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Georges Snyders Escola, Classe e Luta de Classes ps: Paio Gata Elta Cone Editorial Proust Edtorish Adon Cpards Fog Forts de Caps SM Fotalio Impresslo¢Aesbameni ir Cre Ee SIA Eagto— Abi de 2008 “ilo Origins: Bote, Clase Late der Classe 51916. by: Prener Uniernresde Bronce “Tao: eile Prado Sayers indo Pato ~ 0 a: “Tog: ky, ht at tate vss. nt 3 Con soc Exe Apcoe Indios pr age semi (©2005 da Trade: CENTAURO EDITORA Fraveea Robe Sant Rost, 30, 2404-010- Sto Palo = SP ‘Teli 39760309 Tolan 11 ~-3075.2003, mal etoracenture@tercombr ‘rawentauoedor come SUMARIO Introdugio L we m1 Primeira Parte A escola eas suas separagbes Aspectos positivos Primero tema: Ndo se pode entender hoje wna ‘deologia que ndo tome em consideragao a contribuigdo dos nossos cinco autores TL Bourdiew-Passeron decir as desigualdades He Baudelot stable: A escola eos seus antagonismos IIL- lich abre perspectivas mundiais Segundo tema: Reclemamos para o marrismo um direto de priovidade ‘A Iuta contra a difesenciagdo dos Cielos Bscolares confunde-se com a uta pelo soialismno ‘Como conduzr a lata contra os ciclo diferenciados rimeiro tema: A escola divisionsta LAs duas redes de Baudelot-Establet LU- Os conteddos do PP como sub-produtos TL Humithagio, Humildade Segundo tema: A escola reprodutora e conspinadora TTercero tema: A burguesia ndo confiana escola IF A crise da escola atinge também a burguesia I-A burguesia reconheceu a escola ‘coma sua edmplice? Me Descolarizagio 4 1 Mm ve coonces sxvoes CConclusto da Primeira Parte T- Os ciclos,divisio da sociedade em classes As foroas positvas ja presentes na escola IE Acescola como local de Tutas IV- Avtonomia do ensino pedagégico? V- Voltando uma vez mais aos nossos autores Segunda Parte (© Combate nao prncipia por falta de combatentes lich - 4 escola prepara para o servlismo? Primeito tema: Escola, ndovescola,antescola 1. Oque vem ser uma escola? Tl Da boa uilizagao possivel de Mich dos seus limites, Segundo tema: Existrd o marsismo? Teteero tema: Soube ich interpretar a recusa dos jovens? Quarto tema: O alargamento do ensino: progresso ou condenagao? Baudelot-Establet- A escola transformard os alunos fem pobres pequenos seresprivados da realidade? Primeiro tema: Crianpa modelo Segundo tema: A relago tearia-pritica ‘Terceiro tema: O que vem a sera escola poiténica? TO que fai realizado na China € pradigioso TL Regresso 20 marxismo Ml A escola poltéenica na RDA Camo se realiaa a escolha ds estudos T. Interorizagio do destino estatstico Tl E, contudo, Bourdieu-Passeron - A ideologia dos dotes Primeiro tema: Bourdiew-Passeron desmantam a Ideotogia das classes dominanes Segundo tema: Bourdiew-Passerom ajudam-nos a lutar contra as mistficaedes Teteeiro tema: Subsistem graves problemas CConclusio da Segunda Parte us 116 116 120 123 129 BL 135 135 138 144 145 152 156 161 161 164 m m 116 181 191 ‘Terceira Parte Realidadee Inealidade da Cultura IF Illich ou “N80 conhogo a Luta de Classes” Primeito tema: A cultura do perio reduzird a zero ‘cultura do homens vulgar? TA convivéncia:recordagto de alguns temas Te Antecipagio ou nostalgia? 1l-_Uma lta impiedosa entre os especalistas ‘os homens vulgates| IV- O sucesso de lich provéin de ele rei exper Encias muito frequentes ‘V- A cultura dos specialists ji € uma realidade «© conguistar terreno e eficdcia numa sociedade transformada Segundo tema: Cortar coma escola? T- Adquirimos 08 nossos conhecimentas pelo io-sistemstico IL. Reflexes ertias sobre as redes ‘Terceiro tema A morte da escola para Illich e para os pedagogos sovieticos da primeira geragiio 1. escola definha - O lado exato eo lado ut6pico TIT Para uns escola morre em belez apocalipticamente le Gramsci como anidoco de Illich III- Bourdieu-Passeron ou A Luta de Classes Impossivel LA seriedade prejudica, a desenvoltra compensa Il O ensino constitu o segundo grau da ietealidade Le Apesar de tudo alguns momentos dialticos IV. As diferentes utlizagées da cultura Primero tema: Urilizagdo conservadora da eultura Segundo tema: Restituira eulura a si propria - papel da alegria no combate politica Il. Trés exemplos das rlagSes entre aideologia, dominant ideologia dominada V- Baudelot-Establet ou A Lata de Classes Inti 1 para outros 195 196 196 206 210 218 234 234 27 265 267 215 215 284 290 207 207 300 302 313 319 vi Primeiro tems: A ideologia protetdria como ‘manifestagao repentina ow como conguista TF Constituigio da ideologia proletria Il Validade da existncia proletvia TIL A escola aio énecessariamente intl ‘Segundo tema: Questdes de linguagem IAs duas linguagens servem uma reiproca incompreensio Te Os que viram cara quando um popular bre a boca Mle A contibuigdo dos lingistas Duplo rosto das ciangas do protetariado Primeiro tema: Os que véem apenas, nas flhas da classe proletéria, a posiiidade ‘Segundo tema: Descobriro duplo rasto do préprio protetariado ‘Terceto tema: Volland as eriangas do proleariado CConclusio - Para uma escola progresssta E como nio chego a uma conclusio Notas Bibliogrfieas 319 319 303 333 339 39 342 349 357 358 365 369 383 307 399 INTRODUGAO. A fatha evidente nos meus dois livros anteriores con- sistia no fato de eu querer refletir acerea da pedagogia pro- sgressisla a partir de contextos progressistas e de relacdes, ‘educativas progressistas, mas sem ressaltar os problemas das, estruturas do ensino e das diversas clientelas privativas dos, ‘visio tipos de ensino, Da‘ a importancia, neste momento, de lum reencontro e de uma confrontago com a sociologia da educagio. ‘Nova Ieitura critica de cinco autores: todavia, a minha intengao néo ¢ de forma alguma medi-ios todos pela mesma ‘medida; espero que as diferengas surjam, saltando 20s olhos, tanto pelo contetido do que seré dito a seu respeito como pelo tom das observagdes ou da discuss, Para Bourdieu-Passeron', todos quantos se ocupam da escola so devedores de contribuigbes absolutamente funda ‘mentais, quer no dominio diretamente escolar, quer na refle- xo sobre a cultura livre ou a ideologia dos doves. Baudelot-Establet’ tém a extraordinsria virtude de ha- ver aplicado 2 pedagogia uma andlise marxista e, assim, {rouxeram 2 Iuz do dia as ilusdes e 0s logros que se geravam, cem redor do tema da escola tnica "Pie Bourne Jean-Claude Passern, daca soetgos ances * Chin Bandelot Roger Exabie edacadresesocdogos ances. mm Com estes quatro autores, muito aprendemos, muito fixamos, mesmo se tentamos interpreté-los diferentemente, inserindo num outro contexto aquilo que nos levaram a descobrir. Pelo contréio, a obra de Ilich' surge-nos como essenci- almente mistificadora: sem diivida, que os perigos por ele ‘denunciados tanto na nossa escola como na nossa sociedade estdo longe de ser imagindrios, mas sustentamos que, do prinefpio até o fim, ele opera um verdadeiro desvio intelec- tual que transforma as acusagdes