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Folclore,

antropologia e
história social
Edward Palmer Thompson
Edward Palmer
Thompson
”Historiador, socialista, poeta,
ativista, orador e escritor da
mais fina e polêmica prosa do
século XX” (Eric J. Hobsbawm)
Filho de missionários
metodistas anglo-americanos
liberais e antiimperialistas,
nasceu em Oxford, em 3 de
fevereiro de 1924.
Teve como principais referências
intelectuais os poeta William
Blake, o romancista William
Morris, o filósofo Giambattista
Vico e Karl Marx.
Edward Palmer
Thompson
Durante a Segunda Guerra
Mundial, interrompe seus estudos
na Universidade de Cambridge
para servir o Exército nas frentes
africana e italiana.

Seu irmão mais velho Frank


integra, antes dele, o Partido
Comunista Britânico, sendo
morto aos 21 anos em trabalho
na Executiva de Operações
Especiais na Bulgária.
Edward Palmer
Thompson
Entre as décadas de 1940 e
1960, dedica-se a um projeto de
educação popular, voltado para
adultos, uma ação promovida
pela universidade naquilo que
considerava uma atividade que
era chamada de “extracurricular”
ou “extramuros” (e que hoje
chamaríamos de extensão
universitária), considerada por
ele uma de suas atividades
prediletas, onde teve contato
direto com as experiências de
trabalhadores.
Em 1946, Thompson participou da formação de um
grupo de estudos históricos marxistas, ao lado de
historiadores do porte de Christopher Hill, Eric
Hobsbawm, Perry Anderson, Rodney Hilton, Dona Torr,
dentre outros.

O PCB, a
“new left” Em 1952 fundaram uma das principais publicações

e a revista
marxistas do século XX, a revista Past and Present,
destinada a divulgar suas ideias para um público mais

Past and
amplo.

Present
Em 1956, discordando dos rumos tomado pelo Partido
Comunista da Grã-Bretanha e o stalinismo vigente, a
maioria do grupo rompe com o partido, à exceção de
alguns, como Eric J. Hobsbawm. Constituem o que seria
chamado de “new left” (nova esquerda) britânica.
“Edward Thompson era o historiador
contemporâneo britânico mais
conhecido fora da Inglaterra. Sua
influência mundial sobre os estudantes
de história tem sido incalculável. Mas ele
não era igualmente apreciado pelo
establishment histórico inglês: a
Academia Britânica tardou em elegê-lo
como membro até 1992. O que irritava
era o sucesso de seu grande livro A
formação da classe operária inglesa (de
1963), que fundou o valor da história a
partir de baixo. Como Karl Marx,
Thompson caminhou na contracorrente
ao usar a literatura como fonte para a
história social e econômica [...] O
marxismo de Thompson era inteiramente
alheio a dogmas preconcebidos.”

Christopher Hill
No texto, Thompson apresenta-se como
“impostor”, por não ser qualificado em
antropologia ou em folclore, embora tenha
usado esses campos para o estudo da
história social britânica do século XVIII e
XIX.

Enfrentando a resistência dos historiadores


marxitas aos debates culturais, Thompson
convida os colegas ao buscar dialogar com
essa disciplina, sobretudo aos estudos de
Clifford Geertz, como forma de desenvolver
uma maior compreensão sobre o mundo
social de camponeses no período em estudo
O autor se mostra em diálogo com a obra de
historiadores como Keith Thomas (Religião e
declínio da magia, de 1971) e Natalie Zemon Davis
(Culturas do povo, 1975)

Em comum com esses trabalhos, encontra-se o


estímulo antropológico na detecção de novos
problemas e na visualização de velhos problemas
em novas formas.

Segundo ele, essas obras têm em comum com seu


trabalho o fato de descartarem, resolutamente,
tanto as categorias positivistas ou utilitaristas
quanto sua infiltração na tradição economicista
do marxismo.
Os antecedentes da pesquisa
A formação da classe operária inglesa, publicada em
1963, estabelece a discussão de Thompson do que
seria chamado de history from below (história de
vista de baixo), ao dar ênfase à história dos
camponeses britânicos no século XIX, contexto da
chamada Segunda Revolução Industrial.

