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19 a 27 de outubro de 2021
GT 42 – Teorias do Autoritarismo
Luciana Aliaga
Universidade Federal da Paraíba
Sabrina Areco
Universidade Estadual do Maranhão
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Introdução
O objetivo do presente artigo, assim, consiste em discutir como essas ideologias foram
articuladas com a experiência da guerra e mobilizadas pelo fascismo italiano. Importante notar
que existe certo consenso acerca da ausência de ideologias originais produzidas pelo fascismo,
ou pode-se dizer, falta de um substrato teórico robusto e ossatura cultural expressiva (cf.
D’ORSI, 2010), fazendo com que o movimento dos fasci se parecesse mais com uma “colagem
de diversas ideias políticas e filosóficas, um alveário de contradições” (ECO, 2020, p. 32). Não
obstante, é importante notar que na Itália o fascismo articulou e deu corpo, de maneira original
em relação aos demais países no período entreguerras, à diferentes ideologias e expressões
culturais e estéticas que estavam difundidas e desarticuladas entre si na Europa das primeiras
décadas do séc. XX.
1. Nacionalismo
A questão que também se colocou a Gellner foi: porque houve adesão de diferentes
estratos sociais ao nacionalismo (HOBSBAWM, 1990)? E, ainda, porque sua vertente de
direita e extrema-direita avançou em países como a Alemanha e a Itália, enquanto nos anos de
1920-1930 deixou de ser um movimento de massa na França? Na virada do século XIX e XX,
França, Itália, Áustria e Alemanha, especialmente entre as classes médias baixas, existiram
significativos movimentos nacionalistas de direita e extrema-direita, já marcados pela
xenofobia e antissemitismo e, posteriormente, pelo racismo, tendo no nazismo alemão a
manifestação mais articulada de nacionalismo e raça (cf. TUCCARI, 2010, p. 343). Pode-se
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Dando um passo além da análise de Gellner, vários estudos têm demonstrado como a
oposição ao internacionalismo e aos movimentos socialistas e comunistas consiste em uma
chave interpretativa importante para responder a tais questões. Brustein e Berntson (1999)
exploraram a ideia de que a configuração dos movimentos socialistas e comunistas de cada
país, isto é, a força da “ameaça vermelha”, ajudam a entender o caso da Alemanha e da Itália.
Portanto, a atuação dos ideólogos ou intelectuais e a mobilização da ideologia nacionalista por
parte dos grupos políticos detêm relevância ao menos para os casos da Itália e da França, como
casos paradigmáticos, mas opostos.
Esse passou a ser o conjunto de ideias que identificava a direita francesa, seus partidos
e movimentos. Deve-se destacar que a mobilização de intelectuais, a circulação de revistas e
panfletos, a realização de encontros e comícios, isto é, o contexto político e intelectual agitado,
reorganizou as direitas pré-existentes fazendo com que passasse a existir movimentos ruidosos
e de rua, como as ligas, radicais em suas manifestações anti-parlamentares - que distinguia essa
nova direita dos grupos que a antecederam. O ambiente intelectual era, contraditoriamente,
infiltrado pelo desprezo pela palavra e pela dúvida de sua eficacidade em um mundo marcado
pela valorização da força: “a poesia de Gabriele d'Annunzio, infiltrações nietzschianas,
romances de Kipling compõem uma vasta epopeia da ação, um romance viril cujo nacionalismo
é um capítulo e que exalta os valores da força, das virtudes ativas” (WINOCK, 2014, p. 190).
Assim, embora o conjunto dos nacionalismos surgidos cinquenta anos antes de 1914
tivessem em comum “a rejeição dos novos movimentos socialistas proletários”, especialmente
em função de seu internacionalismo (HOBSBAWM, 1990, p. 146), na França em particular, a
Union Sacrée (1914-1918) teve êxito em agrupar a direita e a esquerda, ou seja, os socialistas
e os sindicatos, monarquistas e republicanos conservadores, sob a ideia de defesa nacional. As
vitórias legislativas do Cartel des gauches a partir de 1921, por sua vez, são uma expressão
eleitoral da fragilidade do nacionalismo como forma política na sociedade francesa. A vitória
na guerra, como acenado, também teve um papel central na crise do nacionalismo no país.
Desse modo, apontava-se os responsáveis pela crise e ao mesmo tempo criava-se uma
nova identidade para a nação baseada na força e na virilidade, fazendo ressurgir o orgulho
nacional. Sob o fascismo os interesses supremos da nação seriam superiores aos interesses
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Por essa razão, como observa Eco (2020, p. 51), a obsessão da conspiração contra os
inimigos da nação, que eram aqueles de pensamento ou comportamento diverso, estava na raiz
da psicologia do fascismo. Assim, o fascismo operava como um exército civil-voluntário,
sustentado por associações agrárias e industriais. Seus militantes eram armados frequentemente
com a ajuda de comandos militares territoriais, apoiados diretamente ou indiretamente nas
hierarquias militares, mas como um corpo paralelo, cuja referência militar advinha dos arditi
da Primeira Guerra (cf. D’ORSI, 2010).
2. O Arditismo
Originalmente o termo arditismo não se referia a uma ideologia, mas sim a uma
estratégia militar desenvolvida no contexto da Primeira Guerra e utilizada pelas potências
europeias em conflito. A estratégia consistia na criação de uma tropa militar de elite ou de
assalto e representava a manifestação mais moderna das infantarias, cuja novidade residia na
criação de tropas especiais e melhor armadas, modificando a prática de fornecer igual
armamento à maior parte dos soldados. Tal mudança estava ligada às inovações tecnológicas
dos armamentos, como a utilização de tanques, por exemplo. Formadas por soldados
voluntários, que deveriam ter menos de 25 anos, a criação das tropas de assalto ajudou a
difundir a ideia do soldado-especialista que se popularizou na Segunda Guerra. Esse soldado
era, de alguma forma, privilegiado na estrutura do Exército: sua alimentação era melhor e mais
abundante e, sobretudo, eram tropas motorizadas (KITTLER, 2003).
A estratégia foi utilizada pelas forças prussianas e sob comando do General Erich von
Falkenhayn em 1918. A formação das tropas de elite na Itália, por sua vez, foi oficializada em
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Essas são palavras de Cayetano Polvorelli, um dos mais conhecidos membros do fascismo e
correspondente político do Popolo d’Italia, jornal fundado por Mussolini para divulgação das ideias
fascistas (cf. MARIÁTEGUI, 2010, p. 153).
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julho de 1917 sob comando do General Capello da Segunda Armada. Antes disso, a partir de
1915, ações militares foram feitas por tropas especiais, mas receberam nomes diversos
(KITTLER, 2003; ROSSI, 2011). Em 1917, o termo arditismo foi empregado pela primeira vez
oficialmente para referir-se a essa elite das forças armadas italianas. Tal como na Alemanha,
eram tropas ofensivas e móveis. O termo arditi como adjetivo significa literalmente “audazes”,
por isso utilizado para nomear os soldados voluntários agrupados em unidades de ataque que
formavam a elite no campo de batalha; esse “novo exército de voluntários” formava “um véu
entre o inimigo e a massa de recrutas” (GRAMSCI, 1975, p. 60).
Marinetti, em seus diários de guerra, afirmou que havia no grupo uma “disciplina
elástica” (BENEDETTI, 2012). De fato, relatos acerca de conflitos com os carabinieri e de
indisciplina militar foram constantes e o comportamento violento também os caracterizava já
neste período da Primeira Guerra. Na Batalha de Caporetto (1917), na qual se opuseram o
Império Austro-húngaro e o Reino da Itália, os arditi foram responsabilizados por
insubordinação, roubo e violência, “tendo realizado saques, depredações e crimes de ainda
maior gravidade”, o que gerou o “fuzilamento de soldados como punição” (ROSSI, 2011, p.
35). Por parte do oficialato os arditi passaram a ser vistos como elementos desestabilizadores.
