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Meu nome é Fernanda Novaes, tenho 22 anos, estou terminando um curso de

Comunicação, e há pouco tempo desenvolvi um projeto no YouTube pra falar


sobre cinema, que resultou no canal: Moça, você é cinéfila?

Agora também faço parte do time dos Cinéfilos Anônimos, e toda semana terá
uma publicação sobre o mundo cinematográfico por aqui.

E para minha primeira publicação aqui no site, preparei um texto sobre a


construção do suspense, um dos elementos narrativos que compõe muitos
gêneros cinematográficos, e que muitas vezes também é classificado com
sendo um gênero independente.

O que é um gênero no cinema? Uma resposta rápida seria dizer que se trata
de um agrupamento de filmes que possuem uma mesma estrutura. Mas não é
tão simples assim. Há diversas teorias acerca desse tema e que até hoje
entram em muitas discussões.

A pergunta que Edward Buscombe (2005, p. 303) faz é a seguinte: “Primeiro:


existem realmente gêneros no cinema? Se for o caso, como pode ser definido?
Segundo: que funções os gêneros exercem? Terceiro: como se originam
gêneros específicos, o que os fazem surgir?“.

Para responder tais perguntas precisamos pensar no papel do enunciador


cinematográfico, ou seja, o diretor/autor e o que ele pretende transmitir para o
seu público, precisamos também pensar na questão das estruturas
elementares do texto fílmico, nas oscilações tensivas, nas relações
semissimbólicas (semiótica), no estilo do filme, entre tantas outras variáveis de
itens. Desse modo, seria mais viável o entendimento em relação à construção
do sentido do filme. E se pretendemos, assim, pensar na identidade audiovisual
como fator que constitui o estilo do filme, poderíamos dizer que certos gêneros
surgem a partir de um grande grupos de filmes que respeitam determinada
estrutura composicional, ou seja, uma leva de filmes que estão inseridos
elementos comum à todos.

Mas, focando no suspense em si, um diretor que nunca poderia ficar de fora é
o inglês Alfred Hitchcock. A crítica especializada considera, há muito tempo, o
diretor como o “mestre do suspense”. E isso se refere ao susto que esse efeito
provoca. Mas Hitchcock, além de ser especialista nesse efeito de sentido que
instaura uma suspensão no contínuo da narrativa, com o intuitivo de fazer o
público sofrer, ansiosamente, por meio da expectativa dos fatos que virão a
seguir, ele também é quase um inventor desse gênero, pois a maneira como
produz sua narrativa fílmica o torna um mestre do gênero e não somente do
efeito de sentido que o caracteriza. Hitchcock é a própria identidade do
suspense.

Tomemos o filme Cidadão Kane de Orson Welles, para exemplificar o gênero


suspense. Embora alguns traços cômicos surjam em momentos dispersos na
narrativa do filme, esse fato por si só não leva a dizer que esse enunciado
fílmico também pertença ao gênero comédia. Esses traços apresentam alguma
relevância no contexto, é claro, mas são distanciados em relação ao suspense
que cerca toda a diegese do filme. Cidadão Kane afirma-se como um suspense
no sentido do texto que prende a respiração do espectador mediante os cortes
repentinos que instalam o susto, o inesperado, a lentidão antecedendo a
surpresa, etc. Toda essa instalação realça ainda mais ao gênero suspense em
definitivo.

Para compreender ainda mais o gênero suspense e como ele é construído, é


válido notar a importância do estilo autoral e os traços essenciais que são
comuns nos filmes de Alfred Hitchcock. Como um maestro rege sua orquestra,
Alfred faz o mesmo com seu público através de alguns traços mais recorrentes
ao seu estilo: montagem expressiva que intensifica o efeito de impacto, e que
trabalha junto com a trilha sonora que tem a função de aumentar certo efeito
desejado no público; estética do voyeurismo, em que há a ambiguidade entre
os olhares dos personagens e do público, que acaba participando do
enunciado na figurativização de uma “câmera voyeur”; a maneira como ele
prefere utiliza gestos, atitudes e movimentos para explicar os sentimentos e
pensamentos dos personagens, ao invés de longos diálogos explicativos, etc.

O suspense que Hitchcock desenvolve se pauta também em uma dupla


narrativa: para construir o suspense, o narrador deverá mostrar paralelamente
aos fatos da história principal, a colocação da bomba embaixo da mesa, ou a
sugestão de que algo similar possa ter sido feito sem o conhecimento dos
personagens sob ameaça; a partir disso, o suspense irá desfazer em choque
ou alívio, conforme a bomba exploda ou não. Entretanto, se a colocação da
bomba ou iminência de uma ameaça não for sequer insinuada pelo narrador,
não haverá tensão alguma na cena, e a surpresa com a explosão se resultará
apenas em um susto. Essa é a grande diferença entre suspense e surpresa na
concepção hitchcockiana.

O suspense de Hitchcock se estabelece previamente sobre uma preparação


meticulosa em relação ao um efeito desejado, o qual é levado a cabo através
de uma narrativa montada de maneira a manter uma tensão entre duas
histórias paralelas, porém complementares.

O suspense se desenvolve então, a partir de elementos narrativos. E Hitchcock


teve grande influência dos contos de Edgar Allan Poe. Ambos utilizam da
narrativa para criar um efeito no público. E esse gênero, como efeito de
sentido, pode ser medido também em graus tensivos. O que pode classificar
um gênero como suspense é também a quantidade e qualidade de graus de
tensão, e também a capacidade do enunciador em mantê-los como
retardamento da duração contínua e sucessiva do processo diegético.

E para complementar o texto, deixarei abaixo um link de vídeo onde falo um


pouco mais sobre esse processo de construção do suspense.

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