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Monografia AdrianaSousa
Monografia AdrianaSousa
MONOGRAFIA
Rio de Janeiro
2008
Adriana Concei‚ƒo de Sousa
“Mais causavam ru‡na que reinavam...”: o ideal de realeza no reino visigodo e a tirania na
Vita Desiderii, do rei Sisebuto de Toledo (s‰culo VII)
Rio de Janeiro
2008
1
Adriana Concei‚ƒo de Sousa
“Mais causavam ru•na que reinavam...”: o ideal de realeza no reino visigodo e a tirania
na Vita Desiderii, do rei Sisebuto de Toledo (sƒculo VII)
Aprovado por:
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Rio de Janeiro
2008
2
Sousa, Adriana Concei‚ƒo de –
“Mais causavam ru‡na que reinavam...”: o ideal de realeza no reino visigodo e a tirania na
Vita Desiderii, do rei Sisebuto de Toledo (s‰culo VII)
/ Adriana Concei‚ƒo de Sousa – Monografia. Departamento de Hist•ria, Instituto de Filosofia
e Ci€ncias Sociais, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2008.
1. Alta Idade M‰dia. 2. Pen‡nsula Ib‰rica. 3. Reino visigodo. 4. Sisebuto de Toledo (612-
621). 5. Hagiografia visigoda. 6. Vita Desiderii. 7. Monarquia e Igreja. 8. Espanha – Reis
e Governantes – Hist•ria. 9. Hist•ria pol‡tica. I. T‡tulo.
3
RESUMO
SOUSA, Adriana Conceição de. “Mais causavam ru•na que reinavam...”: o ideal de
realeza no reino visigodo e a tirania na Vita Desiderii, do rei Sisebuto de Toledo (sƒculo
VII). Rio de Janeiro, 2008. Monografia. Departamento de História, Instituto de Filosofia e
Ciências Sociais, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2008.
hagiográfica Vita Desiderii, escrita pelo rei visigodo Sisebuto no ano 615, aproximadamente.
monarquia visigoda iniciado na segunda metade do século VI. Nossa hipótese é a de que o
monarca autor da hagiografia, ao apropriar-se do ideal de conduta régia defendido pelo bispo
Isidoro de Sevilha em uma obra contemporânea, visa demonstrar sua própria adequação aos
súditos, e que apóiam a sua legitimidade como governante no exercício de uma justiça
4
Agradecimento
Chegando ao fim de mais uma etapa da vida. Cheguei trope‚ando mais do que nunca,
mas cheguei. E nessas horas ‰ sempre bom agradecer ‹quelas pessoas que nos permitem
acreditar que tudo vai dar certo, por mais que as crises internas e externas ao nosso ser
insistam em nos fazer pensar em largar tudo do jeito que estŠ. Serei breve porque o
contentamento do dever cumprido infelizmente nƒo foi suficiente pra me fazer virar uma
menina sentimental (mas a gente chega lŠ!). E deixo claro tamb‰m que a ordem das pessoas
que citarei aqui – e a das que eu vou acabar esquecendo ou abrindo mƒo de citar tamb‰m –
Pois bem, primeiro eu gostaria de agradecer aos meus amigos, aos antigos (Mariana
DeLarge, Kelly Melissa) e aos ifcsianos tamb‰m (Diego, Diogo, Juliana, Mariana Renou,
Patr‡cia, Raquel, Ricardo, Silas, Tiago e tantos outros) por terem me dado um pouco de
Œnimo, Šlcool, e horm•nios necessŠrios ‹ saŽde do meu cora‚ƒo, da minha mente, da minha
alma e da minha vida acad€mica tamb‰m (por que nƒo?). S‰rio, nada serŠ melhor que poder
que estamos falando, eu seria muito menos ainda do que sou sem o aux‡lio, os pitacos e os
“USP” Silveira, Paulo “Pauli” Duarte e ao grande – grande mesmo – Rodrigo Rainha, dentre
outros veteranos, cujos toques me foram, continuam sendo e ainda serƒo muit‡ssimo Žteis.
Aos calouros, muita sorte: daqui a pouco chega a vez de voc€s, hehehe... (eu sou mesmo
muito mŠ...)
porque sua orienta‚ƒo foi muito, mas muito mais que acad€mica, o que voc€ deu a esta
5
crian‚a indolente e indisciplinada foi apoio e instru‚ƒo pra vida e pra tudo. Agrade‚o de alma
e cora‚ƒo!
E por fim, mas nƒo por menor sentimento, eu venho agradecer a minha fam‡lia mais
uma vez. Mais uma vez, sim, porque esta nƒo ‰ a primeira nem hŠ de ser a Žltima etapa que eu
vou encerrar ou come‚ar gra‚as a voc€s. Voc€s sempre foram a minha base, e hoje continuam
sendo as pernas, bra‚os e o ju‡zo extras de que eu volta e meia preciso pra continuar seguindo
em frente – e olha, eu sei que me aturar em certos dias nƒo ‰ nada fŠcil, hehehe. Nem sei se
voc€s chegarƒo a ler isto, mas um dia eu ven‚o a minha s‡ndrome de bicho-do-mato e
6
Dedicado a Deus, ou o que quer
que seja essa força estranha, que
ninguém sabe ainda se inventou o
Poder ou se foi só mais uma
invenção brilhante dele.
7
Sumário
Referências ....................................................................................................................................................67
8
CAPÍTULO 1: Introdução
9
1.1) Apresentação do problema: o processo de institucionalização da monarquia
visigoda (589-633)
hagiogrŠfica Vita vel Passio Sancti Desiderii, escrita pelo rei Sisebuto de Toledo (612-621),
visigoda, vigente nas primeiras d‰cadas ap•s a conversƒo oficial da realeza e da aristocracia
germŒnicas ‹ ortodoxia cristƒ nicena, anunciada no III Conc‡lio de Toledo em 589. Nosso
estudo se insere dentro das preocupa‚•es da chamada “Nova Hist•ria Pol‡tica”, tal como
definida pelo historiador franc€s Ren‰ R‰mond. A Nova Hist•ria Pol‡tica se diferencia da
feitos, “grandes” homens e “grandes” Estados, ao voltar as suas aten‚•es a um campo mais
amplo, o das rela‚•es de poder, nƒo s• no interior do que seria a esfera de Estado
propriamente dita, e sim na forma como elas se dƒo em todo o tecido social.1
sociedade nos reinos suevo e visigodo: perspectivas anal‡tica e comparativa”, vinculado a uma
monografia vincula-se ao plano desse projeto geral ao visar uma contribui‚ƒo ‹ compreensƒo
1
R•MOND, Ren‰. Uma hist•ria presente. In: _______ (org.). Por uma história política. 2… ed. Rio de Janeiro:
FGV, 2003. p. 13-36.
10
da fun‚ƒo do discurso hagiogrŠfico e, em particular, da Vita Desiderii de Sisebuto, no referido
processo.
na Pen‡nsula Ib‰rica ‰ situado pela historiografia no s‰culo V, podemos identificar uma s‰rie
necessidades b‰licas. Katherine F. Drew apontou para o fato de no reino visigodo, bem como
em outros reinos germŒnicos, o rei ocupar uma posi‚ƒo que equivalia mais a de um Šrbitro do
coletiva, pela administra‚ƒo da lei e da justi‚a, reca‡a sobre as mƒos dos grandes proprietŠrios
Ib‰rica uma postura que, embora se caracterizasse pela manuten‚ƒo das estruturas
administrativas, era marcada por buscar manter tamb‰m uma diferencia‚ƒo em rela‚ƒo ‹
aponta que, a partir do momento em que o “Estado de guerra” vai deixando de ser um fator de
entre o rei e o restante da elite visigoda. Para isso, entende-se que os monarcas necessitavam
usurpadores em potencial - oriundos das vŠrias fac‚•es aristocrŠticas que disputavam o trono.
2
DREW, Katherine Fischer. Another Look at the origins of the Middle Ages: A Reassessment of the Role of the
Germanic Kingdoms. Speculum, Cambridge, v.62, n. 04. p. 803-812, 1987.
11
surge a necessidade de um novo pacto, de uma nova ordem, cujos termos se definem
III Conc‡lio de Toledo de 589, ato que viria a ser dotado de teor simb•lico bastante
come‚ara a tomar forma jŠ durante o reinado de seu pai, Leovigildo (572-586), que embora se
mantivesse ariano, iniciou uma pol‡tica visando abrir canais de diŠlogo mais amplos com
for‚as pol‡ticas diversas, cat•licas ou nƒo, dentro e fora do reino visigodo.4 A busca de
aproxima‚ƒo ‰ compreens‡vel uma vez que, reconhecendo a Igreja, ou seu episcopado, como
seu reconhecimento frente ‹s aristocracias locais, uma vez que essa aceita‚ƒo passava a ser de
Sisebuto ascende ao trono visigodo em 612, com a morte do rei Gundemaro, e governa
at‰ a sua pr•pria morte em 621. • tido pela historiografia como um dos mais eruditos reis
visigodos, tendo mantido um estreito contato pol‡tico e intelectual com o bispo Isidoro de
3
DIAZ, Pablo C. Rey y Poder en la Monarquia Visigoda. Iberia, Logro’o, n.01. p. 175-195, 1998.
4
Santiago Castellanos, por exemplo, aponta para o papel que teve a manipula‚ƒo do fisco e da tributa‚ƒo na
busca da monarquia visigoda pelo fortalecimento de suas bases de apoio junto ‹s lideran‚as locais em
CASTELLANOS, S. The pol‡tical nature of taxation in Visigothic Spain. Early Medieval Europe, NewYork,
v.12, n. 03. p. 201-228, 2003. Para uma anŠlise da pol‡tica externa visigoda na virada dos s‰culos VI-VII, ver
ISLA FREZ, A. Las relaciones entre el reino visigodo y los reyes merovingios a finales del siglo VI. En la
España Medieval, Madrid, n.13. p. 11-32, 1990.
5
Jos‰ Orlandis discorre sobre o monarca: “Sisebuto – escribi• Isidoro – ‘fue brillante em sua palabra, docto en
sus pensamientos y bastante instru‡do en conocimientos literŠrios’. Se trata – como puede advertirse – de rasgos
t‡picos de un hombre culto, que, para la ‰poca que le toco vivir, parecen mŠs propios de un eclesiŠstico cultivado
que de un laico, que fue ademŠs el mŠs ilustrado de los reyes visigodos.” Isidoro de Sevilha teria dirigido a
12
Seu reinado foi marcado por campanhas militares e vŠrios acordos pol‡ticos, inclusive
junto ao reino franco e aos representantes do Imp‰rio Bizantino, que na ocasiƒo ainda
dominava uma pequena faixa territorial ao sul da Pen‡nsula Ib‰rica. Al‰m disso, sua pol‡tica
preocupa‚ƒo demonstrada nas cartas que o rei teria trocado com membros da hierarquia
episcopal,6 em que Sisebuto os exorta, com autoridade, para que cumpram adequadamente
com as prescri‚•es de seu cargo.7 O reinado de Sisebuto teve como caracter‡stica tamb‰m a
medidas sinalizam uma tentativa por parte do monarca de fazer do zelo religioso um meio de
lunares, conhecido como Carmen de Luna, e o texto hagiogrŠfico intitulado Vita vel Passio
tendo em vista a sua filia‚ƒo com a pol‡tica de Recaredo e a influ€ncia da obra de Isidoro de
Sevilha, cuja produ‚ƒo intelectual conheceu seu apogeu durante o reinado de Sisebuto e na
Sisebuto, dentre outros textos, a primeira reda‚ƒo de sua principal obra, as Etimologias. Estes e outros aspectos
da biografia e da trajet•ria pol‡tica de Sisebuto podem ser encontrados em ORLANDIS, Jos‰. Sisebuto, um rey
clemente, sensible y erudito. In: ______. Semblanzas visigodas. Madri: Rialp, 1992. p. 105-127.
6
Ibidem. p. 117-124.
7
Temos o exemplo de uma mensagem enviada por Sisebuto a Eus‰bio de Tarragona, em que este ‰ criticado por
seu apre‚o pelo teatro; a carta em questƒo ‰ estudada em JIMENEZ SANCHEZ, Juan Antonio. Un testimonio
tardio de ludi theatrales em Hispania. Gérion, Madrid, v.21, n.1. p. 371-377, 2003.
8
Ver ORLANDIS, Jos‰. op. cit. p. 124-126. Bernard S. Bachrach defende a hip•tese de que a pol‡tica anti-
judaica de Sisebuto teria sido uma resposta do mesmo a uma suposta oposi‚ƒo da comunidade judaica ‹ sua
ascensƒo ao trono. O autor tamb‰m indica que, diante da oposi‚ƒo de elementos expressivos do clero – inclusive
o pr•prio Isidoro de Sevilha – e da aristocracia provincial ‹ sua pol‡tica de persegui‚ƒo aos judeus, ‰ bastante
provŠvel que o rei tenha contado com um forte apoio da nobreza palaciana para ter conseguido levar a sua
pol‡tica adiante. Ver BACHRACH, Bernard S. A Reassessment of Visigothic Jewish Policy, 589-711. The
American Historical Review, Chicago, v.78, n. 01. p. 11-34, 1973.
