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MÓDULO 2:

PROTOZOÁRIOS ENTÉRICOS: CRIPTOSPORIDIOSE


COORDENADORES:

Prof. João Carlos de Aquino Almeida

Profª. Adriana Jardim de Almeida

TUTORAS:

Tânia Machado de Carvalho

Tatiana Andrade Rocha da Silva


1. Criptosporidiose

Criptosporidiose é uma infecção parasitária, cujo agente etiológico, é o protozoário do filo


Apicomplexa, gênero Cryptosporidium, um coccídio oportunista intracelular obrigatório. A doença
foi descrita pela primeira vez em 1976, desde então já foi relatada em mais de 60 países, inclusive
no Brasil. Um fato que distingue o parasita de outros coccídios é a falta de especificidade para
hospedeiros, sendo, portanto patogênico para mamíferos, incluindo o homem, aves, repteis e
peixes, infectando o trato gastrintestinal e o trato respiratório, ocorrendo com maior gravidade em
indivíduos neonatos e imunocomprometidos.

A doença caracteriza-se por episódios de diarreia prolongada ou persistente, principalmente


se comparada à pacientes com diarreia aguda, associada a dor abdominal, náuseas, vômitos e,
mais raramente, febre, mal-estar e anorexia. As fezes tem característica de diarreia aquosa sem
sangue e/ou pus. Sua ocorrência está vinculada principalmente a pacientes imunodeprimidos,
especialmente àqueles infectados com o vírus da imunodeficiência humana adquirida (HIV). Nestes
pacientes a doença pode ser potencialmente fatal.

A multiplicação do parasita no interior das células do intestino provoca má absorção e


digestão, por esse motivo a principal consequência é a ocorrência de diarreia, atrofia das
vilosidades e perda das enzimas digestivas.

Apresenta distribuição geográfica mundial, tendo sido descrito pela primeira vez em 1907,
em camundongos, nos Estados Unidos. Desde a descoberta deste protozoário, cerca de 20
espécies desse gênero já foram mencionadas em diferentes espécies de hospedeiros animais, mas
ainda há divergências quanto à sua taxonomia.

Os oocistos eliminados com as fezes são a principal fonte direta de infecção, a qual é
adquirida por ingestão de oocistos que estejam contaminando água potável, alimentos, água de
piscina, rios e lagos. Outro modo seria o contato pela via fecal-oral de pessoa para pessoa ou entre
pessoas e animais contaminados.

Muitos fatores podem contribuir para a falta de conhecimento sobre a sua epidemiologia.
Entre eles destaca-se a ausência da prática de notificação da doença por parte dos médicos e dos
laboratórios. Além disso, as técnicas diagnósticas utilizadas pela maioria dos laboratórios não
permitem a identificação do parasita em um exame parasitológico de fezes rotineiro. Muitos testes
foram desenvolvidos para identificar os oocistos do parasita, entretanto a realização destes só é
feita mediante requisição do médico assistente.
1.1. Características do agente

O gênero Cryptosporidium é classificado como eucarionte pertencente ao Filo Apicomplexa.


Este protozoário foi encontrado pela primeira vez em 1907, em glândulas gástricas de
camundongos, sendo denominado Cryptosporidium muris e posteriormente, em 1912, no intestino
desta mesma espécie, sendo identificado como C. parvum. Porém, somente após o primeiro surto
acometendo aves domésticas em 1950 e, sobretudo após os relatos em humanos em 1976 que
este agente passou a ser pesquisado de maneira mais efetiva.

As espécies de Cryptosporidium são parasitas entéricos e desenvolvem-se no epitélio da


mucosa intestinal ou gástrica de diversos vertebrados, diferindo morfologicamente de todos os
outros gêneros da subordem Eimeriina, pois são esféricos ou ovóides, medindo de 3 a 8 µm de
diâmetro e possuem internamente quatro esporozoítos.

Nos últimos anos, Cryptosporidium foi reconhecido como uma das principais causas de
diarreia em crianças pré-escolares e particularmente em infantes, assim que deixam de receber
alimentação exclusivamente do seio materno.

A transmissão faz-se pela passagem de oocistos, de um hospedeiro para o outro por via
fecal-oral. A fonte infectante pode ser tanto uma pessoa como um animal que esteja contaminado
com oocistos. Estes também podem ser veiculados pela água e pelos alimentos (penetração por
via digestiva) ou pela poeira (via respiratória). Chegando ao estômago e intestinos, os esporozoítas
são liberados e se fixam ao epitélio, onde tem lugar a esquizogonia e a esporogonia.

1.2. Ciclo biológico

De acordo com as constatações nos diferentes hospedeiros acometidos por


Cryptosporidium, o ciclo de vida é do tipo monoxeno, com seis estágios de desenvolvimento no
organismo hospedeiro: excistação, merogonia, gametogonia, fertilização, formação da parede do
oocisto e esporogonia.

