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NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

Copyright © 2018 Andy Collins

Copidesque e Revisão: Samantha Silveira


Capa: Dri K.K. Design
Diagramação: Cristiane Saavedra

Todos os direitos reservados.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens,


lugares e acontecimentos descritos são produtos da
imaginação da autora. Qualquer semelhança com
nomes, datas e acontecimentos reais é mera
coincidência.

ESTE LIVRO SEGUE AS REGRAS DA NOVA ORTOGRAFIA DA


LÍNGUA PORTUGUESA

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São proibidos o armazenamento e/ou a reprodução


de qualquer parte dessa obra, através de quaisquer
meios — tangível ou intangível — sem o
consentimento por escrito da autora.

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“Não é de vitórias que um verdadeiro lutador é


feito,
mas sim das derrotas e de como ele as supera”.
OLIVER WILLERS

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CAPA
FOLHA DE ROSTO
FICHA CATALOGRÁFICA
RISE 1
Jace
Sky
RISE 2
Jace
Sky
RISE 3
Jace
Sky
RISE 4
Jace
Sky
RISE 5
Jace
Sky
RISE 6
Jace

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Sky
RISE 7
Jace
Sky
RISE 8
Jace
Sky
RISE 9
Jace
Sky
RISE 10
Jace
Sky
ANTES DA LUTA...
Jace
EPÍLOGO
Ellie
Cam
PLAYLIST
AGRADECIMENTOS
BIOGRAFIA

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ENCARO PELA ÚLTIMA VEZ O COLCHÃO


encardido que fica acima de mim, foi essa visão
que tive diariamente por dois anos. O tecido
desbotado e rasgado, com alguns pedaços de
espuma à mostra. As molas do estrado que
sustentam o colchão rangem a noite inteira.
A cada maldita noite.
724 noites para ser mais exato.
Contei cada uma delas.
Mas não é a porcaria desse colchão que me faz
olhar para cima. Enfiada entre as molas, está a foto
dela... Bem na direção dos meus olhos. E todos os
dias antes que eu os feche, é ela quem eu vejo.
Sky.
Ela não veio me visitar uma única vez sequer,
dois anos que as notícias que recebo são através dos
meus pais ou tios.
Não a culpo, muito menos a julgo. Tudo que
aconteceu pode deixar a cabeça de qualquer um
ferrada de verdade.
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Meu tio é quem geralmente me conta detalhes


como quando ela decidiu parar de lutar ou mudar
para o próprio apartamento. Minha garota estava
presa na escuridão e eu determinado a tirá-la de lá.
Fecho os olhos quando ouço a cama ranger. A
rotina das minhas noites são sempre as mesmas;
além de olhar para a foto da Sky, sou obrigado a
presenciar meu companheiro de cela dando seu
show particular.
É isso aí! Eu, Jace Willers, tenho que ouvir um
cara do tamanho de um tanque de guerra se
masturbar todas as noites.
A cama range novamente e ele geme. É o sinal
de que a minha tortura não vai durar muito.
Aprendi a pegar no sono rápido desde que descobri
seu vício. Sim! Eu chamava isso de vício porque
desde a primeira noite que passei aqui, ele se
masturbava. Se isso não é um tipo de vício, o cara
tinha graves problemas.
Mais um gemido, e finalmente, a cama para de
ranger. Suspiro aliviado, hoje é a minha última
noite nesse lugar e não consigo dormir. Não sei se
conseguiria ficar calado por muito mais tempo. E
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isso foi uma das primeiras coisas que aprendi sobre


o meu companheiro de cela.
Ficar calado.
Clarence tem o sono leve e na minha primeira
noite eu o acordei. A minha cama não parava de
ranger, eu estava agitado e não conseguia dormir. O
resultado disso foi bem interessante. Um olho roxo.
Eu praticamente desmaiei e na manhã seguinte, ele
se tornou meu amigo e protetor.
Não que não estivesse protegido, meu pai e meu
tio usaram todo o status que tinham para garantir a
minha segurança. Infelizmente, não conseguiram
diminuir a minha pena.
Um conselho: nunca faça merda em ano de
eleição. Eu fiz isso e os políticos me usaram como
exemplo. Mostrando que nem todo dinheiro e fama
poderiam deixar meu crime impune.
Bando de canalhas se formos analisar.
Um baque alto traz meus pensamentos de volta
ao presente. Em seguida, Clarence senta na minha
cama. Ele me encara e eu me sento ao seu lado.
— Noite difícil? — pergunta, Clarence sabe que
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estou saindo amanhã.


— Agitada.
— Está arrependido do que fez? — Eu não
respondo porque ele sabe a resposta, mesmo assim
sempre pergunta.
Depois que ficamos amigos, na melhor das
hipóteses, Clarence sempre repetia que eu não
deveria me arrepender e isso me ajudou. Era no que
me apegava cada vez que me imaginava sendo
como um deles.
— Sua garota, ela está esperando você? —
Aponta para foto da Sky.
— Ela não é minha garota.
— Você se meteu nessa confusão para defender
ela, então, é sim a sua garota.
— Rá. Fácil é falar — sussurro.
— Faça com que ela enxergue isso, garoto.
— Ela é minha prima, não me vê dessa forma. —
Ele bufa.
— Bem, ela não veio te visitar durante esse
tempo todo, pelo menos não que eu tenha visto. Já

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parou para pensar no porquê disso? É claro que ela


te vê, e cá entre nós, é muito mais do que “dessa
forma”. — Dá ênfase as duas últimas palavras e eu
sorrio.
— Posso fazer uma pergunta?
— Não. — Ele é enfático.
— Por que quando cheguei aqui você me bateu e
depois virou meu amigo? — Eu nunca tinha parado
para pensar sobre isso até àquele momento
— Seu pai e tio estão cuidando do que é meu lá
fora, e eu estou cuidando do que é deles aqui
dentro.
— Meu pai e tio? — Fico espantado. — Eles não
sabem do olho roxo.
— Garoto, nesse tempo todo aqui e não aprendeu
que algumas pessoas mantém um olho em tudo? —
Desdenha como se fosse algo totalmente óbvio.
— De quem eles estão cuidando para você?
— Já está indo longe demais, garoto — ele me
adverte, mas porra, não tenho mais nada para fazer
e não consigo dormir.
— Por que veio parar aqui? — Ele me encara
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quando termino a pergunta. Sempre quis saber, mas


ele nunca permitiu que se falasse no assunto. Bem,
vou me arriscar cutucando a fera já que estou
prestes a sair daqui mesmo. — Quero dizer, todo
mundo só sabe que está cumprindo pena, mas
ninguém sabe o motivo ou por quanto tempo.
— Você tem algum problema auditivo, garoto?
Porque se me lembro bem, não te dei permissão
para fazer perguntas — critica, mas não soa
irritado.
Um Clarence irritado não é algo que você queira
ver. A maioria das celas tem em média seis presos,
mas não na nossa. Nessa estamos apenas nós dois,
isso deve significar algo a seu respeito. Eu sabia
que minha família cuidava de algumas coisas para
tornar meus dias mais tranquilos, se é que podemos
dizer isso quando se trata de ficar enclausurado,
sem liberdade alguma. Porém, não sabia que
pagavam para que Clarence fosse meu guarda-
costas.
Meu sobrenome, unido ao motivo que me levou
a prisão já era o suficiente para garantir o respeito
de algumas pessoas. Os presos amavam o boxe e
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odiavam caras que abusavam de mulheres.


Eu era praticamente a porra de um herói.
Mas nem tudo eram flores e quando Clarence me
deu um soco, eu sabia que estava mais vulnerável
do que pensava.
— Desculpe, não quis parecer um intrometido.
— Sou sincero.
— Fiz algo de que não me arrependo, Jace. E
também não me sinto envergonhado. Vou cumprir
tanto tempo que provavelmente não verei mais o
mundo além desses muros. — Olho para ele. —
Isso é a única coisa que precisa saber.
— Obrigado — agradeço, porque sei que ele não
fala sobre isso com ninguém. Seu processo é um
mistério e não se sabe o motivo do porquê de ele
estar preso, pelo menos ninguém que está dentro
dessa prisão.
Com os cotovelos sobre os joelhos solto uma
respiração cansada, enquanto esfrego os olhos.
— Você tem que parar com isso.
— Parar com o quê? — pergunto indeciso.
— De se culpar.
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— Não é bem assim.


— O cara não morreu por sua causa.
— Como você sabe que ele morreu? — pergunto
confuso. Max morreu no mês passado por overdose
dentro de uma boate.
No dia em que fui preso, ele foi levado para o
hospital com um rosto praticamente desfigurado.
Foram necessárias inúmeras cirurgias para que ele
ficasse minimamente reconhecível.
E quando meu tio veio me visitar duas semanas
atrás, me deu a notícia. Max estava morto. Ele
contou como tudo aconteceu e no final eu não
consegui sentir nada.
Odiava Max pelo que ele fez com a Sky e por ser
o motivo da minha prisão, ele simplesmente teve o
fim que merecia.
— Me diz uma coisa. — Ele me encara
novamente. Clarence tem um rosto rústico, a
cicatriz que começa na sobrancelha e termina no
queixo lhe dá um ar sombrio e assustador. — Se
encontrasse esse cara amanhã, o que você faria?
Digo, caso ainda estivesse vivo.
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Não preciso pensar para responder.


— Eu o mataria.
— E o seu tio? Pelo que me contou ele estava
sob controle por causa da garota e da sua tia. Se ele
o visse, o que aconteceria?
Mais uma vez não preciso pensar na resposta.
— Ele o mataria.
— Então de nada, garoto. — Ele bate na minha
perna e eu fico perplexo. — Agora vá dormir
porque você tem um grande dia pela frente.
E assim, o cara que mais parece um tanque de
guerra volta para cama dele e começa a roncar
cinco minutos depois.

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Puxo o capuz tentando esconder o rosto, ajusto


os fones de ouvido e olho para baixo. Sentada na
arquibancada tenho uma boa visão dos alunos.
Venho na academia pelo menos três vezes
durante a semana para vê-los treinar, e só isso.
Chego, confiro mais uma vez se o capuz e fones
estão no lugar, mesmo que não esteja ouvindo
nenhuma música, é apenas um recado para que
ninguém se aproxime.
O que eu gosto mesmo de ouvir são as risadas, as
batidas nos sacos de areia. Sinto as mãos tremerem
a cada movimento que os alunos fazem.
Eu amava isso, amava quando meu pai me
ajudava com os movimentos, orientando e
motivando.
Mas ele não está aqui agora, foi buscar o Jace
com meu tio Jason.
Minha pele se arrepia apenas com a lembrança
do seu nome.
Jace Willers, meu primo, o cara que foi para
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prisão por minha culpa. Que foi preso porque eu fui


fraca demais.
Olho para o meu celular desligado e vejo a hora.
Provavelmente, nesse exato momento, está
acontecendo um grande jantar em comemoração.
Minha mãe passou a manhã inteira tentando me
convencer a estar na casa deles hoje, mas aqui
estou eu.
Bem, ele está de volta e em segurança. Isso é
tudo que importa para mim.
— Você não deveria estar em casa?
— Droga, tio Grant! Você me assustou. —
Estava tão perdida em meus pensamentos que não o
ouvi chegar.
Grant era treinador do meu pai e quando ele
decidiu parar de lutar, resolveu que também era
hora de se aposentar.
Hoje ele trabalha na academia da minha família e
ajuda treinando crianças que fazem parte de um
projeto social.
— Você também não deveria estar lá? —
pergunto e volto a atenção para as crianças.
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— Pedi desculpas ao Jason, hoje não consegui


ninguém para me ajudar aqui.
Minha culpa volta quando ele termina a frase
porque eu costumava ajudá-lo com as crianças.
— Desculpe.
— Quando vai parar com isso, Sky? — Viro o
rosto para olhá-lo nos olhos.
— Não sei do que está falando.
Levanto e saio pisando duro sem olhar para trás.
Grant é como se fosse meu avô — ou algo do tipo
— e me conhece desde que era criança, portanto sei
que, assim como meu pai, não aceita a minha
decisão.
E eu não me importo.
Saio da academia e sinto o ar frio de Seattle logo
me cumprimentar. O clima da cidade está tão
estranho quanto estou me sentido.
Vou andando até o meu apartamento, o que não é
uma longa caminhada. Meu pai fez questão que eu
morasse perto, então se eu andar quatro quadras à
direita, chego no prédio. Quatro quadras à esquerda
fica o prédio onde meus pais e tios moram.
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Depois do que aconteceu, meu pai achou


prudente que nos mudássemos e morar próximo da
academia foi um bônus. Ele achou que isso me
estimularia a não parar.
Mas não conseguiu esse objetivo, porém sou
grata por poder vir andando apenas para observar
as crianças treinando.
Olho para os dois lados por um momento,
indecisa sobre qual caminho tomar. Jace estaria
com eles, só que eu não o vi durante esses dois
anos. Sempre que meu pai ia visitá-lo, ele me trazia
uma carta dele.
De todas as cartas que escreveu para mim, e são
muitas, eu só li a primeira. Foi o suficiente para que
eu passasse dias chorando. A cada lembrança de
suas palavras, meu coração se dilacerava mais e
mais.
Não ia suportar ler todas e também não fui capaz
de destruí-las, apenas as guardei.
Isso pode soar egoísta da minha parte, como se
eu não me importasse com ele. Não é verdade. Eu
me importo, tanto que chega a ser insuportável

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saber que fui à culpada por sua prisão. Não fui forte
o bastante, pelo menos não quando era necessário
ser. Max fez muito mais do que abusar de mim
fisicamente naquele dia. Ele me destruiu por
dentro, arruinou tudo que eu tinha de especial,
minha autoestima, os meus sonhos. Meu verdadeiro
amor. Encosto na parede e a soco violentamente.
Dou um grito quando a dor me atinge, as juntas
começam a ficar vermelhas e eu praguejo.
— Merda. — Seguro minha mão e decido, por
fim, qual caminho tomar.
Em alguns minutos estou entrando no meu
prédio, cumprimento o porteiro com um resmungo.
Não estou sendo mal-educada, mas a mão doendo
está acabando comigo.
Entro no elevador rezando para que ele suba
direto, preciso colocar gelo e tomar algo para dor.
Dor.
Só que a minha tem raízes tão profundas que
nenhum anti-inflamatório ou analgésico conseguiu
amenizar.
A porta finalmente abre. Eu tiro o capuz da
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cabeça e pego as chaves, quando estou abrindo a


porta, uma mão me impede.
Eu congelo.
Meu corpo começa a tremer compulsivamente.
— Não, não, não — gemo tão baixo que mal
posso ouvir a minha própria voz.
Não pode estar acontecendo, de novo não.
— Respire, Sky. — Uma voz diz quase no meu
ouvido, mas meu corpo não coopera. — Apenas
respire lentamente.
Ele fala com tranquilidade e a mão que me
deteve se afasta. Porém o calor de seu corpo deixa
evidente sua proximidade.
Faço o que ele pede e respiro, bem devagar.
Como meu pai me ensinou. Já fazia algum tempo
que eu não tinha um ataque de pânico, o que
costumava acontecer quando algumas pessoas
chegavam muito perto.
Fico nervosa, me sentindo incapaz.
— Está indo muito bem, mais uma vez. Respire.
Continuo obedecendo a voz, meu peito sobe e

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desce lentamente. Tento acalmar as batidas do meu


coração e quando volto a assumir o controle das
minhas emoções, eu me viro para encarar quem
quer que seja.
— Jace! — Aperto a mão contra o meu peito. O
pânico foi tanto, que não reconheci a voz dele.
Meus olhos começam a arder e logo as lágrimas
se tornam inevitáveis. Jace está aqui, bem na minha
frente, a um braço de distância. Sinto a respiração
falhar de novo.
Está diferente de quando o vi pela última vez.
Pela roupa bem acomodada no corpo, vejo que está
mais robusto. Ele sempre foi forte, mas nunca
definido assim. O cabelo uma vez longo, agora
praticamente não existe mais. Seus olhos que antes
eram cheios de doçura e faíscas de alegria, estão
ilegíveis — sem qualquer emoção, boa ou ruim.
Estou diante de um estranho.
O que foi que eu fiz?!
— Oi, Sky. — Vejo ele erguer as mãos para o
meu rosto e por puro instinto, eu me afasto do seu
toque.

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— Oi, Jace. — É tudo o que consigo dizer.


— Há quanto tempo isso vem acontecendo? — É
direto. Jace nunca foi um homem de meias
palavras. Bom, já é um sinal de que ainda resta algo
de sua essência.
— Não sei do que está falando — minto.
— Do ataque de pânico.
— Eu não tive um ataque de pânico — retruco
na defensiva.
— Sei reconhecer quando vejo um. — Ele se
aproxima e meu corpo treme novamente. — Sou
eu, Sky. Apenas eu.
Jace estende a mão e eu fico encarando seus
dedos. Ele espera pacientemente até meu corpo se
acalmar. Não sei o porquê de estar reagindo assim;
ele é meu primo, meu melhor amigo.
Estendo a mão e nossos dedos apenas se
encostam. Meu corpo já não treme mais, porém as
lágrimas ainda caem livremente pelo rosto.
Imaginei todas as cenas para o nosso reencontro;
na casa dos meus pais, na casa dele, na academia.
Mas nunca assim, nunca pega desprevenida,
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vulnerável.
— O que aconteceu com a sua mão? — Droga!
Olho para a mão que estendi e percebo que foi a
machucada.
— Um surto de raiva. — Recolho a mão. —
Preciso entrar, foi bom ver você, Jace.
— Podemos conversar? — Seu tom é firme, e
pela primeira vez seus olhos expressam emoção.
Angustia.
— Não é uma boa hora.
—Por dois anos não tem sido uma boa hora, Sky.
— Jace... — suplico.
— Acabei de sair da prisão e vim ver você. —
Ele passa a mão na cabeça e olha para os lados. —
Quero apenas conversar, Sky. Nada demais.
— Tudo bem. — Sentindo-me culpada, suspiro e
abro a porta do apartamento. Culpa é algo que
ninguém jamais deveria sentir. É uma carga pesada
que te destrói por dentro e quando eu o vejo, esse
sentimento se multiplica.
Assim que a porta é aberta, um barulho chama a
nossa atenção. Hori sempre vem ao meu encontro
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quando chego em casa, mas assim que ela nota que


tenho companhia, suas passadas desaceleram até
parar.
— Jace, essa é Hori. — Ele olha para a enorme
Pit bull branca que não tira os olhos dele.
— Você tem um Pit bull em casa? — Jace não se
mexe, e pela primeira vez em muito tempo, eu
sorrio.
— Presente da sua mãe.
— Isso é a cara dela. Eu posso me mexer?
— Hori! Aqui. — Dou um tapa na minha coxa e
me agacho. Hori vem em minha direção e me
lambe no rosto, sem tirar os olhos dele. — Seja
uma boa menina, tá bom? — Afago seu pescoço.
— Precisa tocar nela.
— Eu?
Sorrio de novo.
— Sim, ela não vai te morder mesmo não te
conhecendo. Porém, precisa ganhar sua confiança.
— Minha mãe não poderia ter escolhido um
Poodle de presente?

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— Ela queria que eu me sentisse protegida —


digo sem tirar os olhos de Hori.
— Droga, desculpe. Como eu devo tocá-la?
— Se agache aqui e fique do meu lado. — Jace
faz o que eu peço. — Pode colocar a mão. — Pego
a mão dele e sinto ele esfregar o polegar na lateral
da minha mão, como costumava fazer. Meu
coração se aquece com o gesto. — Não tenha
medo.
— Não estou com medo.
— Sério? Posso sair então?
— Não. — Sorrio mais uma vez. Pela terceira
vez em poucos minutos já sorri mais do que nos
últimos dois anos.
Jace toca Hori e ela não se mexe. E quando
parece que está ganhando a sua confiança, ela rosna
e fica ao meu lado praticamente empurrando Jace.
— Certo, entendi o recado — diz, se afastando.
— Hori não gosta de muitas pessoas. Vou levá-la
para dentro. — Levanto e ela me acompanha.
— Adoro a minha mãe nesse momento. —
Consigo escutar quando ele resmunga.
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Fecho Hori no quarto e volto para sala, Jace está


sentado no sofá olhando para as fotos que estão em
cima da mesa de centro. Antes de sair de casa, eu
havia retirado algumas fotos de uma das caixas
guardadas no armário. A maioria das fotos eram de
família, e ele estava em praticamente todas.
— Quer beber alguma coisa? — ofereço
enquanto vou pegar a bolsa de gelo.
— Não, obrigado. — Ele está segurando algumas
fotos na mão.
Sento na poltrona, colocando um pouco de
distância. Sei que Jace jamais me faria algum mal,
mas a minha mente distorcida parece não concordar
com isso.
— Pensei que conseguiria ter uma conversa
normal, sabe? — Ele quebra o silêncio. — Que
fosse chegar aqui e te abraçar. — Ele solta um
longo suspiro antes de me olhar. — Pensei que
você também fosse querer me abraçar.
— Desculpa, Jace.
— Você não me contou tudo que aconteceu
naquela noite, não é mesmo? — Ele me encara
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enquanto tento abrir a boca para argumentar, mas é


em vão.
Nada sai. Na noite que Jace foi preso tudo
aconteceu muito rápido; os socos, a polícia. Era ano
de eleição e Jace foi à peça que faltava para que os
políticos mostrassem serviço.
Ele serviria de exemplo, enquanto que Max
usava como desculpa seu estado de embriaguez e a
cocaína em excesso na corrente sanguínea.
Eu também bebi um pouco naquela noite.
Quando cheguei na festa, estava com tanta raiva do
Jace que bebi duas cervejas num gole só. E não
hesitei quando Max me levou para o quarto.
Ele era meu namorado e pelo que todos viram na
festa, eu subi bastante consciente. Mas quando me
dei conta de que eu não queria aquilo, de que não
era com ele que queria estar, era tarde demais.
Max não ouviu quando eu pedi para parar. Ele
não entendeu quando eu disse não quero. E quando
um tapa atingiu meu rosto, a minha mente girou e
eu congelei.
Passei por muitas lutas na minha vida. Levei
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socos que poderia ter derrubado qualquer homem,


mas eu não caía. Eu era Sky Willers, a melhor
pugilista da minha geração e filha de uma lenda do
boxe.
E ali estava eu, impotente. Sendo violentada por
um cara que era meu namorado. Alguém em quem
confiava, que jamais imaginei que me machucaria.
— Você precisa ir embora agora. — Jace me
olha, mas não diz nada. Vou até a porta e a abro,
esperando que ele saia.
— Não vai poder fugir para sempre — afirma.
— E você não pode fingir que nada mudou.
— Nada mudou para mim, Sky — responde com
segurança.
— Tudo é diferente para mim agora, Jace.
Jace passa a mão no cabelo antes de sair do meu
apartamento. Surpresa, fico observando ele
caminhar na direção oposta do elevador.
— O elevador é por ali. — Ele para e me olha
sobre o ombro.
— Eu sei, mas eu moro nessa direção. — E
aponta para uma porta que fica no final do
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corredor.
Perfeito.
Quatro apartamentos por andar e Jace agora é
meu vizinho.
— E, Sky? — diz assim que coloca a chave na
fechadura. — Se precisar, estou só a uma porta de
distância.
Jace sorri e entra em seu apartamento.
Não sei se tenho vontade de sorrir, ou de chorar.

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FECHO A PORTA E RESPIRO FUNDO, NÃO ACHO


que tenha ficado tão nervoso assim antes, nem
mesmo quando recebi minha sentença. Mas ela
tinha esse poder sobre mim, era algo que eu não
conseguia explicar. Ficar tanto tempo sem vê-la e
agora não poder abraçá-la... Droga, era um inferno.
Mas o que eu podia fazer? Sky esteve bem na
minha frente — era a voz dela, o mesmo cabelo —
mas só isso. Minha garota não estava mais ali, era
apenas uma casca.
— Porra! — Levo as mãos até a cabeça antes de
ligar as luzes e me permitir ver o lugar pela
primeira vez.
O apartamento foi um presente de boas-vindas
dos meus tios, dizer que tio Oliver queria que eu
ficasse perto da Sky seria eufemismo e que minha
mãe estava uma fera com isso, era pior ainda.
Ela não gostou nem um pouco que eu fui embora
assim que acabamos de comer. Confesso que estava

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ansioso para ver Sky, mas acima de tudo, me senti


incomodado com tanta atenção e sufocado por
tantos mimos familiares.
Por mais que minha família sempre estivesse
presente durante o tempo que passei na prisão, eu
meio que me acostumei a ficar sozinho, e haviam
hábitos difíceis de esquecer. Como permanecer
quieto durante a refeição, por exemplo.
Também culpo meu silêncio pelo fato de estar
frustrado, irritado e exausto. Minha família é
maravilhosa, mas todos reunidos pode exceder a
cota de barulho de qualquer ambiente.
Percorro a sala com os olhos, onde é evidente
que tem dedo da minha mãe na decoração. Vejo um
quadro enorme de uma pista de corrida e,
instantaneamente, um sorriso se forma no meu
rosto. Quando cheguei não olhei para nada porque
meu foco era um só, ver Sky. Agora, eu posso
observar com mais atenção.
É como se todos tivessem passado aqui, o que
não duvido. Há várias revistas de boxe em cima da
mesa de centro, cortesia do tio Oliver. Arranjos de
flores espalhados por todo canto, trazidas pelo tio
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Tommy, com certeza. Os móveis da sala são cinzas


e no sofá, as almofadas são todas pretas — isso é a
cara do meu pai.
Na cozinha, encontro a geladeira cheia e sorrio
com a infinidade de bebidas com que me deparo.
Coisas do Cam, certeza. Também tem uma garrafa
de champanhe que deve custar mais do que o
salário de muitas pessoas. Tia Helena, penso.
Pego uma garrafa com água e olho o celular que
minha mãe tinha trocado por um modelo mais novo
e transferido todos os meus contatos. Vou até o
sofá e sento, abrindo o aplicativo de fotos e
encontrando tudo que estava no antigo aparelho e
mais algumas fotos novas. Eu amo a minha mãe,
ela nunca se esquece dos detalhes.
Há fotos de todos, fotos antigas e de momentos
que perdi quando estava preso. Fotos do meu irmão
dirigindo um dos carros da nossa equipe, dos meus
pais e também dela.
Sky...
Ela não está em muitas ocasiões, mas quando
aparece é como se não estivesse presente, seu

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sorriso não é verdadeiro. Caramba, eu os conheço


bem e sei quando eles são. Não percebo que estou
chorando até ver a tela molhada e esfrego
novamente o rosto com as mãos. Droga, eu perdi
tanta coisa.
Dois anos preso, dois anos sendo privado desses
momentos. Eu deveria estar arrependido do que fiz,
mas Max mereceu cada soco, cada porcaria de osso
quebrado. Pego o celular de novo e volto para a
foto em que estão todos juntos. Pela roupa que tio
Tommy está vestido e o chapéu de rena, era no
Natal. Não é preciso ser um gênio para ver que
ninguém estava feliz ali, e eu sabia que era culpa
minha. Mas estava determinado a mudar aquilo, a
recuperar cada momento — eu não seria mais o
responsável pela falta de sorrisos no rosto da minha
família.
E faria Sky sorrir de verdade novamente, minha
garota voltaria a ser feliz. Dando aquele sorriso que
fazia eu me apaixonar toda vez que ele aparecia,
cada vez que era direcionado a mim.
Assim como ela fez hoje, por um breve instante.
Eu ia trazer eles de volta para seu rosto. Pode
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apostar nisso.
É com esse pensamento que vou para o quarto,
sorrindo de novo ao ver a decoração. Nada de
especial, apenas a foto de todos nós juntos no
evento onde a Sky conseguiu o cinturão. É olhando
para essa foto que eu durmo, e pela primeira vez
em dois anos, tenho uma noite de sono tranquila.

***
Existem hábitos adquiridos que são difíceis de
perder. Acordar cedo é um deles; às cinco, já estou
de pé e andando de um lado ao outro, me sentindo
enjaulado. O que não faz sentido algum. Meu
tempo de confinamento acabou.
Às seis, a campainha toca ao mesmo tempo em
que estou saindo do banho. Enrolo uma toalha na
cintura e vou até a porta. Ainda é cedo para
qualquer visita e o porteiro não interfonou para
avisar que alguém estava subindo. Sorrio porque a
essa hora, a única pessoa que poderia estar na
minha porta é ela.
Abro-a com um sorriso idiota no rosto, mas ele

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se desfaz assim que um punho me acerta em cheio.


