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28/08/2017 Parecer N.

º 23/PP/2008-G - Ordem dos Advogados

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Parecer N.º 23/PP/2008-G


7 DE NOVEMBRO, 2008

Foi solicitado a este Conselho, pela Ilustre Advogada Sr.ª Dr.ª …, PARECER sobre as seguintes QUESTÕES:

1 – É possível uma sociedade por quotas de consultoria farmacêutica ter no seu objecto social a prestação de serviços na área do Direito
Farmacêutico? O n.º 7, in fine do art. 1º da Lei 49/2004 de 24 de Agosto sustenta uma resposta afirmativa a esta questão?

2 – Os pareceres técnico-jurídicos na área referida no n.º 1 poderão ser dados à empresa por advogado ou jurista com vínculo à empresa que por seu
turno dará aos seus clientes, por aplicação do n.º 8, art. 1º do referido diploma?

3 – Qual o sentido e interpretação dada aos n.ºs 7 e 8 do art. 1º da lei supra referida

PARECER

§ 1.º
Conformação legal dos actos próprios de advogados

Os arts. 1º da Lei 49/2004, de 24 de Agosto e 61º a 65º do Estatuto da Ordem dos Advogados, prescrevem, expressamente, que apenas os licenciados
em Direito, com inscrição em vigor naquela, podem praticar actos próprios de advogados.

Tal condição é, pois, essencial para assegurar aquela prática, pois só quem está apto e qualificado para tal poderá contribuir para a efectiva realização
da justiça.

Tais exclusividade e objectivo estão, de resto, previstos constitucionalmente (cfr. art. 208º da CRP)

Foi, assim, por razões de segurança e de confiança dos cidadãos no funcionamento da justiça, que determinados actos foram cometidos em exclusivo
aos advogados (ou advogados estagiários), quer em prática isolada, quer inseridos em escritório, composto exclusivamente por advogados, quer às
sociedades de advogados, pois são estes os únicos profissionais com capacidade técnica, conhecimentos teóricos e ética profissional necessários para
a prestação do serviço de aconselhamento jurídico e de representação dos cidadãos.

É isto o que, inequivocamente, prescreve o art. 61º do EOA e a aludida Lei 49/2004 e quem praticar tais actos, sem preencher os requisitos ou
satisfazer a necessária condição, incorre no cometimento do crime de procuradoria ilícita, p. e p. pelo art. 7º da aludida Lei e pelo art. 358º do
Código Penal.

Preceitua, ainda, o n.º 1, in fine, do art. 6º da Lei 49/2004, a proibição expressa de funcionamento de escritório ou gabinete, constituídos sob
qualquer forma jurídica, que não seja exclusivamente, e sublinhe-se exclusivamente, composto por advogados, que prestem serviços a terceiros que
compreendam a prática de actos próprios de advogados.

Tal proibição-regra não será, porém, aplicável, nos termos dos n.os 3 e 4 do mesmo artigo, às seguintes entidades:

1) Sindicatos e associações patronais, desde que os actos praticados o sejam para defesa exclusiva dos interesses comuns em causa (e não, note-se,
para a defesa de interesses particulares dos seus associados ou de terceiros) e que os mesmos sejam individualmente exercidos por advogado,
advogado-estagiário ou solicitador (n.º 3).

2) Entidades sem fins lucrativos que requeiram o estatuto de utilidade pública, desde que observem os requisitos ínsitos nas als. a), b) e c) do n.º 4.

Mais quais são, então, esses actos (próprios de advogado)?

O art. 61º do E.O.A. remete-nos para a Lei 49/2004 onde, no n.º 5 do art. 1.º e nos arts. 2º e 3º, são elencados o mandato forense e a consulta
jurídica, como actos exclusivamente da competência de advogados.

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Quanto à consulta jurídica, cuja especificação de conteúdo assumirá maior relevância atendendo à situação em análise, objecto deste parecer, refere
o aludido art. 3º que se considera consulta jurídica “a actividade de aconselhamento jurídico que consiste na interpretação e aplicação de normas
jurídicas mediante solicitação de terceiro.”

É, pois, exigível que a actividade referida seja exercida no interesse de terceiros e no âmbito de uma actividade profissional, ainda que não assuma
carácter contínuo ou reiterado, por Advogados com inscrição em vigor na OA.

Só assim não será, quando estivermos perante uma das situações previstas nos n.os 7 ou 8 do art. 1º, do mesmo Diploma:

1 – Quando competências próprias atribuídas às demais profissões ou actividades cujo acesso ou exercício é regulado por lei, permitirem a sua
prática. 2 – Quando tais actos forem praticados por representantes legais, empregados, funcionários ou agentes de pessoas singulares colectivas,
públicas ou privadas, mas nessa qualidade, caso em que não se consideram praticados no interesse de “terceiros”.

Convirá salientar que, não obstante tais normas serem, mais adiante, objecto de uma maior e mais aprofundada reflexão, quanto a este primeiro
ponto, a competência, por não advogados, para a prática de tais actos terá de decorrer de LEI que expressamente a preveja.