9
Bachrach, assim como Pablo C. Diaz, tamb‰m parece tender ‹ mesma conclusƒo. Cf.: DIAZ, Pablo C. op. cit. e
BACHRACH, B. S. op. cit. p. 18.
13
década imediatamente posterior. O objetivo principal deste trabalho é buscar elementos dentro
defendidos pelo bispo hispalense em suas obras, e que nos permitam compreender o sentido
A questão que norteia o nosso estudo diz respeito a qual seria o sentido da proposição
14
1.2) Discussão bibliográfica: as questões políticas envolvendo a Vita Desiderii, segundo os
Com rela‚ƒo aos estudos voltados ao papel da Vita Desiderii no contexto pol‡tico
nos trabalhos de Jacques Fontaine e de Isabel Velazquez Soriano, bem como as reflex•es
Jacques Fontaine, em artigo jŠ clŠssico publicado em 1980,10 rev€ uma antiga tese,
segundo a qual a hagiografia de Sisebuto era apresentada como propaganda pol‡tica contra a
monarquia franca. Nesta segunda reflexƒo, Fontaine fornece indica‚•es que permitem
hagiogrŠfico como tamb‰m ao estudo das intera‚•es entre o reino visigodo ib‰rico e o reino
franco merov‡ngio.
texto escrito por um monarca visigodo, narrando a vida e a morte de um bispo bem como a
sua rela‚ƒo com eventos pol‡ticos ocorridos fora da Pen‡nsula Ib‰rica. Entretanto, o autor
destaca que esta hagiografia deve ser analisada menos em compara‚ƒo com outros textos
ou ao rei lombardo de Pavia. Para Fontaine, a atividade literŠria de Sisebuto nƒo pode ser
concomitantemente pol‡tica e religiosa, como rei cristƒo e como cristƒo cat•lico. Para o
10
FONTAINE, Jacques. King Sisebut’s Vita Desiderii and the political function of Visigothic Hagiography. In:
JAMES, Edward (ed.). Visigothic Spain: new aproaches. Oxford: Claredon, 1980. p. 93-129.
15
mesclados em um. A produ‚ƒo literŠria de Sisebuto se realiza segundo interesses deste
governante tanto dentro da esfera pol‡tica quanto da religiosa. Para o historiador, ter no‚ƒo
quanto ‹ multiplicidade de objetivos que Sisebuto poderia ter, portanto, facilita a investiga‚ƒo
Fontaine tamb‰m indica que o trabalho hagiogrŠfico de Sisebuto foi influenciado nƒo
apenas pela “Renascen‚a Isidoriana”11 como tamb‰m pela concep‚ƒo que os homens da ‰poca
tinham sobre os chamados “homens de Deus”: profetas, mŠrtires, em constante conflito com
as elites laicas, e muitas vezes destinados a um fim trŠgico. O modelo t‡pico de representa‚ƒo
do conflito entre poderes pol‡tico e religioso pode ser encontrado na Vita Martini, de
Sulpicius Severus, e na oposi‚ƒo entre rei e profeta que se apresenta na obra de Prudentius. As
presentes conclus•es do autor seriam reafirmadas pelo jŠ citado estudo de Isabel Velazquez,
publicado posteriormente.12 A Vita Martini teve uma influ€ncia considerŠvel no modo como
os embates entre santos e governantes temporais eram representados nas hagiografias da Alta
Idade M‰dia, nas quais, muitas vezes o poder pol‡tico aparece associado ao Diabo. A Vita
Desiderii, entƒo, parece ter sido profundamente inspirada pelo que o autor designa como
“martinismo pol‡tico”.13
11
Estudiosos do per‡odo designam por “Renascen‚a Isidoriana” o esfor‚o intelectual levado a cabo por Isidoro
de Sevilha no sentido de efetuar uma esp‰cie de resgate da cultura e dos valores clŠssicos cristƒos e romanos,
que fica patente em obras como as Etimologias ou as Senten€as. Cf.: MARTIN, Jos‰ C.. Une nouvelle ‰dition
critique de la • Vita Desiderii – de Sisebut, accompagn‰e de quelques r‰flexions concernant la date des •
Sententiae – et du • De uiris illustribus – d’Isidore de Seville. Hagiographica, Firenze, v.07. p. 127-180, 2000.,
dentre outros.
12
VELAZQUEZ, Isabel. Hagiografia y culto a los Santos en la Hispania Visigoda: aproximaci„n a sus
manifestaciones liter…rias. M‰rida: Museo Nacional de Arte Romano, 2005. p. 164-176. Analisaremos as
contribui‚•es trazidas por esta obra adiante.
13
Sobre o modelo emanado da Vita Martini de Sulpicius Severus, Martin Heinzelmann escreve: “En pr‚sentant
l’existence de Martin comme un „ martyre sans sang … (‚p. 2, 12), attribuant, sur la foi de son style de vie
asc‚tique, les m‚rites des martyrs † l’‚v‡que, la Vie a fortement favoris‚ l’‚largissement du cercle des saints
susceptibles de dever l’object d’une ven‚ration au-del† des seuls martyrs. De plus, par la synth‡se „ de la
dignit‚ de l’‚vˆque avec le mode de vie et la vertu du moine … (10, 2), l’oevre de Sulpice S‚v‡re devint un mod‡le
couramment imit‚ dans l’hagiographie du tr‡s haut Moyen ‰ge en Gaule, par le remploi de passages de la Vie
ou par une stylisation cons‚quente du saint concern‚. Ainsi, la pr‚sentation plus ou moin fictive d’une image
d’asc‡te suivant le mod‡le ‚labor‚ par Sulpice S‚v‡re a permis † de nombreux ‚vˆques francs d’ˆtre valoris‚s
en tant que saints.”. Cf. HEINZELMANN, Martin. Le mod—le martinien. In : WAGNER, Anne (org.). Les
saints et l’histoire: sources hagiographiques du Haut Moyen Age. Paris : Br‰al, 2004. p. 34.
16
Outra indicação fornecida pelo autor é a de que Sisebuto tenha distorcido os fatos
deliberadamente, e envolvido Teodorico e Brunequilda numa disputa que outras fontes que
discorrem sobre os mesmos eventos apresentam como tendo se dado no interior da hierarquia
episcopal franca.
diplomática do monarca (incluindo suas cartas ao filho Teudila e ao rei lombardo Aladoaldo),
e próxima aos textos da chamada historiografia asturiana e visigoda. Tal fato, na visão de
desastrosa desde o século VI.14 Além disso, ao longo de praticamente todo o século VI, godos
Brunequilda, godos e burgúndios estavam à beira de uma guerra aberta pelos territórios na
região dos Pirineus. Witerico se aliou a Clotário II, da Nêustria, contra Teodorico da
Burgúndia e os avaros. A vitória dos primeiros foi recebida com alívio pela chancelaria
visigoda. Não por acaso, a virulência dos textos referentes à política de Brunequilda perpassa
os reinados de Witerico e Gundemaro, monarcas de quem Sisebuto herda não só o trono, mas
Logo, o provável interesse do rei visigodo seria o de inaugurar uma nova fase nas
relações entre godos e francos. Amaldiçoando a memória de Brunequilda e seus aliados mais
14
Cf. ISLA FREZ, Amancio. op. cit.
17
Santiago Castellanos endossa as conclus•es de Jacques Fontaine em dois trabalhos
pelo franc€s, destacando nƒo apenas a rela‚ƒo do texto com as disputas dinŠsticas do reino
franco - nas quais a rainha Brunequilda, demonizada por Sisebuto, desempenhou um papel
mais que fundamental - , como tamb‰m a sua articula‚ƒo com a teoriza‚ƒo pol‡tica em
constru‚ƒo no reino visigodo, evocando aqui a supracitada rela‚ƒo entre o monarca e Isidoro
de Sevilha.16
l‡deres religiosos locais - designados pelo autor como hombres santos -, nesse contexto,
ganham uma fun‚ƒo bastante importante, que seria a de servir como elo entre esse projeto
perceber uma esp‰cie de simbiose entre a no‚ƒo de santidade (santitas) e nobreza (nobilitas).
Segundo Castellanos, os tipos positivos atuam como um eixo que permite que os
15
Nos referimos aqui a CASTELLANOS, Santiago. Obispos y santos. La Construcci•n de la Historia C•smica
en la Hispania Visigoda. In: AURELL, Mart‡n; GARC˜A DE LA BORBOLLA, Angeles. La imagen del obispo
hispano en la Edad Media. Pamplona: EUNSA, 2004. p. 15-36; e CASTELLANOS, Santiago. La hagiografia
en la articulaci•n pol‡tica del Regnum. In: _______. Hagiografia visigoda. Domínio Social y proyección
cultural. Logro’o: Fundacion San Millan de la Cogolla, 2004. p. 163-302.
16
Ver nota 5.
18
leitores/ouvintes, por meio de um processo de auto-identifica‚ƒo, sejam capazes de
Em rela‚ƒo ‹ Vita Desiderii, o autor aponta que Sisebuto usa de uma estrat‰gia
ret•rica comum nos textos hagiogrŠficos, que ‰ a oculta‚ƒo de lugares e datas concretas dos
acontecimentos – o que certamente facilitava a identifica‚ƒo dos leitores com a vida do santo
fomentado por ClotŠrio II. A valoriza‚ƒo do mart‡rio do santo servia como uma forma de
caracteriza‚ƒo da rainha e de seu neto na hagiografia - os dois sƒo claramente descritos como
exemplos de tirania e de mŠ realeza - era muito conveniente para a ratifica‚ƒo dos valores e
modelos por meio dos quais a monarquia e o episcopado visigodos buscavam, nesse
apresenta na Vita Desiderii foi, tamb‰m, uma forma de refor‚ar a associa‚ƒo do pr•prio
Esta questƒo tamb‰m ‰ discutida no livro publicado pelo autor no mesmo ano,
17
Aqui nos referimos especificamente ao cŒnone 75 das atas desse conc‡lio, que cont‰m uma longa admoesta‚ƒo
‹ popula‚ƒo para que esta nƒo se coloque contra a autoridade do monarca. Cf. IV Conc‡lio de Toledo (633). In:
VIVES, Jos‰ (org.). Concílios Visigóticos y Hispano-Romanos. Madrid: CSIC. Instituto Enrique Florez, 1963.
19
Desiderii especificamente, a principal contribuição do autor aqui é a minuciosa análise do
Brunequilda. Ele aponta para o fato de ela se tratar de uma rainha estrangeira e
quais eram apoiados muitas vezes por membros do alto clero. O caso da execução do bispo
Desidério de Vienne não teria sido o primeiro, tampouco o único. A rainha, entretanto,
manteve diálogo próximo com o bispo de Roma da época, Gregório Magno, e o retrato dela
desenhado por Gregório de Tours em suas cartas é mais afável que o de Sisebuto.
sobre o conjunto da Gália merovíngia. Aqui ele aponta que, embora a hegemonia de Clotário
a rebeliões contra a sua autoridade indica que pareceu necessário a esse monarca garantir um
referendo moral à sua vitória sobre a facção liderada por Brunequilda. E é aí que entra em
cena o discurso hagiográfico, que contribui com o projeto de Clotário por meio da damnatio
memoriae da rainha. Trata-se do caso da Vita Desiderii de Sisebuto, que Castellanos entende
como um texto por meio do qual este monarca indica o seu próprio posicionamento diante da
reorganização das forças políticas no reino franco, provocada pela recente e definitiva vitória
contribuía para transmitir a idéia de que as relações entre os dois e a Igreja eram conflituosas,
dado que o apoio de parte do episcopado a ambos poderia desmentir e fragilizar a adesão
reino visigodo, Castellanos também faz referência ao paralelismo existente entre este texto e o
20
ideal de realeza das Sententiae de Isidoro de Sevilha. 18 Al‰m disso, ao aproximar-se da
em controlar a prov‡ncia Narbonense, com a qual a monarquia toledana ainda teria muitos
Isabel Velazquez, em obra publicada hŠ dois anos, apresenta uma grande s‡ntese dos
estudos relacionados ‹ hagiografia de Sisebuto, com €nfase nos seus aspectos propriamente
literŠrios. Comentando o trabalho de autores como Jos‰ Mart‡n, Carmen Cordo’er, Jacques
Fontaine e Santiago Castellanos, Velazquez concorda com os dois Žltimos com rela‚ƒo ‹
evidenciado pelo destaque dado por Sisebuto aos crimes e ‹s mortes de Brunequilda –
princesa visigoda que se torna uma rainha franca em meados do s‰culo VI e que teve rela‚•es
conflituosas com reis e aristocratas dos dois reinos – e dos demais inimigos do santo,19 dentre
outros elementos. A autora discorda de Carmen Cordo’er no ponto em que esta afirma a
exist€ncia, na Vita Desiderii, de uma “confusƒo” entre dois g€neros literŠrios – no caso, o
g€nero hagiogrŠfico para narrar a derrocada de Brunequilda. Aqui, a autora evoca a inser‚ƒo
bem como os paralelos existentes entre o discurso sobre Brunequilda e Teodorico que se
18
Mas sem entrar em detalhes, jŠ que nesta obra o autor parece optar por uma €nfase nas quest•es hist•ricas
externas aos textos hagiogrŠficos em si. Esta op‚ƒo do autor tamb‰m ‰ constatada por Isabel Velazquez. Ver
VELAZQUEZ, Isabel. op. cit. p. 154.