Dou um passo para trás, ainda meio atordoado e
pego de surpresa.
— Mas que merda! — rosno.
— Isso é por você ter proibido as minhas visitas.
— Ouvir sua voz me faz sorrir de novo e fico
olhando para o moleque parado na minha frente
com uma mochila nos braços. Ela aterrissa com um
baque alto no chão quando ele a joga para longe, e
então me abraça.
— Que belo soco, hein!? — digo ainda o
abraçando.
Cam é meu irmão mais novo e eu amo esse
moleque — sim, ele será para sempre um moleque
para mim, cheio de energia e traquinagens prontas
para acontecer — e foi por isso que quando fui
preso não quis que ele visse nada daquilo. Que ele
passasse perto de algo que pudesse contaminá-lo,
prisão não é lugar para um adolescente.
— Você merecia mais. — Ele limpa as lágrimas
dos olhos e se afasta.
— Aquilo não era lugar para você, Cam.
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— E nem para você, e veja só onde ficou por


dois anos. — Ele sorri.
— Como cresceu, seu pirralho. — Bagunço o
seu cabelo e o puxo para mais um abraço.
— E você também. Mas pelo amor de Deus, vá
vestir uma roupa, Jace. — Cam estremece
exageradamente e se afasta.
— Já tomou café? — pergunto e vamos para a
cozinha.
— Não, eu vim direto do aeroporto.
— Mamãe está uma fera com você. — Abro a
geladeira e pego alguns ovos e frutas. — Como é
que foi perder a hora do voo, Cam? — Nossa mãe
estava soltando fumaça ontem porque Cameron
tinha que ter chegado ontem pela manhã, mas pelo
visto perdeu o voo e precisou pegar outro mais
tarde.
— Garotas francesas, meu irmão. Garotas
francesas — responde como se somente isso
explicasse sua falta de comprometimento.
— O que você aprontou dessa vez? — Ele senta
enquanto espera pelo café que estou preparando.
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Ninguém me contou de fato o que houve, eu só


sabia que ele foi passar alguns dias em Paris com a
tia Helena.
— O de sempre. — Ele dá de ombros.
— Cam...
— Tá bom, tá bom. Sério que nem chegou
direito e já vai querer bancar o irmão mais velho?
— Ele sorri, levanta e vai até a geladeira pegar
mais algumas coisas. — Mamãe descobriu que eu
estava participando de um racha no mês passado.
— Senhor! E como ela descobriu?
— Digamos que eu posso ter dado perda total no
carro dela. — Eu quase deixo os ovos caírem com a
revelação. Eu o encaro e ele está olhando para sua
maçã como se ela fosse a mais nova descoberta da
humanidade.
Se tem algo que Leah Willers ama, é o carro
dela, ou era pelo que Cam quis dizer. Era o carro
que ela tinha quando conheceu o nosso pai, e
embora eu não faça questão de saber, acredito que
existia uma história ali. Ele o comprou quando ela
tentou vender logo quando minha mãe desistiu de
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tudo para ficar com meu pai.


Então esse carro é algo sagrado para nossa mãe,
ou melhor, era.
— Não acredito, cara. Como é que conseguiu
fazer essa proeza? — pergunto incrédulo. Cam
podia ter apenas dezesseis anos, mas se tinha uma
pessoa que sabia dirigir bem, era ele.
— Não foi culpa minha, porém não consegui
evitar. Era isso, ou beijar o carro que vinha na
contramão, o que não seria uma coisa legal —
explica como se fosse a coisa mais normal do
mundo.
— Ninguém me contou nada. Você se
machucou? — Olho para ele tentando avaliar, e não
vejo nada fora do lugar.
— Nada grave, só algumas luxações. Mas a
mamãe pirou comigo, cara. Tirou meu carro e a
moto e me mandou para Paris. Você sabe que para
ela, não tem castigo pior do que passar alguns dias
com a tia Helena.
— E como foi por lá?
— Mamãe tem razão, a tia Helena não é tão legal
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assim quando estamos de castigo. — E sorri.


— Não, eu lembro quando fiquei uns dias com
ela. — Tremo só de pensar.
Nossa tia adora o luxo e como ex-modelo, ainda
mantem uma dieta rigorosa. Ela não teve filhos,
mas parece que ela e o marido são muito felizes
desse jeito. Para compensar, sempre mimou não só
a mim, mas Cam e Sky também. Somos como
crianças de brinquedo para ela. O que é
aterrorizante.
— E agora que está de volta, qual a regra? —
pergunto enquanto coloco nossos ovos num prato.
Cam abre uma caixa de suco e serve em dois copos.
— Sem carro e... — Ele solta um suspiro
exagerado. — Preciso melhorar na escola.
— Tão ruim assim?
— Não, mas você sabe como é o papai, ele não
vai aceitar nada menos do que gabaritar. — Sento e
começamos a comer.
— Papai não é tão rigoroso assim, Cam.
— Diz o filho nerd. — E tenta não sorrir, mas
falha. — Falando nisso, como vai o lance da
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faculdade?
— Está tudo organizado, começo na segunda.
Durante o período que passei preso, não parei de
estudar e consegui entrar na faculdade. Já estava no
terceiro semestre de direito, nem podia acreditar.
Minha família mexeu alguns pauzinhos, e na
segunda eu estaria, finalmente, na sala de aula de
uma das melhores faculdades da cidade.
— Uau. Eu adoro ser um Willers. — E
brindamos com os copos de suco.
Cam tem razão, eu também adoro ser um
Willers, mas não pelas portas que esse sobrenome
abre, e sim por esses momentos em que tenho
certeza de que posso contar com a minha família.
Mesmo que isso signifique acabar com um olho
roxo.

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Abro os olhos e Hori está em cima de mim, baba


de cachorro lambrecando meu rosto. Droga,
apaguei depois de tomar dois comprimidos para
dormir, geralmente um só basta, mas a noite
passada foi diferente. Jace esteve aqui, e vê-lo
trouxe tantos sentimentos à tona.
Sentimentos que eu nunca soube lidar e que
agora pareciam estar me sufocando ainda mais.
— Desculpe, garota. — Afago sua cabeça e a
afasto um pouco. Flexiono meus braços e giro o
pescoço, então olho para o relógio e vejo que ainda
é cedo. — Vou só lavar o rosto e escovar os dentes,
tá bom? E vamos dar o seu passeio.
Quando ela escuta a palavra passeio, suas orelhas
levantam e ela fica alerta. Começo a sorrir e pensar
em como Hori é rigorosa com seus horários, e é por
isso que acordei com baba de cachorro por todo o
rosto, normalmente já estaríamos voltando da rua
agora.
Levanto e vou até o banheiro, gosto de passear
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com ela antes de amanhecer porque é quando ela


tem mais liberdade e não precisa andar de
focinheira, e eu também me sinto mais segura. Jace
mal chegou e minha rotina já começou a bagunçar.
Assim que termino de escovar os dentes, jogo
água no rosto e o que vejo me surpreende; um
pequeno sorriso, e tudo porque eu estava pensando
nele.
Seco o rosto e vou me trocar – top preto, legging
e uma camisa larga que cobre a maior parte das
minhas curvas – odeio a sensação das pessoas me
observando quando estou caminhando.
— Vamos, Hori. — Balanço a coleira e ela
aparece eufórica na sala, eu sorrio, mas sei que a
alegria dela não vai durar pois ela odeia a
focinheira. — Desculpe, amiga, mas é para o seu
próprio bem. — Ela não reclama e eu consigo
ajustar tudo sem problemas.
Saímos do apartamento e eu olho em direção ao
apartamento do Jace. Será que ele ainda está
dormindo? Como ele passou a noite? São tantas
perguntas que gostaria de fazer e me sinto tão
estúpida em não ter aproveitado um pouco mais da
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companhia dele ontem.


— Procurando alguém? — Viro na direção da
voz e vejo Jace e Cam parados na frente do
elevador. Ele está com um sorriso espalhado no
rosto, um que mostra estar bem consciente de que
eu estava pensando nele. Merda, que vacilo, Sky!
Eu estava olhando para a porta dele igual a uma
maluca obcecada.
— Ei, Hori — Cam diz quando eu me aproximo
e passa a mão na cabeça dela. Minha cadela se
derrete toda com o carinho e eu tenho sérias
suspeitas de que ela nutre uma paixão platônica
pelo Cam, basta ouvir a voz dele que ela se
desmancha.
— Oi, Cam, Jace — cumprimento tentando não
olhar fixamente em Jace.
— Onde estão indo? — pergunta Jace.
— Ela está atrasada, não é? — Cam diz para
Hori e eu reviro os olhos. Ele sabe dos horários
porque quando não estou me sentindo bem para sair
de casa, é ele quem sai com ela.
— Dormi demais — respondo. — Como passou
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a noite? — Olho para Jace.


— Poderia ter sido melhor. — Ele olha para Cam
que ainda está com toda atenção focada em Hori.
— Mas eu dormi como uma pedra. — Sorri para
mim.
— Isso é bom. Preciso ir, vou pegar o elevador
de serviço. — Puxo Hori. — Bom dia pra vocês. —
Mas Cam e Jace me acompanham.
— Descemos com você — Jace diz e dou de
ombros.
Descemos juntos, e assim que Hori vê a rua dá
um impulso que me derruba. Antes que eu possa
raciocinar, Jace está com o braço envolta da minha
cintura.
— Tem certeza de que pode lidar com ela? —
pergunta sorridente, tento ignorar sua proximidade,
mas ele nota a tensão no meu corpo e gentilmente
afasta o braço.
— Ela só está apressada, não é seu horário de
costume.
— Tudo bem. — Ele olha mais uma vez para a
cadela ansiosa. — Vai na casa dos seus pais hoje
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para o almoço?
— Almoço? — pergunto confusa.
— Tio Oliver e tia Bree vão dar um almoço hoje,
só a família. Mandei mensagem pra você, Sky —
responde Cam aborrecido. Olho confusa tentando
me lembrar e sinto meu rosto esquentar de
vergonha.
— Desculpe, eu só... Estarei lá.
— Está tudo bem? — pergunta Jace preocupado.
— Sim, eu tive uma semana agitada por isso
havia me esquecido, me desculpem. — Olho para
Cam na esperança de que ele entenda o recado e
não abra a boca. — Tenho que ir.
Antes que qualquer um possa dizer alguma coisa,
começo a caminhar com Hori na direção do parque
onde fazemos nossas caminhadas.
O problema é que eu não tive uma semana cheia,
a medicação para depressão que estou tomando me
deixa um pouco desorientada, e às vezes, acabo me
esquecendo de pequenas coisas. Cam foi o primeiro
que notou isso, e ele me ajuda enviando mensagens
quando temos algum compromisso em família, é
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meio que um segredo nosso. Já que ninguém sabe


que ele faz isso por mim, e é como prefiro, não
quero que meus pais fiquem ainda mais
preocupados comigo.
Faço nosso trajeto diário e dessa vez não corro
com ela, apenas caminhamos. Hori parece sentir
meu humor, então ela não força mesmo eu sabendo
que ela adoraria uma corrida.
— A noite eu compenso você — digo quando
sento em um banco, ela deita aos meus pés e
olhamos para as pessoas que continuam
caminhando com seus animais pela praça.
Olho para um casal que está próximo, eles
conversam um pouco agitados, mas a
movimentação das pessoas e os carros passando
não permite que escute muita coisa. Desvio a
atenção deles porque seria horrível ser pega
observando. E isso acontece muito comigo.
Não é difícil pessoas me flagrarem observando, é
um hábito que adquiri desde quando tudo aconteceu
e decidi me isolar. Agora, em vez de compartilhar
momentos, eu apenas observo as pessoas viverem.
O que chega a ser doentio. Sinto inveja dos
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sorrisos, dos abraços. Tenho saudades de caminhar


despreocupada, de me sentir confortável com meu
corpo.
Olho mais uma vez para o casal e lembro de Max
e de quando começamos a sair. Então percebo que
nunca fomos muito próximos. Sempre que eu ia
treinar, era Jace quem me fazia companhia, era ele
quem me ajudava. Papai adorava me ver batendo
nele.
Sorrio com a lembrança.
Quando corria no fim da tarde, mais uma vez era
Jace quem estava lá comigo. Nós tínhamos uma
playlist apenas para nossas corridas, as músicas que
tocavam no aparelho dele, tocavam no meu.
Podíamos correr sem dizer uma palavra, mas as
músicas faziam com que estivéssemos conectados,
em total sintonia.
Olho mais uma vez para o casal e vejo que o cara
está segurando o braço dela com força e eu aperto a
guia que estou segurando, sinto minha palma arder.
Será que ninguém percebe que ele está machucando
a mulher? Olho para as pessoas que passam por nós
mas ninguém olha, ninguém dá a mínima. Olho
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para Hori ainda deitada, e não posso mais ignorar


quando vejo medo nos olhos dela.
— Vamos lá, garota. — Inclino e retiro a
focinheira dela, que parece aliviada com o gesto,
então eu levanto e vou em direção ao casal.
— Algum problema? — pergunto olhando para a
mulher, ela se assusta com a minha aproximação e
olha para o cara como se estivesse pedindo ajuda
para ele, pedindo permissão. Aperto meu punho.
— Acho que não é da sua conta, garota —
reponde ele e volta a olhar para a mulher.
— Acho que é sim. Desde que começou a
machucá-la, passou a ser da minha conta. — Hori
fica em alerta quando percebe meu tom.
— E quem diabos é você? — Ele eleva a voz e
dá um passo na minha direção. Hori rosna e fica na
minha frente. — Porra! Tira esse animal daqui —
esbraveja dando um passo para trás.
— Está tudo bem? — Ignoro o babaca e
pergunto mais uma vez, vendo uma pequena
lágrima rolar pelo rosto da mulher. Ela não é nova
como eu, uns trinta anos talvez. Seus olhos vão do
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cara para mim e depois para Hori em uma


velocidade impressionante.
— Está tudo bem, obrigada — reponde, mas eu
sei que não está.
— Você tem certeza? — Eu quase suplico para
ela dizer que não.
— Eu acho que ela já respondeu a sua pergunta,
então cai fora — o cara diz mais uma vez e Hori o
derruba no chão. Com as duas patas em cima do
peito dele, ela late tão alto que chama atenção de
todos no parque.
A cor some do rosto dele. Droga, mesmo
adorando isso, posso ter problemas.
— Venha, Hori. — Eu a tiro de cima dele. —
Babacas não valem seu esforço. E nem o seu —
digo olhando diretamente para a mulher.
Volto para o banco e coloco novamente a
focinheira, observando o cara não dizer mais nada
enquanto vai embora junto com a mulher. Eu sei
que se ele quisesse, poderia reclamar por Hori estar
sem a focinheira, mas também sei que ele não quer
que ninguém saiba o motivo de ela ter pulado nele.
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— Vamos, garota. — Passo a mão na sua cabeça


e começamos a caminhar para casa.
Meu corpo todo está vibrando com a tensão,
algumas pessoas me olham com curiosidade
quando passo por elas, e é quando eu sinto falta do
capuz. Seria bem melhor simplesmente puxá-lo e
me esconder desse bando de olhares
questionadores.
O mais louco é que as pessoas que me encaram
agora – e olham assustadas para Hori – são as
mesmas pessoas que viram o cara apertando o
braço da mulher com mais força do que o
necessário e de como ele gritou com ela.
— Babacas hipócritas — sussurro e saio da
praça.
Mesmo depois do passeio, estou agitada. Fico
andando de um lado a outro no apartamento, encaro
a medicação que eu deveria tomar, mas ignoro. Não
quero tomar nada; meu apetite sempre diminui, fico
sonolenta, tonta e desconcentrada.
Por um dia, eu quero um pouco de normalidade.
Quero ser capaz de acompanhar as conversas, e de

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talvez, até sorrir um pouco.


Comecei a ver um psicólogo há um ano,
atendendo a um pedido do meu pai. Era difícil
negar algo a ele, e naquele dia quando vi lágrimas
em seus olhos, fiz o que ele pediu.
Você já está no fundo do poço, Sky. Agora você
precisa sair dele.
Sempre lembro dessas palavras quando tenho
vontade de faltar a alguma sessão, mas esses
remédios acabam com meu bom humor e com a
vontade de continuar com toda essa porcaria.
Um pouco de controle. É só disso que eu preciso,
controle sobre mim mesma. Só assim consigo
enfrentar um almoço com Jace e toda família no
mesmo lugar. Só assim posso olhar para o garoto
que eu arruinei a vida e tentar não me sentir
culpada.
Mas Jace não é mais aquele garoto que sorriu
para mim no dia em que ouviu sua sentença no
julgamento. Ele sorriu e disse no meu ouvido que
tudo ia ficar bem antes de ser algemado e levado
como um criminoso.

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Ele não era um criminoso, ele me salvou. Fui eu


que estraguei tudo.
Deito na cama e olho para o teto, largando os
comprimidos de lado. Depois programo o alarme
do celular para que eu não perca a hora e fecho os
olhos, me permitindo chorar mais uma vez.

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CAMINHO COM CAM ATÉ O APARTAMENTO DOS


nossos pais, ontem não tive tempo para olhar a
vizinhança, minha mãe fez questão de me trazer de
carro, mas agora eu podia ver tudo com calma. Meu
irmão explica que tem um grande parque ali perto,
que é para onde Sky foi passear com a cachorra.
— Então, essa é a rotina? — pergunto.
— Mais ou menos.
— Como assim?
— Às vezes quem leva a Hori ao parque sou eu.
— Cam anda prestando uma atenção inexplicável
no chão.
— E vocês se dão bem?
— Sim, eu gosto muito dela. A Hori adora correr
e é um bom exercício.
— Estou falando de você e da Sky. — Ele sorri.
— Lembro de como costumavam discutir.
— Ela mudou muito, Jace. — Dessa vez ele olha
nos olhos. — E eu duvido que ela aparecerá nesse
almoço.
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— Ela vai aparecer, eu vou garantir isso.


— Boa sorte, então. — Ele dá de ombros. — Vai
subir? — Olhamos na fachada do prédio dos nossos
pais.
Penso por um momento. Entrar não seria má
ideia, desde que eu estivesse disposto a uma chuva
de mimos.
— Tudo bem. — Cam sorri e nós subimos.
Nós mal colocamos o pé dentro do apartamento e
minha mãe aparece, ela recebe a gente daquela
forma graciosa que só ela sabe como fazer: aos
berros. Quem vê até pensa que corre sangue
italiano nessa família.
— Santo Deus! — Coloca a mão no coração. —
Vocês dois juntos é a visão mais linda que já vi na
vida. — Sua alegria é indescritível, desde que me
lembro, minha mãe sempre foi essa explosão de
sentimentos.
— Oi, mãe. — Beijo seu rosto.
— Pode ir parando aí mesmo, Cameron. — Meu
irmão para, pego no flagra indo sorrateiramente
para o quarto. — Nós dois ainda vamos ter uma
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pequena conversa.
— Mãe — geme meu irmão.
— Dar perda total no meu carro, Cameron, é
uma coisa, agora não estar aqui para receber seu
irmão...
— Fui direto ver ele, mãe! Eu perdi o voo, só
isso, não precisa fazer tanto drama e... Aííí!! —
grita quando ela puxa sua orelha.
— Vacile comigo novamente, Cameron Willers,
e a próxima coisa que irei puxar serão as suas
bolas. Entendido?
— Sim — ele geme e ela o solta. Eu não
contenho a risada. — Isso, vai rindo... O próximo
vai ser você, Jace. — Ele esfrega a orelha.
— Vou dar uma olhada na comida, e vocês dois,
comportem-se. — Ela dá um beijo em cada um de
nós e sai.
— Mamãe ainda puxa sua orelha, Cam? —
pergunto rindo e me jogo no sofá.
— Você voltou tão engraçadinho, Jace. — Ele
coloca a mochila no chão e senta ao meu lado. —
Sabe o que é pior?
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— Não. O quê?
— Eu sei que ela estava falando a verdade sobre
puxar as minhas bolas. — E a gente desata a rir.
Senti tanta falta desses momentos.
Quando éramos menores, Cam sempre pegou no
meu pé; implicando com tudo, tentando
monopolizar a atenção. Agora, acredito que ele
conseguiu o que tanto queria, e não acho isso nada
ruim.
— É disso que eu estava falando. — Tio Tommy
entra na sala junto com meu pai. — Risadas, essa
casa precisava desse barulho todo.
Levanto para abraçá-lo.
— Vocês estão maiores a cada dia que passa,
meu Deus — diz meu pai, abismado.
— Culpa dos anabolizantes — Cam diz.
— Então, o comediante achou o caminho de casa
— meu pai brinca.
— Estou aqui, não estou? Por que todo mundo
faz o maior drama só por causa de um atraso?
— Não foi apenas um atraso, Cam. Foi falta de

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responsabilidade, e um dia, meu filho, você vai ter


que aprender a ter. Nem que for na marra. — Meu
pai vai até ele e o abraça.
— Mas até lá, viva a irresponsabilidade — Cam
responde a repreenda e dá um sorriso. — Aííííííí!!
— ele grita de novo — Sério, mãe, você precisa
parar com isso.
— Isso o quê? — Ela finge inocência e vai ficar
ao lado do meu pai, ele a puxa pela cintura e a
beija.
— Eca! — Um coro formado por mim, Cam e tio
Tommy ressoa pela sala até que ele à solta.
— Vou para o quarto, preciso tomar um banho e
tentar apagar a imagem na minha cabeça dos meus
pais se beijando de língua. — Ele estremece e sai
da sala.
Meu pai vem até mim e me abraça com força
novamente.
— Cheguei a pensar que não viesse hoje.
— Pensei mesmo em não vir — digo com
sinceridade.
— Imagino o motivo. — Meu pai sorri e senta ao
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meu lado. — Encontrou os documentos da


faculdade que deixei no seu escritório?
— Eu tenho um escritório? — pergunto confuso,
ainda não olhei todos os cômodos do meu
apartamento.
— Tem, e tudo o que vai precisar; seus livros e
toda a documentação para te atualizar, está em cima
da mesa.
— Obrigado. — Ele dá de ombros. — E
obrigado também pelas roupas, mãe.
Meu armário está abarrotado de roupas novas,
estão todas com as etiquetas ainda. Pelo visto, não
sobrou nada meu, e não acho isso ruim, meu corpo
praticamente dobrou de massa muscular nos
últimos dois anos.
— Você pode agradecer a mim pelas roupas,
Tink não sabe escolher nem as próprias calcinhas.
— Tio Tommy entra na conversa.
— Quer receber um beliscão também, Tommy?
— Minha mãe ameaça.
— Apenas apontando os fatos querida, aceite. —
E pisca para ela.
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— Os anos passam e você continua insuportável.


— Ela revira os olhos.
— E mesmo assim, você me ama. — Ele joga
um beijo para ela e meu pai resmunga.
— Jace? — Meu pai chama minha atenção. —
Vamos até a varanda. — Ele beija minha mãe no
rosto dessa vez, e eu o sigo até a varanda.
— Algum problema? — pergunto enquanto ele
fecha a porta.
— Só gostaria de saber como foi sua primeira
noite fora da prisão.
— Eu dormi bem, pai.
— Bem ainda não é a resposta que eu esperava,
mas fico mais tranquilo.
— Estou me readaptando, sabe?! Poder acordar a
qualquer hora, comer o que eu quiser, ainda estou
tentando voltar para o mundo aqui fora.
— Existem pessoas que dizem que dois anos
passam rápido, mas não é assim para nós, e
certamente não para você, Jace.
— Não é mesmo. — Olho na rua e observo o
movimento.
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— Sua mãe queria que você fizesse uma viagem,


uma espécie de mochilão pelo mundo, você e o
Cam. — Isso me pega de surpresa.
— Cam não tem escola?
— Seria depois que ele terminasse as aulas.
— Mamãe já está pensando muito além, não
acha?
— Você a conhece, Jace, e eu concordo. Uma
viagem vai fazer bem a vocês. E se quiser ir antes,
não tem problema, podemos trancar a faculdade.
— Pai, eu agradeço de verdade, mas tenho outros
planos e eles estão aqui nessa cidade.
— E, esses planos tem um certo nome? — Eu
suspiro, ele me conhece tão bem.
— Você já sabe a resposta.
— Sky não é mais a mesma garota de antes, Jace
— comenta com tristeza na voz. — E apesar de ser
a favor desse seu sentimento por ela, não quero que
você se machuque.
— Eu a amo, pai.
— Eu sei, só não sei dizer se é recíproco. — Ele
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aperta meu ombro e saímos da varanda quando


ouvimos mais vozes.
Parece que a família toda veio, e eu sou
mergulhado em um mar de abraços e tapas nas
costas. Isso é ótimo, mas depois de dois anos tendo
o mínimo de contato, acabo me sentindo um pouco
sufocado.
— Vai vomitar? — Viro o rosto na direção da
voz, e vejo Sky com um copo estendido para mim.
Ela está saindo da cozinha e com um leve sorriso
no rosto.
— Obrigado. — Pego o copo e bebo tudo. —
Como sabia?
— Seus olhos, pareciam agitados. — Ela dá de
ombros.
— Pensei que estava disfarçando bem.
— Não para mim. — Suas palavras penetram
não só no meu cérebro, elas acertam em cheio no
meu coração.
— Cam achou que você talvez não viesse, pensei
em ir te buscar.
— Me buscar ou fugir daqui? — Ela cruza os
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braços e me encara.
— As duas coisas. — Ela solta uma risada
espontânea que ecoa pelo apartamento, todos viram
para nos encarar. Sky coloca a mão na boca e seus
olhos se arregalam. Pela reação dela e o olhar de
todos, esse sorriso não é tão comum.
— Desculpe — ela sussurra, fico ao seu lado e
coloco a mão no ombro dela.
— Nunca peça desculpas por sorrir — digo
baixinho para que somente ela ouça.
— Merda, estava pronto para apostar com Jace
que você não vinha — Cam diz e me entrega outro
copo, só que neste eu sei que não tem água.
— Como vai seu castigo, fedelho? — ela ironiza
e ele estremece.
— Vocês poderiam me ajudar, né?! O papai
sempre escuta você, Jace, e a você também, Sky. Se
conversarem com eles, não irão negar.
— Não tente me usar — responde ela, irritada.
— Também estou fora disso — aviso e ele me
encara surpreso.
— Um... — Ele aponta em Sky, depois em mim.
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— Um bando de traidores, vocês dois. — Cam vira


e vai embora.
— Ele ficou mesmo chateado? — pergunto.
— Não deixe ele te enrolar, Jace. Cam sabe
manipular como ninguém, só que dessa vez, tio
Jason não vai amolecer e a tia Leah está do lado
dele.
— Ele deu muito trabalho? — Quando recebia as
visitas na prisão, meus pais nunca entravam em
detalhes, apenas diziam que estava tudo bem, ou
contavam sobre algo importante que ele tinha feito,
mas nunca sobre os problemas.
— Acho que não, todo adolescente dá trabalho,
não é?
— Acho que sim. — Observo Cam, que está
conversando com tio Tommy.
— Eu me lembro que você dava. — Olho para
ela, e quem está sorrindo agora, sou eu.
— Lembra? E do que exatamente você se
lembra? — Deixo o copo que Cam me deu e eu
nem sequer provei de lado, e cruzo os braços
esperando sua resposta.
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— Meu aniversário de quinze anos. — Um


brilho surge nos olhos dela e eu me deixo envolver.
— Você se lembra do presente que me deu?
— Eu era uma criança, Sky. E você sempre disse
que gostava de sapos, eu pensei que seria um bom
presente.
— Era um sapo enorme, Jace. E ele pulou no
meu cabelo. — Dessa vez, nós dois caímos na
risada. — Passei o resto da tarde lavando o cabelo,
chorando, desesperada pensando que ia ficar
grudento.
— Mas a intensão foi boa. — Nós estamos rindo
quando percebo que a sala está o maior silêncio.
Afasto a atenção dela e vejo que todos estão nos
observando de novo. — Nossa, estou me sentindo
uma atração de circo — digo sem pensar e o sorriso
dela morre assim que percebe aonde estou olhando.
— Não é você, Jace, sou eu — diz, apenas
confirmando o que eu já sabia. O som da sua risada
não é algo comum de se ouvir.
— Que tal serem um pouco mais discretos? —
brinco com a plateia, que de repente parecem ter

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sido acometidos por um surto de gripe, tossindo ao


mesmo tempo.
— Já foi no seu quarto? — Ela muda de assunto.
— Meu quarto? — Fico confuso.
— Você tem um quarto aqui. Sua mãe não te
contou?
— Acho que ontem ela estava ocupada demais
quebrando meus ossos com abraços.
— Vem, vamos lá ver. — Ela caminha na minha
frente e eu a acompanho, ignorando os olhares
seguirem nossos passos.