Quanto ao segundo ponto, é determinante que esteja em causa a defesa exclusiva dos interesses do representado, empregador ou superior
hierárquico ou de interesses comuns de uma concreta colectividade (numa perspectiva interna, portanto). Tal significa que não estando em questão
representação ou aconselhamento interno de uma colectividade, com vista à realização do seu objecto social, mas sim aconselhamento de “clientes”,
logo, terceiros, tal situação não se encontrará abrangida pela previsão do n.º 8 do art. 1.º.

§ 2.º
Análise das questões concretas colocadas

Após a análise do regime jurídico conformador dos actos próprios de advogado, afigura-se ser possível já uma tomada de posição, ainda que
perfunctória, relativamente às questões colocadas pela consulente.

Pese embora não tenham sido fornecidos quaisquer elementos concretos sobre a aludida sociedade de consultoria farmacêutica, v.g. o seu pacto
social, proceder-se-á à análise individualizada de cada uma das questões.

Quanto à primeira, parece que a resposta não poderá deixar de ser negativa,

Aplicam-se, aqui, as já referidas normas dos arts. 61º e segs. do E.O.A. e o preceituado na Lei 49/2009, que prevê e disciplina os actos próprios de
advogado, nomeadamente nos seus arts. 1.º, 2.º, 3.º, 6.º e 7.º;

Assim, e não se mostrando necessárias quaisquer outras considerações sobre o regime dos actos próprios de advogado, se a sociedade em análise é
uma sociedade de consultoria farmacêutica, não composta exclusivamente por advogados, não poderá a mesma ter como seu objecto social a
prestação de serviços na área de direito farmacêutico, por violação da proibição constante do n.º 1 art. 6º da Lei 49/2004.

Os n.os 3 e 4 do mesmo preceito não encontram aqui qualquer aplicabilidade por não estarmos perante um sindicato ou entidade patronal na defesa
exclusiva dos interesses comuns dos seus associados (n.º 3) ou de entidade sem fins lucrativos.

De igual modo, também os n.os 7 e 8 do art. 1º do mesmo Diploma, não são aplicáveis ao caso concreto, ora em análise.

Com efeito, a prática de “serviços na área de direito farmacêutico” sempre implicaria o aconselhamento jurídico nessa mesma área, assim se
concluindo que tais actos (consulta jurídica) sempre seriam exercidos no interesse de terceiros e no âmbito de uma actividade profissional e,
portanto, considerados actos próprios de advogado, pelo que lhes estaria vedada a prática dos mesmos.

O que nos conduz à segunda questão.

O n.º 8, cujo teor aqui se dá por integralmente reproduzido, por seu turno, estabelece que tais actos só não serão considerados como actos próprios
de advogado se não forem prestados no interesse de terceiros.

Ora, sendo a sociedade em questão uma sociedade que presta, além do mais, consultoria farmacêutica aos seus “clientes”, fica afastada a aplicação
daquele n.º 8 do art. 1º, pois a aludida prestação de serviços na área do Direito Farmacêutico não será prestada pelos membros de tal sociedade (ou
por terceiros, ainda que efectivamente advogados, contratados para o efeito), enquanto representantes legais, empregados, funcionários ou agentes
de pessoas singulares ou colectivas, públicas ou privadas, mas praticados, inelutavelmente, no interesse de terceiros e assumindo a natureza de actos
próprios de advogado.

Do exposto resulta, portanto, que ainda que os referidos pareceres técnico-jurídicos na área de Direito Farmacêutico sejam dados à empresa por
advogado ou jurista com vínculo à empresa que, por seu turno, os facultará aos seus clientes, sempre estaria arredada a previsão e permissão dada

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pelo n.º 8 do art. 1º do aludido Diploma, precisamente por tais actos ou serviços serem praticados no interesse de terceiros, clientes, e não no
exclusivo interesse dos membros da própria empresa e não visando, por isso, a defesa exclusiva de interesses comuns desta.

Pelo que é nosso entendimento que, tais pareceres técnico-jurídicos, não poderão ser dados à empresa para que esta os disponibilize, em momento
posterior, aos seus clientes.

Finalmente, quanto ao terceiro e último ponto do pedido de parecer, no qual se questiona qual o sentido e interpretação dos já referidos n.os 7 e 8
do art. 1º da Lei 49/2004, serão repristinadas algumas das considerações já tecidas a propósito da segunda questão.

O n.º 7 prevê que os actos referidos nos números anteriores do aludido art. 1º serão considerados como próprios de advogado, excepto quando o
exercício dos mesmos seja permitido, por lei especial, a outras profissões ou actividades de acordo com as competências próprias atribuídas a estas.

