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Um greve geral durante o governo Lula teria sido pouco provável, a ausência de uma
no governo Dilma será uma surpresa
Embora tenha sido no governo Lula que se construíram a CSP-Conlutas e a Intersindical, fruto
do processo de reorganização do movimento sindical no Brasil, a correlação de forças para a
construção de uma Greve Geral sempre foi muito desfavorável.
Não que faltassem razões para isso. O governo Lula introduziu no país uma reforma trabalhista
fatiada e seletiva1:
2) Com a Lei do primeiro emprego, instituiu-se o contrato por tempo determinado para os
jovens que ingressam no mercado formal de trabalho pela primeira vez;
3) Com a criação da "pessoa jurídica", um trabalhador sozinho pode constituir uma empresa
para prestar serviços para terceiros, forma clara de ocultar uma relação de trabalho;
4) A nova lei de falência tornou as dívidas com o mercado financeiro uma prioridade em
relação às dívidas trabalhistas.
Além, é claro, 5) das reformas da previdência e 6) da criação das fundações públicas de direito
privado, permitindo a terceirização em áreas sociais.
Ainda assim, a capacidade de incorporar parte significativa do movimento sindical (06 das 08
Centrais sindicais durante o governo Lula faziam parte da base de apoio do seu governo),
combinada com uma fase de crescimento econômico e expansão do consumo a partir de 2006,
fizeram arrefecer o movimento sindical brasileiro.
Uma mudança neste quadro está ocorrendo atualmente. Não me refiro apenas ao Dia
Nacional de Lutas de 15 de abril de 2015 que congregou a maior parte das centrais sindicais e
diversas categorias no Brasil. Este próprio dia de lutas, bem como mobilizações anteriores, são
fruto de uma nova conjuntura gestada a partir de 2008.
Desde então, o país passou a viver um aumento do processo de mobilização social, que pode
ser verificado com o início de um novo ciclo de greves, conforme demonstra o gráfico abaixo
do DIEESE.
1
Cf. GALVÃO, Andréia. "A Reconfiguração do Movimento Sindical no Governo Lula" in: BOITO, A. &
GALVÃO, A. (orgs). Política e Classes Sociais no Brasil dos anos 2000. Ed. Alameda, SP, 2012.
A série histórica de dados sobre as greves feita pelo DIEESE nos mostra 04 momentos muito
significativos desde o início do seu registro, em 1983. Em meados dos anos 1980, se inicia o
maior ciclo grevista da história do Brasil, com seu pico em 1989, quando foram registradas
quase 2000 greves. Sob o impacto da vitória do governo Collor, este ciclo tem seu término em
1991, quando reduz em quase a metade o registro de greves no ano seguinte.
O Plano Real e o início do governo FHC também são acompanhados por um novo ciclo grevista,
cuja vitalidade dura até 1996. O segundo mandato do governo FHC, apenar da instabilidade
econômica, não protagonizou lutas expressivas entre os setores organizados da classe
trabalhadora urbana. O desemprego em massa, o avanço da terceirização e a adoção de uma
ação sindical que não priorizava a mobilização podem ser identificadas como as principais
razões deste quaro.
Mesmo partindo de um patamar elevado, com cerca de 600 a 500 greves por ano, a trajetória
foi descendente e, como se sabe, foi o MST a organização que conseguiu ser o centro de
gravidade das lutas sociais no Brasil neste período.
O governo Lula iniciou seu mandato com um dos níveis mais baixos de greves anuais na
história recente do país e manteve esse patamar durante a maior parte do seu mandato,
quando se registrou a menor média histórica desde 1983 (cerca de 300 por ano).
Esta tendência se inverte no ano da crise (2008) e, a partir de então, temos um aumento lento
e paulatino das greves nos anos seguintes até o salto registrado em 2012, quando passamos
para 873 greves frente à 554 no ano anterior.
Inclusive, foi em 2012 que se registrou o maior número de greves desde 1997 e tudo indica
que os anos seguintes mantiveram esta tendência.
É neste contexto, de início de um novo ciclo grevista no país, que vamos enfrentar um governo
em crise.
O que está faltando para construirmos a Greve Geral?
Este novo ciclo de greves iniciado em 2008 é mais um dos vários que tivemos em nossa
história. Desde o início do século XX, ocorreram outros 09 ciclos anteriores e foram com eles
que conquistamos ou mantivemos os principais direitos trabalhistas2.
O que está faltando para que consigamos realizar o mesmo neste ciclo atual? Independência
de classe, unidade e ousadia! Diferente de todos os momentos anteriores, "nunca antes na
história deste país" a maioria das organizações sindicais esteve tão atrelada ao governo
federal.
Mas apenas lutar não é suficiente, pois lutas por categorias isoladas podem até obter várias
conquistas, mas dificilmente conseguem avançar ou manter direitos amplos e universais. A
única forma de conseguirmos barrar o PL 4330 e as outras medidas do ajuste fiscal do governo
Dilma é unificando todas as lutas no país, procurando construir uma grande greve geral.
Nós, trabalhadores, retomamos nosso espaço nas ruas, pelo menos desde 2008. Seguimos em
luta nos anos seguintes e aumentamos o nosso número e influência. Está na hora de um novo
passo, mais ousado. Não há nada que cause mais horror aos patrões e governos quando todos
os trabalhadores, do campo e da cidade, do setor público e privado, com sindicatos,
organizações de estudantes e movimentos populares, lutam sob a mesma bandeira. Que eles
fiquem atentos, pois um novo ciclo já se iniciou no Brasil.
2
Está em fase de elaboração um livro do ILAESE sobre a História do Movimento Sindical no Brasil, no
qual serão analisados os ciclos grevistas indicados.