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Como é possível que eu tenha me esquecido de


como é bom sorrir? Quando cheguei em casa e
dormi, acordei com meu pai tocando a campainha.
Ele não questionou se eu tinha visto o Jace, nem ao
menos perguntou se eu queria ir no almoço,
simplesmente entrou e disse que ia esperar
enquanto eu me arrumava para irmos juntos ao
almoço da família.
Dizer não para ele? Fora de cogitação. Não que
eu não tenha pensado nessa possibilidade, mas eu
só queria dormir e, quem sabe, não acordar mais.
Meu pai era a única pessoa para quem eu não dizia
não, não podia. Porém, toda essa sensação passou
quando vi Jace. Assim que cheguei, ninguém fez
muito alarde, minha família aprendeu a respeitar
meu espaço e entendiam que eu aparecia quando
queria, e não faziam uma festa se eu aparecesse.
Consegui ficar alguns minutos sem que ele
notasse a minha presença, mas quando vi seu olhar
nervoso, peguei um copo de água e me aproximei.
Conhecia esse tipo de olhar, a sensação de querer
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fugir, de se isolar.
Com poucos minutos de conversa, eu sorria, e foi
diferente, verdadeiro. Algo que acabou no
esquecimento para mim, mas Jace trouxe de volta,
e agora eu me pergunto o que mais trouxe com ele.
Minha coragem, talvez?
Levo ele até o seu quarto, precisando ficar longe
de tantos olhares. Notei meu pai apenas
observando. Ele não sorriu, mas seus olhos diziam
tudo, ele estava feliz por me ver daquele jeito, mas
e eu? Eu estava confusa, com vontade de sorrir
mais e de chorar também.
Entramos no quarto e deixo a porta aberta, Jace
olha em volta e sorri, começando a mexer em tudo.
Tia Leah manteve suas coisas aqui, os objetos
pessoais, computador, e sabe-se lá o que mais que
Jace guardava.
— Não acredito que ela guardou isso. — Jace
pega uma agenda de dentro da gaveta.
— Seus segredos sujos, estão guardados aí? —
Sento na cama e ele senta ao meu lado.
— Alguns.
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— Sério?
— Não. — Ele sorri. — São apenas algumas
anotações das faculdades que eu pretendia me
inscrever.
— Você gostava de anotar tudo.
— É um hábito que peguei do meu pai. — Ele
começa a folhear a agenda.
— Meu pai diz que ele é um chato de tão
organizado.
— E ele é. — Jace sorri. — Aqui, fique com
isso. — Ele me entrega uma foto, nela nós dois
estamos sorrindo, mostrando a língua para a câmera
e ambos com o nariz sujo de sorvete.
— Essa foto...
— Foi tirada alguns dias antes de eu ser preso.
— Eu me lembro. — Sinto a garganta arder.
— Foi uma tarde bem divertida. — Ele observa a
foto, melancólico. — Podemos repetir, se quiser. —
Ergo os olhos e olho para ele.
Há tanta coisa ali, Jace sempre foi transparente
em tudo que pensa, em suas ações e sentimentos,

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mas agora, o que enxergo em seus olhos me


confunde. Não consigo mais ler ele, não como
antes.
Quando ele não estava me vendo percebi a
confusão em seus olhos, mas agora – frente a frente
– é indecifrável.
— Talvez. — Dou uma resposta vaga, porque eu
não tenho certeza se podemos repetir, já não somos
mais as mesmas pessoas da foto.
— Mesmo assim, fique com ela, e quando
precisar se lembrar de como sorrir, basta olhar para
ela. — Não consigo conter meu espanto.
— Como você...
— Como adivinhei que não tem sorrido?
— Acho que a reação das pessoas já fala por si
só. — Ele esfrega as mãos no rosto antes de
continuar. — Percebi desde ontem, Sky, desde o
momento que te vi. — E acaricia meu rosto,
colocando meu cabelo para trás. — Eu vejo você,
Sky. Sempre vi, quando é que vai aceitar isso?
— Jace...
— Ninguém conhece você como eu, ninguém.
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— Eu mudei tanto, Jace. — Minha voz sai fraca.


— Eu também, e sabe de uma coisa? Eu quero
conhecer a nova Sky.
— Você pode não gostar dessa nova Sky. —
Respiro fundo quando seus dedos passam
lentamente pelo meu rosto. — Não sou a mesma,
não sou alguém bom para se ter por perto. Eu me
tranquei por dentro e não sei se consigo sair, acho
que perdi a chave dessa porta, Jace.
— Deixe que eu decida o que é ou não bom pra
mim, Sky. Eu passei dois anos seguindo as regras
na prisão, mas se teve algo que aprendi ali foi não
desistir. E se você perdeu a chave dessa porta; eu
vou arromba-la, e derrubo qualquer outra porta que
me impeça de chegar até você.
Parece uma eternidade enquanto fico olhando
para ele, Jace está tão diferente do garoto que vi
sair algemado depois de ter me ajudado. Não
percebo quando estou chorando, só quando Jace
deita minha cabeça no seu colo, e começa a afagar
meus cabelos é que me dou conta do meu estado.
Percebo quando alguém entra no quarto e logo

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vai embora, mas não vi quem era. Meus olhos estão


fechados e estou deitada com a cabeça em seu colo,
Jace está sendo gentil, enquanto eu estou me
afogando nas lembranças.
— Quer almoçar aqui? — pergunta ele quando
finalmente consigo em recompor. Encaro a porta,
que agora está fechada.
— É o seu almoço de boas-vindas, acho que
devemos voltar para a sala.
— Não me importo de comer aqui com você, se
isso te deixa mais confortável.
— Obrigada, mas é melhor voltarmos. —
Levanto e ele me segue, quando minha mão toca na
maçaneta da porta, a mão dele envolve a minha e
eu viro para olhá-lo.
— Tudo que eu disse é verdade.
— Jace, já se passou dois anos, e você...
— E os meus sentimentos por você não
mudaram — ele é enfático —, mas não vamos falar
disso agora, e nem com nossos pais praticamente
ouvindo atrás da porta. Eu só quero que se prepare,
Sky, porque quem vai ganhar essa luta serei eu.
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Jace beija meu rosto e abre a porta. Sem saber o


que dizer, eu sigo atrás dele e quando entramos na
sala, todos fingem que não estão prestando atenção
na gente. Jace me olha e nós sorrimos, nossa
família é péssima no quesito disfarce.
Enquanto ele vai à cozinha, eu sento ao lado do
meu pai, que imediatamente para de conversar com
tio Jason para me dar atenção. Sua mão enorme
envolve a minha e me dá um beijo carinhoso na
testa.
— Como você está, princesa?
— Estou bem.
— Seus olhos estão um pouco vermelhos, algo
com que devo me preocupar? Algum rosto que
devo socar? — diz em tom de brincadeira, ele
sempre fala essas mesmas palavras toda vez que
percebe que eu chorei.
— Nenhum rosto para socar, e nada com que se
preocupar.
— Que bom. — Não, isso não é nada bom,
penso.
— Onde está a minha mãe?
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— Com a tia Leah na cozinha. — Encosto a


cabeça no seu ombro e fico ouvindo as conversas.
Jace está sentado com Cam no sofá falando com
tio Tommy, meu pai continua conversando com tio
Jason, mas sem largar a minha mão. É como voltar
no tempo e ser criança, quando eu só ficava de
espectadora, observando os adultos conversarem. A
verdade é que eu prefiro assim. Às vezes, só
precisamos ouvir, sentir uma mão apertando a sua,
confortando, exatamente como meu pai está
fazendo nesse instante. Ou receber olhares de
carinho, como os que Jace está me dando. No
mundo em que me tranquei, isso é felicidade. E
para mim, isso basta.
O almoço é tranquilo, todos parecem muito
animados porque Jace começa a faculdade de
direito na próxima segunda, lembro quando minha
mãe me contou quando ele fez a inscrição para
estudar de dentro da prisão. Fiquei tão orgulhosa,
foi um dos poucos dias que dormi em paz, sabendo
que ele estava lutando.
Diferente de mim, que larguei a faculdade, a
carreira, e tudo que amava, pelo simples fato de não
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suportar os olhares, os comentários, os avanços...


estar ao redor de pessoas conhecidas não era minha
parte favorita, das desconhecidas era ainda pior.
Continuava me sentindo confortável, ainda.
O psicólogo me aconselhou na última consulta a
dar aulas para as crianças novamente. Ele acredita
que começar com elas vai ser bom. Segundo ele, as
crianças têm amor puro e simples, elas ficam
felizes com pequenos gestos, e não esperam nada
em troca. São menos complicadas que os adultos.
— Tio, não faz sentido, estamos indo para o
mesmo prédio. — Minhas memórias se dispersam
quando ouço a voz de Jace.
— Isso não significa que não posso acompanhar
minha filha até a casa dela — meu pai responde.
— Oliver, Jace tem razão, eles podem ir juntos.
— Minha mãe se aproxima.
— Vocês sabem que não sou mais nenhuma
criança, não é? — Eles me olham como se tivessem
acabado de perceber que estou aqui. — Pai, se Jace
está indo, eu posso muito bem ir com ele. Você só
precisa pegar o elevador e estará no seu

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apartamento, não precisa me acompanhar.


— Vou deixar uma coisa bem clara aqui — meu
pai diz olhando para Jace. — Não me interessa
quantos anos ela tem, ela ainda é a minha
garotinha, a mesma menina que abriu a porta pra
mim usando aquelas tranças engraçadas e sorrindo.
Você entendeu, garoto? — Jace geme.
— Entendi, tio.
— Muito bem. Me ligue assim que chegar em
casa, Sky. — Ele beija meu rosto e segura a mão da
minha mãe.
— Ignore ele — ela diz sorrindo e me beija
também.
— Tente me ignorar, mocinha — retruca e dessa
vez todos nós sorrimos.
— Sim, senhor — respondo.
Nos despedimos de todos e Jace e eu vamos para
casa.
— Sua mãe ainda não te deu um carro? —
pergunto enquanto caminhamos. Está uma tarde
agradável.
— Eu sei que ela se desfez do meu antigo, mas
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não sei se vou comprar um agora, talvez acabe


comprando uma moto.
— Uma moto? — pergunto curiosa, Jace nunca
foi do tipo de caras que curtem motos. Isso é mais a
cara do Cam, na verdade, ele até tem uma.
— É uma possibilidade.
— Por que? Desculpe se estiver sendo invasiva,
mas não recordo de você ser um fã de motos. —
Ele enfia as mãos no bolso e olha para o céu.
— Acho que ficar preso me fez repensar algumas
coisas, talvez eu queira sentir um pouco da famosa
liberdade que a moto dá, sabe?
— Acho que entendo.
— Mas não é nada certo, só um pensamento. E
você? Gosta de motos?
— Já peguei uma ou duas caronas com Cam.
— Sério? E como foi?
— Traumatizante. — Jace começa a rir.
— Você é corajosa. — Respiro fundo.
— Eu gostaria de ser corajosa para muitas coisas,
andar de moto com Cam não foi um ato de
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coragem. — Jace não diz nada porque ele entende o


que eu quis dizer.
Quando entramos no prédio, estamos em
silêncio. Mas, Jace já não está com as mãos no
bolso, sua mão está entrelaçada a minha.
— Obrigada, Jace — agradeço quando paro na
minha porta.
— Não precisa agradecer, nós moramos no
mesmo prédio, lembra?
— Não é por isso que estou agradecendo. — Ele
apenas sorri, e antes que eu perceba o que vai
acontecer, ele me abraça.
Sem saber como agir, meu corpo fica tenso por
ter sido pego de surpresa, mas começa a relaxar aos
poucos e eu consigo retribuir o abraço. Minha
nossa, eu não tinha notado como o cheiro dele era
bom. Seus braços me envolvem como uma coberta
quentinha, e pela primeira vez em muito tempo, eu
me sinto segura. E só me sinto assim quando meu
pai me abraça.
Eu me agarro a esse momento como se estivesse
afogando e ele fosse minha boia. Talvez seja isso,
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talvez eu esteja mesmo afundando e Jace está me


fazendo emergir.
Mas ainda estou lá nas profundezas, eu sinto
isso.
Um latido faz com que nos afastemos, Jace olha
na porta, e depois em mim.
— Ainda acho que a minha mãe deveria ter te
dado um poodle.
— Ela vai se acostumar com você, dê tempo a
ela, Jace.
— Seu cachorro me odeia, Sky.
— Então faça ela te amar. — Ele sorri com a
minha escolha de palavras.
— Ah, estou mais do que disposto a isso. Na
verdade, estou disposto a mostrar que ela sempre
me amou.
— Jace...
— Até mais, Sky. — Ele beija meu rosto e sai
para o apartamento dele.
Entro em casa e sou recebida por uma Hori
muito agitada, ela sabia que eu não estava sozinha

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lá fora e começa a me farejar.


— Está tudo bem, menina. Era só o Jace. —
Afago a cabeça dela e vou para o meu quarto.
Troco a roupa para algo mais confortável e depois
procuro pela foto que Jace me deu, que estava no
meu bolso.
Olho para ela e lembro da época em que tudo era
bom, a época em que eu era feliz de verdade, que
sorria de coisas bobas, que amava lutar. Olho para
minha mão e fecho em punho, seria tão difícil
assim subir de novo em um ringue?
Solto uma longa e profunda respiração e deito na
cama. Logo, Hori sobe na cama e coloca a cabeça
em cima da minha barriga. É como se ela sentisse
que estou ficando triste, então ela só fica ali,
esperando qualquer reação minha.
Uma reação que ela sabe que não virá.

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DEIXO SKY EM CASA E VOU PARA O MEU


apartamento, com a cabeça doendo por conta de
todos os acontecimentos do dia. Mas os momentos
que estive com ela, mesmo quando chorou, vale
qualquer dor de cabeça.
Acho uma aspirina no armário do banheiro e
tomo, em seguida dou uma olhada pelos cômodos
que ainda não tinha visto, e como meu pai disse: eu
tenho um escritório completo. Uma mesa grande,
poltronas confortáveis, e uma estante enorme cheia
de livros. Mas nada pessoal, acho que essa parte
eles deixaram ao meu critério.
Olho para o envelope que está na mesa, e
verifico. Tem todas as informações de que vou
precisar, inclusive o horário das aulas. Na estante,
percebo que os livros são todos da área de direito.
Eu sorrio, pego o celular e envio uma mensagem
para o meu pai.
ESTOU NO ESCRITÓRIO. EU
AMO VOCÊS.

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Aperto em enviar e guardo o telefone, de repente


me lembro de algo. Será que tenho o telefone dela?
Busco nos contatos e encontro. Cara, eu amo a
minha mãe. Então envio uma mensagem para Sky.
PARA O CASO DE VOCÊ NÃO
TER O MEU NÚMERO NOVO. ;)

Assim que envio a mensagem, guardo o celular


novamente. Passo o restante da tarde verificando as
informações sobre a faculdade. Meu pai deixou
praticamente tudo acertado, meu único trabalho
será o de aparecer na aula. Quando decidi seguir
essa carreira, percebi que minha mãe ficou triste.
Não que ela tinha esperanças de que eu fosse me
tornar um piloto profissional, até porque essa
posição sempre foi do Cam, mas acredito que ela
esperou que eu fosse me envolver nos negócios da
família.
Meu pai foi uma grata surpresa, me olhou
profundamente nos olhos e disse que estava
orgulhoso da minha decisão, e que no fundo já
esperava por isso.
Minha prisão não foi algo injusto, mereci pagar

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pelo que fiz, mas fui usado como um peão num


jogo de xadrez. As coisas que vi acontecer com os
presos, os casos que estavam parados – sabe-se lá
porquê – e pessoas presas quando já deveriam ter
saído, tudo isso funcionou como um combustível.
Sem mencionar que o único criminoso e
responsável por essa história toda havia saído
impune.
Max.
É estranho ficar feliz com a morte de uma
pessoa, mas é só isso que consigo sentir. Max
merecia pagar pelo que fez com Sky, a morte ainda
foi um desfecho fácil demais.
Passo o resto da tarde e à noite em casa;
verificando documentos, assistindo filme e
respondendo mensagens do Cam. Sky recebeu
minha mensagem, mas não respondeu. Estou me
segurando ao máximo para não ir até a casa dela,
então, simplesmente fico aqui tentando me distrair.
São cinco da manhã quando levanto. Pelas
mensagens que troquei com Cam na noite passada,
esse é o horário que ela geralmente sai para
caminhar. Bem, eu também preciso voltar a me
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exercitar, talvez um encontro casual não seja tão


estranho assim.
Saio da cama e me troco, pego algo para comer e
saio. Assim que me aproximo de sua porta, ela
abre, Hori sai primeiro e depois Cam aparece atrás
dela.
— Cam? — pergunto confuso. — Que merda
você estava fazendo aí?
— Pode parando aí, Jace — avisa e o cachorro
rosna. Que ótimo!
— São cinco da manhã, Cam! E está saindo do
apartamento da Sky.
— Eu sei. E como já tinha dito, às vezes, quem
leva a Hori para dar um passeio sou eu.
— Às cinco da manhã? Você odiava acordar
cedo. — E não entendo.
— E ainda odeio. — Hori olha para ele. — Sem
ofensas, garota. — Ele passa a mão na cabeça da
cachorra. — Isso não acontece sempre, então não é
nada do outro mundo.
— Por que a Sky não está levando a Hori para
passear hoje?
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— Ah, isso você tem que perguntar pra ela, cara.


— Estou perguntando isso para você, Cam —
digo rispidamente, ficando irritado.
— Tá bom, vem comigo. — Ele se afasta da
porta e andamos até o elevador. — Algumas vezes
ela não se sente bem. Então, me liga e eu venho
buscar a Hori.
— Isso acontece com frequência?
— Defina: frequência.
— Quantas vezes na semana, Cam? — Ele
respira fundo antes de responder.
— Duas vezes, mais ou menos. Só que isso varia
muito, já aconteceu de ser uma semana inteira.
— E o que ela faz? Digo, quando ela não sai.
— Ela não sai, quero dizer, ela literalmente não
sai do quarto. — Porra!
— Tio Oliver sabe disso?
— Merda, Jace, claro que não. Sky faz
acompanhamento com um médico e toma alguns
medicamentos. Acontece que de vez em quando,
ela fica mais pra baixo do que o normal e só precisa

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ficar sozinha.
— Pessoas com depressão não precisam ficar
sozinhas, Cam.
— E o que eu entendo disso, cacete? Só faço o
que ela pede. — Passo a mão no cabelo, mal
acordei e já me sinto esgotado.
— Que horas você volta?
— Daqui uma hora, mais ou menos.
— Entendi. Só que hoje, você só vai voltar
quando eu te avisar.
— Merda, tenho um encontro marcado para hoje
à tarde.
— Leve a Hori com você. — Bato no ombro dele
e ouço um rosnado.
— Viu só, ela é meio possessiva. — Nós rimos.
— Vai precisar disso. — Ele me entrega um molho
de chaves.
— O que é?
— As chaves do apartamento dela, eu tenho uma
cópia.
— Você nem ao menos passa para ver como ela
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está?! — Estou perplexo.


— Não sou tão idiota, Jace. Sempre bato na porta
do quarto dela quando chego, ela fala comigo e eu
vou embora.
— Você é um idiota.
A porta do elevador abre e ele entra, mas não
sem antes de dar um olhar de compaixão para mim.
Merda, até meu irmão sabe que as coisas com a Sky
não serão fáceis.
Entro no apartamento dela e fecho a porta, nada
está fora do lugar, e só a luz da cozinha está acesa.
Ando pelo corredor e vejo uma porta que imagino
ser a de seu quarto. Apesar de morarmos no mesmo
andar, nossos apartamentos não são iguais. Bato
duas vezes.
— Me deixe dormir, Cameron — grita e eu
sorrio, então entro antes que eu possa me
arrepender. — Esqueceu o que dessa vez, Cam? —
pergunta sem nem sair debaixo das cobertas.
— Sou eu, Sky.
— Jace? — Ela tira o edredom do rosto. O
quarto está escuro, mas há uma luminária próxima
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da cama que está acesa.


— Oi, Sky.
— O que está fazendo aqui? — Não percebo
raiva em seu tom de voz, apenas surpresa.
— Vim te convidar para caminhar. — Sento na
beira da cama.
— Não estou me sentindo bem, Cam já levou a
Hori com ele.
— Sei. Então o que pretende fazer?
— Dormir. — Ela vira de lado novamente e
coloca o edredom no rosto.
— Por mim, tudo bem. — Retiro o tênis e
começo a puxar as cobertas.
— O que você pensa que está fazendo? —
pergunta, assustada.
— Pode chegar um pouco mais para lá, por
favor? — Aponto para o meio da cama.
— Não, não posso. Vou perguntar de novo, Jace:
o que pensa que está fazendo? — Agora seu tom de
voz parece um pouco irritado. É, estou no caminho
certo. Qualquer reação é melhor que a apatia.

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— Você quer dormir, então vou te fazer


companhia — respondo e começo a empurrá-la, me
ajeitando na cama.
— Vá para sua casa, Jace.
— Deixe de ser mal-humorada, Sky. — Ela vira
e me encara.
— Você não vai sair, não é? — resmunga
quando dou mais um empurrãozinho.
— Nope. Anda, chega pra lá.
— Teimoso — reclama e se afasta para que eu
me ajeite melhor.
— Sou um Willers, o que esperava? — Deito ao
seu lado, estico o braço e o coloco embaixo da
cabeça dela, depois envolvo o outro braço pela sua
cintura e puxo seu corpo contra o meu. Ela está tão
tensa que parece uma tábua. — Sky?
— Sim. — Sua voz sai tão baixo, que me
pergunto se ouvi mesmo ou imaginei.
— Diga meu nome.
— Jace.
— De novo.

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— Jace. — Ela repete.


— Mais alto, quero que grite o meu nome.
— Como assim? Por quê? — pergunta, confusa.
— Para que você entenda que quem está te
abraçando sou eu, e que eu não vou te agarrar ou te
forçar a nada. Sou apenas eu Sky, o Jace. Seu Jace.
— Sinto o corpo dela estremecer, até que ouço seu
grito.
— JACE!!! — ela grita tão alto, que
provavelmente o andar inteiro ouviu.
— Isso mesmo. Sou eu Sky, você está segura. —
Eu a abraço forte, ela segura minha mão que está na
sua barriga e aperta com força, sinto suas lágrimas
escorrerem pelo meu braço. — Você está segura,
Sky. Nunca vou deixar que nada de ruim aconteça
com você. — Beijo seu cabelo.
— Obrigada, Jace. Obrigada. — Repete as
palavras algumas vezes, até que sinto a tensão
deixar seu corpo e sua respiração acalmar. Ergo a
cabeça e vejo que adormeceu.
Meu Deus!
O que aconteceu com você, Sky?
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O quarto está quente, mais que o normal. E eu


não consigo respirar, sinto algo duro debaixo da
cabeça. Merda! Pisco algumas vezes para tentar me
lembrar de tudo que aconteceu. Almoço na casa dos
meus tios, eu chorando no colo do Jace, minha
casa, Cam vindo buscar Hori e... Jace.
Jace!!!
— Ah, não. — As palavras saem pela boca antes
que eu possa impedi-las, e em um tom mais alto do
que deveria.
— Bom dia pra você também — Jace diz com
uma voz grossa, próximo ao meu ouvido. Próximo
demais. Não é hora de surtar, penso. Não com ele.
Controlo os pensamentos até que ouço ele falar de
novo. — Está tudo bem?
— Sim. — Consigo dizer, o que não é uma
mentira. Eu apenas estou tentando não surtar com
ele deitado ao meu lado. Por favor, Senhor, que ele
esteja vestido!
— Posso fazer uma coisa? — pergunta.
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— Sim. — Repito o sim e ele sorrir.


Aparentemente, essa é a única palavra existente no
meu vocabulário nesse momento.
— Será que qualquer pergunta que eu fizer
agora, a resposta será sempre sim? — Ele está se
divertindo. — Então, melhor eu aproveitar a
oportunidade e não te dar mais tempo para você
mudar de ideia. — Ele me puxa para mais perto
dele, praticamente fundindo nossos corpos. Sinto
sua ereção e continuo tentando não surtar. É só o
Jace, eu já o vi pelado antes. Fico repetindo isso
como um mantra.
Aos sete anos, mas isso conta.
— O-O que você está fazendo? — Minha
tentativa em não ficar nervosa falha
miseravelmente.
— Te dando um abraço de bom dia.
— Você está me esmagando, é diferente. —
Sorrio quando ele me aperta ainda mais.
— Sério? Nem percebi. — Ele me aperta e uma
risada alta me escapa.
— Estava com saudades da sua risada.
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— Eu ri ontem. — Ele me solta e muda de


posição. Ficamos deitados de lado, olhando um
para o outro.
— Você merece sorrir todos os dias, Sky. Não
sei o que é, mas quando você ri, as vibrações, o
som, vêm parar aqui. — Ele coloca minha mão no
peito dele e consigo sentir seu coração batendo
acelerado.
— Jace, por favor, isso é errado — sussurro as
mesmas palavras que sempre disse a ele.
— Você sabe que essa é a maior besteira que já
me disse, não é?
— Você é meu primo.
— Mas não de sangue. — E diferente das outras
vezes, ouvi-lo dizendo aquilo não me machucou.
— Eu devia bater em você. — Minha mão ainda
está em seu peito. E ele sorri com meu comentário.
— Você não surtou quando eu disse que não
temos o mesmo sangue. Sempre ficou brava a
ponto de querer me socar. — Ele passa a mão pelo
meu rosto. — O que mudou?
— Tudo. — Sou sincera. O coração dele acelera
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mais.
— Mesmo assim, você ainda não pode admitir.
— É tão complicado, Jace.
— Para mim, te amar sempre foi simples, Sky.
— Suas palavras me deixam tonta.
— Não estou bem, Jace. — Controlo minhas
emoções para não chorar. — Minha vida não tem
sido a mesma. Estou diferente, não sou mais aquela
pessoa por quem você se apaixonou.
— Também não sou mais aquele garoto que você
costumava chamar de pirralho, Sky. Também
mudei. E eu só quero te provar isso.
— Vi suas mudanças, Jace. Mas o que eu tenho
medo são das minhas, de serem demais para você.
— E se eu te mostrar que eu amo tanto a Sky de
antes, quanto a de agora. Com a mesma
intensidade.
— E se não for recíproco? — pergunto, mesmo
sabendo que é mentira. Jace tem uma parte de mim
que nenhum homem jamais teve – mesmo que eu
sempre tenha negado isso –, porém agora sinto que
estou me afogando dentro dos meus próprios
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sentimentos.
— E se for recíproco? — Ele devolve com a
minha pergunta.
— Não quero te magoar, Jace, você já sofreu
demais por minha causa. — Foi preso por culpa
minha, penso.
— Nunca estive tão disposto a arriscar. — Ele
traz o corpo dele para mais perto. — Então, topa?
— O que você quer com isso?
— Daqui a duas semanas você estará assumindo
que me ama, tanto quanto eu te amo.
— Amar não é um jogo, Jace.
— Não, não é. Você tem toda a razão, mas te
fazer confessar esse sentimento que esconde a anos,
é um tremendo desafio. — Ele tem um sorriso
presunçoso nos lábios.
— Está me desafiando?
— Totalmente — responde, arrogante.
— Você sabe que eu nunca perdi um desafio,
não é?
— Sei, e você sabe que eu sou um Willers, então
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acho que perder não está nos meus planos.


