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A Era das Revoluções (1962) foi um período marcado por intensas transformações

sociais que impactaram não só o continente Europeu, mas o mundo como um todo. Com o
advento do capitalismo as relações sociais foram profundamente alteradas. O pobre que
outrora tinha relações mais pessoais com aqueles abastados, onde haviam regras e condutas,
se vê em um mundo onde o lucro e a lógica de mercado passam a ditar as leis, e as máquinas
em seu ritmo frenético ditam a velocidade do trabalho, estando em absurda vantagem em
relação ao trabalho manual. Já a Revolução Francesa, que marca uma intensa transformação
na esfera política, lemas como igualdade, fraternidade e liberdade circularam por toda Europa,
fazendo os monarcas e a nobreza temerem por suas vidas.
Autores como Edward P. Thompson (1963) demonstram em suas obras que a transição
do modo de produção, bem como de um sistema feudal para capitalista não fora pacífica, e
sim marcada por revoltas populares, a exemplo da Inglaterra, onde operários e operárias
movidos por uma chamada economia moral resistiam contra as leis de mercado, onde os
preços dos gêneros alimentícios flutuavam, chegando a preços exorbitantes. As chamadas
turbas demonstravam o conflito do novo sistema com as crenças tradicionais, bem como eram
o cerne de um de organização popular mais politizada.
Ao passo em que as condições de trabalho são modificadas pelo ritmo das máquinas,
as pessoas em busca de melhores condições de vida, saem do campo onde perderam o espaço,
e vão para as cidades, passando a ser expostas a níveis gritantes de miséria e condições
insalubres de vida, a ponto de serem chamados de escravos brancos. Embora toda a família
fosse empregada nas fábricas, crianças e mulheres foram duramente exploradas, devido a sua
maior “docilidade” em comparação aos homens. Crianças pequenas eram utilizadas na
manutenção das máquinas, e muitas acabavam morrendo quando o dispositivo voltava a
funcionar.
No que se refere aos alojamentos, muitos eram condições precárias, sem itens básicos
de higiene, o que favoreceu o reaparecimento de doenças como a cólera que afetaram
sobretudo a população pobre. Em condições de extrema miséria, muitos recorriam a
atividades ilícitas, afim de sobreviver. Thompson (1963) chama a atenção para a maneira de
como o povo compreendia tais atos, as vezes como atitudes justas em frente as injustiças dos
governos, que favoreciam cada vez mais a nova elite industrial, e a sua propriedade privada.
Aliás, o crime, o alcoolismo e a prostituição são apontados por Hobsbawm (1962) e
Thompson (1963) como maneiras de lidar com as desventuras da vida. Surge nesse contexto
os motins, e as turbas como maneira do povo exercer justiça, uma vez que as leis favoreciam
os mais abastados, de modo que o povo criou o seu próprio código de leis. Haviam dois tipos
de lei, a oficial e a do povo. A primeira era desprezada e a segunda tolerava certos crimes,
desde que não prejudicassem a população, ou fossem hediondos, tais como assassinato de
mulheres e de crianças.
No primeiro livro da trilogia A Formação da Classe Operária (1963), Thompson,
mais especificamente no capítulo As Fortalezas de Satanás, ressalta a marginalização dos
pobres pela elite, que os retratavam como seres desprezíveis, incultos, o próprio Karl Marx
referia a estes como o Lumpemproletariado, por serem considerados por ele como o lixo,
devido à falta de articulação. Havia na elite, sobretudo após a Revolução Francesa um medo
das massas, o que levou a repressões, principalmente aos danos a propriedade privada, a
exemplo de movimentos como o Cartismo e o Ludismo, onde as máquinas eram destruídas
pelos trabalhadores, movidos pela crença da culpa destas pelas duras condições de vida. Cabe
ressaltar, no entanto, que por vezes haviam incentivos de fazendeiros, ou pequenos burgueses,
afinal se sentiam prejudicados pelas grandes fábricas.
Ao analisar as condições extremamente insalubres dos pobres, Thomas Malthus
atribuiu tal situação ao crescimento da população pobre, a proporção em que os alimentos se
tornavam mais escassos para a nova demanda. No entanto, como um homem limitado por seu
tempo tal teoria não condizia com a realidade, pois não se tratava da falta de alimentos, ou da
quantidade de filhos que os pobres geravam, e sim das leis de mercado, onde esses produtos
viravam apenas mercadorias, podendo ser influenciadas por demandas, ou flutuações de
preço. Autores contemporâneos como Marshal Sahlins, em à Sociedade Afluente Original
(1972), aponta que embora a sociedade capitalista tenha altos níveis de produção, se
comparados com as sociedades de coletores, no que se refere a fome e ao acesso de alimentos,
os primeiros estão em desvantagem, não pela falta dos produtos, mas sim pela distribuição
desigual.
Nesse cenário a própria percepção de tempo alterou, o ritmo das fábricas e das
máquinas exigiam novas formas de enxerga-lo. Era cobrado dos funcionários extrema
disciplina dentro destes espaços, onde havia um fiscal cronometrando e avaliando o
rendimento deste, e caso não fosse de acordo com o esperado, haviam punições. O filme de
Charlie Chaplim, Tempos Modernos (1936), retrata a intensa exploração em nome do lucro, e
embora carregasse traços cômicos, refletia o cotidiano das fábricas. o protagonista era
submetido a um ritmo frenético de produção, não podendo exercer inclusive as necessidades
fisiológicas. Na obra de Thompson, Costumes em comum é apontado maneiras que os
trabalhadores encontravam para driblar essa disciplina, tais como a justificativa de fumar para
ter pausas maiores.
Comentário

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
THOMPSON, Edward. Tempo, disciplina de trabalho e capitalismo industrial. In: Costumes
em comum. 2005.

SAHLINS, Marshall. “A primeira sociedade da afluência” In: Carvalho, Edgar A. (org.).


Antropologia Econômica. São Paulo: Editora Ciência Humanas, 1978 [1972]. (também em
Cultura na Prática com o título “A sociedade afluente original”).

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