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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PERNAMBUCO – UPE

CAMPUS PETROLINA
CURSO DE LICENCIATURA PLENA EM HISTÓRIA

VAN DIAS DA SILVA BATISTA

ASPECTOS POLÍTICOS, SOCIAIS, ARTÍSTICOS E CIENTÍFICOS NA EUROPA


DURANTE O SÉCULO XIX

Atividade avaliativa apresentada como


requisito parcial para a avaliação da 2°
unidade na disciplina História Contemporânea
I, do curso de História da UPE, ministrada
pelo Prof. Dr. Joachin Melo de Azevedo.

PETROLINA-PE
OUTUBRO/2022
A Europa, durante o século XIX foi palco de múltiplas transformações marcadas pelo
processo de construção dos estados nacionais, pela consolidação do mundo capitalista
burguês, por ideais revolucionários em nome da democracia, pela glorificação da ideia de
desenvolvimento científico e pela criação de padrões estéticos, artísticos e sociais, sendo esses
aspectos discutidos pelo historiador Eric Hobsbawm (2017) em A era do Capital (1848-
1875).
Pensar uma política nacionalista na Europa do século XIX é pensar um tipo de política
liberal que objetivava a formação de estados nacionais fortes, que partilhariam de
características semelhantes. Aqui, pode-se citar os Estados Unidos como um forte símbolo
desse movimento, uma vez que, segundo Eric Hobsbawm (2017) e Mary Junqueira (2001), o
seu processo de formação, desde a colonização, traz consigo a memória dos pais peregrinos,
puritanos que fugiram da Inglaterra no contexto da reforma protestante e que passaram a ser
considerados os primeiros habitantes da América do Norte, além de ressaltar a construção de
uma identidade nacional baseada na figura dos pais fundadores, os primeiros presidentes dos
EUA. Logo, tais simbologias passaram a ser vistas como características comuns a todos
aqueles cidadãos.
Nesse sentido, esses aspectos são utilizados para forjar uma narrativa histórica baseada
na legitimidade de um único povo, uma vez que, segundo os ideais difundidos no período, ser
nacional é se sentir como único a pertencer a uma nação, negando a existência de outros
grupos sociais. Destarte, o estado-nação alemão compartilha de simbolismos semelhantes,
uma vez que os alemães partilhavam de uma língua falada, escrita e de uma literatura comum.
Logo, para a época, ser considerada uma nação avançada, significa dizer que a glória e o
triunfo em todos os seus feitos seriam resultados garantidos (HOBSBAWM, 2017;
JUNQUEIRA, 2001).
Todavia, é importante ressaltar que, segundo o historiador, o entendimento de uma
nação progressista se baseava na sua capacidade de desenvolver uma economia, uma
tecnologia forte, uma organização estatal segura e sob a guarda de uma força militar capaz de
protege-la a todo custo. Logo, se o fator de estruturação desses estados se baseava nos seus
governos, ideias democráticas e de um plural participação política por parte dos trabalhadores,
por exemplo, são completamente escanteadas, uma vez que a elite da época defendia que a
participação nas decisões políticas não era para todos (HOBSBAWM, 2017).
Ademais, assim como mencionado, o triunfo da sociedade burguesa também teve
como espaço de destaque o campo artístico. Nisso, destaca-se no século XIX o florescimento
de um movimento literário sobretudo através dos romances, que teve como destaque autores
como Fiódor Dostoiévski (1821-1881) e Liev Tolstoi (1828-1910). Logo, é possível aqui
construir uma ponte entre a literatura e a construção de uma identidade nacional, uma vez que
as obras de Dante Alighieri (1265-1321), por exemplo, passaram a ser consideradas um
símbolo para a sociedade Italiana, sendo, portanto, a primeira obra italiana escrita em língua
vulgar, línguas latinas comumente faladas entre os camponeses (HOBSBAWM, 2017).
Contudo, mesmo que aspectos culturais e linguísticos sejam importantes nesse
processo, esses não devem ser considerados como únicos elementos para a construção de um
nacionalismo, uma vez que em um só país são encontrados povos com múltiplas identidades.
Logo, pode-se considerar que o nacionalismo é construído segundo interesses políticos a
partir de um modelo de sociedade, imposto por uma elite dirigente (HOBSBAWM, 2017).
Ao passo em que no início do século XX as massas iniciaram grandes movimentos em
prol do direito democrático de participação política e contra o discurso defendido pelas elites
que apontava que essas deveriam ser dirigidas, e não autônomas, o século XIX é marcado
também por movimentos de resistência, baseados sobretudo na tentativa de manutenção de