— Esqueceu que eu também sou uma Willers?
— É esse detalhe que vai fazer isso ser
interessante. Uma disputa justa.
— Não acredito no que vou dizer. — Ele sorri
mais ainda porque sabe que vou aceitar o desafio.
Nunca fui uma covarde, quer dizer, até o dia em
que tudo mudou. E mais uma vez Jace é
responsável por provocar reações em mim. Sinto
pequena fagulha de empolgação por dentro. —
Tudo bem, eu aceito o seu desafio, mas e se você
perder?
— Eu desisto. Sigo com a minha vida e enterro
tudo que sinto por você. Vou te deixar em paz, Sky.
De uma vez por todas. — E do jeito que aquela
fagulha acendeu, ela esmoreceu. Por que estou
sentindo um aperto por dentro. Por que pensar em
perder Jace parece mais dolorido do que um soco
de direita daqueles? E, minha nossa, perder Jace?
Ele nunca foi meu de verdade, foi? Não sei o que
me surpreendeu mais, sua resposta ou a minha
reação interna a ela. Fico sem saber o que dizer,
mas ele logo continua. — No entanto, eu sei que
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não vou perder. Tenho duas semanas, começando a


partir de agora...
— O que você vai fazer? — perguntei quando
ele colocou a mão na minha nuca.
— Vou te beijar, Sky. E se você não quiser isso,
por favor me pare agora, porque quando eu
começar, só vou parar quando nos dois estivermos
sem fôlego e sem raciocínio.
Jace segura minha nuca com uma mão, e com a
outra afaga a minha mão que está no peito dele.
Seus olhos, por um breve momento, transbordam
insegurança. A mesma insegurança que eu vi
quando nos beijamos naquela primeira vez por
acidente, porém logo são preenchidos com
determinação, do mesmo jeito de quando ele disse
que não ia pedir desculpas por ter me beijado.
Jace está determinado agora, e meu coração bate
descompassado igual ao dele. Como se quisesse
mostrar que está aqui, que está vivo. Gritando que
finalmente está perto do Jace outra vez.
— Me faça perder o fôlego, Jace.
— Porra! Esperei tanto tempo por isso. — Fecho
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os olhos e sinto seus lábios tocarem os meus. Eles


são suaves como uma brisa, me beijando sem
pressa. Levando meu corpo de encontro ao dele,
que obedece sem eu nem perceber. Meu corpo se
rende ao seu simples toque como se tivesse sempre
pertencido ali. Ele me beija com amor, me
deixando ciente de que estou no comando. Com
reverência, fazendo meu corpo relaxar, dizendo
com gestos que estou segura.
Seu beijo é apaixonado, mordiscando,
acariciando a língua, mostrando tudo o que guardou
durante esses anos. Tudo que ele guardou para
mim.
— Eu te amo, Sky — diz, entre um beijo e outro.
— Sempre foi você, só você. — Minha mão sobe
por suas costas, sob a camisa e sinto sua pele
quente. Porém, Jace não vai além de beijos e
palavras de amor.
— Jace... — Estou ofegante, literalmente sem
fôlego. — Acho que fiquei sem fôlego —
murmuro, sorrindo quando nossos lábios se
separam.
Jace está respirando com dificuldade, mas com
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um sorriso deslumbrante no rosto. Seu peito sobe e


desce, e ele olha para o teto. Consigo ver seus
músculos através da camisa, ela está praticamente
agarrada ao seu corpo. Ele mudou tanto nesses dois
anos.
Seus lábios estão inchados, vermelhos do nosso
beijo. E observá-lo sem fôlego na minha cama, me
dou conta de que pela primeira vez em muito
tempo, estou excitada.
— Que horas são? — Deixo meus pensamentos
para voltar a realidade.
— Não faço ideia, mas acho que dormimos
demais.
— Droga. Cam deve ter voltado com a Hori. —
Eu me assusto quando ele pula, ficando em cima de
mim. Deus do céu como ele está grande. Em todos
os sentidos.
— Não se preocupe, Cam só vai voltar quando
eu chamar.
— Não acredito que você fez isso. — Ele sorri.
— E posso repetir todos os dias, se isso
significar que irei te fazer perder o fôlego todas as
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manhãs.
— Seu irmão ia te matar.
— Ele supera. Quer ir almoçar comigo?
— Vai cozinhar? — Passo a mão no seu cabelo,
e ele se inclina no meu toque, fechando os olhos.
— Eu adorava quando eram longos — comento,
lembrando de como ele fica lindo com cabelos
longos.
— Não era permitido na prisão.
— Eu nunca vou me perdoar por isso. — Dessa
vez, quem fecha os olhos sou eu.
— Você não precisa se perdoar, porque não há
nada a ser perdoado, Sky. Não me arrependo de
nada do que eu fiz, e faria de novo, mil vezes se
fosse necessário.
— Se eu não tivesse...
— Ei. — Ele coloca o dedo nos meus lábios, me
calando. — Almoço, lembra? Não vou cozinhar,
mas acho que podemos ir a algum lugar legal, o que
acha?
— Tudo bem. — Não, não estava nada bem
porque eu não gostava de sair assim, mas Jace
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estava com um maldito sorriso no rosto que tornava


impossível dizer não.
— Vou pra casa me trocar. Te vejo daqui a
pouco. — Ele beija meu nariz, e depois meus
lábios.
— Você está indo rápido demais — brinco com
ele.
— Tem noção de que eu te amo desde quando
nem sabia o que a palavra “amor” significava,
certo? — Concordo com a cabeça. — Eu já fui com
calma por vinte e dois anos, está na hora de acelerar
um pouco as coisas.
— Ai, meu Deus! — Eu o empurro e ele cai para
o lado. — Vou fazer vinte e sete anos, e sou sua
prima, e...
— E pare de surtar, tá bom? — Ele começa a rir,
mas eu não. — E daí que você é mais velha? Em
que século você vive, Sky? E, por favor, sem essa
de sermos parentes.
— Isso é loucura — respondo, nervosa.
— O amor é louco, quanto mais rápido você
aceitar isso, mais rápido vai admitir que me ama.
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— E então você vence? — Cruzo nos braços.


— Já levei você a nocaute, Sky. Só estou
esperando o juiz começar a contagem. — Ele beija
a ponta do meu nariz. — 10... — Outro beijo na
testa. — 9... ​— E por último na bochecha antes de
sair da cama. Com seus tênis na mão, ele vai até a
porta, para e me olha novamente.
— Só esperando o juiz gritar. — Ele pisca e vai
embora.
Por que será que pela primeira vez diante de um
desafio, eu não tenho certeza se quero sair
vencedora?
Droga!

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OLHO NA IMAGEM À MINHA FRENTE PELA


décima vez, ou algo assim. Estou encarando meu
reflexo no espelho do meu banheiro. Desde que saí
do apartamento dela, tenho um sorriso estampado
no rosto impossível de ignorar. E, eu quero manter
esse sorriso bem onde está!
Meu Deus! É como se eu estivesse sonhando
acordado. Os beijos dela, seu toque, a confiança
que depositou em mim. Se o nirvana existe, com
certeza eu estava nele, porque era isso que Sky
significava para mim, felicidade. Pura e simples.
E eu tenho duas semanas para provar isso a ela.
— Em que loucura você se meteu, Jace!? —
pergunto para o meu reflexo, ainda sem conseguir
acreditar no que acabei de fazer. O sorriso continua
lá, zombando de mim, me dizendo que o que fiz foi
a melhor coisa nos últimos anos.
Deixo os pensamentos insanos de lado e termino
de me arrumar, o dia está bonito e podemos sair
para comer aqui perto mesmo. Depois caminhar um

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pouco e, de quebra, aproveito para conhecer melhor


a vizinhança.
Olho para o celular verificando se tenho
mensagens, Cam não me questionou quando pedi
que ele não viesse ainda, mas tenho certeza de que
o fedelho vai me cobrar o favor. Ele sempre cobra.
Antes de abrir a porta, começo a conferir para ver
se peguei tudo – carteira, celular, chaves – quando
a campainha toca.
— Uau! — É a primeira coisa que consigo falar
quando abro a porta. Sky está na minha frente,
usando jeans justo, camiseta da sua banda de rock
favorita e o cabelo dividido em duas tranças
laterais, como costumava usar quando lutava.
Eu. Adoro. Essas. Tranças.
— O que foi? — Ela olha em volta, surpreendida
pela minha reação estúpida.
— Desculpa. — Balanço a cabeça. — É só que
você está...
— Malvestida? — Sky olha para sua roupa,
insegura. Merda.
— Não, você nunca está malvestida, é que está...
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— Solto um suspiro, porque sei que as minhas


próximas palavras podem fazê-la fugir de novo. —
Está como antes — digo, por fim e espero ela
absorvê-las.
Ela engole em seco algumas vezes, com o olhar
distante, e eu me sinto um idiota.
— Você está linda, Sky. É isso que eu quero
dizer. — Coloco uma das mãos no seu ombro e a
puxo para dentro. Quando ela aceita, entrando no
meu apartamento e envolvendo os braços ao redor
da minha cintura num abraço apertado, solto um
suspiro aliviado.
— Obrigada. — Sua voz é firme, mas a
linguagem corporal diz outra coisa completamente
diferente.
— Você é linda. Ontem e hoje. Vestindo seda ou
moletons. Sempre irei me surpreender ao te ver.
Entende isso? — Afasto-me para olhar em seus
olhos.
— Não sei o que está tentando fazer, Jace, mas
acho que está funcionando. — Ela sorri, e não
demora muito para que eu esteja sorrindo de volta.

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A porra do sorriso no espelho.


Um que somente ela é capaz de tirar de mim. E
aposto que o sorriso dela não é algo que tem
dividido com muitas pessoas ultimamente. E se eu
for honesto, estou adorando saber que sou o
responsável disso.
— Você quer conhecer o apartamento ou prefere
sair logo? — Dou um passo de lado para que ela
possa olhar em volta.
— Acho que podemos ir almoçar, estou faminta.
— E sorri de novo.
— Então vamos, vou alimentar a minha garota
faminta. — Pego na sua mão.
— Jace! — resmunga, e eu sei o motivo: tê-la
chamado de minha garota.
— O quê? Você está com fome, e eu vou
alimentá-la. — Finjo inocência. Ela me encara e
franze o cenho.
— Essas duas semanas vão ser assim, não vão?
— Ela solta a minha mão e cruza os braços. Imito o
seu gesto.
— Não, Sky. Serão bem piores, e sei ser bem
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persuasivo. — Pisco para ela e a puxo contra mim


até que seu corpo está grudado ao meu. — Você é a
minha garota, a mulher que eu amo. Quanto mais
rápido aceitar isso, mais rápido poderei vencer esse
desafio e, então, não vai mais resmungar quando eu
te chamar de minha.
— Você está tão certo disso, Jace. — Eu a
abraço mais forte com ela ainda de braços
cruzados, e acho engraçado porque Sky acaba presa
no meu aperto.
— Os sorrisos no seu rosto me dão a confiança, a
certeza de que estou no caminho certo.
— Sério? Porque tenho certeza de que eu sorri
pouquíssimas vezes — responde confiante.
— Mas veja só, devo mencionar quem está presa
em meus braços? Sky, sinto seu corpo e como ele
está totalmente relaxado. — Ela pisca algumas
vezes e parece finalmente se dar conta da
proximidade dos nossos corpos. Eu a solto devagar,
mas não sem antes beijar a ponta do seu nariz. —
Você está relaxada porque sabe que é tão minha
quanto eu sou seu. E se eu sou seu, Sky, é você
quem está no comando, sempre. — Dou outro beijo
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na ponta do nariz dela, me afasto e seguro na sua


mão.
Saímos do prédio em silêncio, sem soltar da mão
dela e tenho a impressão de que ela não se importa,
já que parece estar distante em pensamentos.
Imagino que esteja processando tudo que aconteceu
lá em cima, então não forço uma conversa. Pego
meu celular, lendo o endereço do restaurante que
pesquisei; fica há dois quarteirões daqui, perto da
academia.
— O restaurante que pesquisei fica próximo da
academia, se importa se formos andando?
— Tudo bem. — Ela dá um sorriso fraco e
seguimos nosso caminho.
O lugar parece legal, com a decoração Geek,
descontraída. Sorrio para os quadros e bonecos que
decoram o lugar.
— Você não cresce, Jace — brinca e sorri mais
uma vez quando a garçonete nos leva para uma
mesa. Acho que ganhei o dia, penso. Três sorrisos,
garoto!!! É isso aí!!!
— É Marvel e DC, Sky. Ninguém na face da
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terra é maduro quando se trata de heróis. — Ela


revira os olhos, mas sorri. Nunca vou me cansar de
vê-la sorrir, nunca.
— Já que você diz. — Ela pega o cardápio.
— Falou a menina louca por Harry Potter. — Eu
a vejo baixar o cardápio e me lançar um olhar sério.
— Não use o nome de Harry Potter em vão,
Jace.
— É antiquado, bruxos e varinhas mágicas?
Quem gosta disso ainda?
— Eu — retruca. E eu não sei disso? Mas
sempre amei provocá-la.
— Não vamos começar uma daquelas discussões
intermináveis, não é?
— HP é um clássico, você sabe disso e não é só
sobre bruxos e varinhas, é sobre amizade.
Sky passa a próxima hora falando sobre bendito
Harry Potter, e eu finjo não estar interessado no
assunto, mas meu coração vibra toda vez que ela
defende uma teoria, cada sorriso seu. Quando
éramos mais novos, Sky lia para mim os livros da
série, minha mãe conta que eu tinha apenas cinco
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anos quando Sky resolveu me apresentar para os


livros favoritos dela.
Tenho certeza de que guarda suas varinhas até
hoje.

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Conversar. Era o que eu estava fazendo. Durante


as duas horas que almoçamos, a única coisa que fiz
além de mastigar a comida, foi falar. Caramba,
fazia quanto tempo que eu não conversava assim
com alguém? Apenas conversa fiada?
Dois anos. Minha mente faz questão de me
lembrar.
Mas Jace faz isso comigo, ele me deixa
confortável, consegue arrancar coisas de mim
quando nem eu mesma consigo, inclusive palavras
aleatórias sobre livros que eu amo. Ele não
pressiona, não empurra meus limites. E é isso que
eu amo tanto nele.
Amor? Droga, será mesmo que acabei de pensar
em amor?
— Você está me olhando de um jeito estranho.
— Sua voz faz meus pensamentos evaporarem e eu
me concentro nele.
— Desculpe, estava pensando.
Ele ergue uma sobrancelha.
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— Tenho até medo de perguntar o que era.


— Acho que iria gostar de saber.
— É mesmo? — E me observa com expectativa.
— Sim, mas não vou contar.
— Isso se chama tortura, sabia, Sky? — E se
inclina.
— Só estou dizendo a verdade.
— Estava pensando em mim? — Os cantos de
seus lábios sobem, e sinto um frio na barriga.
Quando foi a última vez que me senti assim?
Provavelmente nunca.
O que você está fazendo comigo, Jace?
— Talvez.
— Estava pensando em dizer que me ama agora?
Porque se for, sou todo ouvidos. — Jace recosta-se
na cadeira, cruzando os braços em uma posição
arrogante. Isso me faz dar risada, pois se tem algo
que Jace não possui em nenhum osso do corpo – ou
melhor, músculos agora – é arrogância. Excesso de
confiança, sim. Arrogância, nunca.
— Você sabe que eu pretendo ganhar esse

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desafio, não é? — Tomo um gole da minha coca


zero. E aqui está, se falta arrogância em Jace, sobra
em mim. Esse é o meu grande defeito, e eu
reconheço isso.
— Acho que vai repensar a esse respeito quando
chegarmos em casa. — Meu rosto esquenta com
seu tom. Jace não mudou só fisicamente. Não,
agora sua voz tem um timbre que faz minha pele
formigar, seus olhos antes tão reveladores, hoje me
envolvem em um mar de mistério e promessas.
— Você já se organizou para a faculdade? —
Minha mudança brusca de assunto não pega ele de
surpresa, que sorri levemente, compreendendo a
atitude.
— Está tudo pronto, meu pai já acertou tudo, só
tenho que comparecer na sala de aula.
— Isso é muito bom, Jace — comenta orgulhosa.
— Você será o melhor.
— É o que pretendo, Sky. — Ele olha ao redor e
depois volta a atenção para mim. — Vi muitas
injustiças nesses dois anos que estive preso,
pessoas que poderiam estar livres se tivessem uma

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defesa correta, alguém que se importasse com os


casos e não apenas em ganhar dinheiro.
Suas palavras soam carregadas de emoção. Ele
fala com raiva, mas determinado ao mesmo tempo.
Eu meio que invejo essa atitude.
— E você, o que pretende fazer? — Sua
pergunta me pega desprevenida.
Penso em dizer que pretendo manter minha
rotina, olhar as crianças treinarem na academia,
continuar me isolando de qualquer contato. Passear
com a Hori, tudo que tenho feito nos últimos dois
anos.
— Nem pense nisso, Sky. — Seu tom é duro, e
eu me assusto.
— Pensar no quê?
— Consigo ouvir seus pensamentos daqui, Sky.
— E o que eu estou pensando? — Começo a
ficar irritada.
— Em nada — responde. E sua resposta me
confunde e ele nota minha expressão. — Você está
pensando em continuar fazendo nada, Sky, mas não
vou permitir.
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Cada palavra que sai de sua boca me atinge


como um soco. Uma a uma, um mais forte do que o
outro. Eu odeio o fato de ele estar certo sobre os
meus pensamentos, e odeio ainda mais por ele
acreditar que tem o direito de dizer qualquer
porcaria sobre isso.
— Já acabei e acho melhor eu ir embora. —
Levanto tão depressa que quase esbarro na
garçonete que veio trazer a conta.
Peço desculpas, mas não fico para ouvir Jace e
suas besteiras. Saio do restaurante o mais rápido
que posso, e a cada passo que eu dou até o meu
apartamento, as palavras dele me sufocam.
Você está pensando em continuar fazendo nada,
Sky.
— Maldito Jace — murmuro quando abro a
porta do apartamento. É, agora ele está –
definitivamente – empurrando meus limites.
Estou quase no banheiro quando ouço a porta
abrir. Tenho certeza de que é ele, já que pegou as
chaves com Cam e não me devolveu.
— Estava indo tomar banho, Jace. — Mostro a
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toalha na mão quando ele entra no meu quarto.


— Eu só quero te pedir desculpas.
— Tem certeza? Porque eu não acredito que
você queira se desculpar, Jace.
— Não me arrependo do que eu falei, mas sim da
maneira e do momento. É por isso que estou te
pedindo desculpas.
— Sabe de uma coisa? Você não tem direito
algum para falar do que eu faço ou deixo de fazer
da minha vida, Jace! E se eu quiser passar o dia na
cama dormindo, é o que eu vou fazer. Entende
isso? Você. Não. Manda. Em. Mim! — grito as
últimas palavras.
— Eu te amo, Sky. E você, entende isso? — Ele
repete as minhas palavras. — E é exatamente por
isso que não vou deixar que continue vivendo
assim.
— Você não pode chegar aqui e simplesmente
me dizer o que fazer, Jace, não é assim que
funciona.
— Então como é que funciona, Sky? Pode
esclarecer as coisas pra mim aqui? Porque a única
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coisa que vejo é a nossa família pisando em ovos


com você. — Fico boquiaberta, chocada.
— Você está sendo cruel. — Ele se aproxima e
eu não recuo.
— E você, egoísta.
— O quê? Eu não sou egoísta, Jace.
— Sei de toda a merda que passou Sky, mas Max
está morto. Está na hora de você aceitar que ele
teve o que mereceu e que não vai mais te machucar.
— Não é tão simples. — Sinto as lágrimas
começarem a cair.
— Então, me deixa descomplicar. — Sua mão
toca meu rosto e eu fecho os olhos. — Me deixa te
amar, Sky, me deixa te mostrar como pode ser
simples quando se trata de nós dois.
Jace beija meu rosto, secando as lágrimas com os
lábios. Cada beijo é tão quente, cheio de
sentimentos. Ele parece passar uma eternidade
secando as minhas lágrimas, sem hesitar, ou se
afastar. Sem dar trégua.
E quando sinto que já não consigo mais respirar
sem que a sua boca esteja na minha, envolvo as
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mãos atrás de sua cabeça, e com apenas um toque –


um incentivo – ele se aproxima e me dá o que eu
tanto quero.
Seus lábios dessa vez não são gentis. Suas mãos
me seguram com tanta força, como se estivesse
com medo de que eu fosse fugir, mas esse não é o
meu desejo. Eu quero o simples. Quero seus beijos.
Quero poder ser tocada sem sentir medo. Preciso
disso. Preciso dele.
Eu quero Jace, e quero agora.
— Então, me mostre como pode ser simples —
murmuro, quebrando nosso beijo.
— Você tem certeza? Nós acabamos de discutir,
eu não quero... — Selo sua boca com o dedo.
— Nós dois brigamos desde que você aprendeu a
andar. — Sorrio, seus olhos brilham com
entendimento. Ele não pergunta mais nada, segura
meu dedo e o leva até a boca, chupando-o devagar.
Adrenalina começa a correr pelas veias, fazendo
pulsar cada parte de mim que eu acreditava já estar
morta. Ofego quando ele tira meu dedo da boca, o
que é suficiente para Jace perder o controle.
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Em um impulso, suas mãos seguram minha


bunda e ele me suspende. Minhas pernas envolvem
sua cintura – e ao contrário do que pensei – sentir
sua ereção não me causa medo, me excita, e é tão
bom sentir isso. Jace caminha até a cama, seus
olhos nunca se afastam dos meus, não consigo
decifrar o que ele está sentindo. É assustador, mas
ao mesmo tempo excitante.
— Vou fazer amor com você, Sky. — Ele me
deita na cama, os olhos percorrendo meu corpo,
mas mesmo vestida eu me sinto exposta, e
involuntariamente, me encolho. — Diga meu nome,
minha garota. — Eu não notei quando ele se
inclinou sobre mim.
— Jace. — Minha voz sai irreconhecível, mas
não de um jeito ruim e ele entende.
— Você não tem ideia de quanto tempo esperei
por isso. Mas precisamos estar juntos, tá bom? —
Concordo com a cabeça. — Preciso que me fale o
que quer, que esteja ciente de que sou eu aqui com
você, e que vou fazer tudo o que me pedir,
inclusive parar. — Pisco diante de suas palavras, as
emoções começando a tomar conta de mim.
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— Quero você, Jace. — Ele fecha os olhos,


aliviado pelas minhas palavras.
— Eu sou seu, meu amor, sempre fui. — Ele se
inclina para me beijar, e mais uma vez, eu me perco
em seus lábios. — Quero que você me mostre,
ensine a minha boca e as minhas mãos a te dar
prazer, Sky.
Puta merda! Suas palavras me excitam ainda
mais. Ele beija meu pescoço e eu solto um gemido
baixo, suas mãos envolvem meus seios e sinto o
corpo obedecer, arqueando, implorando por mais.
— Jace? — Chamo sua atenção quando ele
começa a tirar minha blusa. Ele para e espera. —
Você ainda é virgem? — Faço a pergunta que fiz
da última vez que estivemos nessa mesma posição,
quando estraguei tudo ao ouvir sua reposta.
Jace me observa por um momento, tenho certeza
de que ele sabe exatamente o que pensei. Mas
quando penso que vai mentir, ou desistir, ele me
surpreende.
— Não menti quando disse que sempre fui seu,
Sky. De coração, alma e corpo. — Meu coração

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acelera com a revelação.


— Nunca imaginei... — digo tão baixo que não
tenho certeza se ele ouviu.
— Isso ainda é um problema pra você? — Jace
pergunta, mas não parece magoado.
— Cometi um erro uma vez, Jace. — Toco seu
rosto. — Mas não quero repetir esse erro. — Ele
fecha os olhos. — Há muito tempo, nenhum
homem me toca. E, talvez, ainda seja difícil,
portanto não posso prometer que não vou surtar em
algum momento, mas prometo que vou tentar
manter a mente em você, Jace, e só em você.
— Eu te amo, Sky. Nunca vou me cansar de
dizer isso. — Ele beija meu pescoço. — E obrigado
por confiar em mim.
Uma trilha de beijos é traçada, do pescoço até a
minha boca. Jace está em cima de mim, a ereção
pressionando contra o meu jeans. Mas ele não
parece ter pressa, é como se estivesse me
saboreando, cada centímetro meu.
É tão bom senti-lo; seus toques são um lembrete
de que é ele que está aqui, seus beijos são a prova
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do seu amor. E seu corpo, a forma com que se


molda ao meu, é a afirmação de que ele foi feito
para mim.
E acredito que depois dessa tarde, terei certeza
de que também fui feita para ele.

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ESTOU PERDIDO. TÃO PERDIDO COMO JAMAIS


pensei que fosse ficar. E, porra, é tão bom. Cada
vez que meus lábios tocam a pele dela, uma carga
de energia atravessa por todo meu corpo, e indo
direto para o... Estou tendo bastante dificuldade
para me conter.
Eu a quero tanto, aqui e agora.
E sei que ela também me deseja na mesma
medida, seu gemido é a resposta que eu preciso.
— Eu quero vê-la, Sky. — Paro de beijá-la. —
Você inteira. Quero te beijar em todos os lugares.
— Seus olhos brilham cheios de luxúria e ela
apenas concorda com a cabeça.
Lentamente, minhas mãos começam a tirar sua
camiseta, passando pelos os braços, ela me ajuda ao
se mexer um pouco e eu concluo o meu trabalho.
Está usando um top preto, um dos muitos que já a
vi usando enquanto malhava. Eu era a merda de um
adolescente excitado toda vez que ficava vendo-a
se exercitar, e agora, ela está bem aqui. Nos meus

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braços. É inacreditável. SUR-RE-AL.


Desço as mãos para seu jeans, desabotoando o
primeiro botão, e depois o barulho do zíper abrindo
é a única coisa que consigo ouvir nesse momento.
Porém, ele logo é substituído por um gemido
quando meus dedos traçam o cós de sua calcinha.
Caralho!
Estou mesmo fazendo isso? Essa pergunta fica se
repetindo no meu cérebro, até que vejo o olhar dela,
e tenho a minha resposta. Sim, estou realmente
fazendo isso.
— Me diz se for demais para você — peço antes
de continuar, porque preciso disso, preciso saber
que ela está junto comigo aqui. Que também quer e
precisa de mim.
— Eu quero isso, Jace. Nunca quis mais nada em
toda minha vida como eu quero isso e quero com
você.
E com essas palavras, Sky me leva à nocaute.
Retiro o restante de suas roupas com tanta calma,
algo que nem imagino de onde está vindo. Quer
dizer, sei sim. Minha calma e serenidade vêm dela,
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de sua confiança, da forma com que está se


entregando. Ela merece o melhor que existe em
mim nesse momento e é, exatamente, o que vou
fazer. Não é sobre a minha primeira vez, é sobre ser
com ela. A mulher que eu amo, a única que sempre
amei.
Sei que a minha experiência sexual é limitada, e
mesmo tendo ficado com algumas garotas, nada se
compara a ter a mulher que você ama, diante de
seus olhos à espera de seu toque. Então, deixo meu
instinto me guiar.
Roço seu clitóris com a ponta do dedo e ela solta
um longo gemido, ofegando quando entro com ele
nela. Começo a mexê-lo, e acredito que encontro
seu ponto mais sensível porque ela me aperta com
força e se contorce toda. Estou tão duro que mal
consigo me segurar. Eu desço sobre o seu corpo
sem tirar o dedo de dentro dela, e a beijo, passando
a língua no mesmo lugar de onde ele entra e sai,
intercalando. Seu quadril impulsiona para frente,
querendo mais contato. Vejo-a segurar o lençol
com força, e adoro cada reação sua. Seu gosto me
deixa inebriado, alucinado. E me encontro já
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viciado nela. Mas, porra, quando foi que não


estive?
— Jace! — Sua voz sai entrecortada.
— Sim, meu amor? — Beijo seu abdômen, sem
parar de mover meu dedo, desejando tocar seus
seios. Ela percebe a minha intenção e tira o top sem
demora. — Eles são lindos. Perfeitos — murmuro,
olhando fixamente no par de seios mais bonitos que
meus olhos já viram. Ei, nunca disse que fui um
monge. De todas as garotas com quem fiquei, nada
foi além de uns amassos no quarto, mas sempre
soube fazê-las se sentirem bem, só que elas nunca
me fizeram desejá-las a ponto de esquecer Sky. A
ponto de esquecer a quem eu pertencia.
— São pequenos — comenta, e parece
envergonhada. Tiro o dedo de dentro dela e quando
penso que vai reclamar, ela me encara incrédula.
Passo o dedo molhado por seus mamilos,
deixando um rastro de sua própria excitação. E a
cada respiração sua, subindo e descendo, eles
parecem mais e mais convidativos.
— São perfeitos, assim como você. Nem

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grandes, nem pequenos, simplesmente perfeitos,


Sky. — Minhas palavras a fazem sorri, mas logo
grita meu nome com o que faço depois.
Mordo a ponta do seio esquerdo, mas não muito
forte, uma leve mordida que faz seu corpo todo
vibrar. Porra, é a coisa mais sexy que já
experimentei. Seu gosto, seus seios, ela inteira. E
toda minha.
Minha língua assume o lugar dos dentes, comigo
por cima dela, e parece que meu quadril ganha vida
própria com o pau implorando pelo seu calor. Mas
não posso agora, não quando é tudo para ela.
Cada movimento, só para ela.
— Por favor, Jace — geme, sua mão tentando
agarrar o pouco cabelo que tenho.
— Eu disse que ia te beijar em todos os lugares,
Sky, mas caramba, não pensei que seria
praticamente impossível parar de fazer isso. —
Beijo um seio mais uma vez, enquanto aperto o
outro mamilo com a mão. — Sentir seu gosto é
indescritível. Você é gostosa demais.
— Estou quase gozando, Jace, mas não quero
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fazer isso sem você. — Paro e olho em seus olhos.