No transcorrer destes estágios, dois tipos de oocistos são formados, sendo um destes de
parede espessa, eliminados na forma infectante através das fezes e resistentes às condições
ambientais, sendo responsável pela transmissão do parasito para outros animais; e aqueles de
parede delgada, os quais se rompem no hospedeiro e liberam esporozoítos que invadem células
epiteliais não infectadas, responsáveis por autoinfecções.
O ciclo assexuado tem início quando o oocisto é formado e eliminado, sendo que após a
sua eliminação se dá a esporulação. A esporulação é caracterizada pelo aumento de volume do
parasito e pela produção de esporozoítos no seu interior. Após a ingestão, o oocisto esporulado
rompe no intestino liberando os esporozoítos que invadem os enterócitos. No fim do crescimento
do esporozoíto o núcleo começa a se dividir várias vezes, de forma assexuada, o que resulta em
uma forma multinucleada, o esquizonte. Depois da formação do esquizonte, ocorre uma repetição
da etapa anterior, processo que passa a se denominar esquizogonia. Sua função é produzir
merozoítos, permitindo a invasão de novas células hospedeiras. A partir desses merozoítos pode
recomeçar outro ciclo assexuado ou iniciar um processo de reprodução sexuada (esporogonia).

O ciclo sexuado tem início quando os merozoítos se diferenciam em gametócitos no interior


do enterócito, sendo que aqueles que se destinam a produzir gametas masculinos são os
microgametócitos, e os que se transformarão em gametas femininos são os macrogametócitos.
Quando o microgametócito é liberado do enterócito, invade a célula onde está o macrogametócito
formando o zigoto, que logo se encista, e por isso passa a se chamar oocisto. O tempo da
esporulação depende das condições ambientais do solo onde está o oocisto. A esporulação só
estará completa quando cada esporoblasto formar esporozoítas, que é o que caracteriza o oocisto
infectante. No caso do Cryptosporidium, o processo de esporulação deve produzir, no interior do
oocisto, quatro esporozoítos.

A liberação de oocistos presentes nas fezes dos hospedeiros infectados pode acarretar na
contaminação de águas superficiais ou reservatórios, os quais têm sido reconhecidos como
maiores veiculadores do patógeno pela possibilidade de atingir um imenso contingente de
hospedeiros, afinal enquanto o contato direto de pessoa a pessoa ou de animal a pessoa
normalmente gera um pequeno número de infectados, a contaminação de um manancial pode
afetar milhares de pessoas.

Várias ocorrências de criptosporidiose foram atribuídas ao consumo de água, devido


principalmente à resistência dos oocistos aos mais variados métodos utilizados em tratamento da
água como cloração, ozonização ou filtração. Uma portaria do Ministério da Saúde recomenda a
inclusão da pesquisa de Cryptosporidium spp. para se atingir o padrão de potabilidade da água.

A contaminação da água pode ocorrer por cruzamento de águas de poço ou encanada por
água de esgoto, falha nos procedimentos operacionais durante o tratamento da água, desvios de
filtro de areia, contaminação de águas superficiais por esterco bovino e influências de efluentes
industriais e agrícolas nas águas de recreação.
CICLO CRIPTOSPORIDIOSE: Ciclo considerado como monoxeno, o qual inclui uma fase assexuada e outra fase
sexuada. O oocisto do Cryptosporidium é o estágio infectante (A), responsável pela transmissão e pela
manutenção do parasito no ambiente. Após a ingestão, os oocistos liberam quatro esporozoítos infectantes (B)
no lúmen intestinal. Estes penetram nas células intestinais, onde amadurecem assexuadamente (C) no interior
de vacúolos, formando os merontes de tipo 1 (D e E), os quais liberam merozoítas que também invadem os
enterócitos, dando origem aos merontes de tipo 2 (F). Alguns merontes de tipo 2 se diferenciam em
macrogametócitos e em microgametócitos (G e H). Estes últimos fertilizam os macrogametócitos, o que irá dar
1.3. Formas de transmissão
origem ao zigoto (I). O zigoto se transforma em oocisto (J e K). Milhões de oocistos maduros são liberados nas
fezes, contaminando o meio ambiente, e permanecendo viáveis durante vários meses. Ao contrário do que
ocorre com a maioria dos coccídios, os oocistos de Cryptosporidium são capazes de esporular no lúmen
intestinal, e de liberar os esporozoítos, iniciando uma reinfecção.
A transmissão pode ocorrer diretamente entre animais, entre humanos, de animais para
humanos, ou indiretamente através da ingestão de água ou alimentos contaminados com oocistos
viáveis. A transmissão ocorre via fecal-oral, onde oocistos de tamanho reduzido (4 a 6 µm) são
eliminados nas fezes. Alguns animais podem eliminar milhões de oocistos esporulados em um
grama de fezes, contaminando o ambiente.

A infecção se inicia através da ingestão destes oocistos. Oocistos eliminados por humanos
têm capacidade de infectar bovinos, ovinos, caprinos, felinos e caninos. Oocistos eliminados de
felinos, bezerros e suínos aparentam ser infecciosos para humanos. Oocistos de C. parvum podem
alcançar a superfície das águas, atingindo os suprimentos hídricos estando infectantes. Bovinos de
corte e leiteiros, em particular bezerros, são considerados importantes reservatórios de oocistos,
devido ao grande número de animais, distribuição, incidência de infecção e ao elevado número de
oocistos por eles excretados.

