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AULA - DESCARTES

René Descartes (1596 – 1650) foi um filósofo francês, além de matemático e físico, que

estudou com os jesuítas. Abandonou o método escolástico e quis “começar novamente” o saber

humano, por outro princípio, provindo da matemática, a clareza e a distinção, partindo das coisas

simples para as mais complexas. Esteve com o exército de Mauricio de Nassau, mas não veio ao

Brasil (é curioso o filme Ex-isto, Cao Guimarães, baseado no livro Catatau, de Paulo Leminski; é

imaginada a vinda de Descartes ao Brasil, colocando em contraste a racionalidade europeia e a

vida tropical).

Descartes foi radical em sua época, pois provou racionalmente que Deus existe, tirando

a autoridade da Igreja e das Escrituras. A época era de Inquisição. Com todo um jogo de

autocensura, contatos importantes e muita perspicácia retórica, acredita-se que Descartes passou

pelo crivo do Tribunal do Santo Ofício, diferentemente de Galileu.

Acostumado a acordar meio dia, Descartes terminou a vida dando lições para a rainha

Cristina da Suécia, às 5h da manhã; morreu de pneumonia.

MEDITAÇÕES METAFÍSICAS (1641)

As Meditações concernentes à primeira filosofia, nas quais a existência de Deus e a distinção

real entre alma e corpo são demonstradas são a obra mais importante de Descartes no âmbito da

filosofia. Primeiramente, é preciso estabelecer que a dúvida metódica ou dúvida hiperbólica

consiste em colocar em dúvida tudo o que antes era tomado como certo, para assim “limpar” o

saber de imprecisões e enganos e edificar um conhecimento sólido, baseado na clareza e distinção.

É essa dúvida metódica que irá nortear as investigações cartesianas.

Se os sentidos nos enganam, colocamos em dúvida todo o conhecimento adquirido

pelos sentidos. Exemplo: não conseguimos discernir o sonho da vigília, o que nos garante que não

estamos sonhando?

Se abstrairmos tudo das coisas corpóreas, resta sua extensão. Exemplo da cera: muda

de cheiro, de formato, de cor, mas continua sendo um pedaço de cera devido à extensão, que é

apreendida pelo intelecto, não pelos sentidos.

Ora, ainda restam as verdades das matemáticas. Mas e se houver um Deus enganador,

ou um gênio maligno que faz com que acreditemos que 2 mais 2 são 4, mas isso na verdade for um
erro?

Se eu duvido, eu penso. Se eu penso, eu existo (somente enquanto pensamento, pois

enquanto corpo não temos certeza ainda de nossa existência). Essa é a primeira certeza, mas não a

mais importante.

Analisando meu pensamento, percebo que tenho a ideia de infinito, apesar de ser um

ser finito. Por ser um ser finito, eu não poderia ter concebido a ideia de infinito: ela só pode me ter

sido colocada por um ser infinito. Só há um ser infinito, que é Deus; então, DEUS EXISTE. Essa é a

verdade mais importante, que vai edificar todo o conhecimento a partir dessa base.

Deus existe e é consequentemente bom, perfeito, infinito; logo, ele não me engana.

Assim são reabilitadas as verdades da matemática.

Mesmo assim, me engano. Isso acontece pois sou um ser finito, não sou Deus. Mas

Deus não quer que erremos: por isso nos deu um entendimento finito e uma vontade infinita. A

vontade infinita é uma perfeição, o entendimento finito nos diferencia de Deus, pois se fosse

infinito seríamos o próprio Deus. Erramos pois não colocamos a vontade infinita dentro do

entendimento finito. Se assim o fizermos, podemos tirar conclusões verdadeiras, inclusive das

coisas materiais.

Anexo - Argumento de Santo Anselmo sobre a existência de Deus (PROSOLÓGIO, 1088):

Certamente aquilo de que não se pode falar nada de maior não pode estar só no intelecto. Porque, se estivesse

só no intelecto, poder-se-ia pensar que também estivesse na realidade, ou seja, que fosse maior. Se, portanto,

aquilo de que não se pode pensar nada de maior está só no intelecto, aquilo de que não se pode pensar nada de

maior é, ao contrário, aquilo que se pode pensar algo de maior. Mas certamente isso é impossível. Portanto,

não há dúvida de que aquilo que não se pode pensar algo de maior existe tanto no intelecto como na realidade.

Filmes:

DESCARTES (1974) – ROSSELLINI

EX-ISTO (2010) – CAO GUIMARÃES

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