Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
(Organizadores)
Adolpho Carlos Françoso Queiroz
Paulo Sérgio Tomaziello
Roberto Gondo Macedo
Americana | SP | Brasil
2012
Comunicação Política e Eleitoral no Brasil: Perspectivas e Limitações no dinamismo Político
Copyright © 2012
Autores
Diretoria POLITICOM
Diretores Regionais
OMENA, Adriana; SANTOS, Nathalia; ALVES, Anna Paula; BATISTA, Carolina (UFU)
Política e energia: o marketing eleitoral de 2010 pela Internet
175
FORTUNATO, Ivan; PENTEADO, Cláudio (UFABC)
O uso da internet na campanha presidencial de Marina Silva em 2010 193
IASULAITIS, Sylvia (UFSCar)
A campanha eleitoral dos candidatos Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) no 211
blog de Josias de Souza, da Folha de S. Paulo
NASCIMENTO, Wanderson; OLIVEIRA, Luiz Ademir (UFSJ)
APRESENTAÇÃO
O ano de 2010 foi muito pertinente para o cenário político nacional, visto que eleições
presidenciais federais são extremamente estratégicas na formação do quadro partidário e
aglutinações em torno do poder. Nesse contexto de grandes e profundos debates que foi
realizado na cidade de Americana o XIX Congresso Brasileiro de Marketing Político, com o
apoio institucional e estrutural da Universidade Salesianas de Americana.
O contexto da web foi desenvolvido na terceira parte, com cinco artigos que exploram
os ferramentais estratégicos das Redes Sociais, a sinergia com o usuário/eleitor, o controle das
informações em um dinamismo eletrônico de alta velocidade, o papel dos blogs na formação
de opinião e massa crítica, como também monitoramento das abordagens da Internet com
presidenciáveis de 2010. Com o objetivo de contribuir com mais um produto científico para a
comunidade acadêmica de comunicação política, a POLITICOM cumpre o seu papel e alinha
mais uma obra, construindo de modo sustentável um estruturado campo de debate nacional.
PARTE I
_________________________________
CONTEXTO DAS CAMPANHAS ELEITORAIS
9
Luciana PANKE 1
Universidade Federal do Paraná - UFPR
RESUMO
Propomos uma discussão sobre o status do jingle como peça persuasiva adotada na
comunicação política. Buscamos conceituar, elencar as características da mensagem
musicada, bem como categorizar os jingles políticos em político partidários, eleitorais, de
mobilização e governamentais. Focamos, entretanto, no estudo sobre jingles eleitorais.
Tratamos o assunto com vistas a levantar questões teóricas que auxiliem a realização de
pesquisas na área de comunicação.
INTRODUÇÃO
1
Doutora em Ciências da Comunicação (USP); Professora da Universidade Federal do Paraná nos cursos de
graduação em Comunicação Social (Publicidade e Propaganda e Relações Públicas) e do Programa de Pós-
graduação em Comunicação, do qual é Vice-presidente da Sociedade Brasileira de Profissionais e Pesquisadores
de Marketing Político (POLITICOM) e autora do livro “Lula do sindicalismo à reeleição: um caso de
comunicação, política e discurso”. São Paulo, Editora Horizonte: 2010. Contato panke@ufpr.br
10
2
Sem nos atermos a questões epistemológicas, cabe, de qualquer forma, deixar claro que, aqui, adotamos a
diferenciação entre as areas, tendo como referência autores como Malanga (1976) e Santanna (2002),
diferenciando publicidade como mensagem de cunho comercial e propaganda ideológica. Apesar de no Brasil, as
expressões serem usadas como sinônimos, em especial, no mercado de trabalho, há questões que merecem ser
citadas. É importante lembrar que publicidade se origina do latim publicuse se refere ao ato de tornar algo
público. A propaganda, também derivada do latim propagare, significa plantar. Conforme Sant’anna (2002),
“vemos, pois, que a palavra publicidade significa, genericamente, divulgar, tornar público, e propaganda
compreende a ideia de implantar, de incluir uma ideia, uma crença na mente alheia” (SANT’ANNA, 2002, p.
75).
11
De nada vale uma letra estimulante em uma melodia que não contagia. Além disso, o
estilo musical estará relacionado às questões culturais para provocar familiaridade e facilitar o
contágio. Também se pode optar pelos sons considerados genéricos, que se aplicam a
determinados períodos históricos.
JINGLES E POLÍTICA
Em trabalho anterior (Couto; Panke, 2005) classificamos os jingles em seis
categorias: varejo, institucional, político, canção, cheio, slogan e promocional. Também
indicamos que em termos de produção, a mensagem pode ser estruturada como Jingle com
janela – canção com abertura e assinatura cantadas, deixando-se um espaço para o locutor
inserir um texto que varia conforme a necessidade; Trilha com assinatura – Consiste em
retirar a letra do jingle, ficando o instrumental e apenas a assinatura cantada; Trilha musical –
Jingle sem canto, pronto para ser usado como fundo de uma nova locução integral ou também
para ser veiculado em TV sem a necessidade de textos complementares.
Aqui buscamos atualizar a categorização do que denominamosjingles políticos.
Naquela ocasião, mantivemos um conceito voltado para cunho eleitoral, entretanto, cabe
retomaraquela proposta e trazer subcategorias. Conceituamos jingle político como a
mensagem musicada produzida com o objetivo de propagar ideias relacionadas à mobilização
social, governos, partidos. Assim, pode ser subdividido em outras categorias de acordo com a
aplicabilidade. Entre elas, destacamos jingles político partidários, eleitorais, jingles de
mobilização pública e jingles governamentais. Para fazer a classificação entre estas categorias
é importante observar a intencionalidade da mensagem, quem é o autor, bem como a época de
sua veiculação.
Os jingles de mobilização são promovidos por entidades civis como ONGs, órgãos
representativos de categorias de classe, por exemplo, para chamar promover tema em uma
campanha específica (voto consciente) ou então para divulgação da própria entidade. Os
político partidários explicitam as mensagens dos grupos organizados em torno dos partidos.
Os jingles governamentais estão inseridos em ações de comunicação promovidas por
governos nas mais diversas esferas e, em geral, intencionam a adesão a projetos ou ações que
devem ser tomadas por boa parte da população (separação de lixo).
12
GERAÇÃO DE AFETOS
Por sua vez, o jingle eleitoral possui o objetivo de divulgar o candidato, número na
cédula, enaltecer suas qualidades e levar o eleitor ao voto. A mensagem musicada favorece a
divulgação da ideia central da campanha e deve trazer, de forma clara, o conceito e o
diferencial da candidatura. “Na comunicação eleitoral existem diversos elementos que
sobressaem e sobre os quais assenta a organização estratégica da campanha”. (Espírito Santo,
2010, p. 82).
Simples e de fácil memorização, as melodias eleitorais auxiliam a fixar a imagem do
candidato, reforçam conceitos transmitidos durante a campanha e podem inclusive se
tornarhits, sendo lembrados além do período eleitoral. Mesmo que o jingle não convença, por
si só, o eleitor a votar em determinado candidato, ele funciona como um elemento de ligação
afetiva entre o público e a campanha.
A geração de afetos, portanto, está presente como uma das alavancas das campanhas.
Ao pensarmos no potencial persuasivo da musicalidade em uma campanha eleitoral
remetemos a Silva quando argumenta que “a função expressiva (...) contribui para suscitar um
clima emocional, para criar uma atmosfera sonora, assim como para caracterizar um
personagem, procurando adequar determinadas características da musica a diferentes
personalidades” (Silva, 1999, p. 79).
A personificação da mensagem musicada remete ao que Merayo Pérez (1992) chama
de retórica musical. O conceito é perfeitamente aplicável ao nosso objeto de estudo, uma vez
que os jingles eleitorais adquirem, justamente, este caráter de personalismo. Ao compor o
discurso eleitoral, o jingle está sujeito a ser o instrumento que materializa as estratégias que
elencamos abaixo, pois campanhas eleitorais, independente de serem focadas em eleições
majoritárias ou minoritárias, acabam seguindo estratégias retóricas similares para a
apresentação dos candidatos e suas respectivas propostas. Entretanto, um dos principais
recursos é personalização da mensagem, uma vez que o conteúdo deve enfatizar, justamente,
os atributos da pessoa.
13
RIR E CANTAR
Autores de diversas áreas escreveram sobre o humor, por exemplo, o riso como
expressão de alívio (Freud, 1969) e como normalização da conduta social (Bergson, 1993).
Bergson (1993) argumenta que o riso possui função de normatizar ações sociais estimulando o
medo do ridículo quando a norma padrão não é adotada. “Pelo terror que inspira, reprime as
excentricidades, mantém constantemente despertas em contacto recíproco certas actividades
de ordem acessória que corriam o risco de se isolar e esbater (…) O riso não provém de uma
estética pura, mas tem um fim útil de aperfeiçoamento geral” (Bergson, 1993, p. 28). Já a
psicanálise observa a risada como alivio de tensões geradas pela pressão social. Tanto Freud
como Bergson encontram a agressão como elemento comum sobre a teoria do riso. Ele está
vinculado diretamente ao medo do ridículo e é um ato puramente social, não físico.
O humor remete, inclusive, os primeiros jingles relacionados a pessoas e governos,
quando as músicas ajudavam a manifestar críticas com o uso da ironia.
A primeira peça do gênero apareceu na campanha de 1914. O
presidente da República era o marechal Hermes da Fonseca,
conhecido popularmente como "seu Dudu" e cercado pela fama de ser
um homem agourento. Às vésperas das eleições, o Rio foi tomado
pela marchinha "Ai Filomena" (composta por Carvalho de Bulhões
sobre a melodia italiana "Viva Garibaldi"), cujo estribilho passaria a
ser repetido por todo o país: "Ai Filomena, se eu fosse como tu/Tirava
a urucubaca da careca do Dudu". O jingle virou sucesso no Carnaval,
mas revelou-se um fracasso nas urnas. Ao contrário de promover
políticos, como acontece hoje, o objetivo da maioria dos jingles
daquela época era destruir reputações. O presidente Artur Bernardes,
por exemplo, não hesitava em mandar para a cadeia quem ousasse
ironizá-lo com quadrinhas musicais, como aconteceu com o escritor
mineiro Djalma Andrade, autor de um jingle que fazia insinuações
sobre a sexualidade do presidente. (MORAES, Fernando, 20053)
3
Disponível em http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u38289.shtml
14
Quase um século depois da primeira vez que uma marchinha ridicularizou um político
brasileiro, as paródias são bastante usadas para expor críticas aos adversários e incutir dúvidas
no eleitorado. Em 2010, por exemplo, a campanha presidencial veiculava uma disputa
musicada entre os principais concorrentes Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB). As
músicas foram veiculadas na web e algumas vezes produzidas por eleitores (ou supostos
eleitores)4.
Um dos jingles de Dilma Rousseff faz uma paródia de uma música de
José Serra cujo refrão é "Serra é do bem". A versão da petista
proclama: "Serra é do bem... Do bem rico, do bem ganancioso, do
bem desempregado". Outros jingles apresentam frases como "esse tal
de Serra não trabalha legal, só dá pedágio e porrada em professor" e
"Zé promessa, Zé conversa quando estava no governo não fez nada
pro povão".
A "criatividade" dos marqueteiros tucanos está à altura da apresentada
nos horários de Dilma. Um dos mais populares traz uma letra sobre
uma batida empolgante produzida a partir de um pandeiro que remete
ao ex-ministro e deputado cassado José Dirceu. "Toc, toc, toc. Bate na
madeira: Dilma e Zé Dirceu, nem de brincadeira", versam os aliados
ligados ao PSDB. (SILVEIRA, 2010)
Portanto se não fica bem para um candidato “falar mal” do oponente, o humor
musicado e ainda veiculado pela internet em forma de estratégia viral, acaba sendo um dos
recursos bem explorados na contrapropaganda. Entre as leis que regem o embate entre os
adversários, explicadas por Domenach (2005), destacamos: “Jamais atacar frontalmente a
propaganda adversária quando for poderosa” e “Ridicularizar o adversário, quer ao imitar seu
estilo e sua argumentação, quer atribuindo-lhe zombarias pequenas”. Estas orientações
somadas à presença do eleitor como suposto interlocutor das críticas, potencializa a
mensagem.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como destacamos desde o início, a música é, por natureza, uma linguagem que
estimula os sentidos. Aplicada à veiculação de mensagens comerciais ou políticas, transfere a
emoção aos produtos, partidos, pessoas, marcas que são temas das canções. Neste sentido,
encontramos a conceituação básica do que seria a peça de comunicação denominada jingle.
Para auxiliar a sistematização das categorias vinculadas à política, trazemos a classificação
dos jingles políticos em político partidário, eleitorais, de mobilização pública e
4
Alguns exemplos estão disponíveis em http://www.youtube.com/watch?v=YSCbvVD_kjg&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=2BOsLjGvvz8
15
5
Pesquisa “Gramática do discurso político e eleitoral”, realizada na Universidade Federal do Paraná.
16
REFERÊNCIAS
BERGSON, Henry.O Riso. Ensaio Sobre o Significado do Cômico. Lisboa: Guimarães
Editores, 1993.
FREUD, Sigmund.Os Chistes e Sua Relação Com o Inconsciente. Rio de Janeiro, Imago
Editora, 1969.
PANKE, Luciana. Rádio no século XXI: conexões possíveis. Revista Diálogos Possíveis,
ano 7, n.º 01 (jan-jun), Salvador: FSBA, 2008. Disponível em
http://www.faculdadesocial.edu.br/dialogospossiveis/artigos/12/artigo_06.pdf
SILVA, Julia Lúcia de Oliveira Albano da. Rádio: oralidade midiatizada: o spot e os
elementos da linguagem radiofônica. São Paulo: Annalblume, 1999.
18
Paulo D´ELBOUX
CristianeNABARRETTIAnha
nguera Educacional – Santa Bárbara
RESUMO
Este artigo aborda a importância da Televisão na Campanha Eleitoral, seja ela para eleições
municipais, estaduais ou federais. Para tanto, cabe ao Marketing Eleitoral fazer um bom
planejamento e bem desempenhá-lo no período que antecede uma eleição. Neste caso
específico, trata-se da eleição de um candidato à Prefeitura Municipal da cidade de Santa
Bárbara D’Oeste, interior de São Paulo, nas eleições de 2008. Metodologicamente trata-se de
um estudo de caso, com a disputa entre dois candidatos e em cujo processo eleitoral envolve
uma Televisão local, a TVCultura, canal 43, que teve sua programação suspensa e em seguida
autorizada.Para embasamento, além do referencial teórico acerca do marketing eleitoral são
utilizados documentos fornecidos pela mídia local e regional, bem como pesquisa impressa e
verbalizada. A intenção do artigo é apresentar como a televisão influencia no resultado das
eleições, quando os cidadãos têm a oportunidade de acompanhar as propostas dos candidatos,
que são conhecidos, para depois de ouvi-los fazer uso do seu poder de voto. Na referida
cidade, depois de muitos anos, ocorreu uma eleição atípica com apenas dois candidatos. De
um lado o empresário e já ocupante do cargo de prefeito anteriormente, José Maria Araújo, do
PSDB, na coligação “Nossa Cidade Em Boas Mãos” com 4 partidos. De outro lado, o médico
Mario Celso Heins, do PDT, que disputou o cargo pela terceira vez, cuja coligação “Santa
Bárbara Merece Mais” agregou 19 partidos. Com todos os horários e debates públicos
organizados e sorteados a TV Cultura teve sua programação suspensa pela Secretaria
Municipal de Cultura e Turismo, alegando irregularidades junto a Anatel, ou seja, julgada
apenas como retransmissora e não detentora de programação própria. Tal fato gerou polêmica
no município e entre as coligações que alegaram ser a TV local de programação mista e
exigiram medidas do juizado eleitoral em prol da televisão como meio democrático de
divulgação eleitoral. O fato é que tal episódio funcionou politicamente como um divisor de
águas em favor do candidato que não tinha ligação com a Prefeitura Municipal.
INTRODUÇÃO
MARKETING ELEITORAL
principalmente, para quem faz campanha para a situação. Isso porque, segundo Figueiredo
(1994, p.12) “durante o mandato, quem está saindo já fez uma administração sintonizada com
o eleitorado – e está com alto índice de aprovação”.
Vale ressalvar as considerações de Gomes (2000, p.29-30) sobre as diferenças básicas
ao abordar tanto o marketing eleitoral (realizado no período eleitoral visando exclusivamente
vencer as eleições) quanto o Marketing Político (trabalho mais em longo prazo, geralmente,
quando o político está no exercício do mandato).
De qualquer modo há que se ter um bom planejamento para que o marketing eleitoral
tenha sucesso. Planejamento este que, segundo Kuntz (2000, p.51) significa:
A preparação para qualquer empreendimento que, por meio de estudos e
etapas técnicas, visa a alcançar a melhor forma para o desempenho de uma
ação e atingir seu objetivo definido. O planejamento decorre da necessidade
de ação, por isso podemos defini-lo como a decisão antecipada da ação a ser
tomada. A partir de problemas a serem resolvidos fazem-se levantamentos e
análises iniciando um planejamento como ‘veículo rápido’ na implantação de
uma estratégia de ação. Assim, deve-se ligar estreitamente planejamento e
estratégia de uma campanha pois, se aquele se fizer separadamente, poderá,
ao seu término, estar incompatível com a estratégia prevista na campanha.
Contudo, não é tarefa fácil a criação do slogan, ele requer a utilização de frases
curtas e termos de fácil entendimento para fácil fixação por parte do eleitor, tudo isso para que
ele se torne o “grito de guerra” do candidato e para tal tarefa ele precisa desencadear uma
rápida memorização.
Embora o destino de um bom slogan é cair na “graça do povo”, alguns casos não
conseguem tal feito.De acordo com Reboul:
Não é o uso do slogan que é moderno, mas sua extensão. A comunicação de
massa, tanto a comercial como a política ou cultural, dele fez uma arma cujo
alcance ultrapassa de longe os limites de um grupo restrito, como os leitores
de uma obra, os fregueses de uma loja a até os membros de uma multidão;
uma arma destinada a sacudir este ser anônimo e sem rosto que é a multidão
(REBOUL, 1975, p. 11).
Com base nos dados gerais da cidade inicia-se o estudo de caso contando como se
deu a eleição de 2008, desde a apresentação dos candidatos, seus slogans, a análise desses
slogans e a influência da Televisão como peça fundamental do caso.
A modalidade escolhida para apresentar neste artigo foi o estudo de caso que,
geralmente, apresenta informações obtidas sobre um trabalho que, muitas vezes, desencadeia
julgamentos diferentes conforme o leitor; então, o interesse passa a ser pelo que o trabalho
sugere a respeito do que foi desenvolvido.
Segundo Goode e Hatt (1977, p.422) o estudo de caso é:
A ELEIÇÃO DE 2008
A eleição de 2008 foi atípica por ter apenas dois candidatos na disputa à Prefeitura
Municipal.De um lado o empresário e já ocupante do cargo de prefeito anteriormente,José
Maria Araújo, do PSDB, na coligação A Nossa Cidade Em Boas Mãos com 4 partidos -
25
mensagem de que a cidade merecia muito mais do que a atual administração tinha oferecido
até então, daí a utilização na construção do nome da cidade “SantaBárbara” acrescida do
termo “merece mais”. A palavra “mais” trouxe apossibilidade de uma infinidade de
construções, abrangendo todas as áreas de atuação que um prefeito poderia desempenhar na
cidade como mais saúde, mais educação, mais segurança, etc.
O slogan é considerado elemento chave para garantir a memorização e a impressão
de unanimidade na campanha. Deve estar presente em todas as peças e materiais a serem
utilizados, pois sua repetição contínua ajuda a fixar, por associação, o nome e as ideias do
candidato.
Contudo, em uma análise geral dos slogans, ambos utilizaram adequadamente as
técnicas para a construção do discurso persuasivo, responsável pelo sucesso de uma
campanha.
Por outro lado, numa visão mais crítica, se não for bem utilizada pode ser
determinante para o fracasso de qualquer candidato.
Ainda para Manhanelli (1988, p. 71):
A televisão é um meio intimista, um meio recebido e não percebido; a
televisão é impressão, é show. O caráter doméstico da televisão faz com que
a relação emissor-receptor, aconteça de modo próprio, íntimo e peculiar,
derrubando as defesas racionais e elevando ao máximo o envolvimento
emocional.
A televisão para fins eleitorais tem como base um decreto federal de nº 96.261/88,
27
art.4º que, em seu § 1º permite a inserção de programas locais que sejam de interesse da
comunidade.
Assim vêm acontecendo nas últimas eleições, cabendo ao juiz eleitoral, ao interpretar
o referido decreto, permitir ou não a propaganda eleitoral gratuita nas televisões locais,
considerando sempre o interesse da comunidade.
No momento eleitoral, muitos fatos novos aparecem na tela. Os horários eleitorais,
com seus debates, passam a ter várias formas e, inclusive, se misturam com os noticiários.
A política vai se adequando a esse novo espaço e consequentemente acatar as regras
previamente estabelecidas, enquanto a rua, como espaço da política, aos poucos vai perdendo
sua característica de aglutinar pessoas.
Rubim (2000) enfatiza essa reconfiguração ao concluir que:
Em 22/08 a justiça eleitoral, por meio de deferimento do juiz eleitoral Thiago Garcia
Navarro SenneChicarino, que atendeu solicitação do requerimento de um dos partidos da
coligação "Santa Bárbara Merece Mais", após as devidas verificações emitiu despacho
favorável à TV Cultura ao tomar ciência do convênio firmado entre a Fundação Padre
Anchieta e a Prefeitura, com permissão para a veiculação de programas por ela produzidos.
O juiz, ao despachar determina que:
prerrogativa”.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
______. Eleições 2008: primeiro debate será realizado dia 14 de agosto. Santa Bárbara
D’Oeste. 30 jul 2008.
______. Eleições: TV Cultura tem programação suspensa e fica fora do horário político.
Santa Bárbara D’Oeste. 1º ago 2008.