Como forma de restabelecer a hierarquia militar, primeiro tratou-se de excluir os soldados que
poderiam ser exemplos de “delinquência, indisciplina e anarquia”, para posteriormente reduzir
as tropas até que em 1919-1920 elas foram oficialmente extintas (ROSSI, 2011). Porém, se a
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violência dos arditi era exacerbada mesmo em tempos de guerra, como poderia se adequar à
vida civil e aos tempos de paz? O governo do primeiro ministro Vittorio Emanuele Orlando
orientou o retorno dos arditi assimilando-os em atividades públicas, o que não foi efetivo. Por
outro lado, a volta dos soldados ocorreu em uma economia em crise, com desemprego e
aumento no preço dos alimentos (ROSSI, 2011; GENTILI, 2010).
No dia primeiro de janeiro de 1919 foi fundada a Associazione fra gli arditi d’Italia,
dirigida por Mario Carli, também responsável pelo jornal L’Ardito, ambos com sede em Milão.
A associação era formada por membros de diferentes disposições ideológicas, sendo disputada
por três frações: nacionalistas, futuristas e fascistas. Mario Carli, em 1922, portanto às vésperas
da Marcha sobre Roma, afirmou:
Em Roma, também em 1919, foi criada a milícia paramilitar Sempre pronti per la Patria
e per il Re, outra organização que antecipou a larga utilização das esquadras pelos fascistas.
Dessa forma, a entrada em cena dos arditi num contexto de crise social em 1919 marcou “um
verdadeiro salto de qualidade na luta política entre classes subalternas e classes hegemônicas,
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na medida em que introduziu o uso de meios modernos e técnicas ofensivas em uma chave
contrarrevolucionária e antipopular” (GAROFALO, 2010).
Desde 1918, nas intervenções no jornal Popolo d’Italia, Mussolini saudava os arditi
como os guerreiros italianos, que com suas bombas e adagas destruiriam todos que se
colocassem no caminho da Grande Itália. Com o fim da Primeira Guerra, Mussolini buscou
explorar politicamente o mal-estar generalizado causado pela crise, apropriando-se dos motivos
ideológico-sentimentais do arditismo, inserido na Itália pelos ex-combatentes de guerra (cf.
FRESU, 2017, p. 57-58) e assimilando a defesa feita pelos nacionalistas de uma iniciativa
autoritária contra a classe política. A partir de 1919, com o biennio rosso e a readequação da
posição de Mussolini, era possível indicar o fascismo como a simbiose entre futuristas e arditi,
sendo o arditismo o segmento que elaborou a coreografia militar e estética fascista, fornecendo
elementos como o uniforme - a camicie nere - ritos e hinos (GENTILI, 2010).
A partir daí, o arditismo passou a ser usado no contexto italiano para definir uma atitude
típica de alguns setores da sociedade, especialmente da pequena burguesia, e posteriormente
incorporou-se à ideologia do fascismo. “Em pouco tempo um pacto provisório foi formado e o
antissocialismo fora o cimento comum que uniu arditi, futurismo e fascismo” [e também o
nacionalismo], que entre 1919 e 1920 se tornaram um “único bloco orgânico” (cf. GALASTRI,
2019, p. 280).
A ideologia dos arditi de guerra foi, de fato, fundamental para a organização dos fasci,
que constituíam tropas de assalto cujos principais objetivos consistiam na destruição
sistemática das organizações do movimento socialista camponês e operário e em menor medida
também dos movimentos católicos. Eles defendiam uma guerra civil contra seus inimigos.
Importante observar, nesse sentido, que o que diferenciava o fascismo de qualquer outra forma
de ditadura consistia no fato de que a prática da violência não estava apenas centrada no
governo, mas dispersa na sociedade civil, por meio de um movimento de massas. Em função
dessa guerra, em 1920 os fasci passaram a ser compostos pelos “camisas negras”, que eram
grupos de jovens armados arregimentados e, não raramente, contratados, que formavam um
verdadeiro exército (cf. D’ORSI, 2010).
dos arditi durante a guerra, isto é, eram organizações privadas (voluntárias) armadas –
combinadas com forte componente nacionalista. O arditismo forneceu, assim, o fundamento
cultural e ideológico para levar as massas fascistas à ação. Em outros termos, o arditismo
consistiu num dos mais importantes elementos de caráter moral, cultural e psicológico capazes
de despertar a “paixão”, ou, pode-se dizer, capazes de mover as esquadras fascistas à ação.