identidades individuais de alguns grupos, em contraposição ao modelo a eles imposto pelos
governantes, a exemplo o nacionalismo inglês (HOBSBAWM, 2017).
Segundo o historiador, alguns imigrantes britânicos que iam para os Estados Unidos
mantinham uma posição resistente diante ao tornar-se um cidadão norte americano. Aqui, é
necessário enfatizar que seria anacrônico comparar com exatidão os movimentos pelos
direitos políticos que ocorrem no século XX com tal posição tomada pelos imigrantes, uma
vez que essa comparação foi feita pelo fato de que ambos os grupos, de maneiras diferentes,
não aceitavam, em sua totalidade, algo que lhes foi imposto.
Por conseguinte, ao citar os movimentos liderados por imigrantes irlandeses que
buscavam, com o apoio da igreja, construir uma república independente por meio da luta
armada, Eric Hobsbawm (2017) constrói uma crítica, tendo em vista que tais buscas por uma
emancipação são ausentes de organizações trabalhista, ou, como mencionado pelo mesmo, até
de aspirações socialistas. A partir dessa crítica, pode-se dizer que o historiador busca
modificar a ideia do nacional, uma vez que passa a defender que o nacionalismo só pode ser
construído a partir da mobilização de uma massa.
Aqui, através do discurso de Karl Marx (1818-1883), que apresenta a ausência de uma
pátria entre os trabalhadores, o nacionalismo passa a ser difundido entra a classe operária a
partir da formação de uma consciência política, uma vez que o ser revolucionário também
simbolizaria uma luta por aspirações de identidades, direitos e defesas ideológicas de
construção social. Nisso, seria através desses movimentos que as forças da democracia
passariam a ser conquistadas inicialmente.
Ademais, Hobsbawm (2017) aponta que a expansão de um modelo educacional aliado
a um processo de consolidação de um nacionalismo, foi uma estratégia muito difundida entre
os governantes em países desenvolvidos. Logo, foi através da construção das universidades na
Alemanha e na Itália, por exemplo, que seria dado início a formação de uma elite segundo
ideais morais e patrióticos. É nesse sentido que o historiador expõe a ideia de um bilinguismo
compulsório, tendo em vista que muitos imigrantes, por exemplo, são inseridos em um
discurso de obrigatoriedade para aprenderem o idioma dos países europeus para qual
imigraram e de viverem sob a égide daquelas normais sociais. Logo, isso simbolizaria para a
elite um distanciamento de suas nações de origem, resultado de tais interesses políticos.
Por conseguinte, em As forças da democracia, Eric Hobsbawm (2017) aponta que o
conservadorismo e as tendências políticas de direita perpetuavam-se entre os chefes de estado
na Europa durante o século XIX, citando como exemplo a figura de Napoleão III, primeiro
parlamentarista a alcançar o poder por meio do sufrágio masculino universal. Segundo o
historiador, Napoleão III defendia-se ser o poder maior entre a classe de camponeses e
trabalhadores, que deveriam ser, portanto, subordinados a suas ordens, além de ressaltar que o
cenário político e representativo da época foi marcado pela ausência do direito de participar
nas eleições, uma vez que na Inglaterra durante 1870, por exemplo, apenas 18% da população
poderia votar, além de ser necessário a comprovação de renda (HOBSBAWM, 2017).
Todavia, já no início do século XIX, surge na Europa, sobretudo na França e na
Inglaterra, a gênese dos movimentos operários com o processo inicial de organização do
proletariado, que passa a construir uma identidade de luta comum. Logo, durante o seu
desenvolvimento, destaca-se a formação de organizações sindicais a partir das ideias políticas
dos próprios imigrantes, que trouxeram em sua bagagem um conjunto de ideias, teorias e
experiências de organizações, influenciadas sobretudo pelo marxismo (HOBSBAWM, 2017).
Aqui, é importante destacar que em meio a uma sociedade capitalista e utilitária, as
mobilizações e greves que ocorrem na Inglaterra durante os anos de 1870, embora tenham
marcado o surgimento de novos sindicatos, passaram a ser coibidas pelos governos, que
passam a estabelecer leis, criminalizando assim os grupos que se organizassem
(HOBSBAWM, 2017). Destarte, o discurso de Karl Marx (1818-1883) em O manifesto do
partido comunista, defende a ideia de que a organização dos trabalhadores seria uma condição
necessária para a derrubada de governos autoritários, vindo a resultar em uma ditadura do
proletariado. Embora tais narrativas não tenham sido concretizadas ao pé da letra, o discurso