FIGUEIREDO, Rubens. O que é marketing político. Coleção Primeiros Passos. São Paulo:
Brasiliense, 1994. 94p.
GOODE, William J.;HATT, Paull K. Métodos em pesquisa social. 6ª ed. São Paulo:
Companhia Editora Nacional, 1977.
LIMA FIGUEIREDO, Ney. Jogando para ganhar. São Paulo: Geração Editorial, 1994.
SANTA RITA, Chico. Batalhas eleitorais (25 anos de marketing político). São Paulo:
Geração Editorial, 2001.
Lucas GANDIN6
Universidade Federal do Paraná
RESUMO
INTRODUÇÃO
6
Mestre em Comunicação e Sociedade da UFPR. Email: lucasgandin@yahoo.com.br
34
PRESSUPOSTOS TEÓRICOS
De acordo com Bakhtin (1997), o carnaval é uma festa sincrética, que reúne um
conjunto de festividades e rituais onde todos são participantes ativos. Sem atores e
espectadores, todos vivem intensamente a festa do carnaval, que se caracteriza por organizar
um “mundo às avessas”. Conforme o autor, a virada na ordem natural do mundo ocorre em
quatro etapas:
Tiririca ficou conhecido do público nos anos 90 quando fez sucesso com a música – de
gosto um tanto duvidoso – “Florentina”. Logo após, participou em programas de humor como
3
“A Praça é Nossa” e “Escolinha do Barulho” . Tiririca se apresentou ao público como um
comediante nordestino, caricato no sotaque e no figurino, que lembrava a roupa de um
palhaço, assumindo o trejeito de um bufão.
Tiririca nasceu Francisco Everaldo Oliveira Silva, em Itapipoca, no interior do Ceará.
O apelido ele ganhou da mãe, devido ao seu jeito emburrado e mal humorado. Filho de uma
família de oito irmãos, antes de iniciar a carreira de palhaço, equilibrista e mágico em um
4
circo, foi vendedor de sorvete e algodão doce .
Como propostas de campanha, Tiririca pretende criminalizar a discriminação contra o
povo nordestino, defender os direitos dos trabalhadores da construção civil, multando as
empresas que contratam sem carteira assinada e não pagam horas extras, promover incentivos
fiscais para os circos, incentivar as cooperativas, regulamentar os partos, obrigando que eles
-
Informações contidas no site: http://www.tiririca2222.com.br/
-
Idem.
38
sejam feitos pelos médicos que realizam o pré-natal. O candidato também cita como sugestões
de comissões parlamentares a de Seguridade Social e Família, a de Educação e Cultura e a de
Direitos Humanos e das Minorias, mas não deixa claro se pretende trabalhar para a criação
dessas comissões ou se atuará nelas.
O DISCURSO DE TIRIRICA
Tiririca ficou conhecido como candidato por meio de sua propaganda eleitoral, que
entrou no ar em seu canal no site YouTube no dia 27 de julho de 2010
(<http://www.youtube.com/watch?v=3KbK8RkYlvE>, acesso em 13 set. 2010). O vídeo tem
26 segundos de duração. Eis o discurso:
Oi gente, estou aqui para pedir seu voto pusque quero ser deputado federal, para
ajudar os mais necessitado, insclusive minha família. Portanto meu número é 2222.
Se vocês não votarem, eu vou morreeee (sic.).
5
Em um trabalho anterior , verificamos que o candidato político a cargo eletivo é uma
entidade política sacralizada. O termo candidato advém da palavra latina candidus, que
significa puro, livre de mácula, alvo. A origem do nome está nas túnicas brancas usadas pelos
candidatos romanos ao Senado e outros cargos eletivos que serviam para destacá-los dos
demais cidadãos e deixar claro aos eleitores que eles podiam confinar nos candidatos e
escolhê-los como seus representantes (CALDEIRA, 2004).
Essa imagem de representante do povo é atacada no discurso de Tiririca. Ao dizer que
desconhece as funções de um Deputado Federal e afirmar que com este cargo ele poderá agir
em benefício próprio e de sua família, Tiririca está profanando o papel de representante do
povo desempenhado por um Deputado Federal. Ao utilizar o slogan “pior do que tá não fica”,
o candidato nivela o cargo ao nível mais baixo, tirando a nobreza que em tese ele possui.
Tiririca é coroado rei bufo da festa (aos moldes da definição e conceituação de rei bufo
proposto por BAKHTIN, (1997)), que com seu jeito irreverente e sarcástico e cuja fala se
aproxima do jeito de falar das pessoas mais humildes e de alfabetização deficitária, zomba de
todas as instituições, criando uma situação carnavalesca. Primeiro, Tiririca zomba de si
mesmo, pois representa um personagem (visto que Tiririca é uma personagem criado por
Francisco Everaldo) e porque afirma nem saber o que faz um Deputado Federal, ou seja,
mostra-se despreparado para ocupar o cargo. Depois, zomba do eleitor/espectador, pois utiliza
para fazer graça um assunto de alto interesse social e de teor sério. Zomba também do cargo
que pretende ocupar, posto que afirma que a Câmara Federal está num nível de descrédito
junto à população tão baixo que não pode mais piorar. Por fim, zomba do próprio processo
político-eleitoral.
Presume-se no senso comum que o período eleitoral é o momento em que as ideias e
as propostas para se construir uma sociedade melhor são apresentados e discutidos. O horário
gratuito tem justamente a finalidade de tornar públicas essas discussões, permitindo que todos
os eleitores sejam sensibilizados pelo processo eleitoral. Ou seja, o horário gratuito acaba se
5
Trabalho intitulado “A sacralização do político” apresentado no XXXIII Congresso Brasileiro de Ciências da
Comunicação, de 2 a 6 de setembro de 2010, em Caxias do Sul.
40
tornando uma espécie de praça pública, aos moldes dos debates políticos públicos que
ocorriam nas sociedades anteriores.
Nesse sentido, Tiririca tem o espaço ideal para inserir seu discurso carnavalizado. No
entanto, é preciso ter em mente que o espaço carnavalizado é também um espaço
6
espetacularizado, no qual o cidadão se diverte e se ilude. Segundo Gabler (apud SERPA,
2009), esse espaço é a televisão e, por extensão, os sites de vídeos. Assim, Tiririca encontra
uma massa já preparada pelo espetáculo para realizar processos de profanação. Não só o
candidato profana o status sagrado do cargo que pretende ocupar, como os eleitores, ao
7
intencionar elegê-lo também o fazem . Isto é, mediados pela televisão, eleitor e candidato
assinam o contato familiar, tornam-se iguais.
O discurso de Tiririca, portanto, cria o efeito de mundo às avessas, onde as hierarquias
são quebradas, uma vez que se quebra também a sacralidade do cargo que o candidato
pretende ocupar. Isso ocorre porque, segundo Brandão (1994), o discurso também reproduz as
relações ideológicas entre os sujeitos e neste caso, Tiririca deveria ocupar seu lugar na classe
social à qual pertence. Ou seja, quando Tiririca, por meio de seu discurso, quebra a hierarquia
ideológica da sociedade, é como se ele fosse transitar da classe à qual pertence a outra que ele
não pode pertencer.
Por isso, o discurso de Tiririca gerou a repercussão e polêmica verificada em artigos
de opinião em jornais e revistas e nas declarações da Procuradoria Regional Eleitoral de São
Paulo, que afirmou que o slogan de campanha não fere a lei eleitoral (GAZETA DE
ALAGOAS, 2010). No outro caso, é a liderança na intenção de voto, segundo as pesquisas
eleitorais, que comprova a elevação do candidato a rei oficial momentaneamente (R7, 2010).
Em um momento em que se multiplica o senso comum de que a política brasileira fracassou e
não há meios eficientes de salvá-la da corrupção, Tiririca pode ser escolhido como voto de
protesto, justamente porque destoa da seriedade característica do processo eleitoral. Vale
lembrar que eventos como este aconteceram em 2002, quando Enéias Carneiro foi eleito
8
Deputado Federal por São Paulo, além do clássico caso do Cacareco e do Macaco Timão .
Ainda dentro da ação carnavalizadora descrita por Bakhtin (1997), o destronamento de
Tiririca já é previsível durante o momento carnavalizado. Se eleito, Tiririca assumirá um
-
GABLER, N. O efeito secundário. In: Vida, o filme: como o entretenimento conquistou a realidade. São
Paulo: Companhia das Letras, 1999. p. 96-138.
-
Segundo reportagem do portal R7, Tiririca lidera as intenções de voto para Deputado Federal em São Paulo.
-
Cacareco era um rinoceronte do Zoológico de São Paulo. Sua candidatura foi lançada pelo frustrado
movimento emancipacionista de Osasco, então um bairro paulistano, nas eleições para vereador de 1958. Obteve
cerca de 100 mil pessoas, um número alto para a época. Trinta anos mais tarde, humoristas do Casseta e Planeta
lançaram o Macaco Tião, um dos habitantes mais conhecidos do zoológico do Rio de Janeiro, para prefeito da
capital fluminense. O chimpanzé recebeu 400 mil votos (CRUZEIRO DO SUL, 2010).
41
cargo eletivo de representação, ficando sujeito a ter seus atos e ações fiscalizados pelo
Ministério Público e pelo próprio eleitor, que terá poder de reconduzi-lo ao cargo ou não nos
processos eleitorais futuros. Se não eleito, Tiririca voltará a sua condição normal, sendo
esquecido por parte do seu eleitorado; ao retornar à sua condição anterior, voltará a ser o
comediante, o palhaço, o humorista, o bufão, o bobo da corte, que ri de tudo e de todos, mas
não é levado a sério.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Leci Brandão, a apresentadora Simoni e a dançarina Mulher Pera. Não se trata de julgá-los ou
cerceá-los, tanto porque o carnaval é uma expressão popular. Contudo, Bakhtin (1997, p. 129)
ressalva que o homem possui duas vidas: a oficial, subordinada à ordem hierárquica, e a
público-carnavalesca, livre, cheia de riso ambivalente, profanações de tudo o que sagrado,
descidas e indecências do contato familiar. Essas duas vidas eram legítimas, porém separadas
por rigorosos limites temporais.
O homem já tem sua festa do carnaval, política e socialmente instituída no calendário.
A questão – que resta saber se é bom ou ruim – gira em torno das interferências desta vida na
outra, do rompimento do limite temporal que as separa e da zombaria de um discurso e um
momento que não fazem parte da festa do carnaval.
REFERÊNCIAS
BAKHTIN, M. Peculiaridades do gênero, do enredo e da composição das obras de
Dostoievski. In: Problemas da poética de Dostoievski. São Paulo: Forense, 1997.
CALDEIRA, C. ‘Candidato’, palavra que vem do latim. Todo Dia, Grande Campinas, 06 de
junho de 2004. Disponível em: <http://www2.uol.com.br/tododia/ano2004/junho/
060604/cidades.htm>. Acesso em: 2 jun. 2010.
PROCURADORIA DIZ que slogan de Tiririca não é irregular. Gazeta de Alagoas, Alagoas,
13 de setembro de 2010. Disponível em:
<http://gazetaweb.globo.com/eleicoes/noticia.>212502>. Acesso em 13 set 2010.
44
SKINNER, Q. A arma do riso. Folha de São Paulo, São Paulo, 4 de agosto de 2002, Mais! p.
4-11
TIRIRICA LIDERA corrida para se eleger Deputado Federal por São Paulo. R7, São Paulo,
13 de setembro de 2010. Disponível em: <http://noticias.r7.com/eleicoes-
2010/noticias/tiririca-lidera-corrida-para-deputado-federal-em-sao-paulo-20100913.html>.
Acesso em: 13 set 2010.
RESUMO
INTRODUÇÃO
A mudança de perfil do eleitorado, a desideologização dos partidos políticos e o
discurso cada vez mais personalizado dos candidatos a cargos eletivos são tendências
observadas nas eleições do Brasil e de outros países do mundo, como os Estados
Unidos, que têm grande impacto na definição de estratégias de Comunicação Política.
Cada vez mais, a figura do candidato se sobrepõe aos ideais políticos e partidários, e a
campanha eleitoral passa a ser estruturada com base nessas premissas. Os partidos
deixam de ser, portanto, os atores centrais do processo eleitoral - dando espaço aos
candidatos e aos personagens que os mesmos incorporam para buscar identificação com
o eleitorado.
A esse fenômeno, Leal (2002) dá o nome de "nova ambiência eleitoral": afigura
do candidato é supervalorizada e torna-se mais importante do que a identificação
partidária no momento das escolhas eleitorais. Soma-se a isto a prevalência de um
eleitor médio com baixa informação, pouco envolvido politicamente e propenso a
recorrer a atalhos informacionais para facilitar a decisão - como programas de televisão,
46
segundo Gomes (2004,p.71), pode ser atribuída a (1) uma cultura política concentrada
na televisão, (2) crescimento da publicidade política paga, (3) crescimento da
importância dos debates entre candidatos na TV e (4) adoção de modelos de campanha
focados no candidato - o que chamamos de "nova ambiência eleitoral" (LEAL, 2002) e
discutiremos adiante.
Ou seja, uma vez que o campo da informação e da cultura torna-se
independente do campo político, este passa a buscar alternativas para obter visibilidade
na mídia com a ajuda de especialistas do ramo. No que tange à comunicação política, é
importante observar o impacto da nova ambiência eleitoral nas estratégias de campanha
dos candidatos.
Se o eleitor busca atalhos informacionais para decidir seu voto, em
detrimento da identificação partidária, a campanha eleitoral assume posto de grande
importância nos mecanismos de comunicação entre candidatos e eleitores? De que
forma os candidatos trabalharão a comunicação política para se identificarem com o
eleitorado?
Considerando o Brasil como uma sociedade media centered, o que significa,
conforme De Lima (2007, p.187), aceitar a centralidade da mídia na sociedade devido
aos sistemas nacionais consolidados de comunicações (redes de TV, jornais de
circulação nacional e rádios AM e FM), é possível atribuir aos meios de comunicação o
papel de levar informação, inclusive política, aos cidadãos brasileiros de todas as
classes sociais.
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Pesquisas Geográficas (IBGE)
1
coletados em 2009 , cerca de 95% do total de domicílios brasileiros já possuíam
naquele momento um ou mais aparelhos de televisão Já o rádio, conforme a mesma
pesquisa, estava presente em 87,9% das casas. Avaliando a centralidade da mídia na
esfera social, Venício de Lima destaca a importância da mídia na socialização:
1
Fonte:http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/trabalhoerendimento/pnad2009/default.shtm
(acesso em 17/09/2010)
50
A PROPAGANDA POLÍTICA
No universo da política, a propaganda é um dos mecanismos utilizados para dar
visibilidade aos fatos e personagens políticos em todos os períodos do processo
eleitoral: na campanha, seu objetivo é angariar votos (propaganda eleitoral) e, ao longo
do mandato, a meta é dar publicidade às realizações de um governo e informar sobre os
atos de uma administração (propaganda institucional).
De acordo com Gomes (2004, p.200), a propaganda e a discussão pública são os
dois elementos fundamentais da disputa pelo consentimento da maioria, nas sociedades
democráticas. A diferença é que, em uma discussão pública, existe a exposição dos
argumentos em favor da posição que se deseja defender contra os argumentos da
posição contrária "numa interlocução socialmente garantida em que todos os opositores
são convocados a intervir". Já a propaganda consiste na exposição
51
pública das pessoas, argumentos e posições que se quer defender, com o objetivo de
convencer as pessoas e/ou obter aprovação.
A diferença entre a exposição pública da discussão pública e da propaganda
está no caráter dialógico da primeira e didático da segunda. A primeira
necessariamente situa-se num continuum de uma interlocução já em ato ou dá
início a uma nova interlocução. A segunda é um processo que visa ensinar e
convencer, de forma que a interlocução seja admitida apenas enquanto pode
auxiliar a eficiência da pedagogia em ação. Em ambos os casos, dois aspectos
são igualmente fundamentais: informação e eficiência argumentativa.
(GOMES, 2004, p. 201)
•
Fonte: http://www.tse.gov.br/internet/institucional/glossario-
eleitoral/termos/propaganda_eleitoral_gratuita.htm (acesso em 23/03/2010)
•
Fonte: http://propagandaeleitoral.blog.terra.com.br (acesso em 23/03/2010)
54
um canal de interação entre as esferas política e pública, - através das redes sociais e
blogs, por exemplo. Também nesses novos espaços a questão da personalização das
campanhas oferece numerosas evidências.
Esse fator, no entanto, não impede que as campanhas sejam cada vez mais
personalizadas. Muitos autores apontam que a base ideológica dos partidos brasileiros
influencia cada vez menos a decisão do eleitor, que passa a decidir de acordo com o
personagem do candidato, suas qualidades agregadas, aparência e credibilidade:
Dois fenômenos cruciais para compreender a ascensão da figura do candidato
– a desagregação eleitoral e a decomposição partidária – espelham o declínio
da fidelidade do eleitor ao partido, da identificação partidária e da imagem
dos partidos. Quando a opinião pública tende à neutralidade sobre os
partidos, é o candidato quem polariza o debate. (LEAL, 2002)
56
4
Determina-se o quociente eleitoral dividindo-se o número de votos válidos apurados pelo de lugares a
preencher em cada circunscrição eleitoral, desprezada a fração se igual ou inferior a meio, equivalente a
um, se superior (Código Eleitoral, art. 106).
57
para as informações que realmente importam para o indivíduo, que busca tomar
suasdecisões políticas com o mínimo de incerteza e o menor custo possível, mas com o
máximo de benefícios" (MUNDIM, 2006, p.10).
Na tentativa de compreender as atitudes políticas do cidadão brasileiro, Aldé
(2004), a partir da revisão dos estudos nacionais acerca de cada corrente explicativa do
voto, sistematizou a relação entre o cidadão comum e a esfera política, segundo critérios
de valência e aproximação a partir da análise de dados coletados em uma pesquisa
qualitativa. Conforme os resultados, as atitudes políticas do cidadão se relacionam com
a intensidade de aproximação (forte ou fraca) e a percepção (positiva ou negativa) do
mundo político e se subdividem em forte/positiva, forte/negativa, forte/tensa,
fraca/positiva e fraca/negativa (ALDÉ, 2004, p.68-70).
Os cidadãos de atitudes fortes e positivas são aqueles que se interessam pela
política, acreditam no Estado, nos governos e instituições e não abrem mão da
participação. Para eles, a política é um mecanismo de mudança - embora também façam
críticas ao sistema vigente. Além disso, integrantes desse grupo consideram estar em
posição privilegiada - pois possuem informações suficientes para justificar atitudes
políticas - e criticam o "povão", que não teria conhecimento para participar de maneira
consciente da política.
Por acompanharem frequentemente os acontecimentos da esfera política, estes
cidadãos criticam as propagandas políticas, que apresentam apenas "o lado bom" dos
candidatos e partidos (ALDÉ, 2004, p.71-81). Já pessoas de atitudes fortes e negativas,
embora interessadas pela esfera política, sentem-se impotentes e não representadas. A
crença é de que a corrupção da política se estende ao procedimento eleitoral, visto como
fraudulento e pouco confiável, um desestímulo ao voto (2004, p.83). São pessoas que
apresentam decepção ou frustração em relação à política e que não acreditam que o
sistema político possa promover melhorias (2004, p.81-92).
Já as pessoas que apresentam relação forte e tensa sentem-se pressionadas "a
uma participação política maior que o espaço que veem disponível para agir", e, por
isso, não se sentem confortáveis ao expressar descontentamento político. Aqui, o
interesse por assuntos políticos é "abafado" pela sensação de impotência, ou seja,
embora o cidadão queira se envolver com assuntos políticos, ele teme experiências
negativas. A autora considera que, nesse contexto, as pessoas estão "suscetíveis às
variações percebidas no clima de opinião em cuja construção a mídia contribui
significativamente" (ALDÉ, 2004, p.92-104). Em todos os casos de interesse forte na
60
política, os cidadãos acreditam ser mais capazes de tomar decisões políticas do que a
maioria, pois julgam ter mais informações do que o restante da população.
Quando o interesse é fraco e a visão da esfera política, positiva, tem-se eleitores
que não manifestam interesse pela temática e que não acreditam ter condições de agir
em prol da organização dos interesses coletivos, por estarem mais preocupados com
problemas particulares. Com pouca informação política, aliada ao desinteresse, "a
adesão ou antipatia por determinado político é determinada pelo que ele 'passa', a partir
de estereótipos ou atalhos cognitivos, que podem provir de quadros de referência
distintos, mas entre os quais a mídia, por sua acessibilidade e credibilidade, desempenha
papel predominante" (ALDÉ, 2004, p.105).
Apesar do distanciamento da esfera política, os cidadãos aqui enquadrados
participam e respeitam o processo eleitoral e acreditam que o governo é o responsável
pelo bem estar social. Em geral, são motivados a buscar informações políticas durante
as eleições - ocasião em que o tema desperta mais interesse. A decisão do voto ocorre
baseada em aspectos ligados ao contexto pessoal e à identificação com imagens
personalistas dos candidatos. (ALDÉ, 2004, p.104-122)
O último grupo, de atitude fraca e negativa, alia a falta de interesse pelo assunto
ao desgosto com a atuação dos governos. Muitas vezes, os cidadãos que se inserem
nesse contexto gostam de dizer que se interessam pela política, mas anulam o voto por
não acreditarem nas lideranças e nos governantes - desprezam a esfera pública.
A constatação da situação política e social negativa e insatisfatória que
descrevem não tem como resultado, para esses cidadãos, nenhum tipo de
responsabilidade positiva ou negativa: não se sentem nem parcialmente
responsáveis pelo estado das coisas, como os cidadãos de atitute positiva,
nem compelidos a exercer um direito para o qual não veem espaço. (ALDÉ,
2004, p.123-124)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Numa breve síntese, é possível afirmar que a transformação da política
tradicional em política midiática, aliada a outros fatores como a mudança no perfil do
eleitorado (descrente no processo eleitoral) e a desideologização dos partidos políticos,
contribui para que o discurso da propaganda eleitoral seja cada vez mais centrado na
figura do candidato. Essa realidade política é chamada por Leal (2002) de "nova
ambiência eleitoral", sendo esta um reflexo da americanização das disputas eleitorais.
