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As veias abertas da América Latina

Eduardo Galeano
GALEANO, Eduardo. As veias abertas da América Latina.
Tradução: Sergio Faraco. Porto Alegre: L&PM, 2014.

 “Este livro havia sido escrito para conversar com o pessoal. Um autor não especializado dirigia-se a um
público não especializado, com a intenção de divulgar certos fatos que a história oficial, história contada
pelos vencedores esconde ou mente.”

 “Sei que pode ter parecido um tanto sacrílego que este manual de divulgação fale de economia política no
estilo de um romance de amor ou de piratas. Mas provoca-me engulhos, confesso, ler alguns trabalhos
valiosos de certos sociólogos, politicólogos, economistas ou historiadores que escrevem em código. A
linguagem hermética nem sempre é o preço inevitável da profundidade Em alguns casos pode estar
simplesmente escondendo uma incapacidade de comunicação, elevando-a à categoria de virtude intelectual.
Suspeito que o fastio serve, dessa forma, para bendizer a ordem estabelecida: confirma que o conhecimento é
um privilégio das elites.”
GALEANO, Eduardo. As veias abertas da América Latina.
Tradução: Sergio Faraco. Porto Alegre: L&PM, 2014.

 “Em As Veias Abertas, o passado sempre aparece convocado pelo presente, como memória viva.do nosso
tempo. Esse livro é uma busca de chaves da história passada, que contribui para explicar o tempo presente,
(que também faz história), a partir da base de que a primeira condição para modificar a realidade consiste em
conhecê-la. Não é oferecido, no caso, um catálogo de heróis vestidos para um baile à fantasia, que, ao morrer
em batalha, pronunciam longuíssimas frases solenes, mas sim, indaga-se o som e a pegada dos passos de
multidão que porventura apresente nosso recente caminhar. As Veias Abertas provem da realidade, mas
também de outros livros, melhores que este, que nos têm ajudado a conhecer o que somos, para saber o que
podemos ser, e que nos têm permitido averiguar de onde viemos para melhor adivinhar aonde vamos. [...]”
GALEANO, Eduardo. As veias abertas da América Latina.
Tradução: Sergio Faraco. Porto Alegre: L&PM, 2014.

 “Segundo a voz de quem manda, os países do sul do mundo devem acreditar na liberdade de comércio
(embora não exista), em honrar a dívida (embora seja desonrosa), em atrair investimentos (embora sejam
indignos) e em entrar no mundo (embora pela porta de serviço).” (p. 05)

 “Entrar no mundo: o mundo é o mercado. O mercado mundial, onde se compram países. Nada de novo. A
América Latina nasceu para obedecê-los, quando o mercado mundial ainda não se chamava assim, e aos
trancos e barrancos continuamos atados ao dever de obediência.” (p. 05)
GALEANO, Eduardo. As veias abertas da América Latina.
Tradução: Sergio Faraco. Porto Alegre: L&PM, 2014.

 “Essa triste rotina dos séculos começou com o ouro e a prata, e seguiu com o açúcar, o tabaco, o guano, o
salitre, o cobre, o estanho, a borracha, o cacau, a banana, o café, o petróleo... O que nos legaram esses
esplendores? Nem herança nem bonança. Jardins transformados em desertos, campos abandonados,
montanhas esburacadas, águas estagnadas, longas caravanas de infelizes condenados à morte precoce e
palácios vazios onde deabulam os fantasmas.” (p. 05-06)

 “As veias abertas da América Latina nasceu pretendendo difundir informações desconhecidas. O livro
compreende muitos temas, mas talvez nenhum dele tenha tanta atualidade como esta obstinada rotina de
desgraça: a monocultura é uma prisão. [...]” (p. 07)
GALEANO, Eduardo. As veias abertas da América Latina.
Tradução: Sergio Faraco. Porto Alegre: L&PM, 2014.

 “Nós nos negamos a escutar as vozes que nos advertem: os sonhos do mercado mundial são pesadelos dos
países que se submetem aos seus caprichos. Continuamos aplaudindo o sequestro dos bens naturais com que
Deus, ou o Diabo, nos distinguiu, e assim trabalhamos para a nossa perdição e contribuímos para o
extermínio da escassa natureza que nos resta.” (p. 06)

 “- Vocês já imaginaram um país incapaz de cultivar alimentos suficientes para prover sua população? Seria
uma nação exposta a pressões internacionais. Seria uma nação vulnerável. Por isso, quando falamos de
agricultura, estamos falando de uma questão de segurança nacional.” (George W. Bush, 27 de julho de 2001)
GALEANO, Eduardo. As veias abertas da América Latina.
Tradução: Sergio Faraco. Porto Alegre: L&PM, 2014.

 “A divisão internacional do trabalho significa que alguns países se especializaram em ganhar e outros em
perder. Nossa comarca do mundo, que hoje chamamos América Latina, foi precoce: especializou-se em
perder desde os remotos tempos em que os europeus do Renascimento se aventuraram pelos mares e lhe
cravaram os dentes na garganta. Passaram-se os séculos e a América Latina aprimorou suas funções. Ela já
não é o reino das maravilhas em que a realidade superava a fábula e a imaginação era humilhada pelo troféus
da conquista, as jazidas de ouro e as montanhas de prata. Mas a região continua trabalhando como serviçal,
continua existindo para satisfazer as necessidades alheias, como fonte e reserva de petróleo e ferro, de cobre
e carne, frutas e café, matérias-primas e alimentos, destinados aos países ricos que, consumindo-os, ganham
muito mais do que a América Latina ao produzi-los. [...]” (p. 17)
GALEANO, Eduardo. As veias abertas da América Latina.
Tradução: Sergio Faraco. Porto Alegre: L&PM, 2014.