Tal previsão, ínsita na parte final do referido n.º 7, objecto de diversas formulações durante os trabalhos preparatórios da aludida Lei, prescreve
apenas que os actos que, nos termos do art. 1º, forem exercidos no interesse de terceiros e no âmbito de actividade profissional, não são interditos às
demais profissões ou actividades cujo acesso ou exercício é regulado por lei, desde que compreendidos nas competências que lhes forem atribuídas.
(V.g. art. 6º do Estatuto da Câmara dos Técnicos Oficiais de Contas)

O que significa que só através de previsão legal explícita a competência para a prática de actos, considerados próprios de advogado e solicitadores e
conforme elencados no art. 1º da Lei 49/2004, pode ser atribuída a outros profissionais que não aqueles, desde que respeitado o núcleo de
actividades reservada em exclusivo aos Advogados e salvaguardadas as exigências de dignidade, isenção, competência de quem presta tais serviços e
de confiança por parte dos consulentes (Cfr. Ac. do STJ 19 de Janeiro de 1984, proc. n.º 071377)

É que o Advogado, repete-se, é o único profissional que, pelos seus saber, conhecimentos técnicos e vinculação a uma rigorosa conduta
deontológica, se encontra em condições para pugnar pelos direitos e legítimos interesses dos cidadãos, tendo merecido, por isso, a sua profissão, a
consagração e protecção na Lei Fundamental.

Pois que, qualquer previsão legal que ofenda a esfera nuclear dos actos próprios de advogado, estará, inevitavelmente, ferida de ilegalidade ou
mesmo de inconstitucionalidade.

Importará, por fim, aquilatar sobre qual o sentido e alcance do n.º 8, ainda do mesmo artigo.

Nos termos do n.º 8 do art. 1º, não serão considerados praticados no interesse de terceiros e, por isso, passíveis de serem praticados por
profissionais que não sejam advogados, os actos praticados pelos representantes legais, empregados, funcionários ou agentes de pessoas singulares
ou colectivas, públicas ou privadas, nessa qualidade.

Ora, é evidente que os actos praticados pelas pessoas elencadas neste número não o serão no interesse de terceiros. Isto parece óbvio e é
compreensível a intenção do legislador.

Por outro lado, é manifesto que os actos próprios de advogado visam sempre a defesa de interesses dos seus clientes, por isso terceiros, e o
aconselhamento de consulentes que se dirigem aos seus escritórios, inexistindo entre os mesmos qualquer vinculação ou relação de dependência.

Nessa medida, bem se compreende que, embora muitas vezes se trate de actos cuja prática estaria, em regra, adstrita à competência dos profissionais
liberais da advocacia, mas uma vez que não atingem a esfera de “terceiros”, e são praticados numa perspectiva de defesa de interesses comuns ou de
representados, os mesmos não estejam vedados a outros profissionais.

Mas, claro, apenas quando e na medida em que ajam nessa qualidade.

§ 3.º
Conclusões

1 – São actos próprios de advogado, entre outros, o exercício do mandato forense e a consulta jurídica, conforme o disposto no art. 1º da Lei
49/2004, de 24 de Agosto, onde os mesmos são elencados.

2 – Tais actos só podem ser prestados a terceiros, por profissionais de advocacia, em prática isolada ou integrados em escritório composto,
exclusivamente, por advogados, não sendo admitida, a sua prática, por sociedades multidisciplinares.

3 – Tal proibição-regra apenas é ser afastada quando se estiver perante as entidades previstas nos n.os 3 e 4 do art. 6º da L 49/2004 e desde que
observadas as condições insertas nessas disposições legais.

4 – Os n.os 7 e 8 da citada Lei prevêem, de igual modo, excepções à regra de exclusividade da prática de actos próprios de advogado

5 – In casu, não poderá, em suma, uma sociedade por quotas de consultoria farmacêutica ter no seu objecto social a prestação de serviços na área de

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direito farmacêutico, se a mesma não for exclusivamente composta por licenciados em direito com inscrição em vigor na Ordem dos Advogados
Portugueses, por tais serviços consubstanciarem, inequivocamente, a prática de actos próprios de advogado.

6 – Não é admissível a prática de actos próprios de advogado por “juristas”, ou mesmo por advogados integrados ou com qualquer vínculo laboral a
sociedade multidisciplinar;

7 – Não são aplicáveis à sociedade em análise os n.º7 ou 8 do art. 1º da Lei 49/2004, que excepcionam aquela proibição e o mesmo se dirá
relativamente aos n.os 3 e 4 do art. 6º do mesmo Diploma.

8 – Ainda que sejam solicitados, por aquela sociedade, pareceres a advogados (excluindo-se sempre, de qualquer modo, a competência de meros
juristas para tal elaboração) com ou sem vínculo à mesma, não poderá esta facultá-los aos seus clientes, logo, a terceiros, sob pena de praticar actos
próprios de advogado.

9 – Só mediante previsão legal específica pode a competência para a prática daqueles actos ser atribuída a outros profissionais, que não advogados,
por razões de segurança e confiança jurídicas.

10 – Nos termos do n.º 8 do art. 1º, não serão considerados como praticados no interesse de terceiros, mas antes na defesa de interesses comuns
e/ou internos, os actos de natureza jurídica que forem levados a cabo pelas pessoas aí elencadas, desde que numa das qualidades aí previstas

11 – Em suma, é o advogado o único profissional que reúne todas as condições necessárias para a defesa dos direitos e dos legítimos interesses dos
cidadãos, que o procuram.

Viseu, 18 de Agosto de 2008

Relator: A. Pires de Almeida

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