em lugares-comuns, acaba, Por mascarar as causes ¢ as responsabilidades e prope solu- (q0es emprestadas pelo habitual arsenal da utopia — mas a ‘uopia evidente remete para a realidade do conservamtismo. Por que, entio, jf que sto diferentes, reunir num tnico estudo estes cinco autores? Parece-nos que, efetivamente, eles tendem a exercer sobre os seus leitores uma influéncia muito mais homogénea ddo que nos permitiria supor o exame das suas obras. O que Jjulgamos observar nos nossos estudantes —e h& virios anos = € que uns e outros, por vias diferentes, Ihes transmitem a sensagio de uma escola onde nada de vélida se passa, a cul- tura af dispensada nao conteria © minima valor real e, desde Togo, a escola deixaria de ser um local onde 0 combate pela, democracia socialist € possivel e necesséro. Uma escola como puro ¢ simples instrumento de re- produgao social, manobrando para esmagar os filhos do pro- Tetariado, ou, segundo lich, para levar ao servilismo as, ctiangas de todas as classes, As matérias estudadas destinam= se apenas a permitir aos jovens de boa familia distinguit-se do vulgo, a fim de convencer os pequenos proletérios da sua indignidade; para perverter todas as criangas arrastando-as a tum consumo desenfreado, excitando desejos ¢ necessidades, "an lie, cog eefucadr asic, 2 ESCOLA, CLASSE ELUTA DE CLASSES mpossfveis de saciar. E deste modo se confirmaria que a escola nfo possui em si qualquer forea capaz de a fazer pro- agredir, Falta de esperana, fatalismo e responsabilizagao dos docentes. ‘© que leva uns a abandonar a luta, outros a se consa- sgrar exclusivamente a politica, renunciando & fachada peda- ‘26gica; se a escola se reduz a uma fraude total ou @ um erro. absoluto, a pedagogia € diversio, iso, e assim se manteré até que a sociedade seja abalada, (s mous estudlantesinterpretaram mal os autores, ou sou- ‘beram tira por si conclasGes que eles nio dio explicitamente? Foi para lutar contra este derrotismo que quis escrever © presente livro. Nao se trata de desculpar a escola, no se voltaré ao ambito das constatagdes fundamentais, ndo se apre- sentard.a escola como libertadora, ou nica, ou acolhendo igualmente uns ¢ outros, no repetiremos que ha indistinta- _mente to bons alunos entte os ricos como entre os pobres ‘Mas, precisamente a partir destas acusagdes, e para que clas ndo se transformem num travo no precisa momento em {que nos apontaram 0 caminho mais justo, em que contiva- mos que fossem abrindo caminho & nossa agiio — e até su- pomos que esto prestes @ fazé-lo — surge uma tarefa “urgente: inserir a escola na luta de classes, compreender co- mo participa a escola nessa luta de classes; porque é, em ‘dtima instancia, o desconhecimento do que € a luta de clas- se que, nos nossos cinco autores, nos parece arrastar, por ‘processos evidentemente muito diversos, aquilo que ousa- mos considerar como 0s seus desvios. Para Illich todos sio igualmente culpados e supéem ppoder langar um apelo indistintamente qualquer um para trabalhar a favor da convivéncia total; as reivindicagdes do proletariado no passam de desejos de consumir mais, dese 40S lo nefastos ¢ insensatos como os dos burgueses. cronarsswypens Para Baudelot-Establet, luta de classes parece desem: penhar um papel de primeiro plano, Mas, na realidade, basta- ria deixar o proletariado exprimir-se, viver a sua cultura, tal ‘como ele jé a constituin, nfo reprimir as suas atitudes espon- taneas; 0 proletariado e 0s filhos do proletariado sio evoca- ddos como j havendo atingido, pela sua experiéncia propria e imediata, um tal ponto de realizago, para nio dizer de per- feigo, que parece supérfluo um partido operiria tendo como tarefa organizar as agdes, coordené-las e adapté-las a todo ‘momento as possibilidades abjetivas desse mesmo momento. Sob este aspecto dirfamos que, com eles, a luta de classes se revela intl ‘A luta de classes parece impossivel na perspectiva de Bourdieu-Passeron, porque as classes dominadas so a tal ponto eiimplices do patronato, convencidas da sua indigni- dade, que no se distingue verdadeiramente 0 que poderia constituir 0 elemento propulsor do seu combate. ‘Assume por iss0 uma extraordindria importincia situar ‘com precisiio 0 conceito marxista da luta de classes, Nao temos a pretensio de o conseguir em breves linhas, mas gos- tarfamos simplesmente de responder a Bourdiew-Passeron {que o proletariado encontra na sua experincia cotidiana os motivos e a forga necessérios a sua luta O capitalismo é o mundo da exploragio, mas esse mun- do nunca é uma propriedade exclusiva, lugar seguro © aprazivel da classe dominant; esta no deixa de esbarrar com, as forgas da oposiglo, pois ela propria as suscita, Dirt Marx que “todo 0 desenvolvimento do capitalismo se processa de ‘maneira antagGnica... sob uma forma contraditéria". E, que & “pelo desenvolvimento histérico dos antagonismos imanen- tes", que 2 etapa ulterior, a etapa superior, ser atingida ‘A hist6ria como dialtica significa que o proletariado é humithado, aviltado, e, simultaneamente, forma-se, forja-se, adquire poder e lucidez. A relagio do capital com o trabalho 14 ESCOLA, CLASSE ELUTA DE CLASSHS assalariado € a forma extrema da alienagZo e produ as con- digdes plenas do desenvolvimento fntegro © universal das Forgas produtivas do individuo. Marx acrescenta que € “sob uma forma invertida, de pemas para o ar” — e nisso se situa a resposta a Baudelot- Establel: 0 proletariado tem de contribuir com um esforgo imenso para ultrapassar as suas prOprias divisdes, concen- trar-se numa forga tnica, escapar 8s mistificagées das ideo- logias dominantes; de onde se deduz que a vanguarda da ‘classe operéris, os sindicatos ¢ o partido desempenham um papel insubstitutvel: fazer jorrar das massas esta verdade combativa de que sio portadoras, mas que tantos riscos corre 4e ser sufocada, dispersada, esmigalhada, contrariada. Eo marxismo no seu conjunto que deverfamos evocar para responder a lich, visto que 6 0 marxismo no seu conjun- to que € ignorado. Como repete Illich ¢ com cle © grupo dos conservadores, eles esto sempre descontentes; quanto mais, {€m, mais Ihes dio e mais querem. Mas a luta dos explorados ‘como rompendo caminho até uma sociedade sem classe © consttuindo, assim, a prépria positividade da historia ‘Tendo sido levado sem descanso a combater em duas frentes: contra o conservantismo, as ilusbes lenificantes que ele quer difundir, para desarmar os trabalhadores e contra certas impacincias que se transformam em rentincias, espe +o nil ter cafdo no meio termo, nem no compromisso, nem, no hd algo de bom e algo de mau em cada posigéo e em ca- da autor. Tudo quanto posso afirmar é que me esforcei por tomar a escola como local de contradigdes dialéticas Una vezi, cumproo agri! dover de agradese 3 Revs Efince © 2 sa Diretora, a vethora Grafoclphandéy, que acoleu © meu ago Foi 2 Inesreecaa quem perder tala ds elfen sacas?