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15 de Fevereiro de 2017

Todo acidente de trabalho gera indenização?

Primordialmente, como resposta a essa indagação, afirmo que NÃO!
Isto porque é imprescindível uma análise esmiuçada do caso concreto
para identificar as circunstâncias em que o acidente ocorreu.

Dadas as duas espécies de responsabilidade civil, objetiva e subjetiva,
qual é a natureza da responsabilidade civil do empregador pelos danos
morais advindos de um acidente de trabalho? Aplicar­se­á a regra geral
da responsabilidade civil subjetiva, fundamentada na ideia de ato
ilícito, que pressupõe que o agente causador agiu com dolo ou culpa?
Ou a teoria da responsabilidade civil objetiva, pelo risco criado, em
decorrência da atividade econômica desenvolvida pelo empregador,
que se limita à aferição do nexo de causalidade entre o risco e o evento
danoso?

Destarte, em regra, deve ser aplicada a responsabilidade civil
subjetiva, que somente obriga a reparação dos danos morais e
materiais sofridos pelo empregado em razão do acidente do trabalho se
estiver condicionada, além da configuração do nexo de causalidade, à
comprovação do dolo ou da culpa do empregador.

Portanto, para que o empregado tenha êxito em sua pretensão
indenizatória (independentemente do recebimento da indenização pelo
INSS) é preciso ficar comprovada a presença desses dois pressupostos:
culpa/dolo do empregador e nexo de causalidade.
Nesse sentido, foi a postura adotada pela Sexta Turma do Tribunal
Superior do Trabalho, ao julgar o Processo: AIRR­1466­
18.2010.5.18.0013, negando provimento ao agravo de um auxiliar de
fábrica que pretendida indenização pelo acidente sofrido enquanto
operava uma máquina na empresa Reclamada.

A propósito, conveniente evidenciar a orientação fixada pela relatora,
ministra Kátia Magalhães Arruda: “Embora em princípio pareça
inusitado que um trabalhador espontaneamente coloque a mão dentro
de uma máquina que possa atingir sua integridade física, no caso dos
autos não há como ser reconhecida a culpa exclusiva da
empresa (nem mesmo presumida), ante as premissas probatórias
registradas de maneira categórica pelo Regional, insuperáveis nesta
instância extraordinária nos termos da Súmula 126 do TST”.

Na hipótese sub oculi, o incidente aconteceu dez dias após a
contratação do trabalhador, que, ao operar a máquina de embalar
manteiga, teve um dos dedos da mão direita triturado. Na reclamação
trabalhista, ele afirmou que nunca havia operado tal equipamento
antes e que a empresa não forneceu qualquer treinamento para a
execução do trabalho. Alegou ainda que a máquina estava com defeito
naquele dia.

Em sua defesa, a empresa afirmou que forneceu todas as instruções
para a operação da máquina e que o equipamento estava em perfeito
estado de conservação. A empresa apontou culpa exclusiva do
empregado, sustentando que ele agiu de forma imprudente e
negligente.

Com base em depoimentos de testemunhas, o Juiz de Primeiro Grau
concluiu que o acidente ocorreu por ato inseguro do trabalhador, que,
mesmo após receber instruções, colocou a mão dentro do moedor,
descumprindo as ordens que havia recebido. Inclusive, a sentença
assinalou que ato inseguro é toda conduta indevida do trabalhador que
o expõe, consciente ou inconscientemente, a risco de acidentes, ou seja,
é o comportamento que leva ao risco.
Na ausência de culpa da empresa, o pedido de indenização foi
indeferido em primeira instância. Em recurso, o Tribunal Regional do
Trabalho também isentou a empresa de qualquer responsabilidade no
acidente. Para o TRT, ficou provado que o empregado recebeu
orientação expressa no sentido oposto ao executado, uma vez que a
testemunha por ele indicada afirmou categoricamente que “o
empregado era orientado a não colocar a mão dentro da máquina, mas
constantemente a colocava, apesar de advertido”.

O trabalhador tentou reformar a decisão no TST sustentando que a
natureza da atividade da empresa oferece risco acentuado à sua
integridade física, cabendo, assim, a aplicação do parágrafo único do
artigo 927 do Código Civil, que prevê a indenização,
independentemente da comprovação de culpa, no caso de atividade de
risco. A Sexta Turma, porém, negou provimento ao agravo de
instrumento que destrancaria o recurso.