— Não me pergunte outra vez se é o que eu quero,
Jace. — Ela coloca uma mão no meu rosto. — Já
sei que posso dizer não, e que vai me ouvir. Eu
confio em você, Jace Willers, e nós não
decepcionamos quem confia na gente.
É isso, Sky seria a minha ruína. Sabia do que ela
estava falando, a respeito de ser um Willers, sobre
família. Não a ter surtando por causa disso me
encheu de orgulho, e talvez, eu não pudesse ter a
minha garota de antes de volta, mas saber que Sky
confia em mim agora, é melhor do que jamais
poderia imaginar.
Saio de cima dela e fico ao lado da cama, meus
olhos não deixam os seus quando começo a me
despir. Vejo seu olhar observando meu corpo, e
noto a expressão de surpresa quando vê a tatuagem
no osso do meu quadril.
NEVER GIVE UP
Tenho a frase Veni, Vide, Vice tatuada no pulso,
igual à que meu pai e tio tem, mas essa eu fiz
quando estava preso. Quando cheguei no ponto
mais baixo do desespero na prisão, logo depois de
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passar o primeiro natal longe da família.


Sky sai da cama e fica em pé, nossos olhares se
encontram enquanto ela toca a tatuagem, traçando
as letras com o polegar. Sem afastar os olhos dos
meus.
Meu pau pulsa mais uma vez e estremeço, é
como se ele estivesse me lembrando de sua
existência, e ela percebe o movimento. Sem
qualquer aviso, ela o envolve com uma das mãos.
Minha cabeça cai para trás e fecho os olhos.
Seu dedo traçando a tatuagem.
A mão dela no meu pau.
Acho que não consigo nem lembrar do meu
nome agora, mesmo se a minha vida dependesse
disso.
— Está pronto para mim, Jace? — Não
respondo, o único som que emito é um grunhido,
quase um rosnado, porque eu nunca, jamais na
minha vida tinha ouvido ela falar desse jeito, tão...
tão... cacete. Meu cérebro sofreu uma pane total. Só
pode.
Ela o solta e eu quase choro de tristeza, mas logo
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sua mão está na minha nuca, me puxando para um


beijo. Sinto seu corpo nu contra o meu, e esse
contato – pele a pele – está me deixando louco.
Eu a envolvo com os braços e... Bem, não tenho
certeza do que acontece depois porque em um
momento, estávamos nos beijando
desesperadamente, e agora, estou dentro dela. Suas
pernas me evolvendo, me pressionando contra ela.
E mesmo nessa posição, é ela quem está no
comandando. O controle é todo dela. Minha mão
aperta sua bunda com força, puxando-a para mais
perto, fazendo com que eu entre mais fundo.
— Porra, Sky! — É a única coisa coerente que
consigo dizer antes de sua boca possuir a minha de
novo. E assim que gozamos juntos, duas certezas
me dominam.
Nunca mais vou deixá-la e nenhum maldito
homem vai machucá-la novamente.

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Ofegantes. É assim que estamos. Jace está com a


cabeça deitada no meu ombro, sussurrando palavras
de amor enquanto acaricio sua nuca. Com ele ainda
dentro de mim, não consigo me lembrar de jamais
ter me sentido assim.
Completa. Saciada. Amada.
— Droga! — resmunga saindo do meu corpo.
— O que foi?
— Desculpe! — Ele passa a mão no cabelo e
olha nos meus olhos. — Droga, Sky, agi como um
adolescente irresponsável com você. — Seu tom é
de pura preocupação, quase arrependido.
— Do que você está falando? — Sento na cama,
não gostando de seu reação, não depois do que
acabou de acontecer entre nós.
— Não usei camisinha. — Pisco um pouco, me
recuperando de suas palavras. Droga, quase morri
de susto. — Não vai falar nada? — Ele aguarda
minha resposta, é como se não tivesse noção do que
fazer agora, e não posso deixar de achar o quanto
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isso é fofo.
— Sim, você foi tremendamente irresponsável,
Jace. — Resolvo brincar um pouco com seus
nervos.
— Droga! — pragueja mais uma vez e olha para
o teto, depois volta o olhar para mim de novo. —
Me desculpa, Sky. — Minha nossa, ele parece tão
culpado.
Deito novamente e estico o braço, oferecendo a
mão para ele.
— Volte para mim — digo e vejo sua expressão
confusa, mas não recusa minha mão estendida. Eu
o puxo, fazendo-o tombar para frente, seus reflexos
são rápidos e ele apoia o corpo com o braço
evitando me esmagar. Uma risada alta escapa da
minha boca. — Estava gostando de como me sentia
— murmuro, passando a mão no seu rosto e ele
sorri.
— Não está brava? Você pode ficar... — Ele não
termina a frase
— Eu tomo pílula, Jace, nunca deixei de tomar.
— Alivio passa pelo seu rosto.
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— Graças a Deus, porque tenho certeza de que o


tio Oliver me mataria.
— Certo, primeira regra aqui. Nunca, jamais, em
hipótese alguma mencione o meu pai enquanto
estivermos nus na cama, entendido?
— Então, temos regras? — Ele sorri torto.
Droga, eu amo esse sorriso.
— Claro que sim. — Ele baixa mais o corpo até
que estamos colados e eu sinto sua ereção me roçar.
— Quer dizer que isso vai se repetir? — Ele usa
o joelho para abrir minhas pernas, e de bom grado,
eu deixo.
— Onde pensa que está indo? — brinco com ele.
— Você disse: volte para mim, é isso que estou
fazendo. — Abro as pernas e, juntos nos movemos.
Quando me penetra mais uma vez, ele ofega, e
cacete, Jace faz os sons mais sensuais durante o
sexo.
Em segundos, está me beijando novamente, e
fazendo amor comigo como só ele é capaz de fazer.
Meus medos e incertezas são levados para um lugar
na minha mente que Jace torna o acesso impossível.
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E quando nós gozamos, sou tomada pela certeza de


que será difícil controlar as emoções e não dizer eu
te amo para Jace Willers.
Acho que caímos no sono, pois algum tempo
depois, abro os olhos com a campainha tocando.
Alguém está na porta e não parece nada paciente.
Olho para o lado e vejo Jace dormindo tão
profundamente que acredito que nem mesmo um
terremoto será capaz de acordá-lo.
Saio da cama e vou até o banheiro, pego a
primeira roupa que encontro na frente e vou atender
a porta, antes que a campainha queime.
Assim que abro, sou praticamente atropelada
pela Hori. Ela pula em cima de mim e quase me faz
perder o equilíbrio.
— Desculpa, Sky, mas precisava trazê-la de
volta — Cam diz com cara de quem não está
nenhum pouco arrependido.
— Sem problema, acho que hoje abusei de você.
— Tiro a coleira da Hori, depois prendo meu
cabelo. Não consigo nem me lembrar de Jace
desfazendo as minhas tranças. Meu rosto esquenta

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com a lembrança.
— Você não abusou, talvez aquele ali — e
aponta para o corredor, Jace está parado com os
braços cruzados, usando apenas a calça jeans —
com cara de poucos amigos, seja o culpado.
— E, como sempre, desobedecendo ordens, não
é mesmo, Cam? — ironiza Jace, mas não se mexe.
Sei que o motivo é a Hori, que está parada na frente
dele encarando-o.
— Tenho um encontro daqui a pouco — Cam se
defende.
— Você não é do tipo que sai em encontros —
comenta Jace.
— Quem disse? — Cam estala os dedos e Hori
vem até ele.
— Você! — Jace e eu falamos ao mesmo tempo.
— Eu odeio vocês. — Hori choraminga. —
Menos você, garota, menos você. — Ele se abaixa
e beija a cabeça dela. — Vou indo.
— Obrigada, Cam. — Eu o abraço.
— Estou às ordens, sempre que precisar. — Ele
retribui o abraço e vai embora, mas não sem antes
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mostrar o dedo do meio para Jace, que repete o


gesto. Garotos.
— Você pode, por favor, colocar ela no quarto?
— Jace aponta para Hori.
— Por que?
— Porque ela não me deixa chegar perto de
você.
— Sabe, vocês terão que superar essa rixa um
dia.
— Sei, mas por enquanto só queria voltar para o
quarto, com você de preferência.
— Não está com fome? — pergunto incrédula, já
está de noite e a única coisa que fizemos a tarde
toda foi ficar dentro no quarto.
Jace me dá um olhar cheio de desejo, me fitando
da cabeça aos pés. Meu short e top mostram parte
do meu abdômen, ele me analisa tão lentamente
que um calor começa a subir por todo meu corpo. É
o que basta para entender que tipo de fome ele tem
agora.
Acho que despertei um monstro.
Depois que coloco Hori no quarto de hóspedes,
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convenço Jace a pedir uma pizza, e com certeza, a


gente comeu no quarto, e eu descobri que sexo e
pizza são uma combinação perfeita.
Não, corrigindo. Sexo com Jace e pizza são uma
combinação perfeita.
Já passa das dez horas quando estou tentando
expulsá-lo do apartamento. O que não está sendo
uma tarefa muito fácil, não com suas mãos
apertando a minha bunda, e sua boca na minha
enquanto estamos parados na porta.
— Sério, Jace, você precisa ir.
— Eu podia ficar te beijando a noite inteira, o
que acha?
— Acho que você precisa ir dormir, na sua
cama. — Coloco a mão no peito dele e o afasto um
pouco.
— Tem certeza? — implora.
— Absoluta.
— Não tinha medo de dormir sozinha? — Argh!
Como ele joga baixo.
— Sim, quanto eu tinha oito anos, e ia para a
cama dos meus pais. Agora vai, Jace. — Aponto
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para o apartamento dele sorrindo.


— Droga. — Jace sorri, depois olha na porta
dele, e de volta para mim. Só que agora o sorriso
não está mais lá, e ele parece apreensivo. —
Preciso saber uma coisa.
— O que foi?
— Amanhã quando eu acordar, tudo o que
aconteceu entre nós, não terá sido um sonho, não é?
— Meu coração derrete com a sua pergunta. Jace
pode ser todo homem, responsável e decidido. Mas
parece que o coração dele ainda é o mesmo de
antes, aquele que eu quebrei dois anos atrás.
— Não, Jace. — Eu me aproximo e ele me
abraça. — E se for um sonho, tenho certeza de que
sonhamos juntos então. — Levanto a cabeça e olho
para ele. Seus braços me envolvem apertado.
— Até amanhã, minha garota. — Ele beija meus
lábios.
— Até amanhã.
Ele finalmente me solta e vai para o seu
apartamento, mas quando chega na porta ele para,
vira e fica me observando, alguns instantes depois,
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fala alto:
— Duas semanas, Sky! Duas semanas e estará se
despedindo de mim com três palavras.
— Quais? — pergunto.
— EU TE AMO — Ele grita tão alto que não
consigo parar de sorrir. Então ele abre a porta e
entra, ainda fico ali alguns segundos antes de voltar
para dentro, com o maior sorriso no rosto.
Sim, Jace, eu te amo. Tanto que está sendo
impossível manter esse sentimento em segredo.
Meu despertador soa e eu alongo os braços, meus
músculos estão todos doloridos, mas isso não
importa, já que a culpa disso é do Jace. Faço minha
rotina matinal, Hori fica eufórica quando apareço
na sala com a coleira na mão.
— Tá bom, garota, mas vamos devagar hoje —
aviso a ela antes de sairmos. Quando caminho até o
elevador, dou uma rápida espiada na direção do
apartamento dele, observando a porta fechada,
imagino que ainda esteja dormindo.
Saio com Hori para o nosso passeio. Não deixo
de perceber que ela sente meu humor, fazendo
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como pedi, caminhando sempre ao redor. Como eu


amo isso nela, nossa sintonia sempre foi perfeita.
Quando sento em um banco, pego o celular para
verificar a hora, a foto de fundo de tela é uma
comigo junto com meu pai. Ele estava colocando a
faixa nos meus punhos antes de uma luta, e foi
minha mãe quem tirou. Sorrio e ligo para ele.
— Oi, pai. — Ele atende no segundo toque.
— O que aconteceu? — pergunta preocupado.
— Hum... nada, só queria falar com você.
— Às seis da manhã? Está tudo bem? — Meu
Deus, ele está realmente preocupado.
— Estou bem, pai. Estava caminhando no parque
e só quis conversar com você. Por que está
surtando por causa disso?
— Já faz um bom tempo que a minha filha não
me liga nesse horário só para jogar conversa fora.
Ops!
— Desculpa, pai. — Arrependimento me atinge
com toda força, ninguém no mundo merece ser
isolado, principalmente meu pai.
— Está tudo bem, estou feliz por ter me ligado.
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Quer vir aqui tomar café da manhã?


— Você estava dormindo? — pergunto, mas já
sei a resposta.
— Acabei de sair da academia. Sua mãe por
outro lado. — Ouço minha mãe gemer.
— Paaaaaiiiii! — Fecho os olhos. — Não está
com a minha mãe na cama enquanto conversamos,
está?
— Não. — Ele ri alto. — Mas esse era o
pensamento antes do telefone tocar.
— Tá certo, eu não precisava ouvir isso —
reclamo, rindo.
— Olha só, além de me ligar, ela está sorrindo.
— Noto a felicidade na sua voz. — Só falta aceitar
meu convite para o café.
— Tudo bem, me dê vinte minutos.
— Vou te dar uma hora.
— PAAAIII!! — repreendo.
— Eu te amo, princesa, esperaremos por você.
— Ele desliga e respiro profundamente. Uma
atitude tão simples fez ele feliz, eu fico me sentindo

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feito lixo por não ter feito isso antes.


Saio do parque e vou direto para casa, quando
chego no prédio, pego minhas correspondências e
vou para o elevador. Fico olhando para os
envelopes na mão, algumas contas e uma que fazia
algum tempo que não recebia. Da Confederação
Americana de Boxe.
Solto um gemido.
— Espero que esse gemido seja do tipo bom. —
A voz dele me faz saltar. — Desculpa, não queria
te assustar. — Jace está parado na minha porta, e
estende uma caneca na minha direção. É uma
caneca da mulher maravilha e o conteúdo está
fumegante, e tem o cheiro incrível.
— Quando você conseguiu isso? — Sorrio e
aceito a caneca.
— Tenho meus segredos. — Pisca e tenta se
aproximar, Hori rosna. — Sério? — Ele olha para
ela e eu apenas dou de ombros.
— Ela me faz lembra de você, sabe?
— Em que sentido?
— Possessiva e teimosa. — Ele sorri. — Estou
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começando a gostar mais dela agora.


— Certeza que está. — Dou uma piscadela para
ele e abro a porta, Jace me acompanha. — Preciso
de um banho.
— Posso te ajudar com isso. — Ah, eu sei que
pode, penso.
— Não posso demorar, vou tomar café da manhã
com meus pais. — O sorriso sedutor dele morre. —
Quer ir comigo?
— Nesse caso, acho que você dá conta sozinha.
— Está com medo do meu pai? — Aproveito que
Hori está fora de vista e me aproximo.
— Desde que ele é um dos melhores lutadores da
história, e estou viciado em fazer amor com a filha
dele, bem, acho que tenho um pouco. — Ele me
enlaça pela cintura e me puxa. — Mas acho que
ainda temos alguns minutos para aproveitar. — E
ataca minha boca.
— Jace. — Meu corpo amolece em seus braços e
a coerência vai para o inferno por causa de seus
beijos.
— Vai contar a eles?
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— Contar o quê? — Fico confusa.


— Que estamos juntos — responde como se
fosse a coisa mais óbvia do mundo.
— Jace, acho que não devemos. Pelo menos por
enquanto.
— Do que você está falando? — Ele se afasta.
— Não posso simplesmente chegar para os meus
pais e dizer que estamos juntos, Jace! Não é assim
que funciona.
— E como é que funciona, Sky? Porque não vejo
problema nenhum em dizer a eles. Seus pais
sempre souberam dos meus sentimentos por você
— diz, e esfrega as mãos na cabeça exasperado.
— Você contou a eles? — pergunto espantada.
Jace me encara como se eu tivesse dado uma
bofetada nele.
— Não, mas só sendo cego, ou burro para não
perceber isso — responde, sarcasmo escorrendo de
suas palavras.
— Não quero apressar as coisas, Jace — digo,
um pouco ressentida por sua resposta. Não estou
gostando nada do rumo dessa conversa.
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— Ah, é? Sério isso? Deixa ver se eu entendi.


Contar para os seus pais que estamos juntos é
apressado, mas passar a tarde comigo na cama, não
é?
— Agora você está sendo grosseiro — retruco,
falando mais alto do que necessário.
— E você está fugindo. Como sempre fez, aliás.
— Não quero discutir com você. Só preciso de
tempo, Jace. — Ele não diz nada por alguns
instantes, com o maxilar cerrado. Quando ameaço
abrir a boca, ele reage.
— Essa questão de tempo é tão relativa, Sky.
Mas se acredita mesmo que é disso que precisa,
então tá. Não vou te dar só tempo, vou te dar
espaço também. Mais uma vez. — Eu sinto meu
corpo todo esfriar e estremeço. Ele percebe, mas
continua a despejar. — Você pode me procurar
quando se sentir pronta para nós porque não vou
ficar me esgueirando na sua cama, Sky. Esperei a
merda de dois anos para ficar com você, eu te dei
todo o tempo de que precisava, a porcaria do
espaço que pediu quando não respondeu as minhas
cartas. — Suas palavras me deixam sem
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argumento, mas também não acho que valeria de


nada porque ele está determinando a terminar tudo
que tem a dizer. Só não sei como eu vou ficar
depois de tudo isso. — Entendi quando não me
visitou, quando não deu sinal de vida, era espaço
que você queria, e eu te dei.
— Por favor, você está sendo cruel — murmuro,
mas sua expressão rígida não se abala.
— Mas é a verdade, Sky! O que quero dizer é
que não vou te esperar para sempre. Eu te amo, e
porra... — Ele vira, passando as mãos na cabeça. —
Acho que nunca vou deixar de te amar, mas vi tanta
coisa nesse pouco tempo de vida que realmente não
quero perder mais tempo. A maioria das pessoas
pensam: somos jovens, temos uma vida toda pela
frente e essas baboseiras todas, mas a realidade é
cruel, vacilou, já era. E eu já perdi tempo demais.
Jace não espera pela minha resposta, e eu fico ali
– congelada, completamente sem reação – até que
ouço a porta do meu apartamento batendo.
Ele foi embora.
E eu sei que não vai voltar, não antes que eu vá

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atrás dele.

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INACREDITÁVEL COMO MEU CORAÇÃO PODE SER


fraco quando se trata da Sky. Ridiculamente fraco.
E mesmo sabendo que ela vai tentar fugir de nós,
uma parte de mim quer bater em sua porta e dizer
que estou disposto a aceitar qualquer migalha que
tenha a oferecer, estar com ela é o que importa.
Mas a outra parte, o lado racional sabe que eu
preciso agir diferente, ser mais inteligente do que
fui quando ela me dispensou pela primeira vez há
dois anos.
Até aquele dia, nosso relacionamento era apenas
amizade, um encostar de lábios aqui, outro ali, mas
nada além disso. Não até aquela noite, em que
entrei no quarto dela disposto a tudo, até ela me dar
um belo fora e sair com Max.
E num piscar de olhos, tudo rolou ladeira abaixo.
Passei muitas noites na prisão sonhando com ela,
me lembrando de como a encontrei quando cheguei
naquela casa, na aparência de Max. Perdia a cabeça
toda vez que pensava naquilo. Dizer que a morte
dele me deixou feliz é um eufemismo, mas
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infelizmente é a verdade.
Agora, depois de tê-la finalmente em meus
braços, entregue de corpo e alma, ela me despreza
outra vez.
— Merda — resmungo e pego o celular, preciso
sair desse apartamento antes que o desejo de estar
com ela se torne maior do que o meu orgulho.
— Porra, cara, espero que esteja acontecendo
algum incêndio, se não vou ficar muito puto... —
Cam resmunga com dificuldade, sua voz está
arrastada de sono.
— Quero ver você em meia hora, na academia
— digo sem rodeios.
— Vai se foder, Jace! Não vou sair da cama tão
cedo, tem uma britadeira dentro da minha cabeça
agora.
— Você bebeu?
— Precisa gritar, caramba... — Filho da puta!
— Levanta essa bunda da cama, Cam! Ou vou
até aí bater na sua porta e garanto que não vai
gostar do meu tom de voz gritando na sua
ORELHA! — Na última palavra já estou berrando,
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e de propósito.
Desligo o telefone tendo a certeza de que
entendeu o recado. Cameron pode ter mil defeitos,
aliás, bem mais de mil se eu for realista, mas sabe
quando a merda fica séria – e principalmente – que
bebida está fora dos limites.
— Mas que diabos está acontecendo com esse
moleque? — murmuro antes de trocar de roupa e
sair para a academia. E com a intenção de evitar
qualquer tipo de distração, opto descer pelas
escadas.
Cam não me decepciona, ele chega na academia
dez minutos depois, usando óculos escuros e
camiseta com capuz cobrindo quase todo o rosto.
— Papai te viu desse jeito? — pergunto quando
caminhamos para a cafeteria.
— Se tivesse, eu não estaria aqui nesse
momento.
— O que está pegando, Cam? — Pego dois cafés
e sentamos em uma mesa afastada da entrada,
próximo da janela com uma boa visão da rua.
— Não tem nada acontecendo. — Ele abaixa o
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capuz e tira os óculos, fico aliviado ao ver que em


seus olhos, pelo menos, não tem nenhum sinal de
briga.
— Você tem dezessete anos, Cam, passou
praticamente a noite toda fora, e bebendo. Quer
ficar de castigo pelo resto da vida? Porque é isso
que vai acontecer se nossos pais te pegarem.
— Foi só uma festa, Jace. E algumas cervejas,
nada demais.
— Você não andou correndo a milhão por aí,
andou? — Ele demora um pouco para responder, e
eu não preciso ouvir mais nada. O filho da puta
estava correndo na noite passada. Levanto tão
rápido que a cadeira cai, o baque ecoa pela
lanchonete chamando atenção na nossa direção.
Mas não me importo porque numa fração de
segundos minhas mãos estão agarrando Cam pela
camisa, forçando-o a me encarar nos olhos.
— Me diga que não estava participando da
porcaria de um racha ontem, Cam. — Silêncio. —
Porra, você estava em um racha, e com a cara cheia
de bebida?

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— Não estava bêbado, Jace.


— Mas que inferno! Você podia ter se
machucado, porra! Podia ter machucado alguém.
— Não aconteceu nada.
— Dessa vez, não, mas e na próxima? Caralho,
Cam! Acabei de sair da prisão, não é um lugar onde
eu gostaria de ver você. Dá pra entender isso,
porra!? — Cam me encara por alguns segundos,
engole em seco e apenas balança a cabeça,
concordando. — Me prometa que não vai mais
fazer essa merda, Cam.
— Não vai acontecer de novo. Pode deixar, Jace.
— Analiso sua expressão, Cameron pode enganar a
todos, mas se existe alguém para quem ele não é
capaz de mentir, esse alguém sou eu. Solto-o e o
puxo para um abraço.
— A prisão é não é um lugar qualquer, Cam. É a
própria definição do inferno. Mantenha os pés do
lado de fora de lá, tá bom?
— Tudo bem.
— Se acontecer de novo, quem vai ter essa
conversa com você serão a mamãe e o papai. —
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Bato de leve na sua cabeça e ele reclama, mas


entende o aviso.
Olho em volta e peço desculpas pelo show. Os
funcionários já estão acostumados com um pouco
de ação vinda da nossa família, meu pai e tio Oliver
já protagonizaram alguns discursões bem
interessantes aqui.
— Posso te fazer uma pergunta? — diz assim
que termina o café.
— Manda.
— Você e a Sky, hum... vocês...
— Não vou falar sobre esse assunto.
— Ah, qual é, Jace! Eu vi o jeito que você estava
no apartamento dela, e não me deixou levar a Hori
mais cedo, então alguma coisa rolou ali.
— Não rolou alguma coisa em lugar nenhum,
Cam. — Não minto, o que aconteceu lá foi muito
mais do que simplesmente alguma coisa.
— Certo, já entendi que não vai falar, mas
preciso saber de outra coisa. — Reviro os olhos e
ele prossegue. — Você era virgem, não era? —
Não consigo me controlar e sorrio. Merda. —
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PORRA!! — ele grita — Eu sabia, sabia!


— Quer fazer o favor de calar a boca?
— Como é que conseguiu essa proeza? Quero
dizer, todo esse tempo e nunca transou?
— Você já se apaixonou antes? — Ele pensa um
pouco antes de responder.
— Sou apaixonado por cada menina que agita os
cílios pra mim, ou que tenta me mostrar o decote.
— Você é um nojento. — Balanço a cabeça.
— Só estou sendo sincero, pare de me julgar.
— Quando você se apaixonar, vai saber o porquê
que eu escolhi esperar.
— Caramba, meu irmão! Se ela tivesse te
dispensado, você ia morrer virgem — Cam fala alto
demais, e isso atrai novamente os olhares curiosos.
Ótimo, valeu, bro.
— Vem, vamos treinar antes que eu passe fita
isolante na sua boca.
Levantamos e vamos direto para os tatames.
Ainda tem poucas pessoas, mas um grupo em
particular chama minha atenção.
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Pelo menos dez crianças estão sentadas, ouvindo


o instrutor atentamente.
— O que é isso? — pergunto a Cam. Nós
paramos para observar as crianças.
— É um projeto que começou pouco depois que
você foi preso. Papai e tio Oliver começaram esse
projeto, acho que na esperança de fazer a Sky
voltar a se interessar por alguma coisa, sei lá.
— E ela?
— Bem, digamos que Sky tem aparecido mais
por aqui desde que você voltou do que nos últimos
dois anos.
— Então, não deu certo?
— Para a Sky, não. Para as crianças? — Ele
aponta nelas, que agora estão de pé. — Com
certeza, sim. Tá vendo aquela menina ali? A com o
cabelo cheio de cachos?
— Sim, ela parece concentrada.
— É a Ms.
— Ms? Esse é o nome dela? — Cam sorri.
— Não, seu pai é viciado em M&M’s, então ele

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a chama assim desde que nasceu. Na verdade, nem


sei qual é o seu nome verdadeiro. O mais
interessante é que ela é protegida do papai e o tio.
— Protegida? — Nunca sabia de nada assim.
Colocamos nossas bolsas no chão e sentamos em
um banco para acompanhar a aula. Cam olha mais
uma vez nas crianças e volta a falar.
— Ms foi abusada quando tinha cinco anos. —
PUTA MERDA! — Não sei como papai a
conheceu, e nem conheço os detalhes da história, só
que o pai dela matou o cara que fez isso com ela, e
não de forma rápida. Ele o torturou por dias antes
de matar o doente, filho da mãe.
— E o que aconteceu?
— Pensa um pouco, Jace. Você espancou um
cara e passou dois anos na prisão, o que acha que
aconteceu com ele?
— Porra!
— Eu só sei que Ms apareceu aqui poucos dias
depois que você foi para a prisão, desde então, tudo
é financiado pela academia; escola, médico, tudo
que ela precisa, ela tem. Quando chegou, era mais
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retraída, mas faz tratamento com o melhor


terapeuta que o dinheiro pode pagar e está bem
melhor, socialmente falando.
— Não sabia que a academia estava dando esse
tipo de apoio às crianças.
— E não dá, as aulas e apoio escolar, sim. Esse
grupo que está treinando agora faz parte desse
projeto. Mas o apoio dado a Ms é diferente, é como
se fosse da família, sabe?
— Sei, é que não entendo porque eu não soube
disso antes.
— Vai saber. — Cam dá de ombros e ficamos
observando a aula. As crianças são boas, boas
mesmo, e Ms é uma das mais disciplinadas, ela me
lembra a Sky.
— Ms? — Cam grita chamando sua atenção. A
menina olha em nossa direção e sorri. De repente,
ela está correndo para nós.
— Cameron! — quase grita de tão animada,
antes de abraçá-lo. Cam é todo cuidadoso ao
retribuir o abraço.
— Ei, Ms! Como você está?
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— Bem, hoje fui muito bem nos treinos, você


viu? — Ela olha esperançosa.
— Opa! E, não fui o único a ver, meu irmão aqui
também. — Ms vira para mim como se somente
agora tivesse percebido a minha existência. — Ms,
esse é Jace, meu irmão. Ele acabou de chegar e eu
estava contando a ele como você é uma lutadora
maravilhosa.
— Igual a Sky? — Ela volta o olhar para ele,
parecendo nervosa.
— Acho que você é bem melhor do que ela, de
verdade. — Os olhos da menina se iluminam. — Só
não conta isso pra ela, tá? — Ele passa o dedo nos
lábios, no movimento clássico do fechar a boca
com um zíper. Ela imita o gesto e me olha de novo,
a desconfiança de antes, dando lugar a um sorriso
encantador.
— Muito prazer, Jace. Eu sou a Ms. — Ela
estende a mão, me cumprimentando. E quando ela
sorri novamente, é que eu percebo algo.
Seu pai e tio estão cuidando do que é meu lá
fora, e eu estou cuidando do que é deles aqui

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dentro.
Clarence!
— Puta merda! — Solto sem querer.
— Você falou palavrão!! — Ms fala e olha para
Cam.
— Peço desculpas, Ms. É que acabei de me
lembrar de uma coisa. E o prazer é todo meu em te
conhecer. — Dou o meu sorriso mais gentil.
— Hora de voltar para o treino. — Cam chama a
atenção dela.
— Tchau, Jace — ela se despede e dá mais um
abraço no meu irmão. — Tchau, Cam.
Ms sai saltitante de volta para o tatame. É
incrível a semelhança dela com Clarence, é uma
versão mais suave dele. Se é que isso é mesmo
possível.
— Terra pra Jace. — Viro o rosto e dou de cara
com meu irmão me observando. — Você está bem?
— Estou, é só que... Ela parece feliz — digo a
primeira coisa que me vem à mente, não quero
contar a Cam sobre Clarence, ou ele vai me fazer
inúmeras perguntas e posso acabar contando mais
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do que devo, inclusive sobre minha desconfiança


de que tem dedo dele na morte do Max.
— Ela está, eu te disse que tem recebido o
melhor de tudo que se possa imaginar, Jace. Ms fez
muito progresso desde que chegou aqui, é
impressionante.
— Feridas internas são mais difíceis de currar.
— Observo Ms derrubar uma oponente. — Mas
não são impossíveis, acredito que as cicatrizes
podem acabar praticamente imperceptíveis.
— Você está falando da Ms ou da Sky?
— Sinceramente? Acho que das duas. Apesar da
diferença de idade, ambas passaram por algo
semelhante, e mesmo assim, ainda são capazes de
sorrir.
— Sky tem sorrido muito mais desde que você
chegou, certeza que já percebeu isso — comenta
meu irmão e eu paro para pensar em suas palavras.
— Só espero que seja somente o início de mais
sorrisos assim, e principalmente — olho para Ms
—, o começo da cicatrização de suas feridas.
Cam e eu ficamos um tempo observando o treino
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das crianças. Meu irmão tinha razão, Ms lembra


Sky quando pequena, mesma determinação e
disciplina.
— Vem, Príncipe Disney, precisamos treinar. —
Pego a bolsa e bato na perna dele.
— Do que é que me chamou?
— Ah, qual é, Cam!!! Você é praticamente um
encantador de cães e — aponto para Ms —,
crianças.
— Idiota — resmunga, mas sorri quando dá
tchau a Ms, que abana a mão toda empolgada.
Como eu disse: Príncipe Disney.