19
VELAZQUEZ, Isabel. op. cit. p. 167-168.
21
desenvolve principalmente nas Sentenças. 20 Logo, a vida e o mart‡rio do bispo Desid‰rio de
ClotŠrio II, denegrindo a imagem de uma forte inimiga do regnum visigodo, e dar uma
resposta literŠria aos pressupostos isidorianos, por meio de uma exemplifica‚ƒo prŠtica da
teoria do bispo hispalense sobre o bom governo dos reis. Da‡, uma obra hagiogrŠfica pode ter
parecido mais adequada que uma cr•nica comum para permitir que eventos pol‡ticos – como
justificativa moralizadora.21
Tendo em vista os aspectos apresentados, podemos concluir, por fim, que desde o
marco representado pelo artigo publicado por Jacques Fontaine em 1980, percebe-se uma
intensifica‚ƒo das discuss•es em torno da Vita Desiderii e uma obra como a de Santiago
Castellanos indica um maior interesse por parte dos historiadores sobre este texto
At‰ o ponto em que pudemos apurar, percebemos que a hagiografia de Sisebuto ainda
‰ um tema relativamente marginal dentre os estudos sobre o reino visigodo, talvez em fun‚ƒo
Desiderii ‰ um dos principais exemplos, e abrem espa‚o para uma amplia‚ƒo cada vez maior
das abordagens sobre a estreita rela‚ƒo entre a produ‚ƒo hagiogrŠfica e projetos pol‡tico-
20
Tal como ressaltado por Jacques Fontaine. Vide FONTAINE, J. op. cit.
21
VELAZQUEZ, Isabel. op. cit.. p. 173-176.
22
1.3) Quadro teórico
Este estudo tem como base te•rica os princ‡pios propostos pelos estudos do soci•logo
Outsiders. Nestas obras, o autor estabelece uma ‡ntima correla‚ƒo entre a constru‚ƒo de
grupos e indiv‡duos.
da posi‚ƒo dos reis nas monarquias feudais da Europa Ocidental, e a conseq™ente expansƒo do
aumento da preocupa‚ƒo com a conduta dos indiv‡duos em espa‚os de sociabilidade (ex: mesa
de jantar), ou, em outras palavras, uma maior preocupa‚ƒo com o olhar do outro.22 Em Os
reproduz por meio de um r‡gido e quase silencioso controle da conduta de seus membros uns
pelos outros.23
Entendemos que os estudos de Elias tamb‰m podem ser ferramentas Žteis para a
que no nosso ver, entƒo, ‰ a origem do uso de novas formas de diŠlogo pol‡tico24 – isto ‰,
formas nƒo-violentas de dom‡nio social – bem como da maior preocupa‚ƒo em fazer com que
22
ELIAS, Norbert. O Processo Civilizador. Rio de Janeiro: Zahar, 1993, v. 1. p. 91-93.
23
ELIAS, Norbert et SCOTSON, John L. Os Estabelecidos e os Outsiders: sociologia das relações de poder a
partir de uma pequena comunidade. Rio de Janeiro: Zahar, 2000.
24
Como a produ‚ƒo literŠria ou a concessƒo de privil‰gios fiscais, como demonstra Santiago Castellanos (vide
nota 4).
23
as disputas políticas e o próprio exercício do poder monárquico se dêem mediante regras
Nosso documento central de estudo é um texto hagiográfico escrito pelo rei visigodo
Sisebuto no ano 613, aproximadamente, intitulado Vita Vel Passio Sancti Desiderii, mais
Neste texto, escrita por volta de 613, o rei visigodo Sisebuto narra a vida e a morte de
Desidério, bispo de Vienne, executado em 607 por ordem do rei merovíngio Teodorico da
Burgúndia, e de sua avó, a rainha Brunequilda, após entrar em choque direto contra estes.
Vale ressaltar que Desidério nunca foi objeto de culto na Península Ibérica, mas a referida
rainha era de origem visigoda, filha do monarca Atanagildo e de Gosvinta, rainha que foi
casada também com o rei Leovigildo. Problemas diversos envolvendo trocas matrimoniais
Vienne, assim como na defesa dela contra o poder tirânico dos reis. Tal dado nos permite
concordar com influência do modelo de santidade inaugurado pela Vita Martini de Sulpicio
25
Para uma síntese desses conflitos, cf. ISLA FREZ, Amancio. op. cit.
26
Como os citados por André Vauchez. Cf.: VAUCHEZ, André. O santo. In: LE GOFF, Jacques. O Homem
Medieval. Lisboa: Ed. Presença, 1989. p. 215.
24
Peter Brown indica que um dos papéis desempenhados pelos santos no imaginário
cristão tardo antigo e medieval era o de permitir que os fiéis fizessem uso dos acontecimentos
presentes nos textos hagiográficos para atribuir sentido às suas próprias ações e experiências
pessoais, bem como para julgar a de outros.27 Esta forma peculiar de conceber o conteúdo dos
textos hagiográficos, no nosso entender, tornava uma narrativa como a Vita Desiderii bastante
intelectual eclesiástica dos anos posteriores à conversão oficial do reino visigodo, em 589,
discurso. Esta forma de análise atém-se ao estudo do sentido das palavras empregadas pelo
autor como indícios de seu discurso. Neste caso também são selecionadas unidades de análise,
que, porém, não são termos, mas categorias, como, por exemplo, os adjetivos associados a um
referências do texto que dizem respeito à ação dos monarcas Brunequilda e Teodorico, bem
27
BROWN, Peter. Enjoying the saints in late antiquity. Early Medieval Europe, 9 (I). p. 01-24, 2000.
28
Assim é definida a análise semântica pela professora Andréia Frazão. Cf.: SILVA, Andréia C. L. Frazão da.
Reflexões metodológicas sobre a análise do discurso em perspectiva histórica: paternidade, maternidade,
santidade e gênero. Cronos: Revista de História, Pedro Leopoldo, n. 6, 194-223, 2002.
25
1.5) Objetivos e Hipótese
Nossa hipótese é a de que a narrativa hagiográfica Vita Desiderii teria sido elaborada
salvação de seus súditos, no exercício de uma justiça voltada para a paz e na retidão e
obediência aos preceitos cristãos por parte dos monarcas. Partimos do pressuposto de que o
monarquia visigoda que entra em curso a partir dos reinados dos reis Leovigildo e Recaredo,
realeza por parte do rei Sisebuto e a ratificação do pacto político entre a monarquia e a elite
hispano-visigoda.
26
CAPÍTULO 2: O contexto político franco-visigodo nos séculos VI
e VII
27
Consideramos que os objetivos que o rei Sisebuto visava atingir com a elaboração de
sua obra, bem como a existência de um ambiente que permitisse a adoção de uma estratégia
dessa natureza, possuem estreita relação com a teia de disputas e alianças políticas construída
que ocorriam no reino visigodo e os conflitos internos ao vizinho reino dos francos, de cuja
desdobramentos.
uma nova etapa do processo de transferência do eixo político do reino visigodo da Gália para
a Hispania iniciado em 507, ano da derrota dos visigodos para os francos na Batalha de
Vouillé, em que os primeiros são obrigados a abandonar a cidade de Toulouse, que até então
princípios do século V, quando, a serviço do Império Romano, estes vêm combater alanos,
suevos e vândalos, cujos ataques assolavam os centros urbanos locais. O choque dos
visigodos com os demais grupamentos germânicos não chega a repercutir em uma ocupação,
1
CASTELLANOS, Santiago. Los godos y la cruz: Recaredo y la unidad de Spania. Madrid: Alianza, 2007. p.
69-108.
28
logo, apenas ap•s o rev‰s sofrido diante das tropas francas lideradas por Cl•vis em 507, eles
iniciam uma transfer€ncia de fato. At‰ entƒo, o foco dos reis visigodos consistia na busca de
estabiliza‚ƒo de sua autoridade na GŠlia, o que se deu por meio de sua pr•pria associa‚ƒo ‹
in‡cio de uma reorganiza‚ƒo territorial, mas tamb‰m o fim de uma primeira e relativamente
sogro e filho de Alarico II, rei visigodo morto na Batalha de Vouill‰ - e Teudis (531-548), que
ao casar-se com uma rica aristocrata hispana, obt‰m acesso a importantes recursos que
colaborariam com a sua elei‚ƒo ao trono. A a‚ƒo dos generais ostrogodos, Teudis e Teudiselo
(548-549), p•e freio ‹ expansƒo franca e permite a consolida‚ƒo dos visigodos na Hispania.
A ascensƒo de Agila em 549 inaugura um novo per‡odo de instabilidades, uma vez que
este reinado ‰ marcado pela disputa com o grupo nobiliŠrquico liderado por Atanagildo. Este,
apoiado pelos bizantinos, obt‰m o trono em 555 ao pre‚o de ceder ‹queles uma faixa
territorial no sul da Pen‡nsula da qual s• se retirarƒo em 625, expulsos pelo monarca Suintila
estudo – ‰ o casamento de suas filhas Galsvinta e Brunequilda com os reis francos Chilperico
sentido de estabilizar suas rela‚•es pol‡ticas com os francos, como veremos adiante.
Com a morte de Atanagildo, ascende ao trono Liuva (568-572), que divide o governo
com seu irmƒo Leovigildo, que se torna o Žnico soberano ap•s a sua morte. Liuva ‰
2
DIAZ, Pablo C. Rey y Poder en la Monarquia Visigoda. Iberia, Logro’o, n. 01. p. 180-184, 1998.
3
Ibidem. p. 77-80.
29
proclamado rei em Narbonne, cidade localizada na pequena por‚ƒo da GŠlia que os visigodos
conseguiram manter sob seu dom‡nio. O fato de o sucessor de Atanagildo ter sido escolhido
entre os aristocratas dessa regiƒo demonstra o peso que ela ainda possu‡a na dinŒmica pol‡tica
visigoda. Enquanto Liuva optava por permanecer na GŠlia, coube a Leovigildo o governo dos
601) ao cristianismo niceno como um marco inicial da alian‚a entre os visigodos e a elite
Navarro Cordero considera que ‰ Leovigildo o responsŠvel pelo rompimento, por parte da
realeza visigoda, com o conceito germŒnico de monarquia, em que o rei era antes de tudo um
chefe militar eleito entre seus pares por seu valor como guerreiro e pertencimento a uma
estirpe ilustre. Em outras palavras, o reinado deste monarca marca o in‡cio a estrutura‚ƒo da
‰ a busca de reconhecimento por parte da sociedade hispana, por meio da ado‚ƒo de prŠticas
imperiais romanas. Ela permitiria aos reis visigodos descolar de si, a partir da‡ e em
definitivo, o r•tulo de “bŠrbaros”.6 Seu irmƒo Liuva fizera uso desse recurso ao associŠ-lo ao
trono em 568. Tƒo logo o poder pol‡tico foi reunido em suas mƒos, em 572, ele repetiu a
4
Citemos como exemplo o trabalho de Jos‰ Orlandis que tende ainda a p•r a pol‡tica de Recaredo em oposi‚ƒo a
de Leovigildo. Cf.: ORLANDIS, Jos‰. Historia del Reino Visigodo Español. Madri: Rialp, 1968.; Idem. Sobre
las relaciones entre la Iglesia Cat•lica y el poder real visigodo. Hispania y Zaragoza en la Antiguedad Tardia.
Estúdios Vários. Zaragoza, 1984. p. 37-50.; e Idem. La doble conversi•n religiosa de los pueblos germŠnicos
(siglos IV a VIII). AHIg, Pamplona, n.09. p. 69-84, 2000.
5
NAVARRO CORDERO, Catherine. El Giro Recarediano y sus implicaciones pol‡ticas: el catolicismo como
signo de identidad del Reino Visigodo de Toledo. Ilu. Revista de Ciencias de las Religiones, Madrid, n.05. p.
97-118, 2000.
6
Ibidem. p. 101.