~ prieto ese 1s PRIMEIRA PARTE, AESCOLA E AS SUAS SEPARACOES CAPITULO T ASPECTOS POSITIVOS PRIMEIRO TEMA: ‘iio se pode entender hoje uma pedagogia que no fome em consideracio a contribuigéo dos nossos cinco autores Mesmo que Baudelot-Establet s6 nos tivessem ensina: do uma coisa: a escola favorece os socialmente privilegia- dos; desvatoriza os outros; & aos hesdeiros de situagbes, privilegiadas que cabe os sucessos escolares, a possibilidade dde uma escolaridade prolongada, 0 acesso & Universidade, pportanto, aos postos dirigentes, aos quais sob forma direta ou implicita so atribufdas as mais elevadas classificagbes, que ‘vio em massa para aqueles cuja familia jé esté instalada em posigio dominante — eles assinalariam uma data decisiva na hist6ria da pedagogia. Mesmo que Baudelot-Establet s6 nos tivessem ensina- do uma coisa: a escola rinica no € tnica, nlio pode sé-lo numa sociedade dividida em classes; a cultura dispensada ” ROHS SNYDERS pela escola nio € una; seus itinerdrios, seus fins, no sto apenas diferentes, mas opostos, tudo quanto se passa na es- cola ¢ atravessado pela divisio em classes antagonistas — a sua contribuigdo seria de uma importincia decisiva, Mesmo que Illich s6 tivesse dado ao tema das dispari- dades escolares uma dimensio nova (e a que ponto dramati- a, interpretada a escala mundial), no apenas em relaglo as sociedades industrais e ricas mas também em relagio aos paises que consideramos em via de desenvolvimento, para ro Thes chamarmos colonizados ¢ explorados — levantaria, uma questio irreversivel B preciso dizer que nos ensnaram ou lembraram iso? Pais, na reaidade, tudo jé constava das anlises de Mare © de Lenin; mas nos tfhamos esquccido, por assim dizer, a bandonado, to dtc 6 enfrentar uma realade que desmen- te ideais proclamados, e mais ainda, ideais pelos quais efetivamente se uta. Era tio importante defender a escola, a escola Iaica contra a escola enfeudada a um dogma, a escola republicana contra a escola dietament,abertamente reacionéa, a esc0- Ja pblica contra o embargo patronal —e sobretudo, a escola em si, ainstrugao face & ignordnciae 8 iilizago do trabalho de criangas de it, de2, doze anos — que varemos do cam- po liido da conscinia o carter de classe do mundo esco- far. Para os combates que famos tavar, seria necessirio, mesmo provisriamente, pr de lado ests terrivel depende cia daescole? F depois, esta desigaldade fundamental e constante, este prolongar incdmode da explorigio social dentro das nossas clases, consideramos intolerveis, quase fsicamente infolerdves, até na medida em que armamos a nossa escola © a nossa tarefa de ecueadores, portano, a nica safda era fax 18 zor recuar até a um inconsciente um tanto vergonhoso aquilo de que suspeitivamos, embora vagamente, Para o futuro, eis-nos constrangidos a olhar os fatos, fromtalmente; o milagre que esperatfamos no fntimo do nosso, coragao: a escola como universo preservado, ila de pureza A porta da qual se deteriam as disparidades e as lutas soci ais — esse milagre nao existe, a escola faz parte do mundo. Em algumas paginas muito breves, pois estes temas es- to agora muito divulgedos, lembraremos o que nos parece constitu, do ponto de vista da diferenciagio dos destinos ‘escolares, a cantribuigio essencial dos nossos autores — Bourdieu-Passeron decifram as desigualdades Do liceu ou do ciclo I do CES" ao CET®, pasando pelo CEG? (ou ciclo II do CES), nto hé simplesmente, como pro- lama a douttina oficial, diferenga, diversidade, mas sim uma hietarquia. Significa isto em especial que ¢ dificil a um aluno, do CEG continuar a sua carreira escolar no liceu — muito mais dificil mesmo do que para quem ja fez 0 primeiro ciclo, do liceu. Pois o aluno do CEG vé-se constrangido a adaptar- se a uma instituigdo diferente no seu corpo dacente, no seu espirito € no seu recrutamento social Em termos estatfsticos, esta hierarquia revela-se pela ppercentagem de alunos do CEG que obterio © bacharclato" — percentagem muito mais fraca do que entre os que princi piaram logo um sexto ano do ciclo nobre. Ainda muito mais ‘cotege aEtsianemt Second 2 Colgedseignement Technique $ ColgedEse genet Genta * Senso longo (ees ees tics) sacionad plo tacharelat (oe fa, clencis experiments maton ements, tenes eis) Ese ‘chart i scsso ao esi ape, 19 ddesiguais so as oportunidades de acesso a0 ensino superior 4 partir dos diferentes tipos de estabelecimentas secundérios, partir das diferentes carreiras escolates. ra, 0 recrutamento social de alunos ¢ de professores no é 0 mesmo nos CEG e nos ciclos I: naqueles a percenta- gem de alunos safdos de meios populares é muito mais ele- vada, a0 passo que nestes os alunos vindos de meios favorecidos esto fortemente super-representados. Considerando os respectives professores, quanto & sua ‘origem social e ao tempo que puderam consagrar & sua for- ‘magdo profissional e atendendo ao vencimento que auferem, chega-se a constatagdes de igual natureza e as diferenciagses, orientam-se todas no mesmo sentido. E, portanto, a desi- gualdade social que comanda a desigualdade escoler, que constitui a realidade da desigualdade escolar: a hierarquia dos estabelecimentos de acordo com o prestigio escolar & com 0 rendimento social dos ttulos a que conduzem corres- ponde estritamente 2 hierarquia destes estabelecimentos se- ‘gundo a composicio social do seu piblica, Os alunos que se matricularam no ciclo CEG vio ser ‘mais rapidamente eliminados do sistema escolar do que os, do ciclo I; de fato, eles tiveram de sujeitar-se a uma conde ‘nagdo por defeito ou por excesso. E so macigamente as eri ancas do povo que serio assim marginalizadas sem conseguirem aleancar os diplomas mais prestigiosos, esto- Jarmente e socialmente — e os mais rentaveis. A escola no ccontratiard a reprodugio das classes sociais Por conseguinte, a verdadeira clivagem no se joga en. tre admitidos e nio-admitides a exame (por exempio, 0 ba- ccharelato), mesmo que 0 exame seja efetuado em condigoes, formalmente inrepreensiveis, mas sim entce 0s que se candi- datam e os que nao levam os estudos suficientemente longe,, suficientemente na ditegio requerida, para se poderem can- 20 SSCOLA, CLASSE didatar: 0 exame tem por fungio dissimular a eliminagdo ssem exame. Todos aqueles de que se diré que desistiram por livre vontade, por sua iniciativa (rentncia voluntéria), nao se candidatam a0 ensino longo nem a0 ensino superior, trata-se,, na realidade, dos que estavam presos nos ciclos onde eram tio reduzidas as possibilidades de chegar ao ponto terminal Seré necessério explicar com niimeros ¢ percentagens que estes tltimos se recrutam essencialmente dentro de certas categorias sociais? Por que tantas discussdes e controvérsias a respeito do bacharelato, quando esta exclusZo lenta e retardada € prati camente ignorada ou em qualquer caso