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Foto: Rodrigo Ferreira

APLICAÇÕES PARA
VALORIZAÇÃO
DA LIGNINA
Por: Daniela Collares, jornalista da Embrapa Agroenergia,
com colaboração de Stephane Paula, estagiária

EHQ]rQLFRVʋQDIRUPDGHKH[iJRQRVʋLQWHUOL-

A
o lado da celulose e da hemicelulose, a
lignina é o constituinte da parede celular gados por átomos de carbono.
das plantas, sendo o segundo polímero
mais abundante na Terra depois da celulose. Ela A lignina é uma substância que garante a
é uma macromolécula com estrutura aromática VXVWHQWDomRGDVÀEUDVYHJHWDLVGDVSODQWDVH
polimérica tridimensional , ou seja, possui anéis é tradicionalmente queimada na maioria dos

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Fotos: Daniela Collares

A Embrapa Agroenergia desenvolve pesquisas com lignina

processos industriais de grande escala, para objetivo é otimizar o uso de recursos e minimizar
gerar energia, em virtude de seu alto poder RV HÁXHQWHV PD[LPL]DQGR RV EHQHItFLRV H D
FDORUtÀFRHFRPLVVRDXPHQWDURDSURYHLWDPHQWR lucratividade do setor.
da biomassa lignocelulósica.
Outro elemento que também contribui nesse
Durante o processo de polpação para a fabricação sentido são as biorrefinarias, que integram
da polpa de celulose - base da produção do papel GLYHUVDV URWDV GH FRQYHUVmR ʋ ELRTXtPLFDV
DOLJQLQDpH[WUDtGDSDUDHYLWDURDPDUHOHFLPHQWR PLFURELDQDVTXtPLFDVHWHUPRTXtPLFDVʋHP
GDIROKD2PDWHULDOREWLGRQmRWHPXPÀPPXLWR busca do melhor aproveitamento da biomassa
nobre. A aplicação mais comum é a queima em e da energia.
caldeiras para a cogeração de energia nas indús-
trias de celulose, porém o desenvolvimento da A Embrapa Agroenergia, em parceria com em-
química de aproveitamento e valorização da lig- presas do setor químico-industrial, desenvolve
nina vem permitindo o uso como fonte de novas projetos transversais e esses projetos visam apli-
matérias-primas e insumos. FDURVFRQFHLWRVGDELRUUHÀQDULDSDUDDJUHJDUYD-
lor à lignina e à cadeia de produção de indústrias
É possível ter uma gama de produtos baseados que processam esse tipo de matéria-prima. Com
HPOLJQLQDHWHUXPFRPSOH[RGHELRUUHÀQDULD HVVDWHPiWLFDH[SOLFDRSHVTXLVDGRUGD(PEUD-
ÁRUHVWDOTXHLQWHJUDSURFHVVRVGHFRQYHUVmR pa, Clenilson Rodrigues, inúmeras são as possi-
de biomassa em biocombustíveis, insumos bilidades de se alcançar produtos estratégicos
químicos, materiais, alimentos e energia. O SDUDDEDODQoDFRPHUFLDOGR3DtVSULQFLSDOPHQWH

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Imagem da palestra "An introduction to Borregaard and the BALI process"

pelo fato de ser empregada matéria-prima reno- YiULRVWLSRVGHPDWpULDSULPDFRPRH[HPSOR