Segundo Gramsci (1975), contudo, os exércitos que necessitavam dos arditi durante a
Primeira Guerra não eram os mais poderosos, mas os mais fracos e desorganizados. Gramsci
observou nesse sentido que o arditismo como função político-militar “ocorreu nos países
politicamente não homogêneos e enfraquecidos, tendo como expressão um exército nacional
pouco combativo e um estado-maior burocratizado e fossilizado na carreira” (GRAMSCI,
1975, p. 122). Para o autor, quando uma organização estatal está debilitada, com um exército
enfraquecido, formam-se organizações armadas privadas (cf. GRAMSCI, 2007, 133,121).
Deste modo, os fasci indicavam um Estado em crise, cujas instituições ordinárias não eram
mais capazes de manter a ordem, o que o obrigava, portanto, ao uso contínuo e regular da força
e da violência.
Importante perceber que na Alemanha, como na Itália, a herança da guerra foi também
apropriada pela direita. Porém, durante o conflito mundial, entre as tropas germânicas
vigoraram mecanismos a partir de baixo para conter os membros das tropas de assalto,
impedindo que se consolidasse uma cisão ideológica e política desse segmento com os demais
membros. Na Itália, ao contrário, condições específicas tornaram possível que os arditi não
apenas se politizassem e se diferenciassem das tropas regulares, como também encontrassem
continuidade no fascismo. Deve-se ressaltar nesse sentido que tanto as iniciativas intelectuais
e organizacionais feitas por segmentos do arditismo na Itália, como é o caso de Mario Cardi,
fundador da associação e do jornal L’Ardito, como também o papel de Marinetti na
configuração de uma ideologia vinculada ao arditismo e à experiência de guerra foram
fundamentais para a mobilização dos primeiros fasci. Elementos conjunturais que, com as
mobilizações e greves do biennio rosso, assim como a atuação política de Mussolini em
articular os arditi e o partido fascista - então ainda construção - fizeram com que a existência
das tropas de assalto acabasse por ter uma dimensão ideológica e política importante a ponto
de ser insuficiente tratá-las apenas como um episódio passageiro da história militar da Itália.
3. O Futurismo
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Na França, embora Marinetti tenha conquistado considerável estima por sua mediação
cultural entre o universo estético italiano e francês, ele não logrou estabelecer o futurismo como
uma nova escola literária. Sua recepção não foi unívoca, no entanto grande parte dela foi
caracterizada por julgamentos negativos, que rejeitaram o futurismo, condenando a “ultrajante
excentricidade das ideias futuristas (seu antitradicionalismo, belicismo e misoginia)”
(CESCUTTI, 2014, p. 119). Como ressalta Tatiana Cescutti, a recepção de obras ou ideias fora
de seu contexto nacional original são determinadas por elementos culturais da nação receptora,
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como, por exemplo, a posição que é reservada para autores estrangeiros. Na França atribuía-se
uma posição inferior à literatura italiana em contraste com a literatura francesa. Além disso,
ocorria uma representação estereotipada de escritores italianos, em grande parte determinada
por uma tradição de caricaturas de imigrantes italianos consolidada entre os sécs. XIX e XX
(cf. CESCUTTI, 2014). De modo geral, pode-se dizer que a produção cultural italiana
encontrava escassa valorização na França. Se até o séc. XVIII a cultura italiana havia sido uma
força dominante na cultura francesa, a partir do séc. XIX essa situação se inverteu e a França
passou a ter uma influência prevalente sobre o mundo cultural europeu, inclusive sobre a Itália.
De modo que a rejeição do futurismo no universo artístico e intelectual francês se deu por
razões estranhas à própria estética e à literatura (cf. CESCUTTI, 2014).