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Chego no apartamento dos meus pais e sou


recebida com um abraço esmagador. Se tem uma
coisa que Oliver Willers jamais economiza comigo
é abraço. E eu retribuo na mesma medida, porque
não há outro lugar no mundo que eu me sinta mais
segura do que nos braços do meu pai. A não ser por
ontem à tarde... Nos de Jace, eu também me senti
assim.
Merda.
Então, me lembro de suas últimas palavras... Não
vou te dar só tempo, vou te dar espaço também.
Mais uma vez. Caramba, o que é que eu vou fazer
agora?
— Ei... — Eu me assusto com meu pai está
estalando os dedos na minha frente. Ótimo, agora
ele vai em encher de perguntas.
— Desculpa, acho que caminhei demais. —
Cacete, dou a desculpa mais esfarrapada que pode
existir. Ele me olha desconfiado, mas deixa passar.
— Eu perguntei se está com fome? — diz com
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uma sobrancelha erguida.


— Com certeza. — Seus olhos se iluminam com
a minha resposta e expressão alegre, ambos
esquecendo a minha gafe de segundos atrás porque
aquela sensação gostosa de lar toma conta de mim.
Uma coisa é certa: tenho vinte e sete anos, mas meu
pai ainda me mima igualzinho desde o dia que me
conheceu. E posso até me fazer de durona, mas eu
amo isso.
Ele me leva até a varanda onde uma mesa foi
posta para três, com uma infinidade de comida
sobre ela e eu me pergunto se vamos conseguir
comer tudo isso.
— Sua mãe irá se juntar a nós em breve. — Ele
beija minha cabeça e depois puxa uma cadeira para
eu me sentar. É isso mesmo, meu pai é um
verdadeiro cavalheiro.
Pequenos gestos como flores sem nenhum
motivo especial; jantares, bilhetes na geladeira,
tanto para minha mãe quanto para mim. Ele sempre
fez esse tipo de coisa. Eu tenho guardado até hoje o
primeiro bilhete que me deixou, lembro-me de
como chorei quando o vi.
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Nunca tinha tido um pai atencioso antes, e ter


tudo num mesmo pacote chamado “Oliver Willers”
foi como viver um conto de fadas. Eu virei uma
princesa – a sua princesa – e ele fazia questão de
demonstrar isso.
Meu primeiro encontro inclusive foi com ele, o
que chega a ser engraçado. Eu tinha apenas treze
anos e ele me levou para jantar em Paris, em um
jatinho particular. Queria me mostrar – literalmente
– que eu merecia o mundo, e que qualquer homem
que me oferecesse menos, não era digno de mim.
Eu o amo tanto por ser assim, exatamente como
é.
— Você está diferente — comenta enquanto
sirvo café para nós.
— Não, eu não estou.
— Está com um sorriso bobo no rosto. — Meu
sorriso amplia, ele tem razão.
— Estava apenas me lembrando.
— Boas lembranças?
— As melhores. — Entrego uma xícara de café a
ele e depois pego a minha.
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— Então, acho que ontem esbarrei em um certo


cachorro branco na recepção. — Oh, droga.
— Hum... — Bebo um gole do meu café,
tentando ganhar tempo para pensar no que dizer.
— Aconteceu alguma coisa para que a Hori
passasse o dia com Cam?
— Hum... — murmuro novamente, e bebo mais
um pouco de café. Mil vezes droga. Caramba.
— Vai responder assim a tudo que pergunto? —
Tiro os olhos da xícara, mas droga, ela bem que
parecia interessante agora. Meu pai continua me
olhando, com um sorriso no rosto, um que diz: te
peguei, nem adianta disfarçar.
— O café está muito bom. — Isso, Sky, quanta
maturidade.
— Lembra de quando me apresentou seu
primeiro namorado? — Solto um gemido, claro que
me lembro. — Você está agindo dessa mesma
forma, como se quisesse me contar algo, mas não
sabe como. Bem, acredito que não tem mais
dezesseis, não é mesmo?
Está de brincadeira comigo? Porque eu acho
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que ainda me trata assim. Tenho vontade de


responder, mas antes que eu possa falar mais
alguma idiotice, minha mãe aparece.
— Bom dia. — Seu sorriso é tão grande que eu
estremeço, tendo total consciência do motivo. Ela
beija meu pai antes de me dar um beijo no meu
rosto. — Como você está, querida?
— Estou bem.
— Muito bem. — Meu pai me corrige e eu dou a
ele um olhar assassino, que nem se incomoda.
— Isso é bom, não é? — Ela olha entre mim e
meu pai, confusa obviamente.
— Recebi uma carta hoje. — Mudo de assunto.
— Uma carta da Confederação.
— E? — Meu pai mantem a postura estoica, e
fico me perguntando quantos pauzinhos ele mexeu
para me enviarem aquele convite.
— Não sei, ainda não tive tempo de abrir. — Sou
sincera.
— Mas, você vai? — minha mãe quem pergunta
dessa vez.
— Abrir? Claro que sim. — Ela olha para o meu
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pai com preocupação estampada no semblante, e


com esse gesto, percebo que estão me escondendo
algo. — O que vocês sabem sobre isso?
— Nada. — Os dois respondem ao mesmo
tempo. Seria bem fofo, se não estivessem
escondendo algo de mim.
— Mãe, você mente tão mal. — Ela olha para a
xícara de café, boa tentativa, mas eu conheço esse
truque e tentei usá-lo cinco minutos atrás. — Pai?
— Vai acontecer um torneio, e essa carta deve
ser o convite oficial.
— Estou afastada há muito tempo, como é que
ainda podem se lembrar de mim?
— Ninguém se esquece dos melhores, Sky —
declara com convicção, mas eu sei que teve dedo
dele nisso tudo. — Surgiu uma desafiante, e ela
quer lutar com você.
— Não estou preparada para participar de um
torneio.
— Não é uma luta oficial, será realizada para
arrecadar fundo para algumas instituições.
— Que instituições?
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— ONGs de apoio a mulheres que sofreram


abuso — minha mãe explica e eu levo meu
primeiro gancho de direita. Em cheio.
— E-Eu não sei se estou pronta — gaguejo.
Abaixo a cabeça e, de repente, minhas mãos são
cobertas, por duas calorosas e suaves. Uma da
minha mãe e outra meu pai, me dando apoio.
— Sei que tem treinado todo esse tempo quando
a academia está fechada. E que continua com a
alimentação balanceada e com a mesma rotina de
exercícios. A atleta está dentro de você, Sky. — Ele
aponta para o meu coração. — E não é porque está
fora do ringue que significa que está fora de forma.
— V-Você acha? A-Acredita mesmo que sou c-
capaz disso? — Minha voz sai entrecortada, e nem
percebo que estou chorando.
— Jamais deixei de acreditar em você, princesa.
— Ele beija minha mão, minha mãe concorda com
a cabeça, e também está chorando.
— Eu tenho quanto tempo até a luta?
— Quinze dias — responde meu pai com total
naturalidade. Como diabos vou me preparar para
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uma luta em quinze dias? Como se estivesse lendo


meus pensamentos, ele acrescenta. — Você é uma
Willers, Sky. Você consegue!
Encosto as costas na cadeira, ponderando suas
palavras. Eles soltam minha mão, e pacientemente,
aguardam uma resposta. Parece que passa uma
eternidade enquanto fico olhando na mesa.
Dois anos, tem dois anos que minha vida
congelou. Dois malditos anos que não fiz nada
além de ser uma mera expectadora da vida. Max
está morto, não poderia me tocar de novo. Jace fez
amor comigo como nenhum outro jamais fez. Meus
pais estão aqui, como sempre sendo amorosos
comigo. Aliás, todo esse tempo, foi o que minha
família tem feito, me amar.
Finalmente, minha ficha cai e é como receber
meu segundo soco, só que dessa vez, eu ia revidar.
— Eu consigo fazer isso.
A declaração sai da minha boca antes mesmo
que do pensamento terminar de se formar na
cabeça. Minha mãe tem lágrimas escorrendo pelo
rosto, e meu pai... Nossa, seu olhar é puro orgulho,

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confiança, e de amor incondicional. O mesmo olhar


que sempre me dava antes que eu subia em um
ringue.
O mesmo que ele me deu quando abri a porta há
mais de vinte anos, quando ele foi atrás da minha
mãe.
Depois de meu pai me convencer de que preciso
voltar a treinar, pergunto se ele está disposto a ser
meu treinador de novo. É, posso jurar que vi os
olhos do Fenômeno Oliver Willers marejados.
Nesse momento me dou conta de que tenho dois
grandes desafios pela frente: voltar a ser a lutadora
de antes e convencer Jace de que seu amor por mim
é recíproco.
Eu o amo, muito e na mesma intensidade que ele
me ama, e minha reação diante de suas palavras
antes de ele sair de casa foram mais que suficientes
para me mostrar isso. Mas eu queria que ele tivesse
o melhor que existe em mim, não apenas a sombra
que me tornei. E só serei capaz de dar isso a ele
quando eu superar a primeira barreira.
A minha volta aos ringues.

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ESTOU TERMINANDO O TREINO COM CAM


quando sinto a presença dela, meu corpo age por
instinto, não consigo evitar e viro para vê-la. É
como se uma força me atraísse, esse é o poder que
Sky tem sobre mim, sempre teve.
Vejo-a entrando com tio Oliver, eles parecem
bem sérios. Droga, será que aconteceu alguma
coisa?
— Já terminamos? — Cam me entrega a toalha.
— Sim, acho... — Seco o rosto sem tirar os olhos
dela.
— Vou tomar banho, você vem? — Então, Cam
vira na direção para onde estou olhando. — Oh,
acho que não. Te vejo mais tarde. — Ele pega a
bolsa e sai para o vestiário.
Odeio como as pessoas me conhecem tão bem
quando se trata dela.
Ainda sinto a raiva pairando na superfície, a
discussão que tivemos mais cedo ainda está muito
fresca na memória. Desse modo, para evitar
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qualquer briga desnecessária, pego minhas coisas e


também sigo para o vestiário. Infelizmente, para
meu azar, ouço tio Oliver me chamar.
Mas que droga!!! Não poderia ficar pior.
— Está de saída? — pergunta quando me
aproximo, Sky apenas me observa. Noto que está
com uma bolsa de academia nos braços. Será que
ela vai treinar?
— Na verdade, não. — Minha resposta faz os
olhos dela estreitarem, desconfiada.
— Excelente! Lembra-se de quando treinava
com a Sky? — O rosto dela empalidece. Bem, acho
que ter ficado acabou valendo a pena porque tudo
começou a ficar bastante interessante.
— Pai, não precisa — ela argumenta com a voz
tranquila, mas eu a conheço como ninguém. Se tem
uma coisa que ela não está nesse momento, é
calma.
— Sem problemas, eu posso treinar com ela. —
Meu tio apenas sorri, um sorriso um tanto estranho,
mas que resolvo ignorar me concentrando em Sky.
— Quer que eu te ajude com o quê?
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Quando éramos mais jovens, eu sempre


participava de seus treinos. Acho que meu tio
adorava quando ela chutava minha bunda no
ringue.
Nesse esporte, eu meio que puxei ao meu pai,
pratico só por diversão. Enquanto que para Sky é
por puro amor, boxe para ela é tão importante
quanto respirar. Ou melhor, era.
— Se estiver de saída, não tem problema, Jace. É
apenas um aquecimento, não é grande coisa. — Ela
tenta me dispensar, mas posso sentir sua hesitação
tanto no tom de voz quanto na postura que me quer
aqui com ela, mas ainda insiste em resistir.
— Você vai lutar em breve, Sky! É grande coisa,
sim. E outra, Jace sempre foi muito bom no ringue
quando treinavam juntos. Ele conhece seus
movimentos, use isso a seu favor. — Ela vai lutar?
Essa informação me pega de surpresa.
— Você vai lutar? Quero dizer, uma luta de
verdade? — Não consigo conter meu espanto e ela
fica toda rígida.
— Meu pai está exagerando, ainda não confirmei

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nada. — E olha feio para ele, mas também vejo o


vislumbre de um brilho desafiador. Meu peito se
aperta de euforia.
— Sei do que estou falando, basta que ela suba
no ringue. — Sky bufa.
— Vou trocar de roupa — avisa, saindo depressa
para o vestiário.
— Jace? — meu tio chama minha atenção e tiro
rapidamente os olhos da bunda de sua filha.
Caramba, estou muito ferrado! — Vem aqui um
instante.
Ele coloca a mão no meu ombro, e não de um
jeito gentil, um aperto que me faz gemer. Porra, ele
ainda é uma força a ser respeitada.
Nós sentamos no banco que fica de frente para o
ringue, ao vê-lo assim tão próximo, sou arrebatado
pelas lembranças.
Memórias de quando treinávamos juntos. Dos
sorrisos dela quando me derrubavam, ou da cara
zangada quando meus golpes a atingiam. Da
maneira como arrumava o cabelo fazendo aquelas
tranças caindo de cada lado do rosto, ou da forma
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metódica que ela enrolava as faixas nas mãos.


— Merda, Jace! Está ouvindo alguma coisa do
que eu estou dizendo? — meu tio reclama e eu
pisco. Porra, meus pensamentos foram longe agora.
— Desculpe, estava apenas me recordando. —
Ele suspira, depois dá um tapa na minha cabeça. —
Porra! Isso dói!!! — Ele sorri satisfeito.
— É só prestar atenção que não vai acontecer de
novo.
— Pode falar — resmungo me sentindo um
adolescente.
— Esteve com a Sky ontem? — Ele é direto,
assim como seus ganchos. Eu já mencionei que
estou muito ferrado?
— Se está me perguntando sobre ontem, é
porque ela não te contou nada. Sinto muito, tio,
mas ela é a única que poderá te responder a respeito
disso. — Ele dá um meio sorriso, parecendo
satisfeito com a minha resposta.
— Eu percebi o jeito como olha para ela,
moleque. E não é de hoje que notei. — Tenho
vontade de dizer que já sei disso, mas fico calado.
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— Não existe ninguém mais nesse mundo que eu


confiaria a minha princesa a não ser você, Jace.
Fico encarando ele por alguns segundos, ele
volta a olhar no ringue e um clima nostálgico cai
sobre nós quando ele começa a falar novamente.
— O que aconteceu com ela... — Ele pausa,
puxando uma respiração profunda. — Eu me culpo
todos os dias.
— Você não teve culpa. — Sou sincero. — Nem
ela. — Acrescento.
— Sou o pai dela, Jace. O homem que jurou
protegê-la, mas que não estava lá quando ela mais
precisou.
— Também jurei que ia proteger a Sky, e estava
lá, tio. Se formos falar sobre culpa, então comece
por mim, porque eu não podia ter deixado ela sair
naquela noite.
— Só que nós estamos falando da Sky, não é? —
Ele sorri um pouco triste. — Ela é igualzinha a
Bree; se quer fazer algo, vai fazer. E passará por
cima de quem for preciso, se alguém entrar em seu
caminho. Essa segunda parte pode me dar os
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créditos. — Sorrio. Sim, ela é exatamente como ele


nesse sentido.
— Humm... Tio, o que você quer com essa
conversa toda? — pergunto. Sei que ele quer falar
algo e está apenas testando o terreno.
— Você a ama. — Eu abro a boca para retrucar,
mas ele me interrompe. — Nem tente argumentar,
seu olhar é o mesmo que eu tinha quando me
apaixonei pela Bree, seu pai nunca perdia uma
oportunidade de me atormentar sobre isso. —
Dessa vez, sou eu quem está sorrindo. — Ela está
com medo, Jace, medo de subir naquele ringue,
medo do que está sentindo por você.
— Não acredito que ela sinta algo por mim. —
Pelo menos, não a mesma coisa que eu, penso.
— Ela sente sim, Jace. E muito mais do que se
permite. Sente amor e culpa ao mesmo tempo e isso
está consumindo seu espírito. Mas ela confia em
você, sorri com e para você.
— Tio, eu...
— Se tem alguém capaz de convencê-la a subir
nesse ringue, Jace, é você. Só você pode dar a ela a
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confiança que precisa para tentar voltar a ser ela


mesma. Sky não está totalmente perdida, senti o
sorriso dela quando me ligou hoje de manhã, e eu
sei que foi por sua causa.
— Eu nem sei o que dizer. — Fico atordoado por
suas palavras, meu tio e eu sempre tivemos uma
relação próxima, mas esse tipo de conversa,
principalmente envolvendo Sky, me deixa confuso.
— Não desista e traga a minha princesa de volta,
Jace. — Eu o observo e vejo seus olhos carregados
de emoção. — Tenho certeza de que você
consegue, está de volta tem poucos dias, e já existe
brilho onde só havia escuridão. Você é a luz dela,
garoto. — Sua voz vacila antes de continuar. — E
eu tenho fé em você.
— Eu... — Ele levanta, eu também.
— Não me decepcione. — Ele coloca a mão no
meu ombro. — Ou eu mesmo te dou uma passagem
de ida para o hospital. — Tio Oliver pisca e sai, me
deixando mergulhado num caos de pensamentos.
Orgulho, euforia, medo, espanto... respeito.
Não sei o que dizer, ou pensar. Mas só ele para

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começar uma conversa falando sobre sentimentos e


terminar com uma ameaça.
Não demora para que Sky volte do vestiário. Eu
ainda estou sentado no banco quando ela entra no
meu campo de visão. Bolsa de academia no ombro,
legging preta, top de treino, tranças feitas e as luvas
na mão direita. Linda, nunca vou me cansar de
admirar sua beleza. Sua cabeça está baixa, como se
pretendesse se esconder dos olhares de todos.
É, todos na academia estão com os olhos nela. A
minha garota está prestes a subir no ringue depois
de dois anos e pelo jeito parece ser a porra de um
grande acontecimento. E é, sempre que se trata de
Sky usando suas luvas de boxe.
— Ei! — Eu me aproximo dela. Seu sorriso é
tenso, e não alcança os olhos.
— Ei. Onde está meu pai? — Ela dá uma olhada
em volta.
— Não faço ideia, mas me pediu que te ajudasse.
— Claro que pediu. — Revira os olhos, e eu não
contenho o sorriso.
— Vamos, não é como se nunca tivéssemos feito
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isso antes. — Pego a bolsa que está no seu ombro e


a levo para o banco. — Suas faixas estão na bolsa?
— Ela abre a bolsa e me entrega sem tirar os olhos
de suas mãos trêmulas, e eu queria que esta
academia estivesse vazia para que eu pudesse
abraçá-la.
— É tão difícil assim? — pergunto e ela ergue o
olhar, engolindo em seco.
— Um pouco.
— Tudo bem, então apenas se concentre em
mim, ok?
— Jace, eu... nós precisamos conversar.
— Não retiro nenhuma palavra do que eu disse,
Sky. Eu quero você, mas apenas quando estiver
pronta. — Ela solta uma respiração exasperada. —
Me deixa te ajudar.
Pego suas faixas e começo a envolver seus
pulsos, sem um pingo de pressa. Sempre foi uma
espécie de ritual nosso, eu as colocava antes que ela
entrasse no ringue. Pensar nisso, faz meu estômago
vibrar, e não de uma maneira ruim. O tempo todo
ela não tira os olhos de mim, não sei se por medo
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ou se está pensando a mesma coisa que eu. Espero


que seja a segunda opção.
— Pronta? — pergunto depois que termino de
colocar suas luvas. Ela parece que vai vomitar.
Seguro seu braço e a ajudo a levantar. — Você
consegue fazer isso, Sky. Será nós dois lá em cima.
— Eu não sei, Jace. — Ela está insegura. Porra,
ela nunca foi insegura, não quando se tratava de
uma luta.
— Lembra quando te dei um sapo de presente?
— Tento aliviar a tensão.
— O que isso tem a ver com o treino? — Ela me
olha confusa.
— Você sentiu raiva naquele dia? — Ainda não
entendeu a minha intenção, mas logo irá.
— Sim, mas isso faz anos, Jace! Éramos
crianças. — Bom, sua expressão passou de insegura
para irritada. Muito bom, Jace! Estamos quase lá,
Sky. Só mais um pouco e estará no ponto certo.
— Quando discutimos hoje, sentiu raiva? — Seu
rosto fica vermelho enquanto pensa por alguns
segundos.
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— Sim.
— Use essa raiva, descarregue-a em mim, lá em
cima — digo, apontando para o ringue.
— Não estou com raiva de você, Jace. — Isso
me surpreende. — Estou com raiva de mim.
Certo, por essa eu não esperava.
— Então, tire essa raiva de você, concentre ela
nos punhos.
— Não é tão fácil, Jace.
— Faça isso por mim. — Seus olhos arregalam,
ela também não esperava por esse pedido.
— Você não está sendo justo.
— Não sou justo, Sky, sou realista. Você
consegue, sempre conseguiu, não deixe que um
babaca igual ao Max te deixe pensar o contrário. —
Noto o corpo dela enrijecer com menção do Max.
— Jace, pare... — ela me adverte.
— É você quem tem que parar, que precisa
deixar de viver no nada, Sky. Precisa enxergar, de
verdade, tudo que está a sua volta, só esperando por
você.

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— Eu decepcionei todo mundo.


— Não, mas vai, se desistir de lutar. E quando eu
digo lutar, não estou falando apenas sobre a parte
física. — Ela sorri um pouco.
— Será você e eu? — Sky me olha com
expectativa.
— Sempre foi, Sky. Só você e eu. — Ela sorri e
nós subimos no ringue.
Alguns instantes depois, alguém me entrega os
aparadores, mas eu nem vejo quem é porque estou
focado nela.
Vamos para o meio do ringe, e a magia começa a
acontecer. Ela inicia dando pequenos socos, todos
fracos e eu nem mexo os pés do lugar.
— Você foi mais forte quando me puxou para a
cama. — Ela me encara surpresa. Então solta um
gancho de direta que acerta o aparador em cheio.
Dou um passo para trás.
— Bom, mas ainda fraco, eu mal me movi. —
Um lampejo de irritação passa pelos olhos dela, sei
como ela se sente quando não atinge seu máximo.
Vou usar isso a favor dela.
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Sky dá alguns jabs mais fortes, eu olho de


relance e vejo meu tio observando. Sua expressão é
indecifrável. Ele está com os braços nas cordas,
olhando cada movimento. Nesse momento de
distração, ela acerta um soco tão forte que eu tenho
dificuldades em manter o equilíbrio.
— Owww!! O que foi isso? — Ela dá um
pequeno sorriso.
— Isso, foi eu te derrubando. — Caramba, como
gosto desse tom.
— Vai precisar se esforçar mais, princesa. —
Pisco, mas ela não vacila.
Sky volta aos movimentos, repetindo-os várias
vezes. Ouço quando tio Oliver começa a gritar
diversas orientações.
A guarda, Sky! Melhore essa guarda!
Separe os pés!
Seu gancho precisa de mais impulso!
Observo encantado enquanto ela absorve cada
ordem sem nem precisar olhar nele, o suor começa
a escorrer pelo seu rosto, deixando-a com a
aparência selvagem.
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Porra, se não começar a me controlar desde já,


não vai demorar para eu ficar de pau duro.
— Já chega — meu tio brada. — Vá para a
corda, Sky.
Ela assente, ainda ofegante e me olha. Eu noto a
mudança, a pequena fagulha que acendeu em seus
olhos.
— Obrigada! — sussurra antes de descer do
ringue para fazer o próximo exercício.
— Bom trabalho. — Olho para o meu tio, que
está parado no mesmo lugar. — Vá pra casa, Jace.
— Eu posso ficar mais.
— Sei que pode, mas eu não quero.
— Tio...
— Amanhã te espero no mesmo horário aqui. E
traga suas luvas, quero ver como ela se sairá,
lutando com você.
— Tudo bem — concordo derrotado, porque eu
sei que ele não vai me deixar ficar. Posso conhecer
a Sky, mas se tem alguém que entende a lutadora
que existe dentro dela, é Oliver Willers.

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E agora que ele a tem de volta, não vai deixar


que ela escape novamente. É isso que eu amo nessa
família. Nunca desistimos daquilo que amamos, ou
de quem amamos.
Pego minhas coisas e me preparo para sair. Dou
uma última olhada nela, a corda passa tão rápido
quando ela pula que mal dá para ver. Meu tio está
ao seu lado, observando sua concentrada nos
movimentos. Ela, claramente, está em forma. E eu
me pergunto se algum dia não esteve.

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Estou exausta quando chego no meu


apartamento. Meu pai me fez treinar durante quatro
horas. Quatro malditas horas com ele praticamente
sugando meu sangue. Acho que nenhum líquido
saíra mais do meu corpo, já que fazia muito tempo
que eu não transpirava tanto. Estou pegajosa e
sonhando com um belo banho.
Só de pensar nisso fico animada. Água quente,
banheira. Jace.
Sinto o coração parar por um segundo quando
coloco a chave na fechadura para abrir a porta.
Olho na direção do apartamento dele e não percebo
nenhum movimento. Queria muito vê-lo agora, há
tantas coisas a serem ditas. Mas ele merece ouvi-las
em um momento que eu não esteja tão pegajosa, ou
exausta.
Balanço a cabeça e me forço a abrir a porta. Meu
apartamento está quieto, o que é bom. Hori vem
para me cumprimentar, mas o que chama mesmo a
sua atenção é a sacola que está na minha mão. Meu

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pai me acompanhou até aqui e no caminho paramos


em um restaurante para pegar comida.
— Você já tem a sua comida, Hori — brinco
com a ela e coloco a sacola no balcão. Indecisa
sobre o que fazer primeiro: comer ou banho?
Minha barriga ronca alto. Comida, será. Pego os
talheres e vou para o sofá, sem me preocupar em
retirar da embalagem.
Enquanto aprecio minha comida, penso no meu
pai e no sorriso estampado em seu rosto ao ouvir
que eu aceitaria o desafio. Mesmo quando disse
aquilo mais cedo na casa dele, sabia que ainda não
tinha nada certo até que eu estivesse no ringue.
Meu pai me conhece tão bem, é fofo, e
tremendamente assustador.
Depois de comer, finalmente tomo meu tão
merecido banho. Quase durmo no chuveiro, de
tanto cansaço. Mas essa sensação não me
incomoda. Meus músculos doloridos só me
lembram de que estou viva.
Que Max não tirou isso de mim, ele pode ter
pego emprestado por um tempo, mas eu estava

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disposta a retomar o controle de tudo.