As principais características deste conceito são (1) a supervalorização da figura
do candidato; (2) um eleitor médio com baixa racionalidade de informação, pouco
envolvido e propenso a recorrer a atalhos informativos para facilitar a decisão;
(3) e campanhas eleitorais com capacidade limitada de garantir vitórias, que obrigam os
atores políticos a considerar estratégias diversas de conexão eleitoral e comunicação
mais duradouras, mas levando em conta as especificidades temáticas de cada pleito.
Este fenômeno foi identificado por Martin Wattenberg (1991, apud LEAL,
2002) nas eleições norte-americanas. Percorrendo as teorias do voto, Wattenberg aponta
a prevalência das considerações de curto prazo na decisão do voto como tendência da
62
REFERÊNCIAS
o os
BRASIL. Lei n 12.034. Altera as Leis n 9.096, de 19 de setembro de 1995 - Lei dos Partidos
Políticos, 9.504, de 30 de setembro de 1997, que estabelece normas para as eleições, e 4.737, de 15
de julho de 1965 - Código Eleitoral. Disponível em
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Lei/L12034.htm> Acesso em
10/06/2010
DE LIMA, Venício A. Mídia: Teoria e Política. 2. Ed. 1São Paulo, Editora Fundação Perseu
Abramo: 2007.
GOMES, Wilson et al . "Politics 2.0": a campanha online de Barack Obama em 2008. Rev. Sociol.
Polit., Curitiba, v. 17, n. 34, Oct. 2009 . Disponível
em:<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-
44782009000300004&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 22/04/2010.
LEAL, Paulo Roberto Figueira. A nova ambiência eleitoral e seus impactos na comunicação
política. Lumina: revista da Facudade de Comunicação da UFJF, Juiz de Fora: Ed. UFJF, v.5, n.4,
p.67-77, jul/dez. 2002. (disponível em http://www.facom.ufjf.br/n9-jul-dez-2002)
RESUMO
Este estudo teórico tem como objetivo analisar a provável transferência de votos nas eleições
presidenciais de 2010 entre o Presidente Lula e a candidata que recebe seu apoio, Dilma
VanaRoussef. Os estudiosos do marketing político vêem o fenômeno de transferência de votos com
muitas restrições e com pouca eficácia para vencer uma eleição.Realizou-se, além de pesquisa
bibliográfica sobre o campo do marketing político, o estudo da imagem pública da candidata
durante sua vida política e análise das pesquisas de aprovação do governo Lula durante seu segundo
mandato e das pesquisas de intenções de votos realizadas entre 2009 e agosto de 2010. Neste
procedimento foi possível identificar o processo realizado, através das estratégias do marketing
político, para criar identificação da futura candidata com o atual presidente, tendo em vista as
eleições de 2010.A condução desse processo de identificação mostra-se bem realizada, como
podemos observar pelos números das ultimas pesquisas, que indicam uma vitória da candidata
Dilma Roussef ainda em primeiro turno; sendo este, talvez, o maior e mais importante exemplo de
transferência de votos em uma eleição presidencial realizada noBrasil.
INTRODUÇÃO
Apesar da questão da transferência de votos ser de extrema dificuldade para ser quantificada,
podemos avaliar sua importância antes de um pleito eleitoral através das alianças realizadas pelos
candidatos. Sempre que um candidato planeja a próxima campanha ele delimita sua área de atuação
e sua rede de apoios, sempre com vistas aos votos que essas estratégias podem agregar a sua
campanha.
Com relação à eleição presidencial de 2010 temos um exemplo de uma candidatura apoiada
firmemente encima da continuidade, uma campanha na qual a transferência de votos se faz
essencial para o sucesso nas urnas.
No pleito estudado verificamos que foi realizado um grande trabalho de imagem pública da
candidata Dilma Roussef nos últimos anos, com o objetivo de unir a imagem de grande aceitação do
Presidente Lula à de sua candidata.
No dicionário Aurélio, uma das definições de Imagem (do latim imagine) é “aquilo que
evoca uma determinada coisa, por ter ela semelhança ou relação simbólica”, e percebemos que nos
últimos dois anos foi realizado um trabalho de imensa identificação entre Lula e Dilma.
Segundo Manhanelli (1992) O objetivo do marketing eleitoral consiste em
implantar técnicas de marketing político e comunicação social integrados, de forma
a angariar a aprovação e simpatia da sociedade, construindo uma imagem do
candidato que seja sólida e consiga transmitir confiabilidade e segurança à
população elevando o seu conceito em nível de opinião pública.
Ora, se é necessário criar uma imagem sólida, confiável e que tenha a simpatia da sociedade,
nada mais sensato que unir a imagem da candidata à do presidente, já que sua imagem tem todos
esses atributos. E fazer essa união de maneira extrema!
Dilma Roussef nasceu em Belo Horizonte, Minas Gerais, no dia 14 de dezembro de 1947. É
de família de classe média alta e tradicional.Na sua juventude se interessou pelos ideais socialistas,
principalmente ao pensamento de Rosa Luxemburgo e Leon Trotski; passando a participar de
diversos grupos revolucionários contra a Ditadura instituída em 1964, como a Organização
66
Entre 1970 e 1972 foi presa e torturada pela ditadura, em 1973 muda-se, então, para Porto
Alegre, onde cursa a Faculdade de Ciências Econômicas, na Universidade
Federal do RS, recomeçando sua vida junto com seu ex-marido Carlos Araújo. Participa da
fundação do PDT (Partido Democrático Trabalhista) de Leonel Brizola.
Em Porto Alegre iniciou sua carreira política, sempre em secretarias e assessorias, sendo:
secretária da Fazenda da Prefeitura de Porto Alegre entre 1986 e 1989, presidente da Fundação de
Economia e Estatística do Estado do Rio Grande do Sul de 1991 à1993 e secretária de estado de
Energia, Minas e Comunicações em dois governos: Alceu
Collares (PDT) e Olívio Dutra (PT).
No governo Lula, Dilma participou da elaboração do plano nacional de energia durante a
campanha, sendo depois nomeada ministra da pasta das Minas e Energia entre 2003 e junho de
2005.
Em 2005, Dilma Roussef assumiu como Ministra-Chefe da Casa Civil, substituindo, o
homem forte do governo Lula, José Dirceu, afastado após denuncias de corrupção.Como Ministra-
Chefe da Casa Civil participou de vários projetos importantes do governo Lula, sendo o principal
deles o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).Em 31 de março de 2010 para pleitear a
candidatura à Presidência da República,Dilma Roussef se licenciou do governo Lula.
O mesmo trabalho de imagem foi realizada nos dois últimos anos com DilmaRoussef, antiga
“companheira de batalhas e de armas”.Cirurgias plásticas, cortes de cabelos, lentes de contato,
mudanças de vestuários e, principalmente, de postura alteraram significativamente as características
físicas da futura candidata, dando – lhe uma aparência mais suavizada e mais agradável ao
público.Essas mudanças, aliadas à história de ativismo partidário e a experiência na máquina
governamental aumentaram a boa receptividade da candidata pelos eleitores do Presidente Lula.
Como podemos observar pelo gráfico da figura 1abaixo, o Presidente Lula iniciou seu
segundo mandato com aprovação de 48% e manteve-se em uma constante de crescimento, com
pequena queda de popularidade em março e maio de 2009. Sendo que na última pesquisa utilizada
para este trabalho atingiu aprovação de 79% em agosto de 2010.
68
Figura 1
O gráfico acima foi elaborado nas pesquisas realizadas por diversos institutos conforme
demonstrados abaixo, para a resposta à pergunta: Na sua opinião, o presidenteLuiz Inácio Lula da Silva
está fazendo um governo ótimo, bom, regular, ruim ou péssimo?
0/3/2010 77 18 4 1 Vox
25/3/2010 76 20 4 1 Data Folha
6/3/2010 75 19 5 1 Ibope
24/2/2010 73 20 5 1 Data Folha
25/1/2010 71,5 22 5,8 0,9 Sensus
14/12/2009 72 21 6 1 Data Folha
26/11/2009 72 21 6 0 Ibope
16/11/2009 70 22,7 6,2 1,2 Sensus
11/9/2009 69 22 9 0 Ibope
31/8/2009 66,4 26,6 7,2 1 Sensus
11/8/2009 67 25 8 1 Data Folha
31/7/2009 69 25 6 0 Vox
29/5/2009 68 24 8 0 Ibope
26/5/2009 69 24 6 1 Data Folha
25/5/2009 68,8 23,9 5,8 0,6 Sensus
27/3/2009 62,4 29,1 7,6 1 Sensus
16/3/2009 65 27 8 0 Data Folha
11/3/2009 64 25 10 1 Ibope
26/1/2009 72,5 21,7 5 0,8 Sensus
8/12/2008 71,1 21,6 6,4 1 Sensus
5/12/2008 73 20 6 0 Ibope
25/11/2008 70 23 7 0 Data Folha
69
19/9/2008 69 23 8 1 Ibope
15/9/2008 68,8 23,2 6,8 1,2 Sensus
8/9/2008 64 28 8 1 Data Folha
20/6/2008 58 29 12 1 Ibope
21/4/2008 57,5 29,6 11,3 1,8 Sensus
25/3/2008 55 33 11 1 Data Folha
19/3/2008 58 30 11 1 Ibope
11/2/2008 52,7 32,5 13,7 1,3 Sensus
30/11/2007 51 31 17 0 Ibope
26/11/2007 50 35 14 1 Data Folha
13/9/2007 48 32 18 1 Ibope
1/8/2007 48 36 15 1 Data Folha
28/6/2007 50 33 16 1 Ibope
28/3/2007 49 33 16 1 Ibope
19/3/2007 48 37 14 1 Data Folha
Para realizar a união das imagens de Lula e Dilma foi necessário alguns riscos. Como a
superexposição da futura candidata em todos os meios possíveis. Por isso a agenda da Presidência
da República privilegiou projetos ligados ao nome da então ministra, sendo muitas vezes acusados
de campanha eleitoral antecipada.
Tais atitudes resultaram em sete multas à futura candidata por propaganda antecipada e três
multas ao Presidente Lula, também por campanha antecipada.
70
Entretanto, podemos avaliar como positiva esta estratégia de marketing através das pesquisas de
opinião pública.
Durante 2009 o cenário político para a disputa presidencial estava totalmente indefinido, os
dois principais partidos (PT e PSDB) que realizariam a principal disputa ainda estavam indecisos
sobre seus candidatos e outros partidos testavam nomes que pudessem pesar no momento da
eleição.
brancos, nulos,
Dilma José Ciro Aécio Heloísa indecisos/não
Rousseff Serra Gomes Neves Helena sabem ou não
Data (PT) (PSDB) (PSB) (PSDB) (PSOL) responderam
16-19.mar.2009 11 41 16 11 21
16-19.mar.2009 12 25 17 17 28
16-19.mar.2009 13 47 15 26
16-19.mar.2009 16 22 26 36
16-19.mar.2009 11 35 14 12 12 17
brancos,
nulos,
Dilma José Marina Ciro Aécio Heloísa indecisos/não
Roussef Serra Silva Gomes Neves Helena sabem ou não
Data Instituto f (PT) (PSDB) (PV) (PSB) (PSDB) (PSOL) responderam
11-14.set.2009 Ibope 14 34 8 14 8 23
11-14.set.2009 Ibope 16 8 25 12 11 28
11-14.set.2009 Ibope 15 35 8 17 24
11-14.set.2009 Ibope 18 11 28 13 31
11-14.set.2009 Ibope 15 34 17 10 24
11-14.set.2009 Ibope 17 27 12 13 30
brancos, nulos,
Dilma José Marina Ciro Aécio indecisos/não
Rousseff Serra Silva Gomes Neves sabem ou não
Data Instituto (PT) (PSDB) (PV) (PSB) (PSDB) responderam
11-14.dez.2009 Vox Populi 17 11 23 25 26
71
Pelas pesquisas acima se percebe que a candidata Dilma oscila muito de pesquisa a
pesquisa e os possíveis candidatos do PSDB sempre tem vantagem no pleito.
brancos, nulos,
Dilma indecisos/não
Rousseff José Serra Marina Silva sabem ou não
Data Instituto (PT) (PSDB) (PV) responderam
30-31.mar.2010 Vox Populi 31 34 5 20
30-31.mar.2010 Vox Populi 33 38 7 22
25-26.mar.2010 Datafolha 27 36 8 18
25-26.mar.2010 Datafolha 30 40 10 20
25-26.mar.2010 Datafolha 29 39 9 20
20-21.mai.2010 Datafolha 36 36 10 15
31.mai-3.jun.2010 Ibope 37 37 9 17
19-21.jun.2010 Ibope 40 35 9 16
27-30.jun.2010 Ibope 39 39 10 13
30.jun-1°.jul.2010 Datafolha 38 39 10 12
20-23.jul.2010 Datafolha 36 37 10 14
26-29.jul.2010 Ibope 39 34 7 19
2-5.ago.2010 Ibope 39 34 8 19
9-12.ago.2010 Datafolha 41 33 10 14
12-15.ago.2010 Ibope 43 32 8 16
20.ago.2010 Datafolha 47 30 9 12
23-24.ago.2010 Datafolha 49 29 9 12
24-26.ago.2010 Ibope 51 27 7 14
31.ago-2.set.2010 Ibope 51 27 8 13
2-3.set.2010 Datafolha 50 28 10 11
8-9.set.2010 Datafolha 50 27 11 10
Nas últimas pesquisas avaliadas para este estudo para intenção de voto à presidência,
considerando apenas os votos válidos, temos o seguinte cenário:
8-9.set.2010 Datafolha 56 30 13
2-3.set.2010 Datafolha 56 32 11
23-24.ago.2010 Datafolha 55 33 10
9-12.ago.2010 Datafolha 47 38 12
73
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Será que ela realmente dará continuidade neste governo que possui aceitação/aprovação e
confiança de mais de 80% da sociedade brasileira? Ou, como já houve outros exemplos, seu
governo destoara deste que estamos e nos mostrará que as ações dos últimos anos foi realmente
apenas uma imagem?
74
REFERÊNCIAS
Sites da internet:
www.ibope.com.br
www.voxpopuli.con.br
www.datafolha.folha.uol.com.br
www.sensus.com.br
75
PARTE II
_________________________________
PESQUISA E COMUNICAÇÃO DE GOVERNO NO CONCEITO
PÓS-ELEITORAL
76
RESUMO
INTRODUÇÃO
No Brasil, o tema eleição ganha força em anos eleitorais, nos quais se passam a
discutir sobre os rumos e atitudes da população perante a escolha de candidatos e/ou
partidos políticos.
Entender como este processo acontece e quais são as possíveis influências e
impactos que as pessoas recebem na escolha de seus candidatos é fundamental para
compreender o comportamento dos eleitores nas urnas.
O processo político e eleitoral é um exercício de cidadania cujo resultado
impacta coletivamente uma localidade, uma região, um estado e a nação. Neste
processo, cada ação individual tem repercussão na sociedade. Dessa forma, o voto
consciente passa a representar o anseio de uma sociedade que busca superar suas
adversidades e desafios por meio da escolha de candidatos que possam responder às
suas necessidades, conhecer seus problemas e satisfazer suas expectativas sócio-
culturais e econômicas.
A tomada de consciência para a importância do voto se constitui em um grande
desafio a ser superado, pois o cenário político brasileiro é caracterizado pela falta de
informação, a banalização de discursos e promessas, a corrupção, a pouca instrução da
população de forma geral, afastam a possibilidade de um processo eleitoral justo e
transparente.
Considera-se um compromisso social da comunicação levar até a sociedade
informações qualitativas, de relevância social e política, que agreguem aprendizados e
reflexões e que possibilitem gerar mais autonomia ao indivíduo para o pleno exercício
da sua cidadania.
Na esteira desta reflexão, reconhece-se o papel e a função da comunicação na
sociedade como provedora e promotora de um espaço público de debates, interlocuções,
imagens, sons e movimentos que criam representações, geram embates ideológicos,
negociam visões de mundo.
A comunicação se destaca como um processo indispensável na construção do
cenário político e um importante instrumento para gerar diálogos, promover
esclarecimentos, disseminar informações consistentes.
Parte-se do pressuposto de que o processo de tomada de consciência do cidadão
para a importância do voto ou no sentido inverso – de alienação - se dá em uma arena
comunicacional, na qual vários elementos culturais, sociais, econômicos e
78
1993), mantida por crenças e objetivos comuns (Teoria sistêmica de Merton, 1957), ou
pela existência de conflitos nos sistemas (Teoria dialética de Bottomore, 1979).
A METODOLOGIA DA PESQUISA
CONSIDERAÇÕES
Este estudo procurou contribuir para uma reflexão sobre o papel da pesquisa de
opinião na comunicação e gestão da participação política nas eleições. Coloca a
discussão, sobre a comunicação como agente instigador da participação política, em um
enfoque diferente do de décadas anteriores, pois supõe que esta vá além da eficácia
eleitoral, se apresentando como potencializadora de um cenário mais consistente em
relação à política a médio e a longo prazo. Em outras palavras, se a política depende da
memória coletiva de um povo, geri-la significa compartilha-la - a partir de pesquisas –
reutilizando-a no discurso político.
Neste sentido, os grupos focais realizados levantaram os fatores preditores e
catalisadores da participação política, a fim de compreendê-los e utilizá-los em uma
Campanha Institucional com vistas a incitar maior participação no ato de escolha dos
representantes a Assembléia Legislativa e a Câmara Estadual.
Assim, sem a pretensão de esgotar o tema, apresentamos os dados da pesquisa
com algumas análises das variáveis determinantes do comportamento do eleitor
bauruense e seus anseios, além de citar a Campanha de Comunicação efetivada com
base nos resultados. Esta pretendeu contribuir no diálogo com os eleitores, informando-
os e buscando transformar a realidade a partir dos interesses do atores envolvidos no
processo eleitoral.
E ainda, como uma das condições liminares para o exercício da comunicação, é
sem dúvida, conhecer a opinião dos públicos com os quais está em contato, este estudo
propiciou aos alunos, a oportunidade de vivenciar a aplicação das técnicas e dinâmicas
de grupos características da pesquisa qualitativa, não com exemplos fictícios, mas com
situações reais. E, também aplicar os conhecimentos teóricos adquiridos no Curso de
Comunicação enfrentando situações de críticas e conflitos, exigindo capacidade de
discernimento e iniciativa, durante o desenvolvimento e execução do trabalho.
Em uma das teorias sobre as democracias contemporâneas, Powell (1992), alerta
para o desenvolvimento econômico que tem um pequeno impacto sobre a participação
eleitoral, mas está fortemente associado à participação do cidadão, pois a medida que a
mobilização cognitiva se desenvolve, o povo mais educado e especializado necessita de
autonomia e julgamento individual, tornando-se menos permeável ao controle
hierárquico centralizado.
88
Nossa análise aponta que as pessoas se apoiam cada vez menos em estruturas
organizacionais permanentes tais como sindicatos, partidos políticos ou propagandas
eleitorais, eles “filtram” ou se “abastecem” de informações na mídia, das relações
pessoais, da sensação de bem estar (feelgoodfactor) e das próprias condições objetivas
da sociedade. E as campanhas eleitorais? Fazem justamente a “ponte” entre estes fatores
e os políticos. Obviamente os impactos e a relevância delas na decisão do eleitor são
significativos.
Nesta perspectiva, o processo de adesão dos eleitores não se trata de
“convencimento”, mas de uma serie de condições. O desenvolvimento sócio-econômico
pode encorajar a formação de organizações políticas, envolvimento em campanhas,
convencimentos de outros, mas não necessariamente geram uma maior participação
eleitoral, ou uma participação dos cidadãos junto ao governo. Isto porque os eleitores
tendem a não prestar atenção em informações políticas exceto no período eleitoral
quando recorrem a informações para subsidiar suas atitudes ou a decisão de seu voto.
Portanto, o resultado do estudo ainda é parcial, na medida em que não se
efetivaram as avaliações da Campanha de Comunicação em relação às eleições de 2010.
Neste caso, assim como todas as mudanças significativas da percepção da realidade,
esta nova releitura, do valor da comunicação no contexto político do indivíduo, é
analisada como estratégia para o desenvolvimento humano e ampliação da
representatividade política. Espera-se que após as eleições, seja possível articular os
resultados alcançados e as ações da pesquisa e da Campanha de Comunicação
empreendidas destacando os impactos e as contribuições desta experiência.
Vale ainda destacar que a realidade do clima eleitoral, não pode nunca ser
reduzida aos valores da comunicação, como já citado, inúmeras estratégias são
utilizadas para entender o eleitor e o processo de decisão.
Assim, após as eleições talvez possamos aquilatar melhor esta influencia a partir
do índice de votos nulos e de votação de candidatos de Bauru, pois perceber como a
comunicação pode gerar influencia no comportamento eleitoral é fundamental para
compreender o comportamento dos eleitores nas urnas.
89
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Notas
i
– Entendendo política como originária da polis, que significa tudo o que se refere à cidade e,
conseqüentemente, o que é urbano, civil, público e até mesmo sociável e social, ou como forma de
atividade humana que está estreitamente ligada ao poder (Hobbes) . Ou ainda, analogamente, como
conjunto dos meios que permitem alcançar os efeitos desejados (Russel). Apesar da expressão
Participação política se prestar a diversas interpretações, formas e níveis de participação, esta
estarásendo utilizada em um sentido reservado, para todas as situações em que o indivíduo contribui
direta ou indiretamente para uma decisão política. Esta contribuição direta se expressa em contextos
políticos mais restritos, enquanto a contribuição indireta aparece tanto na escolha do pessoal dirigente
(ato de votar), como nas esferas religiosa, econômica, cultural e outras, já que se pode participar ou tomar
parte de alguma coisa de modos bem diferentes (Bobbio, 1998).