A relatora do processo, ministra Kátia Magalhães Arruda, explicou que,
no contexto analisado, não seria possível reconhecer a culpa exclusiva
ou concorrente da empresa. Ao analisar o acórdão do TRT, a ministra
concluiu que a empresa zelou pela manutenção adequada de suas
máquinas, deu orientação expressa ao empregado sobre qual
procedimento deveria adotar e fiscalizou o cumprimento das normas
pertinentes, advertindo­o pelo descumprimento da orientação
recebida.

Analisando adequadamente o caso concreto, pode­se comprovar que
houve culpa do empregado no acidente de trabalho pela falta de
cuidado ao manusear o equipamento ou executar a tarefa, mesmo com
todas as orientações e treinamentos necessários.

Assim, o acidente do trabalho, por si só, é insuficiente para gerar a
obrigação indenizatória por parte do empregador, visto que, somente
se verificará a obrigação de ressarcir os danos quando na investigação
da causa, ficar comprovado que este dano é consequência direta e
imediata (nexo de causalidade) de uma atuação dolosa ou culposa do
empregador.
Neste diapasão, traz­se à colação, também, o presente escólio
jurisprudencial:

ACIDENTE DE TRABALHO. AUSÊNCIA DE USO DE EPI
FORNECIDO PELA EMPREGADORA. CULPA EXCLUSIVA
DO EMPREGADO. AUSÊNCIA DOS PRESSUPOSTOS PARA
A RESPONSABILIDADE CIVIL. INDENIZAÇÃO INDEVIDA.
Comprovado nos autos que o autor não utilizou as luvas de raspa
fornecidas pela empregadora para a execução da atividade de
demolição de construção civil, vindo a sofrer acidente de trabalho
típico, com ferimento nas mãos em razão de estilhaços, que
certamente teria sido evitado não fosse a omissão faltosa do
empregado (art. 158, parágrafo único, b, da CLT), não há falar em
indenização, máxime em se considerando que o autor participou
dos cursos e treinamentos de prevenção de acidentes, estando
plenamente consciente da sua obrigação. Tratando­se de culpa
exclusiva do empregado, que recusou­se a cumprir as normas de
segurança próprias da atividade laboral, descabe responsabilizar a
empregadora pelos danos que sofreu em decorrência do infortúnio.
(TRT da 3.ª Região; Processo: 0000063­65.2013.5.03.0097 RO;
Data de Publicação: 13/06/2016; Disponibilização: 10/06/2016,
DEJT/TRT3/Cad. Jud, Página 252; Órgão Julgador: Sexta Turma;
Relator: Rogerio Valle Ferreira; Revisor: Convocada Gisele de
Cassia VD Macedo).

ACIDENTE DE TRAJETO. RESPONSABILIDADE DO
EMPREGADOR. ESTABILIDADE PROVISÓRIA
ACIDENTÁRIA. Não se pode responsabilizar o
empregador pela ocorrência de acidente de trajeto, se o
empregado estava em seu próprio veículo, no seu
percurso normal o rotineiro de casa para o trabalho, sem
qualquer ingerência do empregador, como, por exemplo,
determinação deste para mudança de percurso ou de
horário.(TRT da 3.ª Região; PJe: 0010491­34.2015.5.03.0163
(RO); Disponibilização: 09/06/2016, DEJT/TRT3/Cad. Jud,
Página 140; Órgão Julgador: Primeira Turma; Relator: Jose
Eduardo Resende Chaves Jr.).
De toda sorte, é sensato reconhecer que não se pode atribuir uma
condenação à Recorrente sem que os fatos estejam provados de
maneira robusta. Em síntese conclusiva, a ocorrência de acidente do
trabalho, por si só, é insuficiente para gerar o direito à indenização
acidentária, pois é necessária a comprovação do nexo de causalidade
entre o acidente que causou o dano e uma conduta dolosa ou culposa
do empregador.

Disponível em: http://anacwinter.jusbrasil.com.br/noticias/430769201/todo‐acidente‐de‐


trabalho‐gera‐indenizacao

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