30
prŠtica entregando aos seus dois filhos, Hermenegildo e Recaredo, a administra‚ƒo da B‰tica
e da Narbonense/Septimania, respectivamente.7
Essa nƒo seria a Žnica prŠtica imperial que Leovigildo adotaria. Isidoro de Sevilha
narra que Leovigildo come‚ou a aparecer diante da corte usando vestes assemelhadas ‹s
roupagens imperiais,8 embora haja exagero na afirma‚ƒo de que ele foi o primeiro rei visigodo
a faz€-lo. Mas, de fato, ele foi o primeiro rei visigodo a cunhar moedas com a sua pr•pria
ef‡gie, ao inv‰s da do imperador bizantino, al‰m de ter fundado ao menos duas cidades. O
passo seguinte foi a realiza‚ƒo de uma recopila‚ƒo das leis visigodas, cujo fruto foi o
chamado Codex revisus, mimetizando obras de recopila‚ƒo efetuadas por imperadores como
Teod•sio II e Justiniano.9
O casamento com Gosvinta, viŽva de seu antecessor, por ocasiƒo de sua ascensƒo ao
trono, consistiu numa tentativa de atrair para si as antigas bases de apoio de Atanagildo entre
a elite da regiƒo ao sul da Pen‡nsula Ib‰rica, com a aristocracia visigoda hispana de uma
forma geral.10
sentido de reduzir as fronteiras entre as elites goda e hispano-romana ou de dar aval jur‡dico
‹s intera‚•es que jŠ ocorriam, como ocorreu no caso dos casamentos mistos,11 embora a
7
FRIGHETTO, Renan. Aspectos Te•ricos e PrŠcticos da Legitimidade do Poder R‰gio na Hispania Visigoda: o
Exemplo da Adoptio. Cuadernos de Historia de Espa‡a. Buenos Aires, v.79, p. 237-245, 2005. Dispon‡vel em:
http://www.scielo.org.ar/. Acesso em: 08/09/2008.
8
ISIDORUS HISPALENSIS. Historia de regibus gothorum, wandalorum et suevorum. 51. In: MIGNE, Jean-
Paul (ed.). Patrologia Latina. Paris: Migne, 1844-1855, vol. 83, col. 1057.
9
CASTELLANOS, Santiago. Los godos y la cruz…, op. cit.. p. 100-103.
10
Ibidem. p. 92.
11
Leovigildo aboliu uma antiga disposi‚ƒo da legisla‚ƒo, promulgada por Alarico II, que mantinha proibidos os
casamentos entre romanos e germanos, como determinara um decreto romano da ‰poca dos imperadores
valentinianos. Mais do que abrir a possibilidade de uniƒo entre godos e hispano-romanos, a decisƒo de
Leovigildo converteu em lei o que se tornou uma regra na prŠtica: jŠ nƒo eram tƒo grandes as barreiras entre os
dois grupos, e os casamentos mistos eram comuns. Cf.: VALVERDE, Maria R. El reino visigodo de Toledo y los
matrimonios mixtos entre godos y romanos. Gƒrion, Madrid, v.20, n.01. p. 511-527, 2002.
31
diferencia‚ƒo tenha sido mantida no que se refere ‹ possibilidade de acesso ao poder
pol‡tico.12 O fisco foi outro meio de que o monarca lan‚ou mƒo para conseguir o apoio das
A pr•xima questƒo que Leovigildo visaria solucionar era a da separa‚ƒo religiosa que
romanos residia no fato de aqueles serem adeptos do arianismo e estes da ortodoxia nicena.
Para Luis A. Garc‡a Moreno, a abertura do episcopado ariano ‹ interfer€ncia da monarquia fez
com que o rei considerasse conveniente uma unifica‚ƒo religiosa da sociedade hispano-
visigoda sob a ‰gide do arianismo,14 nem que para tal fossem necessŠrias mudan‚as no dogma
ariano.15 Navarro Cordero defende, no entanto, que Leovigildo nƒo visava unir o reino sob o
arianismo, e sim dar condi‚•es para que a Igreja ariana fizesse frente ao poder e ‹ influ€ncia
essa questƒo teve uma natureza mais complexa do que os cronistas da ‰poca quiseram fazer
parecer. Em fins da d‰cada de 570, Hermenegildo, filho mais velho de Leovigildo e rec‰m-
contra a autoridade paterna e, apoiado por parcela bastante representativa da elite, incluindo a
12
NAVARRO CORDERO, C. op. cit.. p. 112. Tivemos oportunidade de observar que a Lex Visigothorum
tamb‰m dŠ tratamento diferenciado aos dois grupos no que se refere ‹ propriedade de terras. Cf.: SOUSA,
Adriana C. de; COSTA, Edilaine V. Leovigildo e a revisƒo do C•digo de Eurico. In: SEMANA DE
INTEGRAš›O ACADœMICA DO CENTRO DE FILOSOFIA E CIœNCIAS HUMANAS, 1, 2006. Atas... Rio
de Janeiro: CFCH/UFRJ, 2007. (CD-Rom)
13
CASTELLANOS, S. The political nature of taxation..., op. cit.. p. 211-212.
14
Tal abertura, no entendimento do autor, era devida ‹ falta de recursos da Igreja ariana, se comparada ‹ riqueza
do episcopado niceno, o que a tornava mais dependente do favorecimento do poder pol‡tico. Cf.: GARCIA
MORENO, Luis A. Historia de España Visigoda. Barcelona: Cr‡tica, 1989. p. 126.
15
Leovigildo convoca um conc‡lio de bispos arianos em 580, durante a rebeliƒo de seu filho Hermenegildo.
Neste conc‡lio, prop•e-se uma forma mitigada do arianismo, que aceitava a divindade do filho, mas negava a do
Esp‡rito Santo, como fizera o chamado “macedonianismo”, heresia condenada pelo I Conc‡lio de Constantinopla.
Para facilitar a ado‚ƒo desse novo dogma pelos cristƒos ortodoxos, o conc‡lio determina que para o “rebatizado”
bastaria a imposi‚ƒo de mƒos do bispo e a cita‚ƒo do credo ariano. Cf.: ORLANDIS, Jos‰. La doble
conversion…, op. cit.. p. 81.
16
NAVARRO CORDERO, C. op. cit.. p. 110.
17
“Denique Arianae perfidiae furore repletus, in catholicos persecutione commota, plurimos episcoporum
exsilio relegavit.” Cf.: ISIDORUS HISPALENSIS. op. cit., 50.
32
rica aristocracia da B‰tica, reivindicou o trono para si, autorizando-se inclusive a cunhar
moedas com a sua ef‡gie. Sufocada a rebeliƒo, em 584, Leovigildo, de acordo com os
referidos autores, teria iniciado uma pol‡tica de persegui‚ƒo ao clero nice‡sta. Castellanos,
entretanto observa que as pris•es e ex‡lios que o monarca empreendeu contra membros do
episcopado provavelmente nƒo tiveram motivos religiosos. Bispos como Joƒo de Biclaro e
Masona de M‰rida teriam sido perseguidos em fun‚ƒo de seu envolvimento pol‡tico com a
rebeliƒo de Hermenegildo.18
Leovigildo contra a parcela do episcopado que o apoiou, acabaram ofuscadas pela guinada
pol‡tica protagonizada por Recaredo, que com a morte do irmƒo, passa a ser o Žnico candidato
a sucessƒo de Leovigildo, morto em 586. Apenas alguns meses ap•s subir ao trono, Recaredo
negocia‚•es com o restante da elite goda, o monarca convoca o III Conc‡lio de Toledo, em
faziam cada vez mais presentes. Nesse sentido, o III Conc‡lio de Toledo teria na verdade
sancionado uma situa‚ƒo de fato: era crescente, desde antes de 589, o movimento de
18
CASTELLANOS, Santiago. La Hagiografia visigoda…, op. cit.. p. 187. Catherine Navarro Cordero, por
outro lado, afirma, em artigo publicado em 2000 – antes, portanto, do trabalho de Castellanos, que a persegui‚ƒo
se dirigiu a visigodos convertidos ‹ f‰ nicena. Ela tamb‰m acredita, opostamente ao que viria a defender aquele
autor, que a rebeliƒo de Hermenegildo foi supervalorizada pela historiografia do per‡odo apenas por se tratar de
uma guerra entre pai e filho, e sem ter tido qualquer implica‚ƒo de maior alcance. Cf: NAVARRO CORDERO,
C. op. cit.. p. 108. Optamos pela tese de Castellanos porque consideramos que o trabalho de Navarro Cordero,
embora traga muitas contribui‚•es relevantes em rela‚ƒo a outras quest•es, neste caso em particular possui uma
leitura mais restrita dos textos da ‰poca em rela‚ƒo ao supracitado historiador.
19
NAVARRO CORDERO. Ibidem. p. 113-114.
33
A importŒncia do III Conc‡lio no que se refere ‹ institucionaliza‚ƒo da monarquia ‰
que ela demonstra que Recaredo, em consonŒncia com a pol‡tica de seu pai, buscava uma
monarquia territorial, e nƒo uma monarquia ‰tnica. A id‰ia da monarquia visigoda como a
leg‡tima herdeira do Imp‰rio cristƒo nƒo deixa de ser evocada. Joƒo de Biclaro compara
Calced•nia.20
O sentido triunfal que cerca a conversƒo oficial dos visigodos acaba por reverter
Recaredo, Hermenegildo, ocorrida poucos anos antes. Este, descrito por Greg•rio Magno
autores hispanos que escrevem ap•s 589, inclusive Joƒo de Biclaro.22 Com a conversƒo de
Recaredo, a amea‚a que Hermenegildo representou ‹ unidade do reino passa a ter mais
destaque que o discurso que legitimara o seu reinado, que atribu‡ra a ele a fun‚ƒo de defensor
da ortodoxia cristƒ contra a heresia de Leovigildo. O III Conc‡lio de Toledo, presidido por
menciona. 23
visigoda, protegida por Deus e apoiada pela Igreja. Isidoro de Sevilha afirma que Recaredo
cristianismo niceno como religiƒo oficial leva ‹ cristianiza‚ƒo das rela‚•es e concep‚•es de
poder no reino visigodo. O rei ‰ rex, rector ecclesiae – o que nƒo impediu fac‚•es
20
DIAZ, Pablo C. op. cit.. p. 185-186.
21
GREGžRIO MAGNO. DiŠlogos. 3.31.7. apud CASTELLANOS, Santiago. La Hagiografia visigoda..., op.
cit.. p. 175.
22
Cf.: ARIAS, Irene A. (trad.). Cr•nica de Juan, abad del monasterio biclarense. Cuadernos de Historia de
España. Buenos Aires, n.10, p. 129-141, 1948. p. 135-137.
23
CASTELLANOS, Santiago. Ibidem.. p. 165-179.
24
Isidoro afirma na sua História dos Godos que Recaredo restaurou as propriedades dos alvos da persegui‚ƒo
empreendida por seu pai, garantiu a paz do reino e das prov‡ncias al‰m de, em dadas ocasi•es, ter isentado os
sŽditos de tributos mesmo quando estes eram leg‡timos. ISIDORUS HISPALENSIS. Historia de regibus
gothorum, wandalorum et suevorum.... op. cit. 55-56
34
aristocrŠticas dissidentes de se colocarem contra o monarca. As revoltas que ocorrem ap•s a
comum: representam a rea‚ƒo de bispos arianos descontentes com a perda de espa‚o para o
pol‡tico. Com o catolicismo substituindo a antiga fides gothica como fator de coesƒo da
judeus e hereges – se tornam inimigos do poder pol‡tico: ao nƒo aderir ‹ f‰ oficial que define a
autoridade r‰gia, esses grupos seriam considerados mais propensos a nƒo reconhec€-lo.26
Renan Frighetto, por exemplo, aponta para uma transforma‚ƒo no conceito de barbŠrie na
Hispania visigoda, em que barbŠrie, ferocitas (oposta a ciuilitas), heresia, paganismo, trai‚ƒo
Sevilha, o jovem rei era filho de uma mulher nƒo-nobre,28 e, portanto, carecia de bases
O golpe ‰ liderado por Witerico (603-610) que, em 587, havia tra‡do um movimento
liderado pelo bispo ariano Sunna, em M‰rida, contra Recaredo.29 Provavelmente, ele ainda
25
NAVARRO CORDERO, C. op. cit.. p. 115-116.
26
Ibidem. p. 98-99; 118.
27
FRIGHETTO, Renan. Infidelidade e barbŠrie na Hispania visigoda. Gérion, Madrid, v.20, n.01, 2002. p. 509.
28
Nas palavras de Isidoro, Liuva II seria “ignobili quidem matre progenitus”. Cf.: ISIDORO DE SEVILHA.
Historia..., op. cit., 57.
29
NAVARRO CORDERO, C. op. cit.. p. 114.