passada pudicamen: te em silencio? E que os debates so conduzidos por representantes de classes sociais para quem o tinico isco de climinagio é 0 exame; © ponto de vista das classes socias, ‘condenadas & auto-eliminaedo nao tem ensejo para se expri- mir. A perspectiva iluséria que leva a supor que o cursus escolar depende do resultado do exame quando, na realidade,, muitfssimo mais importante encarar o aso de todos aque les que niio teria tido acesso 2 sala de exame, reflete, no plano ideol6gico, um egocentrismo ingénuo, voluntariamen- te ingénuo, das classes privilegiadas. Assim, para afastar as classes populares, ja nfo se atua Por exclusio, por oposigdo absoluta, aqueles que esto den- tro do sistema escolar ¢ os que ficam de fora, isto 6, na fi brica ow no campo: procede-se por sfbias gradagées © sabiamente dissimuladas, que vio dos estabelecimentos, sogdes, disciplinas ligadas as melhores possibilidades de @xito posterior, tanto escolar como social, até nos diferentes agraus de relegacio. A discriminagio das classes populares faz-se pouco a pouco, com brandura — e assim se consegue dissimulé-la melhor. 2 Existe um determinado nimero de casos de mobilidade social — e todos os professores citam o exemplo de deter nado aluno vindo de muito baixo, que gragas ao seu trabalho, ao seu zelo € aos seus dotes, conseguiu tio brilhante situa- (80. Mas, na realidade, a classe dominante conserva ciosa- ‘mente nas suas miios 0 controle desta selegio, que ndo faz perigar de forma alguma o conjunto das hierarquias estabele- cidas. Precisamente por se tratar de casos, esses poucos va0, ser absorvidos pelo meio ambiente, modelar-se segundo re- {gras institufdas, ariscam-se mesmo a ficar fortemente alge- ‘mados a um sistema que thes permitiu vencer, sairse bem. Decapita-se a classe operiria, proporcionam-se a classe detentora do poder alguns elementos vilidos que The presta- lo servigo, muito mais do que se insuflam na sociedade pos- sibilidades de renovagio. Estas possibilidades de ascensio social denunciam-nas Bourdieu-Passeron como meio de tornar verossimil a ideologia de uma escola que a todos oferece iguais oportunidades; um meio de mascarar 0 peso da origem sociale, finalmente, de negar a existéncia de classes. Os mira- culados constituem a caugdo do sistema e apesar das aparén- ciaslisonjeiras, ndo passam, na realidade, de reféns. Resumindo, a organizagio e o funcionamento do sis- tema escolar retraduzem continuamente © segundo cédigos itiplos as desigualdades de nivel social por desigualdades de nivel escolar Interrogando-se e forando-nos a interrogarmo-nos s0- bre as razies das desigualdades sociais nos sucessos escola- res, Bourdieu-Passeron mostrario que nfo se trata de uma ccasualidade simples e linear, que torna o sucesso dependente de um determinado fator particular, mas do equilibrio de cconjunto de um sistema: por exemplo, a posigio elevada do pai implica vulgarmente a residéncia e a escolaridade numa _gtande cidade, onde o meio, tanto dos alunos como dos pro- 2 fessores, é, em geral, mais favorével, mais estimulante; ou finda, a posigdo elevada do pai é acompanhada de posiges, sdestacadas de outros membros da familia, que proporcionam este modo 2 crianga, diferentes modelos de idemtificacao & de éxito, bem como apoios. AS vanlagens e desvantagens sociais atuam em cascata de efeitos cumulativos — e preci samente por isso & muito dificil introduzir, por reforma par~ cial, qualquer modificagio durével A ago da escola exerce-se sobre eriangas cujo modo de vida, edueagio familiar, primeira educagao sto extrema- ‘mente diversos: a cultura das classes privilegiadas aproxim: se da cultura escolar, os seus hibitos assemelham-se aos hi- bitos e 20s ritos escolares — e preparam-nas, pois, dineta- ‘mente, para as aprendizagens escolares. Os seus filhos vao assimilar a contribuigio da escola & maneira de uma heranca, thes familiar, fz parte do seu elemento natural Para os outros, trata-se de uma conquista muito cara, tm de a conseguir Iaboriosamente, através de uma espécie de conversio imensamente dificil. Resumindo, é um empre- endimento de adaptacio a um grupo social, de certa manera, uma reeducagio. A escola limita-se a confirmar e a reforgar uum habitus de classe, que constitui © fundamento real de todos 08 progressos escolares. Por isso a escola s6 triunfa em relagio aqueles que se beneficiaram para 1d do recinto esco- lar € bem antes de ld entrarem, no seio familiar, dos habitos de famflia, de um certo estilo de vida E estes, na escola, procuram menos adquitir algo de novo do que legitimar escolarmente aguilo que em grande parte j adquiriram pelo modo de inculcacio que, desde © rnascimento, os envolveu e apoiou. E necessério explicar que este modo de ensinamento é o das classes favorecidas? As lasses sociais so caracterizadas por distancias desiguais até 23 a cultura escolar e por disposigdes diferentes para a reconhe- cere adquiti. Analisando a cultura extra-social, a cultura dita livre, Bourtieu-Passeron levam-nos a reconhecer-lhe a importin- cia no triunfo escolar e a extrema desigualdade nos modos de aguisigo, nas oportunidades de a adguirie; é dificil inter- romper 0 eftculo em que o capital cultural acorre ao capital cultural, S6 as familias materiale culturalmente dominates, possuem um patriménio préximo da cultura inculeada pela escola — e transmitem-no a0s seus filhos como um hébito evidente: por exemplo, viajam com os filhos, acostumam= ‘nos pouco a pouico, nem que seja pelo exemplo, pela obser- vvagio, por uma simples exclamagio, a prestar atenco 20s ‘monumentos, & harmonia das paisagens; em breve saberdo © due € contemplar um quadro, distinguir as famosas cores da floresta no outono, ¢ é este modo de sensibilidade que vai firmar um acordo com as expectativas da escola, Sobre criangas diferentemente preparadas, diferente- mente dispostas, a escola s6 pode triunfar de maneira tam- bbém muito diferente. Na realidade, ela exige uma formagao, laborada fora do seu Ambito, simultaneamente uma compe: téncia e uma determinagao na maneira de abordar as coisas a que certas eriangas se foram insensivelmente habituando ‘com a familia — e as desfavorecidas no. E um pressuposto implicto, a escola nao o fornece, no o dispensa metodica- ‘mente; mas aqueles que no se beneficiaram dele bem cedo ficam desarmados, desamparados perante a cultura escolar. Daf a hipocrisia da ideologia igualitéria, quando finge ‘ignorar tudo que se passa fora da escola e como dentro dela, as disparidades tém livre curso: omitindo proporcionar a todos © que alguns devem a sua familia, o sistema escolar Perpetua e sanciona as desigualdades iniciais. Ainda mais; m4 3001 a ele duplica-as na medida em que as consagra através de re sultados escolares, pois estes depressa se transformam em, apteciagdo da pessoa em si: ele ndo é dotado, nao é intel