marxista foi de suma importância para que esses grupos começassem a se mobilizar diante os
governos liberais do período.
Ao longo das profundas discussões políticas apontadas em As forças da democracia, o
historiador ressalta que a política liberal difundida na Europa no século XIX definia-se como
representante da razão, da história, do progresso e também das ciências. Nesse sentido, em
Ciência, religião, ideologia, Eric Hobsbawm (2017) busca discutir sobre os avanços do
mundo burguês ligados ao desenvolvimento científico. Em um primeiro momento, o período
em destaque foi marcado pela difusão de duas tendências, que impactaram sobretudo o campo
religioso, sendo essas o positivismo, que teve como porta voz o francês August Comte (1798-
1857), e o empirismo inglês, de John Stuart Hill (1806-1873). A primeira tendencia defendia
que a sociedade deve ser analisada a partir de fenômenos nomológicos, ou seja, segundo
processos racionais e nas leis naturais. Nessa perspectiva, segundo os estudos do francês, o
estado positivo seria o último estágio do desenvolvimento do ser humano após o estado
teológico e o metafísico.
Dentro do desenvolvimento científico, Eric Hobsbawm (2017) atenta-se a mencionar
os estudos de Charles Darwin (1809- 1882) para apresentar algumas perspectivas, sendo essas
a sua utilização para explicar o funcionamento da economia liberal e utilizar-se de algumas de
suas interfaces, em específico o darwinismo social e a antropologia física para justificar ideias
de cunho racial. No primeiro, o historiador diz que, ao passo em que os estudos de Darwin
estabelecem que a espécie humana, frutos de milhares de gerações possíveis de hominídeos, e
demais seres vivos, passam por um processo de competição, ao estabelecer a prevalência de
indivíduos mais adaptados às condições, o historiador diz que esse tipo de competição ocorre
de forma semelhante dentro da economia de sociedades industriais e da política, de modo que
aquele que possuir maior influência deterá a maior parte do poder e do lucro.
Sobre a segunda afirmação, é necessário aqui rememorar os estudos da historiadora
Lilia Moritz Schwarcz (1993) em seu livro O espetáculo das raças: cientistas, instituições e
questão racial no Brasil. Aqui, em consonância com a narrativa apresentada por Eric
Hobsbawm (2017) é discutido sobre a antropologia criminal, que aponta a existência de uma
natureza biológica para o comportamento e para as características do criminoso, sendo essas
defendidas pelo psiquiatra Cesare Lombroso (1835-1909), que, segundo Lilian Schwarcz
(1993), “argumentava ser a criminalidade um fenômeno físico e hereditário” (SCHWARCZ,
1993, p. 54). Logo, essa vertente darwinista defendida pelo médico tenta legitimar o
preconceito racial e a inferioridade de pessoas negras a partir do ato de estabelecer que esses
são criminosos por possuírem características fenotípicas especificas detectadas a partir da
medição craniométrica, por exemplo.
Nesse sentido, ainda segundo preceitos da evolução biológica discutidas por Charles
Darwin (1809-1882), os grupos humanos supostamente pertenceriam a estágios evolutivos
distintos, além de justificar modos de vida segundo tais preceitos. Para ilustrar esse
argumento, Eric Hobsbawm (2017) ressalta sobre a crença de que os camponeses pobres eram
pobres pois eram biologicamente inferiores. Aqui é importante destacar que tais discursos
preconceituosos irão impactar também o meio artístico, citando como exemplo as obras de
Paul Gauguin (1848-1903) que passam a referenciar discursos coloniais e a reforçar a
representação estereotipada de nativos americanos como bárbaros e como meros objetos
sexuais.
Por conseguinte, partindo para uma análise específica dos feitos e descobertas
científicas que marcaram o século XIX, o historiador passa a destacar a Alemanha como um
dos países que mais investiram na formação de profissionais químicos, tendo em vista o
próprio cenário político e social vivido na época. Logo, Eric Hobsbawm (2017) atribui esse
investimento em massa nas indústrias alemãs voltadas para produtos químicos, corantes,
fertilizantes e, sobretudo, aos armamentos e explosivos. Para tanto, faz menção também a uma
das maiores descobertas para o campo das ciências naturais, sendo essa a descoberta feita por
Dimitri Mendelev (1834-1907), cientista russo responsável por criar a primeira versão da
Tabela Periódica no ano de 1869, que conta atualmente com 92 elementos, que diferem,
portanto, segundo os seus pesos atômicos.
Ademais, destaca-se também duas figuras de destaque nesse período, o médico Joseph