35
possu‡a liga‚•es com grupos pol‡ticos adversŠrios deste rei,30 e conseguiu finalmente ascender
ao trono, diante da falta de apoio de que sofria Liuva II. Isidoro o descreve como um grande
guerreiro, mas que na vida cometeu muitos atos il‡citos, e acabou perdendo o poder da mesma
forma como o conquistou: pela viol€ncia.31 Choques com a aristocracia e sua pol‡tica
acaba assassinado.32
aristocrŠticos locais que resultaram na morte de seu antecessor, publica um decreto em que
reinado de Gundemaro tamb‰m que a BurgŽndia franca e o reino visigodo ficam a beira de
visigoda, em represŠlia, de terras que Recaredo havia cedido ‹quele reino.33 Tendo realizado
algumas campanhas militares contra os bascos e os bizantinos, morre em Toledo ap•s dois
anos de reinado,34 passando o trono a Sisebuto (612-621), cuja obra ‰ objeto de nosso
trabalho.
juda‡smo ‰ uma das mais contundentes da hist•ria do reino visigodo.35 O rei tamb‰m escreveu
30
Nƒo hŠ evid€ncias, entretanto, de que este monarca empreendeu uma pol‡tica pr•-ariana. GARCIA MORENO,
L. A. op. cit.. p. 145.
31
“Vir quidem strenuus in armorum arte, sed tamen expers victoriae. [...]Hic in vita plurima illicita fecit, in
morte autem, quia gladio operatus fuerat, gladio periit.”. Cf.: ISIDORO DE SEVILHA. Historia…, op. cit., 58.
32
GARCIA MORENO, L. A. Ibidem.
33
Ibidem. p. 146-147.
34
ISIDORO...Ibidem, 59.
35
CORDERO NAVARRO, Catherine. El problema judio como visi•n del “otro” en el reino visigodo de Toledo.
Revisiones historiogrŠficas. En la España Medieval. v.23. p. 09-40, 2000.
36
cartas em que censura o mau comportamento de bispos,36 além de ter enviado à corte
lombarda, que prosseguia ariana, uma longa admoestação contra a heresia, em que as idéias
nenhum concílio de caráter geral, seu governo e sua obra epistolar e literária evidenciam a
preocupação, por um lado, com o apoio e o reconhecimento da elite episcopal, e, por outro,
Figura 1: Hispania
visigoda na época de
Leovigildo.
36
SISEBUTO. Epístola VI. apud JIMENEZ SANCHEZ, J. A. Un testimonio tardío de ludi theatrales..., op. cit..
p. 372.
37
FRIGHETTO, Renan. Da antigüidade clássica à idade média: a idéia da Humanitas na antigüidade tardia
ocidental. Temas medievales. Buenos Aires, v.12, n. 1, jan/dez, 2004. Disponível em: http://www.scielo.org.ar/.
Acesso em: 08/09/2008.
37
2.2) As relações entre o reino franco e o reino visigodo (século VI-VII)
significativo não apenas porque marca o início da transferência do eixo político visigodo da
Gália para a Hispania, mas também porque várias iniciativas seriam tomadas pelos reis
visigodos em relação aos reis merovíngios nas décadas seguintes, visando firmar laços de
interdependência política e dinástica entre os dois reinos. Tais laços teriam o propósito tanto
Alarico II, e Clotilde, filha do rei merovíngio Clóvis, resultou do ponto de vista diplomático
em um grande fracasso, desencadeando mais uma invasão franca ao invés de evitá-la. 39 Uma
nova tentativa de aproximação ocorre com Atanagildo, que une suas duas filhas, Galsvinta e
respectivamente, na década de 560.40 Nenhum dos dois casamentos tem o resultado esperado:
Galsvinta é encontrada morta pouco tempo depois de seu casamento, em 567, e a atuação que
a rainha Brunequilda passa a ter no cenário franco não seria nem um pouco favorável aos
interesses visigodos.
38
WOOD, Ian. The merovingian kingdoms. Nova York: Longman, 1994. p. 169.
39
Conforme os relatos de Gregório de Tours e Procopio, os constantes maus-tratos que Clotilde sofria por parte
do marido, por ser ela católica e ele ariano, provocaram a ira de seu irmão Childeberto I, que em represália,
invade o reino visigodo, provocando um combate que resultaria na morte de Alarico II em 531. Cf.:
CASTELLANOS, S. Los Godos y la cruz..., op. cit.. p. 78-79.
40
Uma das possíveis finalidades de Atanagildo foi a de se aproximar de Nêustria e Austrásia e, desse modo,
isolar a Burgúndia do rei Gontrão, constante ameaça ao território visigodo na Gália, a Septimania. Cf.: ISLA
FREZ, Amancio. Las relaciones entre el reino visigodo y los reyes merovíngios a finales del siglo VI. En la
España Medieval, Madrid, n.13, p. 11-32, 1990. p. 12.
38
Deve-se destacar aqui o papel desempenhado pelas guerras civis travadas pelos quatro
ClotŠrio I (511-561), o reino franco ‰ repartido entre seus quatro filhos ainda vivos, que
passam a lutar entre si com o fim de ampliar os seus pr•prios territ•rios. Marcelo CŒndido da
Silva assinala que as partilhas do reino franco, longe de seguir uma l•gica puramente
tenha tomado posse de Paris, termina por receber o menor dos reinos, inicia uma pol‡tica
externa agressiva em dire‚ƒo aos territ•rios governados pelos seus irmƒos, atitude que, para
Edward James, seria fruto, dentre outros aspectos, da necessidade que o monarca em questƒo
tinha de manter a fidelidade dos guerreiros a ele subordinados e da posi‚ƒo de seu reino,
comprimido entre os outros tr€s e, logo, sem outras possibilidades de expansƒo (vide Figura
2). A morte de Cariberto em 567, e a subseq™ente divisƒo da AquitŒnia entre os seus irmƒos,
42
nƒo encerra o conflito, que se prolongaria at‰ 613, ano em que o filho de Chilperico,
ClotŠrio II, conquista a BurgŽndia, entƒo governada por Brunequilda e seus descendentes, e
• em meio a esses conflitos que devemos situar as alian‚as e conflitos entre francos e
41
SILVA, Marcelo CŒndido da. A Realeza Cristã na Alta Idade Média. Sƒo Paulo: Alameda, 2008. p. 142-
163.
42
JAMES, Edward. Frankish kings and their subjects. In: _______. The Franks. Nova York: Blackwell, 1988.
p. 169-172.
39
O assassinato de Galsvinta, segundo Greg•rio de Tours,43 teria sido obra de pessoas a
servi‚o de Fredegunda, uma das concubinas de Chilperico que passa ‹ posi‚ƒo de esposa
oficial ap•s o incidente. A primeira conseq™€ncia dentro do reino franco teria sido o aumento
das hostilidades entre Chilperico e Sigeberto – este, casado com a irmƒ de Galsvinta,
Brunequilda.
em 568, ficam em uma posi‚ƒo delicada: mais do que antes, era agora praticamente
imposs‡vel buscar estabelecer rela‚•es amistosas tanto com a N€ustria quanto com a
AustrŠsia. Em meados da d‰cada de 570, Leovigildo une seu filho mais velho, Hermenegildo,
‹ Ingunda, filha de Brunequilda e irmƒ de Childeberto II, que ‰ elevado ao trono da AustrŠsia
em 575, ap•s o assassinato de seu pai. Na d‰cada de 580, ‹s voltas com a rebeliƒo liderada por
mas o casamento nƒo chega a acontecer, por conta do assassinato do soberano da N€ustria em
584.
Amancio Isla Frez, seria justamente a aproxima‚ƒo de Leovigildo a Chilperico. Vale lembrar
que a esposa de Leovigildo, a rainha Gosvinta, sendo tamb‰m viŽva de Atanagildo, era mƒe
Leovigildo tinha ao casar-se com a viŽva de seu antecessor era o de conquistar a adesƒo da
aristocracia da B‰tica, prov‡ncia ao sul da Pen‡nsula Ib‰rica, grupo que apoiara fortemente
Atanagildo na sua ascensƒo ao poder. Esta tamb‰m foi a regiƒo que o monarca confiou a
Hermenegildo, ap•s o casamento deste com Ingunda, neta de Gosvinta. Os acordos entre
43
GREGžRIO DE TOURS. Historia Francorum, IV, 28. apud ISLA FREZ, A. op. cit. p. 12
40
Septimania visigoda. Tais contatos, entretanto, não foram bem-vistos por Gosvinta e seus
aliados, que teriam então instigado Hermenegildo a assumir a posição de rei, em detrimento
época com 2 anos de idade, apesar dos protestos de Brunequilda e seu filho, dentre outros
problemas, acabam por colocar Burgúndia e Austrásia em lados opostos novamente. Esses
fatos, somados à falta do apoio das tropas bizantinas, fazem com que Hermenegildo termine
por perder a guerra travada contra Leovigildo e acabe morto, em 585.45 Seu filho Atanagildo,
tomado como uma espécie de refém pelos bizantinos, passa a ser utilizado pelo imperador
para forçar Brunequilda e Childeberto II a apoiar Bizâncio nos conflitos em que o Império se
encontrava envolvido, na Itália.46 Gontrão, a partir de então, inicia uma política dúbia em que
se coloca como firme aliado de Brunequilda e Childeberto II, mas mantendo contatos com a
rainha Fredegunda, que seria a maior inimiga dos dois, por conta de seu suposto envolvimento
nas mortes de Galsvinta e Sigeberto. Após uma nova tentativa de aproximação entre a
fronteira entre os reinos na região próxima aos Pirineus. Na primeira década do século VII, o
monarca visigodo Witerico (603-610) envia sua filha Ermemberga para casar-se com
44
ISLA FREZ, Amancio. op. cit.. p. 14-24.
45
Santiago Castellanos ressalta que o apoio dispensado por Gontrão a Hermenegildo ainda pautaria por bastante
tempo a argumentação entre os reis de Toledo e o rei da Burgúndia em torno do controle da província
Narbonense/Septimania. Cf.: CASTELLANOS, S. Hagiografia visigoda. Dom•nio Social…, op. cit.. p. 231.
46
ISLA FREZ, A. Op. cit.. p. 25-27.
41
Fredegar, por instiga‚ƒo da av• e da irmƒ, Teuderico acaba devolvendo a princesa ‹ corte
situa‚ƒo pol‡tica em que ela se encontrava: fortes segmentos das aristocracias de AustrŠsia e
filho e seus netos – o que fica demonstrado pelo fato de seu filho Childeberto ter sido afastado
dela, ao assumir o trono, logo ap•s a morte do pai (575) e por ela ter sido exilada da AustrŠsia
assim que seu neto Teudeberto alcan‚ou a maioridade, o que teria ocorrido entre 599 e 602.47
A pol‡tica de molde constantiniano adotada pela rainha em rela‚ƒo aos assuntos eclesiŠsticos
habituado a uma maior autonomia em rela‚ƒo ao poder r‰gio.48 Nƒo parecia nada conveniente,
entƒo, a presen‚a de uma outra rainha na corte, o que poderia levar a um enfraquecimento
Toledo a se voltar para a N€ustria de ClotŠrio II. Santiago Castellanos menciona o papel do
612) as rela‚•es entre francos e visigodos e mantinha a corte toledana informada sobre a
47
WOOD, Ian. Op. cit. p. 127-132. e CASTELLANOS, S. Hagiografia visigoda..., op. cit.. p. 241.
48
A id‰ia de uma tradi‚ƒo de independ€ncia e autonomia do episcopado da BurgŽndia em rela‚ƒo ao poder real ‰
uma das teses defendidas por Marcelo CŒndido da Silva. Este grupo, na interpreta‚ƒo do autor, teria inclusive
influenciado uma rea‚ƒo organizada pelo episcopado franco contra o excesso de interfer€ncia dos monarcas nos
assuntos eclesiŠsticos, a partir da segunda metade do s‰culo VI. Os principais alvos dessa rea‚ƒo seriam o rei
Chilperico da N€ustria e a pr•pria rainha Brunequilda, cujas pol‡ticas seriam orientadas por uma concep‚ƒo de
inspira‚ƒo constantiniana sobre o papel da realeza no interior da Igreja. Cf.: SILVA, Marcelo CŒndido da. Op.
cit. p. 99-100; 117-126.
49
Problemas que nƒo impediram, entretanto, que o papa Greg•rio Magno (540-604) a tivesse entre seus
principais interlocutores no reino franco. WOOD, Ian. Op. cit. p. 130.
42
Bulgar serviram como fonte para a reconstituição que Sisebuto, sucessor imediato de
segunda metade do século VI até pelo menos 613, ano da derrota da rainha Brunequilda
diante de Clotário II. É no contexto anteriormente descrito que podemos situar a elaboração
reino franco,51 quanto a reorientação política do reino visigodo após a conversão de Recaredo
do poder régio, que passaria a estar profundamente marcada pela influência crescente do
50
CASTELLANOS, S. Hagiografia visigoda..., op. cit.. p. 243. Referimo-nos, já no capítulo 1, à funcionalidade
que o discurso de Sisebuto adquire no contexto de institucionalização da hegemonia de Clotário II sobre todo o
Regnum francorum, no sentido de sobrepor-se aos grupos que até 613 apoiaram a rainha Brunequilda, e que
poderiam eventualmente originar dissidências nos anos que se seguiriam.
51
SILVA, Marcelo Cândido da. Op. cit. p. 262-272; 285-303.