agente. visto que néo triunfou na escola, Para chegar a semelhante efeito discriminatério e con- servador, basta que o sistema escolar deixe agir o mecanis- ‘mos objetivos da difusio cultural, que dé livre curso a selecZo natural — natural numa sociedade essencialmente desigual. Fle age por uma sutil abstengio, fingindo conside- rar cada erianga como igual ao seu vizinho — e o filho do Pedreito como identicamente preparado, to apto como 0 filho do engenheiro a saborear a ementa escolar. E estes si- lencios ciimplices permaneceram durante bastante tempo dificeis de decifrar Nesta diferenga de resultados, a linguagem tem um pa pel de relevo: a escola impe uma linguagem, uma norma lingifstica, um certo tipo de dominio da lingua; no hé qual- quer exercicio escolar em que 0 estilo nio acabe por ser to- ‘mado em consideragio. Ora, esta Tinguagem universitéria esta desigualmente repartida pelas diversas classes sociais, pois esté muito diferentemente afastada das linguagens efeti- ‘vamente faladas pelas vérias classes saciais. Logo de inicio a distincia que separa as exigéncias lingdfsticas dla escola e os hhibitos lingifsticos peculiares aos diversos meios sociais, ameaga seriamente avaliar 0 afastamento das criangas vindas, das classes dominadas pela bitola do éxito escolar. Quisemos simplesmente resumir as andlises que consi- dderanos mais validas, mais decisivas na imensa contribuigio que Bourdieu-Passeron proporcionaram a inteligéncia do ‘mundo das Universidades. 25 I — Baudelot-Establet ‘A escola ¢ os seus antagonismos Baudelot-Establet séo, quanto a nés, os que tiveram @ coragem e a lucidez de desvendar a ilusdo ideolégica da uni- dade da escola, iusio de que existiia um tipo tinico de esco- laridade e que os diferentes ciclos s6 diferem entre si em extensio ¢ duracio; resumindo, 0 grande mito da escola dnica e unificadora.lusio de que as criangas seriam desigualmente instridas numa s6 e mesma escola, que seria simplesmente ahandonada por alguns, na realidade, a majoria, a melo cami- ho —e levada até o fim pelos restates. Para jd, proibimo-nos de empregar o termo redes que retomaremos para submeter a um exame ertico mais & fren- te. © que fixamos como contribuigia capital de Baudelot- Establet,é 0 tema da divisio, da segregagao, dos antagonis- mos dent da escola, pois eonsideramos por um lado os ci- clos fongos dos CES, 0 segundo ciclo liceal, 0 ensino superior; por outro os cicls II (classes de transigao, classes priticas) eos CET. Esta oposigdo pde em jogo aorigem social dos alunos ¢ 45 resultados fina da escolridade € as préticas ou contei- dos escolares. O recrutamento diz respeito macigamente a classes sociais antagonistas. A partir de estatsticas oficial- ‘mente organizadas, os autores estabelecem que 0s filhos da bburguesia tm, na Sua totlidade, tantos ensejos dese insti rem no ensino secundéio prolongado ¢ no superior como os fihos da clase operéria nas escolas de transigio e nos CET. © que significa, sobremdo, que os fihos da classe operdvia tm to fracas oportunidades de ingresso no ensino secundé- rio Tongo € no ensino superior como os filhos da burpuesia de se matricularem escolas de tansigio e nos CET. Paralelamente, 0 sistema vai conduzir as duas popula- es a duas vias fundamentalmente divergentes: tatase de 26 repattir os individuos por postos antagonistas na divistio so- cial do trabalho, quer do Tado dos explorados, quer do lado da exploragio. Todos os mecanismos escolares sfio coman- dados, de inicio, por aquilo que constitu 0 seu objetivo, {que parece o resultado esperadbo: a divisao social do trabalho ~ € nijo se trata de uma divisio puramente técnica de com- peténcias, deve, na realidade, ser descrita como divisio da sociedade em classes antagonistas ¢ a relagdo entre ambas €, na verdade, a exploragdo de uma pela outra, ‘As diferentes diregdes em relacdo as quais a escola ori ‘enta 0s alunos ndo corresponde a talentos, capacidades, do- tes, mas sim & proporgio de milo-de-obra, de funciondrios qualificados, de dirigentes que a sociedade estabelecida cal~ ccula como necesséria a0 seu funcionamento e reprodugao. Portanto, os conceitos de inadapragiio, com 0 seu fundo mé- dico, patol6gico, essencialmente individualista, si0 absolu- tamente incapazes de descrever, de explicar os insucessos ‘escolares — insucessos em massa, fracassos da dimensio da sociedade, fracassos pretendidos e fabricados por essa socie- dade por serem indispenséveis & sua conservacio. ‘A escola permaneceré, pois, completamente incompre- censivel, ou antes, completamente mistificada, se ndo se rela- cionarem todas as modalidades da sua agio com a oposicio de classes na sociedade capitalist, com a divisio da socic~ dade em classes em proveito da classe dominante; porque é a partir deste antagonismo que os autores vao inteirar-se nfo 86 da existéncia de duas ramificagdes (no consegui evitar 0 termo) mas também dos mecanismos do seu funcionamento. Agora nada mais diremos a propésito de Baudelot- Establet; basta-nos, de momento, ter levadlo a0 seu ativo 0 fato de ser impossivel ignorar doravante, desconhever que a escola esti dividia, 21 _cvonons swvoERs II —Illich abre perspectivas mundiais Sente-se uma espécie de vertigem 20 avaliar os pro: biemas da escola © das desigualdades escolares 4 escala, ‘mundial. [lich forga-nos a tomar consciéneia de que a escola 6 um local onde metade dos homens nunca entrou. Na B via, por exemplo, 2% da populagio rural conseguem seguir cinco anos de escola priméria. Metade do dinheiro consagrado a escola é gasto em proveito de um centésimo da populacio fem idade escolar. Atualmente, os paises da América Latina estdo em condigdes de assegurar cada cidadio oito a quaren- ta meses de escolaridade. Pode dizer-se o mesmo, invertendo © ponto de vista, que eles nfo podem assegurar cinco anos ‘completos de ensino a mais de um tergo da populagaio. Hi, portanto, uma desproporgio simultaneamente dra- Indica © iriséria entre os fatos ¢ a promessa de garantir a todos iguais oportunidades de ensino, a todas as categorias dda populacao. E quando uma fragio de tal forma énfima da populagdo tem escolaridade, o esforgo e 0 dinheiro despen- didos s6 beneficiam, na verdade, um punfiado dos ja privile- giados. F exatamente com o dinheiro das massas populares, com o dinheiro de todos aqueles que nunca entraro numa universidade, que as universidades funcionam — que asse- guram, confirmam, as prerrogativas dos diplomadas. ich oferece dados assombrosos acerca dos desvios entre as cate- gorias extremas: a educagio de um estudante latino americano custa 350 vezes mais ao Estado do que a dos seus patricios de proventos médios. Os nimeros tornam-se ainda mais insuportaveis se se compararem nagbes ricas e nagdes pobres: o que custa anualmente um aluno da instrugio pri- ‘ria ou um estudante da América Latina entre os 12 € 08 24 anos ¢ igual ao rendimento de muitos latino-americanos em dois ou t18s anos; ou ainda o diplomado de uma universidade americana se beneficia de uma educagio cujo custo represen- 28 ta cinco vezes o rendimento médio de toda uma existéncia no seio da metade deserdada da humanidade De fato, o sistema, o jogo escolar, funcionam em cir cuito fechado: quanto mais ioras se passa na escola, mais se € valorizado no mercado, nesse mercado de trabalho onde fo oferecidos lugares vantajosos. O que vai ser engenheiro tem o dircito, atibui-se o diteito, de receber uma parcela enorme dos fundos piblicos destinados & educagio; nio é, pois, legitimo, que va em breve alinhar com os individuos ‘mais produtivos? Mas, na rcalidade, a produtividade de que ele se orgulha néo é mais do que o investimento educativo de {que foi objeto. Os que se conservam no sistema escolar v0 tirar vantagem do fato, mas para af se manterem ja foi neces sitio pertencerem ao nimero dos beneficiados. Nas sociedades industrializadas e ricas, 0s pobres dei- xam-se constantemente atrasar. 05 exeluidos do ensino, os {ue sito recusados pela escola, pouca esperanga tém de aces so a situagdes de interesse; em breve terdo dificuldade em encontrar trabalho, a nfo ser que se alistem no exército da reserva de mio-de-obra ocasional e precétia, Foi, na verdade, a imensa méquina das hierarquias so- ciais, dos privilégios sociais, que afastou do sistema escolar fe das vantagens que ele implica, aqui a fragao desfavorecida © nos paises desfavorecidos, a enorme maioria: as escolas justificam cruelmente no plano racional a hierarquia socal Mais um passo: lich constrange-nos a admitir que a ins- tituigdo escola, ndo apenas a escola de determinada sociedade, de determinada époea, mas verdadeiramente a escola, a escola ‘em si, pode, e deve, ser questionada: ndo € assim tio evidente ‘que ela consttui o melhor, o tnico meio de educacso. ‘Tema que retomaremos detalhadamente mais tarde seremos levados, por nossa parte, a nas interrogar sobre se hi, e pode existir um tipo de escola que escape as reprova- ‘goes que Mich supse estar no diteito de diigir a qualquer 29 ceonces syvpEns escola. © que hi de bom em Illich & que ele ecoa como um, aviso de que a escola seria forgada a desaparecer ou, se qui ser, se pretender continuar escola, a renova. ‘SEGUNDO TEM: Reclamamos para 0 marxismo um direito de prioridade Reclamamos um direito de prioridade para o marxismo que, Sem naturalmente dispor de instrumentos, modelos, mé= todos contemporineos, soube desde a sua criagto proclamar que, numa sociedade dividida em classes, a escola era uma, eseola de classe, s6 podia ser uma escola de classe. Escola de classe pela quantidade de ensino que concede ‘0s proletdrios: a burguesia proporciona exatamente a0s tr balhadores tanta cultura quanto o seu proprio interesse exige. E no é muita. Escola de classe porque as lutas socials no se ddetém respeitosamente no limiar do tecinto escolar. Nio é a ceducagio também determinada pela sociedade? Escola que nao deixar de ser escola de classe sendo pela revolugao so- cial, condigdo da revolugio escolar: os comunistas niio in- ventam a agio da sociedade sobre a escola; somente The ‘mudam o carter atrancam a educacio a influéneia da clas- se dominante. Lenin definiu a escola como instrumenta de predomi nio de classe nas mos da burguesia ¢ precisamente por isso se tata de a transformar em instrumento de destruigio deste predominio. A burguesia esforca-se, na medida do possivel, Por submeter a escola aos seus préprios abjetivos de classe, por impedir acima de tudo que ela possa contribuir para a ‘emaneipagio do proletariado: “Reconduzir © ensino do povo 40 nivel de lacaios submissos e desinibides... conseguir eria- dos déceis © operérios habeis”, Para atingir esta finalidade, uma ago que se desenrola em dois planos: de um lado a 30 ESCOLA. CLASSIE.LUTA DE CLASSES escola do pablico selego dos alunos escola s6 ministre va conhecimentos aos fthos da burguesa,e ainda os conte dos inculeados: “Cada palavta estavaadaptda aos interesses da barguesia”. A borguesi esforga-se por educa a jovem joragio de opeiris e de camponeses na esperana de formar Simultaneamente servidores ses, suscetiveis de The propor- Gionar beneficios e lactis obedientes que nfo pertrbem a Sun uietudee a sa ociosidade; pode conciliar realmente es- tes dois intents? Teremos de insist demoradamente na forga revolucionéia include nesta contadito. No momento, basa-n0s fxar que tal orientagaoé, pelo menos, a que a burguesia imprime a escola enguanto tiver poder sobre ela. A proclamagio de uma escola apolitica, cima de easses,alheia & Tata de classes, que estria a servi 0 da sociedade no seu conjuntoe viseria em relagio a qual {wer erianga o desenvolvimento, o desabrochamento da sus Petsonaldede, nao passa de uma hipocrsia burgucsa dest nada a iludic as massa. &precisamente por causa da extrema importncia da insituigio escolar nos Estados modernos que 2 Tigao entre o aparsiho politico eo ensino € imensamente forte. Uma das contradigaes da burguesia & nfo poder con- cordarabertamente com iso. Krupskaia, em 1926, analisao carter politico da escola segundo uma dupla perspective: de um lad, a fim de refor- Gar 0s privilégios da sua classe, de eternizar 0 seu dominio de classe, a burguesiaesforga-se por fazer da escola um local ‘onde as criangas se habituem,aprendam a estar separadas de scordo com a sua origem socal, As eriangas do povo amo dam-se af a um certo tipo de obediéncia, a0 mesmo tempo {em que se imbuern de preconceitos nacionalistse religisos Mas para os seus fithos, a urguesia tem outras escolas onde os educr. Por outro lado, a escola, a pretexto de ser neues, nto bord as questées que esto na base da existéncia das crian- 31 : croners sevpens ‘62s, acima de tudo das eriangas proletitias: os salirios, as reves, o desemprego, as guerras coloniais. Tal escola trans- forma-se numa escola do silencio para a crianga, uma escola de morte: a escola torna-se estranha e distante, e $80 08 filhos do proletariado que mais duramente 0 sentirio, isto €, 0s que ‘mais se expdem 8 reprovacdo e a0 insucesso, Enquanto exis lir uma sociedade de classes, a escola ser inevitavelmente ‘escola de classes. A burguesia tenta transformar a escola de rmassas em instrumento capaz de subjugar os trabalhadores. As anélises estatisticas, certas afirmagées dos nossos cinco autores, precisamente as mesmas que fixamos e apre= sentamos até agora, embora isoladas, convergem, contudo, para as teses marxistas anteriores. Na sequéncia deste traba- tho tentaremos, no entanto, explicar como sto evidentes, em, graus certamente muito diferentes, as divergéncias, as con- lradigdes, as oposigbes entre os nossos autores e o marxismo, ‘Agora, visto estarmos ainda no momento feliz. da con: vergéncia, a questio que se pe — e que, sem diivida, para muitos de