1.4. Sintomas e sinais clínicos

O período de incubação dura de 4 a 14 dias e o início é explosivo. Nas pessoas


imunocompetente, geralmente crianças, a infecção provoca uma enterocolite aguda e autolimitada,
com cólicas e diarreia, que se cura espontaneamente dentro de uma ou duas semanas. Essa
primo-infecção assegura proteção contra novas manifestações da doença.

Ela se torna importante quando atinge pessoas com deficiência imunológica (crianças com
marasmo ou desnutrição, com hipogamaglobulinemia congênita, pacientes usando drogas
imunossupressoras e indivíduos com AIDS). De 58 casos notificados nos Estados Unidos, até
1983, 33 tinham AIDS e sofriam de diarreia que era geralmente intensa e irreversível.

Nesses casos, o inicio é insidioso e o quadro vai se agravando progressivamente. As


evacuações tornam-se frequentes e volumosas, havendo considerável perda de peso.

Clinicamente, a criptosporidiose dos aidéticos caracteriza-se por diarreia aquosa,


acompanhada de cólicas, flatulências, dor epigástrica, náuseas e vômitos, anorexia e mal-estar. A
dor abdominal e a diarreia ocorrem geralmente logo em seguida à ingestão de alimentos.

Os pacientes apresentam intolerância à lactose e má-absorção de gorduras. Em alguns


casos, as vias biliares estão envolvidas no processo, com o que se agrava a sintomatologia,
aumenta a tendência à cronicidade e a dificuldade no tratamento.

O exame físico pouco acrescenta, além de revelar sinais de desidratação e caquexia. Os


sintomas persistem, em geral, até a morte por outras causas.
1.5. Prevenção e controle

As medidas de controle gerais incluem educação sanitária, saneamento básico, lavagem de


mãos após o manuseio de animais com diarreia.

Considerado um coccídio resistente, os oocistos de Cryptosporidium spp. apresentam


características que favorecem a sua rápida dispersão no ambiente, tais como a capacidade de
suportar a ação dos desinfetantes comumente utilizados (formaldeído, fenol, etanol, lisol), a
possibilidade de atravessar determinados sistemas de filtração de água em decorrência do seu
tamanho reduzido, a capacidade de flutuar, a permanência no ambiente durante algumas semanas
ou meses e a tolerância em determinadas temperaturas e salinidade. Portanto vale enfatizar que
as principais medidas contra a criptosporidiose é a adoção de medidas higiênico-sanitárias
adequadas.

Durante o período em que estiverem apresentando diarreia, indivíduos infectados devem


evitar a manipulação de alimentos que serão utilizados por outras pessoas; assim como crianças
com criptosporidiose não devem frequentar escolas ou creches para evitar a disseminação do
parasita.

No caso dos animais, o manejo é o principal mecanismo para evitar a disseminação da


infecção. Na medida do possível, os animais doentes devem ser mantidos separados dos jovens,
que são mais suscetíveis. Controle de roedores, limpeza e desinfecção periódica do ambiente,
incluindo bebedouros e comedouros, são medidas fundamentais na profilaxia da criptosporidiose.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

1. REY, L – Parasitologia, 3ª edição. RJ – Guanabara Koogan S.A, 2001.

2. ALMEIDA, A.J, MARIANO, F.A, CALDEIRA, M.S – Ocorrência de Cryptosporidium spp. Em


animais errantes apreendidos em Campos dos Goytacazes, RJ.

3. ALMEIDA, A.J, STABENOW, C.S, BRAGA, R.S – Contaminação por Cryptosporidium spp.
Às margens do rio Paraíba do Sul em Campos dos Goytacazes, RJ.

4. REY, L – Bases da Parasitologia Médica, 2ª edição – Guanabara Koogan S.A, 2002.

5. COELHO, C & CARVALHO, A.R – Manual de Parasitologia Humana, 2ª edição – Editora


ULBRA

6. BEHRMAN, KLIEGMAN E JENSON – Tratados de Pediatria –– 17ª EDIÇÃO – SAUNDERS


ELSEVIER

7. SPÓSITO FILHA, E. Criptosporidiose. O Biológico, v.56, n.1, p.34-36, 1990/1994.

8. SPÓSITO FILHA, E.; FUJII, T.U.; REBOUÇAS, M.M. Cryptosporidium spp. em bovinos e
búfalos do Vale do Ribeira, São Paulo,Brasil. Arquivos do Instituto Biológico, v.65, n.1, p.97-
101, 1998.

9. SPÓSITO FILHA, E.; REBOUÇAS, M.M.; PEREIRA, J.R. Cryptosporidium spp. em bezerros
do Vale do Paraíba, São Paulo, Brasil. Arquivos do Instituto Biológico, v.65, n.1, p.123-125,
1998.

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