90
2
Paulo Cezar ROSA
Universidade Metodista de São Paulo
RESUMO
Esta pesquisa tem por objetivo discutir o papel das emissoras públicas de comunicação
no Brasil na formação cultural e na construção de uma cidadania política para os
brasileiros. Pretende refletir sobre a autonomia da TV Pública no momento em que se
solidifica a radiodifusão no Brasil. A metodologia é de caráter exploratório e de
natureza qualitativa. O veículo de comunicação, objeto deste estudo, é o canal de
Televisão - TV Brasil. Se pretende realizar uma revisão dos conceitos comunicacionais
e analisar como esse veículo de comunicação aborda aspectos da autonomia a partir dos
princípios e das recomendações estabelecidas no “Manifesto pela TV Pública
independente e democrática”, trabalho este oriundo do I Fórum Nacional de TVs
Públicas realizado em maio de 2007 em Brasília. Nossa análise evidenciou que existe
uma clara dependência do poder público, portanto não possui autonomia e
independência contrariando o princípio de que a TV Pública deve ser independente e
autônoma em relação a governos e ao mercado.
INTRODUÇÃO
poder inerentes ao processo e aos diferentes grupos de interesse nelas envolvidos a fim
de justificar a hipótese aqui levantada.
COMUNICAÇÃO
O século XIX foi o período de nascimento das noções fundadoras de uma visão
holística da comunicação. Na opinião de Mattelart e Mattelart (2005, p.13) o fator de
integração das sociedades humanas foi a comunicação “[...] centrada de início na
questão das redes físicas, e projetada no núcleo da ideologia do progresso, a noção de
comunicação englobou, no final do século XIX, a gestão das multidões humanas”.
Para discutir a questão da gestão das multidões humanas, Armand e Michele
Mattelart fazem a seguinte indagação: “Qual a natureza da nova sociedade anunciada
pelairrupção das multidões na cidade? Em torno dessa questão se forma, nas duas últimas
décadas do século XIX, a problemática da “sociedade de massa” e dos meios de difusão de
massa, seus corolários” (Mattelart e Mattelart 2005, p.21).
Esses mesmos autores recordam que é no livro de Harold D. Lasswell,
PropagandaTechniques in the Word War, que extrai as lições de guerra ocorridas entre
1914 e 1918 edesta maneira afirmam que é a primeira peça do dispositivo conceitual da
corrente da MassCommunicatiolResearchdatada de 1927.
Os meios de difusão surgiram como instrumentos indispensáveis para a
gestão governamental das opiniões, tanto de populações aliadas como de
inimigas, e, de maneira mais geral, partindo das técnicas de comunicação, do
telégrafo e do telefone para o cinema, passando pela radiocomunicação,
deram um salto considerável. (MATTELART E MATTELART, 2005, P.37).
Para refletir sobre a comunicação, recorro a Wolton (2003, p.7). O autor destaca
que há décadas tenta compreender o que chama de estatuto da comunicação das
sociedades e afirma “[...] Se a comunicação é uma questão muito antiga da humanidade,
a explosão de técnicas há um século modificou consideravelmente seu estatuto”.
Lembra ainda que a comunicação passou do telefone ao rádio, da televisão à
informática e hoje aos multimídias e desta maneira evolutiva tem se tornado cada vez
mais eficaz.
MacLuhan, em seu artigo “Visão, som e fúria” publicado em Adorno et al (1978
p.151) discorre que “antes da imprensa, um leitor era alguém que discernia e sondava
enigmas. Após a imprensa, passou a significar alguém que corria os olhos, que se
escapulia ao longo das superfícies macadamizadas do texto impresso”. Com base nessa
afirmação MacLuham analisa que na época atual chegamos a aliar a habilidade de ler
rapidamente com a distração em detrimento da sabedoria. E observa (1978, p.152) “Se
93
PÚBLICOS
É importante apresentar conceito, classificação e também a instrumentalização
utilizadas por diferentes autores para “públicos” nas ações, utilizadas no trabalho
profissional dos comunicadores.
Ao examinar os públicos em sua variedade e dimensão, não são no todo
monolítico e sim um mix complexo de grupos. Esse mix complexo traz uma dificuldade
em precisar o exato sentido. A variedade e a dimensão remetem-me a avaliar os
públicos com uma amplitude e podem-se considerar vários públicos ou multipúblicos.
Os multipúblicos podem ser identificados ou localizados em qualquer interação
social ou conforme afirma França (2004, p.22) “[...] quando o conceito é visto sob os
ângulos geográfico, territorial, sociológico ou como representante de segmentos da
sociedade [...]”.
França ainda exemplifica alguns públicos especiais, como os da terceira idade,
dos jovens, grupos políticos, associações civis estruturadas, sindicatos, grupos
religiosos, ONGs etc. Para esses grupos especiais, admite o autor, até há a existência de
públicos pré-estabelecidos, denominação esta para referir-se a membros associados em
torno de um interesse comum.
97
TV PÚBLICA
De acordo com Briggs e Burke (2004, pg.179) “O Scanner eletrônico, que se
tornou a chave da televisão, foi identificado por Campbell Swinton em 1908.” Um
século foi necessário para discutirmos com mais profundidade no Brasil sobre o avanço
da ciência e tecnologia na vida da sociedade que requer uma cultura científica mais
difundida, assegurando um mínimo de compreensão ao cidadão comum sobre o impacto
provocado pelas políticas governamentais na área de Ciência e Tecnologia – C&T.
Por outro lado, também se precisa então de uma linguagem acessível ao grande
público. Este é o papel que cabe aos meios de comunicação. Desta forma, o cidadão
comum poderá compreender e participar das decisões dos governos por meio de suas
diferentes representações e organizações sociais.
O I Fórum Nacional de TVs Públicas, realizado em Brasília no mês de maio de
2007, foi um esforço conjunto para disseminar o conhecimento científico com a
participação das associações do campo público da televisão brasileira – Associação
Brasileira de Emissoras Públicas, Educativas e Culturais (Abepec), Associação
Brasileira de Canais Comunitários (ABCCom), Associação Brasileira de Emissoras
Universitárias (ABTU) e Associação Brasileira de Televisões e Rádios Legislativas
(Astral) – e das organizações da sociedade civil, que ao tomarem parte deste processo,
dele se apropriaram, difundindo-o e ampliando. Abaixo transcrevemos o Manifesto pela
TV Pública independente e democrática:
Nós, representantes das emissoras Públicas, Educativas, Culturais,
Universitárias, Legislativas e Comunitárias, ativistas da sociedade civil e
militantes do movimento social, profissionais da cultura, cineastas, produtores
independentes, comunicadores, acadêmicos e telespectadores, reunidos em
Brasília, afirmamos, em uníssono, que o Brasil precisa, no seu trilhar em busca
da democracia com igualdade e justiça social, de TVs Públicas independentes,
democráticas e apartidárias. Nove meses transcorridos desde o chamamento para
o 1º Fórum Nacional de TVs Públicas, uma iniciativa pioneira do Ministério da
Cultura, por meio da Secretaria do Audiovisual, com apoio da Presidência da
República, podemos afirmar que este nosso clamor soma-se aos anseios da
sociedade brasileira. Neste processo, o Brasil debateu intensamente a televisão
que quer e pretende construir, quando estamos à porta da transição para a era
digital. Nesse período, superamos a dispersão que nos apartava de nós mesmos e
descobrimos uma via comum de atuação, que tem como rota o reconhecimento
de que somos parte de um mesmo todo, diverso e plural, complementar e
99
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nossa análise demonstra que existe uma clara evidência nas indicações do
Conselho Curador e da participação do governo federal no orçamento que permite a
sustentação financeira da TV Pública, o que num primeiro momento proporciona uma
condição favorável para que ela possa se desenvolver, desde que sua autonomia seja
assegurada.
Porém no que diz respeito à autonomia, recorremos ao Manifesto da TV Pública
de 11 de maio de 2007 onde diz o seguinte:
A TV Pública deve ser independente e autônoma em relação a governos e ao
mercado, devendo seu financiamento ter origem em fontes múltiplas, com a
participação significativa de orçamentos públicos e de fundos não-
contingenciáveis; as diretrizes de gestão, programação e a fiscalização dessa
programação da TV Pública devem ser atribuição de órgão colegiado
deliberativo, representativo da sociedade, no qual o Estado ou o Governo não
devem ter maioria;
REFERÊNCIAS
BRIGGS, Asa; BURKE Peter. Uma história social da mídia: de Gutemberg à internet.
Tradução de Maria Carmelita Pádua Dias. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004.
DEBORD, Guy. A sociedade do espetáculo. Tradutor Estele dos Santos Abreu. Rio de
Janeiro: Contraponto, 1997.
FONSECA JUNIOR, Wilson Corrêa da. Análise de Conteúdo. In: DUARTE, Jorge;
BARROS, Antonio (Orgs). Métodos e Técnicas de Pesquisa em Comunicação. São
Paulo: Atlas, 2005, p.280-304.
FRANÇA, Fábio. Públicos – Como identificá-los em uma nova visão estratégica. São
Caetano do Sul, São Paulo: Yendis Editora, 2004.
Alessandra CASTILHO
Ana Paula DUTRA
Universidade Metodista de São Paulo
RESUMO
PALAVRAS-CHAVE:
INTRODUÇÃO
A comunicação realizada pelos órgãos públicos, a chamada comunicação
governamental, sejam eles a administração direta em seus diversos níveis e esferas,
empresas, autarquias ou entidades educacionais, é muito mais do que uma ferramenta de
divulgação ou promoção, ou então um importante braço da administração e da gestão,
como acontece em uma entidade privada. A sua prática é uma obrigação em seu sentido
mais estrito. Segundo Novelli (2006), a comunicação pública deve ser compreendida
como:“O processo de comunicação que ocorre entre as instituições públicas e a
sociedade e que tem por objetivo promover a troca ou compartilhamento das
informações de interesse público”.
Porém, é fato que a comunicação governamental há mais de dez anos vêm se
especializando em ser mecanismo de autopromoção e ferramenta importante para
políticos e partidos, principalmente em épocas eleitorais e nos meses que a antecedem.
É o chamado “uso da máquina” mesclado à falta de isenção dos veículos de
comunicação. Segundo Gnere (2007):
“o discurso jornalístico não é isento, uma vez que é construído a partir
de uma linguagem e de um quadro de referência que são dados como
implícitos, mas que constituem verdadeiros filtros da comunicação”.
A comunicação em sua essência vem ganhando cada vez mais destaque nas
organizações, sejam elas públicas ou privadas, que despertaram para a importância da
comunicação como ferramenta estratégica para que se consiga criar uma boa reputação
para seus diversos públicos. Tal afirmação é endossada por Bueno (2000) que afirma:
“a comunicação empresarial evoluiu de seu estágio embrionário, em
que se definia como mero acessório, para assumir, agora, uma função
relevante na política negocial das empresas. Deixa, portanto, de ser
atividade que se descarta ou se relega a segundo plano, em momentos
de crise e de carência de recursos, para se firmar como insumo
estratégico, de que uma empresa ou entidade lança mão para idealizar
clientes, sensibilizar multiplicadores de opinião ou interagir com a
comunidade”.
Lesly (1995) concorda com Neves ao dizer que “As forças que estão causando
os maiores problemas para as administrações de todos os tipos de organizações são,
quase sempre, as atitudes públicas – Interferências governamentais, aqui incluídas as
políticas fiscais”.
No caso das organizações públicas, um fator bastante importante pode mudar
completamente seus planos de negócios, respingando diretamente nas atividades da
comunicação. A mudança de governo pode significar para estas corporações um novo
fôlego para tocar projetos antes engavetados ou uma grande preocupação com os rumos
da atividade caso o novo governo não contemple investimentos e apoio às atividades
iniciadas no governo anterior. Neste sentido, Torquato (2004) atenta para os perigos
dessa interferência política, ao afirmar que:
“quando se coloca em pauta o planejamento da comunicação para o
sistema público, deve-se considerar a grave realidade de um Estado
que deixou de ser capaz de planejar e executar consistentemente
qualquer política. A hipertrofia do Estado é fruto tanto de fatores
endógenos – como a propensão da burocracia para cair nas malhas da
acomodação, a incapacidade de controlar resultados – como de fatores
exógenos (fisiologismo dos partidos políticos, o compadrismo na
contratação de quadros, o clientelismo, o familismo amoral e o
mandorismo regional, entre outros fatores)”.
redigem a matéria.
O tipo de jornalismo “oficialista” do qual aqui se fala só se preocupa
em ouvir as vozes institucionais, das autoridades competentes. É o
jornalismo dos representantes, dos que exercem o poder na sociedade.
Os representados não são ouvidos, afinal que conhecimentos ou
informações eles podem oferecer? Na lógica da representação e da
autoridade institucional, nenhuma. Isso se opõe à proposta que aqui se
quer apresentar, do jornalismo enquanto um processo social, plural,
que contemple as diversas vozes e as diferentes idéias que constituem
a sociedade”(SILVEIRA, 2003, p. 123-4).
Essa situação fica ainda mais evidente em épocas eleitorais. Enquanto alguns
políticos utilizam-se das organizações públicas criadas durante seu governo como
publicidade pessoal, exemplificando ações realizadas em prol da sociedade, os
opositores procuram nestas mesmas organizações falhas grandes ou pequenas, mas que
com a devida difusão podem interferir negativamente na campanha do candidato. Para
Pierre Zémor (1990) esta relação é um tanto delicada:
“Informações tornadas públicas pelas organizações públicas, as
campanhas de publicidade veiculadas por órgãos do governo em datas
específicas, a propaganda de candidatos em períodos eleitorais, as
informações passados à imprensa sobre lançamentos de produtos ou
de eventos pelas assessorias de entidades públicas contribuem
claramente no resultados de pesquisas de opinião e em clippings de
notícias”
A ideia é complementada por Neves (1998, p.320), que acredita que grande parte
deste problema poderia ser sanado por uma comunicação interna eficiente, que na
opinião do autor, é sempre deixada de lado pelo poder público:
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A comunicação pública, como definição teórica, não passa de mera utopia. Nos
dias atuais, o planejamento praticado pelas áreas de comunicação governamental pouco
tem em comum com a definição clássica da matéria, a função de informar e ser a
ferramenta de comunicação entre poder publico e a população. Com matérias de
interesse publico.
112
REFERÊNCIAS
GNERRE, Maurizio. Linguagem, Escrita e Poder, São Paulo, Martins Fontes, 2007
Andréa Firmino de SÁ
Centro Paula Souza / FMU/FIAM/FAAM
RESUMO
No atual sistema eleitoral brasileiro, pós-redemocratização nacional, ocorrida na década
de 80, o posicionamento dos partidos políticos na condução de diretrizes para os seus
filiados, sendo gestores públicos ou militantes foi de extrema importância para o
fomento organizacional de políticas públicas aderentes à identidade adotada pelos
grupos partidários, normalmente amparados desde a sua fundação e desenvolvimento do
estatuto de constituição, por correntes ideológicas, sociais, econômicas e políticas.
Porém, com o decorrer dos anos, e com a criação de dezenas de partidos de pequena
expressividade nacional, difundir normatizações de gerenciamento e projetos políticos
tornou-se um desafio, e, de modo concomitante deveras estratégico quanto ao fomento
das ações de comunicação governamental. O objetivo do artigo é demonstrar a
importância das ações de comunicação governamental nas diversas escalas do poder,
bem como aderir com o estudo das diretrizes gerais do Partido Verde (PV), relacionadas
à sustentabilidade e meio ambiente, instaurados nos discursos do seu grupo de
representação, em pleitos executivos e legislativos.
-
Mestre em Comunicação Social, Publicitária e Docente nas instituições de ensino superior: FMU, FAMA e
CEETEPS, todas no estado de São Paulo. Participante do Grupo de Estudos de Economia e Mercado – ECOM.
-
Doutor em Comunicação Social, Propaganda Política, Mestre em Administração Pública, MBA em Marketing.
Docente Lato Sensu na Universidade Presbiteriana Mackenzie e Universidade Metodista de São Paulo. Docente de
graduação na FAMA, CEETEPS (FATEC Mauá), todos no estado de São Paulo. Consultor nas áreas de
Comunicação mercadológica e política. Presidente da POLITICOM.
115
INTRODUÇÃO
A comunicação governamental na última década deixa de ser tratada como
instrumento ferramental de comunicação de governo, para ser considerada uma
interface de potencialidade estratégica acentuada no sentido de promoção de um elo de
credibilidade e interação com a população e regionalidade.
Aliada ao conceito de Marketing Pós-Eleitoral, a comunicação de governo
eficiente procura se responsabilizar pelo desenvolvimento de ações comunicacionais
permitidas pela justiça eleitoral, evitando problemas acerca de denúncias eleitorais
durante todo o pleito eletivo de um político, seja no parlamento ou no executivo.
Esse conjunto de ações exige profissionalização do grupo que usualmente
gerencia campanhas eleitorais e departamentos de comunicação pública. Todavia, é de
responsabilidade dos partidos políticos propiciar aos seus filiados um caráter de
identidade com as políticas públicas adotadas, evitando desse modo, vários
desequilíbrios na visão comunicacional.
Integrar parâmetros e alinhar diretrizes governamentais contribui de modo
incisivo nas ações posteriores de fortalecimento partidário e, consequentemente nos
próximos pleitos eleitorais, nas diversas disputas de esferas do poder público. Apesar da
preocupação partidária iminente, muitos partidos pequenos não aderem com
responsabilidade esse comportamento, criando um problema de imagem do poder
público diante da sociedade brasileira.
Aderente à um grande percentual de eleitores com baixo grau de instrução e
formação política e ética democrática, tendenciosamente o ciclo eleitoral nacional se
modifica, deixando de ser regido por normatizações partidárias e ideológicas, para uma
linha de escolha personalista, de acordo com a empatia do candidato postulante à um
cargo político.
A escolha do Partido Verde para o desenvolvimento do artigo se deve a sua
amplitude internacional, sendo claramente trabalhada na sua estrutura brasileira,
diretrizes amparadas em todo o globo, com relação ao conceito de sustentabilidade,
meio ambiente e formas alternativas de desenvolvimento econômico.
No decorrer da análise é demonstrado como a ideologia partidária do PV no
Brasil se posiciona e consegue em grande parte aderir à imagem dos seus candidatos, no
sentido de proposituras, como também nas peças eleitorais veiculadas em períodos de
eleição.
116
PARTIDO E IDENTIDADE
Historicamente os partidos políticos criaram uma imagem, por meio de ícones
para representar e traduzir a ideologia partidária. Os símbolos criam identidade com os
eleitores. Identidade essa que pela “perspectiva da semiótica, toda mensagem de
marketing tem três componentes: um objeto, um signo ou símbolo e uma tradução”
(SOLOMON, 2008, p.92). O objeto representa o produto, serviço, bem ou imagem a ser
divulgada. O signo ou símbolo, por sua vez é a representação iconográfica da ideologia
ou característica e benefício e a tradução apresenta sua representatividade efetiva, ou
seja, a mensagem a ser enviada ao receptor.
Sendo assim é possível descrever diversos símbolos que representaram e ainda
representam partidos políticos, sua ideologia e em certos casos a imagem de um
determinado político.
Jânio Quadros, então, político filiado ao UDN – União Democrática Nacional
utilizou a vassoura como símbolo de sua campanha, demonstrando assim que a limpeza
seria a metáfora para a moralização. Foram desenvolvidos bottons utilizados pelos
simpatizantes além de seu jingle apresentar referências sobre o símbolo, o qual entrou
para a história.
O PTB – Partido Trabalhista Brasileiro, que não deve ser confundido com a
ideologia do atual PTB, na época tinha os ideais e a imagem voltada à causa dos
trabalhadores, entre outras ações ainda hoje é lembrado pela criação do salário mínimo.
Por sua vez, reforçando a observação sobre a imagem de determinados políticos,
a do PTB construída nos anos 1930 e 1940 foi a do próprio Getúlio Vargas. Sua
imagem gerava identidade com a população e foi criada durante o Estado Novo pelo
DIP – Departamento de Imprensa e Propaganda, que entre outras situações exaltava
Getúlio Vargas como “pai dos pobres”. Nesta época o DIP usava a foto do político em
diversas repartições públicas.
Além de criar O PTB, na mesma época, Vargas criou o PSD – Partido Social
Democrata, que também utilizava a imagem dele para gerar empatia com a população.
A imagem de Getúlio Vargas era tão forte, que além de criar os dois partidos conseguiu
manter sua influência sobre ambos, a tal ponto que ele conseguiu retornar ao poder
cinco anos após ter sido deposto.
Entre os diversos partidos existentes é possível observar dois deles com
destaque no cenário político atual. O PT – Partido dos Trabalhadores, que possui
tradição inspirada em Marx, é referenciado pela cor vermelha ligada ao socialismo e
117
COMUNICAÇÃO GOVERNAMENTAL
A comunicação de governo não acontece somente nas estruturas do executivo,
porém nesse poder é que ficam mais evidenciadas as ações comunicacionais,
decorrentes da sua amplitude ser maior. Normalmente o atrito promovido pelo poder
público com as mídias regionais ocorre pela má interpretação do cenário público com o
ambiente midiático.
Em muitos municípios de pequeno e médio porte, a preocupação em
disponibilizar pessoas de alto poder profissional para as funções de comunicação não
acontece, alimentando uma situação de falhas estratégicas na promoção de ações na
região, criando atritos desnecessários com os atores sociais, dificultando qualquer
trabalho posterior eleitoral.
Atualmente no mercado existe uma busca crescente por profissionais
especializados em Comunicação Pública, Jornalismo Público e Gestão Pública.
Utilizando teorias de comunicação de massa e estudos aprimorados de comportamento e
estímulo mercadológico, esses profissionais transitam por diversas áreas do
conhecimento, integrando análises comportamentais ligadas ao conceito de decisão do
eleitor.
Segundo Fontes (2006) este segmento profissional, relativamente
recente no Brasil, já encontra ressonância há mais de quatro décadas
nos Estados Unidos e Europa. Portanto, a visibilidade destes
profissionais está, também, diretamente ligada à alternância de poder,
ao aperfeiçoamento das regras democráticas, à necessidade de atender
de forma diferenciada aos grupos distintos de eleitores e à
impossibilidade do candidato manter contato direto e próximo com o
universo eleitoral numa sociedade cada vez mais complexa.