n6s, se impde, preocupa, & a seguinte: como se pode acreditar, como pudemos aereditar durante tanto tempo que, numa sociedade dividida em classes, a escola itia ofete- cer a todos iguais oportunidades de promocdo social ¢ de afirmagio pessoal? A isto retorquiremos evocendo por um lado a resistencia encarnigada, ora pelo siléncio, ora pelas deformagées, que a burguesia durante tanto tempo manteve contra a difusio do marxismo; e, par outro, como ela soube espalhar profusamente um grande nimero de ideologias mis- tificadoras a propésito da escola. Nao ignoraremos que 0s trabalhos dos nossos cinco autores proporcionaram a estes, {emas as provas, a precisio que até entéo eles nem sonha- ‘vam. Deixamo-nos tepetidamente enganar ¢ a primeira van- tagem dos nossos cinco autores consiste, sem sombra de ‘davida, na sua ajuda contra a mistificagto, 22 ‘CAPITULO IL A.LUTA CONTRA A DIFERENCIACAO DOS CICLOS ESCOLARES CONFUNDE-SE. ‘COM A LUTA PELO SOCIALISMO- Illich insiste em declarar que o projeto de uma escolati- dade igual para todos representa um absurdo; a desigualdade seria inerente a escola, 2 qualquer escola, independentemente do sistema escolar, do regime social. Entre cem argumentos, recordemos este: “Os eréditos escolares, as possibilidades de cescolaridade a um nivel elevado serio sempre inferiores & procira, porque © pedido de escolaridade aumenta precisa- mente com a escolaridade jé comecada e por sua causa; ora, se 0s recursos sto insuficientes para satisfazer a todos, serio fatalmente reservados aos poserasos". ‘A prova de que as desigualdades escolares nio sio se ‘sregadas pelo préprio funcionamento da escola, mas que estio Tigadas as desigualdades sociais do sistema em que esta escola se insere, slo as realizagbes dos paises socialistas. Quanto mais as estudarmos mais nos convenceremos de que a escola, ‘do € uma estrutura eter, funcionando da mesma forma sob qualquer regime: & moldada pelo todo de que participa, (Os nimeros tém todavia a sua eloguéncia, Pereentagem de estudantes do ensino superior provenientes de familias, 33 operiias (1965): Franga, 9.5%; Ilia, 15,34; Alemanha do Oeste, 16,5%. Em comparacio com 329% para a Roménia; 35% para a Poldnia ¢ 38% para a Checosloviquia, Encaremos 0 caso da Hungria ¢ 0 estudo feito por Su- zanne Farge. Por certo, ela acentua a persisténcia de deter- ‘minadas desigualdades culturais relacionada com a distancia, entre os grupos sociais; e considera mesmo que a desigual- dade cultural € maior do que a verificada entre os rendimen- tos. O problema das diferenciagoes escolares io se dlissipou; as situagdes estabelecidas ainda exercem a sua fluencia sobre as possibilidades de acesso aos estudos pro- longados. B, todavia, que progresso: por volta de 1930, entre (05 camponeses pobres, | crianga em 478 entrava no liceu, ¢ {em relagio aos operitios fabris, 1 em 76. Em 1963, as possi- bilidades objetivas de frequentar uma escola secundaria va0 de 1 a 5 ou 6 entre os grupos menos favorecidos e os grupos melhor instalados. Ou, empregando outra linguagem, na Hungria de antes da guerra, as criangas de origem operria e ‘camponesa apenas representavam 5a 6% do efetivo dos li cceus, quando 0s pais constitulam 56% da populacao ativa; hoje, 60% e os pais formam 78% da populasio ativa, Lembraremos alguns aspectos do livro complexo de ‘Mme. Markiewiez-Lagneau. Considera ela que em se tratan- do do ensino superior e, portanto, dos postos dirigentes a que ele dé acesso, ainda se mantém uma garganta de estrangula- ‘mento © uma selesao que atua diferentemente segundo os diversos grupos sociais concorrentes: os filhos de pais instru {dos tém maiores oportunidades objetivas de freqiientar os bancos universitrios da que os outros. ‘Alem disso, a Poldnia, a Checoslovéquia, estio atrasa das em relagio 4 URSS: a distingdo entre primério e secun- «rio continua vincada, os dois graus ainda ndo realizaram a sua fusdo. De uma maneira geral, a clivagem cidades-aldeias continua a levantar problemas. E, contudo, € a mesma soci6- 34 ESCOLA, CLASSE LUTA DE CLASSES Toga que nos faz sentir como a escola, na construgdo do soci- alismo, assumiu um rosto novo. O que earacteriza aqui a revolugio socialista € a tOnica que ela poe na promogai cole- tiva das classes operitias e camponesas, da qual nos tra2, alguns exemplos: Em 1962, nas inddstrias de Sverdlosk, 65 a 75% dos cengenheitos ou so antigos camponeses, ou filhos de eampo- nese... calcula-se em cerca de 90% os jornalistas atualmente em exereicio na URSS ¢ que slo de origem proletéria, Em {fodas as democtacias populares, este esforgo de promogiio, rmaciga também € espetacular. Assim, na RDA, 55% dos trabalhadotes nio-manuais vieram da classe operiia ou ‘camponesa, 47% na Checoslovaquia. Isto significa até que pponto a promociio profissional das classes desfavorecidas ‘conquistou sob os regimes socialists importantes resultados, Portanto, a generalizacao répida da educacao primécia fe mesmo secundaria & em larga medida um dos trivnfos ‘mais convincentes dos novos regimes. Este esforgo espeta- cular surge paralelamente como o simbolo ¢ a vitbria de tuma vontade de difusdo universal da cultura, de harmonia ‘com a idéia democratica e igualitéria que a si propria a so ciedade se impés, A partir dat, as dificuldades incontestaveis que estio fem jogo no ensino superior, ndo podem ser consideradas como um blogueio, ainda menos como um insucesso: na dinimica geral do esforgo educativo, era preciso primeiro assegurar a0 conjunto da populagio o nivel cultural simulta neamente indispensével a uma tomada de conscigneia demo- critica e a0 progresso das qualificagdes téenicas, O objetivo primordial do novo regime consistu, tanto na URSS como ‘nas democracias populates, em generalizar e elevar a0 ‘maximo um ensino de base. Durante anos, foram-se concen trando as energias na construgo dos meios que proporcio- assem ao maior mimero de cidadios a possibilidade de 35 cuonces swvDens adquirir uma cultura cortespondente a um continuo primétio- secundério, Nesta perspectiva, os problemas especificos do fensino superior foram relativamente negligenciados. Pelo {que nos diz respeito, concluiremes que nem tudo esti solu: cionado, mas que foi criada uma situagio absolutamente no: va: a extraordindria difusio da educagio. priméria & secundaria constitui a base a partir da qual os problemas do ‘ensino superior podem ser solucionados — no automatic: mente, mas porgue 0 Fstado Socialista no renuncia, nem pode renunciar, a uma ago vigorosa que tende a favorecer sistemitica e abertamente as ctiangas social ¢ culturalmente. desprotegidas. Recorre-se a meios peclerosos que contraba~ lancem 0 jogo dos ertérios universitérios de selegio da parte de privilegiados que vio desde a obrigatoriedade de cotas a0 sistema de pontos suplementares; tanto se reserva uma per~ centagem de admissées & universidade