43
CAPÍTULO 3: A Vita Desiderii
44
3.1) Considerações sobre a teoria política isidoriana
Sevilha (570-636), e o papel pol‡tico de sua produ‚ƒo intelectual, que conhece seu auge
durante o reinado de Sisebuto (612-621) e na d‰cada seguinte. Temos como objetivo, dessa
forma, destacar sua rela‚ƒo com o ideal de conduta pol‡tica presente na Vita Desiderii, a cuja
ide•logos do reino visigodo, foi um autor que buscou incessantemente conciliar em suas obras
o resgate da tradi‚ƒo intelectual clŠssica com a a‚ƒo pastoral exigida por seu papel como
projeto de reforma da Igreja hispana, projeto que tinha a sua dinŒmica pautada por uma
“busca das origens”, a qual viria a orientar tamb‰m a constru‚ƒo de seu ideŠrio pol‡tico. Sua
teologia moral e espiritual, exposta nos livros II e III das Sententiae, teria sido bastante
influenciada pela leitura de textos escritos pelo papa Greg•rio Magno (540-604), os quais
haviam sido dedicados ao grande amigo deste, Leandro, bispo de Sevilha e irmƒo mais velho
de Isidoro. Assim, Isidoro buscaria estabelecer, por meio de seus textos, uma media‚ƒo entre
transforma‚ƒo.2
Seu ideŠrio pol‡tico, por sua vez, esteve bastante marcado pela filia‚ƒo para com o
pensamento clŠssico constru‡do sobre os valores caros a civitas Romana. Nutrido por esse
pensamento, Isidoro esbo‚ou algo que se poderia chamar de um “projeto global de sociedade”
para a Hispania romano-visigoda, projeto calcado em quatro princ‡pios: patria Gothorum, rex
1
FONTAINE, Jacques. Isidoro de Sevilla, padre de la cultura europea. In: CANDAU, J. M., GASCž, F.,
RAM˜REZ DE VERGER, A. (eds.). La Conversión de Roma. Cristianismo y Paganismo. Madrid: Ed.
ClŠsicas, 1990. p. 259-286.
2
Ibidem. p. 260-267.
45
rectus, civitas Dei peregrinans (lema agostiniano) e, por fim, romanitas.3 Para Isidoro, o
fundamento do poder r‰gio ‰ a retidƒo, baseada nas virtudes cristƒs, tal com se entende a
partir da cita‚ƒo do prov‰rbio de HorŠcio, nas Etimologias isidorianas: “rex eris si recte
facias, si non facias non eris”4 . Na visƒo de Fontaine, o livro III das Sententiae deve ser lido
clericais quanto as leigas. 5 Desde os seus primeiros escritos at‰ o IV Conc‡lio de Toledo,
presidido pelo hispalense em 633 - tr€s anos antes de sua morte - Isidoro demonstra uma
reino, equil‡brio em que o rei teria a fun‚ƒo de fazer cumprir por for‚a os mandamentos que
e a piedade como as principais virtudes do bom rei, por oposi‚ƒo ao tirano que oprime o seu
povo.7 O autor discorda de estudiosos, como por exemplo Jos‰ Orlandis, 8 que defendem que a
acep‚ƒo de Isidoro possui da tirania se restringe a reis que ascendem ao trono por vias
ileg‡timas, sem que seja agregado ao conceito qualquer tipo de ju‡zo de valor negativo em
Barbero de Aguilera destaca ainda que Isidoro, bem como outros bispos no IV
Conc‡lio de Toledo, atua nƒo s• como representante da alta hierarquia eclesiŠstica, mas
tamb‰m como representante da elite hispano-goda e que, portanto, nƒo haveria uma
3
Ibidem. p. 271-272.
4
“•s rei se age retamente, se nƒo age, nƒo o ‰.” Tradu‚ƒo livre.
5
Ibidem. p. 274.
6
BARBERO DE AGUILERA, A. La formaci•n de la doctrina pol‡tica visigoda. La teoria pol‡tica en San Isidoro
y en los concilios. Las bases sociales de la doctrina pol‡tica visigoda. Su significaci•n en la prŠctica. In: ______.
La sociedad visigoda y su entorno histórico. Madrid: Siglo XXI, 1992. p. 16-56.
7
Ibidem. p. 21.
8
Os trabalhos em que Jos‰ Orlandis trata do conceito de tirania no reino visigodo sƒo ORLANDIS, J. Algunas
observaciones en torno a la “tiran‡a” de San Hermenegildo. Temis, Zaragoza, v. 02, 1957. p. 67-75.; e ______.
En torno a la noci•n visigoda de “tiran‡a”. Anuaria de Historia del Derecho Español, v. 29, 1959. p. 05-43.
46
verdadeira dualidade de interesses entre episcopado e aristocracia.9 Desse modo, entende-se
que o discurso isidoriano tanto sobre a inalienabilidade do poder dos monarcas, quanto sobre
os deveres dos mesmos para com os seus sŽditos, refletem os anseios de uma aristocracia
preocupada com a estabilidade pol‡tica do reino, mas tamb‰m em inibir a ado‚ƒo de posturas
“pouco convenientes” por parte dos pr•ximos monarcas. “Reger retamente”, nesse sentido,
a um conjunto composto por um total de tr€s livros, em que o bispo reŽne suas concep‚•es a
realeza cristƒ no reino visigodo,12 principalmente o livro III, no qual Isidoro apresenta
aqui alguns pontos contidos nos cap‡tulos 47, 48, 49, 50 e 52 que consideramos significativos
tendo em vista a forma como os mesmos princ‡pios encontram-se expostos na Vita Desiderii
de Sisebuto.
9
BARBERO DE AGUILERA, A. Ibidem. p. 27.
10
Barbero de Aguilera cita diversos exemplos envolvendo reis visigodos derrubados ao longo do s‰culo VII
(desde Suintila a Wamba), e cuja deposi‚ƒo foi justificada sob o pretexto de encerrar com pol‡ticas que
prejudicavam pessoas e bens da alta nobreza e dos bispos mais influentes do reino. Cf. BARBERO DE
AGUILERA, A. Ibidem. p. 43.
11
Segundo data‚ƒo proposta por Jos‰ Carlos Mart‡n. Cf.: MARTIN, Jos‰ Carlos. Une nouvelle ‰dition critique
de la • Vita Desiderii – de Sisebut, accompagn‰e de quelques r‰flexions concernant la date des • Sententiae – et
du • De uiris illustribus – d’Isidore de Seville. Hagiographica, Firenze, v.07. p. 127-180, 2000.
12
O conceito de “realeza cristƒ” de que aqui nos utilizamos ‰ tomado da obra de Marcelo CŒndido da Silva, que
assim o define: “Essa Žltima pode ser definida, de maneira preliminar, como uma forma de governo na qual a
realiza‚ƒo de um objetivo exterior ao mundo, isto ‰, o bem da coletividade entendido como sua salva‚ƒo, ‰
associada ao exerc‡cio do poder pol‡tico supremo, a ponto de se tornar seu principal fundamento.”. Cf.: SILVA,
Marcelo CŒndido da. A Realeza Cristã na Alta Idade Média. Sƒo Paulo: Alameda, 2008. p. 40.
13
Embora o autor discorra sobre os deveres dos reis tamb‰m em outras obras, como, por exemplo, as
Etymologiarum ou as atas do IV Conc‡lio de Toledo, de 633, por ele presidido, privilegiaremos as Sententiae em
nossa anŠlise porque ela foi elaborada durante o reinado de Sisebuto, e, ainda de acordo com o supracitado
estudo de Jos‰ Carlos Mart‡n, foi a principal refer€ncia do monarca na reda‚ƒo de sua Vita Desiderii no que se
refere ‹ caracteriza‚ƒo da conduta dos reis.
14
O livro III das Sententiae possui, no total, 62 cap‡tulos contendo prescri‚•es de ordem moral dirigidas a
diversos setores da sociedade e da Igreja.
47
No cap‡tulo XLVII, dedicado aos sŽditos (De subditis), Isidoro apresenta a exist€ncia
de hierarquias na sociedade como obra divina para que “la licencia para obrar mal de los
siervos sea reprimida con el poder de los que dominam”. 15 Mas sem deixar de lembrar que “el
Se’or Žnico igualmente trata a los se’ores que a los siervos”. 16 Coibir o pecado com a for‚a,
que, se por um lado existe a justifica‚ƒo da domina‚ƒo de uma pessoa sobre as outras, por
outro, isto nƒo implica na isen‚ƒo, por parte de servos ou senhores, de obriga‚•es de ordem
moral.
No cap‡tulo XLVIII, dedicado aos prelados (De praelatis), Isidoro ‰ bastante direto
com rela‚ƒo ‹s conseq™€ncias do mau uso do poder. Para ele, bom e Žtil ‰ o poder que vem de
Deus, e ele vem para que o mal seja reprimido e nƒo fomentado pela temeridade.17 Aqui
tamb‰m ele ‰ ainda mais objetivo em rela‚ƒo a um princ‡pio que se tornarŠ conhecido em uma
obra posterior, as Etimologias: “Los reyes se llaman as‡ a recte regendo, y por tanto si obran
serem chamados de reis seriam aqueles que fossem capazes de melhorar a conduta dos sŽditos
governando bem.18
Isidoro afirma que os Pr‡ncipes devem se inspirar no exemplo de humildade de Davi, nunca
deixando de reconhecer que ‰ ‹ gra‚a de Deus que ele deve o seu poder, mais do que aos seus
pr•prios m‰ritos.19 Seu governo deveria ser norteado por virtudes como dilig€ncia,
15
Sententiae. 3.47.1: “ut licentia male agendi seruorum potestate dominantium restringatur”. Edi‚ƒo em
castelhano: ISIDORO DE SEVILHA. El libro 2º y 3º de las Sentencias. Trad. D. Juan Oteo Uru’uela,
presb‡tero. Sevilha: Apostolado Mariano, 1991. p. 125.
16
Sent. 3.47.3: “unus enim Dominus aequaliter et dominis fert consultum et seruis”. ISIDORO DE SEVILHA.
Idem.
17
Sent. 3.48.5: “Potestas bona est quando Deo donante est, ut malum timore coerceat, non ut temere malum
committat”. ISIDORO DE SEVILHA. Ibidem. p. 126.
18
Sent. 3.48.7: “Reges a recte agendo uocati sunt, ideoque recte faciendo regis nomen tenetur, peccando
amittitur [...]Recte igitur illi reges uocantur qui tam semetipsos quam subiectos, bene regendo, modificare
nouerunt”. ISIDORO DE SEVILHA. Ibidem. p. 127.
19
Sent. 3.49.1.
48
temperan‚a, humildade, caridade, generosidade, justi‚a, clem€ncia, e bondade, como
“Quien hace recto uso de la potestad regia establece la norma de la justicia mŒs
que con las palabras con los hechos. No se engr•e en la prosperidad, no se turba en
la adversidad, no descansa en sus propias fuerzas y no aparta su corazŽn de Dios:
en la cumbre del poder preside con Œnimo humilde; no ama la iniquidad, no se
abrasa de codicia; de un pobre saca un rico sin defraudar a otro, y lo que por
justicia pod•a exigir de los pueblos, muchas veces condena por misericordia y
clemencia.” (Sentencias, 3.49. p. 128)20
preocupar menos com demonstra‚•es de poder e superioridade e, ao inv‰s disso, buscar serem
“En provecho del Gobierno de los pueblos ha dado Dios a los pr•ncipes la dignidad
de jefes y quiso que ellos presidan a los que en el nacer y morir son iguales con
ellos. Luego debe la dignidad de pr•ncipe aprovechar a los pueblos, no
perjudicarles; no oprimirlos dominando, sino procurar por ellos condescendiendo:
de suerte que sea verdaderamente •til la insignia del poder y que se emplee el don
divino para seguridad de los miembros de Cristo. […]” (Sentencias, 3.49. p. 128)21
Na conclusƒo do cap‡tulo, Isidoro acrescenta, ainda, que o Pr‡ncipe deve estar sempre
percebemos a estreita liga‚ƒo que Isidoro estabelece entre a paci€ncia e o exerc‡cio da Justi‚a
pelos reis. O rei deve dissimular os erros dos maus, nƒo por consentir com a maldade, mas
contra os Pr‡ncipes seriam, por sua vez, uma das maneiras de que Deus lan‚a mƒo para
20
Sent. 3.49.2: “Qui recte utitur regni potestatem, formam iustitiae factis magis quam uerbis instituit. Iste nulla
prosperitate erigitur, nulla aduersitate turbatur, non innititur propriis uiribus, nec a Domino recedit cor eius;
regni fastigium humili praesidet animo, non eum delectat iniquitas, non inflammat cupiditas, sine defraudatione
alicuius ex paupere diuitem facit et, quod iusta potestate a populis extorquere poterat, saepe misericordi
clementia donat”.
21
Sent. 3.49.3: “Dedit Deus principibus praesulatum pro regimine populorum, et illis eos praeesse uoluit cum
quibus una est eis nascendi moriendique conditio. Prodesse ergo debet populis principatus, non nocere, nec
dominando premere, sed condescendendo consulere, ut uere sit utile hoc potestatis insigne, et donum Dei pro
tuitione utantur membrorum Christi [...]”