118
• protege e restaura a integridade dos ecossistemas da terra, com interesse especial para
a biodiversidade e os processos naturais que sustentam a vida;
• reconhece a inter-relação de todos os processos ecológicos, sociais e econômicos;
124
CONSIDERAÇÕES
Os símbolos são referências históricas no processo do pleito eleitoral e
principalmente na construção de imagem dos partidos e dos políticos. Mesmo na
sociedade contemporânea com a diversidade de recursos midiáticos para envolver o
eleitor, o símbolo ainda constitui parte importante desta construção.
- importante verificar que o presente artigo, além de observar os símbolos é
também um recorte no contexto do conteúdo de internet com o intuito de observar a
linguagem e as referências imagéticas utilizadas para empatia com a população.
Ressalta-se que os ícones: Os doze valores dos verdes e Carta Verde da Terra formam a
estrutura que compõe as diretrizes para a comunicação governamental e identidade
partidária.
125
REFERÊNCIAS
FONTES, Maurílio Lopes. O Marketing na Política: Mito e Realidade. São Paulo:
ABCOP, 2006.
GOMES, N. D. Opinião Pública & Marketing Político. Bauru: Editora FAAC, 2007.
RESUMO
INTRODUÇÃO
- Graduada em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo, pelo Centro de Ensino Unificado
de Teresina (CEUT). Especialista em Comunicação Empresarial pela Universidade Metodista de São
Paulo (UMESP). Mestranda em Comunicação Social pela mesma Universidade.
127
comunicação, e na TV não podia ser diferente. Talvez ela seja o meio mais aliado a essa
prática, pois além de som ela gera também imagem e movimento, com essas
ferramentas fica ainda mais fácil convencer o telespectador daquilo que está sendo
veiculado. Uma boa campanha de marketing eleitoral vence as eleições, podemos
observar nos horários políticos que os candidatos que possuem mais espaço de tempo
pra falar são os que melhor estão nas pesquisas.
O ponto alto dessa pesquisa, é a análise de um telejornal da TVT. Essa pesquisa
tem a finalidade de identificar se a emissora possuí vínculos estreitos com o PT e o
quanto isso pode influenciar nos critérios de noticiabilidade da emissora, além de
identificar se a TV é ética e atua com imparcialidade.
A INFLUÊNCIA DA TV NA SOCIEDADE
Preocupadas cada vez com mais com os lucros, algumas organizações televisivas
passaram a veicular informações manipuladas ou de interesse para a organização. Em
sua maioria apelando para o sensacionalismo, em busca de audiência.
A televisão possuí um grande poder de influência perante a sociedade, a teoria
do agenda setting, por exemplo, diz que as pessoas só discutem aquilo que está na
mídia. A mídia agenda a veiculação de determinado assunto e o trata com muito
destaque, ofuscando outros temas. Assim, a TV possuí a influência de pautar os
relacionamentos e os assuntos de uma sociedade.
Quando um jornalista precisar escolher entre duas notícias para apenas uma
delas ir ao ar, ele provavelmente não fará uma seleção arbitrária e subjetiva. O jornalista
provavelmente decidirá pela notícia que mais lhe interessa ou que trará mais audiência,
prestigio ou algum benefício favorável para a sua organização. Desse modo ele fará
com que uma sociedade acompanhe o ponto de vista dele, e assim influência a
sociedade que pense dessa mesma maneira.
A teoria do gatekeeper explica esse acontecimento dentro do âmbito
organizacional da TV.
O termo Gatekeeper significa ―Guardião do portal‖. Só por essa
definição já podemos notar claramente que a teoria repousa sobre o
processo de produção e seleção de notícias, partindo da ação pessoal do
profissional da área: o jornalista – mais especificamente na função de
editor, já que a figura do Gatekeeper mostra um agente que decide o que
se transformará efetivamente em fato ou acontecimento noticiado, ou se
será simplesmente descartado.
(BARREIRA, 2009)
Sandman (1994) nota que ―colocar informações técnicas na mídia não somente
é difícil; é também quase totalmente inútil‖. Portanto, buscando atingir de maneira
eficaz sua audiência, atraindo ainda mais a atenção dos telespectadores para a notícia,
talvez essa pessoa que faz o papel de gatekeeper seja o jornalista ou editor deixe
propositalmente de enfocar alguns detalhes que poderiam levar a uma avaliação mais
apurada da realidade, mas que não seriam do interesse imediato do leitor.
As imagens transmitidas pela TV têm o poder de envolver quem a assiste. A
sociedade pode mudar facilmente de opinião após acompanhar algum noticiário. Se um
determinado meio de comunicação ocultar informações que desfavoreçam determinado
político e noticiar apenas as que favoreçam ele, isso pode levar a população a acreditar
que tal político cumpre seu papel e a TV acaba influenciando às pessoas a votarem
nele.
129
Torquato entende que a comunicação governamental deve ser uma via de duas
mãos. Ou seja, as organizações precisam acima de tudo compreender a amplitude do
conceito de comunicação. Além de informar, de tornar público seus atos, os governos
precisam criar canais de comunicação que permitam que a sociedade manifeste sua
opinião, possa tirar dúvidas ou indicar sugestões de melhorias.
A partir desta visão, Lima (2002) defende como sendo fundamental que os
governos revejam sua estratégia que na maioria das vezes está pautada no envio de
releases, tendo como público prioritário a imprensa. Isso deve-se segundo o autor
130
O QUE É SINDICALISMO?
3
Com informações do Site do SINTSEF
132
Era Vargas
Esse fenômeno foi constituído inclusive pelo ABDC paulista (cidades de Santo
André, São Bernardo do Campo, São Caetano do Sul e Diadema). São Bernardo e
Diadema integraram uma frente de esquerda, concluindo o PCB, tendo importante
134
5
4. TV dos trabalhadores
4
Com informações do Site do PT
5
Com informações do Site da TVT ( TV dos Trabalhadores)
136
Foram 23 anos de luta pela concessão do canal, por que apenas em 2009 Lula
assinou o decreto, fazendo a outorga da emissora?
137
Por que o lançamento da TVT foi realizado faltando pouco mais de um mês para as
eleições?
Por que o Presidente Lula, como ‗estrela‘ do lançamento da TV?
Por que usar o lançamento como palanque eleitoral e induzir aos presentes a votarem
na Dilma?
O jornalismo da TVT é realmente imparcial?
Como uma TV que sofre influências partidárias consegue se livrar do conflito de
interesses para fazer um jornal imparcial?
Programa Seu Jornal dia 13/09/2010 – O dia em que todas as emissoras noticiaram
sobre o escândalo envolvendo a Ministra Chefe da Casa Civil, Erenice Guerra, a
emissora TVT não noticiou nada com relação ao suposto tráfico de influências.
Programa Seu Jornal dia 14/09/2010 – Com relação ao escândalo de tráfico de
influência na Casa Civil, o jornal apenas publicou uma nota pelada falando que a
Ministra Chefe, Erenice Guerra, solicitou à comissão de ética pública a abertura de
processo para apurar as denuncias contra ela e seu filho.
Programa Seu Jornal dia 16/05/2010 – Ficou clara a posição partidária da emissora
TVT ao relatar o escândalo da casa civil. O repórter da emissora, Valter Sanches,
emitiu opiniões durante a matéria feita em Brasília, onde ele diz o seguinte: -
―Elogiamos a postura da própria ministra em colocar a disposição seu sigilo
bancário, fiscal e telefônico; Ela mesma pediu a investigação da Comissão de Ética
Publica; E, de demissão para que não haja nenhuma dúvida quanto às investigações
em relação a essas denuncias. O repórter ainda agride outros meios de comunicação
dizendo: Uma coisa muito questionável é o fato dos veículos de imprensa utilizarem
pra embasar a denúncia usando falsas provas; falsas denuncias. E, se baseando em
testemunhas; acusadores, que tem passagem pela policia... E isso baseia-se uma
denúncia contra uma ministra de estado e isso visando efetivamente uma interferência
no processo eleitoral, para tentar vincular isso a disputa que estáem processo.
138
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
LIMA, Gerson Moréia. Muito além do releasemania. IN: BARROS FILHO, Clovis de
(org.). Comunicação na pólis – ensaios sobre mídia e política. RJ: Editora Vozes, 2002. p.
300.
PARTE III
_________________________________
UNIVERSO ELETRÔNICO E COMUNICAÇÃO POLITICA
140
Valéria AMORIS
Mestre em Comunicação (USCS)
e-mail: valeria-amoris@uol.com.br
Elias GOULART
Doutor em Engenharia Elétrica
Professor de Pós-graduação stricto sensu da USCS
e-mail: elias.goulart@uscs.edu.br
Arquimedes PESSONI
Doutor em Comunicação Social
Professor de Pós-graduação stricto sensu da USCS
-mail: pessoni@uscs.edu.br
RESUMO
O artigo aborda os conceitos e a importância do marketing político e das redes sociais nas
campanhas eleitorais, de 2010, dos principais candidatos à Presidência da República, de
acordo com as pesquisas eleitorais. Foram analisados os dispositivos de interação da Internet
dos candidatos - Orkut, Twitter e Youtube - como ferramenta de marketing político e o
impacto que podem causar numa campanha presidencial. A pesquisa utilizou a metodologia
exploratória e a pesquisa quantitativa para identificar o conteúdo das novas ferramentas. Entre
os principais resultados, identificamos que o uso das novas ferramentas de marketing ainda
carece de políticas de visibilidade por parte das equipes de comunicação e que seu impacto
nas urnas necessita de estudos qualitativos para ser mensurado.
INTRODUÇÃO
A Internet ganhou importância na campanha presidencial de 2010 frente a um número
afluente de usuários. Os principais candidatos tornaram-se ávidos “twitteiros”,
remodelaramseus sites para receber doações e até participaram de um debate online
(GRUDGINGS, 2010). Organizado pelo UOL e o jornal Folha de S.Paulo, o debate abarcou
as propostas e provocações dos candidatos, que foram transmitidas ao vivo no portal e as
informações repassadas para as redes sociais Twitter e Facebook em tempo real (PORTAL
UOL).
141
O termo marketing político vem sendo utilizado, nos últimos tempos, de forma
desordenada, o que contribui para uma confusão conceitual que esvazia seu significado. Por
essa razão, resgatamos brevemente, neste trabalho, os conceitos de marketing político e
apresentamos em uma versão adaptada a essa nova forma de organização social, ou seja, para
a sociedade do século XXI, também conhecida por estudiosos e pesquisadores como a
“sociedade da nova era” que traz conceitos de modernidade; agilidade; tecnologia, e
mudanças contínuas.
Primeiramente, vale destacar o conceito geral de marketing proposto por TORQUATO
(2002, p. 167-168) que enaltece de certa forma que os textos bibliográficos são consensuais
quanto ao conceito, colocando o marketing como uma avaliação das oportunidades, satisfação
de desejos e atividades dirigidas à estimulação de troca entre produtos e consumidores.
Torquato, sublinha, ainda, com precisão que “marketing é o conjunto de atividades
destinadasa promover relações de troca entre um emissor e um receptor, no momento certo,
por meio de canais adequados e mensagens apropriadas que atinjam o foco de interesses dos
segmentos-alvo”.
De acordo com KOTLER (1999, p. 25-26), o conceito de marketing consiste em
convidar o cliente a participar do projeto do produto. As novas empresas estão prontas para
tornar seus produtos, serviços e condições mais flexíveis, fazendo uso de meios de
comunicação mais direcionados, integrando suas atividades de marketing para transmitir uma
mensagem mais coerente para os clientes. O autor ressalta que:
(...) “faz-se uso de mais tecnologias, videoconferência, automação devendas,
softwares, páginas na Internet, intranet e extranets. Nessa nova abordagem,
as empresas estão disponíveis sete dias por semana, 24 horas por dia, em
linhas 0800, websites ou correio eletrônico. A capacidade de identificar
clientes mais lucrativos e estabelecer diferentes níveis de atendimento
aumenta. A visão dos canais de distribuição também foi modificada: agora
são vistos como parceiros, e não como adversários”.
Em resumo, Kotler diz que com o passar dos anos o marketing vem se transformando
em uma ferramenta de comunicação a qual as empresa utilizam para interagir com os clientes
e o mercado, e dessa maneira tentar adaptar-se com as exigências de seu publico para que
possam competir à altura com as empresas concorrentes.
143
(2002, p. 86):
“marketing político é o segmento específico dentro da comunicação
mercadológica voltada para o ambiente político que visa estreitar a relação
de expectativa de um determinado grupo de pessoas em relação às questões
que envolvem seu cotidiano e, a materialização da mesma em um candidato
a um cargo público no período eleitoral através de suas propostas e
projetos”.
Contudo, quem explica com precisão o termo “marketing político” é Adolpho Queiróz
(2004), quando esclarece que encarado cientificamente, o marketing político configura-se
como uma atividade multidisciplinar:
Ele tem interfaces com a administração, quando procura sistematizar e
hierarquizar procedimentos a serem adotados por candidatos e/ou partidos
(como a definição de uma agenda política pessoal ou a arrecadação de
fundos para uma campanha eleitoral); com a psicologia, quando adota a
persuasão como estratégia de comunicação (transformando candidatos
sisudos em sorridentes, dogmáticos em populares, tristonhos em enfáticos);
com a própria dimensão política, quando alinha candidatos e partidos em
determinadas dimensões ideológicas (tendo que mostrar como candidatos
socialistas, liberais ou social-democratas resolverão os problemas de
emprego, educação ou saúde) e, por fim, com a publicidade eleitoral, que
envolve a comunicação em diferentes veículos (tendo que mostrar conteúdos
simbólicos, slogans, jingles e discursos que funcionam como marcas
registradas de uma candidatura).
Entretanto, com essa nova forma de organização social, como nos mostra CASTELLS
(2006, p. 376) a tecnologia está transformando o papel político da mídia, não só pelo efeito
causado nos veículos de comunicação propriamente ditos, mas também pela integração do
sistema da mídia em tempo real e com o marketing político. CASTELLS (2006, p. 377)
justifica:
ROMANINI (2007, p. 158, 159, 165) explica que a Internet é convergente – “tudo e
todos” estão na rede, os meios de comunicação tradicional estão na www, os políticos –
espontaneamente ou forçosamente estão conectados e os cidadãos estão navegando. Ainda, de
acordo com o autor não soa como exagero afirmar que no novo cenário político criado pela
wwwe por outras tecnologias, no futuro, modificará a tônica do jogo político na sociedade
brasileira. “Muito mais que um canal de comunicação, a Internet é uma via de informação e
conhecimento e, sendo assim, os políticos do futuro farão campanhas baseadas na
propaganda de informação e conhecimento”.
Em sua conclusão, Romanini, encerra de modogeral dizendo que as novas mídias
alternativas, hoje as que chamamos de Redes Sociais, deveser pensada junto com toda
estratégia de campanha, já que o Orkut, por exemplo, é uma mídiaviável. Entretanto, enaltece
a importância de que para trabalhar com esse tipo de mídia hánecessidade de se contratar
profissional especializado, pois cada uma dessas mídias possuiuma particularidade e
necessidade.
Nossos questionamentos e pesquisas partem justamente deste ponto. Como as
redessociais, tão utilizadas pelos cidadãos, estão sendo trabalhadas nas eleições de 2010?
Quais sãoe em que proporções estão sendo utilizadas as redes sociais virtuais pelos
principaiscandidatos às eleições a Presidência da República? Procuramos discutir e analisar
concepçõescom aportes iniciais, mas que possam contribuir com argumentos para o
embasamentoteórico-conceitual de estudos sobre esses processos comunicacionais vindos
dessa sociedadecontemporânea que tem traços específicos nas redes virtuais.
divisorentre a primeira versão da Web (ou Web 1.0) e a atual plataforma baseada em redes.
O fundador da editora O’Reilly Media, publicou em 2005 o artigo WhatIs Web 2.0:
DesignPatternsand Business Models for the Next Generationof Software (O que é Web 2.0:
Padrões de design e modelos de negócios para a nova geração de software), onde apresenta
oseu conceito: “um conjunto de princípios e práticas que interligam um verdadeiro
sistemasolar de sites que demonstram alguns ou todos esses princípios e que estão a
distâncias variadas do centro” (O'REILLY, 2005, p.1). Segundo o autor, o “sistema solar de
sites”abrange blogs, serviços via Web (publicidade, e-mails ou pesquisa e visualização de
mapas), sites interativos, de relacionamento, colaborativos e de uploads/downloads de
arquivos digitais.
O centro deste universo digital são o “posicionamento estratégico” (Web como
plataforma), “posicionamento do usuário” (o controle dos dados pelos usuários) e as
“competências centrais” (serviços customizados, arquitetura de participação, possibilidade de
crescimento à um custo aceitável, fonte e transformação de dados alteráveis, software em
mais de um dispositivo; e emprego da inteligência coletiva) (O'REILLY, 2005, p.1).
A ideia da Web 2.0 é reproduzir para o usuário uma experiência parecida com que ele
tem ao utilizar os aplicativos instalados no desktop de seu computador pessoal, mas rodando
principalmente em servidores de Internet. A nova geração da Web refere-se não apenas a uma
combinação de técnicas informáticas (serviços Web, linguagem Ajax, Web syndication, etc.),
mas também a um determinado período tecnológico, a um conjunto de novas estratégias
mercadológicas e a processos de comunicação mediados pelo computador (PRIMO, 2007,
p.2). As inovações tecnológicas aumentaram a velocidade e a facilidade de uso de aplicativos
Web, sendo responsáveis por um aumento significativo no conteúdo (colaborativo ou
meramente expositivo) existente na Internet (CARDOZO, 2009, p. 26).
Isenta de intenções políticas ou comerciais o CGM acaba sendo mais influente sobre
os consumidores que as mídias de massa. Um estudo da ForresterResearch indica que o
consumidor tem cada vez mais intimidade com as mídias sociais e se afasta, com certa
desconfiança, de veículos de comunicação tradicionais como a TV (PATRIOTA; TENÓRIO;
MELO, 2007, p. 3). Na comunicação CGM a mensagem se torna mais receptiva. É mais
atraente para as pessoas por que não é impositiva ou imperativa e o consumidor pode escolher
o que quer ver (CARDOZO, 2009, p. 28).
Para entrar numa rede social, primeiramente os membros criam o seu perfil, onde
completam um cadastro com seus dados, contatos e interesses pessoais. A interação tem início
quando o mesmo faz uploads (carregam no sistema) arquivos como imagens ou vídeos, ou
postam mensagens (chamados de posts).
Reconhecer relações com outras pessoas, acompanhar o que acontece com seus
contatos, mecanismo chamado de “frieding”, representa uma das principais atividades dos
sites de relacionamentos (LI, 2009, p. 22). Novas funcionalidades são oferecidas quanto à
rede social inclui mini aplicativos que podem gerenciar convites para eventos ou oferecer
jogos on-line.
proximidade pode ser com um amigo que se mudou para outro país, um vizinho da mesma
rua, ou um novo relacionamento mediado pela comunidade. E ainda, os custos são menores
149
que uma ligação telefônica e a velocidade de trocar mensagens é imensamente mais rápida
que o envio de telegramas ou cartas.
METODOLOGIA
O procedimento metodológico empreendeu um estudo exploratório nas redes sociais
objetivando levantar hipóteses sobre o problema proposto. A principal intenção deste tipo de
pesquisa é “o aprimoramento de ideais ou a descoberta de intuições” (GIL, 2009, P.41).
Através do método indutivo, observou-se a presença dos candidatos pesquisados em sites de
relacionamentos que serviram como base para a análise documental.
O primeiro passo para a coleta de dados foi verificar no site do Tribunal Superior
Eleitoral (TSE) a situação de registro de todos candidatos à presidente. O acesso à listagem de
candidatos deu-se pelos links “Eleições 2010”, em seguida “Divulgação de candidatos” e
“Divulgação de Registro de Candidaturas 2010”. Através de interface do site, chegou ao
número de nove candidatos em situação “apta” descritos no quadro 1
(TRIBUNALSUPERIOR ELEITORAL, 2010). Através de pesquisa na ferramenta de busca
Google, encontrou-se os sites de campanha oficiais de todos candidatos. O passo seguinte foi
investigar esses endereços da Internet, procurando em seu conteúdo links para redes sociais.
Observações:
- O elemento "X" indica a ocorrência da categoria analisada.
• A pontuação se refere à soma simples da quantidade de ocorrências de cada categoria.
Fonte: TSE
Para aprofundar o estudo e viabilizá-lo diante da variedade de dados e fontes de
pesquisa, delimitou-se um recorte para os candidatos. Este foi feito tendo em vista a
PesquisaIBOPE Inteligência/TV Globo e O Estado de S. Paulo de 03/09/2010, que apontou os
151
Observações:
- Os dados foram levantados em 10/09/2010.
- Para efeito comparativo, considerou-se postagens a partir de 19/06/2010 (data da primeira mensagem de
Marina Silva no site de relacionamento).
*** Foram levantados no próprio site os dados relativos ao período de 16/06/2010 à 10/09/2010.
Observação:
* Os dados foram levantados em 13/09/2010.
153
Observações:
Os dados foram levantados em 10/09/2010.
"nd" = dado não disponível no canal. O perfil do canditado não habilitou a visualização deste recurso para a comunidade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Notamos que, com rapidez, as informações chegam e saem das redes sociais e o
mesmo acontece com a imagem dos candidatos na campanha presidencial 2010. Podemos
inferir que as equipes de comunicação desses candidatos estão trabalhando a Internet e suas
ferramentas de acordo com o estereótipo que os mesmos estão mostrando em outras mídias.
