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no imóvel. Assim, as indenizações sempre ficam aquém do valor real, o que não permite à
família indenizada comprar uma nova moradia na região.
e) As famílias que são removidas para os “predinhos”, de um dia para o outro, passam a
responder pela conta de água, energia elétrica e, para gravar a situação, taxa de condomínio. A
renda familiar, por sua vez, permanece a mesma. Muito provavelmente, aquela família não terá
condições de arcar com o forte incremento nos gastos mensais que seu novo padrão de moradia
exige. Isso aumenta os conflitos condominiais e, em pouco tempo, essa família será obrigada a
vender o imóvel e se transferir para alguma periferia longínqua, onde seus recursos sejam
suficientes para adquirir um lote ou pagar o aluguel.
f) Ao contrário do discurso amplamente vendido, programas de intervenção em vilas e
favelas desta natureza não integram as favelas às cidades, simplesmente as fazem
desaparecer do mapa, junto com seus habitantes que se vêem rechaçados pela cidade que
um dia lhes abriu as portas.
Mesmo tendo dito o óbvio, acredito que valha a pena, de vez em quando, refrescar a
memória dos mais desinformados acerca da legitimidade das ações dos que lutam de forma
organizada pelo direito à moradia, pelas reformas agrária e urbana, pelo direito de ter trabalho e
renda. Enfim, por uma cidade e sociedade onde caibam todos e tudo. Todos os direitos sociais
são tão protegidos pelas leis brasileiras quanto o direito à propriedade. Ressalvado apenas que o
direito à propriedade sofre a restrição fundamental da exigência do cumprimento da função
social, conforme explicado acima. Melhor pensar como os anarquistas: “Toda propriedade
privada é um roubo!” Toda especulação imobiliária deve ser considerada um roubo e não merece
proteção jurídica.
Para concluir, entendemos que os direitos individuais, como o direito de propriedade, que
são os direitos de liberdade, só podem ser invocados se considerarmos na mesma medida o
direito de igualdade. Nesta esteira é que propomos: antes de defendermos os direitos dos
proprietários temos o dever de defender os direitos da maioria da população que vive condenada
a uma desigualdade gritante. Um processo de exclusão mesmo, em um país tão rico como o
Brasil. Se depender da boa vontade dos políticos de plantão nada será feito senão as migalhas
assistencialistas. As mudanças estruturais só vão ocorrer com a luta do povo organizado. Essa a
nossa bandeira ao apoiar os movimentos sociais populares que contribuem na construção da via
democrática popular no Brasil.
3º) Diz a reportagem: “As Brigadas Populares, ONG – Organização não Governamental
- ...” Atenção! Brigadas Populares não é ONG, é um autêntico e idôneo movimento popular
urbano que, ao lado dos sem-casa e marginalizados pela sociedade capitalista, ajuda na
organização dos pobres para lutar pelos seus legítimos direitos. As Brigadas Populares não
podem ser criminalizadas, são firmes na defesa dos direitos dos pobres, mas estão sempre abertas
ao diálogo. Quem não quer dialogar é quem trata problema social-político como se fosse
problema de polícia.