 “É a América Latina, a região das veias abertas. Desde o descobrimento até nossos dias, tudo se transformou
em capital europeu ou, mais tarde, norte-americano, e como tal tem-se acumulado e se acumula até hoje nos
distantes centros de poder. Tudo: a terra, seus frutos e suas profundezas, ricas em minerais, os homens e sua
capacidade de trabalho e de consumo, os recursos naturais e os recursos humanos. O modo de produção e a
estrutura de classes de cada lugar têm sido sucessivamente determinados, de fora, por sua incorporação à
engrenagem universal do capitalismo. [...]”

 “Para os que concebem a História como uma disputa, o atraso e a miséria da América Latina são o resultado
de seu fracasso. Perdemos; outros ganharam. Mas acontece que aqueles que ganharam, ganharam graças ao
que nós perdemos: a história do subdesenvolvimento da América Latina integra, como já se disse, a história
do desenvolvimento do capitalismo mundial. [...]”
GALEANO, Eduardo. As veias abertas da América Latina.
Tradução: Sergio Faraco. Porto Alegre: L&PM, 2014.

 As fontes subterrâneas do poder – Para Eduardo Galeano, as estruturas de poder da América Latina
modificaram-se, no entanto, mantendo-se a lógica de dominação: da dominação colonial à dominação
imperialista britânica, e desta à dominação norte-americana.

 “O petróleo continua a ser o principal combustível de nosso tempo, e os norte-americanos importam a sétima
parte do petróleo que consomem. Para matar vietnamitas, precisam de balas, e balas precisam de cobre: os
Estados Unidos compram fora de suas fronteiras a quinta parte do cobre que gastam. [...]”
GALEANO, Eduardo. As veias abertas da América Latina.
Tradução: Sergio Faraco. Porto Alegre: L&PM, 2014.

 Para Galeano, países latino-americanos como o Brasil, a Bolívia, a Argentina, dentre outros, cederam ao
imperialismo norte-americano, aproximando-se politicamente desses países e construindo com eles pontes
econômicas e políticas, o que justificaria a emergência de ditaduras nesses países, mobilizadas pela presença
norte-americana.

 Os governos com tendências socialistas nas Américas, tais como o de João Goulart no Brasil e o de Salvador
Allende no Chile, foram vistos como ameaças à política imperialista norte-americana, de forma que essa
nação articulou, juntamente com as elites econômicas, a sociedade civil conversadora e os políticos de
direita, golpes que retiraram do poder tais políticas para implantar outras, mais afeitas aos seus interesses.
GALEANO, Eduardo. As veias abertas da América Latina.
Tradução: Sergio Faraco. Porto Alegre: L&PM, 2014.

 “Para abastecer-se da maior parte dos minerais estratégicos que se consideram de valor crítico para seu
potencial de guerra, os Estados Unidos dependem das fontes externas. ‘O motor de retroprosulsão, a turbina
de gás e os reatores nucleares têm hoje uma enorme influência sobre a demanda de materiais que só podem
ser obtidos no exterior’, diz Magdoff neste sentido. A imperiosa necessidade de materiais estratégicos,
imprescindíveis para salvaguardar o poder militar e atômico dos Estados Unidos, está claramente vinculada à
maciça compra de terras, por meios geralmente fraudulentos, na Amazônia brasileira. Na década de 60,
numerosas empresas norte-americanas, conduzidas pela mão de aventureiros e contrabandistas profissionais,
se lançaram num rush febril sobre esta selva gigantesca. Previamente, em virtude do acordo firmado em
1964, os aviões da Força Aérea dos Estados Unidos haviam sobrevoado e fotografado a região. [...]”
GALEANO, Eduardo. As veias abertas da América Latina.
Tradução: Sergio Faraco. Porto Alegre: L&PM, 2014.

 “Durante o tempo transcorrido desde a primeira edição de As Veias Abertas, a história não deixou de ser,
para nós, uma cruel professora. O sistema tem multiplicado a fome e o medo; a riqueza continuou
concentrando-se e a pobreza difundindo-se. É o que reconhecem os documentos dos organismos
internacionais especializados, cuja linguagem (asséptica) chama de ‘países em via de desenvolvimento’ as
nossas comarcas oprimidas e denomina de ‘redistribuição regressiva da receita’ o empobrecimento
implacável da classe trabalhadora. A engrenagem internacional continuou funcionando: os países a serviço
das mercadorias, os homens a serviço das coisas. Com o passar do tempo, vão se aperfeiçoando os métodos
de exportação das crises. O capital monopolista chega a seu mais alto grau de concentração e o domínio
internacional dos mercados, os créditos e investimentos, torna possível a sistemática e crescente
transferência das contradições: a periferia paga o preço da prosperidade dos centros, sem maiores
sobressaltos.”

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