário para a escolha de produtos ambientalmente responsáveis, plem questões como a promoção de condições de trabalho mais adequadas
conforme Manzini e Vezzoli (2005). na fase de manufatura e manutenção do vestuário; a integração de pessoas
deficientes ou marginalizadas; a promoção da coesão social (incluindo de gê-
Para efetuar o redesign do vestuário e ao mesmo tempo considerar o ciclo de neros); a promoção da educação para o consumo sustentável.
vida, o designer deve necessariamente contemplar todas as etapas do proces-
so de desenvolvimento: pré-produção, produção, distribuição, uso e descarte Esta abordagem está em sintonia com a campanha da International Clean Clo-
(LEWIS & GERTSAKIS, 2001). Nesta abordagem é útil entender os resíduos têx- thes (www.cleanclothes.ch) que busca promover que empresas do setor, in-
teis como divididos em duas categorias: desperdício pós-industrial, relaciona- cluindo os distribuidores e lojistas, implantem ação concreta contra condições
do ao desperdício ocasionado durante a produção e manufatura dos artigos, e inadequadas de trabalho na cadeia produtiva do vestuário.
desperdício pós-consumo relacionado às roupas usadas e a outros têxteis.
Nível 4: Implementação de Novos Cenários de Consumo e Produção Ressalta-se aqui importância do aumento das vendas e sua relação com a ele-
Sustentável do Vestuário vação no nível socioeconômico de famílias de baixa renda para uma condição
digna de vida. Contudo, na dimensão ambiental este argumento é contraditó-
Este último nível trata das soluções que efetivamente mudam estilos de vida rio com a urgente necessidade de reduzir a demanda por recursos do planeta.
e, dessa forma, hábitos de consumo e produção de maneira a reduzir ou eli- Nesta abordagem há o mero prolongamento do ciclo de vida da matéria-prima,
minar o impacto do ser humano sobre o meio ambiente. A proposição ou im- havendo dúvidas quanto a sua eficácia na redução dos recursos como um todo
plementação de novos cenários sustentáveis para o consumo e produção, por (CO2 no transporte, energia). Como salienta Alcott (2008), há na verdade neste
sua vez, implica a promoção de novos valores culturais radicalmente diferentes tipo de situação o risco do ‘efeito colateral’ em que o consumo é estimulado
do paradigma corrente. Neste caso, o papel do designer é importante, embora pela noção de que se está contribuindo para o meio ambiente.
limitado, conforme alertam Manzini e Vezzoli (2005).
Nível 2: Design de Vestuário Intrinsicamente Sustentável caso das Em-
4 Resultados e análise presas Döller e Renaux