49
permitir que os monarcas tenham oportunidade de demonstrar a sua clem€ncia.22 Em outras
cap‡tulo, Isidoro tamb‰m aponta para a propensƒo que os reis t€m para o pecado, uma vez
que:
“los pueblos que pecan temen al juez y por las leyes estŒn cohibidos de obrar mal;
pero los Reyes como no est‚n cohibidos por el sŽlo temor de Dios y por el miedo del
infierno, libremente caen en el precipicio y por lo abrupto de la licencia se dejan
deslizar en toda clase de vicios.” (Sentencias. 3.50.4. p. 129)23
do monarca tem na conduta dos sŽditos, para o bem ou para o mal,24 e afirmando que as penas
devem ser proporcionais aos pecados, e nƒo variar conforme a pessoa, pois “no serŠ desigual
O cap‡tulo LII ‰ dedicado aos ju‡zes (De iudicibus). Embora nƒo se refira diretamente
justi‚a pelos reis que Isidoro apresenta nos cap‡tulos XLIX e L, como ‰ o caso da condena‚ƒo
22
Sent. 3.50.2.
23
Sent. 3.50.4: “Populi enim peccantes iudicem metuunt, et a malo suo legibus coercentur. Reges autem, nisi
solo Dei timore metuque gehennae coerceantur, libere in praeceps proruunt, et per abruptum licentiae in omne
facinus uitiorum labuntur.”
24
Sent. 3.50.7.
25
Sent. 3.50.9: “Cuius peccatum quisque sequitur, necesse est ut eius poenam sequatur. Neque enim erit inpar
supplicio, cuius errore quisque par est ac uitio”. ISIDORO DE SEVILHA. Ibidem. p. 130.
26
Sent. 3.52.14-16: “Quidam, dum iudicare incipiunt, irascuntur, ipsamque iudicii sententiam in insaniam
uertunt. De quibus recte per prophetam dicitur: Qui conuertunt in furorem iudicium. Qui enim iratus iudicat, in
50
Percebemos, assim, que Isidoro de Sevilha opta por uma concep‚ƒo de exerc‡cio da
identificar de que maneira os princ‡pios que Isidoro de Sevilha exp•e em suas Sententiae com
seus sŽditos, influenciaram a imagem que Sisebuto constr•i do governo tirŒnico dos
santidade, bem como a Šrea da teologia dedicada ao estudo da santidade – esta conhecida
serm•es, poemas, ep‡grafes etc. – sendo que o aspecto que os define como textos
furorem iudicium mutat et ante profert sententiam quam agnoscat./ Furor in iudice inuestigationem ueri non
ualet adtingere, quia mens eius turbata furore ab scrutatione alienatur iustitiae./ Iracundus iudex iudicii examen
plene contuere non ualet quia caligine furoris non uidet.”
27
GOULLET, Monique. Introduction: saints et hagiographie. In : WAGNER, Anne (org.). Les saints et
l’histoire : sources hagiographiques du haut Moyen ‰ge. Paris : Br‰al, 2004. p. 14.
28
VELAZQUEZ, Isabel. op. cit.. p. 23-32.
51
Ela guarda proximidades com vŠrios estilos literŠrios da Roma pagƒ como as
historiae, os paneg‡ricos, e as biografias.29 O historiador Peter Brown aponta que umas das
caracter‡sticas mais peculiares do mundo clŠssico tardio (tamb‰m chamado por ele de
Civilização da Paidéia) ‰ o fato de que a exemplaridade costumava ser buscada muito mais
comprovado pela for‚a ret•rica que possu‡a a refer€ncia a her•is, hero‡nas ou a grandes
s‰culos IV-VIII e, ‹s vezes, tamb‰m em textos posteriores pode ser associada a outro aspecto
salientado por Peter Brown. O autor destaca a “inova‚ƒo” do discurso hagiogrŠfico cristƒo em
rela‚ƒo ao pensamento clŠssico: a santidade, sendo concebida como imitatio Christi e/ou
santo/mŠrtir ‰ visto e cultuado como o pr•prio Cristo tornado presente por meio da vida de
um fiel.31 Cristo era eterno, o que permitia a ele ser enviado a todas as eras e todos os lugares
por meio de seus eleitos, eles mesmos exemplos da grande potencialidade do primeiro modelo
de humanidade: o Adƒo antes da queda, natureza humana perfeita porque criada “‹ imagem de
Deus”.32 Tal “inova‚ƒo”, entretanto, pode ser relativizada, jŠ que a “antiguidade” permanece
judaico-cristƒ.
forma de santidade a ser reconhecida pelas comunidades cristƒs ‰ a dos mártires, que surgem
inicialmente no per‡odo das persegui‚•es aos cristƒos pelo Imp‰rio romano (s‰culos II e III);
29
Ibidem. p. 33-40.
30
BROWN, Peter. The Saint as Exemplar in Late Antiquity. Representations, Berkeley, n.02, 1983. p. 02-03.
31
Ibidem. p. 06-08.
32
Ibidem. p. 07, 19.
52
com o fim da hostilidade oficial, o martírio passa a ser associado a outros tipos de ação
dos séculos XVI-XIX, têm como base, direta ou indireta, um manuscrito que pertencera ao
famoso códice ovetense, pertencente ao bispo Pelayo, datado do século XII, e atualmente
perdido. O manuscrito do códice ovetense é o mais antigo, até o ponto que conhecemos, que
incluía a Vita Desiderii. Entre as edições existentes, encontramos três, a saber: a de E. Flórez,
elaborada em 1993 pelo professor Dr. José Carlos Martín Iglesias, do Departamento de
O texto compõe-se de 22 parágrafos, e contém uma trama que pode ser dividida em
quatro partes.
desde a infância prodigiosa até a sua nomeação para a sede de Vienne que, segundo a
determinado homem, fazendo-o difamar o bispo entre a nobreza. O indivíduo em questão não
33
Ibidem. p. 08-09.
34
MARTIN, José Carlos. Una revisión de la tradición textual de la Vita Desiderii de Sisebuto. Emerita, 64, n.
02, 1996. p. 239-248.
53
‰ nomeado – Sisebuto se refere a ele apenas como pestiferae mentis hominem – mas dŠ-se a
entender que ele seria ligado aos reis Teuderico e Brunequilda.35 O rei ‰ apresentado como
um homem “digno de toda necedad”36 , e sua av•, como “la favorecedora de las peores
prŠcticas, la mŠs ‡ntima amiga de los malvados”37 . Eles instruem uma mulher aristocrata
casada chamada Justa – que apesar do nome, ‰ descrita como tendo um p‰ssimo carŠter – a se
queixar perante um conc‡lio de ter sido violentada por Desid‰rio em dada ocasiƒo. Embora os
pr‰vias, acabam por condenar Desid‰rio ao ex‡lio em uma ilha, nƒo localizada na narrativa.
como um homem tƒo polu‡do por atos abominŠveis quanto Desid‰rio seria abundante em
virtudes.38
momento em que o santo, em seu local de ex‡lio, realiza numerosos milagres de cura.39 As
not‡cias que recebem sobre os milagres realizados pelo santo, provas de seu favorecimento
por Deus, fazem com que Teuderico e Brunequilda fiquem tomados de pavor, mais ainda
depois que o rei v€ seu protegido ser morto e despeda‚ado por uma turba de burgŽndios
indignados com a sua sede de riqueza e suas calŽnias,40 e que Justa morre depois de ser
35
Jos‰ C. Mart‡n fornece vŠrias indica‚•es de que o personagem em questƒo ‰ fict‡cio, mas inspirado em dois
personagens reais, a saber, o aristocrata Protadius – que Fredegar apresentaria em sua cr•nica como um amante
de Brunequilda – e o bispo Aridius de Lyon – tamb‰m segundo Fredegar, um inimigo pol‡tico de Desid‰rio e
principal responsŠvel pela condena‚ƒo do prelado de Vienne ao ex‡lio, e que ainda se encontrava vivo em 613.
Mart‡n aponta para a grande probabilidade de o personagem an•nimo da Vita Desiderii ter sido constru‡do a
partir de uma mescla entre eventos selecionados das biografias de Protadius e Aridius. Teria sido esse o modo
encontrado por Sisebuto para ater-se minimamente aos fatos e garantir aos leitores e ouvintes de sua hagiografia,
para fins de exemplifica‚ƒo, que todos os perseguidores do santo foram devidamente punidos pela justi‚a divina.
Cf.: MARTIN, Jos‰ Carlos. Qvendam pestiferae mentis hominem, un personaje sin nombre de la Vita Desiderii.
In: PEREZ GONZALEZ, Maurilio (org). In: I CONGRESO NACIONAL DE LATIN MEDIEVAL. Actas….
Leon: Universidad de Leon, 1993. p. 307-313.
36
VD, 4.14: “totius hominem stultitiae dignum”. Edi‚ƒo em castelhano: SISEBUTO DE TOLEDO. Vida y
pasi•n de San Desid‰rio. Trad. Jos‰ Carlos Mart‡n. In: CORDOŸER, Carmen (org.). CD ROM Escritores
Visig„ticos y Moz…rabes Digital, Fundaci•n IgnŠcio Larramendi, s/d. (no prelo)
37
VD, 4.15: “fautricem pessimarum artium, malis amicissimam Bruniguildem”.
38
VD, 4.16-28.
39
VD, 5-7.
40
VD, 8.
54
possu‡da por dem•nios que a fazem confessar seus crimes e predizer a puni‚ƒo que
que tiveram seus aliados, Teuderico e Brunequilda decidem anular a condena‚ƒo do bispo e
suplicar por perdƒo.42 O santo decide esquecer os males que lhe foram feitos, e retorna a
Vienne, dando fim a uma s‰rie de catŠstrofes naturais que atingiram a cidade durante a sua
Nos parŠgrafos 15-18, Sisebuto narra todo o processo do mart‡rio de Desid‰rio. Ap•s
ordenam que ele seja apedrejado at‰ a morte.46 Os subordinados responsŠveis pelo
cumprimento das ordens sƒo descritos com termos que os aproximam da barbŠrie.47 A
popula‚ƒo de Vienne protesta contra a condena‚ƒo, mas Desid‰rio se submete, sem oferecer
Por fim, nos cap‡tulos 19-22, Sisebuto descreve o que ele mesmo apresenta como “la
de Desid‰rio, Teuderico acaba atingido por uma disenteria e morre50 . O autor da narrativa
omite aqui que pelo menos 5 anos se passam entre a morte de Desid‰rio e a do monarca.
Brunequilda declara guerra a um povo vizinho – refer€ncia aos reinos francos sob dom‡nio de
ClotŠrio II, N€ustria e AustrŠsia – mas Deus envia uma onda de terror ao ex‰rcito que estava a
41
VD, 9. 9: “omnipotens inventrici”
42
VD, 10.
43
VD, 11.
44
VD, 12-14.
45
VD, 15.
46
VD, 16.
47
VD, 18. Sobre o aspecto selvagem com que Sisebuto descreve os homens responsŠveis pela execu‚ƒo do
santo, Frighetto destaca que as caracter‡sticas f‡sicas desses indiv‡duos t€m um sentido espiritual. Cf.:
FRIGHETTO, Renan. Da antig™idade clŠssica ‹ idade m‰dia: a id‰ia da Humanitas na antig™idade tardia
ocidental... op. cit.
48
VD, 17.
49
VD, 19.29-30: “ut exitia perditorum obitumque”
50
VD, 19.
55
servi‚o da rainha, fazendo com que ele fuja do campo de batalha.51 Brunequilda acaba
supliciada e morta pelo ex‰rcito invasor.52 Sisebuto conclui a narra‚ƒo com uma breve
refer€ncia aos milagres que estariam acontecendo em torno das rel‡quias de Desid‰rio.53
Ao longo dos anos 90, o fil•logo Jos‰ Carlos Mart‡n buscou demonstrar em seus
narrativa.54
Esse autor nos ofereceu contribui‚•es relevantes tamb‰m com rela‚ƒo ‹ identifica‚ƒo
autor analisa nƒo apenas a influ€ncia que a narrativa escrita pelo monarca visigodo teve em
terreno merov‡ngio e na propaga‚ƒo do culto ao santo em questƒo, como abre caminho para a
encontrados ao comparar-se o primeiro texto aos demais. Embora o autor opte por concordar
Desiderii, produzido por volta de 617, como tentativa deliberada de seu autor an•nimo de
ocultar a reprodu‚ƒo do texto de Sisebuto,56 n•s podemos nos interrogar quanto ‹ rela‚ƒo
51
VD, 20.
52
VD, 21.
53
VD, 22.
54
MARTIN, Jos‰ Carlos. Verdad hist•rica y verdad hagiogrŠfica em la Vita Desiderii de Sisebuto. Habis,
Sevilla, 29. p. 291-301, 1998; ____. Caracterizacion de personajes y t•picos del g‰nero hagiogrŠfico en la Vita
Desiderii de Sisebuto. Helmantica, 48, v. 145-146. p. 111-133, 1997.