155
Por exemplo, veiculam trechos de entrevistas para emissoras de TV, rádio, mídia impressa e
online e, o mais importante, registram nas mídias alternativas e redes sociais algumas falas ou
vídeos já apresentados em outros suportes. As equipes de comunicação agem, de modo geral,
estrategicamente em relação aos adversários, sem cometerem equívocos que podem vir a
prejudicar a imagem de seus candidatos/clientes. Num país em que há carência enorme quanto
ao uso da Internet por parte da sociedade para fins políticos, a campanha 2010 está nos
primórdios de sua utilização como ferramenta estratégica para angariar votos. Enquanto a
eleição não termina, não há vitórias parciais, livre de pesquisas ou “seguidores em redes
sociais”. Não há meio termo para festejar enquanto a corrida presidencial não chegar ao fim e,
só a partir daí, teremos um quadro mais específico e abrangente para tentar entender o que
pensa o eleitor usuário das redes sociais.
Pelos dados quantitativos não foi permitido fazer uma correlação entre a quantidade de
acessos dos usuários às redes sociais e a variação de votos das pesquisas eleitorais. Uma nova
pesquisa, após o término do pleito, com a inclusão de metodologia qualitativa, poderá indicar
se os assuntos abordados nas discussões das redes sociais refletem os principais momentos da
campanha; se os eleitores que mais fizeram uso dessa ferramenta – em tese, formadores de
opinião – serviram como caixa de ressonância dos assuntos apresentados nos debates dos
candidatos. Por fim, só o resultado das urnas poderá indicar se o que fez melhor uso das novas
ferramentas da Internet também foi o mais beneficiado na contagem de votos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
____________. Web 2.0 -Principles and Best Practices. Publicado em 2006. Disponível em:
http://www.oreilly.com/catalog/web2report/chapter/web20_report_excerpt.pdf. Acesso em:
16/09/2010, 8h55.
ORKUT. Sobre o Orkut. Dados Demográficos. Disponível em: http://www.orkut.com.br.
Acessado em: 18/09/2010, às 15h50.
QUEIRÓZ, Adolpho. A evolução do conceito de marketing político no continente latino-
americano. Apresentado no III POLITICOM - Seminário Brasileiro de Marketing Político
25e 26 de agosto de 2004. Disponível em:
http://www.metodista.br/poscom/cientifico/docentes/adolpho-queiroz/artigos-de-adolpho-
queiroz. Acesso em: 19/09/2010, 14h31.
_______________. Marketing Político, do comício à Internet(Org.). São Paulo: Associação
Brasileira de Consultores Políticos, 2007, p. 158, 159, 165.
PATRIOTA, Karla Regina Macena Pereira; TENÓRIO, Bartira Lins; MELO, Solange
Tavares de. ConsumerGenerated Media e o Marketing Viral: Planejamento de mídia além
do GRP. Trabalho apresentado no VII Encontro dos Núcleos de Pesquisa em Comunicação –
NP Publicidade e Propaganda (29 de agosto a 2 de setembro de 2007). Disponível em:
http://www.adtevento.com.br/INTERCOM/2007/resumos/R0592-1.pdf. Acesso em:
14/10/2010, 16h33.
PRIMO, Alex. O aspecto relacional das interações na Web 2.0. Trabalho apresentado na
XXIX Intercom (Brasília, DF), no NP Tecnologias da Informação e da Comunicação (Agosto
de 2007). Disponível em: http://www.compos.org.br/files/03ecompos09_AlexPrimo.pdf.
Acesso em: 15/09/2010, 12h58.
PORTAL UOL. Eleições 2010. Debate On-Line Presidente. Disponível em:
http://eleicoes.uol.com.br/2010/debate-candidatos-a-presidente. Acessado em 19/09/200, às
9h03.
RODRIGUES, Nickolas Xavier; GODINHO, Luiz Antônio de Carvalho. Percepção dos
usuários da rede social Twitter com relação às estratégias de comunicação dos grupos de
notícias. Trabalho apresentado no GP Conteúdos Digitais e Convergências Tecnológicas,
IXXXXII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. Publicado em: 05/06/2009.
Disponível em: http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2009/resumos/R4-2307-1.pdf.
Acesso em: 16/09/2010, 10h18.
TAPSCOTT, Don; WILLIAMS, Anthony D.. Wikinomics: Como a Colaboração em
MassaPode Mudar o Seu Negócio. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2007.
158
2
Natália de Oliveira SANTOS
3
Anna Paula Castro ALVES
4
Carolina Tomaz BATISTA
5
Adriana Cristina Omena dos SANTOS
Universidade Federal de Uberlândia
RESUMO
O presente artigo faz uma reflexão a relação mídia e política em períodos eleitorais, sobre o
surgimento dos “candidatos virtuais” e o papel da internet enquanto meio de divulgação das
campanhas eleitorais. Através da análise dos sites oficiais de candidatos, de comunidades na
rede social Orkut e do microblogTwitter de candidatos à presidência em 2010, a intenção é
apresentar a estrutura e o espaço disponibilizado para interação e comunicação entre o
eleitorado e entre políticos e eleitores dentro destas plataformas. A intenção é evidenciar,
com os dados obtidos nas análises, como os recursos oficiais e oficiosos possibilitam a
realização do marketing político e de que forma isto ocorre em períodos eleitorais.
INTRODUÇÃO
-
Graduanda do 4º período de Comunicação Social/ Jornalismo da Universidade Federal de Uberlândia
UFU. nataliasantoscs@hotmail.com
-
Graduanda do 4º período de Comunicação Social/ Jornalismo da Universidade Federal de Uberlândia UFU. Bolsista de
Iniciação Científica pelo CNPQ. Email: annapaulacastroalves@hotmail.com
-
Graduanda do 4º período de Comunicação Social/ Jornalismo da Universidade Federal de Uberlândia UFU.
Bolsista de Iniciação Científica pelo CNPQ. Email:caroltomazb@gmail.com
-
Prof.ª Dr.ª do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Uberlândia. Email: omena@faced.ufu.br
160
nova fase das campanhas políticas.” Entre estes recursos da internet estão os blogs e as
redes de relacionamentos.
Neste sentido a ascensão das mídias digitais trouxe consigo novas formas de
interação entre os indivíduos, e desses com as mídias. Alguns estudiosos acreditam que esta
interação vinculada aos meios de comunicação, a partir do avanço da globalização política e
econômica, tomou conta não só da troca de informação entre os indivíduos, mas de tudo que
cerca o seu meio social. Ao aliar velocidade e interatividade os usuários da rede permutam
por diferentes lugares, ao mesmo tempo em que recebem informações simultâneas.
As relações sociais, neste caso, estão cada vez mais sujeitas a influências midiáticas.
Estas influências, principalmente, a da Internet na formação da opinião pública é
analisada por muitos pesquisadores da àrea da comunicação que se referem, muitas
vezes aos mecanismos dos meios de comunicação sendo utilizados em benefício de
interesses privados, o que ocorre também na esfera política.
Não é de hoje que o marketing político é ferramenta utilizada pelos atores políticos
principalmente em época de eleições. Pinheiro (2008) mostrou que ainda no século passado
a imagem de Getúlio Vargas foi construída em diversos ambientes da sociedade e por meio
de meios de comunicação, utilizando de estratégias do marketing político desenvolvido por
seu assessor Lourival Fontes. Situações como a apresentada foram e são possíveis porque
O marketing político é uma das áreas mais interessantes dentro do
cenário das eleições. É como se fosse os bastidores de um show, onde
ficam as maiores e reais estrelas do espetáculo. Dentre este cenário um
dos assuntos mais importantes é a atenção para a imagem do candidato,
imagem esta que não é só constituída por caráter, honestidade e passado
digno. (PIMENTA FILHO; GEROLAMO, 2008, p. 94)
Ponto que merece atenção refere-se à campanha eleitoral nos EUA, na qual o
candidato eleito para presidente, Barack Obama, conseguiu grande repercussão por ter
explorado novos espaços da internet como blogs, redes sociais e o microblogTwitter,
principal ferramenta utilizada pelos assessores de Obama na campanha.
Situação similar tem ocorrido no Brasil, onde a internet se tornou preocupação até
mesmo do Tribunal Superior Eleitoral. Em julho de 2009, a Câmara dos Deputados
regulamentou a lei eleitoral que estabelece quais recursos digitais podem ou não ser
utilizados pelos candidatos para sua autopromoção e divulgação de suas propostas nas
eleições de 2010 via internet.
Para Romanini (2006) estas ferramentas digitais funcionam como cabos eleitorais
virtuais que usam da argumentação para convencer o eleitor a participar da campanha
eleitoral de um ou de outro candidato. O autor também comenta sobre o fato de estas
mídias atuarem no sentido contrário. Algumas pessoas as utilizam como instrumentos
para denegrir a imagem de candidatos revelando falcatruas e corrupções.
É possível perceber que, por meio de tais ferramentas os candidatos configuram
sua imagem de uma forma mais acessível. Basta apenas que os políticos tenham um
computador com acesso à internet e uma pessoa especializada para fazer o serviço.
Além disso, o conteúdo estará disponível para que pessoas em qualquer lugar do mundo
possam acessar. O candidato se torna alguém presente no ciberespaço, disposto a se
expor para que sua presença seja notada. Surge assim o “candidato virtual”, estratégia
contemporânea do marketing político.
impactante e que traduza a época retratada. Nota-se que a navegação nessa guia é
satisfatória, no sentido visual e organizacional.
A forma de configuração da guia “propostas” é dividida de forma clara e
objetiva. As propostas de governo são organizadas da seguinte maneira: “ Programas
Sociais”, “ O Sistema de Educação”, “ O Sistema de Saúde”, “ Reforma Urbana”, “ O
Meio Ambiente”, “ Indústria, Agricultura e Inovação” e “ transparência e reforma”.
Todas as propostas em cada categoria são divididas em tópicos com verbos sempre no
infinitivo. As mesmas são feitas de maneira clara e sucinta.
A guia “fotos” possui uma bifurcação: “galeria de fotos”, que contempla as
fotografias de militantes e as fotos da candidata com personalidades famosas; e “sala de
imprensa”, que é composta de fotos de eventos políticos e locais nos quais Dilma Rousseff
esteve presente. Em ambas as categorias, as imagens possuem dados identificáveis, como o
local e a data. A maneira de organização das mesmas é feita de forma interessante, sendo
que cada fotografia possui uma miniatura no lado esquerdo do site e conta ainda os campos
“próxima” e “anterior”, colaborando para a navegabilidade do internauta. Outro ponto
encontrado no site é a possibilidade de as fotografias serem baixadas, possuindo um
ícone especial para tal ação.
A guia “vídeos” tem uma enorme quantidade de postagens, que são organizadas
por datas, da mais recente para a mais antiga, sendo que os títulos dos vídeos sugerem
bem o conteúdo a ser visto. A guia possui ainda um espaço para os comentários dos
internautas, com campo para identificação, indo do nome, passando pelo email e
também o CEP do internauta. Todos os vídeos são postados no canal de Dilma Rousseff
no site YouTube, sugerindo a utilização das redes sociais. Na guia “rádios”, os áudios
seguem a mesma organização de titulação e identificação dos vídeos. O interessante
nessa guia é o fato de haver a possibilidade da leitura dos áudios disponíveis.
A última guia apresenta quase que uma repetição do que é sugerido a todo
instante no site: o contato. Nele, o site aconselha os internautas a entrarem em contato
para críticas e sugestões. A forma de cadastramento pede os mesmos dados para os
comentários dos vídeos.
Twitter, Facebook, Flickr, YouTube e Idêntica, sendo tais redes formas de divulgação que
vão do microblog ao compartilhamento de fotos e vídeos. Da mesma maneira que o site
busca o apelo para o contato do internauta, o site também incentiva a conexão com Dilma
nas redes, pois em todos aos caminhos do site, os ícones das redes são evidenciados.
Por mais que o site busque o contato com o internauta, os espaços oferecidos
pela página não possibilitam nem instigam o debate das propostas e ações da candidata.
Mesmo oferecendo toda informação política sobre Dilma, não há um espaço no site em
si para que a candidata petista use sua fala direta com o eleitor/internauta. Tal contato
fica a cargo das redes sociais. Os comentários do público e as postagens de notícias não
contribuem para a formação de uma opinião pública em si, que preceda os debates e
discussões, já que as falas no site são somente de apoio à candidata.
Nota-se na análise do site “Dilma na Web” que o oficioso é usado como um
suporte da fala real de Dilma Rousseff, o que a candidata diz verdadeiramente, já que,
após a análise, percebe-se que o site torna-se uma ferramenta de divulgação das ações
políticas da candidata e de apoio eleitoral.
A candidata à presidência Marina Silva do Partido Verde (PV), possui dois sites
na Internet, sendo que ambos podem ser considerados oficiais pelo número de acessos e
atualizações. Entretanto, para definir qual de fato seria o oficial, foi constatado o link
disponibilizado no site do partido da candidata. Sendo assim, considerou-se o site
“minha marina” (http://www.minhamarina.org.br/) como o oficial para a avaliação de
interatividade do site. Cabe ressaltar que levando em conta a popularidade do site
“movimento marina” (http://www.movimentomarinasilva.org.br/) mesmo considerado
não oficial, pretende-se destacar alguns pontos relevantes do mesmo.
O site oficial possui uma boa navegabilidade, pelo fato de ser simples, porém tal
simplicidade pode ser considerada também como um ponto negativo do site. Isso ocorre
quanto na sua interface nota-se a falta de destaque nas informações que dizem respeito ao
seu plano de governo.
Já outras que têm por função às formas de colaboração com a campanha na internet,
através do Twitter, Orkut, Facebook, e outras redes sociais, foram repetidas em mais de um
atalho. Nesse ponto vale ressaltar que o site não oficial não deixa a desejar, sendo completo
ao possuir links para quase todos os tipos de informações relacionadas tanto à candidata
Marina Silva, quanto a sua campanha eleitoral.
167
Algo que deve ser ressaltado tanto no site oficial, quanto no oficioso da candidata
do PV, é que mesmo ao criar atalhos para outras ferramentas da Internet utilizadas por
Marina Silva já ditas anteriormente, o site deveria ter um espaço próprio de discussão da
campanha, e não transferi-la para outros.
mostrada no topo do site e as demais são organizadas por ordem cronológica, com data e
horário possuindo, em alguns casos, uma breve chamada sobre o assunto. Na abertura de
cada fotografia é possível encontrar locais para que se volte para a galeria de fotos, além
de existir um campo para o download em alta resolução das imagens. A subdivisão
“vídeos” também segue a mesma organização de espaço e inserção de dados da
subdivisão “fotos”, sendo os vídeos postados através do site YouTube.
A guia “A voz do Serra”, tenta cumprir com o título o qual possui, pois nesse
campo do site, há a utilização dos áudios do candidato tucano sobre as estruturas da
campanha. Tal guia se assemelha em muito com a de Dilma Roussef chamada “rádio”,
na qual o áudio também é privilegiado. Há ainda nos áudios do site de Serra, a utilização
de uma narração jornalística, precedendo o assunto a ser tratado pelo candidato.
Além de, a todo o momento, buscar a participação do internauta, o site possui
também uma guia em especial para tal questão, intitulada “participe”, possuindo uma
área de cadastro que deve passar por quatro etapas, dentre elas informar CEP e email. A
forma de apelo encontrada nessa guia é feita através de fotos atrativas e principalmente
do texto de abertura, que estimula o internauta a cadastrar-se. Além do cadastramento,
há um espaço reservado para que se baixe o jingle da campanha, banners blog e os
papéis de parede referentes ao candidato.
Ainda como forma de participação, tem-se a guia “fale conosco”, na qual segue
um breve cadastramento, mas apresenta a peculiaridade de poder ser selecionado o
assunto a ser dito pelo internauta. O site de José Serra não deixa de exaltar também a
utilização das redes sociais pelo candidato, possuindo um espaço na página inicial do
site.
Nota-se na análise do site, que há formas de interação com o público
eleitor/internauta, contudo não são gerados espaços para que se mostrem as opiniões ou
apoios por parte dos internautas. O site é tido somente como uma ferramenta para que o
candidato se apresente, não propiciando a participação ativa do eleitorado, ou seja, os
eleitores podem dar suas opiniões, entretanto as mesmas se restringem à equipe
responsável pela manutenção do site. Dessa forma, nota-se como também nesse caso
não há a preocupação de gerar uma opinião pública sobre o candidato através do site.
Possivelmente a forma de apresentar-se de José Serra para o público se limite, dentro do
ciberespaço, através das redes sociais.
170
apenas a de um público, por isso não é possível afirmar que o resultado das discussões
dentro de determinada comunidade forme algum tipo de opinião pública, trata-se da
opinião de um público em específico.
Diversos fóruns existentes nas comunidades são de ataque aos políticos
concorrentes.Por exemplo, um dos fóruns da comunidade de Dilma se chama “Pega na
mentira... de José Serra!”. Outro exemplo de fórum da comunidade de Serra é “Por que
não votar em Dilma e em Marina” e um tópico na comunidade de Marina se chama
“Serra propagandeia milagres e privatiza poemas”.
candidata.
Na “José Serra - Presidente” aparecem os links de seu Twitter e de uma
plataforma chamada“Proposta Serra”, um local no qual os eleitores podem debater sobre
diversos assuntos e sugerir propostas para o candidato. Na comunidade “Marina Silva -
PV” existe os links doTwittere de um site chamado “Minha Marina” no qual estão
expostas notícias, discursos,informações sobre a candidata.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
IANNI, Octávio. O Príncipe Eletrônico. Cuestiones Constitucionales: Revista
Mexicana deDerecho Constitucional. Numero 4. Enejo–Junio 2001. Disponível
em<http://www.juridicas.unam.mx/publica/rev/indice.htm?r=cconst&n=4>. Acesso em
18 ago. 2008.
PIMENTA FILHO, Ary; GEROLAMO, João Carlos. A imagem que ganha a eleição:
regras básicas para uma boa apresentação nos diversos cenários da política. In: A
propaganda política no Brasilcontemporâneo.–org.s Adolpho Carlos Françoso
Queiroz, Roberto Gondo Macedo. São Bernardo doCampo: Metodista, 2008. P. 94 –
100. Disponível em:
http://encipecom.metodista.br/mediawiki/index.php/Politicom_2008 Acesso em: 05 de
jul de 2010
POLÍTICA E ENERGIA:
O MARKETING ELEITORAL DE 2010 PELA INTERNET
Ivan FORTUNATO
Universidade Estadual Paulista – UNESP
ivanfrt@yahoo.com.br
RESUMO
INTRODUÇÃO
O ano de 2010 será lembrado pela população brasileira por fatos
marcantesescancarados pelas telas da mídia. Fatos como a polêmica gerada ao
redor de umassassinato cruel supostamente articulado por um famoso esportista,
ou a péssimaexibição da seleção do país do futebol (TOLEDO, 2000) na Copa do
Mundo da África.
O ano de 2010, ainda, será marcado por mais uma eleição presidencial
caracterizada,dentre outros, por debates televisivos, horário de propaganda eleitoral no
rádio e natelevisão, rixas partidárias, e uma democracia exercida pelo voto obrigatório.
177
Nessaépoca de eleições vem à tona resultado de longo trabalho de publicitários, que são
asações voltadas para divulgar os candidatos e partidos políticos, na intenção de
influenciar o voto da populassim como a sociedade vem se modificando ao longo dos
últimos anos por conta dos fenômenos da globalização e da formação da sociedade em
rede (CASTELLS, 1999), a política e consequentemente suas práticas, como as
campanhas eleitorais, também ganharam novas configurações e articulações que passam
a utilizar as tecnologias da informação e comunicação.
Partimos da hipótese que a exploração do ambiente virtual como espaço para a
publicidade dos candidatos é um caminho paradoxal. O contra-senso surge justamente
no alcance global do mundo virtual da rede de computadores e que poderia, portanto,
ampliar a possibilidade de envolvimento crítico da população no debate das questões
políticas, mas que serve apenas para expandir a visibilidade dos candidatos em peças
publicitárias desenvolvidas à luz da espetacularização.
Nessa direção, o objetivo desta pesquisa é analisar o uso dessas novas
tecnologias de comunicação e informação como meio de promoção do debate político
eleitoral. Especificamente, frente ao leque de possibilidades de investigação, centramos
nossa análise no conteúdo dos sítios virtuais (conhecidos como websites) dos
respectivos partidos políticos dos principais candidatos à presidência do Brasil em 2010,
Dilma Roussef, José Serra e Marina Silva: PT (Partido dos Trabalhadores), PSDB
(Partido da Social Democracia do Brasil) e PV (Partido Verde).
Esses candidatos aparecem nas três primeiras colocações nas pesquisas sobre
intenções de voto realizadas pelos mais representativos institutos de pesquisa do País,
que são o DATAFOLHA, o IBOPE e o VOX POPULI.
Para a realização da pesquisa foi selecionada a questão da energia, elemento
fundamental para vida humana, elemento importante nas relações geopolíticas,
ingrediente essencial para estratégia de desenvolvimento nacional e crescimento
econômico, e, por fim, uma importante variável da discussão ambiental, tendo em vista
que sua geração, distribuição e uso são responsáveis pelo aquecimento global e parte da
degradação ambiental. Essa dialética presente nas questões energéticas a transforma em
um dos mais complexos assuntos políticos, que em um debate político não deveria ser
preterido ou elencado em segundo plano nas campanhas eleitorais.
Esta é uma pesquisa em andamento e, para esse artigo, o recorte temporal
selecionado foi o período pré-eleitoral, que compreende os dias de 6 de julho a 17 de
agosto de 2010. A partir da busca por palavras-chave nos sítios eletrônicos oficiais dos
178
2
Tradução livre: desenvolvimento sustentável é um processo de mudança em que a exploração dos
recursos, a direção dos investimentos, a orientação do desenvolvimento tecnológico e a mudança
institucional estão em harmonia e buscam melhorar as potencialidade atuais e futuras para atender às
necessidades e aspirações humanas. Disponível em http://www.un-documents.net/ocf-02.htm#I,acesso em
agosto de 2010.
184
3
Tradução livre: A energia é muito importante para o desenvolvimento e não pode continuar sendo
explorada de forma aleatória. Um caminho sadio, ambientalmente e economicamente viável para a
energia, que vai sustentar o progresso humano em um futuro distante, é claramente um imperativo. Esse
caminho é possível. Mas vai exigir novas dimensões de vontade política e cooperação institucional.
