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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2018.0000552077

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº


0219155-84.2009.8.26.0100, da Comarca de São Paulo, em que é apelante MASSA
FALIDA DO BANCO ROYAL DE INVESTIMENTO S/A, são apelados MAISON
EMPREENDIMENTOS IMOBILIÁRIOS S/C LTDA, FRANCISCO ZAGARI NETO e
ANGELA HABEYCHE ZAGARI.

ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 13ª Câmara de Direito Privado


do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão:Negaram provimento ao
recurso. V. U., de conformidade com o voto do relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Desembargadores FRANCISCO


GIAQUINTO (Presidente) e ANA DE LOURDES COUTINHO SILVA DA FONSECA.

São Paulo, 27 de julho de 2018.

Nelson Jorge Júnior


relator
Assinatura Eletrônica
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13ª CÂMARA DE DIREITO PRIVADO

-- voto n.15578 --
Apelação Cível n. 0219155-84.2009.8.26.0100
Apelante: Massa Falida do Banco Royal de Investimentos
Apelada: Maison Empreendimentos Imobiliários S/C Ltda. e outros
Comarca: São Paulo 33ª Vara Cível Foro Central
Juiz de Direito Sentenciante: Emanuel Brandão Filho

PRESCRIÇÃO
- Ação monitória Ressarcimento por quantia repassada ao
BNDES Cinco anos contados do dia em que a quantia deveria
ser ressarcida Inteligência do artigo 206, § 5º, inc. I, do Código
Civil Ajuizamento da medida fora do prazo de prescrição
Reconhecimento da prescrição:

O lapso prescricional para o ajuizamento de ação monitória


pretendendo o ressarcimento de quantia repassada ao BNDES, em
única parcela, tem como termo inicial a data em que a quantia
deveria ser ressarcida, e uma vez ajuizada a medida fora do
prazo prescricional de cinco anos, há que se reconhecer a perda
da pretensão.

RECURSO NÃO PROVIDO

Vistos, etc.

Propôs Massa Falida do Banco Royal de


Investimentos S/A a presente ação monitória contra MAISON
EMPREENDIMENTOS IMOBILIÁRIO S/C LTDA., FRANCISCO ZAGARI
NETO e ANGELA HABEYCHE ZAGARI, tendo como amparo um contrato
de abertura de crédito fixo FINAME/BNDES, no valor histórico de R$
98.516,00, acompanhado de uma nota promissória, comprovante de
transferência bancária e memória de cálculo (fls.13/30).

Devidamente citada, a empresa requerida


apresentou embargos monitórios sustentando a ocorrência da prescrição,
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assim como a ausência de documentos aptos a instruir a ação monitória.

Após inúmeras tentativas frustradas, o


requerido Francisco Zagari Neto foi citado com hora certa, ao passo que
Ângela Habeyche Zagari foi citada pela via editalícia (fls.322/323).

O defensor público designado apresentou


embargos por negativa geral e sustentou o transcurso do lapso
prescricional para a cobrança da dívida (fls344/344v).

Após a manifestação do Ministério Público


(fls.407/409), foi proferida a r. sentença, que reconheceu e declarou a
ocorrência de prescrição para a cobrança da dívida originária do contrato
que instrui a ação monitória (fls.411/413).

Recorre o autor (fls. 419/422) alegando, em


resumo, não ter ocorrido a prescrição, visto que o inadimplemento dos
apelados não teria acarretado o vencimento antecipado da dívida para fins
de prescrição, cujo transcurso do prazo somente teria iniciado após o
vencimento da última parcela do contrato.

O recurso é tempestivo e não veio preparado, pois


foi deferido o recolhimento das custas ao final do processo (fls.32).

A apelada MAISON EMPREENDIMENTOS


apresentou sua resposta ao recurso pugnando pela manutenção da
sentença (fls.462/469).

Da mesma forma, a Procuradoria Geral de Justiça


opinou pela manutenção da sentença em seus exatos termos (fls.473/475)

É o relatório.
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I Cuida-se de ação monitória em que o


banco apelante pretende ser ressarcido por quantia repassada ao BNDES,
no valor de R$2.899,15 em 21/02/2003, em uma única parcela.

A empresa tomadora do empréstimo restou


inadimplente, ficando o banco apelante como garantidor ao BNDES, e
assim assumiu a obrigação de realizar o repasse, ainda que o beneficiário
não realizasse os pagamentos.

A sentença proclamou que a pretensão do


banco foi atingida pela prescrição, considerando o termo inicial da
pretensão ao ressarcimento da quantia repassada ao BNDES em
21.02.2003.

Pois bem. Embora o banco apelante pretenda


tomar como termo inicial do prazo prescricional a data de vencimento do
contrato de abertura de crédito firmado entre as partes, certo é que o
próprio banco, conforme confessado, em razão de problemas financeiros,
que culminaram com sua liquidação extrajudicial, deixou de cumprir o
avençado, arcando com somente um pagamento ao BNDES (fls.21).

De tal forma não há como acatar como termo


inicial da prescrição o vencimento do contrato que confessadamente não
foi integralmente cumprido pelo apelante, não sendo o caso também de se
cogitar em antecipação do prazo prescricional. Tanto que da quantia
originariamente avençada no contrato de abertura de crédito, o apelante
busca na presente ação somente o valor de uma única parcela repassada
ao banco BNDES, não havendo referência no tocante ao contrato.

Conforme a planilha de cálculo apresentada


com a inicial, o vencimento da quantia pretendida ocorreu em 17.02.2003,
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incidindo, a partir de então, a cobrança de juros e demais encargos


moratórios. Esta data deve, portanto, ser considerada como termo inicial
da fluência do prazo prescricional para o ajuizamento da presente ação
monitória.

A cobrança sob exame amolda-se ao art. 206,


§5º, inc. I, do Código Civil, que estabelece o prazo de 5 anos para o
ajuizamento de “pretensão de cobrança de dívidas líquidas constantes de
instrumento público ou particular”.

Como foi ajuizada a ação monitória no dia


24.11.2009, é certo que havia sido extinta a pretensão de cobrança desse
débito em fevereiro de 2008.

Assim, impõe-se a manutenção da decretação


da prescrição.

II. Ante o exposto, por meu voto, nega-se


provimento ao recurso. Para o fim previsto no art. 85, § 11º, do Código de
Processo Civil, fixa-se honorário advocatício em 15% do valor da causa,
nos termos da sentença.

Nelson Jorge Júnior


-- Relator --

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