Minha confiança, determinação, e
principalmente, dos meus sonhos.
Eu ia recuperá-los, nem que tivesse que arrancar
eles de seu túmulo.

***
Estou no meio de um filme quando a campainha
toca. Meu coração acelera e as palmas começam a
suar. Nossa, quando é que comecei a ser assim?
Quando começou a pensar ser Jace na porta. Ou
melhor, a torcer para que fosse ele batendo em sua
porta.
Pauso e filme e vou abrir com Hori logo atrás.
Assim que abro, tenho uma bela surpresa ao dar de
cara com a minha mãe.
— Mãe? — Pergunta desnecessária porque
minha mãe costuma me visitar, porém, raramente
aparece sem avisar. Eu me afasto para deixá-la
entrar.
— Está sozinha? — pergunta e logo me abraça.
— Sim, estava vendo um filme. Aconteceu
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alguma coisa?
— Não, mas eu queria conversar um pouco com
a minha filha. — Eu sorrio.
— Você quer beber alguma coisa? Água, chá? —
ofereço quando ela senta no sofá.
— Estou bem, meu amor. Apenas, sente-se aqui.
— Ela aponta para o lugar vazio ao seu lado. Faço
conforme ela pede, mesmo achando estranho. —
Como você está?
— Estou bem.
— Vou reformular. Como você está, depois de
ter treinado? — Ela é pontual.
— Bem, mãe. Estou me sentindo realmente bem.
— Sou sincera.
— Seu pai me contou como foi na academia.
— Imaginei que contaria. — Meu sorriso se
alarga.
— Não consigo nem começar a dizer o quanto
estou feliz, Sky. — Ela aperta a minha mão. —
Bem, vim aqui porque gostaria de te contar uma
história.

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— Uma história?
— Sim, quero te contar a minha história; minha e
do seu pai.
— Mas...
— Quero que você saiba como foi que eu
conheci o Oliver.
— Mas vocês já me disseram. Foi em Vegas, não
foi? Em um torneio, se conheceram em um hotel.
— Sim, mas quero que saiba os motivos que me
levaram a estar naquele hotel. Devia ter contado
isso há muito tempo, você já é adulta. E... — Uma
lágrima escorre pelo rosto dela. — Depois de tudo
que você passou, sinto que te devo essa conversa.
Eu me sinto tão mal por não ter dito nada antes.
— Mãe, eu não estou entendendo.
— Mas vai, vou te contar tudo, só me deixe
tomar um fôlego.
Então, ela abre seu coração. Minha mãe começa
a narrar sua história, desde quando era casada com
meu pai biológico, até o momento em que
conheceu Oliver, o único pai que importa para
mim.
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Enquanto ouço suas palavras, meu Deus, preciso


respirar fundo diversas vezes. Posso ter vinte e sete
anos, mas quando sua mãe abre o jogo e despeja em
cima de você que conheceu seu pai quando estava
fazendo programa, eu meio que me senti uma
criança. Uma garota de programa.
Nós nos abraçamos e choramos depois de contar
sobre uma péssima experiência com um cliente, e
que logo em seguida, conheceu meu pai. Disse que
se apaixonou por cada detalhe dele, e pela maneira
que a fazia se sentir. Senti raiva quando mencionou
o quanto ele havia sido um grande babaca por causa
de um mal-entendido. Mas amei – absurdamente –
quando disse o quanto ele a amou depois daquilo, e
que não queria que eles se separassem.
— E mesmo assim ainda passaram um ano
separados? — pergunto, limpando as minhas
lágrimas.
— Oliver sempre foi muito focado. Ele tinha um
objetivo determinado, iria persegui-lo, e nada mais
importava.
— E o amor? Não era importante?

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— Nosso amor é verdadeiro, Sky, e esse tipo de


sentimento não muda. Nós estávamos destinados a
ficar juntos, sabia disso do fundo do meu coração.
Oliver também tinha essa certeza, nós apenas
adiamos até que pudéssemos estar por inteiro um
para o outro.
— Estar por inteiro? — digo com a voz
embargada.
— Sim, nós precisávamos desse tempo, Sky, e
não nos arrependemos disso.
— Entendo vocês. — E entendia mesmo, porque
é exatamente o que Jace merece, me ter por inteiro.
Mas sei que não tenho um ano para resolver tudo
que preciso.
— Acredito que entenda, é por isso que eu te
contei a minha história. Você não precisa ter medo
de amar, meu anjo. Seu pai me ajudou como
nenhuma pessoa pôde, e Jace está fazendo o mesmo
por você. E se isso não é amor verdadeiro, então
não sei de mais nada nessa vida. — Ela sorri com o
comentário.
— Mas não tenho todo esse tempo. Jace está

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chateado, nós tivemos uma discussão e as coisas


não estão muito bem — confesso.
— Em poucos dias, você voltará ao ringue, e
algo me diz que nesses poucos dias, você
conseguirá ouvir seu coração.
— Espero que sim. — Sorrio de volta.
Ficamos conversando por um tempo. Ela me
conta tantas coisas – boas e ruins – que fico feliz
em ouvi-las. E acabo percebendo o quanto eles me
amam, e todos os sacrifícios que fizeram para me
proteger.
Nossa conversa se estende pela noite, e pouco
depois meu pai se juntando a nós, trazendo o jantar.
Estou tão feliz em tê-los aqui, desde que me mudei,
nunca fizemos isso no meu apartamento.
E quando vão embora, olho para a porta do Jace
com um desejo enorme de ir até lá, a vontade de me
enrolar em seus braços é esmagadora.
Só que ainda não estou inteira. Mas em breve,
estarei.

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DEZ DIAS DEPOIS, SKY E EU ESTABELECEMOS


uma rotina. Eu corria cedinho com ela antes de ir
para faculdade. Uma corrida intensa, e sem
conversas. O único som além de nossas respirações
era da mesma música tocando em nossos celulares.
Concentração total, determinação e foco.
Também não fui mais ao apartamento dela,
minhas aulas estavam consumindo todo o tempo
que eu tinha. Não que estivesse reclamando da
faculdade... Quer dizer, estava sim, pelo menos um
pouco. Já que os estudos me tiraram algumas horas
do dia com ela.
Mesmo correndo, suados e sem dizer uma
palavra, esse momento era a melhor parte do meu
dia. Sim, meu coração é fraco quando se trata da
Sky, coisa que já mencionei antes.
Estou segurando dois livros de direito quando
saio da biblioteca. Preciso terminar um artigo extra
porque pretendo compensar o tempo passado na
cadeia, e por mais que eu tenha estudado um pouco

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nesse período, não é a mesma coisa. O nível e


cobranças daqui são totalmente diferentes.
— Precisa de ajuda? — pergunta Tea, minha
colega de classe, sorrindo quando nos encontramos.
— Está tudo sob controle, obrigado. Já está
pronta?
— Tudo em mãos. — Batendo na mochila. Tea
está indo comigo para casa, faremos esse artigo em
dupla e provavelmente iremos virar a noite
estudando.
Certamente, estarei um caco para correr com a
Sky amanhã.
Ela me acompanha até o meu carro, e logo
estamos indo para casa. Tea tem sido uma grande
amiga desde que comecei as aulas. Ela é
determinada, e está entre as melhores da turma. Eu
meio que quero roubar esse lugar, ela gargalhou
quando contei isso a ela.
— Pizza ou japonês? — pergunta, olhando os
cardápios. Depois que chegamos, nos acomodamos
na sala, e em pouco tempo, fica rodeada por livros
e dois notebooks sobre a mesa de centro.
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— Qualquer coisa pra mim, está bom — digo


sem tirar os olhos da leitura.
— Você é tão fácil de agradar, Jace.
— Nenhum pouco, acredite em mim. — Ela sorri
e depois liga para fazer o pedido.
— Nossa, ainda tem tanta coisa pra ler. Tem
certeza de que não tem problema ficarmos a noite
toda fazendo esse artigo?
— Nenhum. Fica tranquila. — Tento acalmá-la,
percebendo seu tom preocupado.
— Sério, Jace, só está falando desse jeito para
me encorajar, mas estou me sentindo culpada.
— Estou falando sério, Tea. Eu não me importo,
quanto mais cedo terminamos, melhor.
Ela sorri e volta para os livros. E não ligo
mesmo, quanto mais cedo a gente se livrar desse
trabalho, mais tempo vou ter com a Sky. Porra,
estou com tanta saudade dela. Foi por isso que
aceitei fazer esse artigo hoje, e internamente,
agradeço a viagem de última hora da Tea. Ela vai
para Washington amanhã, e só volta daqui três dias.
O que encurtaria nosso prazo, e Tea é determinada
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quando se trata de suas notas.


Estamos em silêncio e concentrados, reunindo
anotações quando a campainha toca. Tea e eu
discutimos sobre quem vai pagar a conta, e eu
ganho. Levanto depressa para atender a porta e sem
querer esbarro no meu copo de suco, ensopando
boa parte da camiseta. Sem pensar, tiro-a enquanto
caminho até a porta, a abro ainda sorrindo com a
piada besta da Tea pelo meu desastre. E sou
totalmente pego de surpresa quando vejo quem é.
— Posso falar com você? — Sky pergunta. Seu
cabelo está preso em um coque, com vários fios
soltos em volta do rosto, sua aparência é de alguém
que acabou de acordar.
— Hum... Oi, eu... hum... — Responde direito,
seu idiota!
— Jace, anda logo, estou faminta — Tea diz em
voz alta e Sky empalidece, ela dá um passo para
trás e me encara como se estivesse vendo um
fantasma. — Anda, Jace, estou com fome.
Tea aparece e coloca a mão no meu ombro.
Merda!!! Estou só com uma calça de moletom por

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causa do maldito suco derramado. E minha amiga


está de camiseta e short jeans. Bastante confortável.
Caralho!!! A cena toda tem ar de intimidade.
— Oi — Tea cumprimenta, simpática.
— Oi — Sky responde, mas não tira os olhos de
mim.
— Tea, essa é a Sky, ela é a minha...
— É a sua prima? — comenta Tea, e vejo o
exato momento em que o brilho no olhar da Sky se
apaga. — Jace me contou muito sobre você. — Ela
estende a mão e eu temo que Sky acabe esmagando
a mão dela.
Cacete! Tea está certa, sempre estou tocando no
nome da Sky, e posso ter mencionado que somos
primos. Estou muito, muito ferrado.
— Bacana, é um prazer te conhecer. — Sky está
com uma expressão no rosto que eu nunca vi antes.
Bom, pela forma que Tea sorria, acredito que ela
não esmagou sua mão. Graças a Deus. — Já vou
indo, não quero atrapalhar.
— Nós pedimos comida e provavelmente vai dar
para um batalhão, porque não come com a gente?
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— Tea oferece.
Que merda é essa? Desde quando perdi a
porcaria da capacidade de falar? A única coisa que
faço é ficar parado, olhando as duas como se
estivesse assistindo a um jogo de tênis, ou algo
parecido.
— Obrigada, mas não quero atrapalhar, eu só
queria conversar com o Jace. Mas eu já vou indo.
— Tudo bem — responde Tea e vira para falar
comigo. — Vou voltar ao trabalho. — Sorri e eu
retribuo porque parece que só sei me comunicar
dessa forma agora. Reage, seu estúpido! — Foi um
prazer te conhecer, Sky — ela se despede e volta à
sala.
— Sky, eu... — Começo a falar, mas Sky me
interrompe.
— Mas veja só, você ainda fala — desdenha.
Respirando fundo, saio do apartamento e fecho a
porta.
— Estamos estudando, Sky. A Tea é uma amiga
da faculdade — explico, porém tenho a impressão
de que qualquer coisa que eu disser, não vai
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adiantar de nada.
— Legal, só que eu não perguntei nada, Jace. —
Aí.
— O que você queria conversar? — Eu dou um
passo até ela, e ela se afasta.
— Acho que o que eu queria perdeu totalmente a
importância no instante que eu vi a sua “amiga”. —
Ela dá ênfase na palavra amiga. — Boa noite, Jace,
tenha um bom jantar.
Com um timing perfeito, o entregador chega. É a
deixa que Sky usa para ir embora sem olhar para
trás.
Depois de receber e pagar a comida, volto para o
apartamento. Tea e eu comemos e logo voltamos ao
artigo, mas agora perdi por completo a
concentração.

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Odeio amar Jace. Amá-lo dói, sempre doeu, de


maneiras que não consigo explicar. Já o vi com
algumas garotas antes, mas ele era um adolescente
e eu tinha minha vida. A faísca entre nós sempre
existia, mas depois que fizemos amor pela primeira
vez, essa faísca se transformou um incêndio dentro
de mim.
E eu não consigo apagá-lo.
Não se esquece Jace Willers, disso eu já sabia.
Mas agora, enquanto me arrumo para a corrida
matinal, a única coisa que quero é esquecê-lo.
Porque amar ele dói, dói pra caralho.
Se alguém me perguntasse: você trocaria o que
viu ontem por um soco direto no rosto? Minha
resposta seria: por favor, bata o mais forte que
conseguir! Porque só de lembrar da menina gentil
que estava com ele, me dava náuseas.
Eles estudam juntos, tem a mesma idade –
imagino – e mesmas ambições. Enquanto que eu
tenho o quê? Inseguranças em relação a nós dois, o
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medo da luta que se aproxima, e uma vontade louca


de matar aquela sonsa.
Tudo bem, matar pode ser um pouco pesado
demais, talvez alguns ossos quebrados me
deixassem satisfeita. Até parece.
— Vem, Hori. Vamos transformar essa raiva em
quilômetros. — Balanço a coleira e Hori se
aproxima toda alegre.
Saio do apartamento ao mesmo tempo que ele, e
a sonsa sorridente. Ótimo, já apelidei a garota.
Tento passar o mais discreto possível e vou direto
para o elevador de serviço. Ouço quando o elevador
social chega, as portas abrem e fecham. Solta a
respiração que nem percebi ter prendido. São cinco
da manhã, e ela estava saindo da casa dele.
— Eu o odeio tanto — murmuro, com o maxilar
cerrado.
— Não sei se sou merecedor de tanto ódio assim.
— Eu quase grito de susto quando escuto a voz
dele. Perto, perigosamente perto da minha orelha.
— Podemos conversar? — Apesar de seu tom de
voz tenso e pesaroso, não me abalo.
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— Não temos nada para conversar, Jace. E eu


estou atrasada.
— Não, você está dentro do horário. — Vejo ele
olhar no relógio. O elevador chega e as portas
abrem. Avanço, mas ele entra na minha frente, me
bloqueando.
— Estou falando muito sério, Jace. Não temos
absolutamente nada para conversar.
— Como você se sentiu? — pergunta, com a
sobrancelha erguida. Mas que merda é essa?
— Do que você está falando?
— Quando viu a Tea em casa, como se sentiu?
— Ele só pode estar de gozação com a minha cara.
— Por que está sendo um idiota, Jace?
— Responda a minha pergunta, Sky. — Ele quer
uma reposta? Então, vai ter uma!
— Quer saber se estou sentindo a porra de
ciúmes!? — grito e Hori fica em alerta. — Sim,
estou! Está satisfeito!? — E tento passar, porém ele
não deixa.
— Já pode dizer que me ama agora — diz sério,
sem nenhum traço de humor no rosto.
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— Você enlouqueceu? — O elevador fecha as


portas, droga. — Acabou de se despedir de uma
garota que passou a noite com você e vem me dizer
para assumir o meu amor? Por acaso bateu com a
cabeça, Jace?
— Qual é o problema, Sky? Você está com
ciúmes de uma mulher que é só uma amiga. Não
me deixou nem explicar, então porque
simplesmente não poupa mais tempo perdido e diz
logo? — diz, irritado.
— Não é assim que funciona. — Por mais que
senti raiva, sei que está dizendo a verdade sobre a
sonsa ser só uma amiga. Mas mesmo assim.
— Inacreditável. Você é inacreditável, Sky.

***
Jace me deixa sozinha no corredor e volta para o
seu apartamento, batendo a porta com tudo. O
elevador abre as portas de novo e eu fico olhando
fixamente para o interior vazio. Lágrimas começam
a escorrer pelo meu rosto quando decido voltar para
casa e ligar para Cam. Ele vai ter que levar a Hori
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para caminhar hoje.


— Onde está a sua concentração, Sky? — meu
pai grita quando quase me acerta.
— Estou fazendo tudo certo.
— O caramba que está. Seus socos estão sem
impulso, a guarda está baixa. Posso te acertar
facilmente.
E ele acerta. Em cheio e eu perco o equilíbrio.
Meu pai me segura antes que eu caia.
— Qual é seu problema, pai? — grito.
— Concentração, Sky! Eu quero você
concentrada. Se a sua mente não está aqui, então
seu corpo não deveria estar — esbraveja. E sei que
ele está certo.
— Quer saber? Chega! — Começo a tirar as
luvas e as jogo no centro do ringue, em seguida
pulo as cordas e vou direto para os bancos.
Quando Cam passou para pegar a Hori, seu olhar
para mim foi de decepção. Nem precisou dizer
nada, afinal estava na cara dele. Mas seus olhos me
disseram tudo que eu precisava ouvir, eu ia
decepcionar a todos se ficasse em casa.
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Assim, vim direto para academia. Meu pai já


estava aqui e começamos a treinar. Mas, ele tem
razão, minha concentração está uma merda.
A luta será em poucos dias e ainda não me sinto
cem por cento. Apenas diversão, é o que meu pai
diz o tempo todo. Quando eu o questionei sobre a
medicação que estava tomando para depressão,
pensando que isso poderia ser um problema, ele me
acalmou. Como era um evento beneficente, seria
somente para entreter os olhares da socialite de
Seattle. Mesmo ficando mais tranquila, resolvi
parar com a medicação de qualquer forma.
Acreditando que não precisava mais dela.
E apesar de ter passado a noite toda acordada,
imaginando tudo que Jace estaria fazendo com a
sonsa sorridente, desisti de tomar os comprimidos
para dormir hoje pela manhã depois de ver o olhar
do Cam. Não ia decepcionar a nossa família.
— Você sabe que não vou pedir desculpas por
ter pegado pesado. — A voz do meu pai me tira dos
meus devaneios. — No ringue, sou seu treinador.
— Eu sei, não estou chateada por causa disso —
digo com sinceridade, todos esses anos treinando
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com ele, conheço perfeitamente a sua forma de


trabalho.
— Então, por que está chateada? — Eu olho para
ele. — E quem está falando agora é o seu pai. —
Ele sorri e pega minha mão.
Abaixo o olhar de novo. Algumas crianças já
chegaram e estão treinando. Tenho as observado
bastante ultimamente, e fico muito orgulhosa que a
nossa família esteja proporcionando tantas coisas
boas para essas crianças. Estremeço quando o vejo
chegar, Jace olha direto para o ringue, e parece
ficar decepcionado quando o encontra vazio.
— Agora já sei onde sua mente estava. Não sei o
que aconteceu, mas ele está com uma cara péssima.
— Acho que você está gostando disso. — Tento
soar divertida.
— Estaria, se a sua cara não estivesse igual ou
pior que a dele — diz, num tom de pura
preocupação.
— Nossa, obrigada!
— Converse com ele, Sky. Resolvam as coisas,
amanhã te espero aqui no mesmo horário.
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— Você acha que eu devo procurá-lo?


— Eu sei que o que sente está te assustando, e
que pensa muito sobre serem primos.
— Pai... — Minha voz embarga, não quero ouvir
ele dizendo que não sou filha dele. Ele aperta
minha mão.
— Não existe homem melhor no mundo para
cuidar de você do que um que tenha o meu sangue,
princesa. — Não consigo me segurar e começo a
chorar. Meus Deus, ele vai dizer isso. — Eu te amo
mais do que poderia imaginar ser possível, sabe
disso, não é? — Aperta minha mão de novo.
— Sim. — Minha voz sai entrecortada com um
soluço.
— Você é filha da melhor parte que tenho em
mim, Sky. — Ele leva minha mão contra seu peito.
— Porque você saiu daqui. — E bate no peito,
segurando forte a minha mão. Não consigo parar de
chorar. — Você nasceu do meu coração, não tem
exame no mundo que diga que não é minha filha.
— Eu... — Tento responder, mas minha voz
parou de funcionar.
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— Eu te amo, princesa. E estou dando a minha


benção para que siga seu coração, se ama aquele
moleque ali — ele aponta para Jace —, tanto
quanto eu acredito que ele te ama, não deixe que
esses detalhes te impeçam de ser feliz. Vocês não
têm o mesmo sangue, mas dividem a mesma alma,
e isso não se separa.
— Eu te amo pai. — Eu me jogo em seus braços.
— Você é o melhor pai que eu poderia ter, eu saí
do seu coração. — E soluço copiosamente
enquanto ele retribui meu abraço. Sinto-o
estremecer, e sei que está chorando. — Você
sempre será uma parte do meu também.
Meu pai me abraça por um longo tempo, eu
relaxo porque sei que estou segura, sei que
aconteça o que acontecer, eu sou a sua filha – sua
princesa. A menina que ele ensinou boxe dias
depois de ter conhecido. A que chorou quando ele
viajou porque estava com medo de perdê-lo, a
mesma que, com quatro anos, sabia que tinha
acabado de encontrar seu pai, não de sangue, mas
aquele que verdadeiramente importava.

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ASSIM QUE CHEGO, NÃO A VEJO NO RINGUE.


Então resolvo procurá-la pela academia, mas
ninguém sabe me dizer onde ela está. Também não
encontro Tio Oliver. Eu deveria estar na faculdade
agora, mas não podia ir antes de saber o que estava
se passando por sua cabeça. O que ela estava
sentindo.
Como poderia acreditar que eu estava com outra
pessoa, sendo que ela é a única que sempre
governou todos os meus pensamentos?
Em cada maldita noite.
A cada respiração.
Em todo e qualquer movimento meu.
Sempre foram pensando nela. Deveria saber
disso, quer dizer, pelo menos eu acredito nisso.
Vejo que as crianças ainda estão no treino, então
sento para observá-las. É algo que tem me
acalmando nos últimos dias. Sempre que posso fico
assistindo ao treino delas. Ms está lá no meio, e eu
fiquei de olho nela também.
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Cam tem razão. Ela está bem, tão bem quanto


uma pessoa que sofreu igual a ela podia estar.
Ainda é visível um pouco de resistência com
relação a aproximação de estranhos, principalmente
homens. O que é absolutamente compreensível.
Além do seu treinador; Cam, eu, meu pai e meu tio
são os únicos homens que ela parece aceitar bem
quando estão por perto.
— Elas são boas. — A voz dela me faz virar.
Sky senta ao meu lado, mas não me olha, sua
atenção está focada nas crianças.
Com as mãos cruzadas sobre suas coxas, os
polegares dando voltas entre si. Esse é um dos
gestos que sempre faz quando está nervosa, acho
que a única coisa que não sei a respeito dela, é se
me ama o tanto quanto eu a amo.
— Sim, especialmente a aquela ali. — Aponto
para Ms.
— Ms — murmura, baixinho. — Ela é uma
guerreira.
— Então já conhece a história dela? — pergunto
curioso.

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— Sim, meu pai me contou quando ela chegou.


— Vocês são amigas? — pergunto, curioso
porque Ms parecia bem empolgada quando fez
aquele comentário sobre a Sky da última vez.
Sky respira fundo antes de girar o corpo para
mim, cruza as pernas em cima do banco, e só então
começa a falar.
— Sou uma covarde, Jace.
— Não, você não é. — Não a deixo terminar, sua
postura é tão tensa que está doendo fisicamente não
poder abraçá-la e confortá-la.
— Mas eu me tornei uma. — Ela olha em
direção as meninas, depois volta o olhar para mim.
É tão intenso, como se algo novo tivesse surgido.
— Não acreditava que era merecedora da
admiração da Ms, ou de ser sua amiga. Ela sofreu o
que nenhuma criança deve passar, Jace. Suas
feridas foram tanto físicas, quanto psicológicas.
Poderia ter morrido se o pai dela não tivesse
voltado mais cedo no dia que tudo aconteceu.
— Não sei a história a fundo, apenas alguns
partes que Cam me contou.
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— Fez um barulho e tanto na época, mas éramos


bem jovens e só prestávamos atenção em nós
mesmos, juro que não me lembrava de nada disso
quando meu pai contou. Apareceu em todos os
jornais por um tempo, mas certamente tratamos
como se fosse apenas um caso comum. Algo
corriqueiro do dia a dia. — A voz dela é carregada
de tristeza.
— Compreendo o que quer dizer. Mesmo com
você falando, eu não consigo me lembrar.
— Já faz cinco anos, eu ainda estava na
faculdade e você, no colegial. Como eu disse, cada
um com suas vidas, sem dar a mínima para o que
acontecia ao nosso redor.
— Estou me sentindo um lixo agora. — Eu me
censuro com sinceridade. Sei que Sky tem razão,
casos de estupros de crianças aparecem todos os
dias na TV, e os vemos como só mais um caso,
mais uma morte por assassinato, ou um acidente de
trânsito causado por um motorista bêbado.
Fatos que jamais deveríamos ver e nos
acostumarmos com eles como se fossem algo
normal.
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— Sei o que você quer dizer. — Ela me dá um


sorriso fraco. — Ms vai no mesmo terapeuta que
eu, e com apenas dez anos, já fez um progresso
incrível, Jace. Eu? Não cheguei nem na metade do
caminho ainda.
— Mas já voltou a treinar. É um avanço.
— Sim, mas há muitas coisas na minha cabeça
que não são nada fáceis de se trabalhar. Ou até
mesmo de entender.
— Estou bem ciente disso — comento e abaixo a
cabeça, sorrindo. Sinto um arrepio e olho para
baixo, ela está segurando minha mão.
— Ter você de volta está me fazendo pensar
sobre tudo, Jace. — Levanto o rosto para olhar em
seus olhos, há algo diferente nele, ou melhor, um
brilho antigo, o mesmo que fez com que eu me
apaixonasse por ela, um brilho de determinação. —
Nas coisas para as quais eu me fechei, que tentei
ignorar. Naquela noite, você foi incrível, paciente e
tudo o que eu precisava naquele momento. Você
me deixou à vontade para seguir no meu tempo,
Jace.

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— Achei que fui apressado demais. — Sorrio,


ela também.
— Perfeito, Jace, eu disse que você foi perfeito.
Acredite nisso. — Levo sua mão até meus lábios e
a beijo.
— Quero conversar com você sobre ontem à
noite — digo e espero por sua reação.
— Ontem à noite, e hoje pela manhã? — Seu
tom é de brincadeira, mas aprendi que não devo
vacilar quando se trata dela.
— Sim, mas eu preciso que você me ouça.
— Estou tentando não pirar com tudo o que está
acontecendo; a luta, você. Muita coisa ao mesmo
tempo, e não sei se consigo lidar.
— Você está querendo dizer que vai desistir de
mim? De nós? — Nem por um segundo, penso.
— Estou pedindo para termos essa conversa, mas
não agora. Eu preciso de você, Jace, muito. Mas
tenho que enfrentar a minha primeira barreira.
Você vai me ajudar? Por favor, me ajuda a derrubar
esse muro que eu mesma ergui? — Acho que nunca
vi Sky assim. Sinto meu peito apertar de orgulho
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por ela não ter desistido de lutar. Dentro e fora do


ringue.
Ela fica me observando, cheia de esperança nos
olhos. Não sei se ela pode ler os meus, mas nesse
momento, uma gritaria absurda está acontecendo
dentro de mim. Gritos de total e absoluta felicidade.
— Conte sempre comigo, Sky — respondo e ela
levanta, me puxando junto.
— Estava com medo de você dizer não.
— Se eu tivesse dito? — pergunto curioso.
— Eu lutaria até conseguir, porque esse teria
sido só o primeiro round.
Não consigo conter a risada que sai pela
garganta. Rindo, eu a puxo para abraçá-la, ela não
fica tensa, pelo contrário, parece soltar um suspiro
de alivio enquanto retribui meu abraço.
— Senti tanta falta disso — sussurra contra o
meu peito.
— Também sinto, todos os dias. — Eu a aperto
mais, pensando que poderia ficar assim com ela,
para sempre.
O cheiro do seu cabelo, a maciez de sua pele.
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Tudo isso me deixa alucinado.