Listen (1927-19112) e o cientista francês Louis Pasteur (1822-1895). O primeiro foi um
cirurgião inglês. Esse notou que muitas mulheres morriam durante os partos, uma vez que os
médicos e cirurgiões não realizavam nenhum tipo de higienização antes dos procedimentos,
além de destacar que muitas mulheres que tinham seus filhos em casa morriam em menor
quantidade. Logo, possui destaque por suas notáveis observações acerca da assepsia e higiene
médica na obstetrícia.
O segundo foi um cientista francês de destaque por realizar análises microbiológicas e
desenvolver remédios para injeções. Em suma, muitos dos triunfos da sociedade burguesa são
atribuídos ao seu desenvolvimento científico. Todavia, faz-se necessário destacar também o
forte desenvolvimento e influência do campo artístico nessa análise, sendo, portanto,
evidenciados em As artes e também em O mundo burguês, de formas distintas.
Segundo o historiador, o período entre 1848 e 1875 foi marcado por um forte
desenvolvimento para a música e a literatura. Em primeiro lugar, merece-se destacar a figura
de Richard Wagner (1813-1883), maestro e musicista responsável por construir uma crítica ao
processo de vulgarização das músicas, se mostrando contra a criação de um mercado para as
artes sob a influência de interesses lucrativos. Nesse sentido, o mesmo foi o compositor de
Cavalgada das Valquírias, ato de ópera que passa a mesclar literatura e estilos musicais, além
de ser composta por elementos nacionais para a sociedade alemã, sendo esses a presença das
Valquírias, símbolos da mitologia nórdica.
Para tanto, esse período também marca o fenômeno dos colecionadores, homens
burgueses que passavam a acumular um grande número de obras de arte, formando assim
coleções particulares que, posteriormente, culminaria na formação dos museus. Aqui, “com a
consolidação do capitalismo industrial, o preço pelas coleções de artes” passa a ser difundido
em diversas camadas sociais (HOBSBAWM, 2017). A vista disso, a posse de obras de arte
passa a constituir e formar o status social para a burguesia europeia da época. Para Hobsbawm
(2017), o interior do lar burguês, local onde se mantinha uma alegria ilusória diante a
realidade do mundo afora, era composto por cortinas elegantes, grandiosos tecidos e
ornamentos, além de uma grande quantidade de objetos de arte, onde a superioridade
burguesa seria, portanto, legitimada pela quantidade de obras de arte e decorações que esse
possui.
Além disso, destaca-se também os teatros, locais onde ocorriam os concertos de
música clássica e as grandes apresentações dos balés. Aqui é importante ressaltar dois
aspectos. Em primeiro lugar, tais eventos surgem e nascem nos grandes centros urbanos das
capitais de Paris, Viena e Barcelona, por exemplo. Segundo, as artes nesse período não eram
consideradas aspectos meramente visuais ou para o entretenimento da população, tendo em
vista que os artistas eram sábios, mestre, moralistas e pessoas de alto prestígio social.
Além do teatro, destaca-se aqui as pinturas com o enfoque nas técnicas de realismo.
Cita-se como exemplo a pintura do artista plástico francês Honoré Daumier (1808-1879)
Vagão de terceira classe (1864), obra em que descreve o local do trem onde pessoas pobres,
abatidas, que sofrem pela fome e pela pobreza ocupavam, uma vez que todos esses aspectos
são demonstrados de forma bem realista na pintura. Logo, considerava-se que, quando mais
realista a obra fosse, mais real seria a narrativa nela representada. Para concluir, é necessário
enfatizar que, assim como a ciência, a política e o desenvolvimento industrial, as artes eram
constituídas por características que remetiam ao progresso, acompanhado pelas mudanças
históricas ao longo do tempo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

HOBSBAWN, Eric J. A construção das Nações; In: A Era do Capital (1848-1875), 2017.
HOBSBAWN, Eric J. As forças da democracia. In: A Era do Capital (1848-1875), 2017.
HOBSBAWN, Eric J. O mundo burguês. In: A Era do Capital (1848-1875), 2017.
HOBSBAWN, Eric J. Ciência, religião, ideologia. In: A Era do Capital (1848-1875), 2017.
HOBSBAWN, Eric J. As artes. In: A Era do Capital (1848-1875), 2017.
JUNQUEIRA, Mary A. Estados Unidos: A consolidação da Nação. São Paulo: Contexto,
2001.
SCHWARCZ, Lilia Moritz. O espetáculo das raças: cientistas, instituições e questão racial
no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, p. 99-133, 1993.

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