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UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS – UFAM

Curso: História Professor: Dr. César Augusto Queirós


Disciplina: História Moderna Aluna: Paola da Cruz Rodrigues

THOMPSON, E.P. Costumes em Comum. São Paulo: Companhia das Letras,


1998.

Costumes em Comum trata-se de um compilado de textos escritos há cerca de 20


anos, em meados dos anos 70. Na edição de 1991, poucos anos antes da morte do autor
(1993), justificou no prefácio o seu atraso devido ao seu envolvimento com o movimento
pacifista e com interlocutores antropólogos.
Todos os temas reunidos neste livro estão ligados, por caminhos diferentes, ao
tema do costume, recua para o século VIII e estuda acultura consuetudinária inglesa,
baseada em práticas e tradições ameaçadas pelo avanço do mercado capitalista. Ele
defende a tese de que a consciência e os usos costumeiros eram particularmente fortes
neste século. Na verdade, alguns destes “costumes” eram de criação recente e
representavam as reivindicações de novos “direitos”. Os historiadores do século XVI e
XVII tem a tendência de ver o século XVII como uma época em que esses costumes
estavam em declínio, juntamente com a magia, a feitiçaria e superstições semelhantes.
Havia pressões para um “reformar” e profunda alienação entre a cultura patrícia e
plebe. A consequência segundo Peter Burke foi o surgimento do folclore (observadores
da alta sociedade, “gentry”, investigavam a “pequena tradição” plebeia, registrando seus
estranhos hábitos eritos, vistos como “antiguidades”, resíduos do passado). Denominados
até como “Costume de almanaque”.
Em 1976, em entrevista à Radical History Review, Thompson, acerca de suas
intenções com o livro, fala - Em Costumes em Comum - meu inacabado livro de estudos
de história social do século VIII - sobre paternalismo, tumulto, clausura e direitos comuns,
e sobre várias formas de rito popular, o que me preocupa são sanções econômicas e regras
invisíveis que governava o comportamento com tanta força, como a força armada, o terror
ao patíbulo ou o domínio econômico. Em certo sentido, o que eu examino são sistemas
"morais" e de valores, como no caso da economia moral da multidão nos tumultos de
subsistência ou como no ritual charivari: mas não na forma clássica "liberal" - como zonas
de "livre arbítrio" divorciadas da economia - nem como num modo sociológico ou
antropológico clássico, segundo o qual sociedades e economias são consideradas
independentes de sistemas de valores. O que eu examino é a dialética da interação, a
dialética entre "economia" e "valores" (THOMPSON, 1976).
No capítulo 4, intitulado "Economia Moral" o autor defende que o termo
generalizante "motim" deve ser abominado pelo historiador. Deve-se tomar a rebelião
como uma prática cultural diferenciada no tempo e no espaço.Na Inglaterra do século
XVIII as rebeliões eram resultado da quebra dos costumes em relação ao fornecimento
de pão entre as pessoas das classes populares. Quando a produção de farinha encontrava
um mercado mais lucrativo na venda do produto mais fino e caro aos intermediários em
detrimento do consumidor, uma vez que o intermediário iria revender o produto ao
consumidor por um preço mais elevado, havia maior dificuldade de acesso ao pão de
qualidade pelos camponeses pobres, o que feria o costume do pão como alimento sagrado
e não mercantilizável, formando assim uma rebelião pela violação desse costume.O
intermediário comprava em grande escala a farinha do produtor o que levava este a
preferir tal negócio e não priorizar a venda da farinha nos mercados à plebe e sim
escondido ou sob a alegação de "amostragem" aos intermediários que por sua vez
repassavam o produto à plebe com imposições que lhes auferiam lucro e dificultavam
portanto o acesso da plebe ao pão, o que quebra o costume e leva à revolta.O poder do
Estado intervinha na proibição de tais medidas por parte dos produtores e dos
intermediários, dando margem ao paternalismo que o justificava.A visão liberal pregava
que a auto-regulação livre era a única forma de manter a farinha sempre em oferta no
mercado visto que apenas os mais abastados consumiriam, isso evitaria um possível
esgotamento da produção, dando ao intemediário um papel necessário. Para Thompson,
tanto o paternalismo quanto o liberalismo são utópicos.A "multidão" assumia em geral
um vínculo como o paternalismo estando, assim, em comum acordo com a nobreza contra
as novas práticas da burguesia de lucrar sobre o trigo. Os comerciantes, tidos como os
atravessadores, exportadores de trigo e intermediário quebravam a ética camponesa de
acesso garantido ao trigo de qualidade. Assim, as feiras (local onde os consumidores
tinham acesso ao trigo direto do produtor e, portanto, mais barato) entram em crise e
ocorre uma ascenção dos moleiros que adulteravam o trigo e praticavam o que Thompson
chama de banalité do século XVIII.Ocorre então a ação popular na regulamentação do
preço do pão. A rebelião assumia forma de representação cultural, visando a
aplicabilidade das leis paternalistas da ordem vigente.A ameaça de rebeliões mantinha os
preços em regularidade pois a ordem era necessária à sobrevivência da classe burguesa e
da nobreza governante. Era preferível a menor lucratividade a rebelião. Nisso, os
produtores cediam e levavam os cereais ao mercado em detrimento das vendas, mais
lucrativas, aos intermediários.As rebeliões populares eram sôfregas no curto prazo em
vista do receio dos produtores de trigo, mas a médio prazo eram vitoriosas ao manter o
preço do trigo mais próximo do preço moral do que do preço lucrativo.A partir de 1795
até 1801 ocorre uma quebra de equilíbrio entre a nobreza e os plebeus na manutenção de
valores econômicos mais tradicionais. O jacobinismo dos plebeus se chocou com a nova
ideologia da economia política associada ao lucro e à propriedade privada. Cria-se assim
uma nova realidade na qual os governantes não estão mais associados aos pobres e sim
ao melhor emprego do capital. Essa nova realidade quebra a economia moral. Assim, os
motins não devem ser vistos como um simples produto da fome e do instinto humano, tal
como defende uma visão economicista tradicional, e sim como representações culturais
de um determinado grupo frente à crise e suas consequências sobre os costumes.No
capítulo 5; Economia Moral Revisitada, Thompson debate com inúmeras ideias que
criticavam sua ideia apresentada no Economia Moral Revisitada. Esse capítulo é uma
excelente forma de perceber como o historiador articula e defende suas ideias.

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