— Sky? — Uma voz faz a gente se afastar, mas
ela continua segurando a minha mão.
— Tio Grant. — Ela sorri e cumprimenta nosso
tio postiço. Grant era treinador do meu tio e depois
que se aposentou, passou a trabalhar aqui, sua
principal função envolve as crianças.
— Fico feliz que os dois estejam aqui. Tenho
uma turma muito ansiosa para falar com você, Sky.
— Ele aponta para as crianças que parecem
nervosas, cochichando entre si. Ms parece que vai
ter um colapso.
Sky me olha por um segundo, apreensiva. Eu
aperto a mão dela, demonstrando que estarei aqui
se precisar e ela sorri.
— O que você gostaria que eu fizesse? —
pergunta a Grant. Se eu já estava feliz antes, não
consigo mensurar o que Grant deve estar sentindo
ao ouvir isso. O sorriso dele é tão grande que
parece que vai rachar seu rosto ao meio. Mas,
porra! O meu também está.
— Apenas vá dar um oi — responde.
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— E o que acha de treinarmos um pouco com


elas, Sky? Ou tio Oliver está te esperando?
— Meu pai me deu o dia de folga. — Grant e eu
nos encaramos espantados porque ele não costuma
fazer esse tipo de coisa.
— Então, o Fenômeno está ficando de coração
mole? — Grant fala e eu solto uma gargalhada.
— Quando se trata da minha princesa, sempre.
— A voz no meu tio soa como um trovão atrás da
gente, eu quase pulo de susto. Quase. — Jace e
Sky, vão com as crianças, eu preciso conversar
algumas coisas com Grant, vocês sabem o que
fazer.
Sky aperta minha mão outra vez e vamos até as
crianças. Conforme caminhamos, meu sorriso
aumenta ainda mais quando escuto:
— A nossa garota está de volta? — Grant
pergunta.
— Eu nunca duvidei do seu retorno — responde
meu tio com a voz cheia de orgulho e amor.
Eu também, não.

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O dia na academia com as crianças foi incrível.


Na verdade, foi mais do que isso, figura no topo da
lista dos melhores dias da minha vida. Jace e eu
ensinamos algumas coisas para elas. Ms, no
começo, era a mais nervosa e retraída. Então
percebi qual era o motivo, eu. A garota me
admirava, praticamente explodiu de felicidade no
final do treino quando dei uma das minhas faixas
de boxe para ela.
Nosso dia ficou completo quando Cam apareceu
e fomos todos a uma pizzaria. As crianças ficaram
em êxtase. Eu tinha a melhor família.
Jace e eu não nos tocamos intimamente desde a
nossa primeira vez, permaneci focada nos treinos e
ele em seus estudos. Quase perdi a cabeça quando o
vi saindo para aula outro dia. Usando um terno
elegante, a personificação do verdadeiro advogado.
O que me fez lembrar do meu tio Jason, todo sério,
exalando confiança.
Ele me deu carona até a academia naquele dia, e

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fiquei pensando que me beijaria no carro antes de ir


embora, mas não foi o que aconteceu. Nossos
lábios roçaram brevemente, como ele costumava
fazer na adolescência. Um selinho roubado, e eu
estava caidinha.
Hoje, estou no vestiário da academia. Andando
de um lado para o outro, extremamente nervosa.
Consigo escutar o barulho da multidão lá fora.
Todos estão aqui, meus tios: Jason e a sua esposa
Leah, Helena, a irmã dela, e tio Tommy. Cam veio
com alguns amigos até aqui para tirar algumas
fotos comigo. Ele brincou, dizendo que queria uma
foto antes que meu rosto ficasse detonado. Babaca.
Mas Jace? Ele ainda não chegou e estou
começando a achar que não consigo fazer isso sem
ele. Um estrondo na porta chama minha atenção.
Jace entra correndo, vestido com uma camisa social
branca, as mangas enroladas na altura do cotovelo e
alguns botões abertos, a calça social cinza completa
o visual de Dr. Advogado Sexy. É como se ele
tivesse acabado de sair do trabalho.
— Onde você estava? — pergunto assustada.
— Desculpe, precisei passar em um lugar antes.
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Você está bem? — Ele segura meu rosto, seu olhar


é cauteloso e me pergunto como é que deve estar
meu semblante agora. Com cara de que quer
vomitar, certeza.
— Estou bem, apenas nervosa. Assustada e você
não chegava, então... — começo a tagarelar até que
ele coloca o dedo nos meus lábios.
— Ei, eu estou aqui com você, minha garota.
— Sua garota? — Meu coração quase salta pela
boca, já tem quase duas semanas eternas que ele
não me chamava assim.
— Vai se sair bem, Sky.
— Não tenho tanta certeza — digo, incerta.
— Mas eu tenho, porque quando se trata de você,
ninguém tem a mínima chance. — Ele continua
segurando meu rosto nas mãos.
Há tanto para dizer, mas as palavras
simplesmente não saem. Jace apenas me olha, seu
olhar ainda é um mistério parta mim, mas um que
aprendi a admirar. Ele sempre me surpreende.
— Sky? — Meu pai entra na sala e Jace se
afasta. — Está na hora.
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— Eu já vou. — Meu pai fecha a porta e eu volto


o olhar para Jace. — Jace, eu...
— Você vai ser sensacional essa noite, Sky. Eu
acredito nisso.
Jace beija o topo da minha cabeça e eu fecho os
olhos com o gesto. Ele dá um pequeno puxão nas
minhas tranças, me fazendo sorri.
— Eu serei o cara que estará gritando por você.
— Ele pisca.
— Eu serei a garota que o juiz vai erguer o braço
no final da luta.
Jace sorri e me acompanha para fora do vestiário.
Eu hesito um momento, até sentir a mão do meu pai
na parte baixa das minhas costas, ele está me
guiando até o ringue e quando eu olho em seu
rosto. Ele sorri.
É reconfortante, cheio de orgulho e –
principalmente – cheio de amor. Um sorriso que
diz: acontece o que acontecer, continuarei sendo a
sua princesa.
É tudo que eu preciso quando subo no ringue.
Entrego meu roupão para Grant e meus olhos
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correm pela plateia até que eu vejo cada membro da


minha família sorrindo, eles estão orgulhosos por
eu ter dado esse passo.
Mas irei deixá-los ainda mais quando o juiz
anunciar o nocaute consagrando a minha vitória.

***
Os gritos da multidão ecoam pela academia. O
suor ainda escorre pelo rosto, meu olho está
começando a inchar, o que é uma merda. Mas nada
se compara com o que estou sentindo nesse
instante. Estou sentada no ombro do meu pai, ele
está exibindo a sua campeã para todo mundo ver.
Uma multidão toma conta do ringue e do lado de
fora, mas mesmo com toda felicidade que estão
sentindo agora, tenho uma coisa que eu preciso
fazer e não sei se ainda me resta tempo.
O repórter me entrevistou, não só a mim, mas
meu pai também. Eles querem saber se voltarei a
lutar profissionalmente. Meu pai esperou pela
minha resposta, e eu disse um sonoro sim. E
naquele momento, ele não se conteve e me ergueu.

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Agora, estou à procura de Jace. Eu o vi em


alguns momentos durante a luta. Foi como se
tivéssemos voltado no tempo, quando ele era um
adolescente de dezoito anos e gritava a plenos
pulmões numa luta minha.
Tempo. Caramba, será que eu ainda tinha algum?
Quando o encontro próximo as cordas, eu bato no
ombro do meu pai, pedindo para descer. Ele
prontamente me coloca no chão e eu disparo até o
outro lado do ringue.
— Você foi incrível — ele me parabeniza
quando me aproximo.
— Que horas são? — Jace me olha confuso, mas
confere às horas.
— Faltam três minutos para a meia noite, por
que? — Droga.
Ignorando as cordas entre nós, eu me aproximo,
coloco as mãos em seu rosto e o puxo até que
ficamos com nossos rostos alinhados, olhos nos
olhos.
— Parabéns, Jace. Você ganhou — digo, séria.
— Do que você está falando? — pergunta sem
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entender nada.
Não consigo me segurar e começo a sorrir. E
então, no meio da multidão tomada pela adrenalina,
minha família eufórica e flashes da impressa
mundial pipocando, eu beijo Jace. Quando ele se dá
conta do que está acontecendo, suas mãos
envolvem minha cintura e invade a minha boca
com a língua. Eu gemo, pensando como fui capaz
de demorar tanto tempo para acordar. Nossa, como
eu senti a falta do gosto dele.
— Eu te amo. Eu te amo tanto — digo depois de
quebrar nosso beijo. — Então, você ganhou a
aposta. — Minha respiração está pesada e o
coração acelerado, mas não tem nada a ver com a
luta que acabou de acontecer, é pelo medo que
tenho de sua resposta.
Ele não diz nada, nem sorri. Eu começo a me
sentir apavorada. Será que é tarde demais? Ele se
afasta um pouco e passa entre as cordas, entrando
no ringue.
— Não, Sky. Eu não ganhei.
— Mas... ainda tenho pelo menos um minuto até

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acabar o prazo das duas semanas. — E fecho os


olhos, não querendo ver o que vem a seguir.
— Abra os olhos, Sky. — Eu os abro,
encontrando seus olhos cheios de emoções. — Foi
você que ganhou. — Ele se aproxima, estendendo a
mão e eu a pego, entrelaçando nossos dedos. Ele
observa minha mão ainda enfaixada e finalmente
sorri. — Você ganhou, Sky, porque eu jamais te
deixaria. Não depois de ter você nos meus braços,
não depois que me provou com seu corpo o quanto
me amava. Nunca foi uma mulher de palavras, você
é uma mulher de ação, Sky.
— Você me enrolou esse tempo todo? — Eu
estou sorrindo, e chorando. Droga, estou sentindo
tudo ao mesmo tempo.
— Não, mas eu sempre disse que te conhecia
melhor do que ninguém. — Jace olha em volta
notando que todos estão olhando para nós. — Eu
quero te levar pra minha casa hoje, o que acha?
— Acho que estou pronta para passar a noite
com você. — Sorrio, ele passa o polegar pelo meu
rosto.

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— Ainda quer ter aquela conversa sobre a Tea?


— Eu me senti insegura, mas principalmente,
com medo de ter perdido você — confesso.
— Você nunca me perdeu.
— Eu sei, agora isso está claro como água. —
Imitando seu gesto, passo os dedos no rosto dele,
ainda estou usando a faixa enrolada nas mãos, a
mesma que meu pai usava. — No fundo, eu sempre
soube que você é meu, Jace. Agora só quero provar
que também sou sua. — Dou uma olhada para trás
e vejo todos nos observando. — Longe da plateia, e
sem conversas sobre “amigas”. — Não esqueço de
enfatizar a palavra amiga. Jace joga a cabeça para
trás soltando uma gargalhada, e quando volta a me
olhar, fogo brilha em seus olhos.
Jace me ergue do chão e me beija
apaixonadamente. Ele não sabe, e talvez eu nunca
tenha coragem de confessar, mas no final, foi Jace
Willers que me levou à nocaute.

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O barulho da sirene soando ainda me dá arrepios.


Fico aguardando em uma mesa da sala de visitas,
com uma pasta na mão e um guarda me encarando.
O mesmo que eu via quando meus pais vinham me
visitar.
Porra. Odeio esse lugar.
Quando a porta abre, e um cara do tamanho de
um tanque de guerra entra, não consigo evitar o
sorriso. Clarence continua igual, intimidante pra
caralho.
— Não é cedo demais para colocar os pés aqui,
garoto? — resmunga ao se sentar, no melhor estilo
“não estou nem aí”.
— É um prazer te ver de novo, também,
Clarence.
— O caralho que é. — Um dos cantos de sua
boca sobe, discretamente.
— Tem razão, não é nada bom estar aqui.
— Eu sempre tenho razão. — Ele é arrogante,
porém é simplesmente como ele é. — Beca
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maneira. — Ele aponta para o meu terno.


— Mais ou menos. Trago notícias para você. —
Ele fica tenso.
— Não quero saber, garoto. Sabe disso.
— Na verdade, eu tenho duas. — Ignoro ele. —
Comecei a fazer faculdade de Direito.
— Essa eu já sabia, você estudava daqui.
— Isso mesmo, e agora eu estou trabalhando no
seu caso. — Ele levanta tão rápido que o barulho da
cadeira chama atenção dos guardas. Mas eles não
se movem, provavelmente, vão deixar Clarence me
bater. Panacas.
— Já pode ir embora, Jace — diz e começar a se
virar para sair.
— Você será o meu primeiro caso, e assim que
eu me formar, vou tirá-lo daqui. — Ele para e sorri.
Mas não é do tipo nada agradável, é assustador.
— Acho que aquela sua garota lutadora bateu
forte demais na sua cabeça... — Merda, porque
todo mundo tem mania de dizer isso?
— Nada disso, e estou falando sério Clarence. —
Eu o olho sério.
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— Você não pode fazer nada, seu fedelho. Não


depois do que eu fiz.
— Eu sei o que fez e o porquê de ter feito aquilo.
Um bom advogado vai conseguir te tirar daqui.
— Ninguém quis pegar o meu caso na época, e
agora já eu não me importo mais.
— É por essa razão que eu estou te dizendo que
agora tem um advogado, bem, pelo menos depois
que eu me formar, é claro.
— Você está louco — Ele senta novamente,
cruzando os braços.
— Um pouco, mas existe alguém que vale um
pouco dessa loucura. — Abro um envelope e tiro
uma foto de dentro.
Uma foto da família. Eu, Cam, Sky, meus pais e
meus tios. E Ms, ela está entre nós, sorrindo usando
suas novas luvas de boxe. A família Willers ganhou
um novo membro.
Percebo quando Clarence olha a foto e sua
expressão vacila. Eu me pergunto quanto tempo faz
que não via a filha, através de foto ou em pessoa.
— Ela está segura e feliz, Clarence. Mas sente a
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falta do pai, e eu amo aquela garota como se fosse


minha irmã. Não vou medir esforços para tirar você
daqui. — Clarence me olha por alguns segundos, e
depois ele pergunta:
— Como tem tanta certeza de que vai me tirar
daqui? — Eu levanto e ele faz o mesmo.
— Porque, Clarence, nós sempre ganhamos
nossas lutas.
Ele me dá um meio sorriso e apertamos as mãos.
Saio da prisão, deixando a foto com ele, e com a
sensação de que tenho uma enorme batalha pela
frente.
Nada que eu não seja capaz de ganhar.
Afinal, eu sou um Willers.

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MINHA CABEÇA DÓI TANTO QUE ACHO QUE


estou doente. Não do fingimento que fiz a poucos
minutos, mas doente de verdade. Do tipo: vou
colocar todos os meus órgãos internos para fora a
qualquer minuto.
— Pretende ficar com essa cara por quanto
tempo? — Ethan, meu irmão, chama minha
atenção. Nós estamos a caminho de Seattle, estou
indo para casa passar uma temporada. E ele está no
volante já que sou “a descoordenada”, a que não
possuiu coordenação suficiente para dirigir. Assim
disse meu instrutor quando me reprovou no exame
de habilitação.
— Estou passando mal — gemo.
— Não, não está. Para de graça. Só está brava
porque não concorda com a decisão da sua
orientadora.
— Aquilo foi ridículo, Ethan! Não preciso fazer

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nada disso.
— Acho que precisa sim. — Ele não tira os olhos
da estrada.
— Sei que está com saudades da sua irmãzinha,
mas isso foi drástico e desnecessário. — Ethan ri.
— Sim, eu sinto sua falta em casa, confesso. Mas
não quando você começa a bancar a sabe-tudo. —
E continua rindo.
— É porque eu sei de tudo. — Cruzo os braços
na defensiva.
— Viu? É disso que estou falando, não senti falta
dessa parte sua. — Não me contenho, eu viro o
rosto para ele e mostro a língua. Sei que notou pela
sua visão periférica, porque vejo quando ele revira
os olhos. — É exatamente por isso que nossos pais
apoiaram a decisão da faculdade, Eleanor. Você
precisa disso.
— Eu já estava me preparando para o último ano
na faculdade, Ethan. Estou adiando todos os meus
planos porque a minha coordenadora resolveu que
eu preciso de um pouco de normalidade na vida?
Ensino médio? Sério? Nem você queria estar lá. —
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Ele solta um longo suspiro. Tenho a impressão de


que está ficando de saco cheio da minha ladainha,
estou reclamando disso desde quando chegou na
faculdade para me buscar. E já tem três dias.
— Você só tem dezessete anos, e isso faz parte
do ensino médio, irmãzinha. São apenas os fatos.
— Os fatos são que eu tenho mais cérebro do
que a metade daqueles adolescentes fúteis que só
estarão pensando em duas coisas neste ano.
— Quais? — pergunta curioso.
— Baile de formatura e sexo. Nessa mesma
ordem. Ou, não. Tanto faz. A ordem dos fatores
não altera o produto.
— Deus te ouça — pede, gargalhando e eu
gemo.
Ethan e eu somos gêmeos fraternos, mas isso não
muda o fato de sermos muito próximos. Porém,
enquanto que ele herdou o porte atlético e charme
da família, eu herdei a inteligência e... bem, só a
inteligência mesmo. Em dobro.
— Você precisa parar de resmungar. Tem sorte
de ser o último ano, vai passar tão rápido que nem
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vai perceber. E quando acabar, estará dançando


toda feliz no baile de formatura.
— Menos — escarneço. De jeito nenhum que
irei frequentar essas festas de alunos do ensino
médio, muito menos o baile de formatura.
— É uma das regras, minha irmã. Você precisa
interagir com as pessoas, fazer coisas que todo
adolescente faz.
— Estava perfeitamente bem com meus livros e
os testes com os motores.
— Viu só? Nenhuma garota da nossa idade
projeta motores de carro, você vai ser a sensação da
escola. — Ele tem um sorriso presunçoso no rosto.
— Ou a esquisita da escola — resmungo. O sinal
fecha e Ethan me olha.
— Acho que você pode ter razão.
Suas palavras me fazem rir, tanto que a dor de
cabeça de mentira – que se transformou numa mega
dor de verdade – acaba sumindo. E me permito
relaxar um pouco.
Um ano, só um ano. Estarei em casa com a
minha família, frequentarei a mesma escola que
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meu irmão. Terei a tal normalidade, pelo menos o


que conseguir tirar disso tudo. E, fim, volto para a
faculdade e para a minha realidade.
Posso fazer isso, não deve ser mais difícil do que
projetar um novo motor que vai de 0 a 100
quilômetros, em menos de 30 segundos. Ou pelo
menos, é assim que eu espero que seja.
E agora a dor de cabeça ameaça voltar porque
pela primeira vez sinto medo. Pavor de pessoas.
Droga, eu sou muito esquisita. Mas estava
disposta a aceitar esse desafio, afinal, eu sempre
superei as expectativas de todos. Não seriam alguns
adolescentes do ensino médio que me intimidariam.
Ethan liga o som e “Act a Fool” de Ludacris
começa a tocar, sorrio pela escolha da música.
Lógico que seria algo desse estilo, ele ama carros.
E conforme presto atenção na letra, chego à
conclusão de que tenho duas escolhas, e não vou
escolher bancar a otária.

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Minhas mãos tremem de desejo, parece que


estou sofrendo de abstinência, mas ao invés de
drogas, sofro pela falta das pistas. Mas como o
maldito masoquista que sou, estou encostado no
capô do meu carro, bebendo uma cerveja enquanto
olho os motoristas se preparando para mais uma
corrida.
Adrenalina.
Ela oscila pelo meu corpo de acordo com o
roncar dos motores.
Odeio me sentir inútil, sendo só um mero
espectador. Merda, apenas alguns dias atrás eu
estava fazendo cada babaca aqui comer poeira.
— Ah, qual é, Cam! Tem certeza mesmo de que
não vai correr? — Trisha pergunta ao meu lado.
Quando ela me chamou para sair essa noite, na hora
pensei: hoje vai ser demais... carros, cerveja e uma
bela trepada! Mas agora ela entrou no modo “chata
pra caralho”, insistindo para que eu corra. E isso é
um saco de aguentar.
— Quantos “não” você quer ouvir hoje?
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— Você é o melhor aqui, Cam! Por que não


entra no seu carro logo de uma vez? — Ela raspa as
unhas no meu peito.
Era para ser excitante? Que ridículo!
Otária.
— Tris, não insiste. — Tomo mais um gole da
minha cerveja quando escuto alguém acelerar um
dos carros. Porra, o som no motor faz o sangue
correr mais forte pelas minhas veias.
— Adoro quando você me chama assim, Cam.
— Ela encosta na frente do meu corpo, minha mão
automaticamente agarra sua bunda, puxando-a
contra mim. — Poderia transar com você, no seu
carro, depois que ganhar essa corrida. — Sua voz é
sedutora, mas não faz muita coisa comigo lá em
baixo. Já o som dos motores...
— Você sabe, Tris — coloco uma mecha do
cabelo dele para trás, seu batom é vermelho vivo,
os cílios com toda certeza são falsos, são tão longos
que tento não ficar encarando —, que eu vou
transar com você, correndo ou não. — Ela faz
beicinho e eu aperto sua bunda. Trisha sabe que

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não estou mentindo, passou a semana inteira atrás


do Ethan, pedindo o número do meu celular e só
parou quando conseguiu marcar esse encontro.
— Você era mais interessante — reclama ainda
manhosa. — Por que não quer correr?
Porque meu pai me proibiu, minha mãe
prometeu me dar um castigo eterno e meu irmão
não quer que eu vá parar na cadeia. Só isso, penso.
— Porque eu não quero. É tão difícil assim de
entender?! — Respondo e bebo mais um gole,
depois ofereço a cerveja a ela.
— Quase não acreditei quando não vi seu nome
na lista, Cameron. — Thiago, um dos caras que
organiza tudo, diz quando se aproxima.
— Estou fora hoje. — Minha resposta é simples,
não preciso dar explicações.
— A grana é boa.
— Mas eu não preciso disso. — Pode até ter
soado arrogante, mas é a verdade.
— Já sei, mas também sei que precisa entrar
nesse carro e pisar fundo no acelerador. Qual é,
Cam, vai deixar esse bando de idiotas ganhar o
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prêmio que é seu? — ele instiga.


Ele acerta em cheio, bem no meio da ferida.
Porque ele me conhece. Caralho, adrenalina é a
minha droga, viver no limite é o que me motiva.
Cacete!
Olho mais uma vez ao redor e à frente, os carros
começam a se alinhar. Um a um, o barulho dos
motores cada vez mais alto. Meu sangue corre cada
vez mais rápido.
Que se foda!
— Vamos — digo para a menina que dá um grito
histérico, jogando os braços em volta do meu
pescoço, me beijando escandalosamente.
— Ganhe essa corrida pra mim, gato, e eu vou
deixar você me foder de um jeito inesquecível —
praticamente ronrona assim que nos separamos.
Thiago está com um sorriso convencido no rosto,
ele sabe como me convencer a entrar na pista. Sou
tão fraco quando se trata de correr. Todo cara tem
seu ponto fraco, certo? Corrida é o meu.
Entro no carro e Tris me acompanha, colocando
o cinto. Aperto com força as mãos no volante, e
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afundo o pé no acelerador.
O barulho do motor me desperta, mas na mesma
hora o som é abafado pela voz do meu irmão.
A prisão é não é um lugar qualquer, Cam. É a
própria definição do inferno. Mantenha os pés do
lado de fora de lá, tá bom?
Minha cabeça fica confusa, eu aperto o volante
com mais força, Tris me olha com expectativa. Ela
está louca para participar, é sua primeira corrida.
Engato a marcha enquanto penso em tudo que meu
irmão me disse naquele dia, no medo que vi em
seus olhos. Piso fundo no acelerador, mas ainda
não saio com o carro. Deixo o barulho tomar conta
e chamar atenção para que todos saibam quem está
no volante.
Ouço meu nome ser ovacionado, e ainda posso
não ser bom o suficiente para correr pela equipe da
família, mas sou a porra de uma lenda nas ruas.
Fecho os olhos com força, tentando me concentrar.
E quando os abro, o que vejo me faz tomar uma
decisão.
Uma que não mudaria só essa noite para mim,

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ela mudaria a minha vida inteira.

A HISTÓRIA DE CAM E ELLIE CONTINUA NO


último livro da série Willers Family.

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DISPONÍVEL NO SPOTIFY - (ANDYCOLLINSAUTORA)

PHENOMENAL — EMINEM
BROKEN RECORD — KREWELLA
INTO YOU – TRAVIS ATREO
I WILL BE – STANFOUR
FEEL INVINCIBLE - SKILLET
PAPERCUT – LINKIN PARK
MIND – JACK U, SKRILLEX, DIPLO, KAI
STAY - HURTS
KINGS NEVER DIE – EMINEM, GWEN STEFANI
CRAZY IN LOVE – NICOLE ANDERSON
SPIRALING UPWARD – THE YOUNG ROMANS
THE HEART WANTS WHAT IT WANTS – OUR LAST
NIGHT, CRAING OWENS.
LIKE A PRAYER – RUFIO
BLACK WIDOW (COVER BY THE ANIMAL IN ME) -
IGGY AZALEA
I’GONNA SHOW YOU CRAZY – BEBE REXHA
MIRROR – LOIC NOTTET
LOVE THE WAY YOU LIE – A SKYLIT DRIVE
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BURN – CROWN THE EMPIRE


ONE MORE LIGHT – LINKIN PARK
THE WAY BACK – JASON WALKER, MOLLY REED
WHAT LOVERS DO – SARA FARELL
MY INDIGO – MY INDIGO
RESCUE ME – KERRIE ROBERTS
GLASS HOUSE – DENNIS SHEPERD & LIUCK FEAT.
LADY V RADIO EDIT
DRUNK IN LOVE (REMIX) (FEAT. JAY Z AND KANYE
WEST) – BEYONCÉ
ONE DAY TOO LATE – SKILLET
RISE – SKILLET

*A Playlist irá sofrer inclusões conforme o


andamento do último livro da série.

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NADA NA VIDA FAZEMOS SOZINHOS, DESDE QUE


nascemos necessitamos de ajuda, e ao longo da
nossa jornada isso não muda. Para criar um livro
isso não é diferente.
Por muito tempo, eu acreditava ser
autossuficiente e que poderia resolver todos os
meus problemas – e dos outros – sozinha. Ledo
engano, e os livros me mostraram isso. Como
leitora, aprendi a confiar nas indicações, a ficar
atenta nas dicas e novidades que as pessoas
postavam.
Como autora, aprendi a valorizar a opinião dos
outros, dos leitores, blogueiros e principalmente
dos amigos. Pessoas estas que os livros me
apresentaram e que agradeço todos os dias por me
darem a honra de fazer parte – nem que seja um
pouco – da vida de cada uma.
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Samantha Silveira, ninguém entenderia nossa


dinâmica – amém por isso – porque somos únicas.
Obrigada por tudo, por todo incentivo, pelo seu
profissionalismo e amizade. Esse livro não seria tão
perfeito se não fosse por você.
Dri Harada, mais um trabalho juntas, hein? Às
vezes, não acredito que você me atura. Desculpe
por transformar um em quatro e muito obrigada por
embarcar de coração sempre que preciso da sua
ajuda, seja profissionalmente ou como amiga. Sua
paciência e profissionalismo são raros. Obrigada
por ser a voz da minha razão nos momentos de
dúvida, e principalmente por me incentivar a buscar
o melhor em mim.
Denise Macário, Raquel Costa e Débora Santana,
minhas “caçadoras”, cada palavra de vocês é
sempre preciosa, nunca mudem isso, a sinceridade
de vocês é uma benção e mantêm meus pés no
chão. Obrigada por fazerem parte disso, e por
estarem sempre aqui quando eu preciso.
Mi Feliciano, Caroline Menezes... Preciso citar
alguma coisa? Se podemos ter mais de uma alma
gêmea, vocês são as minhas.
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Cris Saavedra, você entrou na minha vida logo


no início e finalmente agora temos a oportunidade
de trabalharmos juntas, obrigada por sempre ter
acreditado no meu trabalho, mesmo quando eu
teimava em permanecer anônima.
Caroline Yamashita e Biia Rozante, esse livro é
para vocês, espero de coração que esteja dentro das
suas expectativas.

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Andy Collins é um pseudônimo usado pela


autora brasileira. Sua primeira obra publicada foi
INSANO, primeiro livro da série Originals, que
começou a ser postado na Plataforma Wattpad e
depois a série passou a ser publicada pela Editora
PL. Em 2017, também pela Editora PL, lançou
INSENSÍVEL, o segundo livro da série Originals.

Desde então, a autora já publicou de forma


independente várias obras. Entre elas:

TEMPESTADE – Conto
PARA SEMPRE & MAIS UM DIA –
Conto da Série Originals
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FENOMENAL – Livro 1 da Willers


Family
COLATERAL – Livro 2 da Willers
Family
ELA ESTÁ SOZINHA – Conto dark
CAGE – Livro dark
SENSACIONAL – Livro 3 da Willers
Family

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