55
MARTIN, Jos‰ Carlos. Una posible dataci•n de la Passio Sancti Desiderii BHL 2149. Evphrosyne, Lisboa,
23. p. 439-456, 1995.
56
MARTIN, Jos‰ Carlos. Un ejemplo de influencia de la Vita Desiderii de Sisebuto en la hagiograf‡a
merovingia. Minerva, Valladolid, 9. p. 165-185, 1995
56
finalidades distintas às quais os dois textos se destinavam, apesar de voltados a um mesmo
objeto.
Sisebuto e Isidoro de Sevilha, e que além das Sententiae e de outros textos do hispalense,
mais de 80 obras - desde as de Jerônimo, Agostinho e Eusébio de Cesaréia até alguns textos
de Gregório Magno - podem ser incluídas entre o aparato de fontes da Vita Desiderii como
possível origem de muitas passagens da narrativa de Sisebuto, o que nos fornece uma imagem
Nosso objetivo aqui será não apenas identificar as marcas do paralelismo existente
aproximação com o episcopado nos anos que se seguem a conversão de Recaredo em 589.
embora Sisebuto não utilize o termo na Vita Desiderii, a idéia da má realeza está presente, e o
governo tirânico também se definiria por características que se opunham àquelas associadas
ao bom governo dos reis. E será a partir dessas características, tal como expostas na Vita
A análise se estruturará sobre os três princípios da realeza ideal isidoriana que teriam,
a saber: o dever de garantir a obediência, por parte de seus súditos, às normas cristãs, com
57
MARTIN, José Carlos. Une nouvelle édition critique de la « Vita Desiderii » de Sisebut...op. cit.. p. 132-134.
O autor apresenta a Vita Desiderii como uma resposta literária de Sisebuto às Sententiae de Isidoro de Sevilha,
tal como o poema astronômico também produzido pelo monarca foi também uma resposta ao De natura rerum,
escrito pelo bispo. Ibidem. p. 140.
58
Além do citado estudo de José C. Martín, temos, por exemplo, Luis A. García Moreno e Santiago Castellanos.
Cf.: GARCIA MORENO, L. A. Historia de España Visigoda..., op. cit.. p. 148. e CASTELLANOS, S. La
Hagiografia visigoda..., op. cit.. p. 251-252.
57
vistas à salvação; o exercício de uma justiça prudente e voltada para a paz; e, por fim, a idéia
de que a própria autoridade dos reis deve ser dotada de virtudes cristãs como bondade e
humildade.
Primeiro princípio: a obrigação dos monarcas em assegurar a boa conduta dos seus súditos
Indicamos na seção anterior que, para Isidoro, o que justifica o domínio dos reis sobre
de Teuderico e Brunequilda na Vita Desiderii não são os atos perpetrados por eles, mas por
Sisebuto deixa claro que ele era protegido por Teuderico, apesar de seus crimes contra a
população.60
No caso de Justa, é evidenciada em dois momentos a dependência que seus atos têm
para com a má influência exercida sobre ela pelos monarcas. A primeira no ponto em que ela
“•sta, tras ser aleccionada, se quejŽ en un concilio de haber sido violada en una
61
ocasiŽn por el sant•simo Desid‚rio…”
Na segunda em que ela, possuída pelo demônio, denuncia seus próprios crimes e os de
Brunequilda:
59
VD, 4. 9-12.
60
VD, 8. 23.
61
VD, 4. 19-20. “Quae instructa in concilio quaesta est, a beatissimo vi stuprum Desiderio esse sibi quondam
in latum...”. Grifo nosso.
58
“Reconozco la falsedad de la acusaciŽn tramada contra el siervo de Dios, juzgo el
pleito, comprendo tambi‚n, y es de lo que mŒs consciente soy, la pena que se debe
pagar. Que de esto el Omnipotente Vengador haga responsable a Brunequilda, que
lo tramŽ, que estas penas las vuelva contra ella, que sobre ella haga recaer los
sufrimientos del tormento su diestra vengadora, sobre ella cuya vana persuasión
me ha arrastrado a la perdición, un servicio ‚ste digno de ser maldecido hasta la
muerte, una promesa que ha de perecer sin proporcionar ning•n beneficio.”62
que ele afirma a importŒncia do papel da monarquia para a salva‚ƒo – ou a perdi‚ƒo – dos
sŽditos. Nƒo podemos deixar de ressaltar novamente que Sisebuto, ao descrever a tirania na
sua hagiografia, busca associar-se ‹ conduta contrŠria.63 Neste caso, o monarca visigodo visa
ratificar a sua posi‚ƒo como aquele que zela pela retidƒo de seus governados.64
Isidoro de Sevilha, nas suas Sententiae, estabelece uma estreita rela‚ƒo entre o
exerc‡cio da justi‚a, a prŠtica da prud€ncia e a garantia da paz no reino, e assim como entre a
62
VD. 9. 8-12. “Cognosco crimen Dei famulum machinatum, cognosco causam, cognosco magis sentien et
debitam poenam. Haec ultor ominipotens inventrici Brunigildi respondeat, has poenas restituat vindex, ac
tormentorum dextera passiones conferat ultrix, cuius persuasio me ad interitum fumea traxit: munus
execrandum ad mortem, promissio ad nullam peritura salutem.”. Grifo nosso.
63
CASTELLANOS, S. La Hagiografia visigoda..., op. cit.. p. 262.
64
Prerrogativa de que o mesmo se utiliza na sua reprimenda ao bispo Eus‰bio de Tarragona em fun‚ƒo do apre‚o
deste pelo teatro. Cf.: JIMENEZ SANCHEZ, J. A. Un testimonio tardio de ludi theatrales..., op. cit.. p. 372.
59
Identificamos que Sisebuto representa esta última relação na sua Vita Desiderii no
sua conduta:65
bispo, e a ira pela qual eles se deixam levar, aparecem como causa da facilidade com que o
Mais que isso, o que Sisebuto aponta é também para a necessidade de o rei submeter
suas ações ao crivo dos bispos, porque é a autoridade e o conhecimento deles sobre os
assuntos sagrados que a sociedade e, mais particularmente, a comunidade dos fiéis, reconhece
evidenciadas pelas revoltas ocorridas ainda durante o domínio destes monarcas. O peso de tais
65
De acordo com a versão merovíngia da vida de Desidério, o tema das críticas do bispo seria o status marital de
Teuderico, que tinha vários filhos de casamentos não-legítimos. Cf.: WOOD, Ian. The merovingian
kingdoms..., op. cit.. p. 132-133.
66
VD, 15. 7-14: “Sed vasa ira fomesque salute medicamenta mortifera, obsidebatque pectus eorum truculentior
hostis, et captiuos in sua dictione tenebat callidissimus serpens; nec poterant liberis gressibus ad portum
pervenire salutis, quos addixerat praedo funestus arctioribus vinclis. Satiati tamen de eius labilibus poculis,
coeperunt contra Dei famulum rabidos latrare sermones et verbis strepentibus comminantes sporcissimas
evomere voces”. Grifo nosso.
60
obrigaram o antecessor imediato de Sisebuto, Gundemaro, a adotar medidas de concilia‚ƒo
com os setores da nobreza e do episcopado receosos em rela‚ƒo aos riscos que um poder
central excessivamente forte poderia representar para a manuten‚ƒo do seu pr•prio status.
Sisebuto pode ser entendida como uma forma encontrada por este monarca de fazer frente aos
anseios de autonomia da aristocracia, que jŠ haviam sido responsŠveis pelas quedas de Liuva
Terceiro princ‡pio: Reis conservam o t‡tulo de reis enquanto agem retamente; pecando o
perdem
A retidƒo dos costumes, para Isidoro de Sevilha, ‰ o elemento que diferencia os bons
dos maus reis. O destino inexorŠvel destes Žltimos seria a perda de seu poder.
“Y cuando este mismo sant•simo varŽn llegŽ a presencia de los dos malvados, se
apresuran a caer postrados a sus pies, y se esforzaban por ganarse su favor despu‚s
de que tiempo atrŒs lo hab•an desterrado con un castigo basado en falsedades…”70
“Como se ve•a que tanto Teodorico como Brunequilda por sus odiosos vicios no
supon•an un beneficio, sino un perjuicio, y mŒs bien causaban la ruina que
reinaban y, entregŒndose a la ruina del perjurio y faltando con mente sacr•lega a
67
GARCIA MORENO, L. A. Historia de España Visigoda, op. cit. p. 145.
68
GAUVARD, Claude. Justi‚a e Paz. In: LE GOFF, Jacques et SCHMITT, Jean-Claude (org.). Dicionário
Temático do Ocidente Medieval. Sƒo Paulo/Bauru: Imprensa Oficial do Estado/EDUSC, 2002, v. 01. p. 55-56.
69
VD, 4.15: “fautricem pessimarum artium, malis amicissimam Bruniguildem”.
70
VD, 10.23-26: “At ubi vultibus infelicium idem beatissimus patuit, provoluti eius ad vestigia coruunt, sibique
eum propitium nitebantur efficere, quem fraudulenta dudum religarant damnatione...”. Grifo nosso.
61
las promesas de su juramento, llenos de perfidia se dirig•an a su perdiciŽn, y como
no les quedaba ning•n tipo de infamia o crimen por cometer, a causa de estos males
el mŒrtir de Dios, su inspector y pont•fice, seg•n su costumbre, ciertamente, levantŽ
su voz semejante al resonar prof‚tico de una trompeta y se entregŽ por entero a
erradicar las faltas de ‚stos para acercar a Dios a aqu‚llos a los que el diablo
hab•a alejado…”71
apoiar na verdade; se deixam dominar completamente pela ira, ao invés de agir com a
reforça a ilegitimidade de suas ações frente ao bispo Desidério e também o seu governo de
Brunequilda e sua captura por Clotário II são apresentados como produtos diretos de uma vida
antípodas do ideal isidoriano de realeza e justiça. Eles têm o seu exemplo instrumentalizado
pelo poder político visigodo, representado por Sisebuto, que por meio deles visa expressar, do
71
VD. 15.3-8: “Cum non prodesse, sed obesse, et magis perdere quam regere Theudericus pariter et Brunigildis
vitiis cernerentur infestis, atque labem periurii reserati et foedera sacramenti deserti, mente sacrilega perfidi ad
non esse pertenderent, nec quippiam de flagitiis vel facinus remaneret, his Dei martyr malis inspector et pontifex
more nempe prophetico clangore tubae personuit seseque totum pro depellendis erroris eorum invexit, quatenos
Deo faceret proprios quos fecerat diabulus alienos...”
72
VD. 19.30-33: “Cum Theudericus deserens Deo, immo derelictus a Deo, percepto nuntio, Christi de famulo
exultaret, desinterico morbo correptus, vitam foedissimam perdidit et amicam sibi mortem perpetuam
acquisivit.”. Grifo nosso.
73
VD. 20: “Amissit perdita Brunegildis peritura solatia [...] sic passim ante faciem hostium evagan primum, ab
hostibus hostis regulae christianae et totius criminis artifex capta est.”. Grifo nosso.
62
régia, e assim ratificar a sua fidelidade ao acordo estabelecido, desde 589, com o episcopado e
manter a paz no reino e garantir a disciplina dos membros da Igreja e a salvação de seus
súditos.
Ao levarmos em consideração que a Gália merovíngia, sob domínio de Clotário II, via
semelhantes, entendemos que a difusão do culto de Desidério pelo monarca franco74 visa
74
WOOD, Ian. op. cit.. p. 133.-136.
63
CAPÍTULO 4: Conclusão
64
Nosso trabalho teve como objetivo maior demonstrar a inserção do ideal de conduta
visigoda.
Nossa primeira hipótese era a de que a Vita Desiderii teria sido elaborada com o
um ideal de conduta política calcado na justiça, na paz e na obediência aos preceitos cristãos
texto que visava difundir não apenas um modelo de conduta cristã, como é próprio dos textos
no início do século VII ganhava novos tons, ao fazer surgir a necessidade de os reis levarem
vista um dado conjunto de expectativas em relação a sua conduta e a sua forma de conduzir os
assuntos do reino, alimentadas pelo episcopado e pela elite aristocrática na qual o mesmo se
inseria.
65
religiosa a incluir princípios que valorizavam o papel do rei na garantia da paz interna do
reino, da justiça, e da salvação de seus súditos, o que dependia da retidão do próprio monarca.
A linha que separava a boa realeza da tirania era determinada, fundamentalmente, pela
seus súditos. O princípio essencial da teoria isidoriana, que a Vita Desiderii vem ratificar, é o
de que o poder régio deveria ser entendido pelo monarca eleito não como um privilégio, mas
também para o selamento de acordos semelhantes no reino franco unificado sob a autoridade
memória daqueles monarcas aparecia como uma estratégia essencial para impedir que os
grupos que apoiaram aqueles no passado viessem a representar uma ameaça ao pacto recém-
estabelecido.
Tanto no caso visigodo como no franco vemos reis assentarem sobre o apoio da
aristocracia laica e do episcopado as bases de seu poder. A contrapartida de tal opção política
66
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