Na obra, o autor abdica do estruturalismo


marxista em favor do conceito de “experiência”, a
partir da qual seria a experiência de classe (ou
seja, os costumes, a prática) que constituiria uma
consciência de classe. Portanto, seriam valores
construídos na prática cotidiana e cultural desses
sujeitos.
Os antecedentes da
pesquisa
A partir de então, Edward Palmer Thompson decide orientar
suas pesquisas para tempos anteriores, para a consciência
plebeia e as formas de protesto no século XVIII, como os
motins da fome.

Isso implicou no abandono do território da Revolução


Industrial em favor do que é, por vezes, chamada de
sociedade “pré-industrial”, o que ele considera um termo
insatisfatório.

O autor observa que, para fazer essa análise, é preciso


analisar o que são as chamadas “peculiaridades” dos
camponeses britânicos, seus costumes em comum, questões
que são impossíveis de serem apreciadas dentro da disciplina
da história econômica.
O folclore e os costumes
como uma perspectiva
para a história social
O material recolhido pelos folcloristas britânicos
do século XVIII - sobretudo sob a forma de
produção literária - serve como principal
documentação para fazer uma análise dos
costumes camponeses na época em estudo.

No entanto, Thompson alerta para a necessidade


de se olhar para esse material com cautela, visto
que, tendo sido escrito por sujeito das elites, trata-
se de um conteúdo carregado de preconceitos
contra a cultura do povo, vista como hábitos
“exóticos” de “gente ignara”, relíquias de uma
antiguidade remota e perdida, que o povo
reproduziria mecanicamente.
A venda das esposas
Trata-se de um ritual largamente praticado entre
camponeses britânicos do século XVIII que abre uma
valiosa janela para se observar as normas sociais naquele
grupo.

Este devia se desenrolar de acordo com os conformes: devia


ter lugar num mercado público, era anunciado com
antecedência, a mulher - com um leiloeiro (normalmente o
marido) - adentrava o recinto com uma coleira em torno do
pescoço ou cintura, as oferta eram abertas ao público e,
finalmente, selava-se a venda com a transferência da corda do
vendedor para o comprador.
A venda das esposas
Uma classe média ilustrada que, no século XIX, bradava
contra a escravidão ficava profundamente constrangida
ao se deparar com esse barbarismo em seu próprio meio,
no coração da Inglaterra progressista.

Na verdade, o ritual era uma forma de divórcio, em uma


época em que o povo da Inglaterra não dispunha de
nenhuma outra forma de desenlace matrimonial.

Em quase todos os casos, a “venda” se deu com o


consentimento da esposa, o comprador já havia sido
combinado, em muitos casos sendo amante dela e o
marido se comportava com uma generosidade mais
humana do que em outros processos de separação.
História,
antropologia e
marxismo
Se necessitamos desse diálogo com a antropologia, ainda há
alguns problemas quanto ao modo pelo qual deve ser
conduzido.
Assim como a história econômica pressupõe a disciplina da
economia, a história social deve pressupor a disciplina da
antropologia social.

Ao aproximar-se da antropologia para construir uma história


social, sem perder de vista sua base marxista, Thompson
propõe abrir mão de alguns conceitos de Marx, como “base” e
“superestrutura”, os quais entendem que não serviriam mais
para o contexto atual de estudos.
História,
antropologia e
marxismo
“Se recuso tanto a analogia de base e superestrutura quanto a
prioridade interpretativa atribuída ao econômico, em que
sentido me insiro na tradição marxista?”

Segundo Edward Palmer Thompson, não há dificuldade em


demonstrar quanto as versões reducionistas e economicistas do
marxismo estão distantes do pensamento de Marx.

Se o historiador marxista indiano Ram Sharan Sharma insistiu


que “sem produção não há história”, Thompson defende que
“sem cultura não há produção”.

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