vável que pode suprir a dependência de insumos madeira e bagaço de cana-de-açúcar.
provenientes da cadeia petroquímica e que mui-
tas vezes precisam ser importados. &RPDVÀEUDVYHJHWDLVGHYLGDPHQWHSURFHV-
VDGDV R REMHWLYR p H[WUDLU XPD OLJQLQD FRP
Nesse mesmo segmento, uma das empresas qualidade que possa ser convertida em seus
que utiliza esse recurso e transforma os produtos produtos, assim como obter açúcar que, como
originados da lignina em materiais de alto valor subproduto do processo, pode ser utilizado
agregado é a Borregaard. Instalada na Noruega, SDUD D SURGXomR GH ELRFRPEXVWtYHO 3DUD D
a empresa possui um grande aparato tecnológi- melhor destinação destes açúcares, a empresa
FRXWLOL]DGRQDH[WUDomRHQRGHVHQYROYLPHQWR busca parcerias potenciais para a construção
de produtos à base de lignina, sua principal ma- de suas fábricas.
téria-prima. Com 50 anos de história no ramo,
HODVHFRQVROLGDQDLQG~VWULDFRPRDELRUUHÀQDULD Cerca de 99% das indústrias de papel utiliza a
mais avançada no mundo. lignina como combustível para a queima, diz o
CEO da Borregaard, Toger Togersen. Diferente-
A mais nova tecnologia patenteada pela Borre- mente dos seus concorrentes, a Empresa foca
JDDUGpD%DOL(VWHSURFHVVRJDUDQWHDH[WUD- na obtenção da lignina como matéria-prima
omRGRPDWHULDODSDUWLUGDVÀEUDVYHJHWDLVGH para obtenção de diversos produtos.

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Imagem da palestra "An introduction to Borregaard and the BALI process"

“Na Noruega, a fábrica está integrada com os pro- É uma possibilidade usarmos eucalipto, pinus, e
dutos de celulose e celulose especial. Nós utiliza- podemos usar bagaço de cana-de-açúcar tam-
mos os subprodutos de celulose para produzir lig- EpP1HQKXPDSRVVLELOLGDGHHVWiVHQGRGHL[D-
QLQDHRXWURVSURGXWRV3URGX]LPRVSRUH[HPSOR GDGHODGR1yVVDEHPRVTXHH[LVWHXPDiUHD
palmilina a partir de madeira e somos a única em- muito grande plantada com pinus e eucalipto no
presa no mundo que faz isso, além de produzirmos Brasil, da mesma forma que cana, então estamos
RXWURVSURGXWRVQDELRUUHÀQDULDµFRQWD7RJHUVHQ considerando essa alternativa também.”

Mercado brasileiro 3DUDWRGDVDVIiEULFDVTXHWrPRSURFHVVRGH


queima habitualmente usado, a melhor opção é
“O Brasil é um mercado estratégico para nós”, queimar, pois o uso da lignina é muito limitado
DÀUPRX7RJHU(OHVDOLHQWDTXHR3DtVHVWiVHQGR devido ao processo e à qualidade do licor ne-
levado em consideração. "É um mercado muito JURGDOLJQLQDQRVFDVRVHPTXHSRUH[HPSOR
interessante para nós, um mercado estratégico, os produtores aqui no Brasil usam o bagaço na
e, com essa tecnologia, nós podemos continuar queima ou a própria lignina.
a desenvolver e a crescer, para atender ao mer-
cado e nos mantermos na vanguarda da tecno- Mas no caso do processo sufito, que tem a
ORJLDSRUTXHQyVRSHUDPRVDELRUUHÀQDULDPDLV formação da lignina com cozimento baseado
avançada do mundo." em diferentes agentes químicos, tem uma opção

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para utilizar essa matéria-prima para produzir primas. A lógica é a seguinte, conta Toger, no
produtos de valor agregado, salientaToger. “Mas método Bali pode-se trabalhar com quase
para fazer isso você precisa ter um conhecimento TXDOTXHUWLSRGHPDWUL]YHJHWDOSRUH[HPSOR
da tecnologia, um know-how de mercado, uma o bagaço de cana, uma biomassa abundante no
equipe de vendas que conheça os produtos, e que Brasil. A proposta é instalar fábricas perto das
tenha capacidade para dar suporte técnico. Esse usinas de cana e, em uma parceria, utilizar o
processo denominado Bali é uma tecnologia que EDJDoRSDUDH[WUDLUDOLJQLQDTXHpQRVVRIRFR
SHUPLWHH[WUDLUXPDOLJQLQDGHTXDOLGDGHHREWHU e devolver a celulose e hemicelulose para serem
produtos baseados em vários tipos de matérias- fermentados para produção de etanol. 6

Exemplo de integração entre a tecnologia Bali e uma planta de etanol de 1ª geração


Imagem da palestra "An introduction to Borregaard and the BALI process"

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