Disponível em http://www.un-documents.net/ocf-07.htm#I,acesso em agosto de 2010.
186
São essas categorias de energia que utilizamos para analisar o conteúdo dos sites
dos presidenciáveis, voltados para sua campanha eleitoral de 2010.
4
Luz para Todos é um programa nacional do governo federal, legitimado pelo decreto no. 4.873/03, cujo
objetivo é proporcionar o acesso à energia elétrica a grande número de residências brasileiras.
10
187
SITE
CARACTERÍSTICAS
PT PSDB PV
Download é uma ferramenta da internet que possibilita ao usuário copiar o conteúdo virtual para
seupróprio computador e ter acesso mesmo sem estar conectado à internet.
A interatividade está limitada a seções internas dos sites partidários.
Online significa que a doação pode ser feita através da internet.
Pela comparação entre os websites, percebemos que os três sítios eletrônicos são
muito próximos em termos de recursos, apelo audiovisual e ferramentas. Após a análise,
concluímos que os sites do PT e do PV não apresentam nenhum diferença estrutural
entre si.
Ao pesquisar o site do PSBD, no entanto, não encontramos a ferramenta „mapa
do site‟, que é como um índice, e serve para facilitar a navegação pelos diversos
conteúdos. No site do PSDB também não localizamos também nenhum link que
possibilitasse o download de materiais da campanha, como logos e slogans; bem como
não foi possível identificar, como nos outros dois sítios, link para doação online para a
Campanha.
189
Tabela 2: busca das palavras-chave nos websites do PT, PSBD e PV no período pré-eleitoral, de
06/07/2010 a 17/08/2010.
SITE
PT PSDB PV
PALAVRA Total de Total de Total de
CHAVE Total de notícias Total de notícias Total de notícias
notícias ligadas à notícias ligadas à notícias ligadas à
campanha campanha campanha
** No caso do PV, a notícia ligada à campanha encontrada pela busca da palavra-chave energia é a
mesma notícia encontrada pela busca da palavra pré-sal.
Tabela 3: caracterização das notícias que interrelacionam energia com a campanha eleitoral
Ocorrências
CATEGORIAS PT PSDB PV
TOTAL DE NOTÍCIAS* 11 7 1
Essa análise revela não somente uma maior diversificação no conteúdo das
notícias propagadas pelo site do PT, como aponta que a estratégia principal do PSBD na
veiculação de conteúdos relacionados às questões de energia é o ataque aos
concorrentes, em especial ao PT. Assim, enquanto o PT se mostra preocupado em
191
Ocorrências
ESTRATÉGIA PT PSDB PV
TOTAL DE NOTÍCIAS* 11 7 1
COMENTÁRIOS FINAIS
Vimos a importância que a energia assume em três vias complementares e
distintas, seja enquanto fonte estratégica para o desenvolvimento econômico, seja na
melhora da qualidade de vida e inclusão social, seja na prevenção ou mitigação dos
danos ambientais causados pela cadeia energética. A busca no site dos candidatos à
presidência no Brasil em 2010, entretanto, mostrou que apesar de importante, as
questões energéticas não são representativas no debate político.
O estudo revelou que a energia para o Partido Verde, que carrega o meio
ambiente como principal bandeira eleitoral de sua candidata, surge como tema
insignificante no conteúdo de seu site. A pesquisa também identificou que o debate
virtual ocorrido no período pré-eleitoral seguiu a tendência das campanhas dos
candidatos Dilma e Serra no Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral. Enquanto a
Dilma (PT) aposta na valorização dos seus atributos pessoais para construir sua imagem
política, e destaca as realizações realizadas pelo governo Lula, Serra (PSDB) aposta na
crítica ao governo atual e na candidata do PT. Assim, o que pudemos observar é que a
pré-campanha já delineava as estratégias de marketing dos candidatos para o período
eleitoral.
Finalmente, os resultados da pesquisa comprovam a hipótese inicial de que há
um uso inexpressivo das potencialidades comunicativas da internet, e o que deveria
ampliar o debate político sobre questões relevantes para a sociedade, acaba camuflado
pelo marketing eleitoral. Assim, um assunto de vital importância para o futuro do Brasil,
que em seu processo de desenvolvimento precisa discutir sobre as alternativas
energéticas e seus impactos, acaba não ganhando destaque. E quando o assunto surge na
plataforma interativa da internet, fica restrito a argumentação eleitoral, sem se preocupar
na construção de um debate público.
Ao fim e ao cabo, sentimos a necessidade de expandir a pesquisa para o período
eleitoral, a fim de aferir a utilização ou não-utilização da energia como debate político
e/ou estratégia de campanha, bem como identificar se as possibilidades de comunicação
da internet são melhores aproveitadas com a proximidade do dia „D‟ votar.
193
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRANCO, S. M. Ecologia da cidade. 17ª. ed. São Paulo: Editora Moderna, 1991.
_____________. Energia e meio ambiente. Coleção Polêmica. 13ª. ed. São Paulo:
Editora Moderna, 1990.
GEORGE, P. O meio ambiente. Coleção Saber Atual. São Paulo: Difusão Européia do
Livro, 1973.
GOMES, W.; FERNANDES, B.; REIS, L.; SILVA, T. "Politics 2.0": a campanha
online de Barack Obama em 2008. Rev. Sociol. Polit., Curitiba, v. 17, n. 34, Out. 2009.
GOMES, W.; MAIA, R. Comunicação e democracia: problemas e perspectivas. São
Paulo: Paulus, 2008.
HINRICHS, R. A.; KLEINBACH, M. Energia e Meio Ambiente. 3ª. ed. São Paulo:
Editora Cengage Learning do Brasil, 2003.
LIMA, V. A. Mídia: teoria e política. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo,
2001.
MORIN, E. Os sete saberes necessários à educação do futuro. 2ª. ed. São Paulo:
Cortez; Brasília, DF: UNESCO, 2000.
VEIGA, L. F. Em busca de razões para o voto: o uso que o homem comum faz do
horário eleitoral. Tese de doutorado apresentada no IUPERJ, Rio de Janeiro, 2001.
Sites consultados
Sylvia IASULAITIS
UFSCar - Universidade Federal de São Carlos
Programa de Doutorado em Ciência Política
RESUMO
O intuito deste paper é analisar como a presidenciável Marina Silva tem se utilizado das
novas mídias de modo a compensar seu pouco tempo de HPEG nas mídias tradicionais.
Sua campanha online tem sido a mais proeminente durante o pleito de 2010. O objetivo
é investigar o uso político e as funções desempenhadas por seu website eleitoral,
adotando a estratégia metodológica de Análise de Conteúdo, incluindo duas áreas de
investigação: análise funcional [functionalanalysis] e análise formal [formal analysis].
Com tais procedimentos buscou-se identificar os diferentes propósitos do website
(análise funcional) e seu nível de profissionalismo (análise formal).
INTRODUÇÃO
Não é difícil perceber o crescente papel desempenhado pela Internet na política,
em especial nos processos eleitorais, para provisão de informação, recrutamento de
voluntários, mobilização, angariação de fundos, participação e interatividade
(BENTIVEGNA, 2001). A cada processo eleitoral amplia-se o repertório de
ferramentas
e iniciativas ciberpolíticas: a Internet como meio para obtenção de informação política,
inserção de vídeos, ação política na blogosfera, debates na rede eletrônica, marketing
viral, serviços de SMS, comunidades virtuais e redes sociais, angariação de recursos
online, dentre outras. Tais iniciativas adquirem protagonismo e repercussão pública,
alterando o cenário e a forma de condução dos processos eleitorais contemporâneos
(DADER, 2009).
No Brasil, a Internet tem sido inserida no rol de ferramentas estratégicas durante
as campanhas eleitorais. No decorrer do pleito presidencial de 2010 está sendo utilizada
de forma inovadora, devido às novas regras eleitorais aplicadas à Internet, que
196
ESTRATÉGIAS METODOLÓGICAS
O corpus empírico do website da candidata Marina Silva foi coletado até o dia
17 de setembro e analisado adotando a estratégia metodológica de Análise de Conteúdo
de websites desenvolvida por Gibson & Ward (2000), previamente adaptada e aplicada
na investigação dos websites eleitorais no contexto brasileiro (IASULAITIS, 2008).
Coletados os dados, o estudo incluiu duas áreas de investigação do website:
análise funcional [functionalanalysis] e análise formal [formal analysis]. O website
eleitoral da candidata Marina Silva foi examinado aplicando-se diversas variáveis
dicotômicas, que indicam a presença ou ausência de vários elementos estruturais. Tais
procedimentos de análise serviram para identificar os diferentes propósitos do website
(análise funcional) e seu nível de profissionalismo (análise formal) [SCHWEITZER,
2005].
De acordo com a literatura temática sobre a aplicação das Novas Tecnologias de
Comunicação e Informação – NTIC’s nas eleições é possível identificar que esta
ferramenta pode ser utilizada para cumprir quatro funções principais: (1) fazer
propaganda, transmitir informações com enquadramento próprio e distribuir materiais
de campanha, (2) angariar recursos financeiros e mobilizar apoiadores, (3) propiciar a
participação dos cidadãos no processo eleitoral e (4) promover integração (NEWELL,
2001, p.63).
Neste estudo, os aspectos funcionais [functionalanalysis] foram divididos em
quatro categorias: Participação (v=16), Informação (v=18), Mobilização (v=24),
Integração (v=10), compostas por diversas variáveis (v). A análise formal
[formalanalysis], por sua vez, incluiu as seguintes categorias: Acessibilidade (v=7),
Navegação
(v=6), Atualização (v=2) e Qualidade do design (v=2).
Participação (v=16): elementos para gerar interesse político e interação entre
osusuários da Internet, candidatos e coordenadores da campanha (por exemplo, chat-
room,,[sala de bate-papo], e-mail, enquetes, possibilidade de comentar notícias, etc.);
Informação (v=18): características de apresentação, distribuição, volume
equalidade das informações sobre os candidatos, a coligação, os partidos, as propostas e
os programas de governo, eventos políticos e documentos diversos (agenda do
198
O website eleitoral de Marina Silva foi alvo de duas análises: formal e funcional,
cujos resultados serão apresentados separadamente nas duas subseções seguintes:
tempo real
Disponibiliza enquetes 0
Programa de Governo 1
Realizações do candidato 1
Boletim informativo 1
Agenda do candidato 1
6
201
Boletins da campanha 1
Permite assistir vídeo clipe e fazer download dos vídeos da campanha e programas de 1
TV
Doação online 1
Voluntariado online 1
Mapa do movimento 1
Jogos online 1
7
202
Intranet (login) 1
Links comerciais 1
0,89 0,90
0,70
0,56 Participação
Informação
Mobilização
Integração
grande parte, por pequenas doações, para construir um novo tipo de política e um novo
paradigma de arrecadação com transparência.
A campanha online de Marina adotou um sistema de pontuação que mensura o
quanto se está colaborando com a campanha, para estimular a ação dos militantes
internautas e a disputa entre amigos e familiares, que baseia-se na transação de doação
bem sucedida, por twitee de doação, realização de cadastro, indicação de conteúdo,
convite a amigos, dentre outras ações.
O website eleitoral de Marina Silva tem servido, ainda, ao propósito de
informar o eleitor e os veículos de imprensa sobre o perfil da candidata e de seu vice,
suas principais propostas e plataformas políticas, a agenda de campanha dos
presidenciáveis, suas biografias e realizações na vida pública. O alto índice de
informação demonstra a importância do website eleitoral para subsidiar os cidadãos e
órgãos de imprensa que tenham interesse em dados sobre a candidata e seu vice.
Embora em termos gerais uma das opções mais renegada seja a dimensão de
participação, deve-se ressaltar algumas iniciativas interessantes, sobre as quais
discorreremos a seguir:
Seu website possibilita o envio de e-mail, com perguntas diretamente para a
candidata ou para sua assessoria. É possível que os internautas postem comentários em
notícias, artigos de opinião, vídeos, etc. Sua campanha online também encaminha
boletins da campanha para os cadastrados.
Outro aspecto que chama a atenção é a possibilidade de participação na
elaboração do programa de governo da candidata. Do ponto de vista programático,
Marina Silva e o PV não apresentaram propriamente um programa de governo, e sim
diretrizes governamentais, optando por uma plataforma aberta para o debate, para
viabilizar a construção colaborativa do programa de governo. A primeira versão das
Diretrizes para Programa de Governo foi publicada em 10 de junho de 2010 e colocada
na Internet para discussão aberta com a sociedade. A partir de então, de acordo com sua
coordenação de campanha, foram recebidos 980 comentários pela Internet, que foram
considerados pela equipe de conteúdo e muitos deles inseridos no conjunto de diretrizes,
gerando uma segunda versão do documento.
03/08/2010
SOFIA L.B.
Cara Sophia. Aí vão suas respostas. Desculpe-nos caso as anteriores não tenham
sido suficientes. Nós também estamos cansados de demagogias. 1 - Sim. Sempre. 2 - Por
favor nos forneça este estudo para que possamos analisar. De qualquer forma a homofobia
nunca deve ser um valor. Lutamos e criaremos mecanismos para que a cultura democrática e
sustentável seja uma realidade. Obrigado. Equipe de Conteúdo.
Temas polêmicos, como este que envolve os direitos das minorias, especificamente
dos homossexuais, tem criado certo desgaste para a candidata Marina Silva, o que se verifica
em seu website. Marina Silva tem buscado agir de forma cautelosa, na medida em que procura
se equilibrar entre a sua posição religiosa e a sua trajetória de militante de esquerda
identificada com as bandeiras das minorias. Quando questionada sobre sua posição, por
exemplo, sobre pesquisas com células-tronco embrionárias, descriminalização das drogas,
legalização do aborto, adoção de crianças por casais homossexuais, afirma não ter posição
definida e advoga plebiscitos para discutir temas controversos, o que soa como uma estratégia
para não se indispor com os dois públicos. No que tange à sua posição sobre LGBTS, ressalta
seu respeito às diferenças apesar de não ser favorável ao casamento gay, o que considera um
sacramento; não obstante, afirma que o Estado laico deve assegurar a todos, sem distinção,
direitos civis, deste modo procura amenizar sua posição defendendo a união civil entre
homossexuais, enfatizando que suas opiniões pessoais, baseadas em sua profissão de fé cristã
evangélica, não irão interferir em suas tomadas de decisão diante da chefia do Estado laico.
Categoria Item
Sistema de busca 1
Botão de voltar 1
Botão de avançar 1
Gráficos 1
Banners 1
Jogos interativos 1
Multimídia (diversos) 1
Vídeos 1
Emoticonspara MSN 0
Protetor de telas 1
208
1,20
1,00
0,80
0,60
0,40
0,20
0,00
CONSIDERAÇÕES FINAIS
É possível verificar que a estratégia virtual de Marina Silva possui forte influência da
campanha online exitosa empreendida por Barack Obama em 2008 durante o pleito
presidencial nos Estados Unidos.
A candidata verde não constituiu uma política de alianças, visto que as principais
agremiações nacionais já dispunham de postulantes próprios à presidência ou estavam
estruturados em alianças políticas em torno das candidaturas de Dilma Rousseff, do PT e de José
Serra, do PSDB; os pequenos partidos de esquerda do cenário brasileiro (como PCB, PCO, PSTU
e PSOL), por sua vez, não contemplam a preocupação ecológica entre suas principais bandeiras,
ao contrário de Marina Silva, que faz da sustentabilidade sua principal plataforma política.
Ademais, a ex-ministra do Meio Ambiente, figura política formada nas fileiras do PT, tem a
preocupação de não tecer grandes críticas ao governo Lula, que dispõe de uma avaliação
predominantemente positiva, com a intenção explícita de não se indispor com seu eleitorado.
Pretende, neste sentido, permanecer em uma condição em que reivindica a participação nas
experiências bem-sucedidas do governo Lula, o qual integrou até recentemente, embora aponte
seus equívocos e se coloque na condição daquela que apresenta mais condições para corrigi-los.
Este posicionamento em relação ao governo Lula pode ser apontado como um dos aspectos que
explica que o flerte para uma aliança com o PSOL não tenha se efetivado, visto que Marina e seu
novo partido não estavam dispostos a inserir na agenda de campanha a defesa de um processo de
transformação no sentido de romper com ocapitalismo, o máximo que o seu programa sinaliza é
um desenvolvimento com sustentabilidade.
Deste modo, sem uma política de alianças, a candidatura de Marina Silva contou
com um pífio tempo de TV, apenas um minuto e meio no Horário de Propaganda Eleitoral
Gratuita. Para compensar este quadro, tem apostado no potencial da Internet, cujo interesse é
210
viral, para criar um ciclo positivo e um efeito “bola de neve” de mobilização, encorajando os
cidadãos a participarem de forma mais intimista de sua campanha.
É neste sentido que tem procurado utilizar as potencialidades da Internet para criar
uma rede de mobilização multiplicadora, publicar o endosso de artistas e figuras midiáticas,
para criar um movimento de “marineiros” que utilizem seu potencial criativo para mobilizar
amigos e difundir a campanha em todo o país.
Os resultados da análise funcional do website de Marina Silva demonstram que o
principal objetivo de sua campanha online é mobilizar o voluntariado para ações online, seguido
de transmitir informação com um enquadramento próprio para os usuários. Embora sua campanha
online tenha um objetivo de controle da participação e das informações postadas, visto que se
aposta fortemente na figura de mediadores, existem possibilidades de participação dos internautas.
Assim, a característica preponderante da cibercampanha de Marina Silva é de cima para baixo
[top-down], ou seja, as informações e propagandas são passadas dos líderes para os militantes,
eleitorado e jornalistas, mas não é uma estratégia oneway(unidirecional), e convém ressaltar que
algumas possibilidades de comunicação debaixo para cima [bottom-up] foram evidenciadas, como
o foro online, a possibilidade de postar comentários, participações moderadas, etc.
REFERÊNCIAS
DADER, José Luis. Ciberpolítica en los websites de partidos políticos: la experiencia de las
elecciones de 2008 en España ante las tendencias transnacionales. Revista deSociologia e
Política, vol.17 no.34 Curitiba Oct. 2009.
GIBSON, Rachel K. et al. Election campaigning on the WWW in the USA and UK: a
comparative analysis. Party Politics, London, v.9, n.1, p.47-75, 2003.
_____________________; WARD, Stephen. U.K. Political Parties and the Internet: "Politics
as Usual" in the New Media? Harvard International Journal ofPress/Politics, 1998; 3; 14.
function and effectiveness of party and candidate web sites. Social ScienceComputer
Review, Durham, n.18, p. 301–319, 2000.
HASEN, Richard L. Has the U.S campaign finance system collapsed? Political Equality, the
Internet, and Campaign Finance Regulation. The Forum, Volume 6, Issue 1 Article 7, 2008.
HINDMAN, M. The Real Lessons of Howard Dean: Reflections on the First Digital
Campaign. Perspectives on Politics, 3(1): 121-128, 2005.
http://www.minhamarina.org.br/
http://www.movmarina.com.br/
SCHWEITZER, Eva Johanna. Election campaigning online: German party websites in the
2002 national elections. EuropeanJournalof Communication, London, v.20, n.3, p. 327-
351, 2005.
213
RESUMO
Este artigo analisa a cobertura da campanha dos candidatos à presidência daRepública, Dilma
Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) realizada pelo jornalista da Folha de S. Paulo, Josias de
Souza em seu blog (http://josiasdesouza.folha.blog.uol.com.br/) durante o período de 17 a 31
de agosto de 2010. A partir dos eixos teóricos relacionados à mídia e política, jornalismo
político, cibercultura e interatividade, verificam-se também a apropriação do conteúdo do
blog pelos internautas e as relações de interação entre a postura do blogueiro e dos
comentaristas, por meio da análise dos comentários às postagens.
INTRODUÇÃO
1
Graduado em Letras pela UNIPAC em 2008, graduando em Comunicação Social – Jornalismo pela
Universidade Federal de São João del-Rei e bolsista de iniciação científica pelo PIBIC/CNPq, sob a orientação
do professor Luiz Ademir de Oliveira. E-mail: wandersonantonio@rocketmail.com.
214
2
Doutor em Ciência Política pela SBI/IUPERJ, é professor do Departamento de Letras, Artes e Cultura da
Universidade Federal de São João del-Rei, atuando nos cursos de Jornalismo. E-mail: luizoliv@terra.com.br.
229
mediador da instância midiática. Os eleitores tendem a tomar posturas mais voláteis nas
disputas e as eleições, que se tornam mais plebiscitários. Thompson (1998), por sua vez,
analisa o fenômeno da administração da visibilidade dos líderes políticos. Se, por um lado,
ficou mais fácil administrar a visibilidade com a contratação de especialistas em
marketing,profissionais de comunicação, por outro lado, a mídia deixa o político vulnerável
aos riscos da exposição pública, por meio de escândalos, gafes, acessos explosivos e
vazamento de informações.
JORNALISMO POLÍTICO
Jornalismo e objetividade
A imprensa, ao contrário do que prega a objetividade jornalística, é um ator político
que interfere nas eleições. Para Rodrigues (1990), o discurso midiático serve como referencial
de mundo para os indivíduos, tendo em vista que cabe aos meios de comunicação organizar os
fragmentos de um mundo caótico e construir um sentido. Esta visão é compartilhada por
Motta (2005) que afirma que a notícia, ao se inserir no cotidiano dos indivíduos, rompe com
as regularidades, porque aciona a novidade.
Os critérios de noticiabilidade podem interferir também na objetividade, visto que a
empresa jornalística tem autonomia para selecionar o que e quem terá visibilidade, dentro de
seus critérios, e como será abordado um fato ao ser transformado em notícia. Rodrigues
(1990) afirma que a natureza da informação é a imprevisibilidade. O autor aponta como
critérios de noticiabilidade: (a) a falha; (b) a inversão; (c) o excesso. Wolf (1999)
complementa a discussão, ao afirmar que a noticiabilidade é constituída por um conjunto de
regras exigidas dos acontecimentos para que se transformem em notícias. Como principais
critérios de noticiabilidade, Wolf (1999) ressalta o que ele chama de “substantivos” (conteúdo
da notícia), definidos por quatro fatores: o nível hierárquico dos envolvidos no fato, o impacto
sobre as pessoas, a quantidade envolvidos no fato e o interesse humano.