para a0 que nio pro- vom da intelligentsia como se concedem vantagens, quando ddos concursos de ingresso na universidade, Aqueles que ja participaram na produgto. ‘Devemos admitir que este esforgo no permitiu ainda ultrapassar disparidades ao mais alto nivel do ensino, Mas, ppodemos ao mesmo tempo afirmar que tal politica da eduea- {elo nao tem qualquer equivalente nos pafses capitalistas, que jif obteve sucess0s consideraveis, incluindo um planeamento dda universidade — e que ela nao poderia apresentar resulta dos definitivos sem antes as massas opersrias e camponesas se beneficiarem de uma promogio cultural generalizada e ‘maciga; e nfo se trata de um resultado a ser atingido em al- guns anos, R. Boudon confirma que, nos patses socialistas, as ta xas de disparidades (sociais, perante o ensino superior) sio tevidentemente mais fracas do que na Europa Ocidental. Ele destaca a aglo sistemitica do Bstado Socialista e o caréter considerivel dos Exitos j6 obtidos: “A importante atenuagio 36 ESCOLA, CLASSE E LITA DECLASSES das desigualdades na Europa do Leste, por consequéncia da mudanga de regime que se seguiu 8 Segunda Guerra Mundi- al, foi alcangada, pelo menos em parte, por dispositivas de regulagdo direta. Uma portaria ministerial polaca de 1959 jmpde as universidades uma proporcia minima de 60% de estudantes provenientes de familias operirias e camponesas.. Medidas semelhantes foram tomadas na maioria das demo- cracias populares como na URSS”. E elas tiveram efeito po- sitivo: entre 1931 e 1963, na Hungria, a taxa de disparidade classe superior-operitios baixou de 17 para 5, ER, Boudon demonstra principalmente que se trata de tum esforgo ligado & propria natureza do socialismo; em re gime socialista, a oferta de educagao é tratada como um meio, de regulamentar a procura e assim & mais ficil acelerar a atenuago da desigualdade de oportunidades perante o ensino ou aumentar a mobilidade, Pelos seus prsprios alicerces, um. sistema social que autorize a intervengiio do Estado em tela- ‘gio A procura de educacdo pode provocar uma diminuigio mais rdpida da desigualdade de oportunidades perante 0 en- sino do que um sistema em que esta procusa obedece & lei do, mercado; © acrescentaremas que, num pais capitalista, 0. ‘mercado do ensino sofre os mesmos imperativos que o mer- «ado dos produtos, faz parte do mesmo conjunto do mercado de produtos — e a soberania do conjonto est nas miios das classes privilegiadas, Illich repete que entre o grupo dos privilegiados instru fdos © 08 outros, consttuindo, lids, esses outros a imensa maioria, a distancia no cessa de se acentuar — e tanto mais quanto a escolaridade aumenta. Afirmaremos, a exemplo dos, palses socialistas a isso nos obriga, que no se trata de um, cariter fatal ligado ao ensino, a qualquer sistema de ensino —e que existem regimes onde esse afastamento est em vias de reabsorgao, precisamente na medida em que a expansio dda cultura vai sendo uma realidade. 31 “ceonoussnvDuRs Esta lta efetiva contra as desigualdades escolares est indissoluvelmente igada & luta pelo socialismo e &, sem di- vvida, a razio pela qual ela é inconeebivel para Illich, Implica uma’ sociedade onde a disparidade dos rendimentos ¢ das, ccondigses de vida s6 atinge fracas proporedes, onde 0 afas- tamento entre os privilegiadas ¢ os outros Se processa dentro de limites restritos. Sem dissimular que, também neste do- rminio, subsistem muitos problemas e dificuldades reais, par ticularmente no que diz respeito a determinadas categorias, ‘como a dos reformados e por vezes a das mulheres, € essen cial considerar nio apenas o que jé se conseguiu, mas sobre~ tudo a dinmica da evolugio. Por exemplo, a diferenciagio dos proventos nos assala- riados da Checaslavaquia 6 um quarto da que existe na Ale- rmanha Federal, apesar de esta ser uma das menos elevadas «da Europa Ocidental. Na Checoslovaquia, a relagdo entre os salfrios dos operdrias e os dos técnicos e engenbeiros & de 100 a 130 ao passo que na Franca, em 1964, ia de 10 a 337. Na Polénia socialista, 0 leque salarial entre trabalhado- res manuais ¢ nio-manuais vai de 1 a 3,5 — enquanto na Poldnia de 1928, 18% da populacio monopolizava 50% do rendimento nacional. esforgo da URSS nesta dirego € incontestavel: a ‘mobilidade social & superior e a distancia social entre as classes e 08 grupos é menor. A mobilidade social exclui a Cristalizagio de barreiras cavadas entre grupos. As interven- ‘bes estatais visam reduzir os riscos sociais e a desigualdade, ‘A partir de perspectivas marxistas explicitamente afirmadas, Francis Cohen descreve como a politica dos governos socia~ listasaspira simultaneamente criar uma ampla base nivelado- ra pela gratuitidade de grande mimero de servigos sociais, (assisténcia médica, atividades desportivas ¢ culturais), pelo baixissimo prego de muitos outros (aluguel, casas de repou- 580), deixando ao salério um certo papel estimutante, Evoca a 38 ESCOLA, CLASSE LUTA DECLASSES ‘URSS como uma sociedade aonde, por via de regra, os diri- gentes vivem entre trabalhadores, alojados como eles, parti- Thando o mesmo tipo de vida que levam os mais qualificados. © mais ativos social ¢ culturalmente, O salitio médio dos ‘membros dos servigas & inferior ao dos opersrios industrais, Ha cada vez. menos oposigZ0 nos atos e, portanto, na consci- {ncia popular entre trabalhadores manuais ¢ intelectuais. A lta contra as desigualdades escolares articula-se hum outro painel, o da Tuta contra as desigualdades dentro, das préprias estruturas escolares:trata-se antes de mais nada do lugar ocupado pelo ensino téenico. O que pouco mais & do que um tema de elogulencia em pats capitalista pode tor- nar-se real em regime socialise, pensamos mesmo que $6 se pode tomnar real num pais socialista: o ensino téenico con= segue nivelar-se ao ensino geral numa sociedade onde 0 tra balho técnico, as profissdes técnicas estio valorizados, isto 6, onde a ago da classe operiria for valorizada, 0 que significa 4que deixa de ser uma classe explorada, vivendo na obscuti- dade e na humithagio, ¢ finalmente, que deixa de ser uma classe frente a outra classe, Sem pretender afirmar que todos os palses socialistas ja fenham atingido este ponto, devemos assinalar como um, estégio essencial da sua evolugdo a atragio exercida pelo ‘éenico e pela técnica —e isto em todos os meias. Enquanto, entre nds 0 ensino técnico se apresenta como um apéadice desvalorizado do secundério nobre, na URSS ele goza de um estatuto ¢ de um prestfgio sensivelmente equivalente aos do censino politécnico, ou seja, 0 ensino geral. Este prestigio confuunde-se, ¢ af reside todo o problema, com 0 do trabalho opera e o da classe que o executa. Um inquétito efetuado na Poldnia demonstrou que, na escala da consideracdo social e na escolha de carteitas pelos 39

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