Com efeito, como observa Ekaterina Lazareva (2015, p. 477), a Primeira Guerra
desencadeou uma significa transformação e reorganização dos círculos de vanguarda
existentes, com impactos diversos nos diferentes ambientes nacionais, dando origem, por
exemplo, ao expressionismo alemão, por um lado, e a “politização da estética”, como no
futurismo italiano e russo, por outro. Na Rússia, ao contrário da França, a difusão das traduções
dos primeiros manifestos, ainda em 1909, coincidiu com uma renovação integral na pintura e
na literatura que desde logo se identificou com o movimento de Marinetti. A partir do contato
com os métodos de publicidade empregados pelos futuristas, os artistas russos começaram a
organizar debates públicos e diversas ações que atraíram grande atenção. Em função disso, os
críticos e jornalistas cunharam em 1913 o termo “cubo-futurismo” para designar a produção
artística russa daquele momento. Isso porque o futurismo nunca foi na Rússia uma expressão
fiel das ideias de Marinetti, ao contrário, junto ao futurismo, as vanguardas russas incluíam o
expressionismo, o primitivismo e o cubismo. A despeito disso, o neologismo “futurismo” foi
rapidamente introduzido no discurso cultural russo, sendo usado tanto pela imprensa e críticos
de arte, quanto pelo público em geral (cf. BERGHAUS, 2019; BUDANOVA, 2015).
futurista nos últimos anos antes do primeiro conflito mundial caracterizava-se mais como uma
metáfora para expressar sua atitude para com a sociedade contemporânea e o estabelecimento
na arte de uma espécie de “guerra retórica” contra seus inimigos ideológicos e estéticos
internos. De todo modo, com o êxito do futurismo na Rússia, em 1914 Marinetti fez uma visita
ao país e conheceu os artistas de Moscou e de São Petersburgo. Suas palestras tiveram excelente
recepção de público e de crítica, as vanguardas artísticas, no entanto, sempre insistiram na
importância de afirmar o caráter inerentemente russo da sua revolução artística, diferenciando-
se do futurismo italiano (cf. BERGHAUS, 2019).
De fato, de acordo com Mariátegui (2010, p. 238), Marinetti teria sido um dos mais
ativos agentes belicistas italianos. Isso se deveu ao fato de a guerra ter “dado aos futuristas uma
ocupação adequada a seus gostos e aptidões” enquanto a paz lhes tinha sido hostil. Isso porque
o movimento experimentou um momento de descenso no imediato pós-guerra, com a vitória
eleitoral do Partido Socialista e do Partido Católico, mas se reabilitou logo em seguida com o
fascismo, tornando-se um dos seus “elementos espirituais e históricos” (MARIÁTEGUI, 2010,
p. 238-239). A despeito disso, a partir de 1920, Marinetti se afastou dos fasci di combattimento,
inicialmente reorientou o movimento para o recém fundado Partido Comunista, em 1921, mas
depois se desiludiu e se afastou de ambos, lançando um novo programa artístico para o
futurismo (cf. BERGHAUS, 2019).
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A despeito disso, para Mariátegui não é equivocado considerar Marinetti “como um dos
forjadores psicológicos do fascismo” uma vez que ele foi o elemento fundamental a incitar a
juventude italiana “ao culto à violência, ao desprezo dos sentimentos humanitários, a adesão à
guerra, etc.”. Além disso, o futurismo “opõe à ideia coletivista da Igualdade a ideia
individualista da Desigualdade. Arremete contra a justiça, a Fraternidade e a Democracia”. Não
obstante, “politicamente, o futurismo foi absorvido pelo fascismo”, esquecendo o seu passado
anticlerical, mancomunando-se com a Igreja e com a Monarquia, fazendo confluir “todas as
forças tradicionalistas, todas as forças do passado” (MARIÁTEGUI, 2010, p. 239)2.
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Ver também MARINETTI, 2008.
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Apontamentos finais
partir dos contextos nacionais, de modo que não existe, por exemplo, um nacionalismo, mas
diferentes “nacionalismos”. Embora seja possível identificar um contexto histórico comum de
nascimento e um quociente mínimo de significados, concretamente essa ideologia
desenvolveu-se de modos diferentes na Itália, na Alemanha, na França e na Rússia, por
exemplo, expressando-se politicamente de maneira diversa no contexto da Primeira Guerra e
no decorrer dos anos posteriores.
Referências Bibliográficas
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doi:10.1177/135703403773684711
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