Já na eleição de 2002, Seabra (2006) argumenta que foi realizada uma ampla cobertura
pela imprensa, que tratou os candidatos com equilíbrio, o que fez da referida eleição “um
modelo de atuação para o jornalismo político” (p. 136) e que em quase 200 anos de
jornalismo, pela primeira vez vimos uma coincidência total entre política e jornalismo.
sobrecarrega um fato e quanto mais oculto está um fato a ser denunciado, mais pleno de valor-
notícia ele será. Já o pressuposto básico, talvez, para o interesse público seja: onde há dinheiro
público, há interesse público e deve haver transparência em torno da informação sobre sua
alocação, sobre como foi gasto e quais os resultados obtidos com ele. No entanto, o autor
ressalta que “nem só de dinheiro, porém, vive a vida pública; mas, sobretudo, da
publicidadeem torno das ações que afetam a vida pública”. (2006, p. 50). Sobre a esfera
pública, Silva (2006) afirma que é um espaço de mediação – da produção de sentido - e
midiação – enquadramento por parte da mídia -, sendo, assim, o espaço da polêmica.
O autor delimita três categorias distintas de interesse público: 1ª) relacionada com o
princípio da publicidade e corresponde ao princípio da visibilidade da coisa pública, que
combina duas práticas de democracia: a vigência de um governo aberto e o direito de saber de
todo cidadão; 2ª) relacionada com o conjunto de informações de utilidade pública, produzidas
não só pelo Estado e pelos governos, mas também pelos espaços sociais, que produzem
informações a serem “plasmadas” no espaço público e na esfera pública e 3ª) corresponde à
produção, difusão e ao consumo de informações sem status de coisa e utilidade pública, mas
que atendem ao “desejo de saber” do público.
Acerca desse mesmo assunto, Seabra (2006, p. 138) cita Nelson Traquina ao discutir o
papel do jornalismo. Traquina identifica três importantes papéis para o jornalismo: 1) deve
dar aos cidadãos informações úteis e necessárias para poderem cumprir o papel de interesse
na vida social e no governo do país; 2) deve ser o espaço do contraditório e da pluralidade de
opiniões, uma espécie de mercado de ideias; e 3) tem o papel de proteção contra os abusos de
poder, sendo um “cão de guarda” da sociedade. Para o autor, essas três funções resumem bem
o papel do jornalismo político: “informar, formar opinião e fiscalizar”. (Traquina apud
Seabra. Entrevista ao Observatório da Imprensa, nº 225, em 20 de maio de 2003.
www.observatoriodaimprensa.br).
Sobre o jornalismo e as novas tecnologias, Seabra (2006, p 137) argumenta que estas
geraram uma maior rapidez no processo de obtenção de informações, o que resultou no
“aumento quantitativo da oferta de noticiário”, mas que essa cobertura mais extensiva é mais
abrangente, porém, não imune ao erro e que a popularização dos meios eletrônicos de
comunicação vem transformando o jornalismo político. “Os blogs e sites de notícia nos fazem
lembrar a imprensa brasileira em seus primórdios, quando uma profusão de folhas alimentava
o debate político e desencanava a segurança dos poderosos” (Seabra, 2006, p. 139).
No entanto, apesar das premissas do jornalismo vinculadas ao interesse público, o que
se percebe, na análise da imprensa brasileira, é um evidente descumprimento das regras
233
CIBERCULTURA E BLOGOSFERA
Cibercultura
A partir da revolução tecnológica iniciada na década de 1950, com a criação da
ARPANET, uma rede utilizada para interligar centros de comando e de pesquisa bélica e,
posteriormente, com o desenvolvimento de uma rede capaz de conectar todos os nós criados
pela ARPANET e que era interligada a pesquisadores de todo os EUA, segundo Castells
(1999), a tecnologia digital passou a permitir o empacotamento horizontal de todos os tipos de
mensagens, inclusive de som, imagens e dados. A internet passou, então, a ser apropriada por
indivíduos e grupos no mundo inteiro e a partir de diferentes objetivos e ganhou novas
aplicações, bem diferentes das preocupações bélicas e militares do contexto da Guerra Fria.
penetrabilidade dos efeitos das tecnologias digitais, ou seja, são mudanças que atingem os
processos da nossa existência individual e coletiva; (c) à lógica de redes – trata-se de uma
comunicação que não possui mais um centro de controle, mas está espalhada; (d) a
flexibilidade, já que os processos são reversíveis, organizações e instituições podem ser
modificadas, e até mesmo fundamentalmente alteradas, pela organização de
seuscomponentes; (e) a crescente convergência de tecnologias específicas para um sistema
altamente integrado.
Como parte desse paradigma, a blogosfera integra o novo cenário midiático e os blogs
podem ser considerados um fenômeno social, como dispositivos que servem de
complementação aos meios de comunicação tradicionais. Os blogs surgiram no final da
década de 1990, timidamente foram sendo popularizados e hoje seu uso se expande cada vez
mais. Nascidos como guias de navegação, passaram a ser usados como diários virtuais, sendo
parte de uma importante evolução da internet como espaço de participação e colaboração dos
usuários na construção do conteúdo. Essa posição dos blogs como mídia social que estimula a
participação dos cidadãos na criação de conteúdos, constrói o que Lévy (2004) chama de
inteligência coletiva: “Es una inteligencia repartida en todas partes, valorizada
constantemente, coordinadaentiempo real, que conduce a una movilizaciónefectiva de
lascompetencias”. (2004, p. 20).
Segundo AntonioGraeff (2009, p. 6), entende-se por mídias sociais aquelas que
“permitam a comunicação „de muitos para muitos‟, e a criação (individual ou colaborativa), o
compartilhamento e a distribuição de conteúdo (...) em uma ou mais plataformas”.
Posteriormente os jornalistas também se apropriaram desse meio, como ferramenta
para suprir a busca cada vez mais crescente da população por informação, com segmentos
especializados do jornalismo, como política, esportes, economia, entre outros.
> notícia >site / (blog)> “usuário”, a lógica distribucionista se mantém. Por outro lado, o autor
argumenta que o leitor não é totalmente passivo no webjornalismo, uma vez que a leitura
torna-se hipertextual. Primo (2006) cita GerogeLandow, ao argumentar que esse tipo de
leitura demanda uma postura ativa do leitor na seleção dos links que apontam para outras
leituras.
O hipertexto é capaz de reproduzir de forma mimética à capacidade do cérebro de
guardar e recuperar informações através de links: referências que podem ser acessadas rápida
e intuitivamente. Lévy (1993) propõe seis critérios para se caracterizar os hipertextos:
1.Princípio da metamorfose: é o processo de constante construção e renegociação de
sentidos que ocorre na rede hipertextual;
2. Princípio da heterogeneidade: os nós, as informações organizadas em uma
determinada seção de um hipertexto, como as conexões que se estabelecem entre as diversas
partes dele, têm um caráter extremamente heterogêneo;
3.Princípio da multiplicidade e de encaixe das escalas: o hipertexto se organiza de
forma "fractal", sendo que qualquer nó ou conexão pode ser composto por toda uma rede;
cada novo nó pode apresentar um outro universo de conexões, e assim por diante;
4. Princípio de exterioridade: Não há uma unidade, nem um motor próprio na rede;
Sua construção, definição e manutenção dependem de complexas e múltiplas interações e
conexões entre pessoas e equipamentos;
5. Princípio da topologia: nos hipertextos, tudo funciona por proximidade, por
vizinhança; o curso é uma questão de caminhos;
6. Princípio da mobilidade dos centros: a rede tem uma estrutura ramificada, como
raízes, com múltiplos e móveis centros, que se organizam de acordo com o fluxo da narrativa
e da leitura. (1993, p. 25).
Portanto, nos blogs informativos, embora o leitor não participe na produção noticiosa,
executa uma leitura hipertextual, de caráter ativo, em que o leitor pode seguir diversos
caminhos, além de ter a possibilidade de expressar sua opinião, o que pode, inclusive,
interferir no trabalho do jornalista.
A interatividade altera, portanto, o conceito de comunicação, uma vez que acarreta a
possibilidade de transformar os envolvidos na comunicação, ao mesmo tempo, em emissores
e receptores da mensagem. Segundo Lemos (1997), “nós experimentamos, todos os dias,
formas de interação ao mesmo tempo técnica e social. Nossa relação com o mundo é uma
relação interativa onde, a ações variadas correspondem retroações as mais diversas”. (p. 01).
O autor argumenta que a revolução digital possibilita o que ele chama de uma “terceira
interatividade”, de tipo “eletrônico-digital”. “Podemos notar assim, que a interatividade se
236
Nessas interações mediadas por computador são observados vários aspectos inerentes
à comunicação, como as relações de cooperação consensual e conflito. Segundo Primo
(2005), a popularidade dos blogs e das “redes de relacionamento” atualizou o interesse pela
discussão sobre comunidades virtuais, tratando com paixão a característica gregária desses
grupos de possibilitarem ao internauta fazer amigos, reencontrar outros e trocar ideias, além
de proporcionar o intercâmbio de ajuda sobre os mais diferentes problemas. O autor cita
Bauman, que argumenta sobre o fato de comunidade ser um cenário fora de nosso alcance. “A
comunidade realmente existente se parece com uma fortaleza sitiada, continuamente
bombardeada por inimigos (muitas vezes invisíveis) de fora e frequentemente assolada pela
discórdia interna” (2005, p. 23).
O autor ainda argumenta que:
Não se pode deixar de lado, pois, o estudo das tensões que percorrem todo o
ciberespaço. Os discursos tentadores de que a facilitada comunicação através
da Internet promoverá por si só mais bem-estar, amizade, crescimento
intelectual e nos conduzirá finalmente a um regime mais democrático
esconde deliberadamente toda discórdia e mesmo hostilidade debaixo do
237
Metodologia de análise
Como primeiro procedimento metodológico, foi feito um estudo bibliográfico a partir
dos eixos temáticos: i) interface mídia e política; ii) jornalismo político e objetividade; iii)
cibercultura e webjornalismo. Num segundo momento, partiu-se para a pesquisa documental
com a coleta das postagens do blog josiasdesouza.folha.blog.uol.com.br/ do dia 17 de agosto,
quando teve início o Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral (HGPE) a 31 de agosto de
2010. Coletado o material, partiu-se para análise de conteúdo qualitativa. Conforme explica
Herscovitz (2008, p.127):
(...) os pesquisadores que utilizam a análise de conteúdo são como detetives
em busca de pistas que desvendem os significados aparentes e/ou implícitos
dos signos e das narrativas jornalísticas, expondo tendências, conflitos,
interesses, ambiguidades ou ideologias presentes nos materiais analisado.
Portanto, pretende-se neste deste trabalho, identificar, por meio da análise das
amostras coletadas, como foi realizada a cobertura do período citado da campanha eleitoral à
presidência da República em 2010 pelo blog do jornalista Josias de Souza, da Folha de
S.Paulo. Desse, modo, com a análise de conteúdo, verifica-se como foi construída a
imagemdos dois principais candidatos, Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB), bem como
238
a postura editorial do blog perante as duas candidaturas, relacionando a análise aos eixos
teóricos estudados.
Do outro lado, José Serra tem como aliados o Democratas e o PPS. Até final do ano
passado, o governador de São Paulo mantinha uma posição relativamente tranquila ao liderar
as pesquisas com mais de 40% das intenções de voto. Inicialmente a campanha de Serra
apresentou-se de forma amena, inclusive com elogios ao governo Lula e tentativa de vincular
a imagem do presidente ao tucano Mas, com o crescimento da candidatura de Dilma, houve
um desgaste na candidatura tucana, já que alguns aliados aderiram à candidatura de sua
adversária. Para tentar reverter o quadro, o tucano tem investido numa posição ofensiva,
principalmente com a denúncia de vazamento de dados da Receita Federal por meio de quebra
de sigilo fiscal de pessoas ligadas ao PSDB e também da filha do candidato tucano.
A candidata Marina Silva (PV) obteve apenas 8,9% das intenções de voto, segundo a
referida pesquisa e tem poucas chances de disputar o segundo turno. Os outros candidatos não
chegam a 1% das intenções. José Maria (PSTU) e Plínio de Arruda Sampaio (PSOL)
aparecem empatados com 0,6%; José Maria Eymael (PSDC) tem 0,2% e Rui Pimenta (PCO)
0,1%. Os outros dois candidatos, Ivan Pinheiro (PCB) e Levy Fidelix (PRTB) não pontuaram
na pesquisa.
239
Análise qualitativa
O procedimento metodológico adotado neste trabalho consiste em uma análise de
conteúdo qualitativa, a partir de pesquisa documental das postagens do blog de Josias de
Souza durante o período de 17 a 31 de agosto de 2010. Com base nessa análise qualitativa,
foram determinadas como categorias de análise a construção da imagem dos candidatos
Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) e o posicionamento político do blogueiro – a partir
da análise do tratamento dado aos candidatos e às temáticas abordadas.
tiver coisa errada vou ligar para presidenta‟”, que recebeu 55 comentários e acrescentou de
forma crítica o subtítulo: “Lula concedeu nesta terça (17) uma entrevista a emissoras de rádio
do Nordeste. Falou como se Dilma Rousseff já estivesse eleita. Chamou-a de „presidenta‟”. O
jornalista apenas transcreveu frases de Lula na entrevista, inclusive a parte em que o
presidente “ironizou o antecessor Fernando Henrique sem mencionar-lhe o nome: „Quem
pensa que vou deixar a presidência e vou para Paris, para Harvard, não sei para onde... Eu vou
vir para o sertão brasileiro, vou viajar esse país inteiro para ver o que eu fiz e o que eu não
fiz‟”.
No dia 19 de agosto, foi publicada a postagem “Findo o mandato, Lula vai „chispar‟ e
„beber cachaça‟”. Foram selecionadas citações do discurso de Lula, proferido em um evento
de contabilistas, em um hotel de Brasília: “„Quando eu e o José Alencar deixarmos o Palácio
do Planalto, nós vamos tomar um gole da cachaça fabricada por ele, chamada Maria da Cruz.
Sem nenhuma preocupação se a imprensa vai fotografar‟”. O jornalista ainda disponibiliza o
link para acesso à íntegra em áudio do discurso. A postagem recebeu 149 comentários.
Na postagem, “Com português enleado, Dilma „saboreia‟ o Datafolha”, publicada no
dia 21 de agosto e que recebeu 63 comentários, Josias de Souza satiriza a candidata petista,
pelo uso freqüente da associação de sua imagem à de Lula: “Pela segunda vez em menos de
24 horas, Dilma „Lulodependente‟ Rousseff foi ao palanque ao lado de Lula „Cabo Eleitoral‟
da Silva”. Em tom ainda mais sarcástico, o jornalista debocha da declaração da candidata
sobre sua vantagem nas pesquisas do Instituto Datafolha: “Expressando-se em „dilmês‟, um
dialeto próprio, parente distante do português, a candidata declarou:...”.
Em 27 de agosto, foi publicada uma postagem que obteve 78 comentários. Com o
título “Favoritismo leva Dilma a brincar de esconde-esconde”, Josias aborda a redução da
exposição de Dilma pelos coordenadores de campanha e opina sobre o motivo, afirmando que
“Deseja-se retirar da trilha da candidata o risco do tropeço. À platéia foi reservado o papel de
tola”. O jornalista critica o marketing excessivo presente na campanha eleitoral, que
transformou a imagem de Dilma Rousseff: “Na quadra atual, a marquetagem já fez de um
candidato de oposição um situacionista de ocasião. Uma candidata de cara lisa e prosa
tecnicista ganhou barba grisalha e a lábia solta de um língua presa”.
Portanto, por meio dessas postagens, fica clara a postura editorial desfavorável à
candidatura de Dilma Rousseff no blog de Josias de Souza, com uma cobertura explicitamente
tendenciosa e críticas ácidas à candidata do PT. O blog constrói uma imagem de Dilma como
sendo uma candidata totalmente dependente do presidente Lula, seu principal cabo eleitoral
(“DilmaLula dependente‟ Rousseff foi ao palanque ao lado de Lula Cabo Eleitoral‟ da Silva”
241
no TSE”, Josias compara a campanha eleitoral a uma ópera e faz relação ao fato de Serra
vicular sua imagem à do presidente Lula: “A peça levada ao ar pela campanha de Serra na
noite desta quinta (19) funciona como prévia do epílogo. Serra aparece ao lado de Lula. Ao
fundo, a voz do locutor: „Serra e Lula, dois homens de história, dois líderes experientes‟”. O
jornalista concede voz ao presidente do PT, José Eduardo Dutra, sobre a reclamação
protocolada pelo partido no TSE: “De dia o Serra esculhamba o governo, o PT e os petistas.
De noite bota o Lula no seu programa. Na minha terra o nome disso é... deixa pra lá”. Josias
forma satírica, uma imagem de José Serra caracterizado como desesperado, ao procurar ligar
Lula à sua imagem.
A campanha de Serra abandona a tática de tentar vincular sua imagem a Lula, mas o
candidato tucano continua sendo mostrado como oportunista. Em uma postagem do dia 30 de
agosto, intitulada “Serra tenta pegar carona no êxito de Aécio em Minas”, que obteve 76
comentários, Serra declara: “O crescimento da campanha [de Anastasia] é muito bom para
Minas, para o Brasil, para o partido e para mim” e continua: “onde forem Aécio e Anastasia,
eu irei junto”. Portanto, percebe-se que a imagem de José Serra construída pelo blog
dojornalista Josias de Souza, durante o período analisado, caracteriza o candidato como
oportunista, ao procurar associar sua imagem a cabos eleitorais com grande potencial de
transferência de votos, como o ex-governador de Minas Gerais e candidato ao Senado, Aécio
Neves. Serra apresenta uma imagem de “desesperado”, na intenção de vincular sua imagem
ao presidente Lula, que apóia sua adversária que lidera as pesquisa, Dilma Rousseff, do PT.
blogueiro e comentarista.
Foram Na postagem do dia 17 de agosto de 2010 “Lula: „Se tiver coisa errada vou
ligar para presidenta‟”, o internauta identificado apenas com o pseudônimo de Marajá,
comenta: “Lula é lider mundial e por isto tem o direito em dar pitacos em qualquer governo.
Este é o cara”. Já JuçâniaFacchin comenta:
Mas como são lúcidos o pessoal dos 3%, não é mesmo? O que mais
incomoda vocês não é propriamente o Lula, mas sim o povão que agora
divide com vocês, classe média mediana, universidades, bancos, agências d
automóveis, etc,etc... O que vocês gostariam era de continuar como era na
época do FHC, onde só vocês podiam desfrutar das riquezas do país! O que
lhes incomoda é que antes vocês estudavam o fundamental e o ensino médio
em escolas particulares, mas na hora da universidadeiam para as federais e
agora vocês terão que dividir as vagas com oriundos de escolas públicas, com
negros e trabalhadores. Fosse o FHC, Serra ou qualquer outro que tivesse feito isso
vocês apelariam igualmente (josiasdesouza.folha.blog.uol.com.br, 17/08/2010).
Pernambuco, comenta “LULA "ó concur", todos querem colar no Lula, Serra não desgruda
daqui a pouco vai pedir para ingressar nas fileiras do PT, Marina também começa a colar em
LULA, esta muito arrependida de ter saido do PT! Plinio ainda não expos LULA em sua
campanha, mas adora dizer que é um dos fundadores do PT, ou seja, quer um pouquinho de
luz tambem. Para presidente DILMA!”.
Portanto, percebe-se que os comentaristas apresentam diversas perspectivas em
relação às postagens. Há visões convergentes e divergentes à postura editorial do blog e
doblogueiro, bem como comentários neutros, configurando-se, assim, um cenário de
“interação mediada por computador” (Primo, 2005) em que estão presentes relações de
conflito e consenso.
CONCLUSÕES
A partir deste trabalho, constata-se a posição de centralidade da mídia para a política,
sendo a esfera midiática o locus onde os outros campos sociais buscam obter visibilidade a
fim de legitimar suas ações e seu discurso. O ciberespaço proporcionou uma ampliação da
esfera pública e possibilita o uso da internet como dispositivo midiático imprescindível na
sociedade contemporânea para a difusão de informação e para o acesso ao entretenimento,
constituindo-se também como espaço de compartilhamento e interação por meio das mídias
sociais, que permitem a comunicação de muitos para muitos. Nesse universo, os blogs
constituem um importante espaço de produção e reprodução de informação, criando, assim,
uma rede noticiosa que possibilita uma ampliação do alcance dessa informação e proporciona
ao internauta uma posição de leitura mais ativa, e colaborativa, apresentando-se como um
ambiente onde se podem observar diversos tipos de relação por meio da análise da interação
mediada por computador.
REFERÊNCIAS
LÉVY, Pierre. Cibercultura. Trad. Carlos Irineu da Costa. São Paulo: Ed. 34, 1999.
CORREIA, João Carlos. De que modo a noção de espaço público altera-se na rede e
afetaconceptualmente o webjornalismo digital? In: BRASIL, André. Cultura em fluxo. Belo
Horizonte: Ed.PUC-Minas, 2004.
GRAEFF, Antonio. Eleições 2.0: a internet e as mídias sociais no processo eleitoral. São
Paulo: Publifolha, 2009.
LIMA, Venício de. Mídia. Crise política e poder no Brasil. São Paulo: Perseu Abramo, 2006.
SILVA, Luiz Martins da. Jornalismo e interesse público. In SEABRA, Roberto e SOUSA,
Vivaldo. (org). Jornalismo político: teoria, história e técnicas. Rio de Janeiro: Record, 2006.
247
TUCHMAN, Gaye. A objetividade como ritual estratégico: uma análise das noções de
objetividade dos jornalistas. In: TRAQUINA, Nelson (Org). Jornalismo: questões, teorias
e estórias. Lisboa:Editora Vega, 1993, p.74-90.