Noções Fundamentais: Durante muito tempo o estudo da posse ficou submetido ao
estudo da propriedade, sendo um apêndice desta, não tendo, portanto autonomia. Savigny concebeu uma obra intitulada “teoria da posse”, onde defendeu a autonomia da posse. Construiu uma teoria subjetiva da posse, o qual a posse se subdivide em dois elementos: a) Corpus, no sentido de apreensão, contato físico; b) Animus Rem Sibi Habendi, que é a vontade de ter a coisa como sua. Para ele, ter posse é ter contato físico com a coisa/apreensão e a vontade de ter a coisa como sua; consagrando autonomia e independência aos estudos da posse. Obs.: R. Von Ihering, escreve sobre a teoria simplificada (objetiva) da posse, lapidando a teoria subjetiva da posse. Na teoria objetiva da posse, só necessita o elemento corpus, superando a idéia subjetivista da posse, eliminando a necessidade do animus rem sibi habendi. Obs.: O direito civil brasileiro adota como regra geral a Teoria Objetiva da Posse, mas o próprio código faz referência à teoria subjetiva, excepcionalmente, por exemplo, ao tratar do usucapião (que necessita do animus rem sibi habendi). Art. 1.196, CC: “Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade.” Obs.: Poderes inerentes à propriedade: a) uso; b) gozo/fruição; c) livre disposição; d) reivindicação. Quem dispuser de algum desses poderes possui posse (o uso e o gozo, especificamente). Obs.: Para o STJ, a posse, na visão contemporânea da teoria objetiva, não é, necessariamente, apreensão física, mas poder físico sobre a coisa. Obs.: Em outras palavras, o possuidor não necessariamente terá contato físico com a coisa, basta que ele tenha o poder físico, já que este efetivo poder físico permite que o exercício da posse se dê por representantes, terceiros, e até por meio contratual. Obs.: Possuidor pode ser pessoa física; jurídica; até mesmo ente despersonalizado. Exatamente por conta da ideia de ter posse não é ter necessariamente contato físico, mas sim poder físico sobre a coisa. Obs.: Autonomia da Posse em relação à propriedade: A posse constitui direito autônomo em relação à propriedade e deve expressar o aproveitamento dos bens para o alcance de interesses existenciais, econômicos e sociais merecedores de tutela. Obs.: A mera detenção: O ordenamento em determinadas situações desqualificam a qualidade de possuidor. Mesmo possuindo os elementos que constitui um possuidor. A mera detenção é um instituto que desqualifica a posse: é alguém que, malgrado tenha contato físico, malgrado tenha a coisa consigo, não é considera possuidora. O ordenamento quer que o mero detentor não se valha dos efeitos típicos da posse. Obs.: Os casos de mera detenção devem estar previstas em lei, se não o for, será possuidor. São meros detentores: A) Fâmulo da posse: é o gestor da posse, é aquele que se encontra em relação de dependência, subordinação; ou seja, é aquele que tem a coisa consigo/tem o poder sobre a coisa por força de relação subordinativa/dependência com terceiro, não necessita se relação trabalhista. Ex.: caseiro; adestrador do animal; veterinário; empregado da fazenda; capataz. B) Posse Injusta: Não induz posse os atos de mera permissão ou tolerância assim como não autorizam a sua aquisição os atos violentos, ou clandestinos, senão depois de cessar a violência ou a clandestinidade. – A posse injusta é a posse precária; violenta; e clandestina. Obs.: a posse precária não convalesce; mas as posses violentas e clandestinas convalescem depois de prazo de ano e dia, ou independentemente de prazo, cessada a causa que a originou. Obs.: Ocorrendo o convalescimento, cessa a natureza de detenção, se enquadrando dali pra frente como posse. Ex.: esbulhador invadiu a fazenda, passou o prazo de ano e dia ou comprou a fazenda, ele deixa de ser detentor para possuidor. Obs.: convalescimento é sinônimo de interversão, que significa curar o vício. Obs.: Com o convalescimento, tem-se os efeitos da posse, como por exemplo, a computação do prazo para usucapião. Obs.: O convalescimento tem efeito ex-nunc, não retroagindo. Obs.: A posse precária não tem convalescimento nem depois do prazo de ano e dia.No entanto, a posse precária pode sofrer alteração substancial de sua natureza, passado de precária a ser violenta, exemplo: comodato, o empréstimo gera posse precária, o comodatário enquanto perdurar o empréstimo ele é tratado como mero detentor, e não como possuidor. Se nesse caso, ele deve devolver a coisa no dia 05, passou o prazo e não devolveu a coisa, ele comete esbulho contratual, essa posse deixa de ser precária para ser violenta. Obs.: O detentor não tem direito à usucapião e nem a retenção ou indenização por benfeitorias ou acessões, mesmo em situações que o detentor tenha agido de boa-fé. Obs.: Se eventual ação colocar como réu o mero detentor, e não ao possuidor, deve o mero detentor alegar ilegitimidade passiva, devendo o réu indicar o sujeito passivo da relação jurídica discutida sempre que tiver conhecimento. Obs.: Apesar do código civil aferir como detenção duas hipóteses (fâmulo da posse e posse injusta). O STJ em âmbito administrativo prevê outras duas hipóteses: C) Bem público de uso comum ou especial. D) Ocupação irregular de áreas públicas. Objeto da Posse: